Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Engenharia Ambiental
Trabalho de Conclusão de Curso
AVALIAÇÃO DO USO DO COMPOSTO CLÁSSICO
NA PRODUÇÃO DE COGUMELOS (Agaricus)
Autor: Márcio Nascimento Sousa
Orientador: MsC. Beatriz Rodrigues de Barcelos
Brasília - DF
2012
Márcio Nascimento Sousa
[email protected]
MsC.Beatriz Rodrigues de Barcelos
[email protected]
Curso de Gradução em Engenharia Ambiental – Universidade Católica de Brasília
RESUMO
Este trabalho objetivou avaliar o uso de composto clássico na produção de cogumelos do
gênero Agaricus e ainda: analisar e avaliar a composição físico-química e nutricional deste
composto durante todo o processo de compostagem; avaliar o desenvolvimento do Agaricus
Blazei (cogumelo do sol) com o composto clássico; verificar a possibilidade de uso do
composto residual pós-cultivo na agricultura orgânica; analisar a qualidade final do
composto natural em relação a composição de nutrientes; comparar a produtividade dos
cogumelos com a utilização de composto natural e sintético a partir de estudos já realizados;
e analisar o chorume liquido. O Composto Clássico utilizado no estudo, em sua formulação
diferencia-se do Composto Sintético por não utilizar fontes de nitrogênio e fósforo sintéticas.
Foram realizadas 2 análises do composto no decorrer do estudo, respectivamente: ao final
da Fase I e da Fase II da compostagem e 1 análise do chorume do produto final do
composto. Concluiu-se então que o composto clássico apresentou maior produtividade que
o sintético; o composto exaurido na relação C: N é propício para ser reaproveitado, tornando
o sistema de produção de composto sustentável; a palha de bagaço de cana não afeta a
produção em pequenas quantidades e o chorume pode ser utilizado como biofertilizante,
todavia devendo ser utilizado junto com outras fontes de nutrientes e matéria orgânica.
Palavras-chave: Agaricus Blazei. Cogumelo do Sol. Composto Clássico.
ii
ABSTRACT
This study evaluated the use of compound classic in the production of mushrooms of the
genus Agaricus plus: analyze and evaluate the physical and chemical composition and
nutritional status of this compound during the composting process; evaluate the development
of Agaricus blazei (sun mushroom) with compound classic; verify the possibility of use of the
compound residual post-cultivation in organic agriculture; examine the quality end of the
natural compound in relation to nutrient composition; compare the productivity of mushrooms
with the use of synthetic and natural compound from studies already made, and to analyze
the liquid manure. Compound Classic used the study in its formulation differs from Synthetic
Compound not to use sources of nitrogen and phosphorus synthetic. 2 analyzes were
performed throughout the study compound, respectively: At the end of Phase I and Phase II
compost and one of leachate analysis of the final product compound. It was concluded that
the compound showed greater productivity classic that synthetic; compound depleted in C: N
ratio is conducive to be reused, making the system sustainable production of compost, straw
cane bagasse does not affect the production in small quantity and slurry can be used as
biofertilizer, but should be used along with other sources of nutrients and organic matter.
Key words: Agaricus Blazei. Sun Mushroom. Compound Classic.
iii
1
INTRODUÇÃO
O termo cogumelo, em português, pode ser utilizado como sinônimo de fungo,
sendo, de modo geral, usado para designar um tipo macroscópico e que tem a forma
de guarda-chuva (BONONI, Vera Lúcia, et.al., 1999). Acredita-se hoje que existam
cerca de 200.000 especies diferentes de fungos, distribuídas na natureza nos
diferentes ambientes.
São numerosos os cogumelos úteis ao homem. Entre eles, citam-se os
diversos fungos produtores de antibióticos, sendo o mais conhecido o Penicillium
Chrysogenum, produtor da penicilina. Além disso, os fungos fermentadores têm
importante papel na fabricação de pães, queijos, vinhos e cervejas. Recentemente,
com o desenvolvimento da biotecnologia muitos fungos estão sendo estudados
visando sua aplicação na decomposição de resíduos industriais de difícil degradação
e no tratamento de esgoto, mas o mais importante de tudo é o papel decompositor
dos fungos na natureza. Eles crescem sobre a matéria orgânica, restos de animais e
vegetais, assimilando-a e de certa forma, transformando-a em substâncias mais
simples e passíveis de serem absorvidas pelos vegetais, permitindo a ciclagem dos
elementos na natureza. É um trabalho anônimo e silencioso e sem ele a recirculação
da matéria na natureza estaria prejudicada, dificultando as diversas formas de vida
(BONONI, 1999).
A principal função dos cogumelos no meio ambiente é a decomposição da
matéria orgânica. Assim, a produção de espécies de cogumelos comestíveis
depende em grande parte do preparo adequado do substrato onde o fungo se
desenvolverá (ROSA, 2007). O substrato para o desenvolvimento das espécies
trata-se de subprodutos agrícolas e/ou agroindustriais ricos em nutrientes que
passaram previamente por uma compostagem.
Eira (2003) aponta para o fato de que o cogumelo possui elevado conteúdo
proteico, o que fez seu cultivo ter sido apontado como uma alternativa para
incrementar a oferta de proteinas para países em desenvolvimento e com alto índice
de desnutrição. Entretanto, afirma o autor, a expensão da cultura de cogumelos
comestíveis no Brasil depende de estudos visando maior produtividade, controle de
qualidade, aproveitamento de matéria orgânica disponível, produção a baixo custo e
exportação.
1
Conforme citado, existem diversas espécies de cogumelos, entretanto neste
trabalho será dado enfoque à espécie Agaricus blazei Murill, popularmente
conhecido como Cogumelo do Sol.
O cogumelo do sol ou Agaricus blazei Murill é uma espécie nativa do Brasil,
tido como medicinal, com um grande potencial terapêutico. Em 1960 foi encontrado
no Brasil, no município de Piedade, Estado de São Paulo, pelo botânico Sr.
Takatoshi Furumoto, que o isolou e cultivou, dando-lhe o nome de Cogumelo
Piedade; só em 1970, conseguiu produzi-lo em maior escala, em compostos
orgânicos. Descobrindo que este cogumelo tinha propriedades medicinais, enviou
amostras para o Japão com a finalidade de pesquisa (TEIXEIRA, 1999).
Ainda segundo Teixeira (1999), na década de 80, foram publicados vários
artigos a respeito de sua eficácia no controle de câncer; mas por ser pouco
conhecido, seu cultivo foi abandonado após a morte do Sr. Furumoto, reiniciando-se
somente em 1990, nas regiões de Tapiraí, Mogi das Cruzes e Campinas. Têm se
expandido por vários outros Estados, como: Paraná, Minas Gerais e Goiás. Também
é produzido na China, Japão e Coréia. No Japão, o Agaricus blazei Murill é
conhecido como himmemtsutake ou kawariratake.
O Agaricus blazei é um cogumelo que nasce naturalmente no campo, a céu
aberto, e pode ser encontrado em pastos, junto a esterco de cavalos e muares. Este
cogumelo é parecido com o Champignon (Agaricus bisporus), mas apresenta
cogumelos maiores (10 a 15 cm), e são castanhos; o pé é carnudo e de coloração
esbranquiçada como o do A. bisporus (FERREIRA, 1998). A Figura 1 apresenta o
A.blazei.
2
Figura 1 - A.blazei
Como esse cogumelo aparece naturalmente em pastagens, para cultivá-lo
imita-se a natureza preparando compostos a base de matérias orgânicas e minerais
diversos que se encontram nesses lugares. Varios tipos e formulações têm sido
utilizadas, partindo-se da experiência no cultivo do Agaricus Bisporus - Champignon
(FERREIRA, 1998).
Existem dois tipos de compostos, que são diferenciados de acordo com seus
constituintes em “clássicos” ou “naturais” e sintéticos. A compostagem apresenta
duas fases. Durante a primeira fase, ocorre a fermentação do composto. Na
segunda fase ocorre a pasteurização.
A compostagem é o processo de preparo do composto, do qual o micélio vai
retirar os nutrientes (carbono e nitrogênio) para crescer e, após sua completa
colonização, frutifica, ou seja, produz os cogumelos (TEXEIRA, 1999).
Atualmente, a técnica de cultivo e os insumos utilizados para produção de
Agaricus Blazei estão direcionados para cultivo de A. brunnescens = Agaricus
bisporus, o Champignon de Paris, pois a produção em composto pasteurizado é
bem estabelecida, optando-se pela utilização do mesmo composto para ambas as
espécies, diferenciando-se apenas a temperatura de crescimento, fato que pode
limitar a aquisição de composto pelos produtores de A.blazei, quando a demanda
3
dos produtores de “champignon” for maior, isso devido há um restrito número de
fornecedores deste insumo.
O Substrato para o cultivo de cogumelos do gênero Agaricus é resultado de
uma compostagem orgânica sólida. Em seu preparo utilizam-se materiais residuais
da agricultura, pecuária e subprodutos da agroindústria. O processo de
compostagem pode ser definido como um processo de biodegradação ou
decomposição de matérias-primas orgânicas (Eira et al, 1998).
A compostagem para a produção de cogumelos tem como propósito preparar
um substrato nutritivo com características que promovam o crescimento do
cogumelo inoculado e praticamente exclua os microorganismos competidores.
Especificamente isso significa:

Criar um substrato física e quimicamente homogêneo;

Criar um substrato seletivo, onde a maioria dos microorganismos terá
dificuldade de metabolizá-lo mais rapidamente do que o cogumelo inoculado;

Concentrar nutrientes para o uso do cogumelo e exaurir os nutriente que
favoreçam os competidores;

Propiciar um desenvolvimento de populações microbianas que vão utilizar
açúcares e nutrientes prontamente disponíveis e servirão de fonte nutricional
ao cogumelo.
Os cogumelos possuem enzimas lignocelulolíticas (lacase e celulase) que
quebram os açúcares e outros compostos em moléculas menores para serem
absorvidas. Sob condições de substratos pasteurizados, se tais compostos
estiverem presentes para pronta assimilação, outros microorganismos prevalecem
no sistema e não haverá a colonização do substrato pelo cogumelo inoculado. Esta
é a razão pela qual, sob condições naturais, faz-se necessário o pré-tratamento do
substrato de cultivo (composto) através dos processos de compostagem,
pasteurização e condicionamento, para que se estabeleça uma microbiota favorável
ao cultivo (Eira, 2003).
Todo composto para o cultivo de cogumelos do gênero Agaricus tem, como
regra geral, o componente volumoso à base de palhas, capim ou outros materiais
fibrosos, geralmente muito ricos em carbono (C) e pobres em nitrogênio (N) e fósforo
(P) e, componentes concentrados (farelos, tortas e esterco animal), fertilizantes
4
inorgânicos (NPK), gesso e cal. Todos são incorporados em quantidades adequadas
para se atingir as relações C/N e pH desejados. A relação C/N varia entre as
diferentes espécies.
O Champignon (Agaricus brunnescens) é favorecido por uma relação inicial
de 30/1. Já o cogumelo medicinal (Agaricus blazei) se desenvolve melhor em
relações mais elevadas, ou seja, cerca de 37/1 (Kopytowski, 2002).
Além destes nutrientes principais ou macroelementos, os micronutrientes
K,S,Ca e alguns elementos-traço como o Mg, Mn, Zn, Bo, Co, Mo etc) necessários
ao fungo já estão presentes nas próprias palhas, estercos, farelos, entre outros. A
incorporação de sulfato de cálcio (gesso) é recomendada, pois facilita a aeração e
aumenta a capacidade de retenção de água no composto.
Sendo assim, após todas essas elucidações, o objetivo deste trabalho é
avaliar o uso de composto clássico (natural) na produção de cogumelos do gênero
Agaricus e ainda: analisar e avaliar a composição físico-química e nutricional do
composto clássico durante todo o processo de compostagem; avaliar o
desenvolvimento do Agaricus Blazei (cogumelo do sol) com o composto clássico;
verificar a possibilidade de uso do composto residual pós-cultivo na agricultura
orgânica; analisar a qualidade final do composto clássico em relação a composição
de nutrientes; Comparar a produtividade dos cogumelos com a utilização de
composto clássico e sintético a partir de estudos já realizados; e analisar o chorume
liquido proveniente da produção do composto.
5
2
2.1
METODOLOGIA
ÁREA DE ESTUDO
O experimento foi desenvolvido na propriedade onde está localizada a
empresa Cogumelos Amazônia, localizada no Park Way – Vargem Bonita / Brasília –
DF. A produção do composto foi realizada na zona rural da Vargem Bonita e a parte
de incubação/frutificação foi realizada na zona rural da região dos lagos localizada
na DF 250, km 3,5 – Paranoá/DF.
2.2
MATERIAIS E MÉTODOS
O referido trabalho objetivou avaliar a produção de cogumelos com o uso de
composto clássico produzido in locu utilizando como base o autor Bononi,
et.al.(1999) e comparar com o composto sintético segundo dados secundários
baseado em Kopytowski (2002).
O composto clássico analisado foi formulado de acordo com os dados
apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Fórmula para Composto Clássico - Adotada
COMPONENTES
PESO
Feno – Braquiaria
4200 kg
Cama de Frango
2250 kg
Farelo de Soja
100 kg
Farelo de trigo
80 kg
Calcario
100 kg
Gesso agrícola
200 kg
Para realizar as comparações com estudos já realizados foram analisados os
parâmetros apresentados na Tabela 2 no composto clássico nas diferentes fases do
projeto.
Tabela 2 –Análise dos parâmetros, período e metodologia.
PARÂMETROS
PERÍODO
pH
Fase I e Fase II
%C
Fase I e Fase II
%N
Fase I e Fase II
C:N
Fase I e Fase II
C:N
Fase de Exaustão
C:N
Fase de Lixiviação
6
Com relação aos procedimentos da produção do composto para A. blazei,
estes são apresentados no item a seguir.
2.3
PROCEDIMENTO DE PRODUÇÃO DE COGUMELO ADOTADO
Para este trabalho considerou-se somente a análise do Composto Clássico.
Os materiais utilizados para o preparo foram: feno-braquiária, cama de frango, farelo
de soja, farelo de trigo, calcário, gesso agrícola. A relação C/N desses materiais se
baseou na bibliografia consultada e quanto ao farelo de soja e farelo do trigo
seguiram as especificações técnicas dos fornecedores destes materiais. A
formulação do composto é apresentada na Tabela 1.
O processo de compostagem Fase I (com duração de 12 dias) foi realizado
em uma estufa agrícola com área coberta, piso cimentado e laterais abertas, pois
durante o processo não se deve deixar que o composto tenha sua umidade alterada
pelas chuvas ou pelo calor da insolação, conforme demonstra a Figura 2.
Figura 2 - Estufa Agrícola de Produção de Composto.
Antes da montagem do composto, as palhas da braquiária (Brachiaria) foram
umedecidas diariamente, durante 11 dias; 02 vezes pela manhã e 02 á tarde. Por se
7
tratar de um material fibroso e volumoso deve ser umidecido com antecedência a fim
de se iniciar a compostagem com a umidade ideal.
Para um melhor aproveitamento e distribuição dos suplementos na meda
(feixes de palha e resíduos sólidos dispostos em camadas superpostas de modo a
formar montes medindo 1,80m de largura por 1,8metros de altura e comprimento
dependente da quantidade de material processado) inicialmente realiza-se a mistura
dos suplementos (farelo de soja + farelo de trigo + calcário) a fim de facilitar e
uniformizar o processo (Figura 3 e Figura 4).
Figura 3 - Mistura dos suplementos.
Figura 4 - Aspecto da mistura.
Na montagem das leiras, caracterizando o inicio da Fase I de compostagem,
a palha pré-umidecida é transportada em carrinhos/carriolas/giricas agrícolas e
dipostas no chão em frente ao estrado que será utilizado como guia para montagem
da mesma. A quantidade ideal vai de acordo com cada produtor (Figura 5).
Figura 5 - Transporte da palha pré-umidecida.
8
Em cima da palha é jogado a lanço os suplementos misturados em
quantidade adequadas e então é adicionada a cama de frango e água afim de
molhar tais ingredientes evitando assim que retirem umidade do meio, buscando o
máximo manter a umidade ideal de todo material (Figura 6).
Figura 6 – Processo de umidecimento da palha e suplementos.
Assim continua o processo até que a leira atinja aproximadamente 2m de
altura por 2m de largura (Figura 7). Quanto ao comprimento da leira, este fica a
critério do produtor devido a necessidade, tamanho da estufa (capacidade de
armazenamento), capacidade do túnel pasteurizador etc.
Figura 7 - Montagem da leira.
O único e último suplemento adicionado é o gesso agrícola que é misturado
na leira na primeira revirada. São realizadas mais quatro 4 reviradas, em intervalos
9
de 2 e/ou 3 dias, totalizando 5 reviradas. Durante as reviradas, adiciona-se água
apenas visando manter a umidade das leiras em 70-75%.
A recomendação quanto ao piso de concreto é feita a fim de evitar perda de
nutrientes por infiltração durante as regas e o mesmo deve ter uma leve inclinação
com o intuito de favorecer a limpezar e permitir o escoamento do chorume oriundo
do composto.
O chorume do composto (Fase de Lixiviação) é um líquido rico em nutrientes
e por isso é também chamado de adubo líquido, a sua coleta é realizada através de
uma canaleta localizada nas bordas do piso de concreto da estufa e é direcionada
para um reservatório aonde através de um sistema de bombeamento, é reciclado
para a pilha de compostagem, sendo reaproveitado (Figura 8 e Figura 9).
A fim de analisar a composição do chorume para ser utilizado como
biofertilizante, o mesmo foi coletado para ser levado para análise laboratorial.
Figura 8 - Chorume sendo bombeado.
Figura 9 - Coleta do chorume para análise.
Dando continuidade ao processo de produção do composto, ao final da Fase I
de compostagem, o mesmo é transferido para o pasteurizador também conhecido
como câmara de pasteurização ou túnel de pasteurização. Para acomodar todo
material o túnel precisa ter 3m de altura; 3m de largura e de 5 a 6m de comprimento
e o composto não deve ultrapassar 1,8 a 2m de altura.
10
Esse tipo de câmara possui o fundo falso, tipo plenun, onde o ar quente do
composto, saturado de umidade, soprado pelo ventilador é comprimido, infiltrando
uniformemente na massa do composto.
Depois de todo o composto condicionado dentro do túnel é colocada a porta
para o isolamento final deixando apenas como saída de ar as chaminés. E assim
finalizou-se a Fase I. Neste momento realizou-se uma coleta de amostra do
composto para análise laboratorial (Figura 10).
Figura 10 - Coleta de amostra na Fase I.
Dando inicio a fase II de compostagem, a pasteurização, foi realizada á 61
±1ºC durante 6h, e o condicionamento a 48±1ºC durante 11 dias, totalizando 12 dias
(Fase II). Em seguida, a temperatura dos compostos foi reduzida para 23°C, para a
inoculação dos mesmos.
Encerrado o processo de pasteurização, ou seja, ao final da fase II o
composto é transferido para sacos de polietileno preto reforçado aonde
simultaneamente é inoculado (Figura 11 e Figura 12).
Neste momento realizou-se outra coleta de amostra do composto para análise
(Figura 13).
11
Figura 11 - Composto nos sacos de
polietileno sendo inoculados.
Figura 12 - Sacos pretos transferidos para as
prateleiras.
Figura 13 - Coleta de amostra na Fase II.
A semente deve ser incorporada ao composto na proporção de 1 – 2 % do
peso do composto e a boca do saco fechada para evitar contaminações e perdas de
umidade. A temperatura ideal de colonização, nesta fase é de aproximadamente
27ºC. Se o composto e a semente estiverem em boas condições, em 25-30 dias,
haverá emissão de hifas cor branca em abundância, ou seja, o mesmo estará
12
colonizado (Figura 14). Após este fase o composto recebe uma camada de
cobertura de terra, conforme apresentado na Figura 15 (FERREIRA, 1998).
Figura 14 - Surgimento das hifas.
Figura 15 - Camada de cobertura de terra.
Após a colocação da camada de cobertura até o período de frutificação dura
em torno de 12-15 dias ate que o micélio esbranquiçado atinge a superfície da
camada (Figura 16). Quando o micélio superficial atingir a maioria da área do saco,
é necessário realizar uma indução para que este comece a se modificar, iniciando,
portando, a formação dos primórdios (Figura 17). A indução se dá através do
“stress” entre as diferenças de temperatura ou também pela troca do gás carbônico
por oxigênio. Para se realizar a indução é necessário ventilar bastante a casa de
cultivo.
13
Figura 16 - Colonização da superfície na camada de cobertura.
Figura 17 - Surgimento dos primórdios.
14
Finalmente, após o crescimento dos cogumelos (Figura 18), este serão
coletados, lavados, desidratados e pesados e estarão prontos para o uso seja para
fins medicinais ou alimentares (Figura 18 - A. blazei in natura. e Figura 19).
Figura 18 - A. blazei in natura.
Figura 19 - Cogumelo do Sol desidratado.
O material presente nos sacos após a retirada dos cogumelos é denominado
de composto clássico exaurido ou substrato residual (Fase de Exaustão) (Figura 20).
Este foi coletado para a realização de mais uma análise a fim de verificar a
possibilidade de sua utlização na agriculta orgânica.
Figura 20 - Composto Clássico exaurido.
 Considerações Complementares
A camada de cobertura dá suporte ao desenvolvimento dos cogumelos e é a
maior fonte de água para as frutificações que são constituídas por 90% de água. O
processo de inserção da mesma é necessário para que haja a indução do cogumelo,
pois fornecerá água para o crescimento e desenvolvimento do micélio e dos corpos
de frutificação (Cogumelos).
15
Segundo Ferreira, 1998 a cobertura utilizada no composto deve ter um
aspecto areno-argiloso, ter grande capacidade de absorver e armazenar água e
deve ser porosa para permitir trocas gasosas.
Partindo do principio da necessidade de cada produtor de utilizar matériasprimas disponíveis em quantidade na região, utilizou-se terra vermelha acrescida de
30% de carvão residual de carvoarias, corrigida com calcário calcítico.
Observa-se que assim como o composto a camada de cobertura também
deve passar por um tratamento a fim de evitar nematóides e outros problemas da
fungicultura, por isto a camada é submetida a um processo de desinfecção com
formol (a 10%, 10L/m³, volatizando em temperatura superior a 15ºC) e em seguida
coberta com lona plástica. Aproximadamente 4 dias após a aplicação estará pronta
para o uso, quando o odor do formol desaparecer. Para que haja a volatilização do
formol é necessário que a terra de cobertura durante o tratamento receba
temperatura superior a 15ºC.
16
3
3.1
RESULTADOS E DISCUSSÃO
COMPARAÇÕES DOS COMPOSTOS
O composto utilizado no estudo foi o intitulado clássico (conforme apontado
na Tabela 1), que em sua formulação diferencia-se do sintético por não utilizar
fontes de nitrogênio e fosforo sintéticas, á citar: Uréia e Superfosfato Simples.
A fórmula do composto utilizado para tal avaliação foi proposta por
Kopytowski (2002). Abaixo segue a fórmula do composto sintético do referido autor,
Tabela 3, e do composto clássico do estudo, está apresentado na Tabela 1.
Tabela 3 - Fórmula para Compostos Sintéticos proposta por Kopytowski(2002).
COMPONENTES
PESO (KG)
Bagaço de Cana-de-açucar
33
Palha de capim braquiária
50
Farelo de Soja
6,4
Uréia
1
Gesso
1,80
Calcário Calcítico
1,80
Superfosfato Simples
1,80
Relação C:N
35/1
Fonte: Kopytowski (2002).
Os resultados das análises com o Composto Sintético obtidos ao final da fase
I, II e relação C/N proposto por Kopytowski, 2002 são apresentados na Tabela 4.
Tabela 4 - Resultados das análises com o Composto Sintético.
FASES
% CARBONO
% NITROGÊNIO
C/N
Fase I
46,35
1,27
36/1
Fase II
44,81
1,47
30/1
Fonte: Kopytowski (2002).
Os dados obtidos das análises realizadas com o Composto Clássico
produzido para o estudo estão descritos na Tabela 5.
Tabela 5 - Resultados das análises com o Composto Clássico.
FASES
% CARBONO
% NITROGÊNIO
C/N
Fase I
40,4
1,54
26,3/1
Fase II
37,2
0,98
38/1
Fase de Exaustão
25,9
1,53
16,9/1
Fase de Lixiviação
0,1
0,3
0,37/1
Kopytowski (2002) relata que o aumento nas relações C/N ao final da fase I
pode ser devido a perda de ureia que é diluida em água e é adicionada na leira em
17
uma única vez ocorrendo assim perda de parte do nitrogênio por escorrimento desse
material.O mesmo ressalta a importância do índice de nitrogênio elevado da ureia e
do farelo de trigo, parte do nitrogênio prontamente disponível do mesmo pode em
quantidades elevadas ter excedido a capacidade de utilização dos microrganismos o
que ocasiona sua perda em forma de amônia, podendo se confirmar tal fato nas
reviradas da leira na qual percebe-se a formação de odor característico de amônia o
que indica a presença de ambientes anaeróbios nas leiras.
No experimento realizado com o composto clássico a relação C/N atingiu o
valor adequado ao final da fase I. A fonte de nitrogênio com maior % utilizada para
realizar o experimento foi a cama de frango e em quantidades menores farelo de
trigo e soja também possuem esse elemento, porém em menores quantidades.
Acredita-se que a mistura e distribuição mais efetiva desses insumos fez com que
tais perdas fossem reparadas atingindo assim os valores adequados para essa fase.
Outro fator importante realizado nessa fase foi a coleta realizada do chorume
através das canaletas laterais realizando assim a reciclagem desses nutrientes nos
períodos em que foram necessários corrigir a umidade do composto. Observa-se
que esses nutrientes lixiviados devem ser aproveitados.
Os valores obtidos ao final da fase II tiverem um acréscimo devido ao
processo de pasteurização (fase II) na relação C:N alcançando valores estimados
para a produção de A.blazei.
O índice obtido de produtividade por Kopytowski (2002) na formulação
apresentada na Tabela 4 foi de 27g/ kg de composto úmido enquanto que com o
composto clássico, fórmula da Tabela 1, foi de 80g/kg de composto úmido. Sendo
assim, a produtividade foi maior no composto clássico.
Na análise do composto exaurido na relação C:N apresenta-se relativamente
baixa (16/1),conforme apresentado na Tabela 6. Para o aproveitamento na
agricultura o correto seria em torno de 30/1 necessitando assim de uma
suplementação a base de farelos ou tortas para alcançar tais níveis. O descarte
deste material não é interessante visto que ainda é rico em nutrientes e ainda pode
ser utilizado para outras finalidades – o que torna o sistema sustentável. Além disso,
o simples descarte no ambiente pode gerar sérios problemas ambientais.
Tabela 6 - Resultado da análise do composto exaurido.
FASES
% CARBONO
% NITROGÊNIO
C/N
Fase de Exaustão
25,9
1,53
16,9/1
18
Outras formas de aproveitamento podem ser citadas como:

Suplementação alimentar animal (especialmente quando este composto é
formulado com palhas), pois contem proteínas (pelo fungo ainda estar no
composto, por mais que ainda inativo) e vitaminas desde que feita as devidas
correções e monitoramente;

Utilização do composto residual para cultivar outros fungos necessitando da
suplementação adequada. Tais procedimentos garantem que a produção seja
em um ciclo fechado, permitindo a sustentabilidade ambiental, visto que os
impactos ambientais serão minimizados;
Com relação ao tipo de palha adicionada na formulação do composto
clássico, o bagaço de cana, utilizado devido á facilidade de se encontrar na região e
seu baixo custo comparado com a do composto sintético, feno – braquiária notou-se
que esta substituição não afeta a produção em pequenas quantidades segundo
comparações bibliográficas.
Na análise do lixiviado (chorume) o mesmo apresentou valores baixos de
carga orgânica baixa e também baixa relação C/N (0,35/1) (Tabela 7) não sendo um
potencial degradador do meio ambiente, podendo, portanto ser utilizado como
biofertilizante, todavia devendo ser utilizado junto com outras fontes de nutrientes e
matéria orgânica. Segundo CARVALHO, Gabriela Ana; GUERRINI, Iraê Amaral;
CORRADINI, Lenine (2002, p.9 Apud KIEHL, 1998, p. 171) a relação C/N final, de
qualquer material compostado e humificado, deve ser de 8/1 a 12/1, porém,
materiais com relação C/N 18/1 ou um pouco maior já estão semicurados ou
bioestabilizados (Kiehl, 1998), podendo ser utilizados como fertilizante orgânico sem
risco de causar danos às plantas.
Tabela 7 - Resultado da análise do composto exaurido.
FASES
% CARBONO
% NITROGÊNIO
C/N
Fase de Lixiviação
0,1
0,3
0,37/1
19
4
CONCLUSÃO
Concluiu-se com análise do Composto Clássico:

Um maior teor nutricional e consequente maior produtividade que o sintético;

O composto exaurido na relação C:N é propício para ser reaproveitado,
tornando o sistema de produção de composto sustentável;

A palha de bagaço de cana não afeta a produção em pequenas quantidade;

O chorume pode ser utilizado como biofertilizante, todavia devendo ser
utilizado junto com outras fontes de nutrientes e matéria orgânica.
Desta maneira, pode-se afirmar que neste estudo o composto clássico foi
melhor para a produção do A. Blazei, pois além se ser orgânico e ter apresentado
seus resíduos proprícios para reaproveitamente, sendo assim mais benéfico para ao
meio ambiente, no ponto principal que é a produtividade se mostrou mais rentável.
Para uma análise comparativa mais efetiva dos compostos, clássico e
sintético, recomenda-se a produção em menor escala de ambos durante o mesmo
período sazonal, utilizando os mesmos subprodutos apresentados neste estudo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARVALHO, Gabriela Ana; GUERRINI, Iraê Amaral; CORRADINI, Lenine. A
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de Fábrica de Celulose e Papel. Associação Brasileira Técnica de Celulose e
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Dissertação de Mestrado. Programa Energia na Agricultura, FCA/UNESP, Botucatu,
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ANEXOS
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Marcio Nascimento Sousa