Ano III - Edição 24 Dezembro 2012 da pecuária de leite PRODUZIR COM QUALIDADE AUMENTA RENTABILIDADE Desde a implementação das Instruções Normativas, a IN 51, em 2002, pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), os produtores brasileiros de leite estão mais atentos aos padrões de produção, que visam a qualidade do produto. Vale lembrar que, em 2011, entrou em vigor a IN 62, que revisou os padrões de qualidade e estendeu o prazo para adequação do leite. Estes padrões, principalmente a Contagem Bacteriana Total (CBT) e a Contagem de Células Somáticas (CCS), conferem maior rendimento industrial, segurança alimentar e maior competitividade do leite brasileiro no mercado internacional. equipamentos de ordenha e armazenamento após o uso. Assim, a CBT é relativamente mais fácil e rápida de se implantar, proporcionando resultados imediatos. Entre os fatores que influenciam a CCS estão a época do ano, estágio da lactação e raça, sendo o mais importante e recorrente a infecção intramamária, a mastite. Além de aumentar a CCS do leite, a mastite também reduz consideravelmente a produção do animal, incorrendo em prejuízo ao produtor. Para avaliar a sanidade do rebanho, a amostragem do leite armazenado no A redução da CCS e da CBT é vantajosa ao produtor, que poderá receber mais pelo leite caso a indústria pague por qualidade. Além disso, o rebanho deixa de perder produção e, consequentemente, a margem do produtor aumenta. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) simulou uma redução de CCS no tanque de 500 mil células/mililitro para 200 mil células/ml - limite considerado normal, que não acarreta prejuízos - em propriedades típicas de Minas Gerais, o que elevaria a produção em 6% ao longo do ano. Se considerada essa elevação da produção, mantendo o preço do leite estável e os gastos com tratamento e prevenção da mastite, a margem bruta aumentaria em quase 27% para alcançar esse resultado, segundo painéis realizados, este ano, pela equipe do Cepea/CNA. O controle da CBT se dá, principalmente, pela higiene do ordenhador e dos animais, no momento da ordenha e lavagem dos 1 tanque torna-se um grande aliado. Trabalhos mostram que CCS de tanque entre 500 mil células/ml e 1,5 milhão de células/ml revelam perdas de produção de 6% a 30% (EBERHART et al., 1982). EBERHART, R. J.; HUTCHINSON, J.; SPENCER, S. B. Relationships of bulk tank somatic cell counts to prevalence of intramammary infection and to indices of herd production. Journal of Food Protection, v. 45, n. 12, p. 1125-1128, 1982. CUSTOS DE PRODUÇÃO ESTÁVEIS EM OUTUBRO A pecuária leiteira teve apenas pequenos aumentos de custos de produção em outubro. Dos seis Estados que participam desta pesquisa do Cepea, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo tiveram pequeno aumento no Custo Operacional Efetivo (COE) e no Custo Operacional Total (COT). Já em Goiás e em Minas Gerais, esses indicadores reduziram. Outubro tradicionalmente se destaca pelo aumento dos investimentos em silagem e preparo para a vacinação contra febre aftosa em novembro. Ainda assim, os custos de produção foram contidos pela redução do preço do farelo de soja em todos os Estados da pesquisa e pela desvalorização do milho na maioria deles, sendo que apenas no Paraná houve aumento do preço desta commodity devido à maior demanda. Em Goiás, foi observada a maior redução no custo de produção. A diminuição do COE foi de 0,47% e a do COT, de 0,34%. Esses resultados refletem, principalmente, a estabilidade dos preços da maioria dos insumos combinada à queda de 3,5% no preço do milho (a maior entre os Estados), acarretando na redução de 1,3% do preço do concentrado, frente a setembro. Se comparado ao mesmo período do ano passado, o COE aumentou 21,2% e o COT 15,9%. A maior elevação do custo de produção da pecuária de leite ocorreu no Rio Grande do Sul, de setembro para outubro. Neste período, o COE aumentou 1,6% e o COT 1,4%. Os gastos com silagem aumentaram 2,7%, o crescimento mais significativo entre os insumos da atividade. O dispêndio com concentrado também se elevou, em 2,5%. Frente a outubro de 2011, o COE do produtor gaúcho teve alta de 16,8% e o COT de 15,0%. O Custo Operacional Efetivo (COE) e o Custo Operacional Total (COT) reduziram 0,3%, no mês, em Minas Gerais. Apesar do aumento de 1,5% dos gastos com silagem, os custos do produtor diminuíram no Estado devido, principalmente, à estabilidade dos demais insumos e à baixa de 1,4% das despesas com concentrado. Este insumo refletiu a queda de 1,1% do milho e de 12,9% do preço do farelo de soja, a maior entre os Estados pesquisados pelo Cepea. Em relação ao mesmo período do ano passado, o COE e o COT foram superiores em 12,9% e 10,3%, respectivamente. Em Santa Catarina, a elevação do custo da silagem em 1,9% e de 2,6% dos 2 materiais de ordenha foram os principais fatores que estimularam o pequeno crescimento de 0,23% do COE e de 0,19% do COT, entre setembro e outubro. Além disso, a suplementação mineral teve queda de 1,6%. Em relação a outubro de 2011, o COE teve acréscimo de 10,9% e o COT de 8,7%. São Paulo também registrou pequena elevação dos gastos com a produção no mês de outubro. O COE aumentou 0,18% e o COT, 0,16%. Com exceção dos gastos com medicamentos, que subiram 3,6%, os demais insumos não tiveram aumentos significativos. Entre os itens que ficaram mais baratos, destacaram-se o milho, com baixa de 2,7%, e o do farelo de soja, com 9,9%. Em relação a outubro de 2011, constatam-se altas de 10,8% do COE e de 8,2% do COT. A variação mensal dos custos, no Paraná, também foi modesta, com alta de 0,11% para o COE e de 0,10% para o COT. Esses resultados são consequência do pequeno aumento de 1,3% no desembolso com forrageiras anuais e de 1,95% com medicamentos, além da queda do preço do concentrado, que acompanhou a baixa de 6,6% do farelo de soja no Estado. Frente a outubro do ano passado, o COE teve alta de 23,3% e o COT de 20,9%, as maiores variações anuais entre os estados. PRODUÇÃO DE SILAGEM EM 2012 FICA 10% MAIS CARA A produção de pastagem é menor na época da seca, o que exige um planejamento forrageiro para suprir a demanda dos animais neste período crítico. Uma das formas mais difundidas é a produção de milho para silagem. Em outubro deste ano, o custo de produção da silagem esteve quase 10% mais alta em relação ao de outubro de 2011, considerando-se a média das regiões acompanhadas pelo Cepea (Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo), em painéis. Essa alta se deve aos insumos utilizados para a formação da silagem, que estão mais caros neste ano – os insumos que valorizaram com mais força foram os defensivos agrícolas e os fertilizantes. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a entrega de fertilizantes, de janeiro a setembro de 2012, foi cerca de 4% maior que no mesmo período do ano passado, o que indica maior demanda pelo insumo em 2012. Esta maior procura está relacionada à alta no preço dos grãos (soja e milho) este ano, que acabou intensificando os investimentos para a próxima safra. Em algumas regiões do Brasil, a comercialização dos fertilizantes para a safrinha de milho já passa dos 80%, segundo dados do Cepea. glifosato, produtores gaúchos e paranaenses precisaram de cerca de 4 e 3 litros a mais de leite, em 2012, respectivamente, frente a outubro do ano passado. De setembro para outubro, os preços dos fertilizantes registraram comportamentos distintos. Assim, a valorização do leite acabou aumentando o poder de compra de produtores em outubro frente aos fertilizantes. Já quanto aos defensivos agrícolas, os preços subiram no período e a relação de troca piorou ao produtor de leite, mesmo com a alta no preço recebido em outubro, referente ao leite entregue em setembro. Já nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o poder de compra de produtores aumentou de setembro para outubro, tanto frente aos fertilizantes, quanto aos defensivos, devido à alta no preço do leite no período. No entanto, quando comparado ao ano passado, os fertilizantes nitrogenados (ureia) e fosfatados (super simples) estiveram bem mais caros, assim como os defensivos agrícolas. Em outubro, o produtor mineiro precisou de 220 litros a mais que em outubro de 2011 para comprar uma tonelada de ureia. Em São Paulo, o produtor precisou de quase 140 litros a mais de leite, em outubro/12, frente a outubro do ano passado, para comprar uma tonelada de super simples. O produtor goiano necessitou de cinco litros de leite a mais em 2012 para comprar um litro de glifosato. No sul do País, o poder de compra do produtor de leite de Santa Catarina pelo glifosato foi 21% menor, em outubro, do que em setembro e 66%, ou 5 litros de leite, inferior a outubro de 2011 – em termos nominais. No Rio Grande do Sul e no Paraná, a relação de troca também não foi favorável ao produtor de leite. Para adquirir um litro do Relação de troca dos insumos ureia, super simples e glifosato por leite SUL PR Insumos Variação RS set/12 out/12 out/11 mês ano Ureia t 1511,8 1538,4 1405,9 1,8% 9,4% set/12 Super Simples t - - - - - - - Glifosato l 10,5 11,5 7,6 9,1% 50,4% 17,93 18,10 Variação SC out/12 out/11 mês ano set/12 out/12 out/11 mês ano 1368,5 1356,5 1649,8 -0,9% -17,8% 1615,2 1535,5 1517,0 -4,9% 1,2% - - - - - - 1,0% 20,8% 9,8 11,9 21,1% 66,4% 14,99 SUDESTE MG Insumos Variação set/12 out/12 out/11 mês ano Variação SP set/12 7,1 CENTRO-OESTE Variação GO Variação out/12 out/11 mês ano set/12 out/12 out/11 mês ano Ureia t 2132,2 2125,7 1909,2 -0,3% 11,3% 1571,5 1459,8 1483,1 -7,1% -1,6% 1705,6 1692,7 1542,0 -0,8% 9,8% Super Simples t 986,9 919,1 867,0 -6,9% 6,0% 1009,8 994,7 856,3 -1,5% 16,2% 988,3 979,9 867,8 -0,8% 12,9% Glifosato l 17,1 17,0 17,0 -0,3% 0,0% 18,69 18,20 15,45 -2,6% 17,8% 14,2 12,1 7,5 Fonte: Cepea/CNA 3 61,9% COM SECA PROLONGADA E CUSTOS ELEVADOS, LEITE TEM NOVA ALTA O preço do leite recebido pelos produtores, em outubro, referente à produção entregue em setembro, subiu 1,3% em relação ao mês anterior, com média de R$ 0,8097/litro (preço líquido), de acordo com pesquisas do Cepea, da Esalq/USP – a média é ponderada pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia. O preço bruto, que inclui frete e impostos, foi para R$ 0,8808/litro. Em relação a outubro de 2011, porém, o recuo é de 5,5% em termos reais, descontando-se a inflação (IPCA) do período. Pesquisadores do Cepea indicam que essa terceira alta consecutiva é consequência da oferta reduzida de leite, dada a estiagem prolongada em várias regiões do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, além da finalização da safra sulista. Além disso, os custos de produção de leite estão quase 20% mais elevados que no mesmo período de 2011 (dados de setembro). O encarecimento da alimentação concentrada é o item que mais pesa, limitando, inclusive, investimentos dos produtores. Em setembro, o Índice de Captação de Leite (ICAP-Leite/CEPEA) registrou queda de 0,5% em relação a agosto. As variações foram relativamente pequenas nos sete Estados da pesquisa. A queda mais expressiva, em torno de 2%, verificou-se em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul; em Goiás, a diminuição foi de 1,8%. Em Minas Gerais e no Paraná, o índice ficou praticamente estável. Em São Paulo, houve aumento em torno de 2%. Em relação a setembro de 2011, o índice esteve 1,3% superior. Se considerar o acumulado em 12 meses, houve aumento de 2% frente aos 12 meses anteriores. ATIVOS DA PECUÁRIA DE LEITE é um boletim mensal elaborado pela Superintendência Técnica da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea/ Esalq - da Universidade de São Paulo. Reprodução permitida desde que citada a fonte. 54% dos compradores A menor oferta de leite tem elevado de leite entrevistados, os preços também no mercado atacaque representam 33% do dista. De acordo com dados do Cepea, volume amostrado, acreditam em esno atacado do Estado de São Paulo, o tabilidade de preços. Para 44% dos preço médio do leite UHT, em outubro laticínios/cooperativas, que respon(apurado até o dia 30), teve aumento dem por 64% do volume de leite da de 3,1%, frente ao mês anterior, com amostra, deve haver alta de preços. média de R$ 1,89/litro. O valor é pratiApenas 2% dos entrevistados, que recamente estável se comparado a outupresentam 3% do volume amostrado, bro do ano passado. No caso do queijo acreditam em queda de preços. muçarela, houve alta de 3,5% no período, com méICAP-L/Cepea - Índice de Captação de Leite dia de R$ 11,13/ - Setembro/12 - Base 100=Junho/2004 kg. Em relação a outubro/11, entretanto, registra-se queda de 2,7% em termos nominais. A pesquisa é feita diariamente com laticínios e atacadistas e tem o apoio financeiro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da Confedera- Fonte: Cepea-Esalq/USP ção Brasileira de Série de preços médios pagos ao produtor - deflacionada pelo IPCA Cooperativas de (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA) Laticínios (CBCL). Nesse cenário, a maior parte dos agentes de mercado consultados pelo Cepea espera que os preços do leite tenham estabilidade ou alta para o próximo pagamento. Para novembro, referente à produção entregue em outubro, CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA.APLICADA.-. ESALQ/USP 44 Fonte: Cepea-Esalq/USP SGAN - Quadra 601 - Módulo K 70.830-903 Brasília - DF Fone (61) 2109-1458 Fax (61) 2109-1490 E-mail: [email protected] Site: www.canaldoprodutor.com.br