da pecuária de leite Ano V - Edição 32 Abril 2014 SECA, SALÁRIO MÍNIMO E ADUBOS ELEVAM OS CUSTOS NO INÍCIO DE 2014 Por Daniel M. Velazco- Bedoya, Analista de Mercado, equipe Gado de Leite Cepea Os custos do pecuarista de leite subiram em fevereiro, segundo pesquisas do Cepea em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Isso se deve ao aumento nos preços do sal mineral e dos concentrados em razão da demanda aquecida. Para o primeiro insumo, as compras foram impulsionadas por pecuaristas de corte, refletindo no mercado como um todo. Por outro lado, os concentrados foram impulsionados pelos produtores de leite. Além disso, a elevação do salário mínimo e a valorização dos adubos utilizados para a formação de áreas agrícolas, de silagem e de pastagens também influenciaram a alta dos custos. No acumulado deste ano (de dezembro/13 a fevereiro/14), considerando-se a “média Brasil” (BA, MG, GO, PR, RS, SC e SP), o Custo Operacional Efetivo (COE) subiu 2,29% e o Custo Operacional Total (COT), 2,15%. A seca na região Centro-Sul do País entre meados de janeiro e de fevereiro prejudicou diversas áreas de forrageiras e silagem, elevando a demanda por sal mineral de maior teor e por concentrados. Além disso, a produção de milho também foi prejudicada em diversas regiões por conta da estiagem, elevando o valor da matéria-prima da alimentação. Assim, no acumulado do ano, houve forte alta de 4,58% no grupo “suplementação mineral” e de 0,83% no “concentrado”. Esses dois itens, juntos, representam cerca de 45% do COE. O salário mínimo teve reajuste de janeiro e fevereiro em praticamente todos os estados acompanhados por este estudo, com exceção do Paraná, onde o aumento ocorre apenas em maio. Em média, houve acréscimo de 8,26% no salário – vale lembrar que alguns estados, como SP, SC e RS, têm reajustes que se diferem do nacional. No acumulado do ano, o grupo “mão de obra” teve valorização de 6,26%. Quanto aos adubos, agentes intensificaram as compras desses insumos no início deste ano, temendo novas altas de preços por conta do dólar elevado. Além disso, a demanda estava elevada por conta das compras de insumos para a safrinha. Os adubos foram os principais responsáveis pela alta dos itens “silagem”, “manutenção de forrageiras perenes” e “forrageiras anuais”, que subiram 3,95%, 4,54% e 5,66%, respectivamente, no acumulado deste ano. Variação Acumulada Custo na Pecuária de Leite (“média Brasil”) Fonte: Cepea/CNA 1 ALTA NOS CUSTOS E QUEDA NO PREÇO DO LEITE REDUZEM MARGEM DO PRODUTOR NO INÍCIO DE 2014 Por Daniel M. Velazco Bedoya, Analista de Mercado, equipe Gado de Leite Cepea Evolução do COE, do COT e do Preço do Leite Figura 1: Evolução do COE, do COT e do preço do leite, na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, SC, SP e RS), de ago/13 a fev/14 Fonte: Cepea/CNA O início de 2014 foi marcado pelo aumento dos custos e pela queda nos preços do leite recebidos pelo pecuarista, de acordo com os dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Nesse contexto, a margem bruta (Receita – Custos Operacionais Efetivos) da pecuária de leite estreitou expressivos 7,8 centavos por litro de leite (Figura 1) no acumulado de 2014 (de dez/13 a fev/14). A alta nos custos esteve relacionada à seca na região Centro-Sul do País entre janeiro e fevereiro e ao aumento do salário mínimo nacional. Quanto ao preço do leite, a queda foi influenciada pelo alto volume de produção. Vale lembrar que, no final de 2013, as pastagens estavam em boas condições e muitos pecuaristas de leite investiram na atividade, influenciados pelo maior poder de compra naquele ano, cenário que resultou em significativo aumento da produção. O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) acumulou forte alta de 10,37% em 2013. Ainda que a demanda não tenha enfraquecido significativamente, foi o acréscimo expressivo da produção que acarretou na queda dos preços recebidos pelo produtor de leite no final de 2013 e início de 2014. De novembro/13 (início da desvalorização) a fevereiro/14, houve queda de 11,34% na cotação do leite pago ao produtor (“média Brasil”). No acumulado de 2014 (de dez/13 a fev/14), o Custo Operacional Efetivo (COE) – constituído pelos gastos correntes da propriedade – e o Custo Operacional Total (COT) – que é baseado no COE acrescido da depreciação dos bens de produção e do pró-labore – apresentaram aumento de 2,29% e de 2,15%, respectivamente, considerando-se a “média Brasil”. Enquanto que o preço do leite recebido pelo produtor caiu 5,09% no mesmo período (Figuras 2 e 3). Dentre os estados acompanhados pelo Cepea, Goiás registrou o maior aumento no COE, de 5,2% no acumulado do ano, influenciado pela alta generalizada dos preços dos insumos dos grupos de “sal mineral” (3,6%), “concentrado” (6,7%), “silagem” (5,9%), “manutenção de forrageiras perenes” (6%) e também pelo reajuste na “mão de obra” (6,78%). No outro extremo, o Rio Grande do Sul teve a menor alta nos custos, de 1,9% no COE. Apesar da região ter registrado uma elevação no grupo “sal mineral” (3,76%) e o maior reajuste no valor do salário mínimo, de expressivos 12,7%, o “concentrado”, que representou 39,9% do COE do estado em fev/14, caiu 0,86% (dez/13 até fev/14), contrabalanceando o aumento das cotações dos outros grupos. Em geral, todos os estados apresentaram alta nos principais grupos de insumos que compõem a cesta dos custos da pecuária de leite, estreitando a margem do produtor. No acumulado deste ano, em ordem decrescente, a margem bruta reduziu expressivos R$ 0,11 em MG, R$ 0,10 no PR, R$ 0,09 em GO, R$ 0,08 no RS, R$ 0,07 em SP, R$ 0,07 em SC e R$ 0,01 na BA. Na Bahia, houve uma leve recuperação na rentabilidade em fevereiro/14, devido à elevação do preço do leite pago ao produtor (Figuras 2 e 3). Este início de ano tem preocupado diversos produtores de leite, já que as expectativas das cotações dos insumos que compõem o grupo “concentrado” (que responde, em média, por 42% do COE da atividade) são de alta. Por outro lado, grande parte dos colaboradores consultados pela Equipe Leite do Cepea também estima alta nas cotações do leite, fundamentados nos efeitos negativos da seca e no início do período de entressafra. Figuras 2 e 3: Variação acumulada de 2014 (de dez/13 a fev/14) do Custo Operacional Efetivo (COE) e do preço do leite, “média Brasil”, que considera: SP, SC, RS, PR, MG, GO e BA (base 100 = dez/13) Fonte: Cepea/CNA 2 CLIMA ADVERSO PREJUDICA CADEIA LEITEIRA Por Renato Prodoximo, graduando em Eng. Agronômica – Esalq/USP; equipe Leite Cepea A forte seca que castigou o Centro-Sul do País e o excesso de chuvas no Centro-Oeste nos últimos dois meses resultaram em prejuízos no agronegócio em 2014. A produtividade da pecuária de corte e de leite, da soja, milho, café, cana e laranja caíram e, consequentemente, houve alta nos preços de parte desses produtos no primeiro bimestre do ano – o que, por sua vez, pode influenciar a inflação futuramente. Para a produção leiteira, os efeitos da seca tanto nos pastos quanto na produção de grãos já afetam as estratégias de alimentação dos rebanhos, a captação, os custos de produção e o preço dos lácteos. Segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), no acumulado de janeiro a fevereiro de 2014, choveu 111,2 mm em São Paulo, 77,3% a menos que no mesmo período de 2013. Em Minas Gerais, o volume de chuva foi 34,3% menor, totalizando apenas 293 mm no primeiro bimestre. No Rio Grande do Sul, o volume de chuvas foi 6,9% menor, somando 253,6 mm. Por outro lado, em Mato Grosso foi registrado aumento no acumulado de janeiro a fevereiro de 2014 em relação ao ano anterior: o volume de chuvas foi de 591,6mm, alta de 27,7%. Segundo a Secretaria de Agricultura do Estado de São Saulo, de Minas Gerais e do Paraná (Deral/Seab), a perda na produção de milho e de soja ficou entre 8% e 30% nesses estados. Em Mato Grosso, as chuvas têm ocasionado a interrupção da colheita da soja, perda na qualidade do produto e atrasado o plantio do milho safrinha. Diante da queda na produção dos grãos, os produtores de leite podem enfrentar uma batalha contra a elevação dos custos. Uma vez que o período de estiagem limitou a recuperação das pastagens, fez-se necessário aumentar a suplementação e o uso de ração para compor a dieta do rebanho. Em algumas regiões muito afetadas pela seca, produtores de leite optaram por alimentar antecipadamente o gado com silagem de milho. Este volumoso é normalmente utilizado no período de inverno, quando as pastagens estão mais secas. Entretanto, a estiagem no primeiro bimestre impediu o adequado enchimento dos grãos e, conjuntamente com a abertura antecipada do silo, a fermentação desse volumoso foi prejudicada – resultando em um alimento de menor qualidade. Por sua vez, ao adiantar o uso da silagem, a disponibilidade de alimento para o rebanho deverá ser ainda mais limitada no inverno, quando a suplementação é mais necessária. Assim, o produtor deverá investir capital na aquisição de rações, num momento em que este alimento normalmente registra alta nos preços. As elevadas temperaturas também reduziram a produção leiteira. Estudos afirmam que, a partir de 25°C a 27°C, vacas geralmente reduzem a ingestão de alimentos e que as holandesas submetidas a ambiente com temperatura acima de 27 ºC aumentam a ingestão de água (NRC, 1981). Segundo pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (IEA-Apta), a queda no volume de leite produzido foi de cerca de 10% em São Paulo. Colaboradores e traders consultados pelo Cepea calculam que o recuo na maioria dos estados chegou a 25%. Nesse contexto, agentes do mercado consultados pelo Cepea já têm expectativa de alta nos preços tanto do leito quanto nos das rações para os próximos meses. Além disso, para o leite, há a típica menor produção no campo, devido ao período de entressafra. 3 VARIAÇÃO MENSAL E ACUMULADA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DE LEITE (fevereiro 2014) COE1 fev/2014 Acumulado no ano Bahia 0,03% 102,42 Acumulado nos últimos 12 meses 103,78 Estados COT2 fev/2014 Acumulado no ano 0,02% 101,98 Acumulado nos últimos 12 meses 100,91 Preço bruto do Leite3 (R$/litro) Acumulado Acumulado fev/2014 nos últimos no ano 12 meses 1,32% 100,18 118,25 Ponderações 4,16% Goiás 2,01% 105,20 106,67 1,68% 104,19 105,36 1,10% 94,69 107,78 13,7% Minas Gerais 0,85% 102,27 103,72 0,72% 102,25 103,56 1,18% 94,83 111,44 34,3% Paraná 0,51% 101,97 104,81 0,45% 101,73 104,67 -2,93% 93,83 109,09 15,3% Rio Grande do Sul 1,33% 101,90 101,52 1,56% 102,06 101,73 -1,46% 95,68 114,36 15,6% Santa Catarina -0,20% 102,10 98,32 -0,17% 102,00 98,88 -2,18% 96,84 110,43 10,5% São Paulo 0,78% 102,23 103,87 1,20% 101,76 103,32 -2,00% 94,97 110,09 6,5% Brasil* 0,78% 102,29 103,08 0,76% 102,15 102,96 -0,95% 94,91 110,60 100% Fonte: Cepea/USP - CNA VARIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS fev/2014 Acumulado no ano Acumulado nos últimos 12 meses IGP-M 0,38% 0,86% 5,77% IPCA 0,69% 1,24% 5,68% Fonte: FGV; IBGE; Elaborado pelo Cepea VARIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS % em relação ao COE Variação no mês Variação Acumulada fev/2014 fev/2014 Concentrado 41,74% -0,05% 0,83% Mão-de-obra contratada para manejo do rebanho 15,40% 1,64% 6,36% Silagem (Insumos + M.O. contrat.) 14,44% 2,51% 3,95% Gastos administrativos, impostos e taxas 4,11% 0,00% 0,00% Medicamentos 3,68% -0,05% 0,26% Forrageiras anuais (Insumos + M.O. contrat.) 3,04% 2,67% 5,66% Suplementação Mineral 3,04% 2,16% 4,58% Energia e combustível 3,00% -0,01% 0,17% Manutenção - Benfeitorias 2,39% 0,00% 0,00% Grupos jan/13 fev/14 Material de ordenha 2,28% 0,35% 0,70% Manutenção - Máquinas, implementos, equipamentos e utilitários 1,67% 0,00% 0,00% Assistência técnica 1,49% 0,00% 1,87% Manutenção - Forrageiras perenes (ìnsumos + M.O. contrat.) 1,27% 2,66% 4,54% Inseminação Artificial 1,25% 1,02% 1,07% Transporte do leite 1,20% 0,00% 0,00% Aleitamento Artificial 0,00% 0,00% 0,00% Outros 0,00% 0,00% 0,00% *A produção de leite dos 7 estados da pesquisa representa 80,35% do total produzido no Brasil (PPM-IBGE, 2012). O cálculo é baseado nos painéis de custo de leite e ponderado pela produção dos estados (IBGE), de modo que encontram-se na amostra sistemas de produção distintos em relação aos resultados técnico-econômicos, que refletem a realidade dos produtores naquele momento. Fonte: Cepea/USP-CNA ATIVOS DA PECUÁRIA DE LEITE é um boletim mensal elaborado pela Superintendência Técnica da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea/ Esalq - da Universidade de São Paulo. Reprodução permitida desde que citada a fonte. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA.APLICADA.-. ESALQ/USP 4 SGAN - Quadra 601 - Módulo K 70.830-903 Brasília - DF Fone (61) 2109-1458 Fax (61) 2109-1490 E-mail: [email protected] Site: www.canaldoprodutor.com.br