UNIVERSIDADE CORPORATIVA: ESTUDO DE CASO Foi realizado um estudo de caso em uma organização de grande porte do setor financeiro, que implantou sua Universidade Corporativa há quase dez anos. As informações foram levantadas por meio de uma entrevista semi-estruturada, com a pessoa que dirige a UC, visando identificar como os princípios e práticas estudados manifestam-se na realidade. Observou-se que a transição do modelo de T&D para Universidade Corporativa, em uma grande empresa, revela não ser um processo simples, porém não há dúvidas em relação aos ganhos que se estabelecem para todos os componentes: empresa, funcionário, colaboradores externos, parceiros e fornecedores. A experiência iniciou-se na segunda metade da década de 90, por meio de um programa, que tinha por objetivo inserir novos elementos na cultura da empresa, visando prepará-la para uma transição operacional e tecnológica. Por meio desse programa, buscou-se ampliar a compreensão das pessoas sobre desenvolvimento profissional e empregabilidade, e comprometê-las com o seu processo de desenvolvimento na empresa. O programa se alicerçou em três grandes pilares: a atuação dos gestores como líderes educadores, a co-responsabilidade do empregado pelo seu desenvolvimento profissional e o foco da gestão em resultados sustentáveis. Além de inserir novos elementos na cultura organizacional, o Programa também propôs mudanças significativas no modelo de treinamento e desenvolvimento até então adotado, criando uma nova forma de organização dos conteúdos empresariais e reforçando o perfil profissional requerido de cada um, tanto em termos de habilidades, como de atitudes. Foi dada ênfase a agilidade nas decisões; disposição para aprender; proatividade e assertividade; flexibilidade e adaptabilidade; postura empreendedora e coerente com a missão da Empresa; co-responsabilidade por resultados empresariais. A ênfase do Programa estava na aprendizagem contínua, como alternativa de crescimento e desenvolvimento de um perfil profissional coerente com os requerimentos da empresa e do mercado de trabalho. Entre as iniciativas implementadas pelo Programa, houve um conjunto de ações cujo foco estava na introdução da tecnologia como meio de diversificar as metodologias até então utilizadas nas ações de treinamento e desenvolvimento dos empregados. Essas ações foram desenvolvidas por meio de um projeto específico, implantado em três fases: - aculturação do pessoal para uso do computador no processo de aprendizagem corporativa (utilização de vídeos, CD ROM e material impresso sobre a microinformática e seu uso); - absorção e experimentação de novas tecnologias, por meio da produção interna de treinamentos técnicos com o uso de mídias alternativas; - ampliação do espectro de tecnologias educacionais, com a utilização da rede de computadores da empresa e busca de parcerias externas. Para sedimentar o processo de transição e consolidar a política de vinculação das ações de desenvolvimento aos objetivos estratégicos da Empresa, iniciou-se o projeto de criação da Universidade Corporativa, por meio da qual seria possível compartilhar experiências e conhecimentos e disseminar um novo modelo de educação corporativa. Estabelecer uma ponte entre o desenvolvimento das pessoas e as estratégias de negócio da empresa era a missão proposta à UC. A UC funciona por meio de um portal virtual, disponível na rede Intranet da Empresa, bem como da Internet, e propicia o autodesenvolvimento e o compartilhamento, pré-requisitos para o desenvolvimento profissional e para maior eficiência da empresa. Embora conscientes da importância da tecnologia, sempre esteve claramente definido como valor da Universidade Corporativa em questão a necessidade de se colocar foco em duas vertentes: tecnologia e ser humano. Assim como para se utilizar bem a tecnologia é necessário conhecê-la e saber como funciona, para garantir aprendizagem efetiva, é necessário conhecer bem o ser humano e os estilos que melhor orientam a sua aprendizagem. Para dar suporte à iniciativa, foram instalados servidores de rede exclusivos, bem como desenvolvidos softwares de gerenciamento de cursos e adquiridas ferramentas para ensino a distância, com investimentos em torno de cinco milhões de reais. A Universidade Corporativa está alicerçada em algumas premissas, que dão forma a sua atuação e fundamentam as ações por ela desenvolvidas, como por exemplo: - contribuição para o fortalecimento do papel da empresa como componente de seu mercado e de seu ambiente social;. - o reconhecimento e a valorização de cada colaborador interno, inclusive daquele em vias de aposentar, favorecendo a sua qualidade de vida; - o desenvolvimento de competências e sua efetividade dentro de um contexto educacional que estimule o espírito crítico, criativo e empreendedor e respeite a autonomia dos sujeitos; - a busca da excelência em gestão; - o favorecimento do equilíbrio econômico-financeiro-social e da sustentação ao negócio da empresa; - a contribuição para o aumento da produtividade e melhoria dos produtos e serviços oferecidos. Visando garantir a sua evolução constante, o desempenho da Universidade Corporativa foi acompanhado, medido e analisado, gerando diagnósticos que revelaram muitos pontos fortes, mas também, oportunidades para crescimento. Um dos principais pontos resultantes dessa análise e que impactava diretamente na qualidade das ações educacionais desenvolvidas era a ausência de uma orientação didático-pedagógica única, que pudesse nortear o desenvolvimento, a implementação e a avaliação das ações da UC. Em função disso, a Universidade Corporativa passou por um processo de redesenho, por meio do qual buscou-se garantir a presença dos componentes educacionais essenciais à melhoria da consistência e da qualidade didáticopedagógica das suas ações, além de promover o seu alinhamento com o modelo de gestão por competências implantado na empresa. O Modelo Pedagógico da Universidade Corporativa tem como função estabelecer as bases para o processo de aprendizagem na Empresa, orientar todas as ações idealizadas e desenvolvidas pela Universidade e definir o modelo de formação e capacitação profissional dos seus colaboradores. Assim, o Modelo Pedagógico explicita a concepção de desenvolvimento humano, a estrutura pedagógica e curricular, os agentes de aprendizagem envolvidos e a concepção metodológica das soluções de aprendizagem construídas sob a coordenação da Universidade Corporativa. O desenvolvimento das pessoas é um processo contínuo em que todos os vínculos essenciais da empresa – seus empregados, clientes, fornecedores, parceiros, desenvolvem uma visão compartilhada sobre ela, sua missão, seus valores e sua importância e dimensão em seu mercado. Falando de dificuldades, a pessoa entrevistada citou que, ao longo do processo de implantação da UC, houve necessidade de lidar e superar a pouca sensibilidade interna em relação à qualidade da aprendizagem. Hoje o cuidado com o modelo pedagógico já é mais compreendido, ainda que algumas vezes, o dinamismo dos negócios tenda a “atropelar” o zelo didático. Outra dificuldade citada foi o despreparo dos fornecedores para compreender e atender aos requisitos do modelo pedagógico, no que concerne a produção e o desenvolvimento dos conteúdos dos programas. Segundo, ainda, a pessoa entrevistada, a trajetória da Universidade Corporativa trouxe lições significativas, como: a qualidade didático-pedagógica é crucial para o processo de aprendizagem; o aprendiz precisa ser visto como o centro do processo; os resultados tangíveis e intangíveis da experiência precisam ser explorados mercadologicamente; a cultura da empresa precisa ser trabalhada o tempo todo; é indispensável aderência ao desafio do negócio da empresa; modelos são fáceis de estruturar, porém difíceis de implantar. Análise da experiência Tomando como referência os dez princípios ou objetivos apontados por Meister (1999), observa-se que a Universidade Corporativa analisada claramente atende a vários deles, à medida que se vincula estreitamente e oferece suporte às questões estratégicas da organização, favorece a obtenção de vantagem competitiva por meio do desenvolvimento de competências e está presente junto com outras áreas executivas no enfrentamento de novos mercados. Além disso, o modelo pedagógico assumido conduz a um foco global no desenvolvimento de soluções de aprendizagem, as quais já superaram o paradigma centrado no instrutor e expandiram as alternativas ao treinamento presencial, com o uso intenso da intranet e da internet, utilizando ainda, quando necessário, outros meios de educação a distância, como o material impresso, vídeos, CD-Rom e outros. Ainda com foco nos princípios que estão sendo atendidos, pôde-se observar que a Universidade Corporativa em questão conseguiu o envolvimento dos líderes, que atuam como parceiros nos papéis de instrutores, conselheiros, coachs, além de apoiar a participação de suas equipes e funcionários nos vários programas de desenvolvimento. Um currículo com ações continuadas, estruturadas a partir das definições estratégicas da empresa e de suas competências essenciais, considerando as diversas carreiras abrangidas e formuladas com base em competências profissionais e pessoais, abrange os 3Cs de Meister (1999), abarcando valores, habilidades, conhecimentos, estimulando o aprender a aprender e o autodesenvolvimento. Com relação ao treinamento da cadeia de valor e parceiros, vê-se que os programas ainda se voltam predominantemente para o público interno, com algumas ações destinadas a parceiros. Clientes e fornecedores como destinatários de programas de desenvolvimento fazem parte de metas futuras. Não se evidenciaram atendidos os princípios do “autofinanciamento” e do sistema de avaliação dos resultados e dos investimentos. Quanto ao primeiro, não foi adotado o sistema de remuneração dos serviços e produtos da Universidade Corporativa pelas unidades-cliente internas, mantendo-se ela como um item das despesas indiretas da organização. No que se refere à avaliação, ainda que haja a pretensão de desenvolver um sistema que consiga medir resultados e custo-benefício, até então, não foram ultrapassados os níveis de avaliação da reação dos participantes e da avaliação da aprendizagem, quando cabe. O estudo foi realizado por: Evellyne Almeida Flávia de Carvalho Canuto Helen Cristina Vivileine Maria Peres Com a participação e a orientação da Profa. Marina Laura da Silveira Dutra Disciplina: Tópicos Avançados em Gestão de Pessoas Curso de Administração da UCB 2° semestre / 2007