O mar não está para peixe A dieta do Mediterrâneo é um prodígio para a saúde. Pena que não combina com os tempos modernos e não é mais seguida nem pelos mediterrâneos Paulo Vitale MONUMENTO GREGO A salada que resume uma civilização: tomate, pepino, azeitona, queijo de cabra e uma preguiçosa soneca depois Uma bela salada de tomate, pepino, azeitona e queijo de cabra. Peixe assado inteiro, temperado com ervas colhid Grão-de-bico, berinjela, alho. Infindáveis litros de azeite de oliva. Frutas, nozes e castanhas. Vinho, vinho e mais esses ingredientes, a dieta do Mediterrâneo é considerada, com muitas pesquisas para provar, a receita para uma saudável e deliciosamente temperada por boas refeições. Muito menos comentada, porém, é a contrapartida para azeite à vontade e tomar vinho em todas as refeições sem engordar: subir e descer montanhas pastoreando ovelha cedo e acordar idem, plantar a própria comida ou buscá-la no mar em barcos movidos a remo, exatamente como gregos e troianos quando os primeiros estudos sobre a boa saúde dos povos mediterrâneos foram realizados na Il no fim dos anos 40. "A dieta mediterrânea continua sendo garantia de uma vida saudável, mas temos de consider nossa realidade mudou", reconhece Katherine McManus, mestra em nutrição e professora da Escola de Medicina autora de uma pesquisa que relaciona emagrecimento com a dieta do Mediterrâneo. "O maior problema é que no acostumamos a comer imensas porções. A chave da dieta mediterrânea está na moderação e no planejamento, ou comer pequenas quantidades de alimentos variados e escolher o que se vai ingerir." A professora tem, claro, um vista americano, mas em matéria de maus hábitos os nacionais já estão empatando. "O brasileiro peca pela quant muita facilidade. Se falar para comer castanha, ele não come duas ou três – acaba com um pacote inteiro", diz a n Virginia Nascimento, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição. "Outro ponto complicado é a falta d dieta. Quando se tira ou se reduz muito a carne vermelha, a pessoa logo reclama que se sente fraca." Baseada no trio composto de trigo, uva e os milenares olivais, a alimentação dos povos que se desenvolveram em Mar Mediterrâneo foi favorecida, de fato, pela aridez: o solo pobre e a geo-grafia montanhosa dificultam a criaçã a agricultura em larga escala. O primeiro estudo moderno sobre seus benefícios foi feito por Ancel Keys, da Uni Minnesota. Durante mais de dez anos, ele comparou Itália e Grécia com outros cinco países para desvendar por q habitantes viviam mais e melhor, mesmo com atendimento médico, à época, precário. A comprovação da relação hábitos alimentares e boa saúde foi publicada em 1980. Incontáveis pesquisas depois, a dieta do Mediterrâneo to sinônimo de longevidade saudável, com capacidade de prevenir diabetes, colesterol ruim e câncer. O próprio Ke seguia religiosamente, morreu aos 100 anos. Estudos mais recentes mostram que a dieta também tem potencial p os efeitos da doença de Alzheimer em pessoas que começam a apresentar sinais. Nem os mediterrâneos, porém, escaparam das mudanças nos hábitos alimentares, especialmente a introdução de industrializados. Na Grécia, três quartos dos adultos estão acima do peso – a pior taxa da Europa, segundo a Org Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, sendo que o índice de sobrepeso dos meninos de 12 anos cresce 135% entre 1982 e 2002 e continua a aumentar. Na Itália e na Espanha, metade da população também está acima desejável. "É a prova de que os tradicionais hábitos mediterrâneos eram saudáveis. O que engorda é a combinaçã alimentação pobre em nutrientes e altamente calórica com falta de atividade física", diz Antonia Trichopoulou, p epidemiologia da Universidade de Atenas, que lamenta as consequências sobre a silhueta e a sociedade. "Comer e um evento social. As antigas refeições mediterrâneas eram preparadas na companhia de amigos e da família, fe calma, seguidas de um pequeno descanso. Mais do que a dieta, o estilo de vida foi fundamental para a boa saúde mediterrâneos", diz. Autoridades da Itália, da Espanha, da Grécia e do Marrocos estão apelando, literalmente: qu Unesco declare a dieta patrimônio cultural da humanidade, como forma de evitar sua extinção. Modos de vida, n não mudam por decreto. http://veja.abril.com.br/270509/p_098.shtml