Introdução à Linguística
Brasília-DF, 2011.
Elaboração:
Marcelo Whately Paiva
Produção:
Introdução à Linguística
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
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Apresentação.............................................................................................................................................
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Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa .....................................................................................
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Organização da Disciplina ........................................................................................................................
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Introdução .................................................................................................................................................
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Unidade I – A Importância do Estudo da Linguística .............................................................................
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Capítulo 1 – Conceito de Linguística ...........................................................................................
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Capítulo 2 – Aquisição da Linguagem ..........................................................................................
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Unidade II – Divisões da Linguística .......................................................................................................
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Capítulo 3 – Principais Linhas de Estudo .....................................................................................
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Capítulo 4 – Preconceito Linguístico ...........................................................................................
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Para (não) Finalizar ..................................................................................................................................
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Referências ................................................................................................................................................
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Pós-Graduação a Distância
Sumário
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Apresentação
Caro aluno,
Bem-vindo ao estudo da disciplina Introdução à Linguística.
Este é o nosso Caderno de Estudos e Pesquisa, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o
desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos.
Para que você se informe sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, a
organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade.
A carga horária desta disciplina é de 40 (quarenta) horas, cabendo a você administrar o tempo conforme a sua
disponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data-limite para a conclusão do curso, incluindo a apresentação ao seu tutor
das atividades avaliativas indicadas.
Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente.
Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas do
curso; serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina. Lembre-se de que, apesar de
distantes, podemos estar muito próximos.
Introdução à Linguística
A Coordenação
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Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa
Apresentação: Mensagem da Coordenação.
Organização da Disciplina: Apresentação dos objetivos e da carga horária das unidades.
Introdução: Contextualização do estudo a ser desenvolvido por você na disciplina, indicando a importância desta para
sua formação acadêmica.
Ícones utilizados no material didático
Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua prática e
seus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina.
Para refletir: Questões inseridas durante o estudo da disciplina para estimulá-lo a pensar a respeito do
assunto proposto. Registre sua visão sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar
seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as
questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho.
Textos para leitura complementar: Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de
dicionários, exemplos e sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico.
Sintetizando e enriquecendo nossas informações: Espaço para você fazer uma síntese dos textos
e enriquecê-los com sua contribuição pessoal.
Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas: Aprofundamento das discussões.
Para (não) finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão.
Referências: Bibliografia consultada na elaboração da disciplina.
Pós-Graduação a Distância
Praticando: Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o
processo de aprendizagem.
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Organização da Disciplina
Ementa:
Introdução ao conceito de Linguística. História da Linguística. Aquisição da linguagem. Divisões da Linguística. Preconceito
Linguístico. As gramáticas: tradicional, estrutural, gerativa.
Objetivos:
• Introduzir o conceito da linguística de forma prática na dinâmica da comunicação e em atividades relacionadas
à vida acadêmica e profissional.
• Relacionar conceitos linguísticos a diversas áreas do conhecimento científico.
• Demonstrar a importância dos mecanismos da linguagem no conhecimento histórico e social de um povo.
Unidade I – A Importância do Estudo da Linguística
Carga horária: 20 horas
Conteúdo
Conceito de Linguística
Aquisição da Linguagem
Capítulo
1
2
Unidade II – Divisões da Linguística
Carga horária: 20 horas
Conteúdo
Introdução à Linguística
Principais Linhas de Estudo
Preconceito Linguístico
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Capítulo
3
4
Introdução
O estudo da Linguística é fascinante e amplo. Ele segue diversas linhas de pensamento e envolve aspectos fonéticos,
gramáticais, psicológicos, sociológicos, geográficos, neurolinguísticos. Nossa disciplina abordará todas as principais
correntes que surgiram no estudo linguístico. Desejamos que você conheça a amplitude de pensamentos possíveis nesta
área de atuação.
Nossa disciplina capacitará você a ter um conhecimento dos principais pesquisadores no mundo e no Brasil. Entendemos
que todo este estudo só será eficiente se puder ser traduzido para uma atividade acadêmica e profissional prática. É
muito comum encontrarmos cursos com elevada carga de conteúdo teórico. O participante do curso estuda diversos
autores e linhas de pensamento, mas não vê a utilidade do que aprendeu em sua vida profissional. Não é o nosso objetivo.
Queremos que você aprenda os fundamentos essenciais que sejam importantes para a sua formação com enfoque na
realidade de que você tanto necessita.
Não organizamos as aulas com tendências ideológicas predominantes. Assim, abordamos diversas linhas de opiniões sem
menosprezar as outras. Você estudará normas consagradas e, também, o preconceito linguístico. Elas serão analisadas
em seu aspecto técnico. Não desejamos ser mais um curso a transmitir ideologias partidárias. Nosso objetivo é apresentar
as ideias essenciais ao seu desenvolvimento acedêmico e profissional.
Pós-Graduação a Distância
Marcelo Paiva
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Unidade I
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
A Importância do Estudo da Linguística
Capítulo 1 – Conceito de Linguística
A linguística tem um papel de educar para a democracia, educar
para a cidadania. [...] A democracia é um sistema político em que
existe um respeito à diferença, um respeito à diversidade. Ora, a
linguística, ao mostrar que a língua é heterogênea, que a língua é
diversa, que a língua é plural, é, de certa forma, uma maneira de
educar para a tolerância e isso é educar para a democracia.
José Luiz Fiorin
O tempo altera todas as coisas; não existe razão para que a língua
escape a essa lei universal.
Ferdinand de Saussure
Pode-se diferenciar o gramático atual do linguista da seguinte forma: o gramático estuda a língua padrão e suas variações.
Decora, analisa e interpreta regras e sentido dos vocábulos e tenta explicar o porquê de as normas serem desta ou daquela
forma. O gramático procura diferenciar com clareza o certo do errado dentro das regras já estabelecidas. Algumas vezes
concorda e outras discorda do que está padronizado.
O linguista atua de forma mais analítica em relação à língua. Sua preocupação está em descrever as características
sonoras, estruturais, históricas, sociais de uma língua e encontrar as causas e consequências desta expressão. Daí,
muitas vezes, a relação da Linguística com a Sociologia, Psicologia, Geografia e tantas outras ciências. O conceito de
certo e errado no estudo da língua é muito relativo para quem estuda linguística.
Pós-Graduação a Distância
Linguística é a ciência que estuda a linguagem humana com base em critérios científicos. Assim, é a pesquisa fundamentada
em análise de dados que podem ser comprovados. O linguista observa a língua como um todo e suas partes e procura
descrever a fonética, a sintaxe, a semântica e inúmeras variações gramaticais, principalmente na expressão oral. Desde
há algum tempo, a Linguística avança cada vez mais em sua relação a aspectos sociais e políticos na construção e
expressão verbal.
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A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Definições
Estudo das línguas, nas suas relações e nos seus princípios, leis fonéticas e semânticas, morfologia,
raízes, etc.; estudo histórico e comparativo das línguas.
Elizabeth Mazini e Cibele Marques dos Santos
A Linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma.
Ferdinand de Saussure
A linguística é completamente diferente da gramática tradicional, normativa, que estabelece regras
de correção para o uso da linguagem verbal, oral ou escrita. Ela estuda a estrutura (como se forma,
sua origem, sua decomposição) e a função (qual papel como elemento comum a uma coletividade de
linguagem humana).
Eni Pulcinelli
Linguística é o estudo científico da linguagem. Como ciência, a Linguistica dedica-se a descrever e a
explicar os fenômenos da língua, e não a formular instruções sobre determinados usos.
http://www.klickeducacao.com.br/2006/materia/21/display/0,5912,IGP-21-98-856-,00.html
Linguística é a ciência que estuda a linguagem. O termo foi empregado pela primeira vez em meados do
século XIX, para distinguir as novas diretrizes para o estudo da linguagem, em contraposição ao enfoque
filológico mais tradicional. A filologia ocupa-se, principalmente, da evolução histórica das línguas, tal
como se manifestam nos textos escritos e no contexto literário e cultural associado. A linguística tende
a dar prioridade à língua falada e à maneira como ela se manifesta em determinada época.
http://www.brasilescola.com/portugues/linguistica.htm
Se você quer entender o que é linguistica e o que é o seu objeto, você precisa pensar um pouco na
fábula dos três cegos apalpando o elefante. Cada um apalpava um pedaço do elefante e definia o
elefante por aquele pedaço. Então, o que pegava a perna do elefante, dizia: “o elefante é assim um
cilindro muito duro, rígido, é um animal com formato de cilindro e que é estático, parece que esse
animal não se mexe e é um animal que ocupa posição vertical no espaço”. O outro, que mexia lá na
tromba, naturalmente discordava, não só quanto à disposição no espaço, quanto à rigidez no tato,
tanto quanto à falta de mobilidade.
Ataliba Castilho
Prefiro abdicar do título de cientista para poder pensar a linguagem livremente.
Kanavillil Rajagopalan
Origem
Introdução à Linguística
O estudo dos aspectos relativos à comunicação certamente sempre foram, de forma organizada ou não, preocupação
do ser humano. O emprego de regras para o estudo padronizado da língua, segundo documentos indicam, tem origem na
Grécia e na Índia. Desde então, encontramos vestígios de análises em relação à linguagem oral e escrita.
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O termo “Linguística” passou a ser empregado apenas em meados do século XIX com Ferdinand de Saussure, considerado
o pai da Linguística moderna, que analisava a língua “não como um organismo que se desenvolve por si, mas como um
produto do espírito coletivo dos grupos linguísticos”.
Até então os estudos se limitavam a explicar, comparar e conservar as formas conhecidas de linguagem. É vasta a
produção de gramáticas, glossários e estudos das formas de linguagem em diversas regiões do mundo. Tratava-se de
uma visão histórica da língua com importância fundamental para a sociedade. Por exemplo, a descoberta e análise da
primeira gramática na Índia destinada a preservar as antigas escrituras sagradas.
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Na Grécia antiga, as questões propostas em torno da naturalidade e arbitrariedade da linguagem – ou seja,
o que existe nela “por natureza” ou “por convenção” – deram origem a duas escolas opostas: os analogistas
sustentavam a regularidade básica da linguagem, devida à convenção, e os anomalistas consideravam que a
linguagem era irregular, por refletir a própria irregularidade da natureza. As pesquisas sobre essas questões,
que os gramáticos romanos se encarregariam, mais tarde, de continuar e transmitir, impulsionaram o progresso
da gramática no Ocidente.
A concepção da linguagem como um espelho em que se refletia a verdadeira imagem da realidade levou as
gramáticas especulativas medievais a destacarem o aspecto semântico – relativo ao significado – da língua. A
partir do século XV, a tradição gramatical greco-romana, que até então imperara, perdeu importância à medida
que avançava o estudo das línguas vernáculas e exóticas.
A gramática geral de Port-Royal, redigida por estudiosos franceses no século XVII, preparou a abordagem
histórica da língua que caracterizou os estudos linguísticos do século XVIII e abriu caminho ao comparativismo
do século seguinte. Gramática comparada e linguística histórica. A descoberta, no final do século XVIII, das
afinidades “genealógicas” entre o sânscrito, o grego e o latim, atribuída comumente ao orientalista inglês
Sir William Jones, deu lugar a um exaustivo estudo comparado dessas e de outras línguas. Tais pesquisas
apresentaram os primeiros resultados positivos quando, em 1816, o linguísta alemão Franz Bopp publicou sua
obra Uber das Conjugations system der Sanskritsprache.
Sobre o Sistema das Conjugações em Sânscrito
Por meio da comparação metódica das conjugações do sânscrito, persa, grego, latim e alemão, Bopp concluiu
que as afinidades fonéticas e morfológicas demonstravam a existência de um tronco hipotético ou língua
comum anterior, o indo-europeu.
Foram assim estabelecidos os alicerces da gramática comparada, que não tardaria a adquirir caráter científico
graças ao trabalho de dois linguístas: Rasmus Rask, na Dinamarca, e Jacob Grimm, na Alemanha.
A classificação das línguas, a evolução histórica de seus aspectos fonológicos, morfológicos e léxicos, os estudos
sobre distribuição geográfica dos idiomas indo-europeus e a reconstrução da língua comum de que provinham
definiram o contorno geral dos estudos linguísticos que dominaram a segunda metade do século XIX. Na década
de 1870, o movimento dos neogramáticos, cujos principais representantes foram os alemães August Leskien
e Hermann Paul, marcou um dos períodos mais significativos da linguística histórica por conferir à disciplina
um caráter mais científico e preciso.
Com base nas teorias evolucionistas de Charles Darwin e na compreensão da língua como um organismo vivo, que
nasce, desenvolve-se e morre, os neogramáticos atribuíram a evolução histórica das línguas a determinadas leis
Pós-Graduação a Distância
Ao primeiro se deve a elaboração de uma gramática geral e comparativa das línguas do mundo e o estabelecimento
de uma série de correspondências fonéticas entre as palavras de significado igual ou semelhante. Grimm
acrescentou a esses estudos uma perspectiva histórica, ao pesquisar as numerosas correspondências fonéticas
entre as consoantes do latim, do grego, do sânscrito e do ramo germânico do indo-europeu. O resultado de sua
pesquisa, conhecido como “lei de Grimm” ou “primeira mutação consonântica do germânico”, representou um
progresso notável nos estudos linguísticos.
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A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
fonéticas, regulares e imutáveis, a partir das quais seria possível reconstruir as formas originais de que haviam
surgido. Apesar das evidentes limitações desse enfoque fonético, o método e as técnicas dos neogramáticos
muito influenciaram os linguistas posteriores.
Nas correntes linguísticas, surgidas durante a primeira metade do século XX, foram também importantes as
teorias desenvolvidas um século antes pelo alemão Wilhelm Von Humboldt, para quem a língua, organismo vivo e
manifestação do espírito humano, era uma atividade e não um ato. Com sua concepção estruturalista da língua como
um conjunto orgânico composto por uma forma externa (os sons), estruturada e dotada de sentido por uma forma
interna, peculiar a cada língua, Humboldt foi o precursor do estruturalismo linguístico de Ferdinand de Saussure.
Século XX
Com o progresso do método comparativista, os estudos linguísticos do século XX adotaram uma nova orientação
e uma nova atitude com relação ao enfoque e ao objeto de estudo da linguística. Ao invés de se concentrar na
descrição histórica da língua, como queriam os gramáticos comparativistas, a linguística daria maior ênfase
ao estudo da linguagem em si mesma e a seu caráter sociocultural.
Durante a primeira metade do século XX, as novas orientações linguística estiveram representadas
fundamentalmente pelo estruturalismo, cujos expoentes foram Ferdinand de Saussure, na Europa, e Leonard
Bloomfield, nos Estados Unidos.
Estruturalismo Europeu
Considera-se em geral o suíço Ferdinand de Saussure o fundador do estruturalismo linguístico na Europa,
embora suas teorias não tenham sido assim definidas explicitamente. As principais ideias de Saussure,
reunidas por seus discípulos Charles Bally e Albert Séchehaye e publicadas postumamente sob o título Cours
de linguistique générale (1916; Curso de linguística geral), tiveram forte influência nos estudos linguísticos
da primeira metade do século XX.
O estruturalismo, conforme exposto na obra de Saussure, baseia-se na convicção de que a linguagem é um
sistema abstrato de relações diferenciais entre todas as suas partes. Esse sistema se apresenta subjacente
aos fatos linguísticos concretos e constitui o principal objeto de estudo do linguista.
Introdução à Linguística
Para fundamentar suas afirmações, Saussure estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a natureza
da linguagem, que se podem resumir nos seguintes pontos:
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1. a diferenciação entre langue (língua), sistema de signos presente na consciência de todos os membros
de uma determinada comunidade linguística, e parole (discurso), realização concreta e individual da
língua num determinado momento e lugar por cada um dos membros da comunidade;
2. a consideração do signo linguístico, elemento essencial na comunidade humana, como a combinação de
um significante (ou expressão) e um significado (conteúdo), cuja relação arbitrária se define em termos
sintagmáticos (entre os elementos que se combinam na sequência do discurso) ou paradigmáticos (entre
os elementos capazes de aparecer no mesmo contexto); e
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
3. a distinção entre o estudo sincrônico da língua, ou seja, a descrição do estado estrutural da língua em
um dado momento, e o estudo diacrônico, descrição da evolução histórica da língua, que leva em conta
os diferentes estágios sincrônicos.
Saussure considerou prioritário o estudo sincrônico, que permite revelar a estrutura essencial da linguagem: “A
língua é um sistema em que todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica.”
Os linguístas encontraram nas ideias renovadoras de Saussure o ponto de partida para desenvolver novos
métodos e teorias. Foi o caso da chamada escola de Praga, surgida em 1926 e formada, entre outros, pelos
linguístas de origem russa Nikolai Trubetskoi, Serguei Karcevski e Roman Jakobson. No I Congresso Internacional
de Linguístas, realizado em Haia, em 1928, os integrantes da escola de Praga assinalaram a importância da
fonologia no sistema da língua.
Sobre a base das distinções realizadas por Saussure entre língua e discurso, sincronia e diacronia, os linguístas
da escola de Praga proclamaram a necessidade de se fazer distinção entre fonologia e fonética, dois termos
usados até então para definir a ciência dos sons. Segundo eles, a fonologia estuda as funções linguísticas dos
sons, os fonemas, enquanto a fonética se preocupa com a produção e as características dos sons da fala.
À escola de Praga deveu-se também a definição de fonema como a unidade mínima do significante que está no
plano da língua, assim como o conceito de traços pertinentes, distintivos ou funcionais dos fonemas.
Os linguistas escandinavos Viggo Brøndal e Louis Hjelmslev, criadores da teoria da linguagem conhecida como
glossemática, foram os principais representantes do Círculo Linguístico de Copenhague, fundado em 1931,
e que também se inspirou nos conceitos de língua, discurso, sincronia e estrutura, de Saussure. Coube a
Hjelmslev criar uma das mais conhecidas e precisas definições da linguística estrutural: “conjunto de pesquisas
baseadas na hipótese de que é cientificamente legítimo descrever uma língua como, essencialmente, uma
unidade autônoma de dependências internas ou, numa só palavra, uma estrutura”.
Estruturalismo Americano
Os pesquisadores pretendiam reconstruir as civilizações primitivas, cujas estruturas linguísticas consideravam
indissociáveis do contexto social e cultural em que se haviam originado. Nesse sentido destacaram-se os
trabalhos de Franz Boas e de seu discípulo Edward Sapir, que ressaltou, como fizera Saussure, o caráter
da linguagem como modelo geral e preparou o caminho da linguística estrutural americana, cujo principal
representante seria Leonard Bloomfield.
Em 1933, a publicação de um livro de Bloomfield, Language, marcou o início de uma nova era na linguística
e influiu nos trabalhos da escola distribucionalista (também denominada neobloomfieldiana) surgida depois
dele. Para obter o máximo rigor científico no estudo da linguagem, Bloomfield adotou um enfoque behaviorista
em sua análise linguística e definiu a linguagem em termos de respostas a estímulos. O autor excluiu de suas
considerações, quase completamente, alusões à significação ou à semântica.
Pós-Graduação a Distância
O surgimento do estruturalismo nos Estados Unidos foi condicionado pela análise descritiva das centenas
de línguas ameríndias no final do século XIX. A necessidade de buscar princípios metodológicos apropriados
para a análise dessas línguas, em grande parte desconhecidas e ágrafas (não escritas), resultou num enfoque
antropológico e etnológico desses estudos.
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A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
O estruturalismo de Bloomfield era eminentemente analítico e descritivo e centrava-se no estudo da morfologia
e da sintaxe: ao partir da frase como unidade máxima analisável, empregava métodos de redução que permitiam
decompô-la em seus elementos constituintes imediatos, até chegar ao morfema, unidade mínima indivisível.
Esse método de análise foi o principal objeto de pesquisa dos neobloomfieldianos ou distribucionalistas, os
mais importantes dos quais foram Bernard Bloch, George L. Trager, Robert Anderson Hall e, especialmente,
Zellig S. Harris, autor de um livro fundamental no estruturalismo americano, Methods in Structural Linguistics.
Gramática Gerativo-Transformacional
A publicação de Syntactic Structures, do americano Noam Chomsky, deu nova orientação aos estudos
linguísticos modernos. Chomsky reagia contra as hipóteses teóricas do distribucionalismo e expunha o que
deveria ser, em sua opinião, o objetivo da linguística: a formulação de uma gramática que, por meio de um
número finito de regras, fosse capaz de gerar todas as frases de um idioma, do mesmo modo que um falante
pode formar um número infinito de frases em sua língua, mesmo quando nunca as tenha ouvido ou pronunciado.
Tais regras, afirmou Chomsky, não são leis da natureza. Foram “construídas pela mente durante a aquisição
do conhecimento” e podem ser consideradas “princípios universais da linguagem”. A tese representou uma
negação frontal do behaviorismo.
Cabia ao linguísta a tarefa de construir essa gramática, a partir do que Chomsky denominou “competência”
(o conhecimento que o falante possui de sua língua e que lhe permite gerar e compreender mensagens) e não
do “desempenho” (o emprego concreto que o falante faz de sua língua). A regras gramaticais que permitissem
gerar orações inteligíveis num idioma seria denominada gramática gerativa.
Em suas formulações sobre essa gramática, Chomsky distinguiu três componentes:
1. o sintático, com função geradora;
2. o fonológico, a imagem acústica da estrutura elaborada pelo componente sintático; e
3. o semântico, que interpreta essa imagem.
Introdução à Linguística
Em oposição à gramática estruturalista dos distribucionalistas, que se baseava na análise dos constituintes
imediatos, Chomsky analisou as estruturas das orações em dois níveis, o profundo e o superficial, para indicar
as transformações produzidas ao se passar de um nível para outro e as regras que regem as transformações.
Esses conceitos explicam a razão do termo gramática gerativo-transformacional e fundamentaram grande
parte dos estudos linguísticos realizados depois de Chomsky.
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Segundo a teoria gerativo-transformacional, todas as línguas possuem uma estrutura superficial ou aparente,
que representa a forma em que aparece a oração, e outra estrutura profunda ou latente, que encerra o conteúdo
semântico da oração e forma o corpus gramatical básico que o falante de uma língua possui. Por meio de uma
quantidade limitada de regras de transformação, o falante pode criar um número infinito de orações superficiais.
O componente fonológico, ou seja, a imagem acústica das estruturas elaboradas pelo componente sintático, é
dado por uma série de segmentos – denominados morfofonemas por alguns linguistas – com traços distintivos
que indicam como devem ser representadas, na estrutura superficial, as orações geradas pela sintaxe.
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
De maneira semelhante, o componente semântico fornece o significado às orações da estrutura superficial
pela substituição ou inserção léxica de palavras e morfemas (unidades significativas) durante o processo de
transformação da estrutura profunda na superficial.
Essa consideração do componente semântico, que respondia à diferenciação entre sintaxe e semântica das
primeiras formulações da gramática gerativa, foi um dos pontos mais conflituosos para teorias gerativas
posteriores, que consideravam inexistente essa diferenciação.
Psicolinguística e Sociolinguística
A teoria gerativa de Chomsky abriu caminho para uma renovação radical da linguística e para sua aplicação a
diversas disciplinas do saber humano, como a psicologia ou a sociologia. Um dos principais campos de aplicação
da gramática gerativo-transformacional, sobretudo no que diz respeito à dicotomia competência-desempenho,
foi à psicolinguística, termo surgido na década de 1940 e definido como o estudo de fatos da linguagem
considerados sob seus aspectos psicológicos, fundamentalmente no que se refere à aquisição da linguagem,
à percepção da fala e aos distúrbios patológicos, como por exemplo a afasia (perda da fala).
O caráter e a função social da linguagem, suas repercussões no comportamento do indivíduo e os
condicionamentos sociais (diferenças de classe, sexo, educação, idade e ocupação) que determinam as variações
linguísticas dentro de uma língua representam os objetivos principais da sociolinguística.
Em oposição às teorias sociolinguísticas, segundo as quais a língua é ao mesmo tempo causa e efeito das
concepções sobre a realidade e o mundo de uma comunidade de falantes (hipótese do americano Benjamin Lee
Whorf) ou resultado de estruturas sociais determinadas (teoria do georgiano Nikolai Y. Marr), as pesquisas
do americano William Labov tentaram explicar as variações linguísticas de uma determinada língua por meio
de uma redefinição do conceito chomskiano de competência. Labov entendia a competência como o conjunto
de regras de conteúdo sociológico – diferentes níveis e registros de língua – que, uma vez conhecidas pelo
falante, podem ser empregadas de acordo com o contexto social ou a situação.
Embora a influência do trabalho de Chomsky tenha levado praticamente todas as escolas linguísticas a definirem
suas posições com relação às teorias do linguista americano, continuaram a surgir enfoques radicalmente
opostos. A gramática estratificacional, desenvolvida pelo americano Sidney Lamb, reelaborou elementos do
estruturalismo de Bloomfield ao definir a estrutura linguística como uma teia de relações, mais do que como um
sistema de regras; as unidades linguísticas seriam apenas pontos, ou posições, nessa teia. O distribucionalismo
e a escola de Praga inspiraram também tendências como a análise tagmêmica (que considera que a posição
dos elementos define a gramática de uma língua) ou a chamada gramática de casos.
A linguística representa hoje um campo aberto e em contínua renovação, cujos estudos, a partir de perspectivas
diferentes, contribuem para a construção de modelos cada vez mais amplos que considerem os elementos
constituintes do fenômeno linguístico.
http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos.php
Pós-Graduação a Distância
Outras Teorias
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A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
A Situação Atual da Linguística
O linguista Eduardo Guimarães afirma que a linguística vive hoje dividida em quatro áreas:
a) um cognitivismo naturalista que o pensamento chomskyano reintroduziu e que localiza a linguística no interior
da biologia (enquanto ciência psicológica), ou seja, das ciências naturais;
b) posições derivadas do estruturalismo, como os estudos enunciativos, para os quais o funcionamento da
língua se dá porque a língua está marcada por formas próprias para o seu funcionamento, no acontecimento
enunciativo, posições então que mantêm a questão da autonomia do linguístico proposta por Saussure;
c) posições que procuram estabelecer diálogos entre as diversas disciplinas das ciências humanas que levam a
pensar o linguístico como definido por uma correlação com o que está fora do linguístico: o antropológico, o
social, o psicológico, etc;
d) posições como a da análise do discurso que põem em cena a questão de que não se pode reduzir o linguístico
nem ao social (antropológico) nem ao psicológico, pois a linguagem é, ao lado de integralmente linguística –
num certo sentido saussuriano – também integralmente histórica.
A Linguística no Brasil
Paulino Vandresen explica que a linguística foi implantada no currículo de Letras por uma resolução do Conselho Federal
de Educação, em dezembro de 1961. Na época, existiam 83 cursos de Letras, seguidores da tradição filológica portuguesa
que norteava o ensino de línguas numa perspectiva histórica e normativa. A nova disciplina dava ênfase à descrição
científica das línguas, numa perspectiva sincrônica.
A medida suscitou polêmica e sérios problemas para os diretores dos cursos de Letras: não havia professores preparados
para ministrar linguística nos 83 cursos. Havia dois doutores e meia dúzia de pós-graduados no exterior, na área de
ensino de línguas estrangeiras.
No início deste novo século (40 anos depois) a linguística brasileira apresenta-se como uma área consolidada, com quase
mil doutores e mais de 3.000 mestres atuando em mais de 60 cursos de pós-graduação (dos quais 45 ministram cursos
de doutorado) e mais de 500 cursos de graduação em letras.
Entre os marcos que permitiram esse rápido progresso da linguística no Brasil estão seguramente: as atividades de alguns
pioneiros; organização de cursos intensivos de preparação de professores de linguística, a implantação dos cursos de
pós-graduação e a fundação de associações científicas e periódicos especializados.
Introdução à Linguística
Os Pioneiros
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Os cursos de Letras foram organizados a partir dos anos 30, inseridos nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras
dedicadas ao estudo das humanidades e à preparação de professores. Até 1963, o currículo constava de Filologia, Língua
Portuguesa (numa perspectiva histórica e normativa), Literatura Brasileira e Portuguesa e blocos de línguas clássicas,
germânicas (Inglês e Alemão) ou neolatinas (Francês, Espanhol e Italiano). Alguns conteúdos linguísticos (particularmente
de linguística histórica) eram ministrados, nas disciplinas de língua portuguesa e filologia.
Joaquim Mattoso Camara Junior, aluno de Roman Jakobson nos EUA, foi o grande pioneiro da linguística descritiva no
Brasil. Ministrou o primeiro curso de linguística do Brasil, na Universidade do Distrito Federal (1938 e 1939) e depois na
Universidade do Brasil, a partir de 1948.
A contribuição de Camara Jr. é particularmente importante na divulgação das teorias linguísticas nas revistas da época,
como a Revista Brasileira de Filologia e o Boletim de Filologia, todos do Rio de Janeiro. Como resultado de seus
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
cursos surgiu, em 1942, o primeiro manual de linguística do Brasil: Princípios de Linguística Geral, que teve seguidas
reedições. Suas primeiras pesquisas sobre a fonologia do português, fortemente influenciadas pela Escola de Praga,
deram origem ao livro: Para o estudo da fonêmica portuguesa, publicado em 1953. Além disso, traduziu e publicou o livro
A Linguagem, de Edward Sapir, em 1954, e uma coletânea de seus artigos, sob o título Linguística como ciência, em
1961. Em 1963, publicou uma coletânea de artigos de Roman Jakobson sob o título Fonema e Fonologia.
Colocando-nos no cenário dos anos 60, podemos perceber a importância dos livros e traduções de Câmara Jr. para
viabilizar o ensino da linguística nos cursos de Letras, a partir de 1963.
A outra experiência de ensino de linguística, como disciplina eletiva antes da Resolução do CFE, ocorreu na UFPR. O
professor Aryon Dall’Igna Rodrigues ministrou dois anos de Linguística (1960 e 1961) com o apoio do catedrático de
Língua Portuguesa, professor Mansur Guerios, que o havia encorajado a fazer o doutorado em linguística em Hamburgo,
na Alemanha.
É importante mencionar também a atuaçao de linguistas estrangeiros do SIL (Summer Institute of Linguistics) que
começaram a atuar na pesquisa de línguas indígenas a partir de 1956, em convênio com a Divisão de Antropologia do
Museu Nacional. Na área da linguística indigenista, a ABA (Associação Brasileira de Antropologia) estimulou a pesquisa
e deu espaço para sessões de linguística em seus congressos, a partir de 1959.
Na linguística aplicada ao ensino de línguas, merece menção o trabalho de Valmir Chagas, Didática especial de línguas
modernas, publicado em 1957, com análise de métodos de ensino com base linguística.
Seu trabalho pioneiro em linguística aplicada na UFPE foi continuado por Francisco Gomes de Matos, que posteriormente
teria ação destacada no Centro de Linguística Aplicada do Yágizi. Centros particulares de ensino de línguas, como Cultura
Inglesa, Instituto Brasil/Estados Unidos, Instituto de Idiomas Yágizi e Aliança Francesa contavam com professores
estrangeiros ou nacionais com algum treinamento linguístico.
Os Cursos Intensivos de Linguística
Já no verão de 1963/64, em face da polêmica implantação obrigatória da linguística nos cursos de Letras, foi organizado o
primeiro curso intensivo de preparação de professores de linguística, na UnB (Universidade de Brasília) sob a coordenação
do professor Aryon Rodrigues e apoio financeiro do MEC. Além do professor Rodrigues, participaram do referido treinamento
alguns linguistas vinculados ao SIL. Com o mesmo corpo docente iniciou-se, no mesmo ano de 1964, o primeiro curso
de Mestrado em Linguística do Brasil.
A delegação brasileira foi constituída por Câmara Junior (UFRJ), Aryon Rodrigues (UnB) e Francisco Gomes de Matos
(Universidade Federal do Pernambuco). O simpósio fez um diagnóstico da situação da linguística e ensino de línguas no
continente, com propostas para ações que viriam a dinamizar o seu desenvolvimento, entre eles a criação de associações
científicas, realização de eventos científicos e institutos linguísticos, com cursos intensivos, criação de centros de
pesquisa, com edição de revistas, entre muitas outras sugestões.
O primeiro Instituto Linguístico Latino Americano foi realizado em Montevidéu, com apoio do PILEI, com forte presença
brasileira, de dezembro de 1965 a fevereiro de 1966. No verão de 1967/68, realizou-se o primeiro Instituto Brasileiro de
Linguística na PUC/RS, com apoio da Ford Foundation e do Centro de Linguística Aplicada – Yázigi. Nos anos seguintes,
multiplicaram-se oportunidades de treinamento em linguística teórica e aplicada em seminários e institutos linguísticos
oferecidos pelo CLA – Yázigi, PILEI e universidades brasileiras com grande e entusiasmada participação de professores
de linguística, língua portuguesa e línguas estrangeiras. Graças ao clima e às esperanças criadas por esses eventos, a
Pós-Graduação a Distância
No contexto do assessoramento norte-americano na reformulação da estrutura universitária brasileira e latino-americana,
foi criado o PILEI (Programa Interamericano de Linguística e Ensino de Idiomas). Em 1963, o PILEI organizou o Simpósio
de Cartagena, que reuniu os mais destacados linguistas latino-americanos e mais de 20 linguistas americanos, naquela
cidade da Colômbia.
17
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
linguística entrou na moda. Exercia um verdadeiro fascínio sobre professores e estudantes, que viam na linguística um
caminho seguro para a melhoria do ensino de línguas.
Em termos de teorias linguísticas, nos primeiros anos, predominou o estruturalismo, seguindo modelos americanos como
Bloomfield, Sapir e Pike, ou europeus como a Escola de Praga, Martinet, Pottier etc. Tivemos até um modelo teórico
próprio, batizado como “linguística construtural”, proposto por Eurico Back e Geraldo Mattos, de Curitiba, divulgado na
revista Construtura, e que teve como resultado de suas pesquisas uma Gramática Construtural da Língua Portuguesa (2
volumes), publicada em 1972 pela editora FTD, de São Paulo. A proposta construtural surgiu no momento da implantação
dos cursos de pós-graduação, e não resistiu à concorrência do modelo gerativista que dominou a década de 70, graças
aos novos doutores que retornavam do exterior.
Deve-se salientar que na década de 60 e 70 houve a formação de muitos linguistas no exterior, particularmente nos EUA
e França, além de titulações no país pelo sistema anterior de doutorado sem cursos e livre docência.
Implantação dos Cursos de Pós-Graduação
No final da década de 60, mas principalmente no início dos anos 70, houve a implantação de inúmeros cursos de pósgraduação em linguística, com base nos pareceres 977/65 e 77/69 do CFE. Novamente se repetia, em parte, a história
de 1962. Dessa vez, porém, a criação dos cursos não era obrigatória.
É fácil imaginar a dificuldade de encontrar professores com doutorado ou mesmo com mestrado, em uma disciplina
implantada há menos de uma década. A contratação de professores estrangeiros e a participação de um mesmo professor
em mais de um curso minimizaram o problema. O sistema de avaliação da CAPES, que norteava um grande programa de
formação de recursos humanos no exterior, um programa da Ford Foundation coordenado pelo Professor Aryon Rodrigues
permitiram aumentar sensivelmente o número de doutores e a qualidade acadêmica dos cursos.
Com o fortalecimento de alguns cursos de doutorado em universidades brasileiras a linguística foi marchando celeremente
para sua consolidação.
Definições de alguns termos da linguística
Fonética – estudo das descrições e classificações das características físicas, articulatórias e perceptivas da produção
e percepção dos sons da fala. Pode ser dividida ainda em três áreas de atuação: articulatória; acústica e auditiva ou
perceptiva.
Fonologia – (phonos = som, logos = estudo) estudo dos sistemas sonoros das línguas. Possui um enfoque diferente em
relação à fonética, pois analisa a forma como os sons se organizam dentro de uma língua e os classifica em fonemas.
Pode-se diferenciar assim: a fonética estuda as características físicas da produção do som e, assim, o classifica. A
fonologia estuda o som inserido no uso prático da língua.
Introdução à Linguística
Gramática – (do grego γραμματική) conjunto de normas de uso consagradas em determinada fase da evolução de uma
língua e aceitas pela maior parte da população. A gramática, teoricamente, é a expressão considerada “correta”. A Linguística
questiona o “certo” e o “errado” gramaticais, pois quase sempre são consequências de imposições políticas e sociais.
18
Linguagem – sistema de signos (sonoros, gráficos, gestuais, etc) que serve de base para a comunicação de ideias ou
sentimentos. Cada povo ou grupo exerce essa capacidade por meio de um determinado código linguístico, ou seja, utilizando
um sistema de signos vocais distintos e significativos, a que se dá o nome de língua ou idioma.
Morfologia – o termo pode apresentar-se em diversas áreas da ciência. Em Linguística, descreve o estudo da estrutura
da palavra. A análise pode ser realizada com base no morfema, na formação ou na classificação da palavra.
Sintaxe – estuda as regras, as condições e os princípios subjacentes à organização estrutural dos constituintes das
frases, ou seja, o estudo da ordem dos constituintes das frases.
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Semântica – estudo do significado dos vocábulos em uma determinada língua ou contexto.
Lexicologia – estudo da origem, forma e significado dos vocábulos que constituem uma língua ou o conjunto de termos
empregados em um determinado contexto.
Lexicografia – conjunto de termos de uma determinada língua ou área específica. A lexicografia é responsável pelos
dicionários.
Diacronia – análise de um fenômeno linguístico em diferentes momentos históricos da língua a que pertence. Ao estudar
a palavra “ter”, por exemplo, considera a sua etimologia, sua evolução fonética e os diversos significados e aplicações que
vem tendo, de sua origem até a atualidade: tenere > têer > teer > ter. Também conhecida como Linguística Histórica.
Sincronia – análise de um fenômeno linguístico em um determinado momento histórico. Também conhecida como
Linguística Descritiva.
Terminologia – estudo científico das noções e dos termos em uso nas línguas de especialidade.
Estilística – estudo dos recursos expressivos de uma língua e sua capacidade de provocar sugestões e efeitos de estilo.
A estilística é muito empregada em poesias e na literatura.
Sociolinguística – estudo das relações entre a língua e os comportamentos sociais. As mudanças por que passam as
sociedades e que se refletem na evolução da língua.
Psicolinguística – estudo da capacidade da mente humana de produzir e compreender a língua.
Ferdinand de Saussure (Genebra, 1857-1913)
É considerado o pai da Linguística Moderna. Seus estudos propiciaram o desenvolvimento da linguística como ciência e
promoveram o estruturalismo. Estudou diversas línguas e, com vinte e um anos de idade, publicou um dissertação sobre
o primitivo sistema das vogais nas línguas indo-europeias. Defendeu sua tese sobre o uso do caso genitivo em sânscrito
e tornou-se professor de Gótico, Alemão, Sânscrito, Filologia e Linguística.
Defendeu a ideia de que a linguística é um ramo da ciência específico e abordou temas fundamentais para o estudo atual
das línguas. Em seus estudos, separa Língua e Fala. A língua, para ele, é um sistema de valores que se opõem uns aos
outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de um determinado contexto. A fala é um
ato individual e sofre influência de fatores externos, muitos desses não linguísticos. Assim, defende a ideia de que a
linguística estuda a língua e não a fala.
A sincronia é a observação do sistema linguístico em um determinado momento. É o estudo descritivo do funcionamento
da língua. Diacronia, por sua vez, é análise do sistema linguístico em momentos diferentes. É chamada de linguística
histórica, pois observa momentos diferentes em seu estudo. Para Saussure, os fatos diacrônicos “não têm relação alguma
com os sistemas, apesar de os condicionarem”. Em outras palavras, o funcionamento sincrônico da língua pode conviver
harmoniosamente com seus condicionamentos diacrônicos. Acrescente-se ainda que a diacronia divide-se em história
externa (estudo das relações existentes entre os fatores socioculturais e a evolução linguística) e história interna (trata
da evolução estrutural – fonológica e morfossintática – da língua).
Ferdinand de Saussure elege a observação sincrônica como essencial para a linguística cmo ciência, pois o falante
não tem consciência dos fatores históricos que determinaram modificações na língua. Castelar de Carvalho afirma
que para “o indivíduo que usa a língua como veículo de comunicação e interação social, essa sucessão não existe. A
única e verdadeira realidade tangível que se lhe apresenta de forma imediata é a do estado sincrônico da língua. Além
Pós-Graduação a Distância
Sincronia/Diacronia
19
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
disso, como a relação entre o significante e o significado é arbitrária, estará continuamente sendo afetada pelo tempo,
daí a necessidade de o estudo da língua ser prioritariamente sincrônico. Sirva de exemplo o substantivo romaria, que
significava originalmente “peregrinação a Roma para ver o Papa”. Hoje, no entanto, é usado unicamente para designar
“peregrinação religiosa em geral”.
Saussure deixa bem claro que sua preferência pelo estudo sincrônico não significa exclusividade. Ele próprio afirma que
“a cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é
uma instituição atual e um produto do passado”.
Castelar Carvalho reafirma que “a língua, portanto, será sempre sincronia e diacronia em qualquer momento de sua
existência. O ponto de vista da ciência linguística é que poderá ser ou sincrônico ou diacrônico, dependendo do fim que se
pretende atingir. E há determinados casos, por exemplo, em que a descrição sincrônica pode perfeitamente ser conjugada
com a explicação diacrônica, enriquecendo-se, desse modo, a análise feita pelo linguista. Por exemplo, podemos descrever
o verbo pôr como pertencente à segunda conjugação, apelando para as formas sincrônicas atuais pões, põe, puseste,
etc., além dos adjetivos poente e poedeira, nos quais o -e- medial aí existente (ou remanescente) funciona estruturalmente
como vogal temática. Ao mesmo tempo, podemos enriquecer a descrição sincrônica, complementando-a com a explicação
diacrônica: o atual verbo pôr já foi representado pelo infinitivo arcaico poer, que, por sua vez, se vincula ao latim vulgar
ponere, com a seguinte cadeia evolutiva: poněre > ponēre > poner > põer > poer > pôr.
Encarados sob essa perspectiva, os pontos de vista sincrônico e diacrônico não são excludentes, ao contrário, são
complementares. Seja como for, vale registrar que Saussure, deixando de se preocupar com o processo pelo qual as
línguas se modificam, para tentar saber o modo como elas funcionam, deu, coerentemente, primazia ao estudo sincrônico,
ponto de partida para a Linguística Geral e o chamado método estruturalista de análise da língua.
Semiologia e linguística
A Semiologia (ou Semiótica) se diferencia da Linguística por sua maior abrangência. A Semiologia estuda não apenas a
linguagem humana e verbal, mas também toda linguagem produzida por animais. A Linguística se preocupa apenas com
o estudo linguístico humano.
O signo linguístico
Saussure afirma que “sentido” é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a representação mental de um objeto ou
da realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada pela formação sociocultural que nos cerca
desde o berço. Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado (plano das ideias), algo como o
lado espiritual da palavra, sua contraparte inteligível, em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua parte
sensível. Por outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica
desse som”. Melhor dizendo, a imagem acústica é o significante. Com isso, temos que o signo linguístico é “uma entidade
psíquica de duas faces”, semelhante a uma moeda.
Introdução à Linguística
Mais tarde, Jakobson e a Escola Fonológica de Praga irão estabelecer definitivamente a distinção entre som material
e imagem acústica. Ao primeiro chamaram de fone, objeto de estudo da Fonética. À imagem acústica denominaram de
fonema, conceito amplamente aceito e consagrado pela Fonologia.
20
Os dois elementos – significante e significado – constituem o signo, “estão intimamente unidos e um reclama o outro”.
São interdependentes e inseparáveis, pois sem significante não há significado e sem significado não existe significante.
Exemplificando, diríamos que quando um falante de português recebe a impressão psíquica que lhe é transmitida pela
imagem acústica ou significante / kaza /, graças à qual se manifesta fonicamente o signo casa, essa imagem acústica,
de imediato, evoca-lhe psiquicamente a ideia de abrigo, de lugar para viver, estudar, fazer suas refeições, descansar,
etc. Figurativamente, diríamos que o falante associa o significante / kaza / ao significado domus (tomando-se o termo
latino como ponto de referência para o conceito).
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Sintagma/Paradigma
O sintagma relaciona-se ao caráter linear do signo linguístico, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos
ao mesmo tempo. Castelar de Carvalho afirma que a língua é formada de elementos que se sucedem um após outro
linearmente, isto é, “na cadeia da fala”. À relação entre esses elementos Saussure chama de sintagma: o sintagma se
compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas: re-ler, contra todos, a vida humana, Deus é bom, se fizer bom
tempo, sairemos, etc.
Colocado na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor em virtude do contraste que estabelece com aquele que
o precede ou lhe sucede, “ou a ambos”, visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo que outro, em virtude
do seu caráter linear. Em “Hoje fez calor”, por exemplo, não podemos pronunciar a sílaba je antes da sílaba ho, nem
ho ao mesmo tempo que je; lor antes de ca, ou ca simultaneamente com lor é impossível. É essa cadeia fônica que faz
com que se estabeleçam relações sintagmáticas entre os elementos que a compõem. Como a relação sintagmática se
estabelece em função da presença dos termos precedente e subsequente no discurso, Saussure a chama também de
relação in præsentia.
Por outro lado, fora do discurso, isto é, fora do plano sintagmático, se, em “Hoje fez calor”, dizemos hoje pensando opô-lo
a outro advérbio, ontem, por exemplo, ou fez em oposição a faz, e calor a frio, estabelecemos uma relação paradigmática
associativa ou in absentia, porque os termos ontem, faz e frio não estão presentes no discurso. São elementos que se
encontram na nossa memória de falante “numa série mnemônica virtual”, conforme esclarece Saussure.
O paradigma é assim uma espécie de “banco de reservas” da língua, um conjunto de unidades suscetíveis de aparecer
num mesmo contexto. Desse modo, as unidades do paradigma se opõem, pois uma exclui a outra: se uma está presente,
as outras estão ausentes. É a chamada oposição distintiva, que estabelece a diferença entre signos como gado e gato
ou entre formas verbais como estudava e estudara, formados respectivamente a partir da oposição sonoridade / não
sonoridade e pretérito imperfeito / mais que perfeito. A noção de paradigma suscita, pois, a ideia de relação entre unidades
alternativas. É uma espécie de reserva virtual da língua.
A visão saussuriana da língua como um sistema de valores está intimamente associada à sua célebre frase: “na língua
só existem diferenças”, ou seja , ela funciona sincronicamente e com base em relações opositivas (paradigmáticas) no
sistema e contrastivas (sintagmáticas) no discurso. Tendo como ponto de partida as ideias motrizes contidas no Curso
de linguística geral, formaram-se várias escolas estruturalistas (fonológica de Praga, estilística de Genebra, funcionalista
de Paris, glossemática de Copenhague), que deram consequência e continuidade ao pensamento infelizmente inacabado
do genial fundador da Linguística moderna.
Avran Noam Chomsky (Filadélfia, 1928)
Chomsky é professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. É o grande responsável pela criação
da gramática gerativa transformacional e da relação entre matemática e linguagem. A revista Superinteressante, em
sua edição 188, sintetizou toda a importância da pesquisa de Chomsky.
Pós-Graduação a Distância
Define-se o sintagma como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”. Trata-se, portanto,
de relações (relação = dependência, função) nas quais o que existe, em essência, é a reciprocidade, a coexistência ou a
solidariedade entre os elementos presentes na cadeia da fala. Essas relações sintagmáticas ou de reciprocidade existem,
a nosso ver, em todos os planos da língua: fônico, mórfico e sintático, ao contrário do que deixa entrever a definição do
próprio Saussure, que nos induz a conceber o sintagma apenas nos planos mórfico e sintático. Sendo assim, o sintagma,
em sentido lato, é toda e qualquer combinação de unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da rede
de relações da língua. Por exemplo, no plano fônico, a relação entre uma vogal e uma semivogal para formar o ditongo
(ai /ay/); no nível mórfico, a própria palavra, com seus constituintes imediatos, é um sintagma lexical (am + a + va + s);
sintaticamente, a relação sujeito + predicado caracteriza o sintagma oracional (Pedro / estudou a lição.).
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A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
“Quando o naturalista inglês Charles Darwin observou os seres vivos e entre eles percebeu nexos e continuidades,
combinando as ideias de evolução e de seleção natural, o mundo nunca mais foi o mesmo, porque nossa compreensão acerca
da vida mudou. Do linguista e pensador americano Avram Noam Chomsky se pode dizer o mesmo. Autor de mais de 70
livros traduzidos para mais de dez línguas, Chomsky também revolucionou sua área científica, a exemplo de Darwin.”
Chomsky mudou o objeto de estudo da linguística. Como tinha acontecido um século antes no domínio da natureza bruta,
também na ciência da linguagem pouca gente tinha ousado alguma teoria unificadora. Chomsky o fez.
Linguística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Quando Chomsky
apareceu no cenário intelectual, esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para falar a verdade,
dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. O
segundo salto foi o estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913).
Na visão clássica, estudava-se uma língua só por meio dos textos escritos. Os linguistas rastreavam registros escritos,
desde as línguas antigas (latim, grego, aramaico) até alcançar o presente. Esse tipo de abordagem exigia estudiosos
que dominassem várias línguas, fazendo descrições de cada caso. Havia pouca capacidade de generalização, ou seja,
de transpor o conhecimento acumulado sobre uma língua para outra língua. Era uma abordagem enciclopédica, que
considerava os registros escritos como o ponto alto de um idioma.
No começo do século 20, era essa visão normativa, com separação clara do que era certo e o que era errado, que
dominava o estudo da língua. Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e sim estabelecer
e perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente prestigiadas. O exemplo brasileiro mais saliente dessa visão é
o de Ruy Barbosa, o jurista e político cujos textos, até a metade do século passado, foram tidos como um exemplo de
português culto. Essa visão também influenciava o ensino. Na escola, estudava-se a origem da língua (seus pais ou avós
provavelmente tiveram aulas de latim) e as mudanças que ocorreram na língua-mãe, até chegar à língua moderna culta.
Parecia impossível ensinar o idioma de outro modo.
Saussure inovou, comparando o aprendizado de uma língua a um jogo de xadrez. Numa partida em curso, qualquer
pessoa pode tomar o lugar de um dos jogadores, porque as regras do jogo são poucas e bem conhecidas. Por isso, não
importa muito saber como o cavalo foi parar ali, ou como a torre foi perdida. O que vale é saber que, dada a situação das
peças e conhecidas as regras, a partida pode seguir, agora manejada por alguém que chegou depois do início. Assim é o
aprendizado da língua, disse ele: ninguém tem que obrigatoriamente saber a história da língua para falá-la e escrevê-la
aqui e agora.
Introdução à Linguística
Foi um golpe certeiro. O estruturalismo, como ficou conhecida essa modalidade de estudo da língua, foi tão bem recebido
que se expandiu para outras áreas (a antropologia, por exemplo). Para os adeptos dessa visão, estudar uma língua é
realçar as estruturas que a compõem e descrevê-las, sem ligar para a história que a trouxe do mundo primitivo até o
presente. Estava aberto o caminho para uma abordagem científica da linguagem, porque não se tratava mais de caçar
o certo e o errado, mas de tomar a língua como um objeto. Com isso, caía por terra a suposta superioridade de uma
língua sobre outra.
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Tal mudança tinha motivações concretas. Uma delas era o contato cada vez mais frequente com línguas não oriundas
nem do latim nem do grego. Com sua postura etnocêntrica e escritocêntrica, um linguista clássico, defrontado com uma
língua indígena puramente oral, sem registro escrito, nada podia fazer. O idioma morreria com o último falante nativo.
(Anos depois, Chomsky disse que com a perda de uma língua se perde uma pista, talvez irrecuperável, para a solução
do mistério da linguagem humana.) Mas, se ele quisesse conhecer o modo de ser daquela cultura, seria preciso outra
atitude: gravar as falas dos índios, anotá-las e depois descrevê-las no maior detalhe possível.
O estruturalismo permitia essa revolucionária abordagem: não há aquela visão normativa, de certo e errado, nem
necessidade de recorrer à história para entender o presente. A ênfase recai sobre a base empírica, sobre os dados de
linguagem verificáveis. Pela primeira vez, a língua ganha estatuto científico, com autonomia em relação à moral, à
cultura, aos bons costumes.
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Como se faz um linguista
A formação acadêmica de Chomsky é curiosa. Filho de professor de hebraico, ele dispunha de um conhecimento familiar da
matéria, manejando o inglês e o hebraico com intimidade. Avram Noam nasceu em 7 de dezembro de 1928, em Filadélfia,
Pensilvânia. Seu pai era William (originalmente, Zev) Chomsky, judeu russo que emigrou para a América em 1913, para
não ser obrigado a servir no Exército. Sua mãe se chamava Elsie Simonofsky. Os dois tinham profundas relações com a
tradição judaica, e William logo se tornou especialista na gramática do hebraico.
Noam passou por experiência escolar marcante. Dos 2 aos 12 anos, frequentou um colégio inspirado nas ideias de John
Dewey (1859-1952), filósofo americano que pregava um ensino livre de avaliações formais, a favor da criatividade, com
desafios à inteligência e nenhuma caretice. Nesse clima, Noam escreve seu primeiro artigo, para o jornal da escola, sobre
a queda de Barcelona, foco de resistência dos anarquistas, durante a Guerra Civil espanhola. Tinha 10 anos.
Tão positiva foi essa experiência de aprendizado libertário, que a passagem para uma escola tradicional, na adolescência,
foi um choque. Lá ele aprenderia os horrores da avaliação emburrecedora e da doutrinação ideológica, que ele passou a
combater de corpo e alma. Anos depois, em carta a seu biógrafo, ele comentava a consciência que começou a desenvolver
ao descobrir-se torcedor do time de futebol da escola. Por que eu estou torcendo por esse time? Eu não conheço essa
gente, e eles não me conhecem. Então, por que eu torço? Bem, é o tipo da coisa que você é treinado para fazer. É uma
coisa incutida em você. É uma coisa que leva ao ufanismo e à subordinação mental. Mas seu pensamento libertário o
isolava. No dia em que seu país bombardeava Hiroshima e Nagasaki, Chomsky estava em férias numa colônia da escola.
Ele disse que se sentiu horrorizado, enquanto seus colegas comemoravam.
Bom leitor desde a infância, Chomsky teve uma formação particular. Aos 13 começou a frequentar Nova York, onde tinha
parentes, entre eles um tio, dono de banca de revistas, que funcionava como centro cultural informal. Era um sujeito de
formação fraca, mas inteligente. Levado por parentes, frequentou círculos anarquistas, tudo imerso no mundo cultural dos
imigrantes judeus recém-vindos da Europa, gente com ótima formação cultural, embora ali trabalhassem em ofícios manuais.
Por essa altura, ele passou a apoiar o sionismo, o movimento religioso e político, originado no século 19, que pregava o
restabelecimento, na Palestina, de um Estado judaico. Mas é preciso ver que na época, antes da fundação do Estado de
Israel, em 1948, ser sionista era ser de esquerda. Os sionistas de então acreditavam que o novo país seria uma sociedade
solidária, com matizes socialistas que se configuraram nos kibutzim, colônias de produção coletiva e cooperação entre os
palestinos e os judeus. Alguns anos mais tarde, quando começou a namorar sua futura esposa, Carol Schatz, enfrentou
uma escolha difícil: seguir a carreira acadêmica ou migrar para Israel? Mas a maior aproximação com Israel foram algumas
semanas passadas em um kibutz, em 1953.
Anos depois, sua posição sobre Israel foi tomada como antissionista. Mas foi a palavra que mudou de sentido. A partir
da ocupação de territórios palestinos e árabes por Israel, ser sionista passou a significar apoio à política expansionista
e antiárabe do Estado de Israel.
Na universidade, caminhou entre a filosofia e a linguística, sem nunca perder de vista o debate e a prática da esquerda
libertária não comunista. Aprendeu árabe. Em 1947, quando estava decidindo sua especialidade, encontrou Zellig Harris,
linguista e pensador judeu americano que foi para ele um parâmetro moral, político e científico. Harris, também sionista,
era estruturalista, e Chomsky aprendeu muito com ele. O suficiente para superá-lo.
Pós-Graduação a Distância
Isso explica, em parte, por que Chomsky nunca foi marxista, muito menos leninista: ele sabia que havia brutalidade
também do lado soviético. Desenvolveu ainda um senso agudo de leitor: para ele, pensadores marxistas como o húngaro
Georg Lukács (1885-1971) não lhe soavam profundos, mas confusos. E a clareza e a simplicidade lhe parecem marcas
essenciais das grandes ideias. Daí sua admiração por Dwight MacDonald, pelo ficcionista inglês George Orwell (19031950), e por Bertrand Russell (1872-1970). Aliás, um dos raros elementos decorativos presentes na sala de Chomsky
no Massachusetts Institute of Technology (MIT), o prestigiado instituto americano onde ele hoje leciona, é um pôster
de Russell, admirado como filósofo, aliado das classes populares e crítico do papel da elite na reprodução ideológica de
seu poder.
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A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Descobertas renovadas
Sua entrada para o MIT ocorreu em 1955. Universidade tecnológica com pouca tradição em humanidades e, por isso
mesmo, livre da burocracia e da ciumeira tradicionais nas ciências humanas, o instituto não se importou com o fato de
Chomsky ter uma formação híbrida de matemática, psicologia, filosofia e linguística. Ele vai trabalhar numa atividade de
que discordava, o desenvolvimento de uma máquina de tradução, para decodificar comunicações cifradas, na Guerra Fria.
A pesquisa tinha patrocínio de nada menos que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica americanas, mais a Nasa, a
agência espacial. Para um esquerdista, era uma saia justa ideológica, que ele desvestiu com elegância: ao publicar o hoje
clássico Aspectos da Teoria da Sintaxe, em 1957, o primeiro produzido no MIT, ele cita seus financiadores e declara que
é permitida a reprodução daquele trabalho para qualquer finalidade do governo dos Estados Unidos.
A relação de Chomsky com governos nunca foi tranquila. Ele rejeita sistematicamente convites oficiais, mesmo vindos de
governos de esquerda. Ao Brasil, ele veio em 2009, quando o Fórum Social Mundial o convidou mas aí eram organizações
não governamentais.
No MIT, Chomsky desenvolveu uma crítica ao estruturalismo. Essa corrente concebia a linguagem como algo que se
aprendia por imitação. Era uma teoria behaviorista, baseada na crença de que, em última instância, o ser humano não
tem nada de inato, tudo é aprendido por adestramento. O maior formulador dessa teoria foi o psicólogo americano B.F.
Skinner (1904-1990), famoso pela descrição de mecanismos de controle das ações humanas por estímulo e resposta.
Chomsky tem coceiras na alma quando ouve falar de adestramento, dada sua crença na criatividade humana. Em sua
concepção, a linguagem é uma capacidade humana natural, inscrita no DNA. É a tese que defende em vários artigos e
livros hoje clássicos, como Linguística Cartesiana, em que toma o mote do racionalista francês René Descartes (15951650) sobre tal questão. Dizia Descartes: se uma criança for criada entre lobos, ela não desenvolverá a linguagem. Mas,
se voltar ao convívio humano, tudo volta ao que deveria ser, e ela aprende a falar. Já um macaco, mesmo que seja criado
apenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é inata.
Pode parecer pouco, mas essa posição é revolucionária, ainda que recupere pensadores racionalistas e iluministas. Ao
criticar Skinner, Chomsky estava não apenas discutindo linguística, mas atacando a convergência entre o ponto de
vista científico e o desejo de domínio das classes dominantes sobre as pessoas. Mais ainda, Chomsky estava mudando
radicalmente a localização do objeto de estudo da linguística: enquanto para os estruturalistas a língua era algo externo ao
homem, para ele o foco era a capacidade inata da linguagem, porque ali, dentro de todos e de cada um, está um tesouro,
que é preciso estudar. (Essa capacidade que faz você, leitor, entender esta frase que está lendo agora, frase que nunca
tinha lido antes mas que faz sentido, esta capacidade é o objeto da linguística chomskyana.)
Introdução à Linguística
Chomsky também diverge do empirismo dos estruturalistas. Para eles, a tarefa do linguista consiste em descrever as
línguas tal como se apresentam, na fala das pessoas ou nos textos. Para Chomsky, esse caminho positivista é um beco
sem saída, ou melhor, um caminho sem fim: cada época, cada região e mesmo cada indivíduo sempre modificam um
pouco a língua, de maneira que o trabalho seria uma catalogação infinita. Começou a falar alto a parte matemática de
sua formação.
24
Chomsky postulou que se pode descrever algebricamente as línguas ou melhor, a língua humana , a partir de esquemas
abstratos e não de dados colhidos em cada situação. Saiu da visão indutiva e passou à dedução: em vez de procurar as
particularidades de cada língua, ele cogitou que, sendo manifestações de uma condição inata, as línguas devem guardar
características universais, marcas de sua origem comum no cérebro humano.
Para descrever o processo cerebral que dava origem às frases, Chomsky postulou a tese de que a linguagem humana
ocorre em dois níveis: uma estrutura profunda, na qual o raciocínio ocorreria sem o uso de palavras (mais propriamente,
essa estrutura corresponderia ao que hoje concebemos como um software), e uma estrutura superficial, que são as
frases que dizemos, pensamos e escrevemos. Entre os dois níveis haveria um conjunto de transformações, que o linguista
deveria descrever.
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Um exemplo clássico. Tome duas frases: João comprou o caderno e O caderno foi comprado por João. Para um
estruturalista, que só trabalha com a língua manifestada, observável diretamente, elas são muito diferentes. Já para
Chomsky as duas frases seriam, apesar das diferenças óbvias, muito próximas, porque dizem a mesma coisa, descrevem
a mesma ação, mudando a ênfase a primeira começa a frase pelo agente da ação, enquanto a segunda inicia com o objeto
(as formas ativa e passiva). Ou seja: na estrutura profunda, as duas frases seriam uma só. As transformações entre um
estágio e outro é que seriam objeto do linguista.
Vêm daí as nomenclaturas originais de sua teoria: ele queria descrever uma gramática (no sentido de conjunto de regras
de funcionamento da língua) que fosse gerativa (capaz de gerar, no sentido matemático, todas as frases possíveis a
partir de um conjunto limitado de regras e elementos) e transformacional (que descrevesse as regras de transformação
entre as duas estruturas).
No século XIX, estudos comparativos levaram à hipótese de uma origem comum entre as línguas europeias e
as asiáticas. Elas pertenceriam a uma mesma família linguística, denominada indo-europeu. Para os cientistas
da linguagem, no entanto, a protolíngua dessa família não é a língua que deu origem a todas as outras. Chegou-se
ao indo-europeu através da comparação de manuscritos antigos em línguas orientais, como o Sânscrito, com
o que já se conhecia das línguas germânicas e latinas. Quando surgiram as primeiras formas de escrita, na
Antiguidade, já havia uma grande diversidade linguística no mundo. Como não há registro da forma em que
se falava naquele período, as hipóteses sobre uma língua original são consideradas pelo meio científico uma
mera especulação.
(www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling08.htm)
http://www.letramagna.com/gabrieldavillaothero.pdf
http://www.filologia.org.br/revista/38/03.html
http://www.filologia.org.br/revista/38/03.html
http://www.webartigos.com/articles/10408/1/varianteslinguisticas-no-contexto-da-internet/pagina1.html
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling08.htm
http://br.monografias.com/trabalhos903/historia-e-linguistica/
historia-e-linguistica2.shtml
Pós-Graduação a Distância
http://br.geocities.com/jacqueslacan19011981/textos2/
oticalacanianalinguistica.htm
25
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Capítulo 2 – Aquisição da Linguagem
Para determinar se o homem é o único a utilizar a linguagem,
devemos primeiro esclarecer o que entendemos por linguagem.
Se definirmos a linguagem como a capacidade de comunicação,
podemos dizer então que existem vários animais que se comunicam.
No entanto, a linguagem humana é extremamente flexível e criativa,
apoiada em regras gramáticas. Será que esse sistema também existe
em outros animais?
A Palavra
De todas as artes a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil é sem
dúvida a arte da palavra. De todas as mais se entretece e se compõe.
São as outras como ancilas e ministras: ela soberana e universal.
A estátua fala, mas fala como uma interjeição, que apenas expressa
um sentimento vago, indefinido, momentâneo. A pintura fala, mas
fala como uma frase breve em que elipse houvera suprimido boa
parte dos elementos essenciais. O edifício fala, mas fala com
uma inscrição abreviada, que desperta a memória do passado
sem particularizar os aconteciemento a que alude. A música fala,
mas fala apenas à sensibilidade, sem que o entendimento a possa
claramente descernir.
Introdução à Linguística
Só a palavra, nas artes que é matéria-prima, fala ao mesmo tempo
à fantasia e à razão, ao sentimento e às paixões. Só ela, Pigmalião
prodigioso, esculpe estátuas que vão saindo vivas e animadas da
pedra ou do madeiro, onde as delineia e arredonda o seu buril. Só a
palavra, mais inventiva do que Zêuxis, sabe desenhar e coloria figura
e latinos e os Calícrates, traça, dispões, exorna e arremessa aos
ares monumentos mais nobres e ideais que o Partenão de Atenas.
26
Só a palavra, mais comovedora e persuasiva do que o pletro dos
Orfeus, encandeia à sua lira mágica estas feras humanas ou
desumanas, que se chamam homens, arrebatados e enfurecidos
nas mais truculentas alucinações.
Latino Coelho
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
A preocupação da linguística é o estudo da língua como um todo e em suas partes. Este curso não tem a preocupação
apenas de demonstrar as teorias acerca da linguística. Assim, optamos por incluir um capítulo sobre a aquisição da
linguagem. É um estudo maravilhoso e apresenta uma das maiores façanhas do indivíduo em toda a sua vida. Explicar
esse processo é uma das preocupações da Linguística. Francine Ferreira Vaz e Renato Raposo argumentaram sobre o
assunto de forma muito didática. A seguir, apresentaremos suas principais ideias.
A Aquisição da Linguagem
Por que os bebês não nascem falando? Segundo Pinker (2002), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros estarem
completamente formados. Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período proporcional àquele
de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exatamente a idade na qual os bebês começam a falar, portanto,
nasceriam falando.
O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento, os neurônios já estão formados e
já migraram para as suas posições no cérebro, mas o tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtex
cerebral, onde se localizam as sinapses, continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância não
se completam antes do nono mês e a bainha de mielina continua se adensando durante toda a infância. As sinapses
aumentam significativamente entre o nono e o vigésimo quarto mês, a ponto de terem 50% a mais de sinapses que os
adultos. A atividade metabólica atinge níveis adultos entre o nono e o décimo mês, mas continuam aumentando até
os quatro anos. O cérebro também perde material neural nessa fase. Um enorme número de neurônios morre ainda na
barriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e só se estabiliza aos sete anos. As sinapses também
diminuem a partir dos dois anos até a adolescência quando a atividade metabólica se equilibra com a do adulto. Dessa
forma, pode ser que a aquisição da linguagem dependa de uma certa maturação cerebral e que as fases de balbucio,
primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões a longa distância
e de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem. (PINKER, 2002)
Balbuciando
É comum dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem em duas fases: pré-linguística e linguística. No estágio prélinguístico, a capacidade linguística da criança desenvolve-se sem qualquer produção linguística identificável. Sem levar
em conta as mudanças biológicas que facilitam o desenvolvimento linguístico e ocorrem nos primeiros meses de vida
da criança, é o balbuciar dos bebês de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem.
Por outro lado, McNeil (1970 in STILINGS, 1989) ressalta que a ordem que os sons aparecem durante o período de balbucio
é, geralmente, contrária àquela que eles aparecem nas primeiras palavras da criança. Por exemplo, consoantes posteriores e
vogais anteriores, como [k], [g] e [i], aparecem cedo nos balbucios das crianças, mas tarde no seu desenvolvimento fonológico.
Primeiras Palavras
Segundo Stillings (1987), o primeiro estágio verdadeiramente linguístico da criança parece ser o estágio de uma palavra.
Nesse estágio, que aparece a poucos meses delas completarem um ano, as crianças produzem suas primeiras palavras.
Pós-Graduação a Distância
Esse período é tipicamente descrito como pré-linguístico porque os sons produzidos não são associados a nenhum
significado linguístico. O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados
em alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes não sejam a língua que a criança irá, posteriormente, falar. O
significado dessa observação não é claro. Alguns, como Allport (1924 in STILLINGS, 1989), afirmam que os balbucios
sinalizam o começo da habilidade de comunicação linguística da criança. Nesse estágio, os sons oferecem o repertório
no qual a criança irá identificar os fonemas da sua língua.
27
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Durante esse estágio, as suas falas se limitam a uma palavra, que é pronunciada de maneira um pouco diferente da dos
adultos. Muitos fatores contribuem para essa pronúncia não usual: alguns sons parecem estar fora da escala auditiva
das crianças, por dependerem da maturação de alguns nervos. Sons que são difíceis para a criança detectar, tornam-se
difíceis para elas aprenderem.
Além disso, alguns sons parecem ter uma articulação difícil para as crianças. Por exemplo, é comum ver crianças que
possuem desenvolvimento linguístico adiantado mas não conseguem pronunciar o [r]. Algumas vezes, sons fáceis podem
se tornar difíceis na presença de outros sons. Por exemplo, crianças no estágio de uma palavra frequentemente omitem
o som das consoantes finais.
Crianças, nessa fase, além de pronunciar as palavras de maneira diferente também querem dizer coisas diferentes com
elas. Muitos pesquisadores perceberam que as crianças parecem expressar significados complexos com suas expressões
curtas. É como se suas sentenças de uma palavra representassem um pensamento completo. Esse uso da linguagem
indica que o desenvolvimento conceitual da criança tende a ultrapassar seu desenvolvimento linguístico nos primeiros
estágios da aquisição. Nós devemos traçar essa conclusão com cuidado, no entanto, já que julgamentos sobre o que as
crianças querem dizer nos seus primeiros estágios de desenvolvimento são difíceis de fazer.
Acessando essa e outras propriedades do sistema semântico da criança, nós temos que considerar a questão da natureza
do significado. Em particular, é importante esclarecer que tipo de conhecimento a criança deve dominar durante o processo
de aquisição de linguagem. A distinção de Frege (STILLINGS, 1989) entre sentido e referência é relevante; nós podemos
explorar como as crianças formam e organizam conceitos e como elas aprendem a referenciá-los. Clark (1973 in STILLINGS,
1989) e Anglin (1977 in STILLINGS, 1989) mostraram que as primeiras referências das crianças partem sistematicamente
em duas direções particularmente opostas daquelas da comunidade falante dos adultos. Em alguns casos, as crianças usam
as palavras para referenciar inapropriadamente um vasto número de objetos. Por exemplo, carro poder ser usado para
referenciar um objeto grande que se move ou qualquer objeto que serve para fazer transporte. Em outros casos, crianças
usam as palavras de uma maneira extremamente restrita, criando um drástico limite para um conjunto de referenciais
permitidos. Por exemplo, uma criança usa a palavra cachorro para designar apenas o cachorro da família.
Essa superextensão e subextensão são bem frequentes nos primeiros diálogos das crianças, mas decrescem quando seu
léxico se torna similar ao dos adultos. A explicação de Clark (1973 in STILLINGS, 1989) para a aquisição semântica
envolve, crucialmente, a hipótese de que as crianças aprendem o significado de uma palavra mediante a união de várias
características semânticas que coletivamente constituem o conceito expresso pelo termo.
Introdução à Linguística
De fato, essa hipótese sobre o desenvolvimento léxico vê a criança reunindo um banco de dados em que as características
semânticas primitivas são associadas em grupo a um item lexical. Se uma criança, erradamente, associa muitas ou
poucas características a um termo, o conceito resultante estará excessivamente generalizado ou excessivamente restrito,
respectivamente, a superextensão e subextensão. Apesar dos detalhes da explicação serem controversos, a ideia de
que as crianças constroem conceitos por meio de algum tipo de conceitual primitivo é mais aceitável. Como no caso da
aquisição fonológica, existem evidências de que as crianças adquirem uma representação abstrata durante o aprendizado
da sua língua, mesmo nos primeiros estágios de aquisição.
28
Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição de linguagem seja de que a criança simplesmente adquire
sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelas
de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Como esses sistemas abstratos foram
deduzidos, principalmente, por meio das experiências das crianças na comunidade linguística, as diferenças entre a
gramática da criança e a do adulto são compreensíveis.
O Surgimento da Sintaxe
A partir do estágio de duas palavras é possível examinar o desenvolvimento sintático, mesmo que seja de maneira
rudimentar. Uma hipótese popular sobre os padrões das expressões de duas palavras (BRAINE, 1963 in STILLINGS,
1987) diz que as crianças organizam seu vocabulário em duas classes lexicais chamadas de pivô e aberta. Assim, nesse
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
estágio a fala da criança seria composta de duas palavras da classe aberta ou uma palavra da classe aberta e uma da
classe pivô, já que no estágio de uma palavra elas utilizam palavras da classe aberta. Essa subdivisão dependerá da fala
de cada criança, desse modo toda palavra usada sozinha pertencerá à classe aberta.
O ponto é que justaposição de palavras não implica relação semântica entre ela. Essas relações semânticas tendem a
aparecer com o tempo, quando as combinações de palavras aumentarem. A primeira relação a aparecer é a de modificadormodificado (mais biscoito) e a de agente-ação (cachorro come). Essa relação semântica (algumas vezes chamada de
relação temática) aparentemente começa no estágio de duas palavras. Alguns pesquisadores como Bloom (1970 in
STILLINGS, 1989) e Bowerman (1973 in STILLINGS, 1989), propuseram que a relação temática é a primeira relação
estrutural importante que a criança usa para construir expressões com mais de uma palavra, sugerindo que a gramática
da criança seria mais bem descrita através das funções das palavras. Em vez de sintagma nominal e verbal, falaríamos
em agente e ação. Outra sugestão dada por Berwick e Weinberg (1983 in STILLINGS, 1989), é que a primeira gramática
das crianças está baseada na suposição de que toda relação sintática está correlacionada com uma relação temática.
Desse modo, nos primeiros estágios de desenvolvimento, toda sequência nome-verbo seria interpretada como agente-ação
e similarmente para outras sequências sintáticas.
O sistema linguístico da criança nessa fase também é diferente da do adulto. Além das diferenças de pronúncia e
significado, elas também possuem uma gramática diferente da deles. Obviamente produzem sentenças mais breves; além
da maioria delas serem sentenças inovadoras, não sendo apenas imitações da dos adultos.
Além do Estágio de Duas Palavras
Embora os estágios de uma e duas palavras não tenham um início e um final determinado, existem características
confiáveis para identificá-los. A partir desse ponto, no entanto, isso não será mais possível.
À medida que o MLU (média de palavras por expressão) aumenta, a complexidade da gramática que gerencia essas
palavras torna-se mais complexas, no entanto, continua sendo deficiente em relação à dos adultos (crianças de dois e
três anos). O discurso das crianças dessa idade é descrito como discurso telegráfico, omitindo pequenas palavras como
determinantes e preposições. Além disso, existem problemas com as estruturas que não seguem uma regra geral, por
exemplo, é comum as crianças dizerem eu trazi, generalizando a regra dos verbos regulares.
O interessante é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Uma
explicação para essa regressão é que no início elas simplesmente imitam a formação do verbo, mais tarde, no entanto,
após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Porém, com o passar do tempo
acabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização.
Após o estágio de duas palavras as crianças expandem seu vocabulário, aprendem as regras de construção (negativa,
passiva, etc.) presentes na língua, aprendendo seu sistema fonológico e morfológico, aperfeiçoando sua pronúncia, e,
geralmente, alcançando a convenção adulta de maneira bem rápida (entre os seis e sete anos), mesmo que demorem
mais a aprender estruturas mais complexas, como a voz passiva.
O Ponto Crítico
Todos nós sabemos que é muito mais fácil aprender uma segunda língua na infância. A maioria dos adultos nunca chega
a dominar uma língua estrangeira, sobretudo sua fonologia, o que gera o inevitável sotaque. Segundo Pinker (2002),
“existem diferenças individuais, que dependem do esforço, qualidade de ensino e simples talento, mas, ainda assim e
mesmo nas melhores circunstâncias, parece haver uma barreira intransponível para qualquer adulto.”
Pós-Graduação a Distância
Próximas Fases de Desenvolvimento
29
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Dados mais sistemáticos nos são fornecidos pela psicóloga Elissa Newport e seus colegas (PINKER, 2002). Eles testaram
estudantes e professores da Universidade de Illinois nascidos na Coreia e na China que já viviam há pelo menos dez anos
nos Estados Unidos. Aqueles que tinham migrado entre os 3 e 7 anos, alcançaram o desempenho dos americanos nativos.
A partir desse ponto, quanto mais velho, pior era a assimilação da nova língua.
Quanto à língua materna, são raros os casos de pessoas que chegam a puberdade sem tê-la adquirido. Até os deficientes
auditivos tem mais facilidade de aprender a língua de sinais antes da fase adulta. No caso de crianças selvagens encontradas
na floresta ou em lares de pais psicóticos, elas podem aprender a se comunicar de forma clara ou não, dependendo da
idade em que foram encontradas.
Resumindo, a aquisição de linguagem é certa até os seis anos, fica comprometida depois dessa idade até a puberdade
e é rara depois disso. Uma explicação plausível seria as alterações maturativas que ocorrem no cérebro, tais como o
declínio da atividade metabólica e do número de neurônios durante o início da vida escolar, e a estagnação no nível mais
baixo do número de sinapses e da atividade metabólica por volta da puberdade.
Pinker (2002, p. 374-5) cria uma metáfora interessante para tentar explicar essa perda de funcionalidade cerebral:
Imagine que o que os genes controlam não é uma fábrica mandando peças para o mundo, mas a
oficina de uma companhia teatral de poucos recursos para a qual vários cenários, adereços e materiais
retornam periodicamente a fim de serem desmanchados e remontados para a próxima produção. A
qualquer hora, diferentes engenhocas podem ser produzidas na oficina, dependendo da necessidade
do momento. A ilustração biológica mais óbvia é a metamorfose.
(...) Mesmo nos humanos, o reflexo de sucção desaparece, os dentes nascem duas vezes e uma coleção
de característica sexuais secundárias emergem dentro de um cronograma maturacional. Agora,
complete a mudança de ponto de vista. Pense na metamorfose e nas mudanças maturacionais não
como exceção mas como regra. Os genes, moldados pela seleção natural, controlam corpos ao longo
de toda a vida; seus propósitos perduram enquanto forem úteis, nem antes nem depois. A razão para
termos braços aos sessenta anos não é o fato de eles estarem ali desde o nascimento, mas porque
braços são tão úteis para um sexagenário quanto o são para um bebê.
Introdução à Linguística
Segundo ele, nós não devemos perguntar “Por que a capacidade de aprender desaparece?”, mas sim “Quando a
capacidade de aprender é necessária?”. Logo, ela deve aparecer o mais cedo possível, para podermos usufruí-la o maior
tempo possível, no entanto, ela é extremamente útil apenas uma vez, depois passa a ser supérflua. “Assim, a aquisição
linguística deve ser como as outras funções biológicas. A inépcia linguística de turistas e estudantes talvez seja o preço
a pagar pela genialidade linguística que demonstramos quando bebês, assim como a decrepitude da idade é o preço pelo
vigor da juventude.” (PINKER, 2002, p. 378)
30
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Confronto Sobre a Compreensão e Atuação da Linguagem
José Jailson
O confronto sobre a atuação da linguagem em todo o planeta proporciona estudos para compreender a dimensão
de língua/fala no processo de aquisição da linguagem, e com isso, dúvidas percutem o universo dos linguísticos
para entender os fenômenos da língua dentro do aspecto social.
A valorização da língua faz com que algumas pessoas não compreendam o uso das variações, contudo, implicam
diante dos fenômenos linguísticos o que se considera “certo ou errado” diante da fala.
O objetivo deste artigo é justamente perceber o confronto dos grandes estudiosos da língua para então
valorizar com amplitude todas as variações que constituem a linguagem, contudo, entendendo como se
processa os mecanismos linguísticos sem utilização das classes morfológicas, cujas regras são determinadas
gramaticalmente. Desse modo, explicita Bakhtin quando relata a relação entre linguagem e sociedade, colocando
sob o signo da dialética as estruturas sociais, sendo, portanto, a relevância principal do objetivo.
Fundamentação Teórica
A língua sendo foco de estudos desperta a atenção de grandes pesquisadores com a finalidade de entender a
dimensão linguística mediante o convívio com várias pessoas sob o contexto social/sociedade enquanto falantes
de um mesmo idioma, verificando o aspecto localidade (regiões diversificadas) sob a ótica dos dialetos diversos.
Bakhtin (2002) valoriza a fala e afirma sua natureza social, e não individual, que está ligada às condições
da comunicação perante as estruturas sociais. Argumentos dessa natureza conflitam-se com a de Saussure
quando o mesmo então não considera a língua um fato social, mas um objeto ideal rejeitando as manifestações
orais e individuais.
Na verdade, com esse confronto, a língua domina e não é dominada, isso porque, a falta de argumentos para
enfrentar os falantes é o que se torna subjetivo aos contrastes das fala/língua.
Bakhtin (2002) afirma que, o que torna a língua significante e coerente no quadro sincrônico é excluído e inútil
no quadro diacrônico, isso por que, diante do quadro sincrônico é impossível descrever uma língua e todas as
suas manifestações calcadas em um único momento. Labov (1983) afirma que a língua não é apenas um meio
de informação, mas uma maneira de inserir um individuo num grupo social.
Indiscutivelmente, a língua faz parte desse turbilhão conflituoso sobre a atuação da linguagem nos diversos
campos sociais que, por sua vez, são integrados no processo de interação nos grupos sociais. Nessa perspectiva,
a difusão linguística constitui conflitos, até porque Saussure determina a fala como um fenômeno social
tratando a língua de maneira individual.
A batalha é incansável no que diz respeito ao que é “certo ou errado” em relação à linguagem através do social/
particular de cada indivíduo, pois Labov (1983) assegura que há alterações das variedades linguísticas no que tange
os limites de uma determinada variedade geográfica, haja vista diversos fatores como a idade, a posição social,
grau de escolaridade, profissão, que favorecem para que haja as variedades linguísticas empregadas pelo falante,
seja de ordem lexical, morfológica ou fonológica. Enfim, todos esses fatores influenciam diante da linguagem.
Pós-Graduação a Distância
São inenarráveis as afirmativas e as ideias sobre a linguagem, uma vez que, o que mais se questiona é a
interação e integração do individuo na sociedade ou grupo social.
31
A Importância do Estudo da Linguística
Unidade I
Metodologia
A partir de estudos relevantes sobre a atuação da linguagem em meio aos conflitos sociais, uma análise se fez
necessária para entender e discernir a atuação da língua dentro dos grupos sociais.
Comparações foram realizadas através dos estudiosos supracitados permitindo uma compreensão ampla dos
fenômenos linguísticos e da relação entre língua e fala mediante o idioma, discutindo sobre os mecanismos
que regem o processo de aquisição da linguagem.
Conclusão
Vendo que a linguagem é de fato alvo de estudos por inúmeros pesquisadores, e assim compreender sua
dimensão linguística em meio aos fatores que percutem sua trajetória (a idade, a posição social, grau de
escolaridade, profissão) uma análise sobre os fundamentos da língua baseada nas concepções de Saussure,
Labov e Bakhtin se faz oportuna para entender os fragmentos compostos como interferência da língua como
caráter individual ou social.
Desse modo, perceber a linguagem como algo que é particular e que sofre variações devido aos contextos
diversos na sociedade parece complexo por entrar em contradição entre esses pesquisadores supracitados.
Links:
http://www.marxists.org/reference/subject/philosophy/works/us/
chomsky.htm
“Language and Mind - Linguistic Contributions to the Study of Mind
(Future)” texto de Noam Chomsky (1968). A página é em inglês e
possível links para páginas de outros pesquisadores, como Vygotsky,
Locke, Saussure, Jakobson, Descartes.
Introdução à Linguística
http://www.mit.edu/~pinker/
32
http://www.nce.ufrj.br/GINAPE/publicacoes/trabalhos/
RenatoMaterial/aquisicao.htm
http://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a13v16n2.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aquisi%C3%A7%C3%A3o_da_
linguagem
http://paginas.terra.com.br/educacao/gentefina/linguagem.htm
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling17.htm
Unidade II
Divisões Linguísticas
Unidade II
Divisões Linguísticas
Capítulo 3 – Principais Linhas de Estudo
Os contos de fadas exercem uma influência muito benéfica na
formação da personalidade porque, através da assimilação dos
conteúdos da estória, as crianças aprendem que é possível vencer
obstáculos e saírem-se vitoriosas, especialmente quando o herói
vence no final. Isso ocorre porque, durante o desenrolar da trama, a
criança se identifica com as personagens e “vive” o drama que ali é
apresentado de uma forma geralmente simples, porém impactante.
Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano, como a
inevitabilidade da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem e
o mal, a inveja, etc. são tratados nos contos de fadas de modo
a oferecer desfechos otimistas. Desta forma, oferece à criança
uma referência para elaborar os terríveis elementos ansiógenos
que habitam seu imaginário, como seus medos, desejos, amores e
ódios, etc., que na sua imatura e concreta perspectiva apresentamse amedrontadores e insolúveis. Esse aprendizado é captado pela
criança de uma forma intuitiva (por estarem os elementos sempre
carregados de simbolismo) tornando-se muito mais abrangente do
que seria possível se fosse feito pela compreensão meramente
intelectual. Acredita-se que o efeito integrador que os contos de
fadas têm sobre a personalidade seja o fator responsável pelo fato
de terem resistido à passagem do tempo e terem se universalizado.
Mariuza Pregnolato
Pós-Graduação a Distância
Estudos linguísticos revelam aspectos impressionantes do indivíduo
e da sociedade. Cada linha de pesquisa se mostra mais interessante
e essencial para a compreensão de quem somos.
33
Divisões Linguísticas
Unidade II
A linguística desenvolveu diversas linhas de investigação, cujos estudos e progressos contribuíram para a formação
de verdadeiras disciplinas dentro da linguística, em que a interdisciplinaridade é uma constante na sua metodologia de
análise. As principais linhas de investigação na linguística contemporânea são:
Linguística geral: estudo dos princípios gerais e translinguísticos subjacentes ao uso e funcionamento das línguas
naturais, independentemente da sua especificidade e diversidade.
Fonética: estudo da realidade acústica, do funcionamento articulatório e anatômico e da interpretação perceptiva dos
sons de uma determinada língua natural.
Fonologia: estudo do sistema sonoro de uma língua, das regras subjacentes à combinação desses sons e do modo como
esses sons exprimem distinções de significado.
Prosódia: estudo da dimensão suprassegmental da língua e do impacto, do ponto de vista comunicativo, que essa
dimensão exerce na língua, ou seja, a prosódia dedica-se à análise das variações sofridas pela frequência fundamental
(também entoação), pela intensidade e pela duração de certos segmentos linguísticos.
Morfologia: estudo da formação e da estrutura interna das palavras na língua.
Sintaxe: estudo das regras subjacentes à organização das palavras numa frase gramaticalmente bem formada.
Semântica: estudo do significado da produção e interpretação de palavras e frases.
Pragmática: estudo do uso da língua em contexto por oposição ao estudo do sistema da língua.
Análise do discurso: estudo do uso e funcionamento dos vários tipos de organização discursiva (como o discurso
narrativo, descritivo, argumentativo, explicativo, dialogal, entre outras possibilidades tipológicas).
Linguística histórica (ou diacrônica): estudo da origem e evolução de uma dada língua ao longo de um certo período
temporal.
Linguística aplicada: aplicação ao ensino/aprendizagem das línguas maternas e estrangeiras, dos princípios teóricos e
metodológicos resultantes da investigação das diversas áreas da linguística.
Sociolinguística: estudo das características e dos fatores de ordem social que influenciam e determinam uma língua
ou variedade linguística.
Psicolinguística: estudo da relação entre processos mentais (percepção, memória, atenção) e a aquisição e
desenvolvimento da linguagem verbal. Disciplina em relação com as outras disciplinas – as Patologias da Fala e a
Psicologia do Desenvolvimento.
Introdução à Linguística
Dialetologia: estudo das características e do funcionamento subjacente à diversidade geográfica das línguas, refletida
em dialetos e sotaques.
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Neurolinguística: estudo da relação entre o cérebro e a linguagem e dos mecanismos subjacentes à aquisição e utilização
da capacidade da linguagem pelo homem.
Linguística computacional (também designada por engenharia da linguagem): interseção entre as novas
tecnologias de processamento computacional das línguas e os conhecimentos fornecidos pela linguística teórica. Inclui
o processamento da linguagem natural (PLN) e o processamento computacional da fala, com destaque para a síntese da
fala e reconhecimento de voz.
Terapia da fala: diagnóstico, análise e tratamento das perturbações da fala e do processamento cognitivo da
linguagem.
Divisões Linguísticas
Unidade II
Lexicologia: estudo do vocabulário no que respeita à sua frequência, distribuição, conteúdo, formação e história.
Lexicografia: ramo da lexicologia que se dedica à realização de dicionários monolingues e bilingues.
Como já vimos, a linguística como ciência surgiu no início do século XIX com o método histórico-comparativista. Até o
século XIX, os estudos sobre a linguagem encontravam-se associados à filosofia e à gramática normativa, que possuíam
objetos de estudo, finalidades e métodos diferentes dos que viriam a ser desenvolvidos pela linguística moderna. Em
1816, Franz Bopp publicava o primeiro estudo sobre morfologia comparada indo-europeia: “Sobre o sistema flexional da
língua sânscrita, comparado com os do grego, do latim, do persa e das línguas germânicas”. Seguiram-se os estudos de
outros indo-europeistas, os dinamarqueses Rasmus Rask e Karl Verner, e o alemão Jacob Grimm, que desenvolveram
trabalhos sobre as tendências evolutivas do ramo das línguas germânicas no quadro geral das línguas indo-europeias.
As descobertas de Charles Darwin sobre a evolução das espécies vieram reforçar os estudos evolucionistas sobre as
línguas indo-europeias e garantir um estatuto científico às novas metodologias linguísticas.
Nos anos 70 do século XIX, um grupo de acadêmicos da Universidade de Leipzig desenvolveu a Teoria Neogramática,
baseada no princípio de que as tendências gerais descobertas para as línguas germânicas não eram mais que leis
linguísticas, à semelhança das leis científicas proclamadas por Darwin. Os neo-gramáticos, de onde constam os nomes
de Hermann Osthoff, Karl Brugmann, A. Leskien e Hermann Paul, lançaram as bases que viriam a tornar a linguística
uma ciência, assente nos seguintes princípios:
1. há uma regularidade na mudança fonológica – toda a mudança dos sons da língua obedece a leis que não
admitem qualquer excepção;
2. a diversidade sincrônica das línguas é o ponto de partida para estudar a diacronia dessas mesmas línguas;
3. a analogia é um dos motivos psicológicos que estão na base da mudança linguística, o que explicaria sempre
os casos que escapassem às regularidades fonológicas.
A teoria neogramática elegeu a linguística histórica como objeto de estudo, tendo-se dedicado em especial à fonologia,
à morfologia e à sintaxe diacrônicas.
Nos anos 30 do século XX, o Círculo Linguístico de Praga lança as bases do chamado “estruturalismo europeu”, que viria
a ser continuado pelas escolas da Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do Funcionalismo de A. Martinet. Paralelamente,
desenvolve-se no mundo anglo-saxônico o “estruturalismo americano”, que conheceu desenvolvimentos mais profundos
no Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett (1958) e Z. S. Harris (1951, 1962) e vindo a encontrar a sua mais
ampla expressão no Generativismo de N. Chomsky (1957, 1965) e seus seguidores.
Nos anos 60 do século XX, William Labov dá início a uma revolução no campo da linguística, com estudos sobre o
tecido social americano e a sua influência nos falares da região. Labov, com a sua obra Sociolinguistic Patterns, veio
demonstrar que a mudança linguística é visível na sincronia, quando se avalia a diversidade e a dinâmica social. O boom
da sociolinguística viria a ter grande impacto na linguística em geral e sobretudo na linguística aplicada às línguas
estrangeiras.
Pós-Graduação a Distância
Em 1916, é publicada, a título póstumo, uma obra que viria a ser considerada como a base dos estudos em linguística
contemporânea: o Cours de Linguistique Général, de Ferdinand de Saussure. Esta obra, que reunia as aulas ministradas
por Saussure e compiladas pelos seus alunos C. Bally e A. Sechehaye, viria a definir com rigor o método e o objeto de
estudo da linguística, assinalando o seu carácter descritivo e não normativo, destacando-se da filologia ou da gramática
comparativista oitocentista. A nova linguística saussuriana nasce entre a semiologia, estudo dos signos da língua, e o
pensamento estrutural, estudo da língua como estrutura e sistema, lançando assim as bases de uma nova ciência da
linguagem.
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Divisões Linguísticas
Unidade II
A pragmática e a análise do discurso viriam a nascer por esta altura, com os estudos de Émile Benveniste sobre a
enunciação e a subjetividade na linguagem. Também no mundo anglo-saxónico, os trabalhos dos filósofos da linguagem
John Austin e John Searle sobre os atos ilocutórios e os estudos de H. Paul Grice sobre o funcionamento da conversação
lançaram os princípios de uma nova concepção e metodologia em linguística, instituindo uma linguística assente no
uso/ funcionamento da língua em alternativa a uma linguística do sistema, que viria a ser continuada até hoje pelos
desenvolvimentos em torno do generativismo de Noam Chomsky.
O advento das novas tecnologias e da sociedade de informação fizeram com que a linguística fosse aplicada a novas áreas
científicas, tendo assim surgido novas linhas de investigação como a linguística computacional, a engenharia da linguagem,
o processamento das línguas naturais, o processamento computacional da fala, a tradução automática, etc.
A interdisciplinaridade dominante nos novos paradigmas da ciência e o desenvolvimento do paradigma cognitivista aplicado
às ciências cognitivas, conduziram a linguística para as áreas das ciências da saúde e da psicologia, tendo dado origem
à terapia da fala, à psicolinguística e à neurolinguística. (http://www.infopedia.pt/$linguistica)
Estruturalismo
Corrente teórica da linguística baseada nos princípios do Cours de Linguistique Générale (1916) de Ferdinand de
Saussure, que se desenvolveu na Europa e nos Estados Unidos da América a partir dos anos 30 do século XX. Saussure
é considerado o fundador do estruturalismo, embora tivesse preferido a designação de sistema em vez da de estrutura
para definir a língua como um todo cujas partes se relacionam entre si e concorrem para a sua organização global. As
relações entre as partes do sistema ou estrutura foram descritas por Saussure em termos de relações sintagmáticas (no
plano do sintagma, num eixo horizontal) e paradigmáticas (no plano da semântica, num eixo vertical).
É com as teorias defendidas pelo Círculo Linguístico de Praga (1929) e ventiladas no Congresso Internacional de Haia
(1930) que surge o termo estrutura, inicialmente aplicado à fonologia por Troubetzkoy, mas rapidamente alargado aos
outros domínios da linguística e até mesmo à antropologia dita estrutural com Claude Levi-Strauss (1958).
Apesar de o princípio subjacente ao estruturalismo ser o mesmo na Europa e nos Estados Unidos – a concepção da língua
como uma estrutura definida pela relação entre os seus elementos, a verdade é que surgiram orientações diversas em
ambos os continentes, o que nos permite falar de um estruturalismo europeu e de um estruturalismo americano.
Introdução à Linguística
O estruturalismo europeu encontrou os primeiros desenvolvimentos nas obras do discípulo de Saussure, C. Bally (1932) e
dos linguistas saídos do Círculo Linguístico de Praga, N. S. Troubetskoy (1939) e R. Jakobson (1963). Mas o estruturalismo
europeu é sobretudo identificado com as escolas da Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do Funcionalismo de A.
Martinet. Em traços muito gerais, a glossemática desenvolveu-se no Círculo Linguístico de Copenhagem e consistia na
concepção da língua como forma e não substância, distinguindo assim dois planos na língua: o da expressão, constituído
pela parte fónica da língua, e o do conteúdo, representado pelo conceito. Já o funcionalismo ou estruturalismo funcional,
desenvolvido por Martinet, considera a língua como uma dupla articulação (entre a fonologia e a morfologia) e estuda-a
do ponto de vista sincrônico e diacrônico, sempre com um objetivo descritivista.
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O estruturalismo americano, por seu turno, nasceu dos estudos das línguas ameríndias de F. Boas (1940) e de E. Sapir
(1921, 1949), tendo conhecido desenvolvimentos mais profundos no Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett
(1958) e Z. S. Harris (1951, 1962) e vindo a encontrar a sua mais ampla expressão no Generativismo de N. Chomsky
(1957, 1965) e seus seguidores, embora essa escola tenha nascido da constestação de muitos trabalhos anteriores.
Também muito sumariamente, o distribucionalismo consistiu num método de análise, fundamentalmente aplicado à
fonologia e à morfologia, em que se localizavam unidades em função dos contextos em que elas ocorriam e em função
das suas capacidades combinatórias. O generativismo apresenta um modelo formal, de base lógico-matemática, para a
descrição da língua como estrutura e para a descrição da competência e da performance do conhecimento linguístico
humano. (http://www.infopedia.pt/$estruturalismo-(linguistica).
Divisões Linguísticas
Unidade II
Ge(ne)rativismo
Proposta teórica de descrição linguística de regras formais e de princípios e parâmetros universais apresentada por Noam
Chomsky com o objetivo de produzir todas as frases gramaticais de uma língua.
O programa generativista partiu do pressuposto de que a linguagem humana é um sistema de conhecimento interiorizado
e procurou descrever o modo como esse conhecimento se desenvolve e se processa na mente dos falantes de uma
língua. A fase da aquisição da linguagem pela criança é pois um momento que suscitou grande interesse para o programa
generativista, uma vez que permite observar a evolução do desenvolvimento da linguagem. O programa inicial generativista
assentava no princípio de que cada falante possuía uma gramática interiorizada composta por um dicionário mental das
formas da língua e por um sistema de regras que permitiam combinar essas formas à semelhança do processamento
computacional.
Syntactic Structures (Chomsky, 1957) é a obra inaugural do programa generativista, cujo objetivo principal era construir
um modelo de gramática que descrevesse o conhecimento interiorizado do falante e que engendrasse novas frases a
partir das regras descritas. Nesse modelo juntavam-se regras sintagmáticas e regras ditas transformacionais, as quais
permitiam transformar frases declarativas em frases de outros tipos (por exemplo negativas, interrogativas, enfáticas).
Em 1965, com Aspects of the Theory of Syntax, Chomsky desenvolve o modelo da TEORIA STANDARD, que representa
uma evolução em relação à concepção anterior. Nesse modelo, há dois tipos de regras gramaticais: regras de reescrita
categorial e regras transformacionais. As regras de reescrita derivam da estrutura profunda das frases. Sobre a
estrutura profunda, em que estaria a componente semântica, aplicam-se regras transformacionais que se refletem na
estrutura de superfície, manifestada pela componente fonológica e sintática. A teoria standard desenvolveu um sistema
de representação formal das gramáticas de uma língua constituído por um conjunto de símbolos (ex: SN = Sintagma
Nominal; N = Nome; SP = Sintagma Preposicional; P = Preposição, etc.) combinados com regras de reescrita: (exemplo
da regra de reescrita da frase em português: F (frase)  SN (Sintagma Nominal) + SV (Sintagma Verbal).
A dicotomia competência (conhecimento mental de uma língua particular, gramática interiorizada) vs performance
(realização concreta em situações reais da gramática interiorizada), na linha da dicotomia saussuriana langue/ parole,
foi outra das questões abordadas pelo modelo de Aspects of the Theory of Syntax (Chomsky, 1965), a par do ideal de
descrição da Gramática Universal (soma dos princípios linguísticos geneticamente determinados, específicos da espécie
humana e que caracteriza os conhecimentos linguísticos do falante adulto).
No entanto é de ressaltar o importante contributo do generativismo para o estudo das questões sobre a aquisição da
linguagem, enquadrado dentro de um paradigma cognitivista emergente, e o desenvolvimento de um método de investigação
e de uma metalinguagem científica radicalmente inovadores em relação às propostas anteriores (http://www.infopedia.
pt/$generativismo).
Pós-Graduação a Distância
As principais críticas ao modelo generativista, apesar da sua permanente atualização e esforço de síntese, prendem-se
ao fato de que se trata de um modelo centrado na análise e descrição do sistema idealizado da língua, ou seja centrado
na competência, ignorando os aspectos da performance, com tudo o que isso implica: questões de variação linguística,
implicações pragmáticas, etc. Outra das críticas tem a ver com o fato de a gramática generativista eleger como objeto de
estudo a componente sintático-semântica da língua, não constituindo assim um modelo satisfatório de análise fonética,
fonológica ou pragmática.
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Divisões Linguísticas
Unidade II
O Que se Faz com a Linguagem Verbal?
Celestina Magnanti
Aristóteles, na antiguidade clássica, dizia que os sons emitidos pela voz são os símbolos dos estados da alma.
A análise clássica da linguagem lhe atribuía, como função, externalizar o pensamento. Temos aqui o que os
estudiosos chamam de a teoria do pensamento – linguagem: a linguagem verbal tem a função de exteriorizar
o pensamento. A linguagem é vista como tradução: manifestação sensível e externa da representação interna.
Portanto temos, aqui, a função expressiva.
A crítica a esse modelo é que, se concebemos a linguagem como tal, somos levados a afirmações – correntes –
de que as pessoas que não conseguem se expressar não pensam. Considera-se que, ao falar, o homem apenas
expressa as ideias que não são geradas, mas eternas por residirem em nossa razão e em nossa inteligência
antes da própria existência física do ser humano.
Essa concepção ilumina, basicamente, os estudos tradicionais sobre linguagem. A linguagem, assim como o
conhecimento, são inatos. A relação professor/aluno é unilateral: pergunta/resposta. O discurso do professor é
pré-elaborado. Todas as falas são programadas. O próprio currículo escolar, seus objetivos, sua nomenclatura,
fazem claramente referência à necessidade de desenvolver “a expressão”. Isso se comprova tomando como
exemplo uma ideia norteadora integrante do projeto político-pedagógico do curso de Pedagogia de uma
Universidade, ao traçar o perfil do profissional (pedagogo) que quer formar e ao elencar os objetivos do curso:
“Habilidade de expressão oral – a expressão oral é indiscutivelmente, um dos conhecimentos mais importantes
para a atividade profissional do professor”. Confunde-se habilidade com conhecimento. Aqui não se está
negando que essa habilidade seja importante. O que se quer mostrar é que pensar a linguagem dessa forma é
uma atitude reducionista.
Em 1934, o psicólogo austríaco Karl Buhler propôs um modelo de forma triádica, apontando três fatores
básicos para a linguagem: o destinador (mensagens de caráter expressivo), o destinatário (mensagens de
caráter apelativo) e o contexto ( mensagens de caráter comunicativo). A partir desses fatores básicos, formulou
três funções para a linguagem verbal: função expressiva ou sintomática, centrada no destinador; função de
sinal, centrada no destinatário; função de descrição ou representação, centrada no contexto. K. R. Popper
acrescentou, a essas três, a função de discussão argumentada.
Introdução à Linguística
A teoria matemática da informação (inspiradora das teorias da informação e da comunicação) formulada por
Weaver e Schannon trouxe um impulso decisivo à questão ao propor um modelo para a comunicação. Essas
teorias veiculam uma concepção de linguagem como comunicação.
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Schannon também exprimiu matematicamente a quantidade de informação transmitida por uma mensagem.
Para ele, a medida de originalidade da mensagem é: a quantidade da informação é função de sua probabilidade.
Quanto mais imprevisível for a mensagem, maior será a informação. A teoria da informação é aplicada hoje
nas telecomunicações, na informática e na linguística.
Partindo do modelo das três funções de Schannon e Weaver, o linguista russo Roman Jakobson ampliou para
seis as funções da linguagem. Embora controvertido, é um modelo de largo uso nos estudos das ciências da
comunicação e informação, sendo abordado, também, em alguns livros didáticos, o que se justifica pela grande
utilidade na análise e produção de textos.
Divisões Linguísticas
Unidade II
Jakobson enfoca o perfil da mensagem, conforme a meta ou orientação dessa mesma mensagem em cada
fator de comunicação, a saber: emissor, receptor, canal, código, referente, mensagem. Segundo Jakobson,
as atribuições de sentido, as possibilidades de interpretação que se possam deduzir e observar na mensagem
estão localizadas primeiramente na própria direção intencional do fator da comunicação, o qual determina o
perfil da mensagem, sua função, a função de linguagem que marca aquela informação.
Chalhub (1989, p. 6) esquematiza as informações acima da seguinte forma:
Ênfase no fator determina Função da linguagem
Referente
---------
referencial
Emissor
---------
emotiva
Receptor
---------
conativa
Canal
---------
fática
Mensagem
---------
poética
Código
---------
metalinguística
As seis funções ditas por Jakobson são apresentadas por Vanoye (1998) da seguinte forma:
a) função referencial, também chamada de denotativa, está centrada no referente. Tudo o que, na
mensagem, remete aos referentes situacionais ou textuais concerne à função referencial;
b) função emotiva ou expressiva, centrada no destinador (ou emissor) da mensagem, exprime a atitude
do emissor em relação ao conteúdo de sua mensagem e da situação;
c) função conativa, que se orienta para o destinatário. Tudo o que, na mensagem, remete diretamente
ao destinatário dessa mensagem concerce à função conativa, cujas manifestações mais evidentes
são os imperativos e os vocativos;
d) função fática, centrada no contato (físico ou psicológico); tudo o que numa mensagem, serve para
estabelecer, manter ou cortar o contato (portanto a comunicação) concerne a essa função, que
manifesta, essencialmente, a necessidade e o desejo de comunicar;
f) função metalinguística, centrada no código. Tudo o que, numa mensagem, serve para dar explicação
ou precisar o código utilizado pelo destinador concerne a essa função. É uma linguagem que fala da
própria linguagem.
Como se vê, o linguista Jakobson caracterizou as seis funções da linguagem, cada uma delas estreitamente
ligada a um dos seis elementos que compõem o ato de comunicação.
Os seguidores dessa teoria alertam que, numa mesma mensagem, várias funções podem ocorrer, uma vez que,
atualizando concretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de linguagem.
Pós-Graduação a Distância
e) função poética, que se centra na própria mensagem. Ela coloca o lado palpável dos signos. Tudo o
que, numa mensagem, suplementa o sentido da mensagem através do jogo de sua estrutura, de sua
tonalidade, de seu ritmo, de sua sonoridade, concerne à função poética; e,
39
Divisões Linguísticas
Unidade II
As funções dialogam, não há mensagem solitária na sua marca.
Podemos afirmar que esses modelos veiculam uma concepção de linguagem que vê língua como código (conjunto
de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor uma certa mensagem. A concepção
comunicativa da linguagem (ligada ao movimento estruturalista) é vista com ressalvas por reduzir a comunicação
humana a uma forma vazia e ritualizada. Auroux afirma que o principal defeito desse modelo “é o de pressupor
que a linguagem humana possui a estrutura de um código e que há sempre mensagens preestabelecidas a
codificar de modo perfeitamente definido a priori” (1998, p. 41).
Outra crítica a esse modelo encontramos em Furlanetto:
função comunicativa corresponde a um arcabouço pobre, considerando a complexidade das
relações humanas. Com efeito, os termos ‘falante-emissor’, ‘ouvinte-receptor’ pressupõem
um papel ativo para o primeiro e passivo para o segundo (recepção/compreensão). Embora
tal esquema corresponda a um aspecto real, é falho quando se pretende que represente
o todo da comunicação. (1995, p. 2-3)
Consideramos, ainda, que a linguagem, na concepção comunicativa, é centrada na informatividade da mensagem,
na funcionalidade e não no ato de linguagem. A preocupação é mostrar como “funciona a comunicação” e não
a de estabelecer interações, de “ouvir” e “dar voz” ao outro.
Essas teorias influenciaram, na década de 70 e 80, o ensino da língua. Até o nome da disciplina Língua Portuguesa
foi substituído por “Comunicação e Expressão”. Os livros didáticos de 1o e 2o graus eram estruturados e
ancorados nessa concepção (o que não quer dizer que hoje sejam diferentes). Basta ver e analisar, por exemplo
o livro “Do texto ao texto”, de Ulisses Infante (1998, p 213-291), que em oito capítulos trata das funções
da linguagem, segundo Jakobson. Explicita a importância desse estudo por sua relação com o ato de produzir
textos, por fornecer subsídios para analisar e incrementar as práticas da leitura e da redação.
Introdução à Linguística
Em alguns livros didáticos de 5a série do ensino fundamental, na parte destinada à “compreensão e interpretação”
de textos, as questões são formuladas no sentido de identificar o emissor, o receptor, qual o código, a mensagem,
qual o canal ou o meio utilizado para a transmissão dessa mensagem, se houve ruído, etc... A preocupação
fundamental nesse tipo de ensino é a transmissão de conhecimentos.
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Para superar as limitações e o reducionismo das concepções anteriores, quando o russo L. Vygotsky propõe a
linguagem como ferramenta psicológica estruturante (função cognitiva – mediadora entre relações e categorias
mentais abstratas e o mundo) e de ação social, seu conterrâneo Bakhtin lança as bases de uma nova concepção
de linguagem: ela é uma forma de inter-ação, porque mais que possibilitar transmissão de informações e
mensagens de um emissor a um receptor, a linguagem atua como um lugar de interação de interlocução humana.
Através dela, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria realizar a não ser falando; com ela, o falante
age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam à fala.
Agora a linguagem é vista como instrumento de interação social e formadora de conhecimento. Essa concepção
supera a concepção da linguagem como sistema preestabelecido, estático, centrado no código, uma vez
que Bakhtin afirma que a verdadeira substância da língua “não é constituída por um sistema abstrato de
formas linguísticas (...) mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação e das
enunciações” (1986, p. 109).
Divisões Linguísticas
Unidade II
A enunciação deve ser compreendida como uma réplica do diálogo social, é a unidade base da língua; trata-se
do discurso interior e exterior. Ela é de natureza social, portanto, ideológica, não existindo fora do contexto
social. É o produto da interação de indivíduos socialmente organizados.
Nessa concepção, segundo Bakhtin, a linguagem verbal exerce uma função fundamental pelo fato de que
“toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada, tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo
fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte”
(1986, p. 113)
As afirmações acima abrem espaço para mais uma formulação da concepção de linguagem inter-ação: o
dialogismo, conceito chave na teoria de Bakhtin (1986), transcende ao sentido restrito (a comunicação verbal
direta e em voz alta entre uma e outra pessoa). Dialogismo é toda comunicação verbal, qualquer que seja
a forma. Do ponto de vista discursivo, não há enunciado desprovido de dimensão dialógica, pois qualquer
enunciado sobre um objeto se relaciona com enunciados anteriores produzidos sobre este objeto. Por isso,
todo discurso é fundamentalmente diálogo. Isso significa que os significados e sentidos são produzidos nas
relações dialógicas, na mesma medida em que sujeitos e objetos no mundo se constituem como sujeitos e
objetos do e no mesmo discurso.
Assim podemos avaliar a importância da relação entre sujeitos (dimensão constitutiva da linguagem), porque a
palavra está, fundamentalmente, alienada ao outro – aquilo que procuro na palavra é a resposta do outro que
me irá constituir como sujeito – a minha pergunta fundamental ao outro diz respeito a onde, como e quando
começarei a existir na sua resposta. Aparecem, aqui, duas funções da palavra intimamente ligadas: a mediação
para o outro e a revelação do sujeito. Benveniste (1976) explica com propriedade essa relação: a consciência
de si mesmo só é possível se experimentada por contraste. Eu não emprego eu a não ser dirigindo-me a alguém
que será a minha alocução em tu (o outro).
Endereços eletrônicos:
http://www.filologia.org.br/soletras/11/11.htm
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010244501999000100010&script=sci_arttext
http://pinceladaslinguisticas.blogspot.com/2007_08_01_archive.html
http://recantodasletras.uol.com.br/tutoriais/763320
Pós-Graduação a Distância
A influência da concepção interacional de linguagem no ensino da língua é lenta, uma vez que os professores
que atuam hoje nas escolas públicas e privadas tiveram sua formação acadêmica embasada em linhas
tradicionais e ou estruturalistas. Trabalhar a linguagem como processo de interação exige redefinição de papéis:
o professor não pode ser visto como o agente exclusivo da informação e formação dos alunos, antes atuará
como mediador. Seu papel é polemizar, discutir, ouvir as diversas vozes, desafiar. No processo de interação,
as falas são imprevistas, elas constituem a essência do processo de ensino. Trabalhar nessa perspectiva é
ver as interações verbais e sociais como espaço de construção de conhecimento.
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Divisões Linguísticas
Unidade II
Capítulo 4 – Preconceito Linguístico
Você percebe preconceito linguístico a sua volta? Leia este capítulo
com atenção para responder à questão.
As crianças aprendem a andar, a falar em suas casas, com seus
pais, avós, irmãos etc. Isso significa que elas adquiriram sua
língua materna, sua “gramática da língua falada”, o que se opõe
a gramática normativa de origem portuguesa utilizada nas escolas
para o ensino do que é “certo” e “errado”. Assim quando a criança
observa que o ensino de seus familiares está “errado”, acaba se
confundindo e após passar em média onze anos estudando sentem-se
incapazes de usar os recursos de seu próprio idioma. Dessa forma,
o português “culto” se torna língua de poucos privilegiados.
Luciana Morais da Silva
O preconceito linguístico – como todo preconceito – é algo que deve ser evitado. Todos sabem disso. Na expressão oral
e escrita, ele está presente muito mais do que podemos imaginar. É o que tentaremos mostrar neste capítulo.
Como você percebeu durante o curso, a língua é dinâmica e está sempre em movimento. A Linguística é justamente o
amplo estudo da língua em toda a sua diversidade. Não existe o conceito de certo e errado para o linguista. Ele é um
observador da manifestação linguística.
Introdução à Linguística
Pode-se entender o uso mais adequado de uma língua para questões técnicas, por exemplo. Médicos fazem uso de uma
linguagem técnica e estudam com base em nomenclaturas próprias. Jamais se espera que um médico use tais termos com
seus pacientes, pois estes não seriam capazes de entender. No entanto, ao ministrar um palestra para outros médicos, nada
impede o uso de vocábulos mais precisos em seu sentido. Tal situação também ocorre entre membros do poder judiciário.
Nenhum problema no uso de linguagem técnica entre os próprios membros, que aprenderam a usar, por exemplo, expressões
latinas como síntese de uma ideia. O problema ocorre quando um tribunal ou um advogado passa a usar nomenclatura
técnica com quem não se preparou para isso. Os casos citados são específicos e se limitam a poucas áreas técnicas.
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O que não pode ocorrer é o conceito de certo e errado em uma sociedade – como a do Brasil – em que milhões de
pessoas vivem em uma diversidade imensa. Apresentaremos, a seguir, uma análise do que é o preconceito linguístico e
de como ele é prejudicial e discriminatório. O curso não pretende ser panfletário, mas apenas apresentar o assunto sob
vários enfoques. Iniciaremos como uma definição do tema da página eletrônica wikipédia e, depois, de escritores que
desenvolveram o assunto.
O sociólogo Nildo Viana foi quem primeiro apresentou uma visão marxista deste fenômeno, relacionando-o com a
educação escolar e a dominação de classe, bem como questionando pesquisadores deste tema. Para Viana, a linguagem
é um fenômeno social e está ligada ao processo de dominação, tal como o sistema escolar, que é a fonte da “dominação
Divisões Linguísticas
Unidade II
linguística”. A ligação indissolúvel entre linguagem, escrita e educação com os processos de dominação, segundo o
autor, é a fonte do preconceito linguístico, pois a língua escrita veiculada pela escola se torna a língua padrão e esta se
torna norma geral que todos devem seguir, mas o seu modelo se encontra entre os setores privilegiados e dominantes da
sociedade. Assim, ele conclui que a escola é a base do preconceito linguístico, e esta reproduz as desigualdades sociais.
Na Inglaterra, por sua vez, a linguista Deborah Cameron, autora do livro Verbal Hygiene, inicia sua obra citando uma
manchete um jornal dominical, que diz numa tradução livre “Tradições Inglesas do Passado estão sob ameça”. A reportagem
não remete a nenhum grande costume inglês, mas sim a cidadãos ingleses comumente chamados de anoraks, que saem
às ruas para panfletar que a língua inglesa está sendo descaracterizada, arruinada pela mídia em geral. Como isso se
torna relevante para um livro chamado Higiene Verbal?
O que ficaria claro, a partir desse ponto, é que existe um número significativo de pessoas que se importam sobre questões
linguísticas; essas pessoas não apenas falam seu próprio idioma, mas são apaixonadas por ele. A autora se propõe então
a ouvir o que essas pessoas têm a dizer, e compreender o porquê delas agirem de tal modo.
A autora comenta uma situação na qual ela estava com um grupo dessas pessoas presentes no Conway Hall (um centro de
estudos culturais, independente) e, quando ela disse que era uma linguista, todos ficaram animados, e disseram: “Uau, como
os linguistas combatem esses abusos da linguagem?”. A autora, meio sem jeito, acabou evitou a discussão. Ela acredita
que eles não entenderiam que a linguística é uma ciência descritiva, e não prescritiva, além de acreditar que essa seria uma
resposta um tanto rude. Em 5 de julho de 1993, num programa de rádio da BBC, Michael Dummet, um professor emérito
de lógica, apontava para o trágico estado da língua inglesa e apontava como culpadas desse fato as ideias ridículas dos
linguistas. Linguistas, diz ele, proclamam que a Língua não importa, e pode ser usada e abusada à vontade.
Entre outros casos considerados “trágico-cômicos” pela Linguística, a autora cita um memorando do jornal The Times,
onde o editor diz para os jornalistas que não usem a palavra “consensus”, pois era uma palavra horrível/odiosa. Por
fim, a autora reitera sua proposta de tentar compreender (compreender não significa concordar, ela deixa isso claro) o
posicionamento assumido por essas pessoas frente a questões linguísticas.
Nos Estados Unidos da América, apesar da não existência de uma academia reguladora dos assuntos da linguagem, não
faltam pessoas que tomam para si essa função, sendo elas conhecidas como language mavens. Essas pessoas chegam
até mesmo a constituir grupos de defesa de um chamado inglês real, verdadeiro, ou numa posição mais globalista como
acontece no caso do Esperanto. Elas mandam cartas para jornais dizendo/apontando para um declínio do bom inglês.
Seus alvos vão além dos jornais, chegando a atacar anunciantes de panfletos, banners etc.
Variação Linguística e Preconceito
1. variação histórica (palavras e expressões que caíram em desuso com o passar do tempo);
2. variação geográfica (diferenças de vocabulário, pronúncia de sons e construções sintáticas em regiões falantes
do mesmo idioma);
3. variação social (a capacidade linguística do falante provém do meio em que vive, sua classe social, faixa etária,
sexo e grau de escolaridade);
4. variação estilística (cada indivíduo possui uma forma e estilo de falar próprio, adequando-o de acordo com a
situação em que se encontra).
Pós-Graduação a Distância
Da mesma forma que a humanidade evolui e se modifica com o passar do tempo, a língua acompanha essa evolução e
varia de acordo com os diversos contatos entre os seres pertencentes à comunidade universal. Assim, é considerada
um objeto histórico, sujeita a transformações, que se modifica no tempo e se diversifica no espaço. Existem quatro
modalidades que explicam as variantes linguísticas:
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Divisões Linguísticas
Unidade II
Entretanto, mesmo que as variantes acima descritas expliquem as variações linguísticas, o falante que não domina a
língua denominada “padrão” por sua comunidade linguística sofre preconceitos e é “excluído” da “roda dos privilegiados”,
aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade e, por isso, consideram-se “melhores” que os demais. Esse tipo de
preconceito é denominado preconceito linguístico.
De acordo com Marcos Bagno, “preconceito linguístico é a atitude que consiste em discriminar uma pessoa devido ao
seu modo de falar”. Como já dito, esse preconceito é exercido por aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade,
à “norma padrão de prestígio”, ocupam as classes sociais dominantes e, sob o pretexto de defender a língua portuguesa,
acreditam que o falar daqueles sem instrução formal e com pouca escolarização é “feio”, e carimbam o diferente sob o
rótulo do ”erro”. Infelizmente, “preconceito linguístico” é somente uma denominação “bonita” para um profundo preconceito
“social”: não é a maneira de falar que sofre preconceito, mas a identidade social e individual do falante.
Há muitos preconceitos no mundo todo: preconceito racial, preconceito contra os pobres, contra as mulheres..., enfim,
uma infinidade de “absurdos” cometidos por parte dos “ignorantes”. Mas, dentro do chamado “preconceito linguístico”,
posso citar alguns considerados “destaque”, devido à constante frequência de suas ocorrências.
“A norma padrão constitui o português correto; tudo o que foge a ela representa erro”. Dentro do ambiente escolar,
muitos professores costumam repetir essa frase. Porém, é necessário que eles compreendam que não existe português
certo ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que correspondem ao meio e ao falante. O apagamento
de uma modalidade em favor de outra é despersonalizador, pois o indivíduo, ao ingressar na escola, possui um repertório
cultural já formado pelo seu meio e, se lhe for dito que tudo o que conhecia (no caso, sua linguagem) é “errado”, perderá
sua identidade verdadeira e poderá adquirir o preconceito. Por isso, é desejável que o aluno não abandone sua modalidade
em seu meio. Mas, a prática da norma culta deve ser ensinada para a promoção social do mesmo.
As instituições de ensino deveriam tratar a questão do ensino da norma culta e das variantes linguísticas de maneira
com que os alunos conseguissem compreender a norma e suas variantes. Deveriam promover aos alunos uma reflexão
sobre a língua materna, distinguindo o que é adequado ou inadequado em determinadas situações de uso. Dessa forma,
a classe socioeconomicamente desprivilegiada teria a oportunidade de ascensão social e de acesso aos instrumentos
culturais, obtendo prestígio.
Mas, ao contrário do que é realmente adequado ao ensino da língua, as escolas estão mantendo as classes menos
favorecidas em um baixo patamar, sem lhes promover o conhecimento da língua materna e a reflexão sobre as variações
linguísticas existentes, privando-as de uma oportunidade de ascensão social.
Introdução à Linguística
É importante que os professores promovam os instrumentos necessários para que os alunos possam ser capazes de
compreender as linguagens formal e informal e adequá-la às diversas situações que lhes acontecerem. Há também a
necessidade de fazê-los refletir sobre o que é “certo e errado”, levando em consideração as diversas variações históricas,
estilísticas, geográficas e sociais que a linguagem possui.
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“O bom português é aquele praticado em determinada região”, “O caboclo fala errado”, “Nenhum brasileiro fala o
português corretamente”. Indivíduos não conhecedores das variantes linguísticas “adoram” fazer afirmações como essas.
Mas é preciso que coloquem em suas mentes que a língua varia de acordo com a região em que é falada (devido à sua
cultura, costumes e classe social) e que essa variação afeta a norma criando, então, uma modalidade de linguagem para
cada situação específica de ocorrência verbal. Não existe então “certo e errado” no ato linguístico, mas sim variantes
decorrentes de alguns fatores como região, classe social etc.
“O bom português é o das épocas de ouro da literatura”. Primeiro, há um português culto falado e um escrito. Mas a
língua escrita é mais conservadora que a falada; segundo, a norma ancora a língua no contemporâneo; terceiro, a língua
é um fenômeno social, e sua existência prende-se aos grupos que a instituíram.
Bagno afirma que “A mídia poderia ser um elemento precioso no combate ao preconceito linguístico. Infelizmente, ela
é hoje o pior propagador deste preconceito. Enquanto os estudiosos, os cientistas da linguagem, alguns educadores e
Divisões Linguísticas
Unidade II
até os responsáveis pelas políticas oficiais de ensino já assumiram posturas muito mais democráticas e avançadas em
relação ao que se entende por língua e por ensino de língua, a mídia reproduz um discurso extremamente conservador,
antiquado e preconceituoso sobre a linguagem”.
Programas de rádio e televisão, sites da internet, colunas de jornal e outros meios de multimídia estão cheios de “absurdos”
teóricos e “distorções”, pois são feitos por pessoas sem formação científica sobre o assunto. Divulgam “bobagens”
sobre a língua e discriminam os estudiosos da linguagem. Isso atrapalha a desmistificação do “certo e errado” e acaba
propagando o preconceito.
Em suma, para se acabar com o preconceito, seja ele racial, social ou qualquer outro, é necessário que haja uma
democratização da sociedade, que dê oportunidades “iguais” a todos, reconhecendo e respeitando suas diferenças. E mais:
a palavra “preconceito” significa um “pré” conceito daquilo que ainda não se conhece a fundo. A partir do momento em
que se estuda determinado assunto, que se aprende sobre ele, o que se deve adquirir é “respeito”, e não “discriminação”.
Variação Linguistica
Partimos do pensamento primário e norteador de que o fenômeno “variação linguística” esteve presente em
todo o momento da formação e estruturação de nossa língua, ao retornarmos à língua-mãe, o latim, percebemos
que desde então, até os dias atuais, tivemos mudanças renovadoras da língua.
A linguística atual revela que uma língua não é homogênia e deve ser entendida justamente pelo que caracteriza
o homem – a diversidade, a possibilidade de mudanças.
É preciso compreender que tais mudanças, como se pensava no início, não se encerram somente no tempo,
mas também se manifestam no espaço, nas camadas sociais e nas representações estilísticas.
De acordo com Celso Ferreira da Cunha (1992), ao traçarmos a linearidade histórica de nossa “língua brasileira”,
notamos que essa provém da língua portuguesa, que por sua vez provém do latim, que se entronca na grande
família das línguas indo-europeias.
Os romanos, em contato com outras terras, outras gentes e outras civilizações, ensinavam, mas também
aprendiam. E aprenderam muito com outros povos. Desde o século III a.C., pois, sob a benéfica influência grega,
o latim escrito com intenções artísticas foi sendo progressivamente apurado até atingir, no século I a.C., a alta
perfeição da prosa de Cícero e César, ou da poesia de Horácio e Virgílio. Em consequência, acentuou-se com
o tempo a separação entre essa língua literária, praticada por uma pequena elite, e o latim corrente, a língua
usada no colóquio diário pelos mais variados grupos sociais da Itália e das províncias.
Tal diferença era sentida pelos romanos, que opunham ao conservador latim literário, ou clássico, o inovador
latim vulgar, língua falada por todas as camadas da população e em todos os períodos da latinidade.
Foi esse matizado latim vulgar que os soldados, colonos e funcionários romanos levaram para as regiões
conquistadas e, sob o influxo de múltiplos fatores, diversificou-se com o tempo. Por volta do século V, os
falares regionais já estariam mais próximos dos idiomas românicos do que do próprio latim.
Pós-Graduação a Distância
De início era o simples falar de um povo de cultura rústica, que vivia no centro da Península Itálica, mas a
língua latina veio, com o tempo, a desempenhar extraordinário papel na história da civilização ocidental.
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Divisões Linguísticas
Unidade II
Após a fase de transição, surgem, então, durante o século XIII, os primeiros documentos que chegaram até
nós integralmente redigidos em galego-português.
Com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, os portugueses ampliaram enormemente o império de
sua língua. No Brasil, a língua portuguesa apresenta uma relevante diferenciação com o português de Portugal;
há, evidentemente, diferenças sintáticas, semânticas e fonéticas.
Diferenças sintáticas – colocação diferente dos pronomes oblíquos; uso da preposição em com verbos de
movimento: chegar na, ir na...; emprego de ter em lugar de haver.
Diferenças semânticas – azular, em Portugal significa tornar azul; no Brasil, fugir. Cangaço, em Portugal
significa resíduo de uvas; no Brasil, quadrilha.Moço, em Portugal,criado; no Brasil, apenas jovem.
Diferenças fonéticas – na fonologia, as diferenças são mais profundas, assinalando-se não só na emissão das
vogais, como na das consoantes: minimo, mintira, (m); fonti, poti (t); quêxo, bêjo (ai) e o acréscimo de e, após
r e l,em Portugal (sole).
Além dos fatores sociais, geográficos e históricos, outros mais serviram para distanciar o nosso português
do português de Portugal.
Em primeiro lugar, a língua portuguesa encontrou rival no tupi, o qual, tornado língua geral, a ultrapassou,
até o século XVIII, segundo Teodoro Sampaio (1954). Os padres preocupados com a catequese, falavam,
escreviam a sua gramática e organizavam dicionários em tupi. Os bandeirantes também contribuíram batizando
os acidentes geográficos e algumas localidades com vocábulos dessa procedência. O português sobressaiu, e
tornou-se idioma nacional, o que não impediu que restassem vestígios do tupi em nosso falar. Assim, temos
de providência indígena muitos nomes de lugares, utensílios, alimentos, flora e fauna, como: Manhumirim,
pororoca, Iracema, tatu, abacaxi, etc.
Outro elemento que entrou em contato com o português do Brasil foi o africano. A necessidade de braços que
trabalhassem a terra, trouxe o negro, que agregou ao nosso falar seu vocabulário e influiu na pronúncia. De
providência africana temos: macumba, cachaça, moleque, quindim, jiló, cochilo, tanga, etc.
Introdução à Linguística
Os colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Língua Portuguesa, essa foi sendo
enriquecida com vocábulos e locuções novas; adquirimos outra pronúncia. Além de recebermos influência
das línguas indígenas e africanas, também estão presentes em nossa língua alguns vocábulos do oriente e de
outras línguas europeias.
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De providência árabe temos: álcool, algarismo, café, oxalá, alfaiate, etc. De origem francesa temos: abajur,
champanhe, manchete, omelete,chique,garage, etc. De origem inglesa temos: clube, xampu, estresse, futebol,
gol, short, etc.
Após analisarmos o desenvolvimento linear de nosso português, estamos certos de que a evolução da língua
vem desde sempre, e tudo indica que vai continuar. E mais ainda, a evolução perpassa pela diversidade que é
a transitoriedade da língua.
Ocorreu com o latim, que se estruturou em duas vertentes durante seu processo evolutivo: o latim clássico,
falado por uma minoria de grandes escritores e o latim vulgar, que pela extensa população usuária se difundiu
rapidamente. E o mesmo com a Língua Portuguesa, em que se distanciaram os falares do Brasil com o de Portugal.
Divisões Linguísticas
Unidade II
E hoje, no Brasil, é irreal o nivelamento da língua devido a muitos fatores como: social, histórico, geográfico e
cultural. Portanto, necessitamos aceitar as variações e estudar o que as provoca para entendermos o processo
evolutivo linguístico.
Ao constatarmos a renovação da língua, muita vezes, mesmo sabendo que é fato incontestável seu dinamismo,
ainda assim percebemos dificuldades de coexistência dos múltiplos falares; recentemente passamos a assumir
que o preconceito linguístico é real e se manifesta toda vez que temos o embate e a identificação das diferenças
linguísticas por diferentes grupos.
O latim se modificou para se adequar à extensão do território dominado pelos romanos. E o português que
chegou a nossas terras não permaneceu o mesmo por diversas influências, como já citamos.
Dentro da unidade territorial brasileira se revelam muitos falares que se justificam e condicionam para se
adequar à realidade sociocultural de nosso país. Foi de evolução para evolução que chegamos até o exato
momento de nosso falar; caso contrário, estaríamos falando latim.
Em uma linguagem sistemática e coerente podem ocorrer formas diferentes de se efetuar a língua, uma vez
que variam no espaço – variação diatópica –, no tempo – variação diacrônica – e no indivíduo.
Ao encontrarmos pessoas de regiões diferentes do Brasil, não raro nos deparamos com expressões linguísticas
diferentes. Na fala de interioranos de São Paulo, por exemplo, o r é retroflexo, como em porta, celular; já na
região Nordeste temos o uso das vogais o e e abertas, como em Rónaldo, sémente.
Segundo Camacho (1988) existem múltiplos fatores originando as variações, as quais recebem diferentes
denominações. Eis alguns exemplos:
• Dialetos – variações faladas por comunidades geograficamente definidas. Idioma é um termo intermediário
na distinção dialeto-linguagem e é usado para se referir ao sistema comunicativo estudado quando sua
condição a iguala à linguagem.
• Socioletos – variações faladas por comunidades socialmente definidas. É a linguagem padrão
estandardizada em função da comunicação pública e da educação.
• Idioletos – é uma variação particular, isto é, o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas
atividades ou profissões.
• Ecoletos – um idioleto adotado por uma casa.
É inegável as diferenças que existem dentro de uma mesma comunidade de fala. A partir de um ponto qualquer
vão se assinalando diferenças à medida que se avança no espaço geográfico. Da mesma forma se constatam
diferenças dentro de uma mesma área geográfica, resultantes das diferenças sociológicas tais como educação
do indivíduo, sua profissão, grupos com os quais convive, enfim, sua identidade. Tudo isso pode interferir e
operar como modelador à fala de alguém.
(http://www.monografias.brasilescola.com/educacao/variacao-linguistica-uma-realidade-nossa-lingua.htm)
Pós-Graduação a Distância
• Etnoletos – variação para um grupo étnico.
47
Divisões Linguísticas
Unidade II
As relações entre os usos linguísticos ou entre as várias línguas são determinadas por seu caráter público e
privado de duas formas diferentes: o domínio do público, regulamentado pela lei, pela regra, tanto pode impor
certos usos e línguas, quanto estabelecer a variedade possível desses usos e línguas; o domínio do privado,
como domínio das variações e preferências individuais, tanto pode contrapor-se aos usos e línguas impostos no
domínio do público, quanto pode manifestar suas preferências em relação às variedades publicamente aceitas.
A intolerância e a consequente necessidade de tolerância surgem assim: 1 – quando a lei regulamenta certos
usos e línguas e proíbe os demais, como por exemplo aconteceu quando Pombal proibiu o uso das línguas gerais
no Brasil, o governo brasileiro discriminou o emprego de línguas estrangeiras, na época da Segunda Guerra, Irton
Marx, em A República dos Pampas, proibiu os usos errados, ou as leis Aldo Rebelo (no Brasil) ou Toubon (na
França) não aceitaram os usos de termos estrangeiros; 2 – ou, ao contrário, quando as preferências individuais
do privado discriminam usos e línguas, e impedem que seus usuários tenham acesso a certos empregos, cargos
ou posições, como por exemplo, quando os meios de comunicação não dão emprego aos usuários do r caipira
ou aos que têm uma entoação que marca uma determinada identidade sexual.
A intolerância linguística ocorre nas fronteiras, nos limites da lei pública e dos direitos e preferências individuais,
no domínio do privado. A regulamentação linguística, no domínio do público, explica-se pelo papel que as línguas
assumem na construção de impérios, nações, estados, e na constituição de identidades nacional, regional, etc.
Nos livros didáticos de História do Brasil, por exemplo, não há uma única referência ao fato de que no período
colonial falavam-se principalmente línguas gerais no país e não o português.
Ao regulamentar as relações entre os usos linguísticos de uma mesma língua, a lei determina um uso como
mais correto, mais certo, mais bonito, mais patriótico, mais virtuoso, enfim, e hierarquiza os demais, que serão
ditos possíveis, toleráveis ou proibidos. Esse uso mais virtuoso é o da norma explícita de uma dada língua, em
geral chamada norma culta. A norma explícita define-se por ser regulamentada por academias, gramáticas e
dicionários; ter um aparelho de referência constituído por usuários de autoridade e prestígio; ser difundida e
imposta na escola, na imprensa e na administração pública.
Introdução à Linguística
É essa norma que Irton Marx considera a única possível para a República dos Pampas, não reconhecendo assim
os direitos linguísticos da sociedade, ou é a que determina, no país, a seleção de candidatos a emprego, tendo
em vista a preferência da sociedade pelo uso dito mais culto da língua.
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Os usos e línguas impostos ou preferidos mantêm relações diversas com os proibidos ou não preferidos. São elas
de 4 tipos (LANDOWSKI, 1997): de assimilação, ou seja, em que se procura transformar os usos linguísticos
ou a língua do outro, assimilando-os aos nossos, já que nosso modo de falar é melhor do que o do outro; de
exclusão, em que os usos linguísticos e a língua do outro são recusados, não admitidos, pois são piores do
que os nossos e ameaçam os nossos usos e língua; de agregação, em que os usos linguísticos ou a língua do
outro coexistem com os nossos, mantendo-se diferentes deles; de segregação, em que os usos linguísticos e
a língua do outro devem ser conservados, desde que separados dos nossos, para não contaminá-los.
Os diferentes tipos de relação ocorrem tanto nas relações linguísticas internas a uma dada sociedade, entre
variantes de uma língua, e tendo por referência a variante culta ou padrão, quanto entre línguas diferentes, tendo
por referência a língua nacional. Assim, por exemplo, no Brasil, as variantes utilizadas por falantes incultos,
de classe socioeconômica pouco favorecida ou da zona rural são excluídas da escola, da administração, dos
meios de comunicação; variantes regionais desprestigiadas, como a caipira ou a nordestina, são segregadas,
isto é, admitidas no espaço delas, mas não devem ser misturadas com os usos prestigiados, por exemplo, do
Divisões Linguísticas
Unidade II
rádio ou da televisão; ou, mais frequentemente, as variantes de menos prestígio são assimiladas às de mais
prestígio (ensina-se, por exemplo, na escola, o uso mais culto da língua ou o de regiões em que se fala melhor).
No que diz respeito às línguas estrangeiras, da mesma forma que entre variantes de uma língua, as relações são
sempre assimétricas (entre usos e línguas de mais ou de menos prestígio) e dependem da posição econômica,
cultural ou política que estabelecem relações de dominação entre os grupos e suas línguas. Dessa forma, a
língua nacional pode encontrar-se na posição dominante (mais prestígio, mais força) ou de dominada (menos
prestígio, menos força) em relação a outras línguas. Vejamos alguns exemplos em que a língua nacional ocupa a
posição de dominante. Na Espanha, durante a ditadura de Franco, o basco, o galego e o catalão foram excluídos
em favor da manutenção do espanhol (castelhano); no Brasil, houve também exclusão quando Pombal proibiu
o uso de línguas indígenas ou das línguas gerais no país, ou, na segunda grande guerra, quando se proibiu
o ensino do alemão ou do japonês, na escola; em relação aos imigrantes, o discurso no Brasil foi, em certos
momentos, de exclusão e, mais frequentemente, de assimilação; quanto às línguas indígenas, em certo momento
foram excluídas e hoje são segregadas (aceita-se que os índios falem outras línguas, mas nas reservas).
As relações linguísticas geram, muitas vezes, conflitos, pois o outro, o dominado, cujos usos linguísticos se
quer excluir, assimilar, agregar ou segregar, pode não querer que isso aconteça. Na Espanha, houve e há ainda
conflitos linguísticos, embora se tenha passado de uma política de exclusão, sempre mais conflituosa, a uma
de agregação (ou de segregação?). Com os imigrantes no Brasil, em muitos casos não houve conflitos, pois
imigrantes que se procurava assimilar desejavam ser assimilados, isto é, não queriam, por exemplo, que os
filhos falassem a língua estrangeira dos pais, mas usassem o português.
Quando não há conformidade entre os discursos do dominante e do dominado, os conflitos se manifestam de
diferentes formas: lutas, preconceitos, intolerância, de um lado, formas de resistência, de outro. Margarida
Maria Taddoni Petter tem mostrado, em diferentes estudos, que nas comunidades de candomblé e tambor-demina, por exemplo, é possível encontrar línguas negro-africanas, em situação ritual, como um dos elementos
estruturadores. Essas comunidades são ilhas da África no Brasil e se constituem em formas de resistência
cultural e linguística.
Pós-Graduação a Distância
(http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/node/7)
49
Divisões Linguísticas
Unidade II
Alguém ainda lembra dos seus tempos de escola, quando aquele colega que sempre que precisava ler alguma
palavra com dois erres (rr) como, por exemplo, carroça, acabava pronunciando um belo caroça e toda a turma
caía na gargalhada? Ou ainda aquele que veio lá do interior e era conhecido como caipira? Lembram? Pois já
naquele tempo, vocês, inocentes crianças, estavam cometendo preconceito linguístico. Preconceito linguístico
é o deboche, a sátira, ou a não tolerância em relação ao modo de falar das pessoas.
No Brasil falamos português, isso todos sabemos. Mas por algum motivo, convencionou-se que o português
falado deve ser o mesmo que o português escrito. Isso quer dizer que, ao longo dos anos, a gramática normativa
e a língua foram tratadas como uma coisa só.
Ainda não ficou claro? Eu explico melhor: o português que a gente aprende na escola é chamado português
padrão, cujas regras de composição são definidas pela gramática. Tudo certo até aí?Pois bem, o fato é que
a língua falada é muito mais viva e flexível do que as regras escritas naquele livrão grosso. Portanto, língua
falada e língua escrita são coisas totalmente diferentes.
Contudo, no momento em que vemos uma luta imensa para abolir os mais diversos tipos de preconceito, aquele
do tipo linguístico continua desconhecido fora dos círculos acadêmicos, e o que é pior, estimulado pelos meios
de comunicação em massa, como rádio e TV.
(www.lendo.org/preconceito-linguistico/.)
www.marcosbagno.com.br
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/p00003.
htm
http://www.novomilenio.inf.br/idioma/20030100.htm
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0102-44502003000200017
Introdução à Linguística
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3095
50
Para (não) Finalizar
Caro participante,
Chegamos ao fim desta disciplina de INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA. Em seu sentido básico, existe uma diferença
entre “fim” e “final”. Fim é aquilo que ocorre outras vezes. Final é uma vez só. Dizemos, assim, “todo fim de semana eu
trabalho” e “no final desta semana, viajarei”. Espero sinceramente que seja o final desta disciplina, mas não o fim do
estudo linguístico.
Nosso objetivo foi apresentar o assunto a você. Inúmeros são os caminhos que você pode trilhar neste estudo. Como
você percebeu, a Linguística se relaciona com diversas áreas da Linguagem, Comunicação, Psicologia, Sociologia e
tantas outras.
Pós-Graduação a Distância
Quando aprendi na Faculdade o assunto, não tinha a menor ideia de sua importância. Em minha pós-graduação e mestrado,
percebi um pouco mais da praticidade que o tema envolve. No entanto, é na prática diária de escrever, lecionar e me
comunicar que observo a dimensão do estudo linguístico e de sua dinâmica. Espero que você também veja a utilidade
que ela pode despertar em sua vida.
51
Referências
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CHOMSKY, Noam. Estruturas sintáticas. São Paulo: Martins Fontes, 1979. (Coleção Signos).
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www.academia.org.br
www.portaldasletras.com
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%ADstica
Pós-Graduação a Distância
www.abralin.org
53
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