PROJETO CAMPO FUTURO
CUSTO DE PRODUÇÃO DO CAFÉ EM LUÍS EDUARDO MAGALHÃES-BA
Os produtores de Luís Eduardo Magalhães se reuniram, em 09/04, para participarem
do levantamento de custos de produção de café para o projeto Campo Futuro, uma
iniciativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e Centro de Inteligência em
Mercados (CIM) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). O projeto tem como
objetivo o levantamento do custo de produção de diversas culturas nas principais
regiões produtoras do Brasil.
1. SISTEMA DE PRODUÇÃO
O painel de Luís Eduardo Magalhães considerou a propriedade típica da região como
sistema de cultivo irrigado e manejo mecanizado. Nesta localidade a produção de café
se restringe à espécie Coffea arabica, sendo a cultivar Catuaí 144 a predominante.
Tabela 1 Características da propriedade cafeeira em Luís Eduardo Magalhães-BA
CARACTERÍSTICAS DA PROPRIEDADE TÍPICA (MODA)
Área Produtiva (hectares)
300
Produtividade (sacas)
50
Nesta região, os recursos de terceiros fornecem aproximadamente 40% do capital
necessário para cobrir o COE na propriedade típica, sendo provenientes de
Financiamento Oficial (Banco).
Verificou-se que a comercialização é realizada principalmente por meio de
“cooperativa” e “corretores”, sendo o café tipo 6 o mais produzido. Quanto à bebida,
aproximadamente 18% dos cafés são classificados como “bebida mole”, 72% como
“bebida dura”, 8% como “bebida dura” (varrição) e 2% como “bebida riada”.
2. ANÁLISE ECONÔMICA
O Custo Operacional Efetivo (COE) da cafeicultura no município é de R$212,62 por
saca. O COE corresponde a todos os componentes de custos gerados pela relação
entre os coeficientes técnicos (quantidade utilizada) e os seus preços. Também se
enquadram os gastos administrativos e os custos financeiros do capital de giro. Os
componentes do COE são renovados em todo ciclo produtivo.
Os custos com Pessoas na condução da lavoura são responsáveis por
aproximadamente 4% do COE, sendo que 2% são encargos trabalhistas.
A Mecanização na condução da lavoura participa em 4% do COE.
Os Insumos participam em 55% do COE, sendo que 34% correspondem a fertilizantes.
A colheita é realizada mecanicamente em 100% do café colhido. Pessoas na colheita
participam em 3% do COE, sendo 1% relativos a encargos trabalhistas. Mecanização na
colheita participa em aproximadamente 8% do COE.
Gastos Gerais representam 20% do COE. Manutenções estão contidas nesse item, e
correspondem a 4,09% do COE.
Os Juros de Custeio, gerados com a captação de recursos de terceiros necessários para
o financiamento da produção, representam aproximadamente 3% do COE.
O Custo Operacional Total (COT), resultante da soma entre o COE, Depreciações e Prólabore, indica a possibilidade de reposição da capacidade produtiva do negócio além
da remuneração do responsável pelo gerenciamento da atividade, que pode ser o
próprio produtor. O COT em Luís Eduardo Magalhães é de R$257,22 por saca, dos
quais as depreciações de maquinários, implementos, benfeitorias e lavouras,
representam 17% (do total de depreciações, Lavouras correspondem a 59,80%). Não
há participação do pró-labore no COT, pois de acordo com os participantes do painel,
na propriedade típica de Luís Eduardo Magalhães existe um funcionário responsável
pelo gerenciamento da atividade.
Gráfico 1 Composição do COT
Composição do Custo Operacional Total (COT)
Pró-labore, 0%
Condução da Lavoura,
53%
Depreciação, 17%
COE, 83%
Colheita e Pós Colheita,
11%
Gastos Gerais, 17%
Juros de Custeio, 2%
Já o Custo Total (CT), resultante da soma entre COT e custo de oportunidade da terra e
dos bens de capital, indica a situação econômica do empreendimento considerando
todos os custos implícitos, que neste caso se referem aos valores que estes fatores
poderiam gerar em investimentos alternativos.
O CT da cafeicultura em Luís Eduardo Magalhães é de R$316,26 por saca, onde o custo
de oportunidade dos bens de capital corresponde à aplicação de uma taxa de juros de
6% sobre o capital médio empatado em máquinas, implementos, benfeitorias e
lavouras. O custo de oportunidade da terra corresponde ao seu valor de
arrendamento.
Gráfico 2 Relação de troca do CT em abril
Relação de troca por hectare - Custo Total
30,00
23,84
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
5,00
4,08
2,54
0,00
0,00
Sacas / hectare
COE
Depreciações
Pró-labore
Remuneração Terra
Remuneração Bens de Capital
O gráfico acima demonstra o mecanismo da Relação de Troca (RT), que representa o
número de sacas de café necessário para pagar os custos de produção em um hectare.
Com os preços de venda do café observados no mês de abril, são necessárias 35,46
sacas por hectare para cobrir o CT em Luís Eduardo Magalhães, quantidade
aproximadamente 29% inferior à produtividade (apenas para cobrir o COE, seriam
necessárias 23,84 sacas por hectare). É importante ressaltar que o preço do café tem
grande influência nesta análise.
Tabela 2 Discriminação dos custos de produção da propriedade típica na safra
2014/2015
CONTA
SUB CONTA
R$/ha
R$/saca
PESSOAS (Condução da
lavoura)
MECANIZAÇÃO
Salários
Encargos
257,91
214,15
463,31
166,00
3.617,71
2.037,31
154,84
112,37
858,49
319,22
819,54
1.340,99
269,41
10.631,24
2.229,52
0,00
12.860,76
1.820,00
1.132,32
15.813,08
5,16
4,28
9,27
3,32
72,35
40,75
3,10
2,25
17,17
6,38
16,39
26,82
5,39
212,62
44,59
0,00
257,22
36,40
22,65
316,26
INSUMOS
COLHEITA E PÓS
COLHEITA
GASTOS GERAIS
Corretivos
Fertilizantes
Defensivos
Salários
Pessoas
Encargos
Mecanização
Outros
Administrativos
Materiais
JUROS DE CUSTEIO
COE - (A)
Depreciações - (B)
Pró-labore - (C)
COT - (D) = (A + B + C)
Remuneração Terra - (E)
Remuneração Bens de Capital - (F)
CT - (G) = (D + E + F)
PARTICIPAÇÃO (%)
COE
COT
CT
2,43
2,01
1,63
2,01
1,67
1,35
4,36
3,60
2,93
1,56
1,29
1,05
34,03
28,13
22,88
19,16
15,84
12,88
1,46
1,20
0,98
1,06
0,87
0,71
8,08
6,68
5,43
3,00
2,48
2,02
7,71
6,37
5,18
12,61
10,43
8,48
2,53
2,09
1,70
100,00
82,66
67,23
17,34
14,10
0,00
0,00
100,00
81,33
11,51
7,16
100,00
No mês de abril, com a média das cotações de café em R$445,90 por saca no mercado
físico da região, a Margem Bruta, obtida por meio da subtração entre o preço de venda
(PV) e o COE, é positiva em R$233,28. A Margem Líquida (PV – COT) é positiva em
R$188,68. Já o resultado de exercício (Lucro/Prejuízo) (PV – CT) indica um lucro de
R$129,64 por saca.
Tabela 3 Análise da situação econômico-financeira da cafeicultura
RECEITA E INDICADORES DE RENTABILIDADE
RS/ha
R$/saca
R$ (TOTAL)
Receita
22.295,00
445,90
6.688.500,00
Margem Bruta
11.663,76
233,28
3.499.128,74
Margem Líquida
9.434,24
188,68
2.830.272,74
Lucro/Prejuízo
6.481,92
129,64
1.944.576,74
Estoque de capital
18.872,00
377,44
Rentabilidade 'com terra'
49,99 %
Relação de Troca
35,46 sacas
As boas práticas produtivas que objetivam um produto final diferenciado são
fundamentais na cafeicultura. Os cuidados na pós-colheita merecem atenção especial,
pois os diferenciais de preços entre os cafés de qualidade superior e os cafés de baixa
qualidade estão elevados. Em Luís Eduardo Magalhães, o preço de venda se refere à
média ponderada dos preços dos cafés classificados como “bebida mole”, “bebida
dura”, “bebida dura” (varrição) e “bebida riada”. Se a produção correspondesse
apenas aos cafés “bebida mole” e “bebida dura”, a Margem Bruta seria R$14,10 maior
por saca.
O aumento na eficiência produtiva é outro aspecto importante que impacta nas
Margens. Na medida em que há um maior aproveitamento da mão de obra, dos
insumos agrícolas e da mecanização, enfim, dos recursos necessários à produção,
menores são os custos gerados.
O uso de cultivares mais produtivas e resistentes, o manejo correto do solo e da água,
a inserção do manejo integrado de pragas e doenças, a capacitação da mão de obra e a
adoção de boas práticas de gestão, contribuem para a consecução destes objetivos,
conferindo mudanças nas situações econômica, social e ambiental da cafeicultura.
3. SIMULAÇÃO
Segundo os participantes do painel de Luís Eduardo Magalhães, acredita-se que os
problemas meteorológicos que ocorreram na safra 2014/2015 influenciarão os custos
de produção.
Os participantes do painel estimaram que haverá um aumento nos custos com energia
elétrica da irrigação, que foi intensificada durante o período de estiagem que ocorreu
na região. Nesta condição, o Custo Operacional Efetivo (COE) apresentará um aumento
de 4,15%.
Tabela 4 Simulação sobre os custos de produção da propriedade típica na safra
2014/2015 considerando um possível impacto causado por intempéries
CONTA
SUB CONTA
R$/ha
R$/saca
PESSOAS (Condução da
lavoura)
MECANIZAÇÃO
Salários
Encargos
257,91
214,15
463,31
166,00
3.617,71
2.037,31
154,84
112,37
858,49
319,22
819,54
1.770,99
280,59
11.072,42
2.229,52
0,00
13.301,94
1.820,00
1.132,32
16.254,26
5,16
4,28
9,27
3,32
72,35
40,75
3,10
2,25
17,17
6,38
16,39
35,42
5,61
221,45
44,59
0,00
266,04
36,40
22,65
325,09
INSUMOS
COLHEITA E PÓS
COLHEITA
GASTOS GERAIS
Corretivos
Fertilizantes
Defensivos
Salários
Pessoas
Encargos
Mecanização
Outros
Administrativos
Materiais
JUROS DE CUSTEIO
COE - (A)
Depreciações - (B)
Pró-labore - (C)
COT - (D) = (A + B + C)
Remuneração Terra - (E)
Remuneração Bens de Capital - (F)
CT - (G) = (D + E + F)
PARTICIPAÇÃO (%)
COE
COT
CT
2,33
1,94
1,59
1,93
1,61
1,32
4,18
3,48
2,85
1,50
1,25
1,02
32,67
27,20
22,26
18,40
15,32
12,53
1,40
1,16
0,95
1,01
0,84
0,69
7,75
6,45
5,28
2,88
2,40
1,96
7,40
6,16
5,04
15,99
13,31
10,90
2,53
2,11
1,73
100,00
83,24
68,12
16,76
13,72
0,00
0,00
100,00
81,84
11,20
6,97
100,00
Na simulação para o mês de abril, com a média das cotações de café em R$445,90 por
saca no mercado físico da região, a Margem Bruta, obtida por meio da subtração entre
o preço de venda (PV) e o COE, é positiva em R$224,45. A Margem Líquida (PV – COT)
é positiva em R$179,86. Já o resultado de exercício (Lucro/Prejuízo) (PV – CT) indica
um lucro de R$120,81 por saca.
Tabela 5 Simulação sobre a análise da situação econômico-financeira da cafeicultura
RECEITA E INDICADORES DE RENTABILIDADE
RS/ha
R$/saca
R$ (TOTAL)
Receita
22.295,00
445,90
6.688.500,00
Margem Bruta
11.222,58
224,45
3.366.774,74
Margem Líquida
8.993,06
179,86
2.697.918,74
Lucro/Prejuízo
6.040,74
120,81
1.812.222,74
Estoque de capital
18.872,00
377,44
Rentabilidade 'com terra'
47,65 %
Relação de Troca
36,45 sacas
4. AGRADECIMENTOS
A CNA e o CIM/UFLA agradecem o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do
Estado da Bahia (FAEB) e do Sindicato Rural de Luís Eduardo Magalhães na realização
do painel, bem como a colaboração dos produtores rurais e técnicos da região no
levantamento das informações.
Figura 1 Participantes do painel de custo de produção de café na região de Luís Eduardo
Magalhães-BA
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Boletim- CUSTO DE PRODUÇÃO DO CAFÉ EM LUIS EDUARDO