Processo de socialização e as Instituições sociais
Cezar Bueno de Lima. Doutor em Ciências Sociais. Professor de Sociologia do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da
PUCPR
“não é um ser natural, mas histórico; não é um ser isolado porque se
torna humano em função de ser social; não é um ser abstrato,
mas um conjunto de suas relações sociais”
BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade : tratado de sociologia do conhecimento. 12. ed. Petrópolis:
Vozes, 1995
Precisa adquirir “várias aptidões, aprender as formas de satisfazer
as necessidades, apropriar-se do que a sociedade criou no
decurso de seu desenvolvimento histórico”
escovar os dentes, comer com talheres, escrever, ler texto, discutilo, etc
Não são transmitidas por hereditariedade biológica, mas adquiridas
no decorrer da vida
(processo de apropriação da cultura)
Depende do contato com o mundo dos objetos e com fenômenos da
realidade objetiva
(experiência sócio-histórica da humanidade que produz arte,
instrumentos, tecnologia, conceitos e ideias)
Candidato à humanidade
É “introduzida na cultura por outros indivíduos que a guiam nesse
mundo”
Existem e são importantes, porém:
não são determinantes para justificar as grandes diferenças
existentes em nossa sociedade
Conferem “traços particulares na atividade dos indivíduos”
Todos aprendem a fazer, porém, cada um colore “seu fazer com
alguns, traços particulares, singulares, individuais”
Há crianças que “sabem fazer e outras que não aprenderam e,
portanto, não desenvolveram certas aptidões”
Desigualdade do acesso à cultura
Ausência ou acesso inadequado
Crianças sem comida, sem escola, sem brinquedo;
Adultos que nunca leram um livro
Não é uma “categoria extra-social”
ADORNO, Theodor W.; GÖDDE, Cristoph. Introdução à sociologia (1968). São Paulo: Ed. UNESP, 2008
Encontra-se, desde o início, “referido à sociedade, de um modo
específico”
Exigência de elevado grau de especialização
” apresenta um rol de “oportunidades e metas individuais”
diferentes e equivalentes em termos de “êxito” e fracasso
Vida que não viveu, papel que não desempenhou, experiência que
não teve, oportunidade que perdeu
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994
Algo socialmente exigido e inculcado pelas sociedades altamente
diferenciadas
(não é apenas uma opção pessoal)
Aceitam determinada forma de “batalha” e o comportamento que
a acompanha
(como algo natural)
Oferta à juventude de uma gama de metas possíveis
Problema: ausência ou falta de condições para a realização de tais
metas
Depende de condições familiares e sociais
(para além das aspirações e inclinações individuais)
Prevê que, desde a infância, as pessoas sejam treinadas para
desenvolver um grau bastante elevado de autocontrole e
independência pessoal”
(competição precoce, construção social de desejos, aprendizagem
do que causa orgulho e desaprovação)
As oportunidades são consideradas valiosas e dignas de empenho
segundo uma escala social hierárquica de valores
Critério para atribuir
Prêmio aos vencedores sob a forma de propriedade, prestígio,
poder, respeito
Transformam-se, na maioria das vezes, em promessas inatingíveis
Define objetivos “culturalmente” considerados como legítimos e
valorizados por todos
(riqueza, poder e prestígio)
MERTON, Robert. K. Sociologia, teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1970
Forte contradição entre metas culturais e normas
institucionalizadas
Capitalismo globalizado
Produz forte tensão entre “os meios institucionalizados” e os
“objetivos particulares”;
Atribui alto valor ao sucesso monetário, porém,
não adapta “sua estrutura” de modo que todos possam atingir a
meta cultural proposta
ocorre a “dissociação entre as aspirações culturalmente prescritas e
as vias socialmente estruturais para realizar essas aspirações”
Brasil: possui 51 milhões de jovens entre 14-29 anos (IPEA /2009)
Problema maior: falta de educação/sistema educacional eficiente
Apenas 48% dos Jovens (15-17 anos) estão matriculados no ensino
médio;
Evasão escolar: atinge 66% dos jovens matriculados no ensino
médio
Pesquisa de campo realizada no segundo semestre de 2011 em
Curitiba e Região Metropolitana composta pelas cidades de
Almirante Tamandaré, Araucária, Colombo, Pinhais, Piraquara e
São José dos Pinhais.
Metodologia da pesquisa
Análise qualitativa organizada em grupos focais com o objetivo de
saber o que os jovens estudantes das escolas públicas do ensino
médio e moradores de bairros que apresentam elevadas taxas de
homicídios e vulnerabilidade social pensam sobre as drogas e a
violência policial
Percepção juvenil sobre as drogas e o envolvimento juvenil com as
drogas
JO/F
A falta de apoio [familiar] (...) leva a pessoa a se envolver com drogas [e] com outros tipos de amizades também
JO/M
Problemas em casa [ou o envolvimento dos] pais (...) com drogas [fazem com que os filhos levem tal] herança em suas vidas
JO/M
Ás vezes, a influência dos pais [dentro de casa] levam os filhos ao uso das drogas
JO/F
A maioria dos usuário de droga (...) tem problema [pessoal] dentro (...) ou fora de casa. Na falta de alguém de confiança para [o jovem] expor seus
problemas [e obter ajuda], acaba se infiltrando nas drogas
JO
O fator mesmo da violência (...) é a influência [externa], porque (...) a mãe e o pai [do pré-adolescente] não vai ensinar ele a fumar crack, a fumar alguma
droga, [mas] vão cooperar pra ele crescer uma pessoa (...) de bem. Na verdade (...) os adolescentes [sofrem] a influência dos grupos sociais que existem
[e] foram construídos na cidade [no bairro]
JO
[Sem ter] o que faze[r], a gente fica em casa, no computador, jogando vídeo game (...). Na rua, que você encontra, (...) as drogas, seus amigos [que te
oferecem e] ai você (...) acaba se encaminhando (...) com eles
JO
[Os jovens hoje em dia consomem drogas por] prazer [e] Influência
JO
Muitas vezes [os jovens] entram nas drogas [devido a más] companhias [jovens desocupados, e] porque assistir a sessão da tarde não tem graça (...) para
um jovem que tem energia, que quer sair, que quer aproveitar a vida.
JO/F
A juventude de hoje [se envolve] cada vez mais rápido no mundo das drogas, (...) vê o pessoal do Rio de Janeiro [influência da mídia policial e] acha que
(...) vai ganha[r] dinheiro [fácil]
JO
Onde eu moro [área de invasão] não tem nada, (...) é difícil conseguir emprego. Dai eu vejo uma pessoa que [possui] coisas que são cobiçadas, tipo roupa
de marca, tênis de marca, carro, telefone moderno [coisas que desejo, me impressionam e, por isso], acabo dando de cara com as drogas.
JO/F
A falta de emprego [e] dinheiro [leva o jovem às drogas]
JO/M
Emprego [para o] menor é difícil
JO/M
Muito[s] adolescentes vão para as drogas porque não encontram trabalho e quando [o] encontram o salário é muito baixo
JO/F
Os jovens de hoje em dia preferem as coisas mais fáceis [venda de drogas, porque no emprego] as pessoas estão exigindo muito do jovem [por isso,
alguns jovens são obrigados a fazer a seguinte escolha]: trabalhar e parar de estudar ou [apenas estudar]
JO/F
[Muitos] empregos não são bons [baixos salários], então [os jovens] preferem trafica[r]
JO/F
Eu tenho vários amigos que fica[m] aqui na praçinha e nem por isso eu chego na praçinha e eu vou beber ou fumar. Ninguém me influencia a ir [imitar os
amigos]
JO/F
Eu tenho amigos, eu tenho pessoas da minha família que já morreram por causa disso [envolvimento com as drogas] e vivem com isso.
JO/M
[Apesar de] meu pai [ter sido] preso duas vezes [e possuir] marca [de tiros] nem por isso eu cresci um bandido [...] pessoa errada.
JO
Hoje em dia [há] bastante [oportunidade, mas] vai do interesse da pessoa [esforço pessoal de] fazer uma faculdade.
JO/F
Minha irmã é usuária, meu irmão já foi [usuário, porém isso] não quer dizer que eu [serei] usuária.
JO/F
[Drogas] tem em todo lugar. [As pessoas e autoridades alertam para não usá-las], mais as pessoas vão lá e usam por curiosidade.
JO/F
A droga [confere ao jovem sensação de] poder [e provoca] rixa entre gangues
JO/F
[A presença insuficiente da polícia no bairro fortalece, entre os jovens, a sensação que o uso de entorpecentes] é liberado [explicação para o
aumento do uso de entorpecentes no bairro]
JO/F
a maconha (...) devia ser liberada porque daí eles [um lista de traficantes poderiam organizar melhor] o acesso aos usuários
JO/F
[O comércio das drogas] deveria ser liberado pra que [as autoridades governamentais] possam [investir] esse dinheiro em outras coisas.
[Atualmente], qualquer pessoa sabe que [o uso de drogas] faz mal [e apesar disso], ela vai [conseguir] de algum jeito, sendo liberado ou não.
Relatos e testemunhos pessoais dos jovens sobre a ação violenta
da polícia nos bairros e o envolvimento de alguns policiais no
consumo de drogas
JO/F
Eles [policiais] não respeitam os adolescentes, principalmente os meninos. A gente vê, eles chegam batendo nos adolescentes e jovens.
JO/M
a gente mora numa vila humilde, ta [na] esquina, [e quando a polícia suspeita que está] traficando, já bota a mão na parede, revista, batem.
JO/M
Medo de polícia (...) é, tá loco! [claro que sim]
JO/F
[Quando] os piá [s] estão andando de boa na rua daí eles [policiais] pegam [e] já enquadram os piá [s]
JO
Eles [policiais] só pegam gente que não tem nada a vê [inocente] te param, da uma surra, depois fala pra você [ir] embora
JO/F
a policia vê (...) cheiro de pinga e cacetieia [agressão física]
JO/M
A última vez que eu levei geral da polícia [no bairro] eles chegaram dando chute [e] ponta pé
JO/M
Uma vez eu tava andando di boa com um amigo meu (,,,) era onze horas da noite e daí nois ganhamo enquadro [foram abordados pela] rotam (...),eles
pegaram e fizeram a namorada do [amigo] tirar a roupa inteirinha lá no campo [de futebol?]
JO/M
Me bateram na frente da minha mãe [e] pisaram em mim
JO/F
um dia eu [es]tava na esquina [a polícia chegou], coloquei a mão na parede [e o policial] começo [u] a da [r] cacetada nas costas.
JO
estava na lan house chegou um [policial] com umas armas enormes e começaram a enquadrar (...) bater (...) e abusar. (...) a gente não pode falar sobre
isso, a gente não pode, não tem pra onde denunciar. Você vai (...) chamar a policia?
JO/
M
A polícia não atua bem. A polícia mata uma pessoa e fala que trocou tiro
JO/
M
A polícia [assassinou] um piá ali do outro lado [mas não permaneceu no local para prestar] socorro, faze [r] alguma coisa (...). Atiraram [e] deixaram lá [o
corpo] como um lixo e só no outro dia os moradores acharam ele
JO/
M
[Muitas vezes, os policiais] passa [m] num ponto de droga e nunca autuam
JO/F
[Outras] vezes os policiais (...) vê [m] o jovem ali comprando droga ou (...) usando droga, [porém], não faz[em] nada
JO
eu [e]outros [estávamos] fumando na esquina e eles [policiais] passavam de boa [apenas olhavam]
JO/
M
eu levei enquadro [foi abordado e interceptado pela viatura policial], o policial pego [u] a maconha [e saiu] queimando [fumando e] falo[u] bem assim,
libera ele, (...) segue teu rumo
JO/
M
[O jovem de aproximadamente] 14 anos [es] tava fumando um cigarro e a polícia [em vez] de tomar alguma atitude (...) pegou [o cigarro de maconha] da
mão do menino e saiu fumando.
JO
estava na lan house chegou um [policial] com umas armas enormes e começaram a enquadrar (...) bater (...) e abusar. (...) a gente não pode falar sobre
isso, a gente não pode, não tem pra onde denunciar. Você vai (...) chamar a policia?
JO/
M
A polícia não atua bem. A polícia mata uma pessoa e fala que trocou tiro
Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas – FIPE/INEP
Pedido: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais –
INEP
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Estudantes da penúltima série do ensino fundamental regular (7ª ou 8ª);
Estudantes da última série (3ª ou 4ª) do ensino médio regular;
Estudantes de EJA (2º segmento do ensino fundamental e ensino médio);
Professores(as) do ensino fundamental e médio que lecionam português e
matemática nas respectivas séries acima mencionadas;
Diretores(as) de escolas;
Profissionais de educação que atuam nas escolas com a(s) série(s) acima
mencionadas [secretária(o), porteira(o), orientador(a) educacional,
merendeira(o) ou correlatos]
Pais, mães e responsáveis por alunos da(s) séries anteriormente referidas,
que sejam membros do Conselho Escolar ou da Associação de Pais e
Mestres.
Ações discriminatórias no âmbito escolar, organizadas de acordo
com áreas temáticas, a saber
Étnico-racial, gênero, geracional, territorial, necessidades
especiais, socioeconômica e orientação sexual
Possuem menos de 40 anos de
idade (54,4%), dos quais 36,6% apresentam idades entre 30 e 39
anos e cerca de 20% entre
20 e 29 anos de idade
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