MORFOSSINTAXE Madonna, querida Quando esta carta chegar a você, já terei escutado seu novo disco. Provavelmente, até, estarei escutando sem parar, porque é sempre assim. Você sabe como me esbaldo com sua música. E como você foi importante para mim - LIKE A VIRGIN mudou a minha vida quase tanto quanto a sua. Eu tinha 13 anos e, ao ver você se arrastando pelo palco vestida de noiva, percebi que era bem melhor fazer maluquices do que seguir acreditando que o certo é ser normal; e que o normal é ser certo. [...] Fernanda Young, Revista Cláudia, 19/11/2007. “o certo é ser normal; e que o normal é ser certo”. Analisando a ocorrência da formas linguísticas (as palavras) em destaque, diga: a. A palavra (a forma linguística) certo, na primeira oração é um SUBSTANTIVO OU ADJETIVO? SUBSTANTIVO b. Já na segunda oração, trata-se de? ADJETIVO O MESMO OCORRE COM A OUTRA FORMA LINGUÍSTICA EM DESTAQUE? Sim, a palavra normal apresenta uma função morfológica diferente: ADJETIVO (1ª) e SUBSTANTIVO (2ª). 1. 2. “o certo é ser normal; e que o normal é ser certo”. Analisando a ocorrência da formas linguísticas (as palavras) em destaque, diga: As palavras em destaque exercem a mesma função em cada uma de suas ocorrências? 1ª: certo é o núcleo do sujeito; normal é o predicativo do sujeito. 2ª normal é o núcleo do sujeito; certo é o predicativo do sujeito. FORMA E FUNÇÃO LINGUÍSTICA O QUE É FORMA LINGUÍSTICA? Cada um dos elementos da língua é dotado de significação própria. Eles são formas linguísticas e podem ser constituídos por um único fonema (por exemplo, a forma verbal é). Também podem ser palavras isoladas ou mesmo frases e textos maiores. O significado das formas linguísticas pode ser LEXICAL (correspondendo a um radical da língua) ou GRAMATICAL (correspondendo às noções de gênero, número, pessoa, modo, tempo). EXEMPLOS DE FORMAS LINGUÍSTICAS jornalistas falávamos 1. 2. a. b. c. Forma lexical: radical (fal-), verbo. Formas gramaticais: Vogal temática da 1ª conjugação (-a); Desinência do pretérito imperfeito do modo indicativo (-va); Desinência da primeira pessoa do plural (-mos). Forma lexical: radical (jornal-), substantivo. 2. Formas gramaticais: a. Desinência nominal/Sufixo formador de palavra derivada (-ista); b. Desinência nominal de número (-s). 1. O QUE É FUNÇÃO LINGUÍSTICA? É a aplicação que uma forma linguística tem na língua com base em seu valor gramatical: substantivos podem exercer a função de núcleo do sujeito, objeto direto, objeto indireto, etc. mas não podem ser núcleo do predicado verbal. Essa função só pode ser desempenhada por verbos. EXEMPLOS DE FUNÇÕES LINGUÍSTICAS Falávamos aos jornalistas a verdade. Falávamos aos jornalistas a verdade. Núcleo do predicado Objeto indireto do verbal. núcleo do predicado verbal. O QUE É MORFOSSINTAXE? Para entendermos o funcionamento da língua, além de levar em conta a sua dimensão discursiva é necessário também termos um bom conhecimento das formas linguísticas e das funções morfológicas e sintáticas que elas desempenham nos enunciados, porque a relação entre forma e função é um aspecto muito importante na constituição do sentido dos enunciados. A morfossintaxe estuda as relações entre a morfologia (forma) e a sintaxe (função) das palavras nos enunciados. UM MAIS UM (SKANK)Composição: Samuel Rosa / Rodrigo F. Leão (refrão) Éramos nós Éramos nós Um mais um Éramos mais Que só dois Éramos um Feito de dois Mais que nós dois Nunca então sós (refrão) Eu era eu Quando era nela Ela em mim Como ela era Éramos um Feito de dois Mais que nós Nunca então sós Soma sem subtração Múltiplos sem divisão Dois que se amavam então Éramos multidão E na matemática torta Da vida aqui sem ela Dois menos um é zero Eu não sou nada do que eu era SINTAXE DE CONCORDÂNCIA NOMINAL Princípio linguístico que orienta a combinação, em gênero e número, entre o substantivo (termo determinado) e seus determinantes: adjetivo, artigo, pronome, numeral. VERBAL Princípio linguístico que orienta a combinação, em número e pessoa, entre o verbo e o seu sujeito. É nós!!! Fala típica de um grupo jovem ligado a tribo do funk carioca. OBVIAMENTE, não obedece ao princípio da concordância, como tão belamente encontramos na música do Skank: “Éramos nós”. É nós! Para a gramática normativa: Para a gramática reflexiva: Constitui um erro de Registro informal, variedade concordância verbal, já que o verbo (é) não concorda em número e pessoa com o seu sujeito (nós). A norma culta da língua prescreve que o verbo concorda sempre com o seu sujeito em número e pessoa (regra principal da concordância verbal). social, própria de um grupo. Para o falante, o verbo na 3ª pessoa do singular funciona como uma afirmação universal, é como se dissessem: É ISSO! Não deve ser usado em situações formais. Os mano, as mina! Para a gramática normativa: Para a gramática reflexiva: Constitui um erro de Registro informal, variedade concordância nominal, já que os artigos (os, as) estão no plural, mas os substantivos estão no singular (mano, mina). A norma culta da língua prescreve que os determinantes concordem em gênero e número com o substantivo ao qual se referem (regra principal da concordância nominal). social, própria de um grupo. Para o falante, os artigos na 3ª pessoa do plural funcionam como marcas de plural, sendo redundante colocar o substantivo também no plural. Não deve ser usado em situações formais. SINTAXE DE REGÊNCIA NOMINAL VERBAL Denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre substantivos, adjetivos e determinados advérbios e seus respectivos complementos nominais. Essa relação vem sempre marcada por uma preposição. O substantivo é considerado o termo regente e seu complemento, o termo regido. Denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre os verbos e seus respectivos complementos. Essa relação vem sempre marcada por uma preposição, no caso dos objetos indiretos. O verbo é considerado o termo regente e seu complemento, o termo regido. Aquela mulher que você tá saindo é a esposa do fulano? A regência do verbo sair está errada. Este verbo rege (exige) a preposição COM: sair com. Então, deve ser usada a preposição antes do pronome relativo QUE: com que você está saindo (ele está saindo com a esposa do fulano). Aquela mulher com que (com a qual/com quem) você está saindo é a esposa do fulano? SINTAXE DE COLOCAÇÃO Leia: PAPOS, de Luís Fernando Veríssimo - Me disseram... - Disseram-me. - Hein? - O correto e "disseram-me". Não "me disseram". - Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"? - O quê? - Digo-te que você... - O "te" e o "você" não combinam. - Lhe digo? - Também não. O que você ia me dizer? - Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz? - Partir-te a cara. - Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me. - É para o seu bem. - Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu... - O quê? - O mato. - Que mato? - Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? - Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo! - Se você prefere falar errado... - Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me? - No caso... não sei. - Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não? - Esquece. - Não. Como "esquece"? Você prefere falar errado? E o certo é "esquece" ou"esqueça"? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos. - Depende. - Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o. - Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser. - Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizerlo-te o que dizer-te-ia. - Por que? - Porque, com todo este papo, esqueci-lo. AS POSIÇÕES OCUPADAS PELOS PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS ÁTONOS. NO BRASIL: EM PORTUGAL: Prefere-se a próclise (posição do pronome antes do verbo): “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí...” Me faz um favor? Te quero sim. Prefere-se a ênclise (posição do pronome depois do verbo): Dá-me um dinheiro aí. Faz-me um favor? Quero-te sim. OBSERVAÇÃO: EM SITUAÇÕES FORMAIS EM SITUAÇÕES INFORMAIS É frequente a ocorrência da próclise no início das orações, como em “Me parece que...”, “Nos avisaram que...”. Os pronomes pessoais do caso reto exercem a função de complemento: “Eu vi ela...”. O uso dos pronomes oblíquos átonos devem ser empregados sempre após o verbo quando não houver a presença de uma palavra atrativa que possa justificar a próclise: Parece-me que... Avisaram-nos que... A gramática normativa recomenda que os pronomes o, a, os, as sejam usados na função de complemento: “Eu a vi...”. Fi-lo porque qui-lo. Frase célebre atribuída a Jânio Quadros, mas que ele não disse. Na verdade, a frase completa era "Fi-lo porque qui-lo. Lê-lo-á quem suportá-lo", e era o título de uma resenha sobre o livro "15 Contos" de autoria de Jânio, publicada na revista Veja. O autor assim titulou a resenha numa analogia ao estilo dos contos que, segundo o resenhista, era muito rocambolesco, bem ao modo erudito de Jânio. O autor da resenha deve ter escrito a frase sob uma certa "liberdade literária" , uma vez que ela está gramaticalmente incorreta. O "porque" atrai o pronome. Logo, a frase gramaticalmente correta teria que ser "fi-lo porque o quis". MESÓCLISE A gramática recomenda esse uso (posição do pronome no meio do verbo) quando o verbo estiver no futuro (do presente ou do pretérito) e quando não vier precedido por uma das palavras que atraem os pronomes. Não nos conformaremos em ser para sempre o país do futuro. E SE ESSSA FRASE FOSSE AFIRMATIVA? Nos conformaremos em ser.... = errado Conformaremos-nos em ser... = errado Conformar-nos-emos em ser... =certo