ESTUDO EXPERIMENTAL DAS NECROSESCUTANEAS PRODUZIDAS POR FARMACOS UTILIZADOS NA ESCLEROTERAPIA DE TELEANGIECTASIAS . Com a finalidade de analisar as escaras produzidas pelos diferentes agentes usados nos procedimentos esclerotenipicos, foi realizado urn estudo experimental em ambiente laboratorial. Usaram-se 20 ratos anestesiados submetidos it aplica~aouniforme de 0,1 ml na delIDede drogasutilizadasusualmentepara escleroterapiadas teleangiectasias.Passadas 86 horas da aplica~ao,foi feito exame anatorno-macrosc6pico nos locais das aplica~6es por tres examinadoresque medirarn0 diametrodas les6es. A analisebioestatfsticaconsistiu no teste t pareado. Concluiu-se que as drogas mais moderuas, ao contriirio do que habitualmente se propaga, tern maior potencial ulcerogenico sobre a pele. ormais experiente que seja 0 cirurgiao vascular e 0 angiologista, ao efetuarem 0 tratamento escleroterapico das teleangiectasias 5,1,3, poderao, ah~m de outras complicac;:6es 7.9, ocasionar a lesao cutanea 17. Essa lesao e uma necrose da pele em que podeni ocorrer destruic;:ao da epiderme, da derme ou ate de tecidos' mais profundos 23. Apresentando tamanho variavel e dor na regiao e de demorada resoluc;:ao espontanea, pode ocasionar substituic;:ao permanente do tecido cutaneo normal por fibrose cicatricial. 0 efeito estetico e desastroso II. Na genese da lesao ha algumas hip6teses e controversias, pois alguns autores sustentam que a complicac;:ao seja decorrente de anastomoses de arteriolas com as telangiectasias alvo 18, mas outros afirmam que a ulcera e produzida pela aplicac;:aoextravascularl3• Por outro lado, ha autores que ate preconizam a aplicac;:ao extravasal para esclerosar os vasos 24. Temos, tambem, os laborat6rios fabricantes de agentes escleroterapicos P que parecem estar em constante disputa mercadol6gica, afmnando na propaganda ser esta ou aquela a soluc;:ao "mais suave" e isenta de complicac;:ao 26. Este trabalho tem por objetivo estudar alguns aspectos macrosc6picos e microsc6picos do processo inflamat6rio, ap6s a aplicac;:ao intradermica de varios fiirmacos preconizados para 0 tratamento esclerosante de teleangiectasias. Foram utilizados 20 ratos (Rattus novergicus albinus) machos, pesando aproximadamente 200g, da colonia Fundac;:aoLusfada, oriundos do Bioterio Central da Faculdade de Ciencias Mecticas de Santos, mantidos em alimentac;:ao e agua "ad libitum", com fotoperiodismo de 12h claro/12h escuro. As soluc;:6es esclerosantes, de acordo com a composic;:ao qufmica, saD classificadas em varias categorias 8. Foram escolhidas as tres categorias mais utilizadas na atualidade 16, como cada Miguel Angelo de Sousa Professor de Anatomia Humana Especialista em Cirurgia Vascular e Angiologia pela AMBISBACV. ~ P6s-Graduado em Cirurgia Vascular peloMEC. Angelo Sementilli Professor de Anatomia Patol6gica Especialista em Anatomia Patol6gica pela AMBISBAP Paulo Celso Pardi Professor de Histologia. Doutor pela Escola Paulista de Medicina. Helder Cirillo Guimaraes da Silva Cirurgiao Geralda Sta. Casa de SantosEspecialista em Cirurgia Geral pelo MEC. Trabalho realizado na Faculdade de Ciencias Medicas de Santos. Enderec;o do Autor: Rua da Paz n. 1apto.22 11045-520 Santos SP E-mail: [email protected] categoria possui mais de uma substancia farmacol6gica 12,14, enta~ foi escolhido 0 fannaco mais usado de cada categoria. A) CATEGORIA DAS SOLU<::OES COMPOSTAS: Tem como mecanismo de ac;:ao atuar diretamente sobre as celulas endoteliais; foi escolhida nesta categoria a GLICERINA CROMATADA, que e descrita como esclerosante suave e com raras cpmplicac;:6es 16. B) CATEGORIA DAS SOLU<::OES HIPERTONICAS: Sua func;:aoe dirninuir a superffcie nuclear das celulas endoteliais,. causando desorganizac;:ao dos lirnites celulares 15. Como representante desta categoria foi usada a glicose hipertronica a 75%, soluc;:ao largamente utilizada em nosso meio. C) CATEGORIA DAS SOLu~6ES DEIERGENTES: Tambem denominadas de tensiolfticas, exercem sua a~ao na superffcie das celulas, acarretando dano endotelial atraves da interferencia com os lipfdios]9. Esta categoria divide-se em duas modalidades: 1. NAo IoNIZAVEIS: foiutilizadonesta modalidade 0 Polidocanol a 0,5% (hidraxipolietoxidodecano), descoberto por Henschel na Alemanha, e divulgado por, praticamente, nao apresentar efeitos colaterais. Segundo Weiss, e" the perfect solution "25; 2.IONIZAVEIS ANIONICOS: escolhemos 0 oleato de etalonamina a 5% dilufdo com glicose a 50%, por ser 0 mais usado entre os profissionais. A dilui~ao realizada foi na prapor~ao de seis partes de glicose a 50% para uma de oleato de etalonamina 6: 1. o metoda utilizado consistiu em aplicar em cada rata as quatra substancias acima descritas, e mais 0 controle feito com soro fisiol6gico, em areas padronizadas e demarcadas, como passamos a descrever: Em ambiente laboratorial, primeiramente, os animais foram anestesiados por inala~ao de eter etJ1ico. Depois iniciouse a tricotomia na regiao dorsal de forma retangular, com as medidas em tomo de 5 por 2 centfmetros, com 0 maior comprimento acompanhando 0 eixo longitudinal do animal. Ap6s ser feita a assepsia e antisepsia com alcool iodado a 2%, com uma caneta dermografica foram feitos quatro tra~os transversais na regiao depilada, com isso demarcando cinco campos para as aplica~oes. Prosseguiu-se com as aplica~oes intradermicas, que foram,realizadas mediante 0 pin~amento digital da pele, rntes certificando-se da inexistencia de vasos sangufneos pela aspira~ao, elevando-se 0 emb610 (grafico 1). As areas de aplica~ao foram padronizadas para todos os ratos, foram usadas na seguinte sequencia craneo-caudal: sora fisiol6gico, oleato de etalonamina, polidecanol, glicerina cr6mica e glicose hipert6nica. A quantidade de Ifquido aplicada foi de 0,1 mI, pois essa foi determinada como sendo a quantidade necessana,em observa~ao macrosc6pica, para a forma~ao de papula. As seringas e agulhas eram descartaveis, sendo a espessura de 13 x 3,8 parede fina (27,5G112) e do mesmo fabricante. A analise anatomo-macrosc6pica da rea~ao inflamat6ria nos locais injetados foi realizada por tres observadores. Estes, munidos de lente para aumento e regua, em ambiente com ilumina~ao abundante e difusa, fizeram 0 exame e anota~ao de cada uma das cinco lesoes dermic as encontradas nos animais. 0 tempo transcorrido entre as aplica~oes e o exame dermico-macrasc6pico foi de 86 horas. Para efeito documental, todos os animais foram fotografados e as maiores lesoes produzidas com cada esclerosante foram submetidas a bi6psia histopatol6gica microsc6pica, sem sacrificar os animais. Tanto os observadores como o patologista ignoravam na hora do exame qual 0 esclerosante que produziu a lesao. Para a analise estatfstica foi empregado o teste t pareado, na soma das medidas dos 3 observadores, onde A=solu~ao fisiol6gica 0,9%, B=etanolamina, C=polidecadol, D=glicerina cr6mica e E=glicose 75%. Obtivemos os seguintes valores de P na compara~ao estatfstica: BxC BxD BxE CxD CxE DxE = = = 0,37 0,35 0,25 0,82 0,98 0,80 Verifica-se que nao houve diferen~a significante entre os grupos, e 0 grupo A nao foi comparado por nao haver duvida estatfstica. o grafico 1 repOlta 0 resultado da media final e 0 grafico 2 mostra a porcentagem ulcerogenic a dos farmacos. NECROSES CUTANEAS NA ESCLEROTERAPIA Foram biopsiadas as maiores ulceras (Garafico 2) ocorridas com cada uma das quatros solu<;oes,e enviadas para analise microscopica, sem, contudo, fomecer ~ patologista qual a solu9ao de cada amostra (estudo cego). as resultados encontrados, foram de padrao. inflamat6rio agudo de mesma intensidade nas quatros amostras. A necrose da pele e uma complica9ao que pode ocorrer nas sessoes escleroterapicas, para a qual, de acordo com a magnitude, se pode supor vmos mecanismos. Se for uma necrose de area pequena e de natural resolu9ao, tais como as obtidas no presente trabalho (fig. 1), e provavel que 0 mecanismo seja urn estravasamento de 0,1 ml da solu9ao escleroterapica na denne. Porem, caso a ulcera9ao seja de grande propor90es e dificil cura espontanea, como as descritas por Myake e cols.20 e Komlosl8, o componente desencadeador podera ser: 1. estravasamento superior a 0,1 ml; 2. aplica90es em teleangiectasias com anastomoses arteriolares segundo Koml6s 21; DE TELEANGIECTASIAS 3. pressao excessiva sobre 0 embolo da seringa, produzindo refluxo para as arteriolas conforme Myake e colsY. A aplica9ao de soro fisio16gico entre os esclerosantes serviu tanto, como para contra Ie, como tambem para refor9ar a hip6tese que as ulceras nao ocorrem por isquemia. De fato, antes do trabalho havia a suposi9ao de que a expansao de liquido entre as celulas da denne poderia comprimi-las a ponto destas sofrerem isquemia e morte, 0 que nao ocorreu em nenhuma das 20 aplica90es com soro fisio16gico. Todas as aplica90es foram executadas, somente, na derme, nao tendo sido 0 tecido subcutaneo objeto de estudo no trabalho, porque segundo as pesquisas de Miyake e cols. 20, em 1976, "nos locais de aplica9ao de esclerosantes no su bcutaneo, houve apenas edema discreto, nao ocorrendo necrose de pele". Podemos afirmar, ainda, que as escleroterapias extravasculares descritas por Pint024 poderao ser realizadas somente nas teleangiectasias situadas no tecido adiposo subcutaneo. As escaras cicatrizaram-se em tamo de 10 dias, e algumas deixaram leve hipopigmentadio na pele. A pesquisa nos mostra que os esclerosantes mais novos nao sao menos agressivos, ficando a etanolamina diluida, ainda a droga menos ulcerativa. Glic.75% 28% ~ Etalonam. 17% Glic. Cran. 26% Polidecan. 29% Grafico 2. Percentual de lilceras aplicac;oesde cadafdrmaco. em relac;iio ao nlimero de a presente trabalho cientifico nos levou a concluir que a aplica9ao extravascular de 0,1 ml no tecido dermico, de substancias esclerosantes, podeni !evar a ocorrencia de necrose, porem de facil reso!u9ao cicatricial. Tambem chegamos a conclusao que 0 potencial ulcerogenico das substancias estudas na ordem crescente e: 1.00eato de Etanolamina a 5% diluido com glicose a 50% na ProPor9ao 1:6; 2. Glicerina Cramica 0,25 %; 3. Glicose Hipertanica 75%; 4. PolidecanolO,5%. Ao Prof. Dr. Maximiano T. Albers,nosso orientador, sem 0 qual nosso trabalho nao seria realizado e vindo a luz, nos proporcionando grande apoio nas horas em que as difi-culdades pareciam intransponiveis: Figura 3 -Aspecto macrosc6pio da regiiio onde foram realizadas as aplicac;oes, demarcada com caneta dermogrdfica e ulcerac;oes 86 horas ap6s a aplicac;iio. The present study has the purpose to analyse the scabs of ulcer resulted by different sclerotic agents used in sclerotherapy procedures. It was held in the Laboratorial Environment and it was utilized 20 rats which were anaesthetized and submitted to an uniform derma application of 0,1 miligrams of several drugs often recommended in sclerotherapies of teleangiectasis. After 86 hours, it was started an anatomist macroscopic exam on the local of the application, by three examiners who examined themselves each rodent and measured each diameter of the scab of ulcer. The values obtained were processed in the biostatistic analysis of the paried t-test, where they reached the conclusion that the more recent drugs launched in the market, controversily advertised, have the best ulcergenic potential in these cases. 1. Aldeman D B - Therapy of essencial cutaneos teleangiectasia. Postgrad Med. 61:91,1977. 2. Asomjen G M - Anatomy of the superficial venous system. Dermatol Surg21:1,35-45,1995. 3. 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