Participação no FUNDEF: o caso de Juiz de Fora1 Autor - Fernando Henrique Guisso2 Orientadora – Beatriz de Basto Teixeira3 Resumo: Os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (CACS) são instâncias de fiscalização e participação híbrida, formada tanto por representantes da sociedade civil quanto do estado a fim de fiscalizar os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF). O presente artigo vem explorar o caso do, já extinto, CACS do FUNDEF no município de Juiz de Fora, Minas Gerais. Nosso objetivo é, então, observar como se deu a eficácia técnica e política desta arena de participação durante toda sua existência, período entre 1998 e 2007. Pretendemos assim corroborar para o debate em torno dos instrumentos de gestão democrática, os quais passaram a ter maior importância após a promulgação da constituição de 1988 e a reabertura democrática. Palavras Chave: FUNDEF, acompanhamento e controle social, participação. Participation on FUNDEF: the case of Juiz de Fora Abstract: The Councils Monitoring and Social Control (CACS) are instances of supervision and participation hybrid, formed by both civil society and the state to supervise the Fund for Maintenance and Development of Fundamental Education and Valorization of Teachers (FUNDEF). This article has been exploring the case of the, now defunct, CACS of FUNDEF in the municipality of Juiz de Fora, Minas Gerais. Our goal is then observing how the effectiveness of technical and political arena of participation throughout its existence, between 1998 and 2007. We therefore intend to corroborate the debate around the instruments of democratic management, which have taken on greater importance after the promulgation of the 1988 constitution and the democratic reopening. Key Words: FUNDEF, monitoring and social control, participation 1 Trabalho apresentado como conclusão do curso de Bacharelado de Ciências Sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora, ao Departamento de Ciências Sociais. 2 Graduando do 10º período do Curso de Ciências Sociais do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG, dezembro 2010. Endereço eletrônico: [email protected] 3 Professora Doutora do Curso de Ciências Sociais no Instituto de Ciências Humanas da UFJF 2 Introdução Este trabalho é fruto de dois anos de pesquisa junto ao Grupo de Pesquisa Política e Sociologia da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, coordenado pela Profª. Drª. Beatriz de Basto Teixeira, sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF). A pesquisa teve como propósito analisar o funcionamento desta política de financiamento em seus dez anos de vigência no município de Juiz de Fora. Concentrou-se na observação de quatro eixos norteadores, foram eles: Recursos financeiros; Atendimento e gestão; Valorização do magistério; e Acompanhamento e controle social. O presente trabalho apresenta os resultados e as análises relativas ao quarto eixo, área na qual me dediquei durante a coleta dos dados e que conquistou meu mais profundo interesse. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF) foi uma política pública de natureza contábil, que vinculou recursos do Estado diretamente para a educação. O fundo foi criado a partir da Emenda Constitucional (EC) n° 14 de 12 de setembro de 1996, regulamentado pela Lei n° 9.424 de 24 de dezembro de 1996 e pelo Decreto n° 2.264 de 27 de junho de 1997 e implantado nacionalmente em 1º de janeiro de 1998. Esse decreto foi criado com as bases voltadas para a Constituição Federal de 1988(CF/88), apesar de, junto às Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96), desvirtuar alguns dos ideais e debates que confluíram para a implementação da CF/88. (PINTO, 2002) Um dos principais eventos gerados pelo fundo, e de importância central para este projeto, é a ampliação da descentralização da educação e dos recursos já iniciados através da LDB/96. O FUNDEF passa a enviar recursos diretamente aos municípios e, assim, gera a necessidade da criação de conselhos de acompanhamento social em todos os níveis de governo. A criação desse aparato de controle social, assim como os conselhos municipais de educação e diversas outras instâncias da mesma natureza, são respostas às demandas contidas nos movimentos sociais da década de 80 que, consequentemente, eclodiram na CF/88. A democracia representativa, que se faz, principalmente, pela via tradicional do voto, parecia não dar conta da busca por participação da população, que havia sido radicalmente limitada pela ditadura militar. A década de 90 foi marcada pela implantação de alguns desses espaços, constituindo uma nova experiência democrática ou, ao menos, uma tentativa. Diferentemente de muitas outras arenas de participação, o CACS do FUNDEF era uma instância obrigatória e por isso configuraria um importante espaço para a execução de uma democracia participativa 3 ou deliberativa, como a discutida, ainda que não nos mesmos termos, por diversos autores, entre eles Macpherson (1978) e Avritzer (1994). Entretanto, diversos problemas começaram a ser detectados a partir da implementação efetiva dessa lei. (BRUEL, 2005; DAVIES, 2001; MORAIS, 2007; QUEIROZ; 2007) Em muitos casos foi observado à existência de conselhos completamente dominados pelo segmento estatal, outros que não funcionavam por falta de acesso a informações, e ainda, existiam aqueles que eram integrados por membros escolhidos “a dedo” pelo executivo dos municípios, remontando relações coronelistas típicas da política brasileira. Davies (2003) os observa como um instrumento de legitimação do governo, uma vez que a participação em seu interior é completamente esvaziada e controlada pelos representantes do Estado. Apesar dessas críticas, alguns autores percebem a existência dos conselhos com bons olhos, como Fuks e Perissinoto (2006), acreditando na utilidade desses espaços para a expansão da democracia. Além disso, existem estudos que demonstram a eficácia de outros conselhos como o de saúde e o de educação em algumas cidades. Motivados por essas várias questões que cercam um tema central como a democracia, desenvolveremos nosso trabalho, que será dividido em quatro seções. Detalharemos a seguir cada passo desenvolvido. A primeira seção trará uma contextualização histórica da emergência dos Conselhos de Acompanhamento Social, bem como as contradições pertinentes às diferentes perspectivas sobre as possibilidades que esses conselhos apontam. As demandas contidas nos movimentos sociais da década de 1970 e 1980 eclodiram na Constituição de 1988 trazendo um novo marco político participativo ao Brasil. Porém, nem tudo correu segundo o desejo dos movimentos sociais. Preocuparemo-nos, especificamente, com o Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), no entanto para entender a emergência desse instrumento de participação torna-se necessário compreender os eventos anteriores. Na segunda seção, trataremos da implementação do FUNDEF e, consequentemente, de seu Conselho de Acompanhamento e Controle Social. Posteriormente, traremos as críticas que julgamos mais pertinentes presentes na bibliografia que aborda o tema e, também, posicionamentos positivos quanto à existência dos Conselhos gestores de políticas públicas Na Terceira seção, partiremos aos dados coletados junto ao conselho. Primeiramente, apresentaremos a metodologia utilizada e posteriormente tentaremos reconstruir sua trajetória e funcionamento a partir de atas do conselho e entrevistas junto aos conselheiros. 4 Na última seção, será feito o esforço de análise sobre a eficácia do CACS como instrumento de controle social e, além disso, procuraremos abordar a dimensão da participação política. Utilizaremos a bibliografia exposta na segunda seção, com os dados apresentados. Em um país onde a cultura política é carente de participação e de formas para incentivá-la, que vive um momento de carência de movimentos sociais ativos e reivindicadores, entendemos que os conselhos podem se configurar como importantes arenas de debate e aprendizado. Mesmo que o CACS do FUNDEF tenha limitações em termos de deliberação, ainda assim, poderia ser um local de incentivo às atividades propositivas e criativas em torno da política. Resta-nos, assim, lançar o olhar sobre eles e perceber se cumpriram essa função. Contextualização Histórica dos Conselhos Pensar sobre conselhos nos remete as décadas de 70 e 80, as quais foram marcadas pela ditadura militar e pela emergência de fortes movimentos sociais, como as associações de bairro e o movimento operário. Em meio a uma carência de participação política, a população se organiza para lutar contra o regime autoritário, buscando formas de descentralizar o poder. Gohn escreveu uma série de artigos, que se tornaram o livro “Movimentos Sociais e Educação” (1999), apontando para a nova via política que os movimentos sociais representavam. Para ela esses movimentos possuíam não só uma capacidade transformadora, bem como elementos educativos que trariam um amadurecimento democrático importante a população, que se via completamente afastada das vias formais de participação política. A emergência destes atores coletivos motiva e é motivado pela progressiva abertura política do regime militar. A população passou a buscar outras formas de gestão, administração e posicionamento no cenário político que vieram a dar, então, a amostra das primeiras formas de conselhos participativos populares, que mais tarde seriam a influência na criação dos Conselhos Gestores das mais diversas políticas públicas nas áreas sociais. Várias experiências de conselhos populares foram desenvolvidas nesse período, como o exemplo dos conselhos da Sociedade Amigos do Bairro (SABs) Os movimentos sociais, segundo Gohn, possuíam três dimensões educativas fundamentais para a construção de uma democracia participativa. Uma delas se dá no tocante ao aprendizado relativo ao aparato burocrático e legal do estado, já que para qualquer reivindicação era necessário entrar em contato com ele. Se envolver com essa dimensão organizativa da política trás ao indivíduo uma “consciência adquirida progressivamente 5 através do conhecimento sobre quais são os direitos e os deveres dos indivíduos na sociedade de hoje” (GOHN, 1999, p. 17). Porém, este processo não funciona de forma espontânea e automática. No contexto das décadas de 70 e 80, a tarefa de lidar com essa estrutura organizativa do Estado estava ligada às assessorias dos movimentos, fosse de cunho religioso, político partidário ou mesmo uma assessoria técnica sem direcionamento específico. O suporte se tornará um dos problemas que trarão dificuldade à reprodução dos movimentos sociais futuramente, pois este conhecimento ficou resguardado às assessorias ou lideranças, prejudicando a disseminação educativa deste conhecimento. Este tema será abordado com mais especificidade adiante. O segundo traço educativo se dá na dimensão da cultura política. “Aprende-se a não ter medo de tudo que foi inculcado como proibido e inacessível” (GOHN, 1999 p. 19). Os indivíduos aprendem a olhar com dúvida as estruturas naturalizadas do Estado e da própria sociedade, ajudando-os a problematizar o contexto em que vivem o que, consequentemente, amplificaria uma capacidade propositiva de transformações sociais. Uma terceira dimensão é a espacial-temporal. À medida que os indivíduos integram um movimento social, eles têm a possibilidade de conhecer a historicidade do movimento, bem como as reivindicações se projetam no tempo. Pensar sobre isso os capacita a entender que as instituições e problemas da sociedade também possuem historicidade. Para Gohn essa dimensão apresenta a capacidade de junção entre conhecimento científico e conhecimento popular. A apropriação de todos esses conhecimentos não pode ser tomada como algo intrínseco a participação, pois depende também das lideranças e dos próprios participantes buscarem isso. Dadas as dimensões de aprendizado que os movimentos sociais representaram nesta época, junto a sua capacidade organizativa, eles começam a formar, em termos de Brasil, uma “esfera pública não-estatal.” (GOHN, 2007, p.38). Esse conceito é fundamental para se entender onde os conselhos se posicionam na sociedade. Historicamente, a população participou passivamente das mudanças ocorridas no país. Antes que a mudança pudesse ocorrer efetivamente o Estado tomava a posição de principal transformador da realidade. A formação dos sindicatos se deu por via estatal. O Brasil passou por dois momentos de ditadura, com um curto período de abertura democrática entre eles. O vício paternalista implantado na cultura política dificultou o desenvolvimento da “esfera pública não-estatal”. (GOHN, 2007) A participação dentro de muitos movimentos sociais, e, consequentemente, dentro dos conselhos populares, visava operar fora do Estado, demandar direitos e em alguns casos 6 propor transformações. Estes conselhos não possuíam qualquer caráter deliberativo legal, pois eram instâncias paralelas ao poder estatal. Há que se ver que foram experiências que levaram ao Estado o tema da participação, o qual ganhará grande força na década de 80 eclodindo na Constituição Federal de 1988. A participação se torna um elemento de legitimidade necessário ao Estado e também às políticas pós-88, apesar de apresentarem também características neoliberais, devido seu caráter de afastamento do setor estatal e de desmobilização social. Nesse período, além dos conselhos populares, existiam os Conselhos Estatais, que operavam em um sentido de representatividade e limitados aos gabinetes e a escolha a dedo de seus integrantes. A oposição entre os Conselhos Populares e os Estatais revela, também, uma oposição entre participação direta e representativa, no entanto, essas duas dimensões se encontrarão nos Conselhos Gestores na década de 90. Um exemplo anterior, mas que já representa essa “fusão” é o Conselho de Desenvolvimento de Boa Esperança, no Espírito Santo. O trabalho de Souza (1982) revela que esse conselho já demonstrava a estrutura mista, que reunia representantes do governo, bem como representantes de diferentes segmentos da sociedade civil da cidade. Através dessa estrutura mista ocorria a interferência da sociedade na formulação do plano governamental do Executivo e o controle social ao longo do mandato. O conselho carregava consigo as atribuições de selecionar, elaborar, executar e avaliar programas de desenvolvimento. Ele ainda trazia a preocupação de conscientização do processo e de busca por informações através de seus integrantes. Essa arena possibilitou à sociedade uma interferência que se apropria do poder do próprio Estado para controlá-lo. Outra experiência, considerada um dos melhores exemplos de gestão popular do mundo, é o Orçamento Participativo de Porto Alegre. Esse instrumento de participação já se apresenta com uma estrutura ampla, tendo em seu interior representantes dos mais diversos atores coletivos da sociedade, bem como da administração pública. A partir de uma complexa rede de instâncias menores, os atores formam uma ligação direta com seu representante na instância maior do Orçamento Participativo, tendo condições de retirá-lo a qualquer momento do cargo se este não seguir os direcionamentos tomados nas instâncias anteriores. O Orçamento participativo foi implementado no ano de 1987 como marca das demandas por participação, especialmente com o auxílio de prefeituras ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT). (SANTOS, 2005) Porém, as discussões em torno da natureza dos conselhos são amplas. Diferentes correntes políticas observam nos conselhos possibilidades diversas. A essência do conceito de participação remonta uma discussão antiga, que tem como expoente autores como Rousseau, John Stuart Mill e G.D.H Cole (PATEMAN, 1992). As condições desta participação se dão 7 em contextos diferentes. Rousseau entende a necessidade de igualdade para que não haja distorções. Mill vê que essa igualdade não é necessária e, também, diferentemente de Rousseau, entende que a participação se daria a nível consultivo. Já Cole propõe que a participação deveria acontecer no local de trabalho, que em seu contexto era principalmente a indústria. Algo que perpassa a obra destes três autores se dá no caráter educativo da participação. Os indivíduos aprendem sobre a vida política, e não somente sobre ela, participando. (PATEMAN, 1992; ROUSSEAU, 2002) A orientação liberal concede aos conselhos um caráter meramente consultivo. Eles poderiam funcionar ainda como um órgão de vigilância sobre o Estado, para vetar quaisquer desmandos, mas não ocuparia, de forma alguma, a função legisladora. Por outro lado, a tradição marxista e posicionamentos da esquerda apropriam a noção de participação. Percebem a necessidade de que ela resulte em um controle efetivo da sociedade sobre o estado, portanto o conselho deve ter, necessariamente, um caráter deliberativo. Através deste aparato se construiria uma luta contra a hegemonia das classes dominantes. Inclusive se recorrermos à história, casos como a Comuna de Paris representam bem essa idéia, que trás consigo a noção de autorregulação da sociedade. (GOHN, 2007) Em meio a essas duas correntes, a população buscou o caminho do autogoverno, enquanto o Estado, muitas vezes, tenta esvaziar a participação, tanto com alterações na legislação, desrespeito a regras e estratégias de cooptação de lideranças. Antes de entrarmos propriamente nos conselho da década de 90, é importante entender porque os movimentos sociais perderam força, pois, a meu ver, esse é um problema que afetará diretamente os conselhos da atualidade, inclusive o nosso alvo específico, o CACS do FUNDEF. Segundo Gohn, retomando o argumento que iniciamos anteriormente, os movimentos sociais dependiam de assessorias para dar o suporte necessário no quesito burocrático-legal, porém elas retiveram esses conhecimentos em si, ou mesmo as lideranças dos movimentos não se atentaram para a necessidade vital de repassar essas informações, a fim de que os movimentos pudessem se reproduzir. Com a abertura democrática e a ascensão da importância do governo local, muitas lideranças abandonaram os movimentos para se engajar na política partidária com o intuito de se apropriar do poder estatal. As assessorias religiosas, especialmente ligadas à ala da Teologia da Libertação da Igreja católica, foram caçadas e afastadas. As demais assessorias, que defendiam interesses específicos, passam a se constituir em ONGs e integrar o chamado terceiro setor, que terá papel essencial no contexto neoliberal, pois possibilitaram o afastamento do Estado à medida que prestam serviços que são obrigação dele. Essas limitações interferiram decisivamente naqueles elementos 8 educativos apontados por Gohn, e com isso a incapacidade de muitos movimentos continuarem a ter uma postura combativa. Os movimentos sociais que representaram uma via nova de transformação da cultura política e organização social perderam força. O vácuo organizativo afetará o bom funcionamento dos conselhos, pois parte-se da ideia de que os membros destas arenas representam atores coletivos, haja vista que se não existe uma organização, ou estas são fracas, essa premissa cai por terra. Não inutiliza os conselhos, mas diminui consistentemente sua capacidade na construção de uma democracia participativa. No período posterior a ditadura militar, com a reabertura democrática do país, novos direcionamentos foram dados a política brasileira. Apesar da carta constitucional de 1988 ter absorvido os ideais e as demandas por participação contidas nos movimentos sociais, diretrizes internacionais terão influência determinante nos caminhos em que as políticas públicas, principais instrumentos do Estado nesse novo momento, vão tomar a partir do fim da década de 80. Conferências como a de Jomtien e diretrizes advindas de órgãos como o Banco Mundial incentivaram a descentralização administrativa na educação, em termos de recursos, mas não de poder. Além disso, essa posição trazia consigo o entendimento de que as áreas sociais sofriam pela má administração e não pela falta de recursos. (PINTO, 2002) A CF/88 em seu primeiro artigo demonstra como a participação era um elemento central, na medida em que diz “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição”. Entretanto, o mundo passa por um momento de transformação nos paradigmas econômicos e sociais, novas diretrizes serão tomadas na relação Estado/Sociedade. A partir de uma concepção de Estado mínimo, começa-se um processo de afastamento do poder público estatal e a descentralização, a fim de passar tarefas administrativas para a esfera municipal de governo e para a sociedade civil. Todavia esse processo não representa necessariamente democratização. A luta por democracia fortemente expressa na constituição, símbolo das demandas dos movimentos sociais nas décadas de 60 a 80 encontrou um novo contexto e junto com ele muitas dificuldades. Abreu (2002) demonstra que o processo de descentralização pode ser antes um processo de desconcentração, em que ocorre uma transferência de atribuições administrativas e fiscalizatórias, mas não há a passagem de poder decisório efetivo. A descentralização pode ter duas naturezas diversas: “Um processo de descentralização do Estado para a sociedade Civil é progressista quando assegura democratização da esfera estatal; é conservador quando implica 9 desresponsabilização do Estado em relação a oferta de serviços públicos básicos para a garantia de qualidade de vida da população” (ABREU, 2002, p.22) Na década de 90 os conselhos terão em seu seio uma dualidade advinda desse contexto social. Serão vistos hora como meros elementos de legitimação de políticas públicas neoliberais, hora como instrumentos potencializadores de uma democracia participativa, integrador da sociedade e gerador de novas formas de solidariedade. Os Conselhos, com formato híbrido, suportados legalmente na Constituição Federal, serão implementados nas mais diversas políticas em áreas como: Assistência Social, Saúde, Educação, Transporte, Moradia, ou seja, nas políticas que visam praticamente todas as grandes áreas de direitos sociais garantidos pela CF/88. Os conselhos têm agora força de lei. Podemos identificar, então, quatro tipos de conselhos ao longo da história, são eles: Conselhos Estatais, Populares, Comunitários e Gestores de Políticas Públicas. Os Conselhos Estatais possuíam um caráter administrativo, selecionando pessoas julgadas competentes para desenvolver determinada tarefa. Por sua vez, os Populares possuíam caráter combativo do status quo, buscando que fossem atendidas as demandas sociais. Os Comunitários operavam dentro da lógica clientelista. Possuíam lideranças da sociedade civil, contudo eram instrumentos de negociação dentro da lógica do Estado. Finalizando, os Conselhos Gestores de Políticas Públicas se apresentam como espaços híbridos, formados tanto por representantes da sociedade civil, quanto do Estado, aparados por lei com formação plural e paritária. Dentro destes o processo dialógico é o instrumento por excelência. (TATAGIBA, 2002) Ponto fundamental para se entender a emergência de diversos atores e da formação da “esfera pública não-estatal”, segundo Gohn (2007), se dá na mudança de um paradigma de participação popular para um paradigma de participação cidadã e participação social. Se antes a demanda por participação estava limitada as camadas populares, e as formas de trazêlas para o debate democrático, ele agora se expande, visando toda a sociedade. A mudança na compreensão na relação Estado/Sociedade consiste na: “Construção de novos espaços de participação, lastreados não em estruturas físicas, mas em relações sociais novas, que se colocam entre o público e o privado, originando o público não-estatal” (GOHN, 2007, p. 56) Diversos estudos sobre os conselhos mostram que a realidade desses novos espaços está distante de promover uma democracia participativa efetivamente. Ainda utilizando do argumento de Gohn, podemos observar que as relações patrimonialistas e paternalistas não estiveram fora da realidade dos movimentos sociais e não estarão também da própria 10 realidade dos conselhos. Um exemplo disso são conselhos formados completamente pelo poder executivo municipal e que não representam de forma alguma um controle social real. Todavia essa não é uma realidade generalizada. Pensamos ainda que a participação pode ajudar a combater essas distorções historicamente marcadas na formação política brasileira. Aquelas capacidades educativas presentes nos movimentos sociais estão também nos conselhos, que teoricamente não se desprendem da própria noção desses movimentos. As diversas críticas acerca dos conselhos veremos na próxima sessão. CACS do FUNDEF – De sua implementação às principais críticas A partir de agora concentraremo-nos, especificamente, no âmbito da educação e nas Leis que levaram a implementação do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF. Posteriormente, apresentaremos as críticas que julgamos mais relevantes presentes na bibliografia que discute os diversos conselhos, não só os relativos à educação e ao próprio FUNDEF, entendendo que as dificuldades encontradas são compartilhadas. Seguindo o princípio de descentralização e de focalização no poder local, é aprovada em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que cria os sistemas municipais e estaduais de ensino, descentralizando a administração da educação, prescrevendo atribuições mais específicas aos diferentes níveis de ensino e instaurando um regime de colaboração. Esse regime ficou só no papel, e o que a União fez foi utilizar deste aparato para se desresponsabilizar da educação, lançando a maior parte das atribuições sobre o ensino fundamental à esfera municipal. Para todos os efeitos essa mudança poderia ter sido um ganho, se não ficasse limitada a uma desconcentração violenta, que será ainda mais perversa para alguns municípios com a aprovação da Emenda constitucional Nº 14/96, que instituiu o FUNDEF, alterando disposições presentes na CF/88. Para a fiscalização desses recursos, o Art.4º da Lei nº 9.424 institucionalizou a criação de Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (CACS). Estes seriam espaços de participação e principalmente fiscalização por parte da sociedade civil em relação à aplicação deste “novo recurso”4. Os conselhos deveriam ser criados em todas as esferas do governo, ou seja, tanto para a União, quanto para Distrito Federal, estados e municípios. A formação dos CACS, na dimensão municipal, deveria conter no mínimo quatro representantes relativos a segmentos participantes diretos da educação. Foram eles: a 4 O recurso enviado pelo FUNDEF é na verdade o fruto de uma redistribuição financeira do recurso dos municípios e estados, sendo que em poucos casos a União colocava mais recursos para complementação. 11 Secretaria Municipal de Educação; professores e diretores de escolas públicas municipais do ensino fundamental; pais de alunos do ensino fundamental público municipal e servidores das escolas públicas municipais do ensino fundamental. No caso da existência do Conselho Municipal de Educação, esse também deveria ter um representante. A lei ainda permitia que, através do regimento interno, fosse possível aumentar a quantidade de representantes e de segmentos representados dentro do conselho. Segundo o próprio texto da lei (BRASIL, 2006c), os representantes teriam em suas mãos a incumbência de: Acompanhar e controlar a repartição, transferência e aplicação dos recursos do FUNDEF; Supervisionar o censo escolar anual; Aprovar (até 28 de fevereiro) o programa de aplicação dos recursos a serem recebidos por meio do Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência (PAED), bem como consolidar e encaminhar as prestações de contas ao FNDE, até 30 de abril do ano subseqüente (atribuição estabelecida pela Lei 10.845, de 05/03/2004); Acompanhar e controlar a transferência e a aplicação dos recursos repassados à conta do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos e do Programa Nacional ao Transporte do Escolar - PNATE e, ainda, receber e analisar as prestações de contas referentes a esses Programas. A própria lei indica que esta instância não representa um órgão municipal ou do executivo, mas que é uma instância social, livre e autônoma, respondendo somente a sociedade e a si mesma. Para que o município recebesse a verba relativa ao fundo, se fazia necessário que houvesse a aprovação de relatórios por parte do Conselho. Dessa forma as suas atribuições estavam especialmente voltadas ao acompanhamento e a fiscalização da aplicação desse recurso. Todavia as limitações não necessariamente impediriam discussões mais amplas e a falta de poder deliberativo não retira o caráter dialógico nem a possibilidade da construção de solidariedades dentro dessa arena, ainda que essa não tenha sido a realidade geral. Vários autores levantaram críticas importantes sobre os conselhos das mais diversas áreas. Davies (2001, 2003) identificou uma série de problemas que poderiam prejudicar consistentemente o teor democrático dessa proposta. No caso do Conselho Nacional e dos Conselhos Estaduais do FUNDEF, ele percebe que a formação favorece mais o Estado do que a sociedade civil. Isso se faz um problema central, pois o princípio de proporcionalidade é um dos diferenciais necessários a um espaço que se apresenta como democrático, ainda que não seja condição suficiente para garantir a participação. (TATAGIBA, 2002) Ainda sobre o Conselho Nacional do FUNDEF, Gil (2008) realizou uma pesquisa voltada ao detalhamento das tarefas desempenhadas por ele. O trabalho revelou a confusão nas suas atribuições. O conselho realizou um bom trabalho no sentido de prestar suporte aos 12 conselhos estaduais em termos de treinamento e de intervenção no caso de irregularidades, porém, quando se trata da fiscalização e do controle social sobre as ações da União a situação é outra. O Conselho não disponibiliza informações quando indagado sobre as ações dessa esfera governamental. Os desmandos da União foram amplamente descritos em diversos trabalhos sobre o FUNDEF, especialmente quanto ao não cumprimento dos valores de complementação aluno/ano estabelecidos pela lei. (GIL, DI PIERRO & SILVA, 1999; RODRIGUEZ, 2001; VAZQUEZ, 2005) No caso dos Conselhos municipais, esse não é o problema, ao menos inicialmente. Por outro lado, são identificadas tentativas de esvaziamento do poder dos conselhos através de sansões a participantes ativos, como exemplo a transferência de um professor de uma escola para outra mais precária. Outra estratégia é a tentativa de dominar os conselhos é deter a presidência nas mãos do representante estatal e a manipulação dos regimentos internos. (AZEVEDO e WIEDERKEHR, 2006) Legalmente a formação inicial do CACS do FUNDEF é composta por mais representantes da sociedade civil do que do governo e possui liberdade para adicionar mais representantes. Davies chama atenção para essa brecha na lei que pode ser a oportunidade para o governo dominar estes espaços. Um exemplo de adição de cadeiras ao poder público é o caso do município de Araucária, onde a formação do conselho tinha mais um representante da prefeitura, ligado a secretaria de finanças. (BRUEL, 2005) Outra crítica presente em Davies se dá no nível da diferença de condições materiais entre os conselheiros. Os representantes da SME têm a tarefa de participar da reunião como uma tarefa ligada a seu trabalho cotidiano, participando assim no horário regular de sua jornada, sem gerar qualquer ônus (mesmo de tempo), enquanto todos os outros têm que dispor de horários especiais, sem qualquer remuneração e ainda sem apoio financeiro para o deslocamento até as reuniões. Isso aparentemente pode ser visto como algo pequeno, entretanto impõe condição de desigualdade e isso por si só afeta a igualdade vital a um debate democrático que vá além das vias tradicionais de participação política. O estudo de caso de Araucária reforça essa crítica. Através de várias entrevistas foi possível observar as dificuldades de compreensão em relação ao fundo e à linguagem contábil. Além disso, a primeira gestão não recebeu treinamento, o que dificultou o bom desenvolvimento daquele conselho. "Primeiro nós fomos escolhidos para sermos conselheiros e ninguém recebeu nenhuma instrução. Nem por parte de prefeitura, nem por parte de governo, do próprio Ministério, do que nós deveríamos fazer. Então tivemos que ir atrás para ver 13 o que deveríamos fazer.” (Presidente do Conselho de Araucária in:BRUEL, 2005 p,16) Davies revela haver dificuldade de acesso a informações pelos conselheiros, existência de quadros com informações contraditórias e não cumprimento de prazos para a entrega de relatórios. O caso dos conselhos de Goiás foram mais experiências que revelaram a falta de treinamento e o desconhecimento de informações necessárias "Pelos resultados obtidos, evidencia-se que os conselheiros desconhecem, ou expressam desconhecer, informações importantes para o desempenho de suas atividades (receitas que fazem a composição do Fundo, distribuição das verbas, percentual da receita destinada à educação, definida pela Constituição, etc)." (ANDRADE, 2003, p.12) Mediante a falta de treinamento e das outras críticas apresentadas, fica evidente a existência de desigualdades entre os atores, especialmente em relação aos representantes da SME. O fato da atribuição desse conselho se dar especialmente na análise de balancetes financeiros e de fiscalização de recursos, a competência técnica se torna um elemento fundamental. (DAVIES,2001;2003; TATAGIBA,2002) E ainda mais do que sua utilização prática, o conhecimento técnico concede ainda um status de legitimidade ao discurso, que pode gerar hierarquização no debate. Não é de se estranhar que os representantes da SME tenham um conhecimento, ao menos inicialmente, mais amplo do que os demais conselheiros. Gohn chama atenção para o fato de que essas desigualdades perversas afetam a paridade. “Em relação à paridade, ela não é uma questão apenas numérica, mas de condições de certa igualdade no acesso a informação, disparidade de tempo, etc.” (GOHN, 2006, p.92) Sobre a condição de diferenças no discurso e de status, Pauleany Simões de Morais (2007), realizou um trabalho tratando especialmente sobre as relações de poder no interior dos conselhos. Sua pesquisa se desenvolveu sobre o Conselho do Município de Parnamirim. Morais percebe, através das atas do conselho, que as pautas são construídas pela secretária do conselho, ainda que os conselheiros entendam participar de sua construção. Ela identifica que essas diferenças de status podem gerar diferenças de poder entre os conselheiros e gerar coerção de uns sobre os outros. Para ela, esse poder se dá no discurso burocrático e na confiança nele. Isso gera diferentes posturas nos conselheiros, questão útil para nós. Souza (2004) apresenta também observações importantes sobre a realidade dos conselhos, a partir de um trabalho que se concentrou nos CACS do FUNDEF, PNAE e Bolsa Escola de 28 municípios do estado do Rio de Janeiro. Em consonância com a fala de Gohn, Souza identifica que os efeitos da cultura política brasileira podem recair sobre os conselhos: 14 “É importante considerar, portanto, que imperam nesses Conselhos não apenas interesses públicos, mas também das partes, havendo, de certo, disputas entre grupos sociais que os compõem, a par da manifestação da cultura política brasileira em torno do clientelismo, do fisiologismo e do corporativismo.” (Souza, 2005, p.13) Um ponto de vital importância se dá no tocante a idéia que a participação está diretamente ligada à cultura política e a organização dos municípios. Os Conselhos podem ter a tendência a potencializar a característica democrática de municípios com estruturas mais organizadas, porém pode aprofundar a deficiência técnico-administrativa dos já desorganizados e com uma cultura política e associativista fraca. (AVRITZER, 2003) Quando se pensa nos conselhos além de sua capacidade fiscalizatória e de acompanhamento, se voltando especialmente para o tema da participação, e entendendo-os como local de pluralidade e embates a fim da construção de uma democracia expandida, Gohn (2007) traz uma questão fundamental, que inclusive começamos a tratar anteriormente: “Outro ponto relevante em relação à representatividade é o de que um representante que atue em um conselho deve ter vínculos permanentes com a comunidade que o elegeu” (GOHN, 2007, p.91) A ligação do representante com sua base influencia consistentemente a qualidade da representação. Uma vez que esse processo de transferência não ocorre, a disseminação das informações se interrompe. Além disso, as demandas daquele segmento não serão devidamente representadas, pois tomam como base a percepção apenas do representante. O conselho se torna assim uma arena de interesses individuais, ainda que haja uma representação por afinidade. (AVRITZER, 2007) O segmento que tem as condições de partida mais precárias nesse aspecto é o dos pais, que, se tratando de abertura democrática da educação e das escolas, é de fundamental importância. Os professores, na maioria dos casos, já possuem a premissa de participarem do sindicato, os representantes da prefeitura têm a própria gestão para recorrer, o conselho municipal por sua vez é um colegiado que se encontra mensalmente. Os pais e funcionários, ao menos durante o FUNDEF, em muitos casos, não possuem uma associação forte com representatividade ampla. Veremos isso adiante a partir dos dados. Tomando a crítica de Morais, junto à colocação de Gohn, podemos pensar que essa diferença na relação representante/representado é mais um fator gerador de desigualdade na representação. A soma destes diferentes aspectos deságua diretamente na hierarquização dos participantes, prejudicando a eficácia prática e simbólica da existência dos conselhos. 15 Porém, nem tudo são espinhos nas análises sobre os conselhos. Gohn (2007) destaca que, de 1999 a 2000, 888 denúncias sobre irregularidades do FUNDEF relativas a 315 municípios, geraram a instauração de uma comissão de fiscalização por parte da Câmara dos Deputados que pediu a quebra de sigilo de várias prefeituras. Além dos conselhos bem estruturados já descritos anteriormente, temos no trabalho de Fuks e Perissinoto a descrição de dois conselhos, um ligado a assistência social e outra a saúde. O conselho de saúde possuía uma participação real nas proposições, tendo como um dos principais segmentos ativos os usuários da rede, demonstrando um espaço de efetiva participação da sociedade civil. Um fato constatado recentemente sobre a influência dos conselhos foi a disseminação das conferências temáticas. Esses são outros espaços de discussão acerca das políticas públicas e que são diretamente ligadas aos conselhos, sendo eles seus organizadores. Estes eventos ocorrem em todas as esferas da federação, cada qual ligado ao conselho da esfera em questão. (AVRITZER, 2009) Entre os autores há a percepção das potenciais qualidades que os conselhos representam, porém essas limitações geram “atribuições esvaziadas”. (GIL, 2008) Ainda há muito a descobrir sobre a realidade dos conselhos. A história da democracia no Brasil tem pouquíssimo tempo de prática e é repleta de elementos contraditórios. A democracia pode ocupar um papel de nova utopia em um mundo onde as grandes narrativas perderam forças. Apostar em novos espaços de participação é uma oportunidade de se criar novas formas de solidariedade e de novamente se construir projetos comuns. (AVRITZER, 1994) Como demonstrou Tatagiba, uma das principais características é a pluralidade dos atores em cada conselho. Apesar das diferenças de discurso serem elemento dificultador nas interações, residem nelas também a possibilidade de superar um individualismo extremo. Entretanto, é necessário observar a realidade afim de comprovações empíricas. A bibliografia tem mostrado que no percurso os obstáculos têm ocupado grande espaço. Nosso desejo é o de contribuir com mais subsídios para esclarecer essa realidade em seus pontos positivos e negativos. A partir de agora passaremos, então, para a análise dos dados referentes à realidade da cidade de Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais. Essas são as principais críticas e pontos positivos que nos pareceram pertinentes e que nos auxiliarão na percepção do teor democrático e da eficácia fiscalizatória do CACS do FUNDEF do município de Juiz de Fora. Trabalho que faremos a partir de agora. 16 O CACS do FUNDEF em Juiz de Fora Nesta seção trataremos do objeto de nossa pesquisa, o conselho de acompanhamento e controle social do FUNDEF no município de Juiz de Fora. Inicialmente apresentaremos a metodologia utilizada na coleta de dados e as fontes utilizadas. Posteriormente será exposto detalhadamente o funcionamento e as impressões dos conselheiros sobre o conselho, dados que orientarão a nossa análise. A metodologia A partir de agora realizaremos uma análise dos dados coletados junto ao Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF em Juiz de Fora. Nossos dados compreendem todo o período de existência do Conselho que corresponde de 1998 a 2007. A partir deles, juntamente com o referencial teórico já apresentado, tentaremos expor a realidade desse conselho e analisar suas diversas dimensões. Esses dados são de natureza qualitativa e de duas fontes diversas. A primeira são as atas relativas às reuniões do conselho ao longo dos dez anos de vigência do fundo. Elas foram recolhidas no Departamento de Assessoramento do Conselho da Secretaria Municipal de Educação de Juiz de Fora. Estes dados nos dão informações sobre cada reunião em toda a vigência do fundo. Auxiliou-nos a observar como se davam as pautas e as discussões. Infelizmente faltaram detalhamentos sobre os posicionamentos específicos de cada conselheiro, todavia foram fundamentais para a nossa análise.5 A segunda fonte de dados são nove entrevistas semi-estruturadas feitas pelos participantes do Grupo de Política e Sociologia da Educação. Oito delas foram realizadas com membros que participaram nos diversos mandatos ao longo dos dez anos e uma com a secretária executiva que assessorou o conselho durante toda sua existência. Das oito entrevistas colhidas junto aos conselheiros duas se referem a representantes dos pais, duas a representantes da própria secretaria, duas a representantes dos professores, um representante do CME e um representante dos funcionários. Buscamos contato com mais conselheiros, a fim de corroborar ainda mais com nossas análises, porém somente estes nos responderam. Como o trabalho se tratou de analisar um conselho cuja vigência já havia terminado, não foi 5 As atas auxiliaram não somente na coleta de dados para este trabalho, mas também para todos os outros eixos da pesquisa que o derivou. Isso nos leva a pensar sobre como os conselhos podem ser fontes de informações sobre a memória do município e das ações públicas, uma vez que muitas informações não foram encontradas em outros segmentos da SME. 17 possível utilizarmos métodos como observação participante, técnica que pretendemos utilizar em outras pesquisas sobre conselhos ainda existentes. (DENZIN, 2006; HAGUETTE, 1995) Estas entrevistas foram transcritas pelos participantes do grupo Política e Sociologia da Educação e então dispostas em um quadro comparativo6, cuja função é facilitar a visualização de convergências e divergências nos discursos. Através destas informações existe a possibilidade de comparar os dados recolhidos nas atas com as entrevistas e assim termos maior segurança para uma análise coerente. Uma vez que se trata de um estudo de caso, esta metodologia nos permitirá ter um olhar mais profundo sobre as interações e, assim, reconstruir aquela arena e perceber algumas conseqüências de sua existência. Quando apresentarmos trechos das entrevistas, para evitar quaisquer constrangimentos aos entrevistados, optamos por omitir seus nomes, e os chamaremos por seus respectivos segmentos, nomeando-os por A ou B, nos casos em que foram recolhidas entrevistas de dois membros do mesmo segmento. O conselho e seu funcionamento O município possuía uma rede já bastante municipalizada e um investimento em educação já acima da média brasileira. Segundo o Censo de 1996, Juiz de Fora possuía uma população de 424.479 habitantes e se encontrava na faixa de municípios que ganharam com o FUNDEF, segundo Bremaeker (2003). A história dos Conselhos Municipais em Juiz de Fora começa, ainda, na década de 80 com a implementação do Conselho Comunitário em 1983. No que tange à Educação, o Conselho Municipal de Educação de Juiz de Fora data de 1984. Apesar de muitos municípios terem recebido o FUNDEF no ano de 1997, Juiz de Fora só veio a implementá-lo a partir de 1998. (Site da Prefeitura de Juiz de Fora <http://www.pjf.mg.gov.br/>) A primeira ata do CACS7 do FUNDEF data de 22 de Janeiro de 1998, quando ocorreu um processo eleitoral para a escolha dos representantes do segmento pais e dos servidores públicos, uma vez que não possuíam uma entidade com direito a indicação de representantes. Essa escolha foi feita por escrutínio entre os membros do próprio segmento, que eram convocados através de cartas enviadas pela SME a todas as escolas do Ensino Fundamental da cidade. A segunda e a terceira reuniões trataram da nomeação dos conselheiros e da definição 6 Quadro foi utilizado somente para efeito de análise, por isso não foi exposto no trabalho. O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF foi nomeado inicialmente de CONFEF, tendo seu nome alterado posteriormente a pedido do MEC. 7 18 do tempo de mandato de cada um, que se faz a partir de sorteios. O mandato podia variar de um a três anos. A composição do primeiro mandado do CACS foi composta pela representação mínima presente na lei, ou seja, um representante dos pais, um dos professores, um dos servidores públicos ligados ao ensino fundamental, um do CME e um da Secretaria de Educação. A quarta reunião ocorreu no dia 11 de março de 1998, já contando com a ausência do Representante do CME. Nesta reunião, primeiramente, foi passado aos conselheiros a lei de criação dos conselhos (Nº.9148/97), a Lei federal que criou o FUNDEF e um livro produzido pelo MEC de orientação para a implementação do conselho e aplicação dos recursos. A partir deste mês os balancetes financeiros começam a ser apresentados aos Conselheiros. As reuniões ligadas à execução dos trabalhos tiveram como sede uma sala na SME, no local destinado ao funcionamento da assessoria dos conselhos. Um conselheiro levanta uma questão interessante em torno desse aspecto, apontando para uma possível influência negativa de realizar os trabalhos dentro da secretaria: [...] nós tínhamos nosso espaço físico lá. Nossa salinha de reuniões, tranqüilo, na secretaria de educação. Olha aí, já havia um problema. Você ir para o gestor discutir o dinheiro da educação, então já há um problema. (Representante dos Professores A) As reuniões tinham periodicidade mensal, ocorriam em dias de semana, variando de acordo com o mandato e ocorrendo sempre no período da tarde. Raros são os casos de reuniões extraordinárias. Também não são raros os casos de reuniões sem quorum, uma média de duas em cada ano de gestão. Ainda na caracterização do funcionamento do conselho, um tema fundamental são as pautas. O conselho tem por excelência uma pauta principal, e que tomava a maior parte do tempo, que era a de fiscalizar os balancetes. Os CACS do FUNDEF não detêm poder de deliberação acerca das políticas educacionais, portanto se concentram em temas ligados a fiscalização de gastos. Em alguns outros momentos pontuais, relatórios a cerca de visitas a obras realizadas com o recurso do fundo foram assunto de pauta. Alguns dos temas que mapeamos se deram em torno da remuneração e valorização do magistério tema normalmente levantado pelos professores, discussões acerca do PNATE, PAED e ACVM, análise do censo, bem como a realização de uma análise crítica do FUNDEF e relatórios de participação em grupos de treinamento. Estas são pautas que aparecem poucas vezes se pensadas na dimensão de dez anos de existência do conselho. Para além da fiscalização, os posicionamentos fora da pauta parecem demonstrar outros interesses. Há que se pensar que a definição do próprio FUNDEF é para que os conselhos operem dessa forma e, além disso, falas como a da 19 secretária executiva do conselho, mostram que a orientação foi justamente neste sentido. “[...] Mas não havia discussão sobre política educacional, isso aí é função do CME” (Secretária Executiva). A falta de poder deliberativo real parece limitar os conselheiros a realizarem somente o que “podem”. Sobre a fiscalização, principal preocupação do conselho, podemos, através da análise das atas ao longo de todo o período, observar o progressivo detalhamento desses balancetes. Inicialmente eram apresentados valores mais simplificados e transcritos a mão para as atas. As tabelas consistiam em dados referentes às movimentações financeiras, aplicações, receitas e nos gastos de forma mais geral. As principais despesas eram com valorização do magistério, transporte, conservação e limpeza. Posteriormente os valores vão ser apresentados com mais especificidade, descrevendo o quanto está sendo gasto em cada obra, com cada conservadora e de cada serviço prestado. O formato em que essas atas são apresentadas muda um pouco de tempos em tempos. Nesse aspecto pode-se observar uma ação positiva do conselho, pois a conselheira do CME diz que eles recebiam somente um consolidado, sem as notas fiscais, e através das demandas do conselho isso passou a ocorrer: “Agora, hoje agente pega, por exemplo, hoje agente tem acesso, que eu acho uma evolução, as notas todas xerocadas, antes vinha mais aquele consolidado. Quando agente tinha alguma dúvida agente ia atrás do processo, agora a coisa esta mais estruturada, Porque também questão de amadurecer, a responsabilidade do próprio fundo” (Representante do CME) Além disso, a representante dos funcionários descreve que eles pediram um armário onde ficassem guardados os dados para serem checados fora dos horários das reuniões. Essa melhora nos dados e a maior facilidade no acesso a eles representam um ganho à sociedade. “nós pedimos que nós tivéssemos acesso durante o mês, fora da reunião, à documentação. Então eles fizeram um arquivo pra hora que pudesse qualquer pessoa, não só conselheiro, tivesse acesso aquela documentação já aprovada, isso foi muito bom.” (Representante dos Funcionários) Quando perguntados sobre a forma como recebiam os balancetes e como eram desenvolvidos os trabalhos, as respostas foram positivas. Aparentemente não houve atraso nas planilhas, possibilitando que o controle fosse feito sem mais delonga. As planilhas eram elaboradas por um funcionário da secretaria através do sistema SIAFEN. As planilhas eram entregues até a data marcada com todos os dados necessários para a análise da prestação. (Representante dos Professores B) 20 O conselho tinha também a responsabilidade sobre a fiscalização do PNATE e do PNAE. Em relação a estes a fiscalização também parecia ocorrer, entretanto não há recorrência disso nas atas. As falas sobre o tema são muito pontuais. “A verificação do PNATE era feita através de documentação, se chamasse atenção verificávamos se o transporte estava em condição.” (Representante dos Funcionários) Já sobre o PAED as respostas dos conselheiros também mostram que a fiscalização sobre ele ocorria pontualmente. Segundo a conselheira do CME, o conselho recebia os projetos e indicava qual podia receber a verba. Nas atas também não são relatadas discussões sobre isso. Voltando as reuniões, o conselho definiu, a título consultivo, quais seriam as áreas que julgavam as mais importantes para receber os recursos referentes aos 40% do recurso de uso livre. A ordem de prioridades foi: 1- Capacitação de Recursos Humanos (Professores); 2Aquisição de material didático, equipamentos, e construção de quadras, etc; 3- Transporte escolar para a zona rural; 4- Ampliação de prédios; 5- Outros Serviços. Aparentemente essa é uma decisão tomada precocemente, não porque estivessem errados em optar por esta ordem, mas pelo fato de alguns representantes terem entrado recentemente em contato com a realidade de gestão da educação a nível municipal e não há relatos de que tenha sido apresentado um panorama amplo da realidade educacional do município, até esse momento. Todavia é interessante perceber que houve a preocupação do conselho em manifestar uma posição e não somente se limitar a outorgar as decisões do Executivo. Não se trata de uma proposição complexa, porém é sim um posicionamento importante. O mesmo não se verifica quanto ao desenvolvimento do regimento interno, que é trazido pronto pelo representante da SME, que pede para os conselheiros levarem para casa e trazerem alguma ideia, ou questionamento, porém nenhuma discussão mais ampla é feita, questão que é alterada no segundo regimento. Há ainda um problema que começou na primeira gestão, perdurando até 2004, que se dá ao fato dos conselheiros representantes da SME serem os presidentes/coordenadores do conselho, cada um respectivamente em seus mandatos. Aparentemente esse fato se dá por um desconhecimento da legislação tanto por conta da prefeitura, quanto por conta dos conselheiros. É uma indicação da própria lei que isso não aconteça. A análise de Simões é muito útil neste aspecto, pois apesar de não termos constatado factualmente a influência superior das SME nas decisões, inclusive pela limitação de não podermos acompanhar as reuniões, tendo em vista que a posição do representante da SME fica imbuída ainda mais de um poder técnico, que tem influência decisiva em um 21 conselho como este. No caso da primeira gestão, isso ainda é corroborado haja vista que o representante da SME ser tesoureiro. Para tornar a questão ainda mais complexa a Secretária da Educação participava das reuniões na primeira gestão, fato que aparece nas atas e no discurso do representante da SME: “Não, o que eu posso dizer na minha época e eu trabalhava com ela é que a professora Diva (Secretária da Educação), ela sempre participava das reuniões como secretária, dava total liberdade pra se examinar a aplicação dos recursos nunca colocou obstáculo nenhum. A educação é tão engessada que até o conselho eles falam como deve ser feito.” (Representante da SME A) Entretanto, quando indagados sobre a autonomia que possuíam, as falas dos conselheiros são diversas, contudo não imputam caráter de dominação, nem de tentativas de controle por parte da prefeitura: “Nunca houve imposição de limites pela prefeitura. O problema é que em função da dificuldade de leitura contábil e pelo tempo determinado de ter que dar conta daquilo, há uma certa pressão de você ter que fiscalizar aquilo em determinado tempo, de verificar as contas e dar seu parecer. Então, essa é a pressão feita pela prefeitura e o conseguinte que as esferas superiores davam, com certeza, prazos para a prefeitura prestarem conta também” (Representante dos Professores A) O representante dos professores identifica que os problemas estão mais ligados a própria estrutura dos trabalhos, do que a qualquer tipo de interferência “maliciosa” da Secretaria de Educação. Corroborando essa posição, a representante dos funcionários descreve um momento em que constataram irregularidades e isso foi respeitado: “eu lembro, que a gente não entendeu uma prestação de contas, a gente não aprovou, fez um relatório que não aprovava e ninguém veio discutir a nossa opinião. Eles correram atrás pra melhorar a prestação de contas e realmente nossa palavra foi decisiva.” (Representante dos Funcionários) Em contrapartida há o discurso de um pai de aluno, quando perguntado sobre sua autonomia dentro da arena que diz: “No meu caso era zero. Eu não tinha acesso em nada. Para a gente ficar em um conselho desse aí, a gente tinha que ter passado por uma tarde de preparação do pessoal e não aconteceu nada disso. Pouco valia ser desse conselho, eu não tinha voz ativa nenhuma. E nenhum conselheiro tinha não, vamos supor, se você desconhecesse aquela despesa, a quem recorrer?” (Representante dos Pais B) Essa fala do representante dos pais já aparenta outra perspectiva, que culpa a falta de treinamento pela limitação na autonomia, porém há que se olhar com cuidado as falas deste conselheiro. Ele faltou muitas reuniões ao longo de seu mandato, até o momento em que foi 22 desligado pela grande quantidade de faltas consecutivas. Isso pode ser um motivo para que sua experiência no conselho tenha sido bastante limitada. Partindo dos dados apresentados, somos levados a crer que a prefeitura não buscou limitar a ação dos conselheiros através de sua posição. Como não existem descrições profundas sobre as discussões, não pudemos ir além. Entretanto, há que se ver que ela poderia sim, ter contribuído mais para o aperfeiçoamento dessa arena, porém se limitou a se manter dentro dos limites que a lei determinava, não incentivando uma discussão para além da questão fiscal. Voltemos agora à questão do treinamento, abordado no discurso do Pai B, já apresentado anteriormente, e amplamente criticado na bibliografia. É notável a dificuldade entre os conselheiros, especialmente no tocante a linguagem contábil. Falas como “Nós não temos um contador e já é difícil lidar naturalmente com isso” ou “O problema é que em função da dificuldade de leitura contábil e pelo tempo determinado de ter que dar conta daquilo” (Representante dos Professores A) ajudam a demonstrar essa deficiência técnica. Quando recorremos às atas em busca de processos de formação e capacitação dos conselheiros, encontramos idas a seminários, participação em fóruns, descrição das atribuições sempre que houvesse troca de conselheiros, distribuição de material do MEC, apresentação de dados coletados pela universidade e inclusive o desenvolvimento de um relatório crítico sobre o FUNDEF. Todas essas ações refletem nas entrevistas e demonstram que a maioria dos conselheiros entende bem a lógica de funcionamento do fundo e as atribuições dos conselhos, porém nenhum destes treinamentos parece tocar na questão do conhecimento contábil. Além destas limitações em termos de conhecimento, a questão do tempo foi também um problema. Diversas vezes houveram reuniões que foram canceladas pela falta de quórum. O efeito objetivo disso é que o conselho chegou a aprovar seis relatórios financeiros em um só dia. A fiscalização fica bastante prejudicada por eventos como estes, todavia não é um fato recorrente, mas é algo a ser levado em consideração e que não pode ocorrer em experiências futuras. Uma vez que o conselho dá conta da fiscalização do FUNDEF, do PNATE e do PNAE, a falta de tempo para a execução dos trabalhos podem ter limitado sua eficácia. Um representante dos professores percebe isso: O problema é que em função da dificuldade de leitura contábil e pelo tempo determinado de ter que dar conta daquilo, há uma certa pressão de você ter que fiscalizar aquilo em determinado tempo, de verificar as contas e dar seu parecer. Então, essa é a pressão feita pela prefeitura e o conseguinte que as esferas superiores 23 davam, com certeza, prazos para a prefeitura prestarem conta também. (Representante dos Professores B) É importante ressaltar que os prazos são definidos pela Lei do FUNDEF. É um problema estrutural do fundo, não das esferas de governo. Os conselheiros sempre que tinham dificuldades recorriam à prefeitura e pediam que fossem cedidos funcionários que pudessem lhes explicar o significado dos dados: “quando a gente começava a ver as prestações e surgia alguma duvida, a gente pedia ao chefe do DEIN da secretaria, ele sempre foi lá, nos explicar alguma coisa que não entendíamos. Porque nós não éramos financeiros, ninguém ali tinha uma formação que entendesse de economia, de financiamento, alguma coisa assim. A gente precisava, até depois quando passou a ser FUNDEB, a gente pedia um contador para que nos orientasse até como verificar essa forma de gastar o dinheiro e acertar as contas.” (Representante dos Funcionários) A prefeitura representa, então, um suporte de extrema importância. O problema é que recorrer somente a ela em momentos de dúvida se apresenta mais como uma limitação a ser vencida do que algo a ser louvado. Uma questão ainda pertinente ao suporte dado pela prefeitura se dá no fato de que as explicações dadas pelos técnicos podem não fazer diferenças profundas no entendimento, uma vez que podem operar no mesmo nível simbólico que os próprios balancetes e relatórios, que já eram de difícil compreensão. Outro ponto importante a ser abordado refere-se à participação de cada segmento vista separadamente, além dos olhares de um segmento sobre o outro. Realizamos a tentativa de quantificar as intervenções de cada segmento ao longo destes dez anos. A partir dos posicionamentos relatados e descriminados nas atas, contabilizamos trinta e três participações dos conselheiros, diretamente na pauta ou em questões extras. Destas, dezoito foram realizadas pelo segmento dos professores, seis do segmento dos pais, três da Secretaria Municipal, cinco do Conselho Municipal de Educação e nenhuma dos Funcionários. O fato dos professores serem os maiores participantes não é nada surpreendente, uma vez que já participam ativamente da educação e possuem uma base estruturada. As intervenções dos professores se concentraram especialmente na questão da remuneração e valorização do Magistério e em questões ligadas a denúncias de irregularidades com conservadoras. Para o professor B o segmento dos pais, por ser desprovido de uma condição política prévia, acaba servindo como massa de manobra nas mãos da prefeitura. Um fato que ajuda a explicar esses posicionamentos está contido nas palavras do Professor B, que possui forte viés corporativista, dizendo que estava lá para defender os direitos da classe: 24 “Era uma relação política. Existia o interesse da instituição dos eleitos, no caso o executivo municipal de se aplicar a verba de acordo com seu interesse ideológico e existia a parte do segmento profissional, o qual eu representava, que também tinha seu interesse ideológico de classe mesmo, de classe trabalhadora.” (Representante dos Professores B) Já no caso dos representantes da Secretaria Municipal de Educação, as participações se davam mais na posição do esclarecimento de dúvidas e no papel de trazer informações da secretaria. Em uma participação, o Conselheiro da SME A traz uma crítica ao FUNDEF, relatando sobre os desmandos da União, porém essa não é a regra. O seu papel se confundiu com o da secretária executiva, que é o de dar suporte aos conselheiros. Um representante da CME chama o FUNDEF de uma mentira e que deve ser denunciada, essa fala não se fez clara, pois não houve detalhamento na crítica. Podemos relacionar com a crítica que o representante da SME A fez anteriormente falando sobre o fato da União não realizar adequadamente a complementação da verba. Outras participações se dão em um momento de chamada da atenção de que o trabalho do conselho deve ir além da mera análise de atas e em denúncias de irregularidades quanto a prestadores de serviços. A participação dos pais contém elementos interessantes e discrepantes dos outros e também entre si, quando tomamos comparativamente as duas entrevistas com conselheiros representantes desse segmento. Este é o segmento que mais apresenta dificuldades com o conhecimento do aparado burocrático-legal necessário para a ação. Suas intervenções são bastante pontuais, ligadas ao apontamento da necessidade de se verificar as obras. O Pai A assumiu uma postura de se focalizar em realizar visitas e fiscalizar a infra-estrutura mantida e desenvolvida pela prefeitura. Para ele havia uma divisão do trabalho dentro do Conselho e a parte dele era esta: “A minha área era fiscalizar mais, assim, obras, os veículos e o transporte[...]A Função do conselho como um todo é Fiscalização de obras, de veículos, discutir os problemas das escolas, obras, problemas de professores, ameaças de professores, que muitas vezes a gente discutia lá também.”(Representante dos Pais A, grifo nosso) Quando se tratava das questões pertinentes às discussões financeiras e todas as outras que surgiam, ele assumia participar, porém essa área não era a dele: “Eu acho que todos os conselheiros que estavam lá já eram professores, eu representava os pais. São pessoas que antes de a gente entrar, fizemos um curso de capacitação. Quando a gente via que o problema era muito sério, ficava pra eles lá.” (Representantes dos Pais A) 25 O que torna o caso deste pai curioso é o fato de que ele visitava com frequência as obras, e pela dificuldade em conseguir suporte da prefeitura, ia com seu próprio carro, bancando o combustível com recursos próprios. Ele buscou formas alternativas de participar, dentro de suas possibilidades. Isso revela um problema sério de falta de capacitação e de posição de tutoria e por outro lado representa um desejo legítimo de participar. Este é um representante amplamente elogiado pelos que fizeram parte desta mesma gestão No caso do Pai B essa questão da tutoria é bem mais complexa. Na passagem já apresentada ele considerava sua autonomia zero. Em outros momentos diz que somente aprovava os papéis e que não discutia nada, e não havia questionamento de verba. A julgar pelas demais entrevistas e pelas atas, não podemos considerar essa uma realidade total, porém podemos inferir que essa fosse a condição dele. Se retomarmos o argumento de Gohn, que em um contexto de abertura democrática da educação, os pais são os atores por excelência. Eles demonstram aqui que são os mais necessitados de integração ao debate e os mais carentes de estruturas simbólicas e participativas. Caso que se agrava ao passo que fazemos a correlação entre a participação e a base, tema tratado adiante. Quando perguntados acerca do contato que tinham com suas bases, o segmento dos pais foi o que apresentou mais limitações. O fato dos outros segmentos serem, em geral, ligados a algum sindicato ou possuir reuniões frequentemente, como no caso da CME, deram uma condição prévia que facilitou a disseminação das informações e dos debates desenvolvidos dentro do Conselho. O segmento dos pais não possuía nenhuma associação que tivesse participação ampla dos pais juizforanos. Sendo assim, o Pai A ficou limitado a escola de seu filho em reuniões de pai, já o Pai B não levava as informações para lugar nenhum, não se reunia com nenhuma base: “Quando tinham festas e eventos no colégio ou reunião de pais eu falava e mostrava as fotos tiradas. Nunca fui aos outros colégios porque eu estava representando o PAPE.” (Representante dos Pais A) “Não tinha nada. Tinha pouco contato com os outros pais porque eles saem fora, eles desconhecem o filho surdo.” (Representante dos Pais B) Mas está não é uma realidade somente dos pais, a diretora que representava os funcionários fala sobre o repasse de informações: “Eu era vice-diretora das reuniões de diretoras e a gente passava, nas reuniões da escola também passava, nas reuniões de coordenadoras, enfim, procurava situações 26 onde tivesse um público maior, mas de forma sucinta e sem interesse de quem estava recebendo as informações.” (Representante dos Funcionários) Apesar de o problema ser minimizado neste caso, a vice-diretora fazia o repasse, porém, por esse discurso, a questão não parecia ser debatida com a base. Limitou-se a transferência de informação, a interação não funcionou nas duas vias. Finalmente perguntamos aos conselheiros sobre como percebiam suas participações e como perceberam a existência do próprio conselho. As opiniões são bastante diversas e ressaltam muitas deficiências desta arena. O Representante dos professores B chama atenção para os limites impostos pela lei, o que acaba por limitar as possibilidades. O representante dos Professores A aponta para a necessidade de uma representação mais proporcional a dimensão de cada segmento. A representante dos Funcionários indica a necessidade de que houvesse um especialista em finanças ligado ao conselho. Uma pessoa que fosse idônea e imparcial. Todos entendem que fizeram o possível na fiscalização, mas apontam para suas próprias limitações, além das impostas pela prefeitura e pela lei do FUNDEF. Como exposto ao longo desta seção, os conselheiros sofreram com limitações no tempo, de conhecimento contábil e acerca da própria lei, bem como a escassez de treinamentos e recursos para realizar uma fiscalização para além dos balancetes. Nos esforçamos em realizar uma caracterização geral destes dez anos. Com certeza existem peculiaridades ligadas a cada gestão, entretanto nosso foco foi perceber um desenho de todo o processo, o que nos possibilitará realizar nossa análise em comparação a bibliografia exposta anteriormente. Conclusão - A Participação Vista de Perto O conselho parece ter passado por uma trajetória evolutiva de ganhos para o seu próprio funcionamento, desaguando atualmente em uma representação bastante ampla no FUNDEB. O próprio ato de um conselheiro se deslocar de sua casa todo mês, sem receber nada, nem mesmo vale-transporte, demonstra desejo de participar. Desejo, muitas vezes, desmotivado pela falta de poder efetivo. O Professor A cita diversas vezes a falta de poder deliberativo, de participar não só da fiscalização, mas da própria repartição dos recursos, do planejamento em si. Essa crítica pode ser vista, como citado anteriormente, em diversas outras experiências de conselhos. (DAVIES 2001; 2002; TATAGIBA, 2002; FUKS e PERISSINOTO, 2006) 27 Bem como nas outras experiências de gestão democrática (BRUEL, 2003; ANDRADE, 2002) as limitações de recursos e treinamento foram claramente problemas também encontrados na realidade de Juiz de Fora. A dificuldade de lidar com balancetes e números foi evidenciada através das entrevistas. Sobre a falta de recursos, os conselheiros se esforçaram na tentativa de realizar a fiscalização para além dos balancetes, indo efetivamente aos locais, ainda que poucas vezes, com exceção do mandato do Pai A que utilizou seus próprios recursos para ir até as obras e mesmo para fiscalização de veículos. A prefeitura teve papel limitado nestes dois aspectos. Essa realidade mostra a falta de interesse do poder público em fortalecer estes espaços de participação, os tornando muitas vezes inócuos pela carência de apoio. Não é somente a manipulação clara ou conselhos com sua formação comprometida que limitam a participação, mas também a omissão do Estado em participar efetivamente e auxiliar a apropriação desse espaço. A questão da formação de hierarquia dentro do conselho também pode ser identificada através dos discursos do Pai A e do Pai B. Assim como Simões (2007) aponta, o peso do discurso técnico e da formação de cada conselheiro criaram uma divisão dos trabalhos. As questões voltadas à análise do balancete financeiro ficavam mais a cargo dos “outros” que possuíam mais conhecimento a cerca desse tema. O pai A se concentrou na parte prática, da fiscalização in locu, reduzindo sua responsabilidade sobre a análise. Podemos lançar um olhar sobre essa realidade e pensar que foi eficaz, entretanto o peso do discurso dos demais membros passa a prevalecer sobre o dos Pais quando o assunto são os balancetes. Uma vez que existe essa diferença de conhecimento, o peso do discurso de um ou mais membros, ganha mais força que o dos demais. Podemos somente ir até esse ponto, haja vista que não pudemos participar das reuniões para observar isso com mais propriedade. Em correspondência as críticas apresentadas por Tatagiba (2002), a ligação entre os representantes e os representados era bastante fraca em alguns segmentos, especialmente o segmento dos pais e dos funcionários. A existência de suporte da prefeitura ou de ONGs, como no caso apresentado pela autora citada, poderiam mudar essa realidade. Esse não foi o caso de Juiz de Fora. Os pais possuíam grandes limitações em disseminar as informações. A representante dos funcionários operava somente em levar as informações, não as debatia A representação parece assim ser mais limitada do que o formato representativo que opera no sistema político partidário. Avritzer (2010) propõe que entendamos a existência de novos formatos de representação, entre eles a representação por afinidade. Esse caso se dá quando alguém se torna uma representante de um segmento pela existência de afinidade com ele. 28 Especialmente no caso dos pais, a representação se limita somente a existência dessa afinidade. As ligações objetivas com seu segmento são praticamente nulas. Comparando as entrevistas e as atas, observamos que o argumento de Davies sobre as diferenças de condições entre os representados é real. Tanto técnica quanto política. A paridade, no sentido apresentado por Gohn (2006), não existiu plenamente. Uma vez que procuramos entender esses espaços como geradores de uma democracia que vá além das bases tradicionais da democracia representativa, é fundamental que a difusão das informações e a construção dos posicionamentos excedam a figura do indivíduo que represente determinado ator coletivo. Neste caso o CACS do FUNDEF não foi gerador de superação a esses limites. Segmentos como o dos professores já possuem unidade anterior a existência do conselho devido aos sindicatos e no caso dos pais, que não possuem uma organização desse tipo, não houve mudanças. O Segmento Estatal parece não ter tentado esvaziar ativamente o conselho. Apesar de duas primeiras gestões terem sido presididas pelo representante da SME, esse quadro é alterado nas posteriores. Outros representantes, como o do CME, tiveram o cargo de presidente. As próprias falas dos conselheiros mostram que não ocorreram tentativas de manipulação durante as reuniões e todo processo de trabalho, além de terem respondido com certa rapidez a demandas relacionadas a informações erradas nos balancetes e a necessidade de informações adicionais. Em algumas atas foi possível ver que a Secretaria cedeu profissionais para elucidarem algumas dúvidas. A prefeitura realizou, segundo as atas, eleições para escolha dos representantes de segmentos que não eram indicados a cada troca de gestão. Limitando-se a um caráter técnico, o poder público deu um bom suporte, aparentemente muito melhor que em várias outras experiências (BRUEL, 2003; ANDRADE, 2002). Quando tratamos de participação e de cultura política, os esforços para uma transformação nestas dimensões foram bem aquém do necessário, ainda que as manifestações de clientelismo, fisiologismo e paternalismo, como apresentados por Souza (2004), tenham ocorrido em pequena escala. A capacidade de adquirir informação se torna um elemento fundamental na democracia e à sociedade civil para que possa se organizar e pressionar o Estado de forma combinada. Essas potencialidades parecem ainda não ser usadas da melhor forma. Somente um dos representantes dos professores parece perceber que os Conselhos podem ser espaços de construção de alianças e de combinação de forças para além deles mesmos. Os atores não se utilizaram da capacidade dialógica e plural que esses espaços representam. Espaços de 29 exercício da cultura política e de construção de solidariedades, mesmo com as diversas limitações existentes. Como superar estes problemas e dificuldades? Uma possibilidade é que a universidade sirva como espaço de auxílio a esses atores sociais, dando suporte político e organizacional, e formação técnica necessária não só de indivíduos, mas também de movimentos sociais e ONGs que participem desse processo, para a melhor apropriação desses espaços. Tatagiba (2002) demonstrou que a participação de algum movimento ou órgão no treinamento dos conselheiros pode ser o divisor de águas entre uma boa e uma má gestão. Aqueles elementos educativos destacados por Gohn, que faziam parte dos movimentos sociais, fazem parte também da realidade dos conselhos, porém em muitos casos, como o do FUNDEF, não são plenamente aproveitados. A prática de lidar com a legislação e o contato com outros segmentos já abre portas importantes, que poderiam ser amplificadas pelo auxílio da academia. Outra possibilidade é que segmentos mais bem organizados, como o dos professores, dêem suporte a segmentos menos organizados, como o dos pais. Como ressaltou o representante dos professores B, o conselho pode ser um local de formação de alianças. Todavia, ainda será um desafio vencer a descrença na política e o presente momento de fragmentação que atomiza os indivíduos. O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF funcionou realmente como uma instância social de fiscalização da sociedade sobre o poder público. Foi o elemento que reduziu o caráter de afastamento do Estado contido em uma política desconcentradora como o FUNDEF. Observamos melhoras ao longo das gestões em muitos sentidos: a ampliação do acesso as informações, a presidência do conselho sair das mãos dos representantes da SME e o aumento das visitas a obras. Certamente houve amadurecimento. Esse espaço ainda assim foi alvo de muitos dos problemas também encontrados em outros conselhos. Os quais vão desde diferenças técnicas e de acesso a informações, até limitações políticas e organizativas em alguns segmentos. Os efeitos da existência do CACS do FUNDEF poderiam ter sido muito mais amplos, colaborando mais para o desenvolvimento de uma democracia participativa. Ainda que sem o poder de decisão, a existência de conselhos gestores, no nível somente da fiscalização, se mostram necessários para evitar desvios e colocar certa ordem na “coisa pública”. Foram citados alguns exemplos da descoberta de irregularidades e o conselho foi atrás de explicações e conseguiu resolvê-los. A falta de poder limita sim a dimensão da participação, porém não a elimina. Mesmo que o conselho não tenha poderes próprios, tem 30 acesso a documentos da gestão e a possibilidade de se utilizar de outras vias para a denúncia, como o tribunal de contas, ministério público e a própria câmara municipal. Muitos anos já se passaram desde a implementação do Fundo e mesmo de seu termino e se as melhorias continuaram a acontecer, como no caso do CACS de Juiz de Fora, há que se olhar com certo crédito para esse instrumento de controle social e observar seu funcionamento agora no FUNDEB, que entra no seu quarto ano de vigência. 31 Referências Bibliográficas ABREU, M. Organização da Educação Nacional na Constituição e na LDB. 2ed. Ijuí: Unijuí, 2002. ALMEIDA, Debora Cristina Rezende de. Conselhos Municipais de Saúde e Educação: distintos padrões de participação política. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, Universidade Federal Fluminense, 2006. _________. 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