Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS POR UMA CONTRA-MEMÓRIA NA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA GT 03 – História da Matemática e Etnomatemática Claudia Glavam Duarte/FACOS- FEEVALE [email protected] Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre o caráter eurocêntrico que assume a literatura voltada para “a” história da matemática disponibilizada aos estudantes. O material que é aqui discutido constitui-se de um conjunto de dados da historia ocidental, que foram examinados a partir da constituição de um novo olhar sobre a elaboração dos textos, das funções desempenhadas pelas informações durante o processo de construção desses conhecimentos e da concepção do que é considerado “digno” de pertencer a “história oficial da Matemática”. As ferramentas analíticas que oferecem sustentação ao trabalho são provenientes de análises de obras sobre a história da matemática, de formulações teóricas da Etnomatemática e de elaborações de autores que, de alguma forma, permitem uma releitura que interroga o contexto de produção da história da matemática oficial e a relação desta com as transformações ocorridas no período em cada episódio foi descrito. Penso que essa é uma das condições para que se possa problematizar e também oferecer elementos para uma melhor compreensão, hoje, das condições de produção e apropriação social das denominadas ciências no interior do quadro de configurações emergentes de conhecimentos. Tais reflexões oferecem elementos para repensar sobre as noções que criam fronteiras entre a “historia oficial da matemática” e a historia matemática de culturas não hegemônicas. O exame de tais aspectos relativos a historia da Matemática têm sido impulsionadoras para desenvolvimento de práticas pedagógicas que possam, efetivamente, contemplar a multiplicidade de formas de descrever acontecimentos, e, em efeito, “estabelecer relações pedagógicas em que percebamos o caráter provisório, contingente e arbitrário dos jogos de verdade que estão na base dessas relações (...)” (GONDRA; KOHAN, 2006, p.25). Palavras-chave: história, matemática, história oficial da matemática. Introdução Se continua nos interessando ficcionar o passado, é para nos dotarmos de uma contra-memória, de uma memória que não confirma o presente, mas que o inquieta; que não nos enraíza no presente, mas que nos separa dele. O que nos interessa é uma memória que atue contra o presente, contra a seguridade do presente. (LARROSA; SKLIAR 2001, P.7). Escolhi a epígrafe acima para iniciar este texto porque ela aponta para o difícil exercício que pretendo desenvolver nesta escrita – dotar-me de uma contra-memória para colocar em suspeição metanarrativas que sustentam o presente e fixam nossa memória, ou seja, constituir uma escrita que se forme no “processo de anulação dos referentes, dos doadores de sentido anteriores” (SILVA; CORRAZZA; ZORDAN, 2004, p.9). Desta forma, pretendo desenvolver um novo modo de olhar para histórias já contadas, um olhar que revolva o passado para inquietar o presente. Um olhar que “descon-fie”, ou seja, que não fie a partir de tramas já elaboradas, mas que busque novos fios para produzir outro tecido. Minha ousadia encerra o paradoxo: a dificuldade de tal exercício: abandonar a “seguridade do presente” e, o Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS fascínio deste tipo de empreitada: a possibilidade de tecer novos fios que não se pretendem melhores ou piores, mas simplesmente outros... Tomo como eixo de análise, para este exercício, a História da Matemática, levantando hipóteses sobre os possíveis motivos para o crescente interesse, no meio educacional, por esta área do saber e, principalmente sobre o caráter eurocêntrico que esta assume na literatura traduzida e disponibilizada a estudantes. Tal característica, presente em grande parte das obras que constituem “a” história da matemática, tem sido evidenciada e questionada por autores como D’AMBRÓSIO, 2002, 2004, 2006; JOSEPH, 1996; STRUIK,1987; GUERDES, 1992, LIZSCANO, 2004, 2006; POWELL e FRANKSTEIN,1997. Segundo Joseph, (1996, p. 2324): Durante os últimos quatrocentos anos, a Europa e as nações culturalmente dependentes dela tem tido um papel dominante nos assuntos mundiais. Isto se reflete com demasiada freqüência no caráter de algumas das obras históricas escritas por europeus. Quando aparece outro povo, sempre aparece de forma transitória como se a Europa tivesse se aventurado a dirigir-se até eles; Assim, a história dos africanos ou dos povos indígenas da América, com freqüência, parece começar só depois de seu encontro com a Europa. Nesse sentido, a história de um povo, inclusive a dos seus processos de matematização, só teria inicio quando ocorresse o processo de colonização dos europeus, com seus modos de experienciar o mundo. Esses vão desde sistemas religiosos, estruturas econômicas e políticas, modelos arquitetônicos e urbanísticos. Acontecimentos e estilos de vida anteriores a este “encontro” passam a ser traduzidos, se o forem, como exóticos e folclóricos. No campo da História da Matemática as argumentações desenvolvidas para as matemáticas anteriores ou que não seguiram o modelo grego apóiam-se, de forma geral, no caráter empírico que estas assumiram, ou seja, apontam, para um suposto “defeito” de não possuírem regras gerais e demonstrações apesar de George Gheverghese Joseph (1996) ter rebatido tais argumentações afirmando que tanto no papiro de Ahmes como nas tábuas babilônicas, existem indícios de uma compreensão das generalizações e das regras subjacentes. No entanto, o “suposto defeito” fazem parte da e, reforçam a: (...) crença em um milagre grego e, a forma de atribuir todos os descobrimentos matemáticos importantes a influencias gregas formam parte desta síndrome. Esta visão da historia é um sintoma de arrogância intelectual que late com freqüência debaixo da superfície do mundo acadêmico eurocêntrico. (JOSEPH, 1996, p.180.). Além da tentativa de fincar estacas em um suposto começo, ponto originário, das formas abstratas de matematizar o mundo, outras ficções são colocadas em ação por alguns historiadores da Matemática. Estas dizem respeito à linearidade e a neutralidade deste Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS conhecimento fruto de uma concepção platônica que afirma ser este saber desencarnado da produção humana. Tais concepções fizeram com que o pensamento matemático fosse, segundo Ubiratan D’Ambrósio (2002), “erroneamente caracterizado como processo de descoberta, isto é, de resolução de problemas tirados do próprio conhecimento, por meio do método indutivo-dedutivo”. Tal caracterização, segundo este mesmo autor, ignorou que o processo de criação matemática está permeado de tomada de decisões de caráter empírico, ou seja, dizem respeito à resolução de problemas advindos das práticas sociais de diferentes grupos humanos. Além disto, as distintas formas de matematizar são sempre provenientes de uma etapa preliminar pela qual percorrem todas novas práticas e teorias antes de serem incorporadas pela ciência. Este é, segundo Ubiratan D’Ambrósio, um entre outros motivos, da necessidade de abordar a antropologia e a história oral. (D”AMBRÓSIO, 2005, p, 28) No entanto, os aspectos ficcionais acima citados têm como efeito a conversão em uma crença que nos remeteria a uma suposta universalidade do conhecimento matemático. Neste sentido, é possível inferir que autores interessados em garantir o caráter hegemônico de uma história oficial da Matemática estariam, também contribuindo para excluir, ignorar, desvalorizar ou distorcer outras histórias possíveis de serem contadas. A história oficial apoiada em uma vasta literatura apresenta a trajetória eurocêntrica clássica como a única possibilidade de história da matemática. Esta teria uma “origem específica” e seu desenvolvimento estaria dividido em dois tempos, separados por um período de estancamento que dura uns mil anos: Grécia (aproximadamente 600 a C até 400 de nossa era) e a época pósrenascentista européia desde o século XVI até nossos dias. O período intermediário de inatividade corresponderia a uma “Idade Escura”, uma denominação conveniente que expressava tanto os prejuízos da Europa pós renascentista a cerca de seu passado imediato e a autoconfiança intelectual dos que se consideravam os autênticos herdeiros do ‘milagre grego’ ocorrido 2000 anos antes.” (JOSEPH, 1996). Todos os povos que não estivessem “nomeados no testamento” foram excluídos e colocados à margem da “historia da matemática”. Penso que esta hipótese fica explicitada em fragmentos do livro do historiador marroquino Georges Ifrah, intitulado “Os números: a história de uma grande invenção”. Tal obra, publicada em 1985, encontra-se, devido ao sucesso de vendas, em sua décima primeira edição. Os excertos evidenciam a minimização e discriminação de culturas que não européias. O livro, de leitura agradável, e de uma linearidade impecável, vai conduzindo o leitor a uma história sobre os primórdios dos processos de contagem que deram origem aos números. Logo no início de sua exposição o autor afirma: Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS Houve um tempo em que o ser humano não sabia contar. A prova: atualmente existem ainda homens incapazes de conceber qualquer número abstrato e que não sabem nem que dois e dois são quatro. (...) Inúmeras hordas “primitivas” se encontram, ainda hoje nesse “grau zero” (...) É, por exemplo, o caso dos zulus e dos pigmeus da Africa, dos aranda e dos kamilarai, da Austrália, dos aborígenes da ilhas Murray e dos botocudos do Brasil. Um dois e ... muitos constituem as únicas grandezas numéricas desses indígenas que ainda vivem na idade da pedra.” (IBIDEM, p.15). [grifos meus] (...) os melhores em aritmética chegam certamente a exprimir os números 3 e 4 articulando algo como: dois-um e dois-dois. Mas não avançam mais (IBIDEM, p. 16).[grifo meu] Os excertos acima apontam para uma possível “incapacidade intelectual” que algumas tribos teriam, visto que não conseguem nem entender que “dois e dois são quatro”. Tal condição, segundo o autor, os remeteria à “idade da pedra”. No entanto, estudos etnográficos realizados com tribos indígenas, principalmente da América Latina, têm apontado para diferentes expressões do pensamento matemático, ou seja, pesquisadores -- entre estes matemáticos, antropólogos e sociólogos -- têm afirmado que diferentes modos de lidar matematicamente estão alicerçados em diferentes visões de mundo. Dito de outra maneira, a lógica em que se apóiam tais povos quando manejam com quantidades apóiam-se em recursos estruturantes distintos, como por exemplo, o princípio da reciprocidade: a obrigação de dar e receber vivenciado pelas comunidades indígenas do Parque do Xingu no Mato Grosso, região Centro-Oeste do Brasil. Tal princípio dá suporte para outra lógica nas operações de adição e subtração vivenciada por estas comunidades. No entanto, Ifrah (1985) faz o movimento apontado por Lizscano (2004): Por formação e por hábito, costumamos nos situar na matemática acadêmica, dá-la por su-posta (isto é, posta debaixo de nós, como solo fixo) e, desde aí, olhar para as práticas populares, em particular, para os modos populares de contar, medir, calcular... Assim colocados, apreciamos seus rasgos tendo os nossos como referência. Medimos a distância que separa essas práticas das nossas, isto é, da matemática (assim mesmo, no singular). (Ibidem, p125). É a partir deste referencial que Ifrah (1985) vai fazendo seus julgamentos sobre outros modos de calcular, medir e inferir que, de uma forma ou de outra, se distanciam da matemática acadêmica. Outros excertos da obra do autor apontam para a “inexistência de cultura” dos designados por ele, “espíritos mais desprovidos” (Ibidem, p.25). Isso fica evidenciado em passagens do texto que fazem as seguintes afirmações: Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS Fica claro deste modo como este princípio (correspondência um a um) pode prestar serviço às pessoas mais “civilizadas”, além de ser de maior utilidade ainda para os homens “totalmente incultos”. (IBIDEM, p.28). [grifo meu]. É nesta mesma perspectiva que Joseph (1996) faz uma análise da obra de Morris Kline, professor de matemática e historiador estado-unidense contemporâneo, que em seu livro: “A cultural Approach” (1962) dedica apenas três páginas das setecentas que perfazem sua obra à contribuição da matemática egípcia e babilônica. Sua justificava para tal procedimento está na afirmação de que as contribuições desses povos foram quase insignificantes. Segundo Joseph (1996), Morris Kline compara tais contribuições “a garatujas de crianças frente às grandes obras literárias”. (Ibidem, p.179). As justificativas para afirmar que as contribuições “quase insignificantes” de outras civilizações ou de povos constituídos por “indivíduos totalmente incultos” poderiam, encontrar-se, segundo Ifrah(1985), no método e nas técnicas, “pouco desenvolvidas”, utilizadas. Segundo este autor: Foi sem dúvida graças a este princípio [correspondência um a um] que, durante milênios, o homem pré-histórico pôde praticar a aritmética antes mesmo de ter consciência e de saber o que é um número abstrato. É o que se percebeu ao estudar o comportamento de indivíduos totalmente incultos e o de inúmeras povoações indígenas da Oceania, da África e da América. Pois, através de técnicas que lhes são próprias (que podemos qualifica de “concretas” face aos nossos meios atuais), esta gente consegue obter, pelos menos até certo ponto, os mesmos resultados que nós. (IBIDEM, p.29) [grifo meu]. A desqualificação de técnicas que “fogem” ao estilo do método axiomático dedutivo das demonstrações, de caráter generalizador e, que são designadas pelo autor como “concreta”, tem tido repercussões negativas para a História da Matemática. Uma dessas repercussões pode ser observada em relação ao processo de desvalorização experienciado pelo matemático hindu Srinivasa Ramanujan (1887 - 1920), cujo método para desenvolver conceitos matemáticos diferiam daquele desenvolvido pelos matemáticos “convencionais” e, que, no entanto, produziu “uma obra de uma qualidade e duração que tende cada vez mais obscurecer a alguns de seus mais eminentes contemporâneos.(...)”.(Joseph,1996, p.18). Segundo esse autor, Ramanujam usava um quadro para cálculos e só transferia os resultados para seu caderno quando estava satisfeito com suas conclusões, não sentindo necessidade de demonstrar que seus resultados estavam corretos. Isto, provavelmente se deva as influências de sua cultura visto que ele atribuía suas formulações à intervenção divina, mais Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS especificamente à deusa Namagiri. O brilhantismo e a notoriedade deste iminente matemático hindu só veio a ser reconhecida depois de seu encontro com G. H. Hardy, professor da Universidade de Cambridge, considerado o “matemático de verdade (...) mais puro dos puros” [grifo do autor] (HARDY, p.1). A reflexão que suscita a obra de Ramanujan diz respeito à necessidade de moldar-se a um método específico para que algo possa ser considerado como matemática. Ajustar-se a um método específico, a uma norma, padrão fazem parte, segundo Lizscano (2006) e Bauman (1999), no encaixar-se em uma determinada ordem. Tal ordem, física ou social, torna-se necessária para a edificação das sociedades. No entanto, este processo de ordenação acaba por gerar “resíduos, sujeiras” (LIZSCANO, 2006; BAUMAN, 1999) que devem ser eliminadas, como as contribuições matemáticas de outros povos – hindus, chineses, africanos, babilônios,egípcios .... No entanto: (...) esse resíduo que a ordem cria para poder ser uma ordem é, talvez a maior ameaça que a ordem tem de enfrentar, pois sua presença borra – suja, contamina os perfis nítidos no qual cada coisa é cada coisa e tudo está em seu lugar. A presença da sujeira denuncia a precariedade e a arbitrariedade da ordem que se funda sobre ela. (...) (Lizscano, 2006, p. 239). No campo científico não poderia ser diferente. Uma determinada ordem é estabelecida e os rituais de purificação são colocados a operar, no sentido de garantir a permanência de tal ordem. Segundo Lizcano (2006), os procedimentos cognitivos erigidos pela ordem científica são a abstração e a análise. Nesta perspectiva, o processo de abstração é o empreendimento extrativo no qual consiste nossa metafísica, é o puro “ser”, a essência, que no caminho até sua proclamação foi deixando como resíduos ou impurezas todas suas possíveis determinações: ser isso, ser aquilo ou ser de mais além. (Ibidem, p.242). Ao processo de abstração associa-se o de análise-síntese que consiste em decompor o objeto que se deseja conhecer em elementos cada vez menores, em suas partículas últimas, um modelo cartesiano de decomposição. O processo chega ao final com a “emergência dos elementos puros”, descontaminados. Desta forma, é possível inferir que tais processos cognitivos “são os melhores veículos para essa vontade de pureza que move o espírito científico.” (Ibidem, p.243). Ramanujan, este hindu, nascido em uma pequena cidade do sul da Índia, cuja existência de apenas 32 anos esteve imersa em uma cultura brâmane, talvez, tenha cometido a Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS audácia de ignorar tais preceitos científicos, mesclando aspectos “contaminados” de sua cultura com o conhecimento matemático. Como conseqüência deste ato “ilícito”, Ramanujan foi interditado de ver seus trabalhos como pertencentes à “matemática da tribo burguesa”. (Lizscano, 2004). Mesmo seu encontro com Hardy, que comparava sua habilidade matemática a de Gauss e Euler “não podia, em virtude das falhas de sua educação e do fato de ter entrado em cena muito tarde na história da matemática, ter a esperança de fazer uma contribuição na mesma escala”. (HARDY, 2000, p.28). É no sentido de conhecer essas e outras histórias, outras matemáticas, e os processos de exclusão produzidos na literatura disponibilizada aos estudantes, que percebo as potencialidades da incorporação da História da Matemática no currículo escolar. Nessa perspectiva também se situa o trabalho desenvolvido por Paulus Gerdes (1992), historiador holandês naturalizado moçambicano, cujo objetivo é o empoderamento de povos que foram desqualificados quanto à produção de conhecimentos matemáticos. Diferentemente da posição assumida por Gerdes, observo que os estudantes consideram como elemento central para inclusão de tópicos de História da Matemática no currículo escolar o fator motivacional. Dito de outra forma, tal inclusão teria como base uma concepção lúdica que “aliviaria a tensão e confortaria” (MIGUEL e MIORIN, 2005 p.17) os estudantes que estariam enfadados de trabalhar somente com conceitos matemáticos. A “história, nesta perspectiva, seria considerada algo do tipo “história-anedotário”, como contraponto momentâneo, necessário aos momentos formais do ensino, que exigiriam grande dose de concentração e esforço por parte dos estudantes. ((MIGUEL E MIORIN, 2005 p.16). Esta concepção, também presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais, designa à história da matemática a habilidade de aumentar o interesse dos alunos na aprendizagem da matemática, visto que a aula estaria permeada de alusões a curiosidades matemáticas, proporcionando momentos relaxantes aos alunos. No entanto, tal concepção poderia estar contribuindo para elidir outras possibilidades de lidar com os conhecimentos históricos e, dessa forma, legitimar as diferentes formas de matematizar de povos que foram colocados às margens do conhecimento científico. Finalizo esta reflexão com as palavras de Lizarzaburu (2006, p.209) quando faz uma critica ao dito popular: “Costuma-se dizer que os povos felizes não escrevem sua história, mas a vivem”. Segundo ele, os povos indígenas da América Latina e, eu acrescentaria, todos os povos marginalizados, “não só devem escrever sua história, mas têm de reescreve-la como condição necessária para afirmar seu direito de fazer a história e não simplesmente padecê-la. (Ibidem,p.209). Trabalhos X EGEM Comunicação Científica X Encontro Gaúcho de Educação Matemática 02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS É com esse sentido que este artigo foi escrito, buscando produzir novos fios para tecer outras possibilidades de pluralizar a História da Matemática, para que essa área do conhecimento possa incluir múltiplas histórias para as matemáticas. Referências BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática e educação. In: KNIJNIK, Gelsa; WANDERER, Fernanda; OLIVEIRA, Cláudio Jose. Etnomatemática currículo e formação de professores. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. A matemática nas Américas Central e do Sul: uma visão panorâmica. In: LIZARZABURU, Alfonso E.; SOTO, Gustavo Zapata. (orgs). Pluriculturalidade e aprendizagem da Matemática na América Latina: experiências e desafios. Porto Alegre: ARTMED, 2006. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática. 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