UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO IPO LUMA DA SILVA MIRANDA Rio de Janeiro 2015 ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO IPO LUMA DA SILVA MIRANDA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) Orientador: Professor Doutor João Antônio de Moraes Rio de Janeiro Fevereiro de 2015 i M672a Miranda, Luma da Silva. Análise da entoação do português do Brasil segundo o modelo IPO / Luma da Silva Miranda. – Rio de Janeiro, 2015. 160 f.; 31 cm. Orientador: Prof. Dr. João Antônio de Moraes. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Letras Vernáculas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Bibliografia: f. 131-133. 1. Fonética. 2. Análise prosódica. 3. Entonação. I. Título. II. Moraes, João Antônio. CDD 469.16 ii ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO IPO Luma da Silva Miranda Orientador: Professor Doutor João Antônio de Moraes Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: ______________________________________________________________________ Presidente, Professor Doutor João Antônio de Moraes – UFRJ ______________________________________________________________________ Professora Doutora Claudia de Souza Cunha – UFRJ ______________________________________________________________________ Professor Doutor Pablo Arantes – UFSCAR ______________________________________________________________________ Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra – UFRJ, suplente ______________________________________________________________________ Professora Doutora Letícia Rebollo Couto – UFRJ, suplente Rio de Janeiro Fevereiro de 2015 iii AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para que eu pudesse concluir mais uma importante realização em minha vida e por ter colocado sempre as pessoas certas no meu caminho. Ao meu orientador, o professor João Antônio de Moraes, por ter me orientado todos esses anos pacientemente e por ser um dos meus maiores exemplos de competência e profissionalismo tanto na carreira docente quanto no trabalho como pesquisador. Além disso, não poderia deixar de citar a grande influência cultural que ele traz para quem convive com ele. Ao professor Pablo Arantes pela disponibilidade de vir ao Rio de Janeiro para compor a banca de avaliação da minha dissertação de mestrado junto com a professora Claudia Cunha; dois pesquisadores que, de certa forma, acompanharam e contribuíram para o desenvolvimento dessa pesquisa desde o início. Ao CNPq, no primeiro ano de mestrado, e à FAPERJ, no segundo, pelo apoio financeiro, sem o qual não poderia ter me dedicado exclusivamente à pesquisa. Aos professores da pós-graduação, Silvia Rodrigues, Márcia Machado, Carolina Serra, Claudia Cunha mais uma vez, Violeta Rodrigues e Maria Eugênia Duarte, que incitaram a minha curiosidade acerca dos mais diversos fenômenos da linguagem e que aprimoraram, com todo rigor, meu trabalho com a pesquisa acadêmica. Aos informantes que gravaram o corpus dessa pesquisa, Alexandre Braga, Beatrice Tuxen, João Moraes e Manuella Carnaval, sempre solícitos aos meus pedidos de gravação e regravação. Aos inúmeros ouvintes da Faculdade de Letras que participaram da aplicação dos experimentos desta pesquisa e que me proporcionaram encontros agradáveis. Aos queridos amigos do labô, Manu, Badaue e Paulinho, pela agradável companhia e por fazerem da sala F-314 um lugar muito especial. Não poderia deixar de citar também a Carolina Gomes Luques, que será a nova integrante da nossa turma e a quem eu agradeço muitíssimo por ter feito a revisão do texto desta dissertação. iv Aos professores que me inspiraram ao longo da minha trajetória acadêmica e que me tornaram uma grande admiradora deles, Luiz Palladino, Maluh Guimarães, Manuel Antônio de Castro, João Camillo Penna, Antonio Carlos Secchin, e a todos os outros que contribuíram para a minha formação. Aos meus amigos, Helen de Andrade, Cyril McIlhargie, Sarah do Couto, Karen de Carvalho, Isabela Salgado, Ana Carolina Campos e tantos outros, que sempre estão comigo em meu coração e em meus pensamentos, pelo incentivo e por dividirem tantos momentos especiais comigo ampliando minha alegria de viver. Aos meus três gatinhos, Lori, Didi e Bibinha, por renovarem minhas energias durante as poucas pausas no trabalho com a dissertação. À minha família, meu pai Luiz Antônio Miranda, minha mãe Maria Rita da Silva e minha irmã Luana da Silva Miranda, por todo amor e apoio, sem falar na paciência por suportarem, de vez em quando, meu mau humor proveniente do excesso de tempo dedicado somente às tarefas de mestrado. Ao meu namorado Arion Vogl, que, mesmo estando longe, está sempre presente em meu dia a dia. Por isso, eu faço minhas as palavras do poeta português Luís Vaz de Camões para expressar meus sentimentos em uma singela homenagem: “[...]Porque é tamanha bemaventurança/ o dar-vos quanto tenho, e quanto posso/ que quanto mais vos pago, mais vos devo”. A todos aqueles que sempre me apoiaram e acreditaram em mim nas diferentes fases que já vivi, trazendo sempre uma palavra amiga que servia de incentivo para que eu continuasse a seguir meu caminho e a concluir meus projetos. v EPÍGRAFE "Pra meu gosto a palavra não precisa significar -- é só entoar." (Menino do mato, Manoel de Barros) vi RESUMO ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO IPO Luma da Silva Miranda Orientador: Professor Doutor João Antônio de Moraes Resumo da dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) O presente trabalho consiste em um estudo fonético-experimental da entoação do português do Brasil que utiliza o método de ressíntese e estilização da curva de F0 em uma abordagem perceptiva baseada no modelo IPO. O objetivo desta pesquisa é descrever um grupo de contornos melódicos em termos de movimentos melódicos relevantes perceptivamente que se combinam para formar os padrões melódicos estilizados. Para proceder à realização deste trabalho, foi selecionado um corpus de 8 contornos melódicos do PB, a saber: asserção, questão total, ordem, desafio, pedido, sugestão, questão parcial e exclamação, e gravado por 4 informantes do Rio de Janeiro. O programa PRAAT foi utilizado para estilizar as curvas de F0 em duas fases: na primeira, as curvas melódicas dos contornos foram simplificadas em termos de linhas retas com o menor número de pontos de inflexão; na segunda, mudanças graduais foram adicionadas aos contornos para testar hipóteses sobre seu reconhecimento perceptivo com o objetivo de propor uma estandardização de cada contorno melódico analisado. Testes de percepção foram aplicados para validar os contornos melódicos estilizados em relação a sua igualdade e aceitabilidade perceptiva. Constatou-se que os contornos melódicos do PB com a curva melódica simplificada são avaliados pelos ouvintes como idênticos aos originais e que algumas modificações produzidas no processo de estandardização são responsáveis pela identificação do valor funcional dos contornos. Finalmente, a descrição dos contornos melódicos através da abordagem IPO proporciona uma classificação detalhada do componente fonético da entoação que identifica os movimentos melódicos relevantes perceptualmente ligados ao seu valor funcional. Palavras-chave: Entoação. IPO. Percepção. Rio de Janeiro Fevereiro de 2015 vii ABSTRACT ANALYSIS OF BRAZILIAN PORTUGUESE INTONATION ACCORDING TO THE IPO MODEL Luma da Silva Miranda Supervisor: Professor Doctor João Antônio de Moraes Abstract of the Masters Dissertation submitted to the P.G. Program in Vernacular Letters, Faculty of Letters of the Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, as part of the necessary requirements to obtain the title of Master in Vernacular Letters (Portuguese Language). This work consists of a phonetic-experimental study of Brazilian Portuguese intonation. It uses the method of resynthesis and stylization of F0 curve through a perceptual approach based on the IPO model. The aim of this research is to describe a set of melodic contours in terms of perceptually relevant pitch movements that combine with each other to form the stylized melodic pattern. In order to achieve this aim, a corpus of eight Brazilian Portuguese melodic contours was selected (assertion, yes-no question, command, challenge, request, suggestion, wh-question and exclamation) and recorded by four informants from Rio de Janeiro. The software PRAAT was used to stylize F0 curves: during the first step, the melodic curves were simplified, transformed into straight lines with the fewest number of inflexion points; during the second step, gradual changes were introduced in the melodic contours so that some hypotheses for their recognition could be tested. This way we could propose a standardization of each melodic contour analyzed. Perceptual tests were applied in order to verify the stylized F0 contours in terms of perceptual equality and acceptability. It was found that Brazilian Portuguese melodic contours with the simplified melodic curve were evaluated by the hearers as equal to the original ones and some modifications produced in these contours during the standardization process are responsible for their functional identification. Finally, the description of the melodic contours through the IPO approach provides a detailed phonetic classification of intonation which identifies the perceptually relevant pitch movements related to its functional value. Key-words: Intonation. IPO. Perception. Rio de Janeiro Fevereiro de 2015 viii LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SINAIS ! – downstep ¡ – upstep % – fronteira de enunciado * – sílaba tônica > – alinhamento antecipado < – alinhamento tardio ' – sílaba tônica do enunciado AM – modelo autossegmental e métrico EST – estímulo F0 – frequência fundamental H – tom alto Hz – hertz INF – informante IPO – Instituto para pesquisa da percepção L – tom baixo ms – milissegundo PB – Português brasileiro ST – Semitom ST/s – Semitom por segundo ix SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 1 1.1 Considerações iniciais....................................................................................................... 1 1.2 A entoação modal..............................................................................................................2 1.3 A prosódia experimental: algumas considerações sobre o tema....................................... 6 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................... 10 2.1 Modelos entonacionais: representando a entoação......................................................... 10 2.2 O modelo AM................................................................................................................. 12 2.3 O modelo IPO................................................................................................................. 14 2.3.1 Línguas descritas pelo modelo IPO......................................................................... 20 2.4 Os contornos melódicos do PB....................................................................................... 23 2.4.1 Teoria dos atos ilocutórios....................................................................................... 23 2.4.2 Representação fonológica do sistema entonacional do PB...................................... 28 CAPÍTULO 3. MÉTODO...................................................................................................... 34 3.1 Corpus............................................................................................................................. 34 3.2 Os informantes................................................................................................................ 35 3.3 Estilização close copy..................................................................................................... 36 3.3.1 Asserção................................................................................................................... 39 3.3.2 Questão total............................................................................................................ 41 3.3.3 Ordem.......................................................................................................................43 3.3.4 Desafio..................................................................................................................... 45 3.3.5 Pedido.......................................................................................................................47 3.3.6 Sugestão................................................................................................................... 49 3.3.7 Questão parcial......................................................................................................... 51 3.3.8 Exclamação.............................................................................................................. 53 3.4 Estilização equivalent copy............................................................................................. 55 3.4.1 Asserção................................................................................................................... 58 x 3.4.2 Questão total............................................................................................................ 59 3.4.3 Ordem.......................................................................................................................60 3.4.4 Desafio..................................................................................................................... 60 3.4.5 Pedido.......................................................................................................................61 3.4.6 Sugestão................................................................................................................... 62 3.4.7 Questão parcial......................................................................................................... 63 3.4.8 Exclamação.............................................................................................................. 64 3.5 Experimentos de percepção............................................................................................ 64 3.6 Validação estatística........................................................................................................ 67 3.7 Esquema da abordagem IPO........................................................................................... 67 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 69 4.1 Experimento 1 – Asserção.............................................................................................. 69 4.1.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 69 4.1.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 69 4.1.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 70 4.1.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 70 4.1.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 71 4.1.6 Estímulo 2.1............................................................................................................. 71 4.1.7 Estímulo 2.2............................................................................................................. 72 4.1.8 Estímulo 3.1............................................................................................................. 72 4.1.9 Estímulo 3.2............................................................................................................. 72 4.2 Experimento 1 – Questão total........................................................................................ 73 4.2.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 73 4.2.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 73 4.2.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 74 4.2.4 Estímulo 2.1............................................................................................................. 74 4.2.5 Estímulo 2.2............................................................................................................. 74 xi 4.2.6 Estímulo 3.1............................................................................................................. 75 4.2.7 Estímulo 3.2............................................................................................................. 75 4.2.8 Estímulo 4.1............................................................................................................. 76 4.2.9 Estímulo 4.2............................................................................................................. 76 4.2.10 Estímulo 5.1........................................................................................................... 76 4.2.11 Estímulo 5.2........................................................................................................... 77 4.2.12 Estímulo 6.1........................................................................................................... 77 4.2.13 Estímulo 6.2........................................................................................................... 77 4.3 Experimento 2 – Ordem.................................................................................................. 78 4.3.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 78 4.3.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 78 4.3.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 79 4.3.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 79 4.3.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 79 4.3.6 Estímulo 2.1............................................................................................................. 80 4.3.7 Estímulo 2.2............................................................................................................. 80 4.3.9 Estímulo 3.1............................................................................................................. 80 4.3.10 Estímulo 3.2........................................................................................................... 81 4.4 Experimento 2 – Desafio.................................................................................................81 4.4.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 81 4.4.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 82 4.4.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 82 4.4.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 83 4.4.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 83 4.4.6 Estímulo 1.6............................................................................................................. 83 4.4.7 Estímulo 2.1............................................................................................................. 84 4.4.8 Estímulo 2.2............................................................................................................. 84 xii 4.4.9 Estímulo 3.1............................................................................................................. 85 4.4.10 Estímulo 3.2........................................................................................................... 85 4.4.11 Estímulo 4.1........................................................................................................... 85 4.4.12 Estímulo 4.2........................................................................................................... 86 4.5 Experimento 2 – Pedido.................................................................................................. 86 4.5.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 86 4.5.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 87 4.5.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 87 4.5.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 88 4.5.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 88 4.5.6 Estímulo 2.1............................................................................................................. 88 4.5.7 Estímulo 2.2............................................................................................................. 89 4.5.8 Estímulo 3.1............................................................................................................. 89 4.5.9 Estímulo 3.2............................................................................................................. 89 4.5.10 Estímulo 4.1........................................................................................................... 90 4.5.11 Estímulo 4.2........................................................................................................... 90 4.6 Experimento 2 – Sugestão...............................................................................................91 4.6.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 91 4.6.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 91 4.6.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 92 4.6.4 Estímulo 2.1............................................................................................................. 92 4.6.5 Estímulo 2.2............................................................................................................. 92 4.6.6 Estímulo 3.1............................................................................................................. 93 4.6.7 Estímulo 3.2............................................................................................................. 93 4.6.8 Estímulo 3.3............................................................................................................. 94 4.6.9 Estímulo 3.4............................................................................................................. 94 4.6.10 Estímulo 3.5........................................................................................................... 94 xiii 4.7 Experimento 3 – Questão parcial.................................................................................... 95 4.7.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 95 4.7.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 95 4.7.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 96 4.7.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 96 4.7.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 97 4.7.6 Estímulo 1.6............................................................................................................. 97 4.7.7 Estímulo 2.1............................................................................................................. 97 4.7.8 Estímulo 2.2............................................................................................................. 98 4.7.9 Estímulo 3.1............................................................................................................. 98 4.7.10 Estímulo 3.2........................................................................................................... 99 4.8 Experimento 3 – Exclamação......................................................................................... 99 4.8.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 99 4.8.2 Estímulo 1.2........................................................................................................... 100 4.8.3 Estímulo 1.3........................................................................................................... 100 4.8.4 Estímulo 1.4........................................................................................................... 100 4.8.5 Estímulo 1.5........................................................................................................... 101 4.8.6 Estímulo 1.6........................................................................................................... 101 4.8.7 Estímulo 1.7........................................................................................................... 101 4.8.8 Estímulo 1.8........................................................................................................... 102 4.8.9 Estímulo 1.9........................................................................................................... 102 4.8.10 Estímulo 2.1......................................................................................................... 102 4.8.11 Estímulo 2.2......................................................................................................... 103 4.8.12 Estímulo 3.1......................................................................................................... 103 4.8.13 Estímulo 3.2......................................................................................................... 103 4.6.14 Estímulo 4.1......................................................................................................... 104 CAPÍTULO 5. PARA UMA GRAMÁTICA DA ENTOAÇÃO MODAL DO PB.......... 106 xiv 5.1 Asserção........................................................................................................................ 107 5.1.1 Direção dos movimentos da asserção.................................................................... 107 5.1.2 Alinhamento dos movimentos da asserção............................................................ 107 5.1.3 Declividade dos movimentos da asserção.............................................................. 108 5.1.4 Excursão dos movimentos da asserção.................................................................. 108 5.2 Questão total................................................................................................................. 109 5.2.1 Direção dos movimentos da questão total..............................................................109 5.2.2 Alinhamento dos movimentos da questão total..................................................... 109 5.2.3 Declividade dos movimentos da questão total....................................................... 110 5.2.4 Excursão dos movimentos da questão total........................................................... 110 5.3 Ordem............................................................................................................................111 5.3.1 Direção dos movimentos da ordem........................................................................ 111 5.3.2 Alinhamento dos movimentos da ordem............................................................... 111 5.3.3 Declividade dos movimentos da ordem................................................................. 111 5.3.4 Excursão dos movimentos da ordem..................................................................... 112 5.4 Desafio.......................................................................................................................... 113 5.4.1 Direção dos movimentos do desafio...................................................................... 113 5.4.2 Alinhamento dos movimentos do desafio.............................................................. 113 5.4.3 Declividade dos movimentos do desafio............................................................... 113 5.4.4 Excursão dos movimentos do desafio.................................................................... 114 5.5 Pedido............................................................................................................................114 5.5.1 Direção dos movimentos do pedido....................................................................... 114 5.5.2 Alinhamento dos movimentos do pedido...............................................................115 5.5.3 Declividade dos movimentos do pedido................................................................ 115 5.5.4 Excursão dos movimentos do pedido.....................................................................116 5.6 Sugestão........................................................................................................................ 116 5.6.1 Direção dos movimentos da sugestão.................................................................... 116 xv 5.6.2 Alinhamento dos movimentos da sugestão............................................................ 116 5.6.3 Declividade dos movimentos da sugestão............................................................. 117 5.6.4 Excursão dos movimentos da sugestão.................................................................. 117 5.7 Questão parcial.............................................................................................................. 117 5.7.1 Direção dos movimentos da questão parcial.......................................................... 117 5.7.2 Alinhamento dos movimentos da questão parcial..................................................117 5.7.3 Declividade dos movimentos da questão parcial................................................... 118 5.7.4 Excursão dos movimentos da questão parcial........................................................119 5.8 Exclamação................................................................................................................... 119 5.8.1 Direção dos movimentos da exclamação............................................................... 119 5.8.2 Alinhamento dos movimentos da exclamação....................................................... 119 5.8.3 Declividade dos movimentos da exclamação........................................................ 120 5.8.4 Excursão dos movimentos da exclamação............................................................. 120 5.9 Traços dos movimentos melódicos do PB.................................................................... 121 5.10 Configurações dos padrões melódicos do PB 122 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 128 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 132 APÊNDICE xvi 1. INTRODUÇÃO 1.1 Considerações iniciais No paradigma científico moderno, há uma mudança significativa no momento em que a ciência começa a tratar os fenômenos da natureza que o homem percebe através dos sentidos por meio da criação de seu próprio projeto de investigação. O filósofo alemão Martin Heiddeger (1977:116) afirma que a ciência é uma das manifestações mais essenciais da época moderna, em que o conhecimento é tomado como pesquisa e onde a verdade se transforma em certeza de representação. Consequentemente, essa mudança na concepção da verdade acarretou uma grande preocupação com a validade do conhecimento produzido pelo procedimento adotado pelo pesquisador na análise de um determinado fenômeno. É nesse contexto que ganham muita importância as discussões sobre a metodologia e o método utilizados nas investigações dos mais variados objetos de estudo. De maneira geral, Heiddeger (1977) define três características fundamentais no paradigma moderno, a saber: o procedimento, o método e a exploração organizada, que juntas demonstram o modo de pesquisar desse paradigma: A ciência moderna se fundamenta e ao mesmo tempo se individualiza nos projetos de esferas de objetos determinados. Estes projetos se desdobram nos métodos correspondentes e assegurados através do rigor. O método respectivo se instala na exploração organizada. Pesquisa e rigor, método e exploração organizada se exigem reciprocamente, são a essência da ciência moderna, transformam-na em pesquisa.1 (1977: 126) Sendo assim, o experimento investigativo moderno é baseado em um projeto que busca produzir resultados no decorrer de um procedimento. Heiddeger diz que “quanto mais exato for o traço básico projetado para o objeto, mais exata se torna a possibilidade do experimento” (1977: 121). Nesse sentido, torna-se, segundo ele, importante reconhecer que o elemento da inexatidão é essencial para o desenvolvimento das pesquisas das ciências da natureza. Werner Heisenberg2 (1971), vencedor do prêmio Nobel de Física em 1932 e um dos fundadores da teoria quântica, revolucionou os fundamentos da ciência no campo da Física ao trazer essa 1 Modern science simultaneously establishes itself and differentiates itself in its projections of specific objectspheres. These projection-plans are developed by means of a corresponding methodology, which is made secure through rigor. Methodology adapts and establishes itself at any given time in ongoing activity. Projection and rigor, methodology and ongoing activity, mutually requiring one another, constitute the essence of modern science, transform science into research. 2 SILVA, A. L. S. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ciencias/inexatidao-cientifica-para-heisenberg/>. Acesso em 22 de janeiro de 2015. 1 nova abordagem científica em seu livro Physics and Philosophy (1958), que parte do seguinte princípio: “[...] o que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso método particular de questionamento”3 (1958: 57). Nesse paradigma, a ciência ganha um caráter inovativo e esclarecedor, já que o experimentador pode criar novas propostas de análise para os fenômenos da natureza em busca de sua representação. As pesquisas na área da linguística, campo de investigação científica da linguagem que se propõe a estudar o funcionamento das línguas naturais, também se incluem nesse paradigma moderno. Nessa área de investigação cujo objeto de estudo é uma língua natural, busca-se explorar a complexidade de seu sistema linguístico com o objetivo de representar os mais diversos fenômenos da linguagem que podem ser estudados de maneira independente, como: a morfologia, a sintaxe, a semântica, a pragmática, a fonética e a fonologia, que, por sua vez, também engloba a prosódia; uma área incluída tardiamente nas investigações linguísticas por conta da falta de recursos tecnológicos que pudessem analisar apropriadamente os fenômenos prosódicos. Somente na linguística moderna, a prosódia se define como um campo de pesquisa autônomo com objeto próprio de análise (BARBOSA, P.A.)4, o sinal acústico da fala, tendo como pressuposto o fato de que, além dos sons segmentais, “[...] o falante [...] controla outros traços vocais como volume, tempo, ritmo, altura melódica, qualidade de voz, etc.” 5 (‘t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 1, tradução nossa). Por isso, a prosódia também é conhecida como um plano suprassegmental, porque sua variação estende-se para além de um segmento. 1.2 A entoação modal Análises de fenômenos como acento, ritmo da fala, o sentido pragmático que a melodia da fala adiciona à frase (entoação modal), entre outros, fazem parte dos objetos de estudo da área da prosódia que podem ser explorados de maneira autônoma. É importante dizer que muitas vezes os termos prosódia e entoação são usados como sinônimos. No entanto será adotada aqui a distinção que muitos pesquisadores fazem em relação à aplicação desses termos: o termo prosódia se refere a um sentido mais genérico que inclui sistemas abstratos 3 “[…] what we observe is not the nature itself, but nature exposed to our method of questioning” 4 BARBOSA, P. A. Disponível em: <http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/index.php/Pros%C3%B3dia>. Acesso em 20 de dezembro de 2014. 5 “[…] the speaker […] controls other vocal features such as loudness, tempo, rhythm, pitch, voice quality, etc.” 2 de representação (HIRST; DI CRISTO, 1998: 4), enquanto o termo entoação diz respeito a um nível mais físico sendo representado pela frequência fundamental (F0). Dentre os fenômenos estudados na área da prosódia, considera-se que “a entoação é um dos meios vocais que pode ser colocado em uso em transmitir uma mensagem de um falante para um ouvinte” 6 (’t HART, COHEN, COLLIER, 1990: 2, tradução nossa). Esse consenso entre os pesquisadores consiste no fato de que a entoação desempenha diferentes funções que podem ser distribuídas em uma escala que vai do nível mais linguístico até o extralinguístico, como pode ser visto na figura a seguir: Linguístico Proeminência, demarcação de fronteira, organização rítmica e entonacional do enunciado Paralinguístico Atitudes proposicionais e sociais Extralinguístico Emoção, fonoestilo Figura 1 – Escala das funções mais linguísticas até as mais expressivas da entoação É importante notar na extremidade esquerda deste continuum as funções mais linguísticas da entoação, que incluem diversos fenômenos que formam o sentido semântico e pragmático dos enunciados. Já na posição intermediária do continuum, encontram-se as funções denominadas atitudinais, que se referem à avaliação do falante. Segundo Moraes (2012), as atitudes ainda podem ser classificadas quanto à avaliação feita pelo falante relacionada ao conteúdo proposicional que ele está transmitindo; são as chamadas atitudes proposicionais, ou relacionada à intenção do falante quanto ao seu interlocutor, denominadas atitudes sociais. No outro extremo do continuum, localizam-se as funções emocionais que se caracterizam por serem mais involuntárias. Nele, estão categorizadas as emoções primárias, como alegria, raiva, tristeza e medo, e secundárias dos falantes, tais como vergonha, ciúmes, entre outros. No que se refere às funções da entoação, é interessante notar que “[...] ao modificar parâmetros acústicos, o falante pode suplementar seu enunciado com elementos de significado que não estejam explicitamente contidos na criação lexical ou sintática” 7 (‘t HART; COHEN; 6 “[...] intonation is one of the vocal means that can be put to use in conveying a message from speaker to listener.” 7 “[…] by modifying the prosodic features the speaker can supplement his utterance with elements of meaning that are not explicit contained in its lexical and syntactic make-up.” 3 COLLIER, 1990: 5), e é por esse motivo que os estudos da entoação não só sobre seu valor funcional (entoação modal), mas também sobre a expressão de atitudes e emoções revelam significados que nunca antes foram categorizados. Nesta dissertação, a melodia da fala será analisada quanto a sua função mais linguística, mais particularmente à função pragmática, em que o propósito comunicativo do falante é veiculado pela entoação. Apesar de não ser consensual a classificação dos tipos de funções que a entoação desempenha, muitos autores já apresentaram diversas propostas como a função modal (FONÁGY, 1993) e a função expressiva (FONÁGY, 1993; PRIETO, 2003). De acordo com a proposta de Hirschberg (2003), a entoação ainda pode ser categorizada em relação a sua função: (a) sintática, através da desambiguização de ambiguidade sintática e fraseamento; (b) semântica, referindo-se à associação com foco e ambiguidade de escopo; (c) discursiva, que envolve fenômenos como tópico/comentário, tomada de turno, marcadores discursivos, etc. De maneira geral, pode-se dizer que a entoação modal representa uma atitude do falante em relação ao seu propósito comunicativo, como: “a apresentação do enunciado como narração de um fato, como hipótese, como desejo, como ordem, como pergunta ou como estímulo que provoca fortes emoções” (FONÁGY, 1993:27). É interessante investigar nessa função da entoação quantos perfis melódicos existem no sistema entonacional do PB que manifestam os atos de fala para identificar se há configurações diferentes da curva melódica que se referem ao mesmo ato ilocutório e se há um mesmo perfil melódico que manifeste atos de fala diferentes. Segundo Fonágy (1993:27), a modalidade também se caracteriza por marcar as enunciações de diversas formas nas línguas através de “morfemas determinados, da ordem das palavras ou de formas de entoação constantes delimitadas de maneira nítida” (FONÁGY, op.cit., p. 27). O autor cita como exemplo as frases exclamativas que “ao serem enunciadas, comunicam constantemente uma forte emoção do locutor, apesar da natureza dessa emoção poder ser bem distinta uma da outra como o espanto, a admiração, ou, ao contrário, a indignação” (p. 26); no português, por exemplo, esse tipo de frase é construído por um morfema interrogativo -QU. Por isso, Fonágy (1993: 27) considera que “a entoação modal pode apresentar um signo verbal de dupla articulação, como um morfema, que seja 4 equivalente à sinalização entonacional da modalidade, diferentemente das atitudes e emoções, que se exprimem por meios prosódicos e articulatórios”. De acordo com ’t Hart, Cohen e Collier (1990: 2), para se falar sobre a entoação, precisa-se de uma metalinguagem que possa descrever o continuum fonético em eventos discretos passíveis de categorizações distintivas; daí surge a tarefa de estabelecer quais são as partes do contorno melódico que identificam o seu valor funcional. D. Robert Ladd (1996) é um dos principais autores a discutir o que seria a organização fonológica da entoação e como investigá-la apropriadamente. Esse autor defende que o fenômeno da entoação faz parte do componente fonológico da linguagem, servindo para manifestar diversos sentidos pragmáticos que afetam todo o enunciado e cujo aspecto linguístico pode ser verificado através dos padrões melódicos de uma língua, ou seja, formas recorrentes da curva melódica que expressam as intenções comunicativas dos falantes. Nesse sentido, Ladd (1996:4) faz a seguinte distinção: as funções linguísticas transmitidas pela entoação possuem como variáveis mais usuais parâmetros físicos (altura tonal, intensidade e duração), ao passo que a esfera expressiva da entoação pode ter como variáveis mais recorrentes outros parâmetros, mais difíceis de mensurar, como a qualidade vocálica. Como será discutido com mais detalhes (seção 2.1), os estudos anteriores da entoação apresentavam falhas para lidar com esse fenômeno apropriadamente. Ladd (1996:10) cria o conceito de fonologia entonacional que consiste na seleção de unidades discretas no continuum fonético com o objetivo de decompor o fenômeno da entoação em entidades distintas categoricamente, isto é, propõe-se que, na análise fonológica da entoação de uma língua, seja feito um mapeamento entre categorias discretas que estejam associadas ao significado fonológico do contorno e uma descrição física de um enunciado no continuum fonético da entoação em termos de mudanças graduais em vários parâmetros acústicos. Logo na introdução de seu livro, Ladd (1996: 12) menciona que os criadores do modelo IPO (Institute for Perception Research) foram os primeiros a tentarem “combinar um nível fonológico abstrato de descrição com um relato detalhado da realização fonética de elementos fonológicos” 8. Segundo Ladd (1996: 17), consta no legado do modelo IPO a existência de uma estrutura sequencial de elementos entonacionais discretos e de uma realização fonética 8 “[…] to combine an abstract phonological level of description with a detailed account of the phonetic realisation of the phonological elements.” 5 de elementos fonológicos categóricos, que são conceitos cruciais para a fonologia entonacional. Por fim, Ladd (1996:17) argumenta que o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores desse modelo pode ser considerado fonológico no sentido de que a pesquisa realizada por uma abordagem fonética da entoação identifica correlatos físicos diretos de significados ou funções linguísticas, embora os autores do modelo IPO tenham declarado que esse modelo trata da percepção da fala e não da fonologia, isto é, o aspecto funcional da entoação. Desde então, muitos modelos foram criados com propostas de descrição da entoação baseados na orientação da fonologia entonacional. Iniciam-se, portanto, discussões acerca das escolhas feitas por diversas teorias com seus enfoques particulares das unidades discretas da entoação para descrever o continuum fonético e o quão satisfatório é o resultado dessa descrição. 1.3 A prosódia experimental: algumas considerações sobre o tema Em seu livro Intonational Phonology (1996: 20), Ladd sugere que a abordagem fonológica da entoação pode ser feita através de um trabalho rigoroso instrumental e experimental que coloque as hipóteses das possíveis categorias fonológicas em testes empíricos a fim de que o experimento conduza a novos achados. Nesse sentido, a área da prosódia possui estudos que tratam de diversos fenômenos por um viés experimental seguindo o paradigma moderno de investigação científica, em que são feitas análises que levam em conta a percepção do ouvinte. Muitos trabalhos apresentam diversas propostas de representação das funções da entoação modal do PB por meio da utilização do modelo Autossegmental e Métrico (AM), (FERNANDES, 2007; MORAES; COLAMARCO, 2007; REIS; VON ATZINGEN, 2002). No entanto, é importante ressaltar que as pesquisas na área da prosódia experimental têm aumentado ao longo dos últimos anos (LUCENTE, 2014; MORAES, 2008; RASO; MITTMANN, 2009) com o objetivo de trazer novas perspectivas sobre os fenômenos da entoação ou de preencher certas lacunas deixadas pela descrição feita sob a orientação de determinados modelos. Barbosa (2012) apresenta um panorama sobre as pesquisas experimentais na área de prosódia mostrando que a percepção dos falantes tem um papel fundamental para distinguir os fenômenos da entoação. Dentre os parâmetros acústicos que fazem parte tradicionalmente dos 6 estudos de prosódia, constatou-se, através de pesquisas desenvolvidas na área, que a frequência fundamental (F0) é a pista mais eficiente no domínio perceptivo (HIRST; DI CRISTO, 1998: 6). Como o paradigma científico moderno já foi exposto aqui, torna-se mais fácil compreender como as pesquisas na área da prosódia experimental são elaboradas e conduzidas. A princípio, a prosódia experimental se define como “a área de pesquisa que aplica o método hipotético-dedutivo para os estudos de prosódia por via de experimentação” 9 (BARBOSA, 2012: 33, tradução nossa), e inclui três passos para a experimentação: observação, descrição e experimentação stricto sensu. Trata-se, portanto, de analisar qualquer fenômeno prosódico levando em conta não apenas o que está sendo exibido para o pesquisador em sua tela do computador, mas também a elaboração de testes de percepção para que uma generalização possa ser feita de maneira mais segura e confiável. Barbosa (2012) explica a maneira como um estudo experimental deve ser conduzido e que vai ao encontro das três características do paradigma científico moderno descritas por Heiddeger (1977) que foram apresentadas na introdução desta dissertação: [...] a experimentação começa com a teoria, que guia a observação dos fatos prosódicos. A teoria e os fatos observados produzem um conjunto de hipóteses com o objetivo de se testar um modelo de produção e percepção da prosódia. Para testar o modelo, um conjunto de medidas derivadas de hipóteses que foram extraídas do corpus é avaliado de acordo com a validade deles quanto à hipótese levantada no início de um estudo experimental. Este último passo permite o refinamento ou revisão da teoria que motivou o estudo. 10 (BARBOSA, 2012:34, tradução nossa) O autor conclui que o processo investigativo experimental é caracterizado por idas e vindas, não só na análise do corpus, mas também na formulação de novos experimentos. Sendo assim, o trabalho descritivo desenvolvido na prosódia experimental é um caminho mais seguro para se chegar a uma representação confiável dos fenômenos prosódicos. Como será exposto posteriormente, neste campo de investigação, há diversas abordagens para o estudo da entoação que objetivam investigar as funções da melodia da fala 9 “[…] the area of research which applies the hypothetic-deductive method to prosodic studies via experimentation.” 10 “Experimentation starts with a theory, which guides the observation of prosodic facts. The theory and the observed facts produce a set of hypotheses aiming at testing a model of prosody production or perception. To test this model, a set of hypothesis-derived measures extracted from the corpus are evaluated according to their validity as regards the hypotheses raised at the beginning of the experimental study. This last step allows the refinement or revision of the theory that motivated the study.” 7 na comunicação humana por meio de diferentes pontos de vista, como o da produção ou o da percepção. Alguns modelos da entoação serão brevemente mencionados no capítulo 2 desta dissertação para se relatar como se deu o desenvolvimento das pesquisas na área. Nesta dissertação, pretende-se analisar a organização interna do continuum fonético da entoação através de um viés experimental. Sendo assim, a proposta deste trabalho é descrever os padrões melódicos do PB através de uma abordagem perceptiva que consiste em usar uma análise experimental para explorar esse continuum fonético, baseando-se na percepção dos ouvintes para afirmar quais são os movimentos melódicos fundamentais que caracterizam o reconhecimento auditivo dos padrões melódicos do PB. Por conseguinte, esta dissertação tem por objetivo geral: analisar um conjunto de contornos melódicos do PB, a saber: asserção, questão total, ordem, desafio, pedido, sugestão, questão parcial e exclamação, em termos de movimentos melódicos relevantes perceptivamente por meio de uma abordagem experimental baseada na observação empírica dos dados combinada com o método proposto pelo modelo IPO; reunir elementos provenientes da descrição dos movimentos melódicos para futuramente propor uma gramática da entoação modal do PB, no sentido de combinar os movimentos melódicos, através da categorização dos movimentos melódicos individuais em um conjunto limitado, que são concatenados para formar contornos melódicos inteiros. Para cumprir esses objetivos, o presente estudo está organizado da seguinte maneira: Neste capítulo introdutório, os objetivos gerais desta pesquisa foram apresentados de maneira contextualizada no que se refere às bases da pesquisa descritiva da entoação por um viés experimental, além dos fundamentos dos estudos em prosódia em relação à descrição dos sistemas entonacionais das línguas. O capítulo 2 é destinado à fundamentação teórica desta pesquisa. Nele, são expostos os primeiros modelos que se propõem a descrever a entoação fonologicamente. Será feita uma breve revisão bibliográfica sobre o modelo Autossegmental e Métrico e uma apresentação ampla do modelo IPO. Além disso, serão tecidos alguns comentários sobre a teoria dos atos 8 ilocutórios e sobre a representação fonológica dos contornos melódicos do PB que compõem o corpus dessa dissertação. No capítulo 3, apresenta-se o método utilizado nesse estudo experimental que inclui a a técnica de estilização da curva melódica. No capítulo 4, serão tecidos comentários sobre os resultados dos testes de percepção aplicados junto com sua análise estatística. No capítulo 5, serão feitas as descrições de cada contorno melódico com base nos resultados dos testes de percepção aplicados utilizando os traços binários do modelo IPO. Por fim, no capítulo 6, discorre-se sobre as conclusões desta pesquisa e as perspectivas de futuras investigações acerca do tema. 9 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste capítulo, serão feitos comentários acerca dos modelos entonacionais utilizados para representar a entoação, já que o objetivo deste trabalho é apresentar uma descrição dos contornos melódicos do PB baseada em outro tipo de abordagem. Em 2.1, há uma breve consideração sobre os primeiros modelos que foram projetados para descrever a entoação e como eles influenciaram o surgimento de outros modelos; em 2.2, a proposta de descrição fonológica do modelo Autossegmental e Métrico será apresentada; em 2.3, a abordagem do modelo IPO será apresentada em 2.3.1 e os resultados das línguas que foram descritas segundo a metodologia do modelo em 2.3.2; por fim, na seção 2.4, discorre-se sobre os contornos melódicos do PB; em 2.4.1, descreve-se a teoria dos atos de fala, e em 2.4.2, a representação fonológica já feita do sistema entonacional do PB. 2.1 Modelos entonacionais: representando a entoação Na primeira metade do século XX, os aspectos fonéticos e a distinção categórica dos fenômenos da entoação eram descritos de maneira separada. Antes da entoação ganhar uma discussão fonológica no final da década de 70, esses estudos sobre a melodia da fala eram baseados em duas orientações diferentes que são classificadas por Ladd (1996: 10) como: a abordagem instrumental ou fonética e a impressionística ou protofonológica. A abordagem instrumental tinha um interesse que recaía sobre a percepção da fala e a identificação de pistas fonéticas para fenômenos entonacionais; por exemplo, buscavam-se propriedades fonéticas que correspondessem a cada significado do enunciado como pistas acústicas para a negação ou tempo verbal da frase. A segunda abordagem, chamada de impressionística, tinha por objetivo descrever a entoação para fins práticos, como melhorar a pronúncia dos falantes nativos de uma língua. Ela falhava em não selecionar elementos categóricos no sistema fonológico e não mostrar como a realização fonética desses elementos pode variar no continuum fonético (LADD, 1996: 39). No início do século XX, os primeiros modelos de representação da entoação foram criados. No entanto, a seleção de unidades utilizadas para descrever a entoação em eventos discretos gerou fortes debates nessa época (PRIETO, 2003: 16). Esses modelos eram divididos em duas grandes orientações que são chamadas de: configuração do contorno, desenvolvido na Europa, ou sequência tonal, criado nos Estados Unidos. 10 A Escola Britânica, representante do modelo baseado na configuração do contorno, trata a organização interna da entoação através de movimentos tonais, tendo como base a caracterização fonética dos contornos com suas unidades funcionais independentes (cabeça, núcleo e coda). Já a Escola Americana, proponente do modelo de sequência tonal, lida com níveis tonais estáticos presentes nos contornos, não considerando a forma do contorno, e prioriza a representação formal deles através do uso de elementos fonológicos que sejam capazes de descrever os contrastes entre os contornos de uma língua (PRIETO, 2003: 16). Segundo Prieto (2003: 16), com o tempo as propostas das duas escolas influenciaram o surgimento de novos modelos de análise da entoação como a análise do contorno melódico através do nível tonal da teoria Autossegmental e Métrica, desenvolvida por Pierrehumbert (1980) ou através da configuração do contorno melódico, como o modelo IPO elaborado por ’t Hart, Cohen e Collier (1990); dois modelos que serão expostos posteriormente nesta dissertação. A cisão entre uma análise acústica e a discriminação dos significados veiculados pela entoação parece reproduzir o modelo de análise do âmbito segmental da fonética e da fonologia. No entanto, é importante ressaltar que essa ruptura entre a análise fonética da entoação e suas categorias funcionais não dá conta do fenômeno da entoação, pois a articulação desses dois planos é imprescindível para lidar com a natureza desse fenômeno. Por conta disso, a orientação desses modelos que possuem um enfoque particular e que ignoram aspectos importantes para o entendimento dos fenômenos da entoação é criticada: tanto a análise por nível quanto a análise por configuração são enfoques “protofonológicos” da entoação no sentido de que, ainda que ambas as escolas tenham por objetivo encontrar as unidades mínimas de análise e estudar os contrastes fonêmicos que geram, nenhuma delas se preocupa em explicitar a relação entre a representação fonológica subjacente e a forma melódica final (o que, tal como sugere o autor, talvez reflita a profunda separação entre a fonética e a fonologia característica da época) (PRIETO, 2003: 16)11. Os estudos da entoação, portanto, precisam ir ao encontro das informações acústicas padronizadas na manifestação dos fenômenos para compreendê-los apropriadamente, ao invés de ir em busca de uma representação fonológica do objeto investigado sem uma substância 11 Tanto el análisis por niveles como el análisis por configuraciones son enfoques “protofonológicos” de la entonacíon en el sentido que, aunque ambas escuelas tienen como objetivo encontrar las unidades mínimas de análisis entonativo y estudiar los contrastes fonêmicos que generan, ninguna de las dos se preocupa de hacer explícita da relacíon entre la representacíon fonológica subyacente y la forma melódica final (hecho que, tal como sugiere el mismo autor, quizás responde a la profunda separación entre la fonética e la fonologia característica de la época. 11 experimental, que, muitas vezes, pode não abarcar as características mais importantes do fenômeno em questão. Segundo Prieto (2003: 22), apesar dos inúmeros modelos existentes atualmente, não se deve deixar de considerar que “os estudos fonéticos mostram que os falantes articulam os contornos melódicos com alto grau de precisão, que se manifesta na estabilidade que apresentam as propriedades tanto de altura melódica como de sincronização de pontos de inflexão”. Sabe-se que, atualmente, na análise da entoação, é fundamental que haja uma implementação fonética que transforme a representação fonológica subjacente da entoação em um continuum de variação melódica (PRIETO, 2003: 16). Por fim, é importante ressaltar que a escolha de um modelo entonacional ou de outro depende do objetivo do pesquisador ao analisar a entoação. Além disso, existe sempre a possibilidade de se pensar em uma maneira alternativa de representar a entoação, de maneira que as informações do nível fonético com suas variações graduais e do nível fonológico com suas unidades contrastivas estejam articuladas; o que parece ser o contrário da prática atual, na qual normalmente as informações do nível fonético são dispensadas no momento em que se passa para a representação fonológica. 2.2 O modelo AM O modelo entonacional de Pierrehumbert (1980), apresentado em sua tese de doutorado e conhecido como Teoria Autossegmental e Métrica (doravante teoria AM), tem por objetivo propor um sistema de representação fonológica capaz de gerar os possíveis contrastes dos contornos do inglês, além das regras de interpolação fonética que se ocupam de gerar os movimentos melódicos intermediários que concatenam os níveis subjacentes entre si. Nesse sistema de notação, os eventos discretos postulados para a representação da entoação são a altura dos tons. Através da postulação de tons altos H (High) e baixos L (Low), descrevem-se os elementos contrastivos possíveis das melodias de uma dada língua por uma sequência desses dois tons. Buscam-se os elementos tonais como: o acento tonal definido como uma proeminência na curva de F0 ao longo do enunciado, podendo ser classificado como monotonal ou bitonal e tons de fronteira, que são responsáveis por marcar o limite de uma frase. Uma das características essenciais do modelo AM é o fato de que a sílaba tônica é um possível ponto de ancoragem para certos eventos tonais; essa característica o diferencia de 12 outros modelos. Também vale a pena ressaltar outro aspecto importante do modelo AM, que é o papel da estrutura métrica como eixo fundamental entre movimentos melódicos. Ademais, o modelo também possui diacríticos que são recursos extras que, de acordo com a teoria, discriminam algumas características das curvas de F0, tais como: (*) Acento tonal que ocorre em sílaba acentuada (¡) Upstep de tom H (!) Downstep de tom H (%) Fronteira de enunciado (>) Alinhamento antecipado (<) Alinhamento tardio Quadro 1 – Diacríticos do sistema de notação ToBI O Sistema de transcrição ToBI (Tone and Break Indices), que foi desenvolvido por Silverman et al. (1992) com base na proposta de Pierrehumbert (1980), propõe um mesmo código de transcrição para a notação entonacional que pode ser compartilhada entre os pesquisadores de maneira que usuários de línguas diferentes pudessem interpretar os dados de maneira uniforme. Sendo assim, foram sendo criados rótulos que representassem os acentos tonais e os tons de fronteira: Figura 2 – Conjunto de rótulos de notação do sistema ToBI (LUCENTE, 2014: 83) No entanto, nem todos os estudiosos usam os detalhes desse sistema da mesma maneira; para o espanhol, por exemplo, não há acordo sobre o número de diferentes acentos tonais 13 existentes e nem sobre a etiquetagem utilizada pelos pesquisadores12. Por isso, essa multiplicidade de análises possíveis a partir dos rótulos propostos é o ponto mais fraco do modelo AM (PRIETO, 2003: 176). De maneira geral, o sistema Autossegmental e Métrico permite que seja feita uma comparação detalhada dos contornos que são contrastivos linguisticamente em determinada língua, além de uma abstração de aspectos irrelevantes como número de sílabas ou de palavras de cada enunciado. Por fim, esse é um modelo que pode ser aplicado a línguas muito diferentes entre si (PRIETO, 2003: 180). 2.3 O modelo IPO O modelo IPO, desenvolvido no início dos anos 60 pelo Instituto de Pesquisa para Percepção (Instituut voor Perceptie Onderzoek/Institute for Perception Research) em Eindhoven (Holanda), tem como foco a análise da realização fonética dos contornos, cuja finalidade é apurar os movimentos tonais relevantes, ao mesmo tempo em que as variações sem efeitos perceptivos sejam rejeitadas. Em vista desse objetivo, os autores desenvolveram um método de estilização de curvas que substitui o traçado do contorno original por um contorno artificial, constituído de linhas retas, que seja idêntico perceptivamente ao primeiro. Esta curva estilizada apresenta a mesma informação da curva original, sem as variações melódicas provenientes da microentoação e é o ponto de partida para o processo de definição dos movimentos e configurações relevantes que compõem o inventário de padrões melódicos de uma língua (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 47). A escolha desse modelo como base da pesquisa feita nessa dissertação se justifica pelo fato de que o modelo IPO concentra-se na percepção da entoação, que é sua principal característica, buscando compreender como o ouvinte interpreta as variações melódicas da fala, e, posteriormente, analisando os correlatos acústicos e fisiológicos (‘t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 4). Nesse sentido, o modelo coloca as seguintes questões que serão respondidas posteriormente ao processo de investigação: “[...] ‘Quais são as propriedades do sinal acústico relevantes para a percepção da melodia da fala?’, e, consequentemente, ‘Quais são mecanismos fisiológicos que controlam esses componentes acústicos relevantes 12 No uso do sistema ToBI para o espanhol, o diacrítico que discrimina o alinhamento é usado de maneira contrária da que está posta no quadro: (>) para alinhamento tardio. 14 perceptivamente?13 ’” (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 5). Dessa forma, o modelo une os interesses perceptivos aos interesses acústicos e articulatórios na descrição da entoação. Assim, o modelo IPO propõe uma análise da entoação através do desenvolvimento de um modelo do ouvinte, já que o usuário da língua possui conhecimento sobre a forma e a função melódica de sua língua. Por isso, é necessário estabelecer uma interação entre a produção da fala e a acústica, pois as impressões auditórias são estudadas sistematicamente em relação às propriedades do sinal acústico, principalmente aquelas que são resultado da ação voluntária fisiológica da parte do falante. Segundo ’t Hart, Cohen e Collier (1990: 5), uma abordagem perceptiva é subjetiva per se, já que, em um primeiro momento, o pesquisador formula hipóteses e avalia seu trabalho segundo a sua intuição de falante nativo. Por isso, para se tecer generalizações sobre a percepção da melodia da fala, é necessário usar técnicas experimentais confiáveis a fim de se verificar que uma impressão melódica particular possa ser reproduzida não só com o mesmo ouvinte, mas também com outros ouvintes. Isso inclui, portanto, a elaboração e aplicação de testes de percepção e análises estatísticas para gerar resultados seguros sobre os quais as generalizações linguísticas poderão ser feitas. Outro aspecto importante do modelo IPO é que ele não postula nenhuma consideração fonológica a priori se não houver alguma substância fonética revelada na observação experimental que dê base para a formulação de propriedades abstratas da entoação (‘t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 120). Aliás, os próprios autores deixam explícito que eles não se comprometem em propor uma representação fonológica dos padrões melódicos presentes no sistema entonacional de uma língua. O modelo proporciona uma descrição fonética das unidades descritivas escolhida pelos autores da teoria: os movimentos melódicos (‘t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 168). Por isso, pode-se dizer que o componente que mais se aproxima da esfera fonológica nesse modelo consiste em uma descrição de uma gramática 14 da entoação do holandês que possua um repertório de unidades fonológicas subjacentes e uma gramática que especifique as 13 […] ‘Which properties of the acoustical signal are relevant for our perception of speech melody?’, and, subsequently, ‘Which physiological mechanisms control these perceptually relevant acoustic features?’ 14 O termo gramática é usado nesta dissertação com o sentido de regras de combinação de movimentos melódicos. 15 combinações possíveis desses elementos; assim, a análise fonética será responsável pelo mapeamento entre a estrutura fonológica e a melodia final (‘t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 120). De acordo com ’t Hart, Cohen e Collier (1990: 6), a abordagem IPO deve ser considerada uma abordagem fonético-experimental em que o conhecimento entonacional do ouvinte é tornado explicito por meio da percepção e interpretação da língua falada. Além disso, é preciso atentar para o fato de que este modelo parte de uma análise dos movimentos melódicos para representar a entoação: Nós acreditamos que...movimentos melódicos que são interpretados como relevantes pelo ouvinte estão relacionados a atividades correspondentes por parte do falante. Assume-se que tais movimentos são caracterizados por comandos discretos das cordas vocais e que devem ser recuperados como tantos eventos discretos no contorno melódico resultante, que podem apresentar-se à primeira vista como variações contínuas no tempo.15 (COHEN; ’t HART, 1967: 177-816 apud 't HART; COLLIER; COHEN, 1990: 39) Essa característica classifica o modelo IPO como um modelo configuracional no tratamento da curva melódica, o que, de certa forma, faz com que os autores da teoria rejeitem a ideia de que o falante pretende somente atingir um alvo através de níveis melódicos ('t HART; COLLIER; COHEN, 1990: 75). Além disso, os autores defendem que a análise da entoação feita por configuração fornece detalhes fonéticos da curva melódica que uma análise feita por níveis estáticos poderia deixar de lado. Em outras palavras, a decomposição da entoação feita por níveis melódicos, segundos os autores, é uma simplificação ('t HART; COLLIER; COHEN, 1990: 77). Portanto, o modelo IPO considera que a transição de um movimento melódico para outro é importante e ocorre de maneira gradual; sendo assim, é preciso discriminar as propriedades melódicas desses movimentos. A identidade melódica dos movimentos pode ser construída através de especificações padronizadas para a síntese como o tamanho do movimento e o alinhamento em relação às fronteiras da sílaba. Em suma, os autores assumem a posição de que a análise do nível fonético da entoação por níveis melódicos não leva em 15 We believe that...pitch movements that are interpreted as relevant by the listener are related to corresponding activities on the part of the speaker. These are assumed to be characterized by discrete commands to the vocal cords and should be recoverable as so many discrete events in the resulting pitch contour, which may present themselves at first sight as continuous variations in time. 16 COHEN, A.;’t HART, J. (1967). On the anatomy of intonation. Lingua, 19, 177–192. 16 conta alguns fatos fonéticos na produção e percepção das mudanças melódicas ('t HART; COLLIER; COHEN, 1990: 77). Na metodologia do modelo IPO, o estudo fonético das curvas melódicas é feito a partir do desenvolvimento de um método de redução de dados com base na tolerância perceptiva para que sejam fornecidas unidades na descrição melódica dessas curvas. Como já foi dito anteriormente, tal método é chamado de estilização da curva melódica. Apesar do começo da análise se iniciar com a medida da F0, o foco principal da abordagem está na percepção que proporciona não somente alcançar a redução de dados de uma forma efetiva, mas também examinar como a informação na melodia da fala é processada pelo ouvinte ('t HART; COLLIER; COHEN, 1990: 39). Essa abordagem fonético-experimental é definida como bottom-up (derivada/baseada d/nos resultados), pois se estabelece uma conexão entre eventos locais discretos com eventos que ocorrem em um nível global. O modelo IPO é caracterizado, portanto, por uma organização hierárquica da entoação que possui um nível global e um nível local no tratamento da curva melódica com a experimentação direcionada para a representação interna do ouvinte do sistema entonacional da sua língua nativa (GARRIDO, 2003: 98). No âmbito global do modelo, analisa-se a entoação por meio da declinação da F0 ao longo do enunciado, que é representada por linhas retas marcando um limite superior, chamado de linha de declinação alta, e inferior, denominado de linha de declinação baixa; além dessas duas linhas, ainda é considerada uma terceira linha, a linha intermediária da declinação. Essas três linhas de declinação definem três níveis tonais nos movimentos dos contornos melódicos (GARRIDO, 2003: 100). 17 Figura 3 – Linhas de declinação (GARRIDO, 2003: 101) No âmbito local de análise da entoação, analisam-se as seguintes dimensões dos movimentos melódicos e suas categorias, que foram esquematizadas no quadro abaixo: Dimensão Direção Categoria Comentário Ascendente Os movimentos planos que não implicam Descendente Antecipado Alinhamento Intermediário nem em ascensão nem em descida não são definidos em função de nenhum traço. Refere-se ao início da sílaba; se um movimento termina na metade da sílaba, é etiquetado como [-antecipado] e [-tardio]. Tardio Normal Excursão Ampla Se o movimento se estende por todo o campo tonal (entre a linha mais baixa e a mais alta da declinação), é classificado como amplo; senão, é normal. Extensão Íngreme Gradual Se o movimento abrange uma sílaba, é rotulado como íngreme e se for mais de uma sílaba, como gradual. Quadro 2 – Dimensões da unidade mínima discreta da entoação segundo o modelo IPO: o movimento melódico 18 Este conjunto de traços permite definir os movimentos melódicos. Posteriormente, este conjunto de movimentos definidos, que são resultado da metodologia aplicada, recebe classificações em um âmbito superior, chamado de configurações. Trata-se de formas recorrentes nas curvas melódicas que podem ser modeladas como uma série de um ou mais movimentos melódicos (GARRIDO, 2003: 104). O modelo IPO distingue três tipos de configurações: a configuração prefixo, a configuração raiz e a configuração sufixo. Uma ou várias configurações geram o contorno final, embora haja diferenças sutis entre elas. A configuração raiz é o único elemento obrigatório no contorno, enquanto a configuração sufixo é opcional e só pode acontecer uma vez; e a configuração prefixo pode ocorrer uma ou várias vezes. Segundo Garrido (2003: 105-106), a gramática dos movimentos melódicos de uma língua pode ser definida pelas possibilidades combinatórias das configurações para formar seus contornos possíveis. Para isso, os autores propõem a seguinte fórmula: (prefixo)n17 + raiz + (sufixo). Em suma, a metodologia do modelo consiste em (a) estilização das curvas melódicas; (b) definição dos movimentos relevantes perceptivamente; (c) definição das configurações possíveis e de sua combinatória; (d) análise da relação entre os padrões definidos e a informação linguística transmitida (GARRIDO, 2003: 109). A manipulação da curva de F0 é a marca da abordagem IPO na análise da curva melódica da fala, procedimento usado para explicitar a relação entre a variação de F0 e a maneira com a qual ela é percebida. A manipulação da F0 é feita com o objetivo de se examinar seu efeito sobre a melodia da fala através da percepção dos ouvintes e consiste no primeiro nível de análise (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 40). A primeira etapa de estilização é chamada de estilização close copy (curva estilizada perceptivamente idêntica à original) cuja finalidade é buscar a forma mais simplificada possível do padrão melódico que contenha o menor número de pontos de inflexão. É importante saber que o critério utilizado é o da igualdade perceptiva entre a curva de F0 original e a curva de F0 estilizada. A partir das mudanças na curva da F0, esse processo leva a uma simplificação (pela omissão de detalhes irrelevantes) e à possibilidade de descrever posteriormente a curva de F0 em termos de um número de eventos discretos (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 42). 17 O símbolo n indica um elemento recursivo no contorno melódico. 19 A segunda etapa de estilização é chamada de equivalent copy (cópia equivalente) cujo propósito é produzir cópias da curva original reduzindo ao máximo sua variação fonética de maneira que o significado entonacional do contorno estilizado ainda possa ser considerado o mesmo do contorno original no nível linguístico, ou seja, em um nível mais abstrato. Por isso, o significado desse contorno estilizado é considerado equivalente ao do original. Esse processo de estilização da entoação resulta em uma padronização dos contornos melódicos, partindo de uma análise que começa por movimentos melódicos únicos (segmentos de reta individuais) e termina com contornos inteiros através de uma concatenação (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 47). 2.3.1 Línguas descritas pelo modelo IPO O modelo IPO já foi usado para descrever diversas línguas, tais como: o holandês, o inglês britânico, o francês e o russo, entre outras. Como os pesquisadores desenvolveram esse modelo na Holanda, o holandês foi a primeira língua a ser descrita de acordo com a abordagem IPO. Figura 4 – Movimentos melódicos do holandês e seus traços de composição (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 153) Os movimentos melódicos perceptivamente relevantes do holandês foram decompostos de acordo com os traços binários da teoria e reunidos em um conjunto que contém 5 tipos de subidas e 5 tipos de quedas. No nível fonético, o holandês pode ser modelado como uma sequência de subidas e quedas da F0, em que tais movimentos são diferenciados em termos de posição na sílaba, tamanho e taxa de mudança. A combinação entre esses movimentos geram os contornos melódicos do holandês e suas possíveis variantes, que formam a gramática da entoação do holandês (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 152). Cecilia Odé (1989) aplicou a metodologia do modelo IPO ao russo; após a aplicação de testes perceptivos, os resultados mostram que o russo contém 6 tipos diferentes de movimentos melódicos ascendentes e 7 tipos diferentes de movimentos melódicos descendentes que são relevantes perceptivamente (1989: 120). Esses movimentos são 20 divididos em subida ou queda na parte tônica do acento tonal. Já os movimentos que ocorrem na parte pretônica e na parte postônica do contorno são classificados em relação ao nível atingido no registro, que pode ser alto ou baixo: Figura 5 – Movimentos ascendentes do russo (ODÉ, 1989: 120) A autora mostra na figura 5 que no russo, os movimentos ascendentes foram classificados quanto a: excursão ampla [R] (à esquerda) e excursão normal [r] (à direita); alinhamento que pode ser antecipado [+] ou tardio [-]; a taxa de mudança, que pode ser íngreme ou gradual; e à parte postônica, que pode ser alta [h], média [m] ou baixa [l], ou nula [φ]. Figura 6 – Movimentos descendentes do russo (ODÉ, 1989: 125) Em relação aos movimentos descendentes, a autora diz que existem apenas quedas com excursão normal, mas que variam no alinhamento e nas partes postônicas do contorno. Além disso, Odé (1989: 87) mostra essas quedas se diferenciam pelo nível que atingem no registro, que pode ser o nível mais baixo ou não. 21 Jan Roelof de Pijper (1983: 48) discriminou 16 movimentos melódicos no modelo melódico que estabelece para o inglês britânico. O autor diz que o primeiro passo para classificar os movimentos melódicos é definir os valores padronizados da duração e da taxa de mudança. Como resultado, o autor fornece uma descrição dos movimentos através de um código de 4 dígitos: se o número está na primeira posição (A) denota direção, em que 1 é uma subida e 2, uma queda; a segunda posição (B) está relacionada à declividade, o número 1 significa íngreme e o 2, gradual; a terceira posição (C) denota a extensão melódica, em que o número 2 se refere ao campo tonal parcial e o número 4, ao campo tonal amplo; a quarta posição (D) se refere ao alinhamento, em que o número 1 significa antecipado, o número 2, intermediário e o número 3, tardio. Quando algum desses parâmetros não era relevante para o movimento, Pijper (1983) não especifica o traço, colocando o número 0. Figura 7 – Movimentos melódicos do inglês britânico (PIJPER: 1983:49) Com base nesse tipo de descrição, é possível gerar os contornos melódicos de uma língua de maneira automática; no entanto, o autor não fornece uma gramática completa dos movimentos melódicos do inglês britânico por conta da limitação de tempo para conduzir a continuação de sua pesquisa. Após a descrição dos movimentos melódicos e de como eles se combinam para formar os contornos no inglês britânico, Pijper (1983: 92) faz uma comparação entre os achados da sua pesquisa com os resultados do holandês e conclui que: os movimentos do inglês britânico apresentam três níveis dentro da extensão do registro do falante, enquanto no holandês há apenas dois; a extensão melódica que os movimentos cobrem é maior no inglês britânico do que no holandês, os valores de taxa de mudança, duração e extensão são diferentes nas duas línguas; e, por último, há mais movimentos melódicos no inglês britânico do que no holandês. 22 Beaugendre et al. (1992) ao descrever o francês de acordo com o modelo IPO, após a aplicação de testes de percepção, chegou a 9 movimentos padronizados: Figura 8 – Movimentos melódicos padronizados do francês (BEAUGENDRE ET AL., 1992: 741) Como resultado do processo de estandardização, foram definidas 5 subidas, 3 quedas e um platô com qualidade perceptiva satisfatória. No entanto, os autores inovaram ao definir os movimentos melódicos pela estrutura silábica, incluindo o número de sílabas e a composição delas: ataque (pelo menos uma consoante) e núcleo (uma vogal). Diferentemente dos autores do modelo IPO, Beaugendre et al. (1992) não definiram os movimentos com valores padronizados do tamanho absoluto (em ms), e uma extensão de frequência absoluta. Ao final do artigo, os autores deixam claro que são necessárias mais pesquisas para se chegar a uma gramática completa da entoação do francês. 2.4 Os contornos melódicos do PB 2.4.1 Teoria dos atos ilocutórios A realização de ações através do uso da entoação pode ser compreendida à luz da teoria dos atos de fala (AUSTIN, 1962; SEARLE, 1978, 1969). Através dos trabalhos desenvolvidos na área da Filosofia da Linguagem, o filósofo John Austin (1962) elaborou a Teoria dos Atos de fala em seu trabalho How to do things with words que reconhece que alguns verbos na língua provocam o efeito de realizar um ato/uma ação no momento em que um falante os enuncia, ou seja, o simples ato de dizer esses verbos, em determinadas situações, corresponde a um fazer. Se esses verbos satisfazerem as condições performativas adequadas e forem conjugados na 1ª pessoa do singular no presente do indicativo, uma ação é realizada, como em: “Eu prometo x”, é realizada uma promessa, “Eu juro x”, é realizado um juramento, etc.; 23 tais enunciados foram chamados por John Austin de performativos. Os atos de fala eram classificados, portanto, com base nos verbos performativos do inglês que, segundo o autor, correspondiam a um ato de fala diferente. Posteriormente, o filósofo J. R. Searle (1969) ampliou a análise sobre os atos de fala ao criticar a classificação proposta por Austin dos tipos de atos ilocucionários que existem, alegando que em sua teoria dos atos de fala, há (i) verbos ilocucionários não necessariamente marcam propósitos ilocucionários18; além de levantar o seguinte questionamento: (ii) se não existir o verbo ilocucionário no léxico de uma determinada língua significa que a ilocução nessa língua não existe? Portanto, Searle (1969) criou uma nova proposta de análise, defendendo que a classificação dos atos de fala deve incidir sobre as ilocuções; ou seja, a noção básica para classificar os usos da língua é o propósito ilocucionário. Sendo assim, Searle (1969) distingue a força ilocucionária de um enunciado do seu conteúdo proposicional19 por meio da fórmula F(p), cujo objetivo é classificar os diferentes tipos de força ilocucionária (F) que incidem sobre o conteúdo proposicional (p). Por isso, uma nova classificação dos tipos de atos de fala ou atos ilocucionários foi criada. Na taxonomia alternativa proposta por Searle, os atos ilocucionários são categorizados e definidos com base em um paradigma lógico e em propriedades lexicais, a saber: representativos, em que a força ilocucionária compromete os falantes, em vários graus, sobre a verdade expressa na proposição em relação a uma entidade; diretivos, em que o propósito ilocucionário é uma tentativa, em vários graus, do falante de fazer o ouvinte realizar alguma coisa; os comissivos, em que o próprio falante se compromete em realizar alguma ação futura. expressivos, em que o propósito comunicativo do falante é expressar um estado psicológico sobre um estado de coisas na condição de sinceridade, especificado no conteúdo proposicional; 18 Intenção comunicativa de realizar alguma ação quando o falante profere um enunciado. 19 Refere-se ao valor semântico do enunciado em relação ao que se diz sobre um objeto de referência. 24 os declarativos, em que há uma correspondência exata entre o conteúdo proposicional e a realidade, ou seja, as declarações trazem alguma alteração no status ou condições do objeto referido; A força ilocucionária é a resultante de muitos elementos. O propósito comunicativo é apenas um deles, embora seja o mais importante. De acordo com Searle (1969), um ato ilocucionário ou uma ilocução é realizado sob certas condições, como: (i) a condição preparatória, que se refere ao conhecimento de mundo que o locutor tem ao desempenhar um ato, por exemplo; ao fazer uma pergunta, o falante tem que ter certeza de que seu ouvinte pode respondê-la; (ii) a condição de sinceridade; que diz respeito ao estado psicológico do locutor, que o leve a agir, e (iii) a condição essencial está ligada ao objetivo exato do falante ao realizar o to ilocutório em questão. O conjunto de padrões melódicos do PB selecionados nesta dissertação corresponde a atos ilocutórios mais tradicionalmente descritos nos estudos da entoação como a asserção (representativo), questão total, questão parcial (diretivos) e exclamação (expressivo), mas também engloba a classe dos contornos melódicos de outros atos diretivos que inclui a ordem, o desafio, a sugestão e o pedido. A fim de classificar os atos ilocutórios desta dissertação, o quadro abaixo irá resumir as características de cada um deles de acordo com o paradigma de Searle: Atos ilocutórios Conteúdo proposicional Asserção Pergunta total Qualquer proposição Qualquer proposição ou função proposicional Tipos de regra Preparatória Sinceridade 1. F tem evidências (razões, 1. F não sabe a resposta, isto é, não motivos, etc.) para a verdade de p. sabe se a proposição é verdadeira. 2. Não é óbvio nem para F nem 2. Não é óbvio nem para F nem para O que O saiba (não precise para O que O dará a informação ser lembrado de, etc.). naquela hora sem ser perguntado. F acredita em p. F quer essa informação. 25 Essencial Equivale a afirmar que p representa uma situação real. Conteúdo proposicional Vale como uma tentativa de obter essa informação de O. Pergunta parcial Exclamação Qualquer proposição ou função Qualquer proposição proposicional Preparatória 1. F não sabe uma parte da 1. resposta, isto é, não sabe se uma motivos, etc.) para a verdade de p. informação específica tem evidências (razões, da proposição é verdadeira. Tipos de regra F 2. Não é óbvio nem para F nem para O que O saiba (não precise ser 2. Não é óbvio nem para F nem lembrado de, etc.). para O que O dará a informação naquela hora sem ser perguntado. Sinceridade F quer essa informação. F acredita em p. Essencial Vale como uma tentativa de obter Equivale a expressar uma emoção essa informação de O. acerca do que p representa uma situação real. Conteúdo proposicional Tipos de regra Preparatória Ordem Desafio Ato futuro de A para O Ato futuro de A para O 1. O está em condições de realizar 1. O está em condições de realizar A. F acredita que O esteja em A. F acredita que O esteja em condição de realizar A. condição de realizar A. 2. Não é óbvio nem para F nem 2. É óbvio tanto para F quanto para para O que O realizará A no O que O realizará A no decurso decurso normal. normal. 3. F tem que estar em uma posição de autoridade sobre O. 3. F tem que estar em uma posição de autoridade sobre O. 26 Sinceridade F quer que O faça A. F não quer que O faça A. Essencial Vale como uma tentativa de fazer Vale como uma tentativa de fazer com que O realize A em virtude com que O não realize A em da autoridade de F sobre O. virtude da autoridade de F sobre O. Conteúdo proposicional Tipos de regra Preparatória Sinceridade Essencial Pedido Sugestão Ato futuro de A para O Ato futuro de A para O 1. O está em condições de realizar 1. O está em condições de realizar A. F acredita que O esteja em A. F acredita que O esteja em condições de realizar A. condições de realizar A. 2. Não é óbvio nem para F nem 2. Não é óbvio nem para F nem para O que O realizará A no para O que O realizará A no decurso decurso normal dos normal por dos acontecimentos, por deliberação acontecimentos, deliberação própria. própria. F quer que O faça A para proveito F deseja que O faça A para proveito do próprio falante. do ouvinte. Vale como uma tentativa de conseguir que O faça A. Vale como uma tentativa conseguir que O faça A. Quadro 3 – Condições de sucesso dos atos de fala “asserção”, “pergunta total”, “ordem”, “pedido”, adaptado de Searle (198120 apud COLAMARCO 2009:18), acrescidos de “pergunta parcial”, “exclamação”, “desafio” e “sugestão”, em que F corresponde ao Falante, O ao ouvinte, P à proposição e A, ao ato. Por fim, é importante ressaltar que cada ato de fala especificado aqui tem sua força ilocutória marcada pela entoação no português do Brasil, ou seja, considera-se que a configuração melódica é responsável inteiramente pela determinação desses diferentes atos ilocutórios quando o falante profere a frase. 20 SEARLE, J. R. (1981). Os Atos de Fala. Coimbra: Livraria Almeida. 27 de 2.4.2 Representação fonológica do sistema entonacional do PB A preocupação em estabelecer uma relação entre a esfera fonológica e o continuum fonético da entoação leva muitos pesquisadores a procurarem descrições alternativas da entoação, que, muitas vezes, acabam modificando a proposta original de alguns modelos entonacionais. Com o objetivo de acrescentar uma implementação fonética à descrição do sistema entonacional do PB, Moraes (2008) utiliza a técnica de ressíntese para modificar os contornos melódicos, a fim de encontrar eventos discretos que os caracterizam. Sendo assim, o autor aplicou testes de percepção para verificar quais partes do contorno são responsáveis pelo reconhecimento da curva. Baseado nos resultados dos testes, ele propõe uma representação fonológica de 14 contornos melódicos na variedade carioca do Português do Brasil seguindo a metodologia da aplicação de tons do modelo AM. A seguir, os 8 contornos melódicos selecionados dessa dissertação serão comentados: Figura 9 – “Renata jogava” dito como asserção (MORAES, 2008) No que se refere à asserção, concluiu-se que a queda entre a última pretônica e a tônica final é responsável pelo reconhecimento do significado do contorno, em que a pretônica está em um nível médio e a tônica em um nível baixo. A asserção é representada por um acento pré-nuclear /L+H*/, por um acento /H+L*/ na posição nuclear, seguido de um tom de fronteira /L%/. Este contorno ocupa, de maneira geral, um registro médio na extensão do falante. 28 Figura 10 – “Renata jogava” dito como questão total (MORAES, 2008) No contorno melódico da questão total, a subida na tônica final atribui um acento nuclear L+H*, com o uso do diacrítico /</ precedendo o H* para sinalizar que o alinhamento do pico de F0 está na margem direita da sílaba tônica. O acento nuclear da questão total é, portanto, representado por /L+<H* L%/, que se opõe ao da asserção, além do fato da subida melódica na primeira sílaba tônica localizar-se em um nível médio, maior do que o observado nas afirmativas. Constatou-se, ainda, que o acento pré-nuclear não cria a contraste entre a questão total e a asserção, sendo representado, nesses dois casos, por /L+H*/. Além disso, esse alinhamento do pico da F0 na sílaba tônica final será responsável por criar o contraste entre a questão total e o contorno melódico do pedido. Figura 11 – “Destranca a janela” dito como ordem (MORAES, 2008) O contorno melódico da ordem apresenta um ataque melódico alto e uma queda nas sílabas seguintes. A representação fonológica desse contorno inclui a atribuição do acento /H+L*L%/ na posição nuclear, o mesmo da asserção e da questão parcial, e um acento /H+H*/ na posição pré-nuclear, o que faz esse contorno se identificar fonologicamente com a questão parcial e se opor ao padrão da asserção. 29 Figura 12 – “Destranca a gaveta” dito como desafio (MORAES, 2011) O contorno melódico do desafio apresenta um ataque em um nível extra-alto seguido de uma queda da F0 ao longo do enunciado e uma tônica final na posição nuclear localizada em um nível baixo. Em Moraes (2011) e Moraes e Rilliard (2013), concluiu-se que a oposição entre a ordem e o desafio está localizada na altura do ataque. Figura 13 – “Destranca a janela” dito como sugestão (MORAES, 2008) A sugestão apresenta como característica principal para sua identificação um nível melódico alto na última sílaba pretônica e um nível médio na tônica final. A representação fonológica proposta para esse contorno é o acento nuclear /H+¡L*/ com o diacrítico [¡] precedendo o tom baixo, indicando que há um upstep, isto é o tom baixo na tônica final desse contorno se situa em um nível mais elevado do que o que se encontra na asserção, por exemplo. Além disso, para a posição pré-nuclear, a notação proposta é dada pelo acento bitonal /L+H*/. 30 Figura 14 – “Destranca a janela” dito como pedido (MORAES, 2008) O contorno melódico do pedido se caracteriza por um movimento melódico ascendente na primeira sílaba tônica do enunciado, atingindo um nível alto de registro, uma subida na sílaba tônica final e uma queda na sílaba postônica. O alinhamento do pico na F0 na última sílaba tônica desse contorno se localiza no começo da vogal, ou seja, a configuração da F0 é descendente dentro da última tônica, o que cria um contraste com a subida final da questão total, já que a configuração intra-silábica da F0 na questão total é ascendente por conta do alinhamento tardio de seu pico. Na representação fonológica, o acento nuclear é representado por /L+>H*L%/, tendo o alinhamento antecipado do pico de F0 sinalizado pelo diacrítico />/ que precede esse tom H. Já o acento pré-nuclear alto foi representado pelo tom /H+H*/. Foneticamente, ainda há outros dois aspectos que ajudam a distinguir esses dois contornos: (i) a subida final no pedido está em um nível mais baixo que a questão total; (ii) a primeira sílaba tônica se localiza num nível mais alto no pedido do que a questão total. Figura 15 – “Como ela jogava” dito como questão parcial (MORAES, 2008) A questão parcial é caracterizada por um nível melódico extra-alto no morfema interrogativo QU-, quando a ordem de palavras é não marcada, isto é, com o morfema em posição inicial, seguido de uma queda gradual nas sílabas seguintes. Na representação 31 fonológica, esse padrão recebe na posição nuclear o acento bitonal seguido de um tom de fronteira /H+L*L%/, e para a posição pré-nuclear, o acento bitonal /H+H*/. Figura 16 – “Como ela jogava” dito como exclamação (MORAES, 2008) No contorno da exclamação com morfema exclamativo na posição inicial, as sílabas pretônicas e tônicas finais são responsáveis não só pelo seu reconhecimento perceptivo como também pela distinção entre esse contorno e o da questão parcial, já que ambos possuem um nível extra alto no início do contorno e uma queda gradual ao longo do enunciado. Para a representação fonológica, a notação proposta é /¡L+¡L*L%/, em que o aspecto mais importante para a distinção entre questão parcial e exclamação está na pretônica final mais baixa na exclamação, e na tônica final, mais alta na exclamação. Apesar dessa descrição da entoação do português do Brasil na variante carioca com o uso do sistema ToBI apresentar resultados consistentes através de testes perceptivos, em Moraes (2011), o autor sugere que os contornos melódicos dos atos diretivos, como a ordem, o desafio, entre outros, talvez precisem de três níveis de referência no registro (alto, médio e baixo) para distingui-los, o que não é previsto pela descrição no modelo AM. *** Em artigo recente, Lucente (2014) critica o uso do sistema ToBI (Tone and Break Indices), proposto por Silverman et al. (1992), para a descrição entonacional do PB, argumentando que esse sistema de notação não abarca certas características fonéticas das curvas de F0 que perceptivamente são relevantes para o reconhecimento desses contornos (LUCENTE, 2014: 92). A autora propõe uma abordagem fonética na descrição da entoação do Português do Brasil com vistas a sua representação fonológica chamada de sistema DaTo (Dynamic Tones). Essa nova abordagem, que traz uma implementação fonética, se concentra na “convergência de aspectos fonéticos (velocidade, intensidade, altura, duração) da curva 32 entonacional a fim de atingir um alvo ou desempenhar uma tarefa linguística por meio de contornos entonacionais, da gama de variação tonal e do alinhamento específico com o material linguístico” (LUCENTE, 2014: 85). Lucente (2014) apresenta as diferenças entre essa nova abordagem e a do sistema ToBI, as quais incluem: (i) o fato de que o “contorno dinâmico na notação DaTo não se refere a adição de movimentos com diferentes alturas de F0” (2014:87), já que cada movimento de F0, seja uma subida ou seja uma descida, é responsável por criar condições para que outro movimento ocorra; (ii) nessa abordagem, “o alinhamento específico entre contornos dinâmicos e o material linguístico é uma questão central[...]” (2014: 88), enquanto o alinhamento entonacional no sistema ToBI é feito por um ponto abstrato em que o ponto específico é decidido por implementações fonéticas; (iii) “existe uma necessidade de diferenciar contornos entoacionais não somente pela forma da curva, mas também pela diferença de gama tonal” (2014: 92). Segundo Lucente (2014: 89), “os contornos dinâmicos [...] são movimentos contínuos de F0, que percorrem a transição a um ponto a outro na curva entoacional até atingir o seu alvo”. É importante notar que os movimentos de transição carregam a informação tonal que antecede e segue seu alvo. Nesse sentido, no contorno dinâmico, as transições são relevantes, que até então eram consideradas pela teoria AM como transições preenchedoras entre eventos estáticos. No sistema DaTo, os contornos se dividem em ascendentes, descendentes e níveis de fronteira, e são representados, como no modelo AM, pelos rótulos H (high) e L (Low). No entanto, esses contornos são descritos em relação ao “seu padrão de movimento e ao alinhamento com as sílabas tônicas” (2014:89), partindo, em primeiro lugar, da percepção da proeminência e posteriormente da inspeção visual da curva entoacional para receber o rótulo mais adequado. Em suma, esse sistema visa representar fonologicamente a entoação do PB com base em medidas fonéticas e na percepção do ouvinte. A autora conclui seu artigo dizendo que, enquanto no sistema ToBI faltam medidas fonéticas para o uso de rótulos como acento tonal (pitch accent), acento frasal (phrase accent) e tons de fronteira, o que faz essa notação ser exclusivamente fonológica, o sistema DaTo implementa a análise fonética ao sistema por meio do uso de programas computacionais. 33 CAPÍTULO 3. MÉTODO Neste capítulo, os métodos utilizados para a elaboração dessa pesquisa são descritos. Em 3.1, o modo como o corpus foi elaborado; em 3.2, uma breve descrição do perfil dos informantes; em 3.3, há uma seção, 3.3.1, em que são mostrados o processo de estilização close copy dos 8 contornos melódicos do PB, e outra, 3.3.2, que indica quais foram as variáveis manipuladas em cada contorno melódico no processo de estilização equivalent copy; em 3.4, explica-se como se deu a elaboração do experimento de percepção; em 3.5, como foi feita a análise estatística aplicada aos resultados. 3.1 Corpus Esta pesquisa selecionou um grupo de contornos melódicos variados do sistema entonacional do português brasileiro. Os enunciados selecionados para esta pesquisa possuem 6 sílabas (2 sequências de sílabas pretônica–tônica–postônica) para observar o comportamento da F0 nos acentos tanto no início quanto no final dos contornos melódicos, exceto para a frase usada na questão parcial e exclamação, que se inicia por sílaba tônica. Optou-se pela elaboração de um corpus controlado que contemplasse essa variedade de contornos melódicos do PB, no qual a interferência do conteúdo verbal do enunciado fosse mínima, de tal sorte que pudesse, o mesmo enunciado, ser dito pelos informantes de maneiras diferentes, isto é, realizando distintos atos de fala. Dessa forma, o corpus desta dissertação é classificado como fala atuada, o que significa que a produção dos enunciados foi feita em laboratório no intuito de se recriar como determinado enunciado seria emitido em uma situação real de fala. Por isso, em primeiro lugar, as frases elaboradas para o corpus teriam que conter o conteúdo proposicional que fosse adequado para os atos ilocutórios selecionados nesta dissertação, a saber: a asserção, a questão total, a ordem, o desafio, o pedido, a sugestão, a questão parcial e a exclamação. Essa é uma maneira de garantir que a interpretação dos enunciados feita pelos ouvintes estará sendo guiada pela entoação e não pelo conteúdo lexical do enunciado. Marina cantava – Esta frase foi dita como asserção e questão total. Conversa com ele – Esta frase foi dita como ordem, desafio, pedido e sugestão. Como você sabe – Esta frase foi dita como questão parcial e exclamação. Essas informações foram esquematizadas no quadro a seguir: 34 Ato ilocutório Frase Padrão silábico Total de enunciados gravados (4 informantes) Asserção Marina cantava cvCV21cv cvCVcv 8 Conversa com ele cvCVcv cvcVcv 16 Como você sabe CVcv cvCV CVcv 8 3 2 32 Questão total Ordem Desafio Pedido Sugestão Questão parcial Exclamação Total 8 Quadro 4 – Constituição do corpus - tipos de enunciados, frases e tonicidade das sílabas. Durante o processo de gravação dos enunciados, os contextos pragmáticos de cada ilocução foram apresentados para os informantes no intuito de fazer com que eles reproduzissem o contorno entonacional dos 8 atos ilocutórios. Após o treino, o informante repetiu três vezes o mesmo padrão entonacional e passou para o próximo contorno na sequência criada. Ao todo, os 4 informantes gravaram 8 enunciados, o que resultou em 32 enunciados. As gravações foram feitas em um laboratório isolado acusticamente, com o microfone Shure SM48 em mídia digital, utilizando o programa Sound Forge (versão 7.0). Os arquivos sonoros foram salvos com a extensão .wav, mono, 16 bits e 22.050Hz. 3.2 Os informantes Os enunciados foram produzidos por 4 informantes, dois masculinos (INF 1 e INF 3) e dois femininos (INF 2 e INF 4), todos são falantes nativos do Português Brasileiro em sua variedade dialetal do Rio de Janeiro. Além disso, todos os informantes possuem nível universitário e estão na faixa etária adulta (entre 20 e 59 anos de idade). Os informantes desta pesquisa estão acostumados à gravação de corpora para pesquisas em fonética acústica, portanto, eles souberam desempenhar a tarefa apropriadamente. 21 CV em caixa alta significa sílaba tônica. 35 3.3 Estilização close copy Hermes (2006) traça um panorama de todos os métodos de estilização para a pesquisa empírica prosódica e diz que muitos desses métodos foram inspirados pela proposta da Escola Holandesa, ou seja, pela orientação de reduzir a curva de F0 de enunciados falados a um número reduzido de linhas retas. Ao resultado do processo, dá-se o nome de contorno melódico estilizado, que, de maneira ideal, possui o menor número de linhas retas possível. A ideia que sustenta esse procedimento é a eliminação dos detalhes do contorno melódico que não participam da comunicação para obter, portanto, apenas os constituintes essenciais dos padrões entonacionais do enunciado que contenham propriedades perceptivas. Com isso, pode-se chegar à estrutura da entoação na fala natural, pois o que não é essencial é eliminado, e, por outro lado, as propriedades essenciais do contorno permanecem intactas. Segundo Odé (1989), as estilizações são resultado de um trabalho experimental e exaustivo que inclui a tomada de decisão do experimentador, já que a discriminação de um movimento melódico ser relevante ou não para a percepção é feita por ele. O trabalho inicial do experimentador começa com a curva representada na tela do computador (ODÉ, 1989:18). No processo de estilização close copy desta dissertação, o programa Praat (BOERSMA; WEENINK, 2013) foi usado com o objetivo não só de analisar as curvas de F0 acusticamente, mas também de manipular a curva melódica dos enunciados gravados. Para se fazer a estilização dos contornos, utilizou-se primeiramente a função to manipulation do programa Praat, que cria uma versão ressintetizada do som original representada por segmentos de retas e pontos de inflexão, como ilustra a figura abaixo: Figura 17 – Enunciado “Mariana cantava” dito como asserção pelo INF 2 na função to manipulation no programa Praat 36 Em seguida, inicia-se a estilização close copy. O comando picth > stylize pitch> 2 ST foi utilizado para reduzir o grande número de pontos de inflexão ao longo do contorno melódico ressintetizado. O resultado pode ser visto na figura abaixo: Figura 18 – Enunciado “Mariana cantava” dito como asserção pelo INF 2 depois do uso do coamando “stylize pitch >2 ST” no programa Praat A partir dessa fase, o trabalho do experimentor é manual e sua tarefa é retirar possíveis pontos de inflexão que não afetam a igualdade perceptiva da close copy e do contorno original através do comando CTRL+ALT+T. Quando um ponto de inflexão é um candidato a ser retirado, o critério utilizado neste momento é o da comparação auditiva da sílaba, onde se situava esse ponto na versão ressintetizada, que agora está sem ele, e dessa mesma sílaba na versão original; se o ponto de inflexão retirado não modificar a igualdade perceptiva entre o contorno estilizado e o contorno original, ele pode e deve ser excluído. Ao se retirar um ponto, se fazem frequentemente pequenos ajustes nos demais pontos, de forma a garantir uma máxima coincidência entre a curva estilizada (em verde) e a original, que se pode ver em cor cinza sob a curva estilizada. Nesta dissertação, a decisão da eliminação manual dos pontos de inflexão foi tomada através do consenso entre dois juízes (a autora e o orientador). Esse procedimento, cujo resultado pode ser visto na seção 3.3.1, se repete até se chegar ao menor número de pontos de inflexão possível no contorno melódico de maneira que se um desses pontos for retirado, a igualdade perceptiva da close copy será danificada em relação ao contorno original. Posteriormente, a aceitabilidade das estilizações é verificada com ouvintes nativos nos experimentos de percepção para validar a igualdade perceptiva dos contornos 37 originais e suas respectivas close copies (ODÉ, 1989:14). Em suma, o protocolo utilizado no processo de estilização close copy é constituído dos seguintes passos: (i) uso da função de manipulação (to manipulation) da curva melódica na ferramenta Praat, (ii) diminuição do número de pontos de inflexão com o auxílio do comando “stylize pitch”, (iii) retirada manual dos pontos de inflexão restantes que ainda não afetam a igualdade perceptiva através da comparação entre a sílaba que teve o ponto de inflexão retirado na versão estilizada e a da versão original. O corpus de 8 contornos melódicos originais desta dissertação foi descrito a partir das close copies produzidas; pois, assim, a possibilidade de se criar “boas” hipóteses para a estandardização dos contornos aumenta, já que esta será a próxima fase de estilização. Para facilitar a descrição das close copies produzidas para os 8 atos ilocutórios, o enunciado foi dividido em segmento por segmento: M A R I N A C AN T A V A C1 V1 C2 V2 C3 V3 C4 V4 C5 V5 C6 V6 Quadro 5 – Enunciado emitido como asserção e questão total C ON V E R S A C OM C1 V1 C2 V2 C3 C4 V3 C5 V4 E L E V5 C6 V6 Quadro 6 – Enunciado emitido como ordem, desafio, pedido e sugestão C O M O V O C E S A B E C1 V1 C2 V2 C3 V3 C4 V4 C5 V5 C6 V6 Quadro 7 – Enunciado emitido como questão parcial e exclamação Em relação aos valores de F0 dos contornos melódicos, é importante mostrar os níveis de referência no registro da extensão melódica 22 de cada informante: INF 1 INF 2 INF 3 INF 4 Registro baixo 65.66Hz 163.76Hz 95.85Hz 122.22Hz Registro alto 302.74Hz 582.02Hz 311.25Hz 366.69Hz Quadro 8 – Nível de referência alto e baixo no registro dos 4 informantes 22 Esses níveis definem o limite inferior e superior no qual a F0 varia na extensão do registro modal do falante. 38 3.3.1 Asserção 1-João_asserção-Marina_Cantava 1-Manu-asserção-Marina_cantava 0 0 32.41 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -12 12 0 -4.98 m a r i n a c an t a v 0 a m 1.197 a r i n a c t a v a 0 1.206 Time (s) Time (s) 1-Alex-asserção-Marina_cantava 1-Bia-asserção-Marina_cantava 0.000296848223 32.41 0 31.02 24 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) an 12 0 -12 12 0 -4.98 m a r i n a c an t a 0 v a m 1.138 a r i n a c an t 0 Time (s) a v a 1.531 Time (s) Figura 19 – Contornos originais da asserção “Marina cantava” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. O primeiro parâmetro acústico analisado nos contornos originais foi a média global do nível melódico do contorno. Essa média foi extraída no Praat em Hertz (Hz) e em semitons (ST), tomando-se como referência o nível de 100Hz: Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 94.97Hz 200.24 123.40Hz 179.76Hz -1.30ST 11.86ST 3.37 ST 9.98ST médio global Tabela 1 – Nível melódico médio global da asserção por informante 39 300 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 400 m a r i n a c an t a v a m 0 0 a r i n a c an t a v a 0 1.197 0 1.206 Time (s) Time (s) 300 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 300 m a r i n a c an t a v m a a r i n a c an t a v a 0 0 0 1.138 0 Time (s) 1.531 Time (s) Figura 20 – Close copies da asserção “Marina cantava” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) O contorno melódico da asserção se caracteriza por apresentar um movimento ascendente seguido de um movimento descendente em um nível de referência baixo no registro. De maneira geral, nota-se que há um movimento ascendente se iniciando desde a C1 até o final da V4 nos INF 3 e 4; já no INF1, esse movimento finaliza no início da C4, e, finalmente, no INF 2, antes do movimento ascendente, há um movimento plano que dá lugar à subida que se inicia na C4 e finaliza na V4. Sendo assim, a parte do contorno que apresenta mais variabilidade é o término do movimento ascendente, pois, nos INF 2, 3 e 4, o movimento ascendente atinge seu pico no final da V4; por outro lado, no INF 1, o pico do mesmo movimento está localizado na C4. A partir desse pico, um movimento descendente se estende até a porção intermediária da V5, seguido de um movimento plano na C6 e V6 nos INF 1, 2 e 4 e um movimento ligeiramente ascendente sobre as C6 e V6 no INF 3. 40 3.3.2 Questão total 2-João_Questão_total_1_rept 2-Manu-Questão_total_Marina_cantava 0 0 32.41 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -4.98 12 0 -4.98 m a r i n a c an t a v a m 0 1.377 a r i n a c an t a v a 0 1.351 Time (s) Time (s) 2-Alex-questãototal-marina_cantava 2-Bia_questão_total-Marina_cantava 0 0 32.41 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -4.98 12 0 -4.98 m a r i n a c an t a 0 v a m 1.028 a r i n a c an t a v a 0 Time (s) 1.163 Time (s) Figura 21 – Contornos originais da questão total “Marina cantava?” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 100.63Hz 238.43Hz 128.67Hz 189.76Hz -0.15ST 14.83ST 4.11ST 10.88ST médio global Tabela 2 – Nível melódico médio global da questão total por informante 41 Frequency (Hz) 400 Frequency (Hz) 300 m a r i n a c an t a v a m 0 a r i n a c an t a v a 0 0 1.377 0 1.351 Time (s) Time (s) 300 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 400 m a r i n a c an t a v a m 0 a r i n a c an t a v a 0 0 1.028 Time (s) 0 1.225 Time (s) Figura 22 – Close copies da questão total “Marina cantava?”– informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) O contorno melódico da questão total apresenta dois movimentos ascendentes– descendentes: um no início e outro no final do contorno. No INF 1, há um movimento descendente antes da primeira subida sobre as C1 e V1, já nos INF 2, 3 e 4, o movimento ascendente se inicia a partir da C1. O pico desse movimento ascendente apresenta maior variabilidade, já que, nos INF 1 ele está na margem esquerda da V2; no INF 2, na margem direita da V2; no INF 3, no final da C3, e no INF 4, no início da C4. A partir desse ponto de inflexão, inicia-se o primeiro movimento descendente que se estende até a porção intermediária da V4 nos INF 1 e 3; já no INF 2, o final da queda está na porção final dessa mesma vogal; e no INF 4, praticamente no começo de C5. Nos três casos, o final desse movimento descendente atinge o nível mais baixo de F0 no enunciado. A partir desse ponto de inflexão, tem-se início o segundo movimento ascendente que atinge seu pico com alinhamento na margem direita da V5 nos 4 informantes. Por fim, há movimento descendente que se inicia ainda no final da V5 e se estende até a V6. De maneira geral, pode se notar que a segunda subida foi mais ampla sobre o último vocábulo na parte final do contorno para os INF 1, 2 e 3, o oposto do que ocorre no INF 4. 42 3.3.3 Ordem 3-João-Ordem-conversa_com_ele 0 3-Manu-Ordem-Conversa_com_ele 32.41 0.00034028279 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 12 0 -12 -12 c on v e r s a c om e l 0 e c 0.9171 on v e r s a c om e l e 0 1.304 Time (s) Time (s) 3-Alex-ordem-conversa_com_ele 0 3-Bia-Ordem-Conversa_com_ele 32.41 0 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -4.98 12 0 -4.98 c on v e r s a c om e 0 l e c 1.126 on v e r s a c om e l e 0 1.31 Time (s) Time (s) Figura 23 – Contornos originais da ordem “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 102.98Hz 220.93Hz 147.80Hz 178.10Hz 0.18ST 13.51ST 6.52ST 9.84ST médio global Tabela 3 – Nível melódico médio global da ordem por informante 43 300 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 400 c on v e r s a c om e l e c on 0 0 v e r s a c om e l e 0 0.9171 0 1.304 Time (s) Time (s) Frequency (Hz) 400 Frequency (Hz) 300 c on v e r s a c om e l e c 0 on v e r s a c om e l e 0 0 1.117 1.126 Time (s) 0 1.313 1.31 Time (s) Figura 24 – Close copies da ordem “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) No contorno melódico da ordem, identifica-se, de maneira geral, um movimento descendente na C1 e V1, seguido de um movimento ascendente na C2 e V2, que logo em seguida pode ou não formar um platô baixo, e, por fim, um movimento descendente final. Nos INF 1, 2 e 3, o contorno se inicia com um movimento ligeiramente descendente na C1 e V1, seguido de um movimento ascendente na C2 e V2 com o pico localizado logo no início da V2. Somente no INF 4, há um movimento ligeiramente ascendente desde o início do contorno que atinge o pico também no começo da V2. Este movimento ascendente que começa na C2 e V2 permanece em platô até o começo da C5 nos INF 1, 2 e 3, exceto no INF 4. Esse platô formado sobre a C2 e C3 é levemente ascendente no INF 2 e descendente em INF 3. Em seguida, há uma queda que se inicia na V4, que é mais marcada em INF 4 do que nos outros informantes, e que se estende até o final do enunciado. Nota-se que no INF 2, há um breve platô sobre a V5 que interrompe a queda, mas, logo em seguida, inicia-se um novo movimento descendente. Por fim, é importante notar que, ao contrário do que ocorre na 44 asserção, que tem um movimento ascendente nas primeiras sílabas (particularmente a tônica e a postônica), na ordem, a F0 ou configura um platô ou um movimento descendente. 3.3.4 Desafio 4-João_Desafio_conversa_com_ele 4-Manu-Desafio-Manu-conversacom_ele 0 0.000354362641 32.41 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -12 12 0 -12 c on v e r s a c om e l e c 0 1.076 on v e r s a c om e l e 0 1.358 Time (s) Time (s) 4-Alex-desafio-conversa_com_ele 4-Bia-Desafio-conversa_com_ele 0 32.41 0 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -12 12 0 -12 c on v e r s a c om e 0 l e c on 1.207 v e r s a c om e 0 Time (s) l e 1.141 Time (s) Figura 25 – Contornos originais do desafio “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 151.05Hz 322.31Hz 209.85Hz 287.83Hz 5.46ST 19.11ST 11.02ST 17.26ST médio global Tabela 4 – Nível melódico médio global do desafio por informante 45 350 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 600 c on v e r s a c om e l e c 0 0 on v e r s a c om e l e 0 1.359 0 1.358 Time (s) Time (s) 600 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 400 c on v e r s a c om e l c e on v e r s a c om e l e 0 0 0 1.207 0 Time (s) 1.062 Time (s) Figura 26 – Close copies do desafio “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) No contorno melódico do desafio, há um movimento ascendente amplo que atinge seu pico em um nível de referência alto no registro, seguido de uma queda na última sílaba tônica. No início do contorno, tem-se o início do movimento ascendente no INF 1, um movimento plano no INF 2 e nos INF 3 e 4, há um movimento ligeiramente descendente antes desse movimento ascendente amplo. O pico desse movimento ascendente amplo apresenta uma variabilidade quanto à sílaba em que ele se localiza, já que nos INF 1 e 4 esse pico está na primeira porção da V2, já nos INF 2 e 3, o pico é atingido na C4. É importante notar que entre as C4 e V4, um platô alto aparece nos INF 2, 3 e 4. No entanto, no INF 1, há outra forma para esse contorno, já que logo após o pico do movimento ascendente no final da V2, há um único movimento descendente até o fim do enunciado. 46 3.3.5 Pedido 5-João_Pedido_conversa_com_ele 5-Manu-Pedido-Conversa_com_ele 0 0 32.41 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 12 0 -12 -12 c on v e r s a c om e l 0 e c on v e 1.06 r s a c om e l e 0 1.422 Time (s) Time (s) 5-Alex-pedido-Conversa_com_ele 0 5-Bia-Pedido-Conversa_com_ele 32.41 0.000169303446 24 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 18 12 0 12 -12 6 0 c on v e r s a c om e 0 l e c 1.222 Time (s) on v e r s a c om e 0 l e 1.629 Time (s) Figura 27 – Contornos originais do pedido “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 118.34Hz 293.44Hz 185.97Hz 226.62Hz 2.20ST 17.37ST 9.12ST 13.47ST médio global Tabela 5 – Nível melódico médio global do pedido por informante 47 Frequency (Hz) 650 Frequency (Hz) 300 c on v e r s a c om e l e c on v e 0 r s a c om e l e 0 0 1.06 0 1.422 Time (s) Time (s) 400 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 400 c on v e r s a c om e l e c 0 on v e r s a c om e l e 0 0 1.222 Time (s) 0 1.629 Time (s) Figura 28 – Close copies do pedido “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) O contorno melódico do pedido se caracteriza como um padrão com dois movimentos ascendentes-descendentes, em que a primeira subida é mais ampla do que a segunda. Nos INF 1 e 2, há um movimento ascendente desde o início do contorno na C1 que atinge seu pico no início da V2. Já nos INF 3 e 4, há um movimento ligeiramente descendente antes do movimento ascendente que atinge o pico no mesmo local da V2 que os outros dois informantes. Sendo assim, pode-se afirmar que a primeira subida, que é muito ampla, possui um pico que se localiza na primeira parte da vogal tônica, o que resulta em uma forma descendente da F0 sobre essa vogal. Em seguida, há um movimento descendente que se estende até o final da C3 em INF 1, o início de C5 nos INF 2 e 3 ou o final da C3 no INF 4. Já o segundo movimento ascendente começa na V4 nos INF 1 e 2, no final da V3 no INF 3 e final da C3 no INF 4, atingindo seu pico na primeira porção da V5, o que resulta em um movimento descendente dentro da última vogal tônica; sendo o oposto do que acontece na questão total. Esse movimento descendente se estende até a V6 no INF 1, já nos INF 2, 3 e 4, 48 esse movimento termina no final da V5, dando lugar a um movimento ligeiramente ascendente nas C6 e V6 dos INF 2 e 3; e um movimento plano nas C6 e V6 do INF 4. 3.3.6 Sugestão 6-Manu-sugestão-conversa_com_ele 6-João_Sugestão-conversa_com_ele 0 32.41 1.16972214 31.02 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 12 0 -12 -12 c on v e r s a c om e l c e 0 on v e r s a c om e l e 0 1.171 1.292 Time (s) Time (s) 6-Alex-Sugestão-conversa_com_ele 6-Bia-Sugestão-Conversa_com_ele 0 32.41 0 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -12 12 0 -12 c on v e r s a c om e 0 l e c 1.04 on v e r s a c om 0 Time (s) e l e 1.183 Time (s) Figura 29 – Contornos originais da sugestão “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 128.16Hz 254.34Hz 175.55Hz 268.80Hz 3.78ST 15.70ST 8.26ST 16.57ST médio global Tabela 6 – Nível melódico médio global da sugestão por informante 49 350 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 400 c on v e r s a c om e l e c on 0 v e r s a c om e l e 0 0 1.171 0 1.292 Time (s) Time (s) Frequency (Hz) 400 Frequency (Hz) 400 c on v e r s a c om e l e c 0 on v e r s a c om e l e 0 0 1.04 0 Time (s) 1.151 Time (s) Figura 30 – Close copies da sugestão “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) O contorno melódico da sugestão pode ser definido como um padrão descendenteascendente-descendente. O primeiro movimento descendente que começa em C1 pode se estender até a C2 como no INF 4, ou até a C3 como no INF 1, ou até a C4 como nos INF 2 e 3. Este movimento é seguido de um movimento ascendente amplo que atinge seu pico ou na porção inicial da V4 como nos INF 1 e 4 ou no início da V5 como nos INF 2 e 3, dando lugar a uma queda que começa dentro da última sílaba tônica. No que se refere ao movimento descendente final, enquanto no INF 1, esse movimento descendente se estende até o final do enunciado, no INF 3, há um movimento ligeiramente ascendente nas C6 e V6, e, por fim, nos INF 2 e 4, há um pequeno platô que começa na porção final da V5 e se estende até o início (INF 4) ou final (INF 2) da C6, seguido de um novo movimento descendente na V6. 50 3.3.7 Questão parcial 7-João_Questão_parcial_como_você_sabe 0 7-Manu-Questão_parcial-Como_você_sabe 32.41 0 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 -12 12 0 -12 c o m o v o c ê s a b e 0 c o 0.993 m o v o c ê a b e 0 1.288 Time (s) Time (s) 7-Alex-questão_parcial-como_você_sabe 7-Bia-Questão_parcial-Como_você_sabe 0 0 32.41 32.41 24 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) s 12 0 -12 12 0 -12 c om o v o c ê s 0 a b e c 1.257 o m o v o c ê s a b 0 Time (s) e 1.193 Time (s) Figura 31 – Contornos originais da questão parcial “Como você sabe?” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 169.23Hz 308.91Hz 195.72Hz 198.16Hz 6.43ST 18.33ST 9.78ST 10.88ST médio global Tabela 7 – Nível melódico médio global da questão parcial por informante 51 Frequency (Hz) 450 Frequency (Hz) 350 c o m o v o c ê s a b e c o 0 m o v o c ê s a b e 0 0 0.993 0 1.288 Time (s) Time (s) 350 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 450 c om o v o c ê s a b e c 0 o m o v o c ê s a b e 0 0 1.257 0 Time (s) 1.193 Time (s) Figura 32 – Close copies da questão parcial “Como você sabe?” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde). No contorno melódico da questão parcial, nota-se que há uma queda gradual que começa em um nível de referência alto no registro e se estende ao longo de todo o enunciado, terminando em um nível de referência baixo no registro. Nota-se ainda que, nos INF 1, 3 e 4, há um platô de curta duração sobre C1 e V1. Em seguida, inicia-se o movimento descendente que começa na V2 e se estende ao longo de todo o enunciado. Somente no INF 2, há um movimento ascendente em C1, V1, e C2, dando lugar a um platô que se forma entre a V2 e a C5. O movimento descendente final no INF 2 ocorre no início da V5 e se estende até o final do enunciado. 52 3.3.8 Exclamação 8-João-exclamação-comovocêsabe 0 32.41 8-Manu-Exclamação-Como_você_sabe 0 32.41 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) 24 12 0 12 0 -12 -12 c o m ov o c ê s a b e c o m 0 1.329 o v o c ê s b e 0 1.509 Time (s) Time (s) 8-Alex-Exclamação-como_você_sabe 8-Exclamação_Bia-como_você_sabe 0 0 32.41 32.41 24 24 Pitch (semitones re 100 Hz) Pitch (semitones re 100 Hz) a 12 0 -12 12 0 -12 c o m o v o c ê s a b 0 e c o m 1.549 o v o c ê s a 0 Time (s) b e 1.384 Time (s) Figura 33 – Contornos originais da exclamação “Como você sabe!” em semitom tomando como referência o nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior. Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4 Nível melódico 152.03Hz 298Hz 162.47Hz 259.37Hz 6.25ST 18.02ST 7.74ST 15.90ST médio global Tabela 8 – Nível melódico médio global da exclamação por informante 53 300 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 600 c o m o v o c ê s a b e c o m o v o 0 0 c ê s a b e 0 1.329 0 1.509 Time (s) Time (s) 400 Frequency (Hz) Frequency (Hz) 300 c o m o v o c ê s a b c o m e o v o c ê s a b e 0 0 0 1.439 0 Time (s) 1.384 Time (s) Figura 34 – Close copies da exclamação “Como você sabe!” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde) A exclamação pode ser caracterizada, de maneira geral, por um duplo movimento ascendente-descendente. No início do contorno melódico, há um movimento ascendente com pico na V4 nos INF 1, 3 e 4; diferentemente do INF 2, já que após o movimento ascendente sobre a C1, V1, C2 e V2, forma-se um platô que se estende entre o final da V2 até a porção final da V4. Por fim, há uma queda que termina na porção inicial da V5, dando lugar a um movimento ascendente que atinge seu pico na margem direita dessa mesma sílaba, seguido de uma nova queda sobre as C6 e V6 em todos os informantes. 54 3.4 Estilização equivalent copy No processo de estilização denominado equivalent copy (cópia equivalente), o objetivo é chegar a uma curva padrão dos contornos analisados. Como já foi exposto anteriormente, os parâmetros acústicos propostos pelo modelo incluem a direção do movimento, a extensão do movimento, o alinhamento e o campo tonal para se chegar a uma estandardização dos movimentos melódicos. Além disso, Odé (1989: 34) diz que o processo de estilização da cópia equivalente busca definir os limites da tolerância perceptiva e defende que “[...] a equivalência perceptiva de duas configurações de movimentos é percebida em um nível mais alto de abstração” 23 (ODÉ, 1989: 37). A autora ainda declara sobre o processo de estandardização que: Fazer movimentos melódicos padronizados pode ser útil para sistemas de texto-fala, ou para o ensino da entoação. Na descrição padronizada dos movimentos melódicos, movimentos equivalentes perceptivamente são modificados de tal modo que deles resulta um só protótipo (ODÉ, 1989:38, tradução nossa)24. Como as alterações foram feitas nas curvas originais de maneira gradativa, os contornos alternativos se tornaram mais ou menos parecidos com o contorno original. Por conta disso, é importante avaliar se o contorno modificado pode ser aceito como um representante de um determinado ato de fala, sendo, portanto, possível reconhecer o valor funcional desse ato; nesse sentido, a aceitabilidade do estímulo está relacionada a um alto grau de proximidade com a produção natural de um contorno melódico em termos de reconhecimento do seu valor funcional, mas também à qualidade do som; por isso, a naturalidade do estímulo gerado no processo de ressíntese também é um critério importante para a avaliação dos ouvintes. As variáveis selecionadas para essa segunda fase de estilização foram baseadas nos 4 parâmetros acústicos da teoria, no entanto a superposição das close copies dos contornos melódicos de cada informante também foi usada para se observar as partes do contorno em que existe mais variação e aquelas em que há mais pontos de convergência. Segundo Odé (1989: 90), o registro modal se refere a uma extensão melódica na qual a F0 se move numa escala entre um limite alto e baixo. Odé (1989: 91) defende que subidas e 23 “[…] the perceptual equivalence between two configurations of movements is perceived on a higher level of abstraction.” 24 “Making standard movements can be useful for computerized text-to-speech systems, or for the teaching of intonation. In a standardized description of pitch movements, perceptually equivalent movements are modified to such an extent that only one prototype results.” 55 quedas que terminam em diferentes “posições no registro” fazem parte de movimentos melódicos diferentes, isto é, as subidas podem se diferenciar por atingir o ponto mais alto em um nível de referência registro alto ou por atingir o ponto mais alto em um nível de referência baixo no registro. Essa característica ajuda a classificar os movimentos melódicos relevantes perceptivamente. Nível de referência alto no registro Alto Baixo Nível de referência baixo no registro Figura 35 – Níveis de referência no registro, adaptado de Odé (1989: 93) (i) Uma vez que os níveis de referência no registro são delimitados, a excursão do movimento melódico é medida a partir da frequência inicial do movimento melódico e a frequência final; a extensão é dada em semitons (ST), como ilustra a figura abaixo: Figura 36 – Excursão dos movimentos melódicos no russo (ODÉ, 1989: 92) Os movimentos melódicos na figura acima indicam que, perceptivamente, um falante que, por exemplo, tem um nível mais baixo no registro em 65Hz e apresenta uma subida com valor da frequência inicial em 110Hz e o valor final da frequência em 184Hz teria, em princípio, uma excursão de 9 semitons. No caso da subida se iniciar no nível mais baixo da extensão do falante, que nesse caso é 65Hz, e atingir esses mesmo valor final da frequência em 184Hz, a excursão seria de 18 semitons, uma excursão muito ampla. A classificação da excursão feita pela autora prevê uma excursão de até 10 semitons, que é classificada como “normal”, e se for acima de 10 semitons, tem-se uma excursão ampla. 56 (ii) O alinhamento indica a posição que um movimento ocupa em relação às fronteiras da sílaba. Sendo assim, a classificação do alinhamento é dividida em: (i) antecipado, se o movimento termina no começo da sílaba; (ii) tardio, se o movimento termina no final da sílaba. No modelo IPO, ainda é considerado um movimento intermediário, se o movimento finalizar no meio da sílaba (GARRIDO, 2003: 104). Odé (1989) diz que o alinhamento é uma característica distintiva para a percepção de acentos tonais e propõe uma classificação apenas com dois tipos de alinhamento para o russo (antecipado e tardio) tanto para subidas quanto para quedas. tardio antecipado tardio antecipado Figura 37 – Alinhamentos antecipado e tardio de subidas e descidas nas fronteiras da sílaba, adaptado de Odé (1989: 94). Além disso, Odé (1989: 93) chama a atenção para o fato de que o parâmetro do alinhamento é importante se o movimento ascendente terminar em um nível de referência alto no registro. Caso a subida termine em um nível de referência baixo no registro, todas as possibilidades de alinhamento podem ocorrer, assim como a taxa de mudança. Os dois últimos parâmetros acústicos são (iii) a duração e (iv) a taxa de mudança (slope) do movimento melódico. Odé (1989) ressalta que a duração dos movimentos melódicos por si só não é uma característica distintiva; no entanto, a duração de um movimento relevante perceptivamente junto com a excursão dá a taxa de mudança (slope) de um movimento. A autora classifica uma taxa de mudança como gradual com o valor de cerca de 70 semitons por segundo ou menos, já uma taxa de mudança íngreme tem valor acima de 70 semitons por segundo. Segundo a autora, a taxa de mudança por si só também não é uma característica distintiva, mas se esta for combinada com o alinhamento, como o alinhamento antecipado e a taxa de mudança íngreme ou alinhamento antecipado e a taxa de mudança gradual, poderá caracterizar acentos tonais diferentes. A seguir, os oito contornos melódicos serão comentados para a seleção das variáveis que foram manipuladas nessa fase de estilização: 57 3.4.1 Asserção Pelo fato do contorno da asserção mostrar variação quanto ao início do movimento descendente, o parâmetro da extensão do movimento foi utilizado para averiguar quais são os pontos desse contorno em que é possível começar esse movimento. Além disso, nota-se que o pico do movimento ascendente está variando na última sílaba pretônica “can” que, nos informantes 2, 3 e 4, aparece no final dessa sílaba; por outro lado, no informante 1, o pico está localizado no início dela. Além disso, o campo tonal também foi testado como variável a fim de se verificar se a excursão dos movimentos ascendente e descendente desse contorno é normal ou ampla. Por fim, o registro também foi selecionado como variável para se testar os limites da faixa de frequência mais alta e mais baixa do registro modal. Consequentemente, ao verificar isso, também será possível determinar qual é o efeito perceptivo do contorno se ele estiver inteiramente no nível mais baixo do registro (vocal fry) e no mais alto do registro (falseto). Apesar da duração dos segmentos de cada falante não ter sido normalizada, com a sobreposição das close copies dos 4 informantes, é possível observar quais são os pontos em que ocorrem a variação quanto ao início do movimento descendente, que envolvem as últimas sílabas pretônica e tônica. No INF 1, a queda se inicia no começo da última sílaba pretônica, já nos demais informantes, essa queda ocorreu na porção final dessa mesma sílaba. 300 'ri na can 'ta va Frequency (Hz) Ma 0 0 1.138 1.531 1.197 1.206 Time (s) Figura 38: Close copies da asserção – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 58 3.4.2 Questão total Para o contorno da questão total, o alinhamento na tônica final foi manipulado, apesar de ter apresentado pouca variação no que se refere à localização do pico na vogal da última sílaba tônica que está alinhado na margem direita sílaba nos 4 informantes. Além disso, a curva melódica na sílaba pretônica final e na última postônica também foi manipulada, pois é interessante verificar se essas sílabas são sensíveis à direção do movimento que recai sobre elas. Como o contorno da questão total se caracterizou pela presença de duas subidas melódicas, a importância relativa dessas subidas foi testada ao retirá-las, separadamente, verificando, assim, qual delas (a subida inicial ou final) carrega o significado do contorno. Por último, foram utilizados como variáveis o campo tonal para testar a excursão dos movimentos e o registro para estabelecer os limites do registro modal. É importante notar que as close copies da questão total são muito parecidas umas com as outras em termos globais, e, em certa medida, quanto ao alinhamento do pico das duas subidas que ocorrem na primeira e na última sílaba tônica. Nos INF 2 e 3, o alinhamento na primeira sílaba tônica está localizado na margem direita da vogal, enquanto no INF 1, o alinhamento está mais à esquerda da primeira vogal tônica. Por fim, no INF 4, o pico está localizado no início da última pretônica. O segundo pico apresenta menos variação, pois, em todos os informantes, ele está mais próximo à margem direita, ou seja, no final da fronteira da última sílaba tônica. 400 'ri na can 'ta va Frequency (Hz) Ma 0 0 1.028 1.225 1.377 1.351 Time (s) Figura 39 – Close copies da questão total – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 59 3.4.3 Ordem No contorno da ordem, a primeira variável testada foi a extensão do movimento para determinar em que parte do contorno o movimento ascendente termina para dar início à queda, pois a produção dos 4 informantes apresentou esse tipo de variação. Além disso, a presença de um platô entre as duas sílabas tônicas do contorno, que foi produzido pelo INF 2, foi testada como variável. O movimento ascendente no início do contorno está presente em todos os informantes, apresentando uma variação quanto ao alinhamento na primeira sílaba tônica, que também foi uma variável manipulada, pois, nos INF 1, 3 e 4, o pico está na margem esquerda da primeira da sílaba tônica, já no INF 2 o pico está mais próximo da margem direita dessa mesma sílaba. Por último, o campo tonal também foi uma das variáveis para testar a excursão dos movimentos. 500 'ver sa com 'e le Frequency (Hz) Con 0 0 0.9171 1.117 1.313 1.304 Time (s) Figura 40 – Close copies da ordem – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 3.4.4 Desafio O contorno melódico do desafio teve como uma das variáveis a extensão do movimento, em que foi testado em qual sílaba o movimento ascendente termina para dar lugar ao movimento descendente, pois no INF 1, o movimento ascendente terminou na porção final da primeira vogal tônica; no INF 4, na margem esquerda da primeira vogal tônica, já nos INF 2 e 3, no início da primeira sílaba postônica. Além disso, como na produção dos INF 2, 3 e 4, 60 observou-se a presença do platô, sua importância perceptiva também foi testada. O campo tonal desse contorno também foi selecionado como variável para averiguar a excursão dos movimentos, além do registro alto e baixo. 600 'ver sa com 'e le Frequency (Hz) Con 0 0 1.207 1.062 1.359 1.358 Time (s) Figura 41 – Close copies do desafio – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 3.4.5 Pedido A produção dos INF 1, 2, 3 e 4 foi muito parecida em termos de alinhamento da última tônica; todos os informantes produziram o pico na margem esquerda da tônica final. Já o pico da primeira tônica possui maior variabilidade, pois nos INF 1, 3 e 4, o pico está alinhado na margem esquerda da primeira vogal tônica, enquanto no INF 2 o pico está localizado na margem direita dessa vogal. Ainda assim, o contorno melódico do pedido teve como uma variável o alinhamento tanto na tônica inicial quanto na tônica final para verificar sua importância perceptiva. As subidas do contorno também foram selecionadas como uma variável, tendo sido cada uma delas retirada separadamente para testar sua importância para a identificação do pedido. Além disso, o campo tonal foi utilizado como uma variável para se analisar a excursão dos movimentos, além do registro alto e baixo. Cabe aqui destacar o fato de que a primeira subida do contorno melódico do pedido é muito mais ampla do que a segunda. 61 700 'ver sa com 'e le Frequency (Hz) Con 0 0 1.222 1.629 1.422 1.06 Time (s) Figura 42 – Close copies do pedido – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 3.4.6 Sugestão No contorno da sugestão, o alinhamento na última tônica será uma das variáveis, já que, nos INF 2 e 3, o pico do movimento ascendente está na porção intermediária da tônica final, enquanto nos INF 3 e 4, o pico está na porção final da última sílaba pretônica. Além disso, como o movimento ascendente que atinge seu pico na tônica final é muito amplo, a excursão desse movimento foi testada separadamente, e não o contorno inteiro, para determinar se o pico atingido na tônica final possui relevância perceptiva quando estiver em um nível de referência alto ou baixo no registro. Por fim, a última variável testada desse foi o registro alto ou baixo do contorno inteiro. 62 500 'ver sa com 'e le Frequency (Hz) Con 0 0 1.151 1.171 1.292 1.04 Time (s) Figura 43 – Close copies da sugestão – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 3.4.7 Questão parcial No contorno da questão parcial, a primeira variável escolhida foi a extensão do movimento descendente. A produção dos INF 1, 3 e 4 é bastante parecida, apresentando uma queda gradual ao longo de todo o contorno, diferentemente do INF 2, que apresenta um platô que se estende desde a primeira postônica até o início da tônica final do enunciado. Por isso, a presença do platô no contorno também foi selecionada como variável. A última variável selecionada foi o campo tonal para determinar se a excursão dos movimentos desse contorno é normal ou ampla. 600 vo 'cê 'sa be Frequency (Hz) 'Co mo 0 0 1.257 1.193 0.993 1.288 Time (s) Figura 44 – Close copies da questão parcial – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). 63 3.4.8 Exclamação No contorno da exclamação, há uma similaridade expressiva da produção dos 4 informantes quanto à extensão do movimento. No entanto, como INF 2 apresenta, na parte inicial do contorno, um platô cuja importância foi testada como uma das variáveis. Além disso, as possibilidades de alinhamento do pico na última sílaba tônica foi uma das variáveis manipuladas, apesar de todos os informantes terem produzido o pico alinhado tardiamente na tônica final. Ademais, o movimento ascendente-descendente no final do contorno foi testado quanto à sua presença para avaliar a sua importância no reconhecimento da exclamação. Por último, o campo tonal foi analisado para verificar a excursão dos movimentos melódicos. 500 mo vo 'cê 'sa be Frequency (Hz) 'Co 0 0 1.509 1.439 1.384 1.329 Time (s) Figura 45 – Close copies da exclamação – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul), informante 4 (verde). Por fim, é importante relembrar que as variáveis selecionadas foram determinadas tanto pelos comportamentos divergentes observados nos contornos produzidos pelos informantes quanto pelas dimensões dos movimentos melódicos propostas pelo modelo IPO (direção, extensão, excursão e alinhamento). 3.5 Experimentos de percepção O teste de percepção foi elaborado para validar as estilizações close copies e os estímulos produzidos no processo de estilização equivalent copy. O objetivo do teste é verificar a igualdade perceptiva no caso das close copies e a aceitabilidade perceptiva das variantes criadas com a finalidade de estabelecer as equivalent copies. Decidiu-se, então, elaborar testes distintos para os 8 tipos de frase que foram agrupados em 3 séries diferentes. 64 Cada uma das séries de testes foi aplicada na mesma sessão e estavam organizados da seguinte maneira: A primeira série continha a close copy e o contorno original da asserção e, em seguida, os da questão total, além dos respectivos estímulos manipulados no processo de estilização da cópia equivalente desses dois atos ilocutórios; os estímulos referentes à asserção e questão total foram apresentados separadamente. A segunda série, a close copy, o contorno original da ordem, do desafio, do pedido e da sugestão, e os respectivos estímulos manipulados no processo de estilização da cópia equivalente; apresentados separadamente para cada ato ilocutório. e, por último, a close copy e o contorno original da questão parcial e da exclamação, mais os estímulos referentes às respectivas cópias equivalentes. Para cada ato ilocutório, que era informado de início ao ouvinte, havia uma sequência de estímulos tocados em ordem aleatória e a tarefa dos ouvintes era julgar qual seu grau de naturalidade/aceitabilidade, havendo cinco opções: Figura 46 – Escala utilizada no teste de percepção Os sujeitos eram instruídos a marcar “bom” ou “muito bom” se os estímulos fossem avaliados por eles como natural e sem conter uma nuance expressiva. Deveriam marcar a opção “médio” se percebessem uma nuance expressiva, mas que não prejudicasse a categorização do estímulo como pertencente àquele ato ilocutório, e deveriam, por fim, assinalar a opção “ruim” ou “muito ruim” se considerassem que a identificação do estímulo como pertencente àquele ato ilocutório estava fortemente prejudicada, a ponto de torná-lo eventualmente irreconhecível. Posteriormente, foram atribuídas a cada uma dessas opções notas: muito ruim = 0, ruim = 2,5, médio = 5, bom = 7,5, muito bom = 10, permitindo, assim, o estabelecimento de notas médias de 0 a 10 para cada estímulo ouvido. 65 As 3 séries de testes de percepção foram aplicadas a grupos diferentes de ouvintes, embora todos fossem falantes da variante carioca do português brasileiro e estudantes de graduação e pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ. As instruções para o teste de percepção eram dadas, primeiramente, em uma folha de papel, e, depois de uma leitura silenciosa, era feita uma exposição oral dos contextos pragmáticos em que os atos de fala são proferidos. É importante ressaltar que em momento algum os contornos foram produzidos durante a explicação; por outro lado, os informantes eram encorajados a produzir os contornos dos atos ilocutórios que iriam ouvir antes de começar o teste como uma forma de se certificar que eles estavam associando o significado pragmático ao seu devido contorno melódico. Cada sujeito respondeu individualmente aos testes de percepção em uma folha de resposta na qual eles registravam suas interpretações; no entanto, alguns informantes fizeram os testes em grupo ou em dupla, enquanto outros fizeram sozinhos numa sala acusticamente isolada. Em cada série de teste aplicado, participaram 20 sujeitos que avaliaram 91 estímulos manipulados para os 8 tipos de atos ilocutórios, além dos contornos originais e suas respectivas close copies, resultando em um total de 107 arquivos de som avaliados. Teste Atos ilocutórios Número de Numero de estímulos no estímulos criados teste + close copy e gravação original I Asserção e questão total 9+13 (22) 22+4 (26) II Ordem, desafio, pedido e 9+12+12+11 (44) 44+8 (52) 10+15(25) 25+4 (29) 91 107 sugestão II Questão parcial e exclamação Total 3 8 Quadro 9 – Resumo do número de estímulos e dos testes aplicados Foi averiguado, portanto, em todos os testes de percepção se os contornos originais e suas respectivas close copies receberiam avaliações similares e se os estímulos produzidos na estilização equivalent copy seriam bem ou mal avaliados a depender das modificações sofridas. 66 3.6 Validação estatística Para a análise estatística dos resultados dos testes de percepção, foi utilizado o programa computacional SPSS. O teste estatístico selecionado para analisar os dados foi o MannWhitney; um teste não-paramétrico usado para amostras independentes25. Esse teste foi usado para avaliar a significância das diferenças observadas entre as notas médias, calculadas para cada versão estilizada dos contornos, entre o estímulo que serviu de base para as modificações de cada contorno melódico e os demais estímulos, nos quais foram feitas modificações graduais em seu contorno melódico. No experimento de percepção, havia os contornos originais, as close copies e um conjunto de estímulos de cada ato ilocutório; sendo assim, é importante saber se a nota recebida de cada estímulo na avaliação dos ouvintes, em primeiro lugar, não foi dada por acaso e se uma dada modificação no contorno, que recebe uma nota muito melhor ou muito pior do que a do estímulo “base”, tem relevância no teste estatístico. Somente os estímulos com valores inferiores a 0,05 de p-valor (p-value) foram considerados relevantes estatisticamente; valores entre 0,05 e 0,10 (p-value) demonstram uma tendência forte de significância; 0,10 a 0,20 (p-value), uma tendência fraca de significância e acima de 0,20 (p-value), não apresentam significância. Os resultados completos do teste Mann-Whitney estão no apêndice C desta dissertação, páginas 143 e 144. 3.7 Esquema da abordagem IPO Com o objetivo de resumir o passo-a-passo da abordagem IPO que está sendo utilizado neste capítulo desta dissertação, será apresentado um esquema na figura 46. Segundo ‘t Hart, Cohen e Collier (1990: 64), no lado esquerdo desse esquema, estão expostos quais são os passos que o pesquisador precisa seguir para estar de acordo com a abordagem do modelo IPO e, no lado direito do esquema, a busca feita pelo pesquisador dos padrões melódicos da língua analisada por meio da combinação dos movimentos melódicos perceptivamente relevantes. Além disso, o esquema como um todo indica o percurso que o pesquisador precisa fazer para estabelecer uma ligação entre as curvas concretas de F0, de um lado do esquema, e os padrões melódicos abstratos, do outro lado. 25 Disponível em: <http://analisestatistica.no.sapo.pt/downloads/Ponto_7_2.pdf>. Acesso em 15 de dezembro de 2014. 67 Enunciado da fala Triagem e correspondência Medidas de F0 Curva de F0 Padrões melódicos Igualdade perceptiva Close copy Equivalência perceptiva Triagem e correspondência Estilização padronizada Teste de aceitabilidade perceptiva Inventário dos movimentos melódicos perceptivamente relevantes no conjunto de contornos analiados Normas provisórias Corpus 1 Corpus 2 Gramática: Inventário dos contornos possíveis Figura 47: Esquema resumido do método. Caixas retangulares indicam produtos e caixas redondas indicam processos ou experimento, adaptado de ‘t Hart, Cohen & Collier (1991: 65) 68 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste capítulo, serão apresentadas as avaliações que receberam, nos testes de percepção, os contornos melódicos dos estímulos produzidos para os oito atos ilocutórios analisados do PB. O objetivo principal deste capítulo é mostrar quais dos efeitos perceptivos provenientes das modificações feitas nos contornos dos atos ilocutórios são relevantes para o reconhecimento do valor funcional dos contornos de acordo com o teste de significância estatística. 4.1 Experimento 1 – Asserção Na asserção, o estímulo utilizado como matriz para as sucessivas modificações no contorno foi o estímulo 1.3, que, apesar de ser muito parecido com a close copy do contorno original produzido pelo INF 1, possui um ponto de inflexão a menos no término da tônica final do enunciado. O primeiro grupo de estímulos da asserção foi criado para testar a extensão do movimento (estímulos 1.1 a 1.5); o segundo, o registro (estímulos 2.1 a 2.2); o terceiro, a compressão ou expansão do campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2). 4.1.1 Estímulo 1.1 O estímulo com o movimento descendente que se inicia na sílaba tônica “ri” recebeu uma nota média de 5,1, numa escala de 0 a 10, o que aponta para uma queda expressiva da aceitabilidade do contorno da asserção em relação ao estímulo base 1.3, confirmado pelo teste estatístico (p<0,000114). Esse resultado sugere que a primeira tônica deve ter um perfil intrassilábico ascendente e não descendente como este do estímulo 1.1; o que se reflete também no movimento ascendente íngreme que abarca apenas a primeira pretônica do enunciado, que normalmente é gradual nesse contorno. Ma 'ri na can 'ta va 130Hz 80Hz 74Hz Figura 48 – Estímulo 1.1 da asserção: queda com início na sílaba tônica “ri” 4.1.2 Estímulo 1.2 O estímulo com movimento descendente começa no início da sílaba postônica “na” recebeu nota média 8. Este estímulo possui grande aceitabilidade de acordo com a avaliação dos ouvintes; não tendo sido observada uma diferença significativa em relação à nota recebida pelo estímulo base 1.3 (p<0,226635), o melhor avaliado (nota média 8,5). 69 Ma 'ri na can 'ta va 130Hz 80Hz 74Hz Figura 49 – Estímulo 1.2 da asserção: queda com início na sílaba postônica “na” 4.1.3 Estímulo 1.3 O estímulo com movimento descendente que tem início na sílaba “can” recebeu nota média de 8,5. Este estímulo que serviu de base para as modificações no contorno da asserção foi, portanto, bem avaliado, recebendo uma nota comparável, e mesmo ligeiramente superior, a da original (8,2) e a de sua close copy (8,1), não tendo sido observada, entretanto, uma diferença estatisticamente significativa entre eles (p<0,869638 e p<0,584441, respectivamente). A hipótese de que esse estímulo seria bem avaliado pelos ouvintes se confirmou, pois ele é muito próximo ao contorno produzido pelo informante. Ma 'ri na can 'ta va 130Hz 80Hz 74Hz Figura 50 – Estímulo 1.3 da asserção: queda com início na sílaba pretônica “can” 4.1.4 Estímulo 1.4 O movimento descendente que tem início na sílaba tônica “ta” recebeu uma nota média de 8,3, também muito próxima à do estímulo 1.3; não havendo entre elas diferença significativa (p<0,799033), o que pode ser explicado pelo fato de que o movimento descendente sobre a tônica final estar preservado e ser um movimento fundamental para o reconhecimento desse contorno melódico. Ma 'ri na can 'ta va 130Hz 80Hz 74Hz Figura 51 – Estímulo 1.4 da asserção: queda com início da sílaba tônica “ta” 70 4.1.5 Estímulo 1.5 O estímulo com movimento descendente que tem início na sílaba “va” recebeu uma nota média de 4,6, a pior dentre todas as notas desse primeiro grupo de estímulos, sendo essa queda significativa em sua avaliação em comparação ao estímulo 1.3 (p<0,000035). A hipótese que explica essa má avaliação é o fato de que a tônica final está em um nível alto de referência no registro, o que descaracteriza o significado de asserção neutra e gera outro sentido para esse contorno, que será denominado aqui “justificativa”; ou seja, a parte descendente do contorno não pode se limitar apenas à postônica final. Ma 'ri na can 'ta va 130Hz 80Hz 74Hz Figura 52 – Estímulo 1.5 da asserção: queda com início na postônica “va” 4.1.6 Estímulo 2.1 Neste estímulo, o registro26 do contorno deslocou-se para o alto e recebeu nota média de 5,9, a queda dessa nota em relação à avaliação que recebeu o estímulo 1.3 foi confirmada pelo teste estatístico (p<0,004498). A interpretação desse contorno se afasta do que se pode chamar de asserção “neutra”, pois uma nuance expressiva parece ser adicionada ao seu significado; embora isso não tenha sido testado sistematicamente. Ma 'ri na can 'ta va 160Hz 100Hz 93Hz Figura 53 – Estímulo 2.1 da asserção: registro alto 26 A princípio, a mudança do contorno para um registro alto (falseto) ou baixo (vocal fry) não deveria influenciar na avaliação do valor funcional da asserção, já que a voz da gravação estaria, a rigor, apenas mais aguda ou mais grave. No entanto, pelo fato dos ouvintes terem escutado a voz do informante na gravação também em um registro modal e terem recebido instruções de que poderiam escutar enunciados com nuances expressivas, a interpretação dos estímulos com mudanças no registro acabou sendo guiada para a expressividade. Esse comentário vale para todos os estímulos com mudança no registro. 71 4.1.7 Estímulo 2.2 Neste estímulo, o registro do contorno foi deslocado para baixo, tendo ele recebido a nota média 6,2, diferença significativa em relação ao estímulo 1.3 (p<0,011622). Mais uma vez, a mudança no registro na asserção é aparentemente responsável por adicionar uma esfera expressiva ao contorno, que faz com que esse estímulo seja avaliado como menos neutro. Ma 'ri na can 'ta va 103Hz 64Hz 67Hz Figura 54 – Estímulo 2.2 da asserção: registro baixo 4.1.8 Estímulo 3.1 Esse estímulo teve seu campo tonal expandido e recebeu nota média 9, a melhor nota dentre todos os estímulos avaliados; embora a diferença observada em relação à avaliação do estímulo base 1.3 não tenha sido significativa (p<0,330611). Esse resultado sugere que talvez esse contorno tenda a ser melhor reconhecido e avaliado com uma excursão ampla. Ma 'ri na can 'ta va 150Hz 60Hz 64Hz Figura 55 – Estímulo 3.1 da asserção: campo tonal expandido 4.1.9 Estímulo 3.2 Já o estímulo com o campo tonal comprimido recebeu nota média de 5,8, significativamente menor do que o estímulo base 1.3 (p<0,003413). Nesse caso, é possível perceber um sentido mais expressivo ser adicionado ao enunciado, ainda que isso não tenha sido testado sistematicamente com os ouvintes. Ma 'ri na can 'ta va 110Hz 100Hz 94Hz Figura 56 – Estímulo 3.2 da asserção: campo tonal comprimido 72 Por fim, é interessante ressaltar que, nos resultados da asserção, a estilização close copy foi validada pelos ouvintes, pois tanto o contorno original quanto a close copy receberam avaliações semelhantes (8,2) e (8,1); não havendo uma diferença significativa entre eles no teste estatístico (p<0,746473). 4.2 Experimento 1 – Questão total Na questão total, o estímulo utilizado como base para as modificações propostas foi o 1.3 que, apesar de ser muito similar à close copy, contém um ponto de inflexão a menos antes da primeira subida e o pico do movimento ascendente está localizado na fronteira exata da sílaba tônica final. Foram testados o alinhamento na tônica final (estímulos 1.1 a 1.3), o registro (estímulos 2.1 a 2.2), o movimento que incide sobre a pretônica final (estímulos 3.1 a 3.2) e a postônica final (estímulos 4.1 a 4.2), a importância da subida inicial e final (estímulos 5.1 a 5.2), e o campo tonal (estímulos 6.1 a 6.2). 4.2.1 Estímulo 1.1 O estímulo com o alinhamento antecipado na tônica final do enunciado recebeu nota média de 7,3, não apresentando uma diferença significativa (p<0,720184) em relação ao estímulo base 1.3. É interessante notar que o alinhamento desse estímulo, que não é muito característico para uma generalização linguística, ainda possui aceitabilidade em relação ao significado básico deste ato ilocutório. Ma 'ri 124Hz 94Hz na can 'ta va 148Hz 70Hz Figura 57 – Estímulo 1.1 da questão total: tônica final com alinhamento antecipado 4.2.2 Estímulo 1.2 O estímulo com alinhamento intermediário na tônica final obteve nota média de 8.2, a melhor avaliação nesse primeiro grupo; embora não tenha apresentando significância estatística (p<0,694256) em comparação ao estímulo base 1.3. Depreende-se desse contorno que o significado da questão total parece ser mais neutro, ou seja, sem nenhuma interferência da esfera expressiva da entoação. 73 Ma 'ri na can 'ta 124Hz va 148Hz 94Hz 70Hz Figura 58 – Estímulo 1.2 da questão total: tônica final com alinhamento intermediário 4.2.3 Estímulo 1.3 O estímulo base da questão total com alinhamento tardio na tônica final do enunciado obteve nota média de 7,7. É importante notar que essa modificação e a anterior (1.2) possuem notas bem próximas e boa aceitabilidade, no entanto esse estímulo base não apresentou significância estatística nem em relação ao contorno original (p<0,730483) e nem à close copy (p<0,954045). Isso indica que o alinhamento do pico da F0 na tônica final da questão total pode apresentar variação. Ma 'ri na can 'ta 124Hz va 148Hz 94Hz 70Hz Figura 59 – Estímulo 1.3 da questão total: tônica final com alinhamento tardio 4.2.4 Estímulo 2.1 94Hzo registro deslocado para cima obteve nota média de 7,3, não tendo O estímulo com sido observada significância estatística em relação ao estímulo base 1.3 (p<0,784772). O registro parece estar sendo responsável por afastar o significado neutro do contorno. Ma 'ri 155Hz na can 'ta va 185Hz 117Hz 87Hz Figura 60 – Estímulo 2.1 da questão total: registro alto 4.2.5 Estímulo 2.2 O estímulo com o registro do contorno deslocado para baixo recebeu nota média 7, embora essa nota não tenha apresentado significância estatística (p<0,442191) em relação ao estímulo 1.3. Assim como no estímulo anterior, é possível interpretar nesse estímulo uma 74 nuance expressiva adicionada ao significado básico da questão total; embora isso ainda tenha que ser testado de maneira sistemática. Ma 'ri na can 99Hz 'ta va 118Hz 75Hz 56Hz Figura 61 – Estímulo 2.2 da questão total: registro baixo 4.2.6 Estímulo 3.1 O estímulo com movimento descendente finalizando na porção final da última sílaba pretônica, que está mais baixa em 20Hz do que o original, obteve nota média de 8,1, não apresentando uma significância na análise estatística (p<0,181658) em relação ao estímulo base 1.3. Essa boa avaliação pode ter ocorrido devido ao contraste criado entre uma pretônica muito baixa e o nível alto da última tônica, o que resultou em uma melhora do reconhecimento desse contorno. Ma 'ri na can 'ta 124Hz va 148Hz 94Hz 60Hz 70Hz Figura 62 – Estímulo 3.1 da questão total: pretônica final baixa 4.2.7 Estímulo 3.2 O estímulo com um movimento ascendente sobre a pretônica final obteve nota média de 2,5, uma das mais baixas dentre todos os grupos, indicando que o significado de questão total é muito prejudicado se o movimento que recai sobre a tônica for gradual; além disso, esse estímulo apresentou significância estatística (p<0,000030) em relação ao estímulo base 1.3. Esse resultado corrobora a hipótese do estímulo anterior, sugerindo que a pretônica final deve ser abarcada por um movimento descendente. Ma 'ri na can 124Hz 94Hz 'ta va 148Hz 105Hz 70Hz Figura 63 – Estímulo 3.2 da questão total: pretônica final alta 75 4.2.8 Estímulo 4.1 O estímulo com a postônica final alta, em que seu valor foi aumentado em 20Hz, obteve nota média de 5,8; essa queda na avaliação apresentou significância estatística (p<0,003186) em relação ao estímulo base 1.3. Esse resultado indica que o significado de questão total fica bastante prejudicado caso a postônica seja alta. Ma 'ri na can 'ta 124Hz va 148Hz 120Hz 94Hz Figura 64 – Estímulo 4.1 da questão total: postônica final alta (120Hz) 4.2.9 Estímulo 4.2 O estímulo com a postônica final ainda mais alta do que o estímulo anterior recebeu nota média de 4,5; foi observada significância estatística (p<0,001192) em relação ao estímulo base 1.3. Nota-se que o resultado do estímulo anterior é corroborado pelo resultado desse estímulo, já que o significado da questão total neutra é bastante prejudicado ou mesmo inexistente. Nesse caso especificamente o falante está transmitindo não mais o significado da questão total, mas outro tipo de ato ilocutório denominado aqui “continuação”. Ma 'ri na can 124Hz 'ta 148Hz va 140Hz 94Hz Figura 65 – Estímulo 4.2 da questão total: postônica final alta (140Hz) 4.2.10 Estímulo 5.1 O estímulo sem o primeiro movimento ascendente–descendente obteve a nota média de 6,2; na análise estatística apresentou tendência forte de significância (p<0,050202) em comparação ao estímulo base 1.3. Esse resultado indica que o significado do contorno ainda pode ser considerado o mesmo, ainda que ele não seja o representante mais neutro desse ato ilocutório. Ma 'ri na can 'ta va 148Hz 94Hz 70Hz Figura 66 – Estímulo 5.1 da questão total: contorno sem a primeira subida 76 4.2.11 Estímulo 5.2 Já o estímulo sem o movimento ascendente–descendente final obteve nota média de 1.5 e também apresentou significância estatística (p<0,000001) em relação ao estímulo base 1.3. Esse resultado permite dizer que o significado da questão total é muito prejudicado sem a subida final, ou seja, esse contorno não é mais identificado como sendo de uma questão total. Ma 'ri na can 'ta va 124Hz 94Hz 70Hz Figura 67 – Estímulo 5.2 da questão total: contorno sem a segunda subida 4.2.12 Estímulo 6.1 O estímulo com o campo tonal expandido obteve nota média de 7,3; embora não tenha apresentado significância estatística (p<0,656707) em relação ao estímulo base 1.3. Esse resultado indica que o contorno é bem reconhecido se a excursão dos movimentos for ampla. Ma 'ri na can 'ta 144Hz va 168Hz 74Hz 50Hz Figura 68 – Estímulo 6.1 da questão total: campo tonal expandido 4.2.13 Estímulo 6.2 O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média de 6,1; uma queda em sua avaliação feita pelos ouvintes que apresenta tendência forte de significância no teste estatístico (p<0,065574) em relação ao estímulo base 1.3, possivelmente graças a uma nuance expressiva adicionada a ele. Essa avaliação indica que o contorno pode ser reconhecido como questão total com uma excursão normal, ainda que se afaste de seu significado mais neutro. Ma 'ri 104Hz 94Hz na can 'ta va 128Hz 90Hz Figura 69 – Estímulo 6.2 da questão total: campo tonal comprimido 77 Por fim, é importante mostrar que o contorno original e a close copy da questão total foram bem avaliados do teste de percepção e receberam notas média bem parecidas: 7,6 e 7,8 respectivamente; não tendo sido observada diferença significativa entre eles (p<0,784571) no teste estatístico. 4.3 Experimento 2 – Ordem Para o contorno da ordem, o estímulo utilizado como base foi o 1.1 que é muito semelhante à close copy, apresentando apenas a diferença de conter menos pontos de inflexão ao longo de todo o contorno. Foram testados a extensão do movimento ascendente e descendente (estímulos 1.1 a 1.5), a presença do platô (estímulos 2.1 a 2.2) e o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2). 4.3.1 Estímulo 1.1 O estímulo base com o movimento descendente se iniciando a partir da primeira tônica “ver” obteve nota média 7; em comparação ao estímulo original que recebeu nota média 8,7, essa avaliação possui significância estatística (p<0,007547), diferentemente da comparação com a close copy (nota média de 7,2), que não apresentou significância (p<0,779262). Apesar da oscilação da avaliação em relação à close copy, esse estímulo apresentou um bom reconhecimento do contorno. Con 'ver sa com 'e le 131Hz 100Hz 74Hz Figura 70: Estímulo 1.1 da ordem: queda no início da tônica inicial 4.3.2 Estímulo 1.2 O estímulo com o movimento descendente que se inicia a partir da primeira postônica “sa” recebeu nota média de 7,25; no entanto, não houve significância estatística (p<0,952829) em relação ao estímulo 1.1, apesar desse estímulo ter apresentado um bom reconhecimento. Con 'ver sa com 'e le 131Hz 100Hz 74Hz Figura 71 – Estímulo 1.2 da ordem: queda no início da postônica inicial 78 4.3.3 Estímulo 1.3 O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da pretônica “com” recebeu nota média de 7,5; embora a diferença com o estímulo 1.1 não tenha mostrado significância estatística (p<0,716158). Na avaliação feita pelos ouvintes, esse estímulo apresenta um bom reconhecimento do contorno. Con 'ver sa com 'e le 131Hz 100Hz 74Hz Figura 72– Estímulo 1.3 da ordem: queda no início da pretônica final 4.3.4 Estímulo 1.4 O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da última tônica “e” obteve uma nota média de 5,75; no teste estatístico, esse resultado apresentou uma tendência forte de significância (p<0,093759) em relação ao estímulo 1.1. Sendo assim, o significado da ordem tende a ser prejudicado se a última tônica estiver atingindo o limite superior do nível de referência baixo do registro. Con 'ver sa com 'e le 131Hz 100Hz 74Hz Figura 73 – Estímulo 1.4 da ordem: queda no início da tônica final 4.3.5 Estímulo 1.5 O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da postônica “le” obteve nota média de 3,5; apresentando uma diferença estatisticamente significativa (p<0,000252) em relação ao estímulo base 1.1. Por isso, pode-se dizer que o reconhecimento do contorno melódico é bastante prejudicado se a tônica final estiver em um nível alto e a tônica inicial, em um nível mais baixo que o normal; exatamente o contrário do que normalmente se observa na produção desse contorno. Con 'ver sa com 'e le 131Hz 100Hz 74Hz Figura 74 – Estímulo 1.5 da ordem: queda no início da postônica final 79 4.3.6 Estímulo 2.1 O estímulo com um platô configurado a partir da primeira tônica “ver” que mantém as sílabas postônica “sa” e pretônica “com” em nível alto obteve nota média de 7,7. No entanto, essa nota não apresentou significância estatística (p<0,311776) em comparação ao estímulo base 1.1. Esse estímulo foi bem avaliado e o resultado indica que, no contorno da ordem, a primeira tônica deve estar em um nível alto e a última tônica, em um nível baixo de referência no registro. Con 'ver sa com 'e 131Hz le 131Hz 100Hz 4.3.7 Estímulo 2.2 74Hz Figura 75 – Estímulo 2.1 da ordem: platô que se estende da tônica inicial até o começo da tônica final Esse estímulo que não contém nenhum movimento ascendente, apenas uma queda contínua ao longo do enunciado, obteve nota média 4. Essa nota apresentou uma diferença significativa (p<0,000090) em relação ao estímulo base 1.1. O resultado indica que o reconhecimento do contorno é bem prejudicado caso o movimento intrassilábico na tônica inicial for descendente. Con 'ver sa com 'e le 131Hz 74Hz 4.3.9 Estímulo 3.1 Figura 76 – Estímulo 2.2 da ordem: queda contínua ao longo de todo o enunciado O estímulo com campo tonal expandido obteve nota média de 3,5 e essa mudança foi significativa estatisticamente (p<0,000820). Pode-se inferir a partir desse resultado que o pico na primeira tônica do enunciado, normalmente atingido no limite superior do nível referência baixo no registro, não pode ultrapassar esse limite e chegar ao nível de referência alto no registro do falante. Con 'ver sa com 'e le 151Hz 80Hz 54Hz Figura 77 – Estímulo 3.1 da ordem: campo tonal expandido 80 4.3.10 Estímulo 3.2 O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média 7; uma melhora na avaliação em relação ao estímulo anterior, mas que não apresentou significância estatística (p<0,896378) em relação ao estímulo base 1.1. A boa avaliação desse resultado parece confirmar, de certa forma, o que foi dito do estímulo anterior (3.1), ao indicar que o pico atingido na primeira tônica deve estar em um nível de referência baixo no registro do falante. Con 'ver sa com 'e le 121Hz 110Hz 64Hz Figura 78 – Estímulo 3.2 da ordem: campo tonal comprimido 110Hz 64Hz Por fim, o contorno original da ordem e sua close copy foram validados pelos ouvintes com notas médias de 8,75 e 7,25 respectivamente; com diferença significativa estatisticamente entre eles (p<0,037352). Apesar da close copy ter uma nota menor do que a do contorno original, seu reconhecimento pode ser considerado bom. 4.4 Experimento 2 – Desafio No contorno do desafio, o estímulo utilizado como base na estilização foi o 1.1, que apesar de ser muito semelhante à close copy do desafio, se distingue dela por conter um ponto de inflexão no começo exato da primeira sílaba tônica, um ponto de inflexão a menos no início da postônica final e o final do enunciado mais baixo do que o final que foi produzido pelo INF1. Foram testados a extensão dos movimentos (estímulos 1.1 a 1.6), o platô (estímulos 2.1 a 2.2), o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2) e o registro (estímulos 4.1 a 4.2). 4.4.1 Estímulo 1.1 O estímulo com o movimento descendente que começa no início da primeira tônica “ver” obteve nota média de 6,25. Embora esse contorno seja muito semelhante à close copy (nota média de 4,7), na comparação entre eles, observou-se uma tendência forte de significância na análise estatística (p<0,055723) em relação à close copy, já em relação ao contorno original (nota média de 6,5), não foi constatada nenhuma significância (p<0,703363). Pode-se supor que essa oscilação de avaliação entre a close copy e o contorno original ocorreu devido à baixa consciência dos falantes no que se refere ao valor funcional 81 desse contorno melódico; o que, consequentemente, se refletiu nas notas atribuídas aos estímulos do desafio que, de maneira geral, não foram muito altas. Con 'ver sa com 'e le 284Hz 136Hz 30Hz Figura 79 – Estímulo 1.1 do desafio: queda na primeira tônica 4.4.2 Estímulo 1.2 O estímulo com o movimento descendente se iniciando na primeira postônica “sa” obteve nota média de 7,1; no entanto, não apresentou uma diferença estatisticamente significativa (p<0,626718) em relação ao estímulo 1.1. A boa avaliação desse contorno pode ser explicada por causa do movimento melódico intrassilábico da primeira sílaba tônica que continua ascendente. Con 'ver sa com 'e le 284Hz 136Hz 30Hz Figura 80 – Estímulo 1.2 do desafio: queda na primeira postônica 4.4.3 Estímulo 1.3 O estímulo com o movimento descendente se iniciando na pretônica “com” obteve nota média 3; diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000403). Esse resultado indica que quando o pico do movimento ascendente já não está mais localizado na tônica inicial e sim em outra sílaba, há um prejuízo no reconhecimento do contorno do desafio; o que acarreta o fato de que as sílabas iniciais também não estarem em um nível tão alto como nos estímulos anteriores. Con 'ver sa com 'e le 284Hz 136Hz 30Hz Figura 81 – Estímulo 1.3 do desafio: queda na segunda pretônica 82 4.4.4 Estímulo 1.4 O estímulo com o movimento descendente que se inicia na tônica “e” recebeu nota média de 1,8; apresentando diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000035), o que corrobora, de forma mais contundente, o resultado do estímulo anterior, indicando que se o pico do movimento ascendente não estiver próximo das fronteiras da primeira sílaba tônica, há uma tendência de prejudicar o reconhecimento do valor funcional desse contorno. Con 'ver sa com 'e le 284Hz 136Hz 30Hz Figura 82 – Estímulo 1.4 do desafio: queda na segunda tônica 4.4.5 Estímulo 1.5 O estímulo com movimento descendente se iniciando na postônica “le” obteve nota média 3; diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,002992). Esse prejuízo no reconhecimento do contorno ocorre devido ao pico do movimento ascendente não estar localizado em uma das fronteiras da primeira sílaba tônica e por criar uma configuração intrassilábica ascendente na tônica final, que normalmente na produção desse contorno é descendente. Con 'ver sa com 'e le 284Hz 136Hz 30Hz Figura 83 – Estímulo 1.5 do desafio: queda na segunda postônica 4.4.6 Estímulo 1.6 O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da primeira pretônica “com” do enunciado obteve nota média de 3,7; diferença relevante estatisticamente em relação ao estímulo 1.1 (p<0,007379). Esse resultado demonstra que a primeira tônica precisa de uma configuração intrassilábica ascendente para que o contorno seja identificado apropriadamente. 83 Con 'ver sa com 'e le 284Hz 30Hz Figura 84 – Estímulo 1.6 do desafio: queda ao longo de todo o enunciado 4.4.7 Estímulo 2.1 O estímulo com um movimento ascendente na primeira pretônica “com” obteve nota média de 7,2, esse estímulo apresenta um platô que começa no início da primeira tônica “ver” e se estende até o início da última tônica “e”, dando lugar a um movimento descendente sobre essa sílaba. No entanto, essa diferença em relação ao estímulo 1.1 não foi significativa (p<0,599273). O bom reconhecimento do contorno parece indicar que o movimento ascendente deve atingir seu pico dentro das fronteiras da primeira sílaba tônica, além disso, a última tônica continua com sua configuração intrassilábica descendente. Con 'ver sa com 284Hz 'e le 284Hz 136Hz 30Hz Figura 85 – Estímulo 2.1do desafio: platô sobre a primeira tônica até a última pretônica 4.4.8 Estímulo 2.2 O estímulo com platô se iniciando na primeira postônica “sa” até a última pretônica “com” obteve nota média de 4,5; diferença estatisticamente significativa em relação ao estímulo 1.1(p<0,033878). Esse resultado corrobora o que foi dito no estímulo anterior (2.1) baseado no fato de que se o pico do movimento ascendente não estiver localizado em uma das fronteiras da primeira tônica, o valor funcional do contorno não será identificado. Con 'ver sa com 'e le 284Hz 284Hz 136Hz 30Hz Figura 86 – Estímulo 2.1do desafio: platô sobre a primeira postônica até a última pretônica 84 4.4.9 Estímulo 3.1 O estímulo com o campo tonal expandido obteve nota média de 7,5; a diferença observada nessa avaliação em comparação com a do estímulo 1.1 não foi significativa estatisticamente (p<0, 572030). Esse resultado parece indicar que o pico do movimento ascendente na primeira tônica deve atingir o limite superior do nível de referência alto no registro. Con 'ver sa com 'e le 304Hz 116Hz 10Hz Figura 87 – Estímulo 3.1 do desafio: campo tonal expandido 4.4.10 Estímulo 3.2 O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média 7; embora não tenha apresentado significância estatística em relação ao estímulo 1.1 (p<0,853732). O pico do movimento ascendente, apesar de ter seu valor diminuído em 20Hz, ainda está em um nível de referência alto no registro desse falante. Con 'ver sa com 'e le 264Hz 156Hz 50Hz Figura 88 – Estímulo 3.2 do desafio: campo tonal comprimido 4.4.11 Estímulo 4.1 O estímulo com o registro deslocado para o alto obteve nota média de 7,3, porém não apresentou diferença significativa (p<0,371256) em comparação ao estímulo base 1.1. Isso demonstra que o limite superior do nível de referência alto no registro ainda parece ser responsável pela identificação do contorno. Con 'ver sa com 'e le 341Hz 163Hz 36Hz Figura 89 – Estímulo 4.1 do desafio: registro alto 85 4.4.12 Estímulo 4.2 Esse estímulo com o registro deslocado para baixo obteve nota média de 5,8; também não apresentou diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,261729). Com o valor do pico do movimento ascendente mais baixo do que o normal, o valor funcional do contorno melódico do desafio começa a ser prejudicado, o que indica que o pico não só deve estar em um nível de referência alto no registro, mas também atingir o limite superior desse nível, que permite a identificação do valor funcional do desafio. Con 'ver sa com 'e le 227Hz 109Hz 24Hz Figura 90 – Estímulo 4.2 do desafio: registro baixo Por fim, o contorno original recebeu nota média 6,5 e sua close copy, 4,75; essa diferença possui uma forte tendência significativa (p<0,102812) na comparação entre eles. Esse resultado mostra que a close copy não foi bem avaliada pelos ouvintes; no entanto, outros estímulos manipulados como 2.1, 3.1 e 4.1 tiveram uma aceitabilidade maior na avaliação feita pelos ouvintes, apesar das notas desses estímulos não apresentarem significância estatística. Além disso, é importante notar que o registro não parece adicionar nenhuma nuance expressiva a esse contorno (como na asserção ou na questão total), mas interfere na aceitabilidade da identidade do valor funcional do desafio. 4.5 Experimento 2 – Pedido No contorno do pedido, o estímulo utilizado como base para esse processo de estilização é o 1.1, que apesar de ser muito semelhante à close copy, difere-se dela no seguinte aspecto: há um ponto de inflexão a menos no início da última sílaba postônica. Foram testados o alinhamento na vogal tônica inicial e final (estímulos 1.1 a 1.5), a presença da subida inicial e final (estímulos 2.1 a 2.2), o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2) e o registro (estímulos 4.1 a 4.2). 4.5.1 Estímulo 1.1 O estímulo com o alinhamento antecipado na tônica final “e” obteve nota média de 6,2; o contorno original recebeu nota média 7,8, e a close copy, nota média de 9,3, que recebeu nota média de 9,3. Esse estímulo base apresentou diferença estatisticamente significativa não 86 só em relação ao contorno original (p<0,017934), mas também em relação à close copy (p<0,000022), por motivos que não estão muito claros para nós. Con 'ver sa com 'e le 201Hz 118Hz 117Hz 78Hz Figura 91 – Estímulo 1.1 do pedido: alinhamento antecipado na tônica final 4.5.2 Estímulo 1.2 O estímulo com o alinhamento intermediário na tônica final “e” obteve nota média de 6,8, uma avaliação ligeiramente melhor do que a do estímulo anterior; embora a diferença observada em relação ao estímulo 1.1 não tenha apresentado significância estatística (p<0,287399). O alinhamento na tônica final parece permitir uma variação em relação à sua localização que pode estar mais à direita da vogal tônica final ou se afastar dela. Con 'ver sa com 'e le 201Hz 118Hz 117Hz 78Hz Figura 92– Estímulo 1.2 do pedido: alinhamento intermediário na tônica final 4.5.3 Estímulo 1.3 Esse estímulo com o alinhamento tardio na tônica final “e” obteve média de 4,8, o que pode ser interpretado como um mau reconhecimento do contorno; a diferença observada em relação ao estímulo 1.1 apresentou tendência fraca de significância (p<0,176236). Conclui-se, portanto, que o alinhamento do pedido começa a ser prejudicado se o alinhamento for tardio, pois se trata de um traço relevante para o reconhecimento do valor funcional, corroborando o que já foi dito sobre o alinhamento desse contorno em Moraes e Colamarco (2007). Con 'ver sa com 'e le 201Hz 118Hz 117Hz 78Hz Figura 93 – Estímulo 1.3 do pedido: alinhamento tardio na tônica final 87 4.5.4 Estímulo 1.4 O estímulo com o alinhamento intermediário na primeira sílaba tônica “ver” recebeu a nota média de 7,1; tendo sido observada uma tendência fraca de significância na queda dessa avaliação em relação ao estímulo 1.1 (p<0,177264). Esse resultado indica que o alinhamento intermediário na tônica inicial não afeta o reconhecimento do contorno. Con 'ver sa com 'e le 201Hz 118Hz 117Hz 78Hz Figura 94 – Estímulo 1.4 do pedido: alinhamento intermediário na tônica inicial e na tônica final 4.5.5 Estímulo 1.5 O estímulo com o alinhamento tardio na primeira sílaba tônica “ver” obteve nota média 8, apresentando uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,014909). Esse resultado indica que o alinhamento na tônica inicial pode variar, pois não houve prejuízo no reconhecimento do valor funcional do contorno mesmo com possibilidades diferentes de alinhamento nessa sílaba. Con 'ver sa com 'e le 201Hz 118Hz 117Hz 78Hz Figura 95 – Estímulo 1.5 do pedido: alinhamento tardio na tônica inicial e antecipado na tônica final. 4.5.6 Estímulo 2.1 O estímulo sem a primeira subida recebeu nota média de 5,5. Esse resultado indica um prejuízo na identificação do contorno apesar da subida final permanecer intacta, embora a diferença em relação ao estímulo base 1.1 não tenha sido significativa (p<0,367493). 88 Con 'ver sa com 'e le 118Hz 117Hz 78Hz Figura 96 – Estímulo 2.1 do pedido: contorno sem a subida inicial 4.5.7 Estímulo 2.2 O estímulo sem a subida final recebeu nota média de 2,7; uma diferença significativa em comparação com o estímulo base 1.1 (p<0,000014). Esse resultado indica que a subida final é essencial para a identificação do contorno melódico do pedido. Con 'ver sa com 'e le 201Hz 117Hz 78Hz Figura 97– Estímulo 2.2 do pedido: contorno sem a subida final 4.5.8 Estímulo 3.1 O estímulo com o campo tonal expandido recebeu nota média de 6,3; uma diferença não significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,787264). Entendemos que no final desse contorno há a presença de uma ênfase sobre a tônica “e”, o que afasta esse contorno do significado “neutro” do pedido, ou seja, um contorno sem nuances expressivas e sem ênfases. Con 'ver sa com 'e le 221Hz 138Hz 97Hz 58Hz Figura 98 – Estímulo 3.1 do pedido: campo tonal expandido 4.5.9 Estímulo 3.2 Esse estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média 5; no entanto, essa compressão não foi significativa em relação ao estímulo 1.1 no teste estatístico (p<0,218726). Esse prejuízo no reconhecimento desse contorno deve ser causado pelo fato de que o valor 89 funcional do pedido não mais parecer ser neutro, o que precisa ser verificado sistematicamente. Con 'ver sa com 'e le 191Hz 108Hz 127Hz 88Hz Figura 99 – Estímulo 3.1 do pedido: campo tonal comprimido 4.5.10 Estímulo 4.1 O estímulo com o registro deslocado para o alto obteve nota média de 5,5; essa diferença observada em relação ao estímulo 1.1 não foi significativa (p<0,384221). Esse resultado indica que se o pico na tônica final começar a atingir um nível de referência alto no registro, o valor funcional neutro do pedido é prejudicado, surgindo uma nuance enfática no enunciado. Con 'ver sa com 'e le 251Hz 147Hz 146Hz 97Hz Figura 100 – Estímulo 4.1 do pedido: registro alto 4.5.11 Estímulo 4.2 O estímulo com o registro baixo obteve nota média de 5,7; embora não tenha sido observada significância no teste estatístico em comparação com o estímulo 1.1 (p<0,931914). Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que os picos dos movimentos ascendentes das tônicas estão em um nível mais baixo do que o normal, colocando o falante em um registro mais grave (vocal fry), o que pode ter causado um prejuízo no reconhecimento do contorno. Con 'ver sa com 'e le 161Hz 94Hz 94Hz 62Hz Figura 101 – Estímulo 4.2 do pedido: registro baixo 90 Por fim, é interessante notar que, na avaliação do contorno do pedido, a close copy obteve nota média de 9,3, enquanto o contorno original recebeu nota média de 7,8; isto é, a close copy foi melhor avaliada do que o contorno original. Além disso, essa avaliação da close copy foi corroborada no teste estatístico, pois apresentou diferença significativa em comparação ao contorno original (p<0,007755). 4.6 Experimento 2 – Sugestão No contorno da sugestão, o estímulo utilizado como base para as modificações nesse processo de estilização foi o estímulo 1.1, que possui o mesmo número de pontos de inflexão em comparação com a close copy; no entanto, a posição do alinhamento antecipado do pico na última sílaba tônica está localizada exatamente na fronteira que marca o início dela. No processo de estandardização da sugestão, foram testados o alinhamento na tônica final (estímulos 1.1 a 1.3), o registro (estímulos 2.1 a 2.2), expansão e compressão no pico da tônica final (estímulo 3.1 a 3.5). 4.6.1 Estímulo 1.1 O estímulo com o alinhamento antecipado na tônica final “e” obteve nota média de 7,8, apresentando diferença com tendência forte de significância (p<0,086420) em relação ao contorno original (nota média de 6,8) e diferença significativa (p<0,049100) em relação à close copy (nota média de 6,5). Esse resultado indica um bom reconhecimento desse estímulo pelo fato do alinhamento na tônica final estar exatamente no início dessa sílaba. Con 'ver sa com 'e le 191Hz 114Hz 79Hz Figura 102 – Estímulo 1.1 da sugestão: alinhamento antecipado na tônica final 4.6.2 Estímulo 1.2 O estímulo com o alinhamento intermediário na tônica final “e” recebeu nota média de 4,1; esse prejuízo no reconhecimento do contorno foi corroborado no teste estatístico apresentado significância em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000060). Com base nesse resultado, pode-se concluir que se o pico não estiver alinhado à margem esquerda da tônica, ou seja, antecipadamente, o contorno se afasta do seu valor funcional neutro. 91 Con 'ver sa com 'e le 191Hz 114Hz 4.6.3 Estímulo 1.3 79Hz Figura 103 – Estímulo 1.2 da sugestão: alinhamento intermediário na tônica final O estímulo com o alinhamento tardio na tônica final “e” obteve nota média de 5,2; essa queda apresentou diferença significativa na avaliação dos ouvintes em relação ao estímulo 1.1 (p<0,004012). Esse resultado indica que o alinhamento é um parâmetro importante para a identificação do contorno da sugestão. Con 'ver sa com 'e le 191Hz 114Hz 79Hz Figura 104 – Estímulo 1.3 da sugestão: alinhamento tardio na tônica final 4.6.4 Estímulo 2.1 O estímulo com o registro deslocado para o alto obteve nota média de 7,7; no entanto, não se observou significância estatística na comparação com o estímulo 1.1 (p<0,919107). Esse resultado mostra que, apesar do falante estar com a voz mais aguda, o bom reconhecimento do valor funcional desse contorno pode ser proveniente da manutenção do nível de referência alto no registro do pico atingido na última tônica do enunciado. Con 'ver sa com 'e le 229Hz 136Hz 95Hz Figura 105 – Estímulo 2.1 da sugestão: registro alto 4.6.5 Estímulo 2.2 O estímulo com o registro deslocado para baixo obteve nota média de 4,3; uma queda significativa em relação à avaliação que recebeu o estímulo 1.1 (p<0,000486). Essa pior 92 avaliação pode ser proveniente tanto do fato de que a ressíntese está em um registro mais grave (vocal fry), não estando mais no registro modal, quanto do fato do pico na tônica final estar mais baixo do que o normal, afastando-o do nível de referência alto no registro. Con 'ver sa com 'e le 152Hz 91Hz 63Hz Figura 106 – Estímulo 2.2 da sugestão: registro baixo 4.6.6 Estímulo 3.127 O estímulo com a tônica final “e” teve seu pico expandido em 20% e recebeu nota média de 6,5; uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,039455). Esse resultado indica que se o pico da tônica final ainda estiver nível de referência alto no registro, não há prejuízo no reconhecimento do contorno. Con 'ver sa com 'e le 229Hz 134Hz 79Hz Figura 107 – Estímulo 3.1 da sugestão: tônica final expandida em 20% 4.6.7 Estímulo 3.2 O estímulo com a expansão da tônica final em 40% obteve nota média de 5,3; sendo essa queda significativa em relação ao ST 1.1 (p<0,006288). Esse resultado mostra que apesar do contorno ainda ser reconhecido como sugestão, é possível perceber uma nuance expressiva ser adicionada no enunciado, que ainda será testada sistematicamente. Con 'ver sa com 'e le 267Hz 134Hz 79Hz Figura 108 – Estímulo 3.2 da sugestão: tônica final expandida em 40% 27 Nesta série de estímulos com a expansão e a compressão da tônica final que vai do estímulo 3.1 até o 3.6, o valor inicial da F0 no primeiro movimento ascendente está com 20Hz a mais do que o valor utilizado desde o início do processo de estilização (114Hz) por um equívoco. 93 4.6.8 Estímulo 3.3 O estímulo com expansão da tônica final expandida em 60% obteve nota média 7; no entanto não foi observada uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,374041). Assim como no estímulo anterior, é possível interpretar desse contorno uma nuance expressiva, apesar do significado de sugestão desse estímulo não ter sido prejudicado. Isso explica a oscilação entre a nota dada para esse estímulo e a do estímulo anterior; porém, é preciso testar essa impressão sistematicamente. Con 'ver sa com 'e le 305Hz 134Hz 79Hz Figura 109 – Estímulo 3.3 da sugestão: tônica final expandida em 60% 4.6.9 Estímulo 3.4 O estímulo com a compressão em 20% na tônica final obteve nota média de 6,3; essa queda na avaliação apresenta uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,034545). Esse resultado indica que esse contorno ainda é reconhecido como sugestão, apesar de não ser o representante mais neutro. Isso ocorre provavelmente devido à aproximação do pico na última tônica do limite inferior do nível de referência baixo no registro do falante. Con 'ver sa com 'e le 153Hz 134Hz 59Hz Figura 110 – Estímulo 3.4 da sugestão: tônica final comprimida em 20% 4.6.10 Estímulo 3.5 O estímulo com a compressão de 40% na tônica final obteve nota média de 3,5, diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000022). Esse resultado indica que se o pico atingido na tônica final estiver em um nível de referência baixo no registro, o reconhecimento desse contorno é bastante prejudicado. 94 Con 'ver sa com 134Hz 'e le 114Hz 79Hz Figura 111 – Estímulo 3.5 da sugestão: tônica final comprimida em 40% Por fim, é importante ressaltar que a avaliação feita pelos ouvintes do contorno original da sugestão e de sua respectiva close copy foi bem parecida, com notas médias de 6,8 e 6,5, respectivamente. A comparação entre a close copy e o contorno original não apresentou significância no teste estatístico (p<0,536880). 4.7 Experimento 3 – Questão parcial No contorno da questão parcial, o estímulo utilizado como base foi o 1.1, que se distingue da close copy por conter um breve platô sobre a primeira sílaba tônica antes de iniciar a queda gradual até o final do enunciado. Nesse contorno, foram testados a extensão do platô sobre o movimento (estímulos 1.1 a 1.6), o início da queda (estímulos 2.1 a 2.2) e o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2). 4.7.3 Estímulo 1.1 Esse estímulo com um platô com duração de 70ms em um nível alto sobre a sílaba “co” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 8,2; no entanto, a diferença não foi significativa (p<0,213906) em relação à close copy (nota média de 7,3) nem ao contorno original (p<0,753385) (nota média de 8,5). A hipótese para essa boa avaliação se baseia na presença desse platô sobre a primeira sílaba tônica, com a duração de 70 ms. 'Co mo vo 'cê 'sa be 302Hz 53Hz 4.7.4 Estímulo 1.2 Figura 112 – Estímulo 1.1 da questão parcial: platô sobre a sílaba “co” (70ms) O estímulo com um platô com duração de 170ms em um nível alto sobre as sílabas “co/mo” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 8,5; a diferença em relação ao 95 estímulo base 1.1 não foi significativa (p<0,540726). O efeito perceptivo desse platô com duração de 170ms resultou em um bom reconhecimento do contorno. 'Co mo vo 'cê 'sa be 307Hz 53Hz 4.7.5 Estímulo 1.3 Figura 113 – Estímulo 1.2 da questão parcial: platô sobre a sílaba “co/mo” (170ms) O estímulo com um platô com duração de 290ms em um nível alto sobre as sílabas “co/mo/vo” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 5,7; essa queda na avaliação em comparação com o estímulo 1.1 é significativa no teste estatístico (p<0,006534). Percebe-se, então, que o reconhecimento do contorno começa a ser prejudicado se o platô avançar sobre a terceira sílaba do enunciado. 'Co mo vo 'cê 'sa be 307Hz 53Hz Figura 114 – Estímulo 1.3 da questão parcial: platô sobre as sílabas “co/mo/vo” (290ms) 4.7.6 Estímulo 1.4 O estímulo com um platô com duração de 440ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 4,8; essa queda em relação ao estímulo 1.1, mais uma vez, é significativa estatisticamente (p<0,000160). Esse resultado indica que o platô no início do contorno mantém a segunda pretônica e a segunda tônica do enunciado em nível alto, o que normalmente não ocorre na produção do contorno da questão parcial. 'Co mo vo 'cê 'sa be 307Hz 53Hz Figura 115 – Estímulo 1.4 da questão parcial: platô sobre as sílabas “co/mo/vo/cê” (440ms) 96 4.7.7 Estímulo 1.5 O estímulo com um platô com duração de 720ms em um nível alto sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/sa” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 2,7; essa queda ainda mais forte da avaliação em comparação ao estímulo base 1.1 apresentou significância estatística (p<0,000005). Esse resultado mostra que a última tônica estando em um nível de referência alto no registro prejudica o reconhecimento do valor funcional da questão parcial. 'Co mo vo 'cê 'sa be 307Hz 53Hz Figura 116 – Estímulo 1.5 da questão parcial: platô sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/ sa” (720ms) 4.7.8 Estímulo 1.6 O estímulo com um platô com duração de 870ms em um nível de referência alto do registro ao longo de todo o enunciado obteve nota média de 2,5; essa avaliação ainda mais baixa que a anterior em comparação com o estímulo base 1.1 apresentou diferença significativa (p<0,000002). Com base nesse resultado, pode-se concluir que o contorno da questão parcial se caracteriza pelo início em um nível de referência alto no registro e pelo movimento descendente gradual ao longo de todo enunciado que termina em um nível de referência baixo no registro. 'Co 307Hz mo vo 'cê 'sa be 307Hz Figura 117 – Estímulo 1.6 da questão parcial: platô sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/sa/be” (870ms) 4.7.1 Estímulo 2.1 O estímulo com uma queda gradual contínua começando em um nível de referência alto no registro em 236Hz obteve a nota média de 7,1; a diferença desse estímulo em comparação com o estímulo base 1.1 não apresentou significância estatística (p<0,150972). Portanto, de acordo com a avaliação dos ouvintes, essa configuração é reconhecida como questão parcial. 97 'Co mo vo 'cê 'sa be 236Hz 53Hz Figura 118 – Estímulo 2.1 da questão parcial: queda contínua ao longo do enunciado com início em 236Hz 4.7.2 Estímulo 2.2 Esse estímulo com uma queda contínua ao longo de todo o enunciado que começa em um nível de referência ainda mais alto no registro em 307Hz obteve nota média de 8,7; embora não tenha sido observada uma significância estatística (p<0,359590) em comparação com o estímulo base 1.1. Esse resultado indica que o contorno foi bem reconhecido. 'Co mo vo 'cê 'sa be 307Hz 53Hz Figura 119 – Estímulo 2.1 da questão parcial: queda contínua ao longo do enunciado com início em 307Hz 4.7.9 Estímulo 3.128 O estímulo com o campo tonal expandido teve como base a close copy, e não o estímulo 1.1, obtendo nota média de 9,3; uma diferença significativa em relação à close copy (p<0,027150). Esse resultado indica que esse contorno é bem reconhecido por se iniciar em um nível de referência alto no registro. 'Co mo vo 'cê 'sa be 342Hz 53Hz Figura 120– Estímulo 3.1 da questão parcial: campo tonal expandido 28 Novamente por um erro durante o processo de estandardização, o estímulo base 1.1 não foi utilizado para fazer a estilização do campo tonal e sim a close copy da questão parcial que possui inclinações diferentes durante a queda ao longo do enunciado. 98 4.7.10 Estímulo 3.2 O estímulo com o campo tonal comprimido, que também tem como base a close copy, obteve a nota média de 5,3; essa queda em relação à close copy é significativa (p<0,000351). Esse resultado indica que se o início do contorno não estiver no limite superior do nível de referência alto no registro, o valor funcional neutro da questão parcial é prejudicado. 'Co mo vo 'cê 'sa be 262Hz 73Hz Figura 121 – Estímulo 3.2 da questão parcial: campo tonal comprimido Por fim, o contorno original da questão parcial obteve nota média de 8,5 e a close copy, 6,5; a diferença entre eles no teste estatístico demonstrou uma tendência forte de significância (p<0,101032). 4.8 Experimento 3 – Exclamação No contorno da exclamação, o estímulo utilizado como base foi o estímulo 1.1, que é muito parecido com a close copy, apenas com a diferença de ter um movimento ascendente sem nenhum outro ponto de inflexão que se estende da primeira sílaba tônica “co” até a segunda sílaba tônica “cê”. Para a exclamação, foram testados a extensão do movimento (estímulos 1.1 a 1.9), o alinhamento na tônica final (estímulos 2.1 a 2.3), o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2) e a ausência do movimento ascendente-descendente no final do contorno (estímulo 4.1). 4.8.1 Estímulo 1.1 O estímulo baseado na close copy obteve nota média de 7,6, enquanto a própria close copy recebeu 8,6 e o contorno original, 8,2. No tocante ao teste estatístico, o estímulo 1.1 não apresentou uma diferença significante em relação à avaliação da close copy (p<0,197582) e nem em relação ao contorno original (p<0,398186). 'Co mo vo 'cê 'sa be 236Hz 56Hz Figura 122 – Estímulo 1.1 da exclamação: movimento ascendente no início do contorno 99 4.8.2 Estímulo 1.2 O estímulo com uma queda gradual no início do contorno seguido de um movimento ascendente-descendente na última sílaba tônica obteve nota média de 7,6; embora não tenha apresentando significância estatística em relação ao estímulo 1.1 (p<0,931098). Assim, na avaliação dos ouvintes, esse contorno foi bem reconhecido. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz 4.8.3 Estímulo 1.3 Figura 123 – Estímulo 1.2 da exclamação: queda contínua no início do contorno com movimento ascendente-descendente na tônica final O estímulo com uma queda gradual ao longo de todo o enunciado recebeu nota média de 4,5; essa queda foi significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000729). Esse resultado indica que o movimento ascendente-descendente na tônica final é fundamental para o reconhecimento do contorno da exclamação. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 124 – Estímulo 1.3 da exclamação: queda contínua ao longo do contorno 4.8.4 Estímulo 1.4 O estímulo com platô com duração de 80ms na primeira sílaba tônica “co” obteve nota média de 6,5, após o platô, há uma queda gradual, e, por último, um movimento ascendentedescendente na última sílaba tônica. Esse estímulo não apresentou uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,144286). A avaliação dos ouvintes aponta para um bom reconhecimento do contorno. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 125 – Estímulo 1.4 da exclamação: platô de 80ms no início do contorno 100 4.8.5 Estímulo 1.5 O estímulo com um platô com duração de 160ms sobre as sílabas “co/mo” obteve nota média de 8,1. A diferença entre a avaliação desse estímulo e o estímulo base 1.1 não foi significativa (p<0,407643) no teste estatístico. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 126– Estímulo 1.5 da exclamação: platô de 160ms no início do contorno 4.8.6 Estímulo 1.6 O estímulo com um platô com duração de 280ms sobre as sílabas “co/mo/vo” obteve nota média 7,0, após o platô, há uma queda gradual, e, por último, um movimento ascendentedescendente na última sílaba tônica. A diferença entre esse estímulo em relação ao estímulo 1.1 (p<0,346711) não foi significativa. Esse resultado indica que o platô dessa extensão na parte inicial do contorno não interfere no reconhecimento da exclamação. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz 4.8.7 Estímulo 1.7 Figura 127 – Estímulo 1.6 da exclamação: platô de 280ms no início do contorno O estímulo com um platô com duração de 450ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê”, obteve nota média de 6,2, após o platô, há um movimento ascendente-descendente na última sílaba tônica. A diferença desse estímulo em relação ao estímulo 1.1 apresentou tendência forte de significância (p<0,104071). Esse resultado indica que o reconhecimento do valor funcional da exclamação está começando a ser prejudicado se o platô tiver essa duração. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 128 – Estímulo 1.7 da exclamação: platô de 450ms no início do contorno 101 4.8.8 Estímulo 1.8 O estímulo com um platô com duração de 810ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/sa” obteve nota média de 3,3, após o platô, há um movimento descendente na última sílaba tônica. Essa queda na avaliação desse estímulo em relação ao estímulo 1.1 apresentou significância estatística (p<0,000049). Esse resultado demonstra que esse contorno precisa ter como configuração intrassilábica na tônica final um movimento ascendente-descendente, não um platô. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 129– Estímulo 1.8 da exclamação: platô de 810ms no início do contorno 4.8.9 Estímulo 1.9 O estímulo com platô com duração de 1030ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/sa/be”, ou seja, ao longo de todo o enunciado, obteve nota média de 2,3; a diferença entre esse estímulo e o estímulo base 1.1 é significativa (p<0,000002). Esse resultado indica que o contorno da exclamação não pode se manter em um nível de referência alto no registro ao longo de todo o enunciado. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 4.8.10 Estímulo 2.1 229Hz Figura 130 – Estímulo 1.9 da exclamação: platô de 1030ms no início do contorno O estímulo com o alinhamento antecipado na última tônica “sa” obteve nota média de 3,2; essa avaliação muito inferior ao estímulo 1.1 é significativa (p<0,000032). Esse resultado sugere que o reconhecimento do contorno é bem prejudicado se o alinhamento for antecipado. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 131 – Estímulo 2.1 da exclamação: tônica final com alinhamento antecipado 102 4.8.11 Estímulo 2.2 Esse estímulo com o alinhamento intermediário na última tônica “sa” obteve nota média de 5,8; a diferença entre essa avaliação em relação ao estímulo 1.1 foi significativa (p<0,033530). Esse alinhamento que se afastou um pouco mais da margem esquerda da sílaba tônica apresentou um reconhecimento relativamente melhor do que o estímulo 2.1. 'Co mo vo 'cê 'sa be 229Hz 69Hz Figura 132 – Estímulo 2.2 da exclamação: tônica final com alinhamento intermediário 4.8.12 Estímulo 3.129 O estímulo com o campo tonal expandido, que tem como base a close copy, obteve nota média de 7,8; embora a diferença em relação à close copy não tenha apresentado uma significância estatística (p<0,659725) e nem ao estímulo base inicial 1.1 (p<0,676500). Com base nessa avaliação, é possível dizer esse contorno é bem avaliado se a excursão dos movimentos for normal. 'Co mo 'cê 'sa be 269Hz 171Hz 157Hz 109Hz Figura 133 – Estímulo 3.1 da exclamação: campo tonal expandido 4.8.13 Estímulo 3.2 O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média de 4,2; uma diferença significativa tanto em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000075) quanto à close copy (p<0,000007). Como o pico na tônica final está mais baixo do que o normal, o valor funcional do contorno fica prejudicado. 29 Na série de estilização 3.1, 3.2 e 4.1, o estímulo base utilizado foi a close copy por um descuido, já que o estímulo 1.1 estava sendo utilizado ao longo de todo o processo, embora seja esperado que os resultados dos testes não fossem muito diferentes. 103 'Co mo vo 'cê 'sa be 189Hz 131Hz 137Hz 109Hz Figura 134 – Estímulo 3.2 da exclamação: campo tonal comprimido 4.6.14 Estímulo 4.1 O estímulo sem o movimento ascendente-descendente na última tônica obteve nota média de 3,3; apresentando uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000015). Esse resultado indica que esse movimento ascendente-descendente na tônica final é crucial para a caracterização funcional do contorno. 'Co mo vo 'cê 'sa be Figura 135 – Estímulo 4.1 da exclamação: contorno sem o movimento ascendente-descendente final Por fim, o contorno original da exclamação obteve nota média de 8,2 e sua close copy, 8,6; embora a diferença entre eles não tenha apresentado significância estatística (p<0,764891). Esse resultado mostra que a close copy da exclamação foi bem avaliada pelos ouvintes. *** O processo de estilização equivalent copy, que é feito para se chegar a uma estandardização, teve como base não só os parâmetros acústicos propostos pelo modelo IPO, mas também as hipóteses que sugiram na observação do comportamento da curva melódica durante esse processo de experimentação. Como primeira conclusão desta fase, nota-se que os ouvintes são capazes de julgar a “aceitabilidade” de um contorno melódico em relação ao seu valor funcional. Há modificações nos contornos que os tornam mais ou menos aceitáveis perceptivamente. No entanto, deve-se levar em conta que, nesses testes de percepção 104 aplicados, a ordem aleatória da apresentação dos estímulos era sempre a mesma, por isso talvez o efeito da ordem possa ter interferido na avaliação de alguns estímulos. De maneira geral, o resultado do teste de percepção forma um grupo seleto de características acústicas que compõem a identificação do valor funcional do contorno. Ainda em relação aos resultados dos testes de percepção, é preciso comentar que algumas close copies não tiveram notas médias similares ao contorno original, o que não era esperado, como a close copy do desafio (nota média 4,7), que apresentou tendência forte de significância em relação ao contorno original (nota média 6,3). Além disso, o caso contrário ocorreu com o contorno do pedido, em que a close copy (nota média 9.3) apresentou significância estatística em relação ao contorno original (nota 7,8). Como não está claro o por que dessas closes copies não terem sido avaliadas de maneira semelhante à do contorno original, será necessário averiguar mais cuidadosamente esses dois casos. 105 CAPÍTULO 5. PARA UMA GRAMÁTICA DA ENTOAÇÃO MODAL DO PB Neste capítulo, algumas generalizações serão tecidas com base nos resultados dos testes de percepção aplicados com o intuito de descrever foneticamente os movimentos melódicos relevantes perceptivamente dos contornos melódicos do Português do Brasil analisados nesta dissertação. Para proceder à padronização dos movimentos melódicos, é preciso estabelecer os valores padronizados de F0 do informante que teve sua voz manipulada e avaliada nos testes de percepção: O nível mais alto atingido no registro: 300Hz O nível mais baixo atingido no registro: 66Hz A excursão mais longa (medida do nível mais baixo): 27ST Excursão normal: até 12 ST Excursão ampla: Mais de 12 ST Registro baixo: 65 – 132 (0 a 12 ST) Registro alto: 132 – 300 (12 ST a 27 ST) Quadro 10 – Dados fonéticos de INF 1 adaptado de Odé (1989: 142) Após os resultados dos testes que demonstraram quais são os movimentos melódicos relevantes nesse grupo de contornos analisados, iniciou-se o processo de medidas acústicas desses movimentos para determinar os valores padronizados dos parâmetros acústicos propostos pela teoria com base em trabalhos anteriores que utilizaram a metodologia do modelo IPO (ODÉ, 1989; PIJPER, 1983). Para determinar a excursão do movimento melódico, o valor inicial e final de F0 de um movimento era anotado em hertz e semitom, junto com o tempo inicial e final de cada movimento. Ao final, calculou-se a média da excursão em semitom (ST), a taxa de mudança em semitons por segundo (ST/s) e duração dos movimentos em milissegundo (ms). No quadro abaixo, serão expostos tais valores padronizados em relação à excursão ampla e parcial, da taxa de mudança e de duração dos movimentos melódicos: 106 Íngreme30 ou gradual31 Subida Queda Íngreme ou gradual Completo Parcial 60ST/s 60ST/s 200ms 100ms 12ST 6 ST -60ST/s -60ST/s 200ms 100ms -12ST -6 ST Quadro 11 – Valores padronizados dos movimentos melódicos do PB, adaptado de Pijper (1983:46) A tabela com as medidas que serviram como base para estabelecer a padronização dos valores pode ser encontrada no apêndice B desta dissertação, página 136 a 141. 5.1 Asserção 5.1.1 Direção dos movimentos da asserção A asserção se configura como um padrão melódico ascendente-descendente. Se a asserção for produzida integralmente em um registro alto, seu reconhecimento é prejudicado (EST 2.1/nota 5,8); por outro lado, se o contorno estiver somente em um registro baixo, ele possui um reconhecimento ligeiramente melhor (EST 2.2/nota 6,2) em comparação ao estímulo anterior. 5.1.2 Alinhamento dos movimentos da asserção No contorno da asserção, o alinhamento do pico da F0 na primeira sílaba tônica é tardio. Em relação ao movimento descendente que também abarca a tônica final, este alinhamento é antecipado. Ma 'ri na can 'ta va Figura 136 – Alinhamento dos movimentos da asserção 30 O movimento abarca somente uma sílaba. 31 O movimento abarca mais de uma sílaba. 107 5.1.3 Declividade dos movimentos da asserção Outro aspecto para a caracterização da asserção é o fato dos movimentos ascendentes e descendentes serem graduais, ou seja, esses dois tipos de movimentos precisam abarcar mais de uma sílaba. Por isso, no que se refere à extensão dos movimentos melódicos da asserção, nota-se que o movimento descendente pode ocorrer desde a primeira postônica até o início da última tônica sem prejudicar a compreensão desse padrão melódico (EST1.2/nota 8; EST1.3/nota 8,5; EST 1.4/nota 8,3), o que assegura a possibilidade de ocorrer variação em relação à sílaba na qual começa o movimento descendente gradual. Ma 'ri na can 'ta va Figura 137 – Declividade dos movimentos da asserção: movimentos graduais (linha plena), movimentos melhor avaliados no teste de percepção (cor azul) Por outro lado, a compreensão do contorno é prejudicada se o movimento descendente começar no (i) início da primeira tônica; já que o movimento ascendente na pretônica anterior cobre apenas uma única sílaba (EST 1.1/ nota 5,1), ou na (ii) última postônica; em que o movimento descendente abarca apenas uma sílaba: a postônica final (EST 1.5/nota 4,6). Ma 'ri na can 'ta va Figura 138 – Declividade dos movimentos da asserção: movimentos graduais (linha plena), movimentos íngremes (linha pontilhada); movimentos pior avaliados no teste de percepção (cor vermelha) 5.1.4 Excursão dos movimentos da asserção Outro aspecto que se mostrou relevante no teste de percepção para o reconhecimento e aceitabilidade do contorno da asserção foi a excursão do movimento. A diferença entre o valor da frequência inicial e o valor da frequência final dos movimentos ascendente e descendente foi alterada no intuito de se expandir o campo tonal. O resultado do teste de percepção mostrou que há um melhor reconhecimento do contorno da asserção com o campo tonal expandido; por isso, conclui-se que, na asserção, uma excursão ampla que esteja 108 ultrapassando o valor padrão de 12 ST tanto no movimento ascendente quanto no descendente tende a melhorar a nota do estímulo (EST 3.1/nota 9), estando esse valor na fronteira entre em um nível de referência baixo e alto no registro. Caso contrário, se a excursão for normal, o reconhecimento pode ser prejudicado (EST 3.2/nota 5,8). Ma 'ri na can 'ta va 150Hz 100 Hz 130Hz 60Hz 94Hz 64Hz Figura 139 – Excursão dos movimentos da asserção: excursão normal (linha plena), excursão ampla (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 5.2 Questão total 5.2.1 Direção dos movimentos da questão total A questão total é caracterizada como um padrão melódico que possui um movimento ascendente-descendente tanto no início quanto no final do contorno, sendo este último movimento uma configuração fundamental para seu reconhecimento, pois, sem ele, o contorno não é mais reconhecido como questão total (EST 5.2 /nota 1,5). Caso não haja o primeiro movimento ascendente-descendente, pode-se dizer que o contorno ainda é reconhecido como questão total (EST 5.1/nota 6,2), apesar de não ser considerado o padrão mais neutro. 5.2.2 Alinhamento dos movimentos da questão total Em relação ao alinhamento, conclui-se que o movimento ascendente na primeira vogal tônica é antecipado. Já o segundo movimento ascendente que abarca a tônica final possui o alinhamento tardio. É importante ressaltar que o alinhamento é um parâmetro que apresenta variação no contorno da questão total. Segundo o teste de percepção aplicado, o alinhamento do pico de F0 na tônica final pode ser tanto intermediário quanto tardio (EST 1.2/ nota 8,2; EST 1.3/nota 7,7), mas também há a possibilidade de ser antecipado (EST 1.1/nota 7,3); apesar de o contorno apresentar uma aceitabilidade relativamente menor com este último alinhamento. 109 Ma 'ri na can 'ta va Figura 140 – Alinhamento dos movimentos da questão total 5.2.3 Declividade dos movimentos da questão total No tocante ao movimento ascendente-descendente que ocorre no final do contorno, através do teste de percepção, concluiu-se que o movimento ascendente iniciado na tônica final é caracterizado como íngreme (EST 3.1/nota 8,6); pois, se ele for gradual, o significado da questão total é bastante prejudicado (EST 3.2/nota 2,5). Em outras palavras, a pretônica que antecede a tônica final precisa ser baixa, já que é nesta sílaba que movimento descendente é finalizado para dar início ao movimento ascendente final que é íngreme. Além disso, outra característica relevante diz respeito à subida final, que ocorre já no início da última tônica seguida de uma queda na postônica final, que frequentemente já se inicia na porção final da tônica. Outro aspecto importante constatado é que se a postônica final terminar alta, o sentido desse padrão melódico é perdido (EST 4.1/ nota 4,8; EST 4.2 /nota 4,5), por isso o movimento ascendente final tem que ser seguido, obrigatoriamente, por um movimento descendente, no caso de haver uma sílaba postônica. Ma 'ri na can 'ta va Figura 141 – Declividade dos movimentos da questão total: movimentos graduais da questão total (linha plena), movimentos íngremes (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (azul), movimentos pior avaliados (vermelho) 5.2.4 Excursão dos movimentos da questão total Por fim, a questão total é caracterizada por uma excursão normal em seus movimentos ascendentes e descendentes, exceto pelo movimento ascendente na última tônica que possui uma excursão ampla. De acordo com os resultados do teste, o contorno expandido tem um reconhecimento melhor (EST 6.1/nota 7,3) do que o campo tonal comprimido (EST 6.2/ nota 110 6,1). Por fim, a mudança do registro para um nível alto (EST 2.1/ nota 7,3) ou para um nível baixo (EST 2.2/nota 7) não alterou expressivamente a interpretação do contorno, mas, de certo modo, o afastou do que pode se chamar de um contorno neutro, isto é, um contorno sem influência da esfera expressiva e sem nenhum tipo de focalização. Ma 'ri na can 'ta 144 Hz va 168Hz 104 Hz 128Hz 94Hz 90Hz 74Hz 50Hz Figura 142 – Excursão da questão total: excursão normal (linha plena); excursão ampla (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 5.3 Ordem 5.3.1 Direção dos movimentos da ordem A ordem se caracteriza como um contorno ascendente-descendente. Caso haja apenas um movimento descendente ao longo de todo o enunciado (EST 2.2/nota 4) ou um movimento ascendente na tônica final (EST 1.5/nota 3,5), o valor funcional da ordem é bastante prejudicado. 5.3.2 Alinhamento dos movimentos da ordem O alinhamento ideal do movimento ascendente na primeira sílaba tônica é o alinhamento tardio (EST 1.2/nota 7,2) e o alinhamento na tônica final é sempre antecipado. Con 'ver sa com 'e le Figura 143 – Alinhamento dos movimentos da ordem 5.3.3 Declividade dos movimentos da ordem A primeira tônica do enunciado é abarcada por um movimento ascendente e não descendente (EST 2.2/nota 4). Esse movimento ascendente pode ser gradual ou íngreme, com o pico dessa sílaba tônica terminando alto em um nível de referência baixo no registro. Já o movimento descendente pode ser gradual com a tônica final também em um nível de 111 referência baixo no registro (EST 1.1/nota 7; EST 1.2/nota 7,2; EST 1.3/nota 7,5; EST 2.1/nota 7,7). Caso contrário, se o movimento ascendente da primeira tônica não terminar alto no nível de referência baixo no registro (EST 1.4/ nota 5,7) ou o campo tonal for amplo (EST 3.1/ nota 3,5), o reconhecimento do contorno é prejudicado. Por outro lado, se o campo tonal for normal, o contorno é bem reconhecido (EST 3.2/nota 7). Con 'ver sa com 'e le Figura 144 – Declividade do contorno da ordem: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul) Con 'ver sa com 'e le Figura 145 – Declividade do contorno da ordem: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 5.3.4 Excursão dos movimentos da ordem Em relação à excursão, este contorno possui uma excursão normal em um nível de referência baixo do registro, o que é uma característica importante para seu reconhecimento (EST 3.2/ nota 7). Se a excursão estiver passando de normal para ampla, o reconhecimento do contorno é muito prejudicado (EST 3.1/ nota 3,5). Con 'ver sa com 'e le 151Hz 121Hz 110Hz 64Hz 80Hz 54Hz Figura 146 – Excursão dos movimentos da ordem: excursão normal (linha plena), excursão ampla (linha pontilhada), platô (linha com traço e ponto), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 112 5.4 Desafio 5.4.1 Direção dos movimentos do desafio Este contorno também possui uma configuração ascendente – descendente em um nível de referência alto do registro. No teste de percepção, os contornos que apresentaram (i) uma queda gradual ao longo de todo o enunciado (EST 1.6/ nota 3,7), (ii) um movimento ascendente gradual na primeira tônica (EST 1.4/ nota 1,8) ou (iii) um movimento ascendente na tônica final (EST 1.5/ nota 3) prejudicaram o valor funcional do contorno. Sendo assim é imprescindível tanto que haja um movimento ascendente no início desse contorno quanto um movimento descendente. Além disso, o registro alto favorece o reconhecimento do contorno (EST 4.1/ nota 7,3), o contrário do que acontece com o registro baixo (EST 4.2/ nota 5,8). 5.4.2 Alinhamento dos movimentos do desafio No contorno melódico do desafio, o alinhamento do pico de F0 na primeira sílaba tônica é tardio, enquanto o alinhamento do pico de F0 que abarca a tônica final é antecipado. Con 'ver sa com 'e le Figura 147 – Alinhamento dos movimentos melódicos do desafio 5.4.3 Declividade dos movimentos do desafio Em relação à declividade, é importante ressaltar que o movimento ascendente nesse contorno inclui tanto a sílaba pretônica inicial quanto a sílaba tônica inicial e o movimento descendente, a última tônica e também a postônica, o que caracteriza esses dois movimentos como graduais. Entre a primeira tônica e a última tônica pode haver variação em relação ao tipo de movimento que abarca as sílabas que aí se encontram: ou um movimento descendente ou um platô que se estende desde o final da primeira tônica até a última pretônica (EST 2.1/nota 7,2). Caso o platô se estenda da primeira postônica até a última pretônica, há um prejuízo na identificação do significado do contorno. (EST 2.2/ nota 4,5). 113 Con 'ver sa com 'e le Figura 148 – Declividade dos movimentos do desafio: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul) Con 'ver sa com 'e le Figura 149 – Declividade dos movimentos do desafio: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 5.4.4 Excursão dos movimentos do desafio A excursão do movimento ascendente e descendente do desafio é ampla, ultrapassando o valor padrão de 12 ST, tanto com o campo tonal expandido (EST 3.1/nota 7,5) quanto com o comprimido (EST 3.2 /nota 7). Entende-se que o bom reconhecimento do desafio possa vir do pico da F0 no início do contorno que está em um nível de referência alto no registro. Con 'ver sa com 'e le 304Hz 264Hz 156Hz 50Hz 116Hz 10Hz Figura 150 – Excursão dos movimentos do desafio: excursão normal (linha plena), excursão ampla (pontilhado), movimentos melhor avaliados (cor azul) 5.5 Pedido 5.5.1 Direção dos movimentos do pedido O contorno melódico do pedido possui um duplo movimento ascendente-descendente em que a primeira subida está em um nível de referência alto no registro. Segundo os resultados dos testes, a primeira subida interfere no reconhecimento desse contorno (EST 2.1/ nota 5,5), no entanto, é a última subida que é crucial para a identificação do valor funcional 114 do contorno, pois, sem ela, a nota cai para 2,7 (EST 2.2). Além disso, tanto o registro alto quanto o registro baixo prejudicam o reconhecimento do contorno (EST 4.1/nota 5,5/ EST 4.2/ nota 5,7). 5.5.2 Alinhamento dos movimentos do pedido O alinhamento ideal do pico da F0 na primeira sílaba tônica do pedido é antecipado. De fato, dentre as três possibilidades de alinhamento testadas, o alinhamento antecipado na primeira tônica possui melhor avaliação (EST 1.4/ nota 9,5) do que o alinhamento intermediário e tardio (EST 1.5/nota 7,1; EST 1.6/ nota 8, respectivamente)32. No entanto, é importante notar que se o alinhamento na tônica inicial for tardio, isso acarretaria uma extensão gradual, abarcando mais de uma sílaba, no primeiro movimento ascendente. Já o alinhamento da tônica final com melhor avaliação no teste de percepção é o antecipado ou o intermediário, indicando que o pico deve se localizar na primeira porção da sílaba (EST 1.1/nota 6,2; EST 1.2/nota 6,8, respectivamente). Caso o alinhamento seja tardio na tônica final, o reconhecimento do contorno é prejudicado (EST 1.3/nota 4,8). Con 'ver sa com 'e le Figura 151 – Alinhamento dos movimentos melódicos do pedido 5.5.3 Declividade dos movimentos do pedido Os movimentos ascendentes e descendentes desse contorno são todos graduais, exceto pelo movimento ascendente na pretônica final, que é íngreme. Con 'ver sa com 'e le 221Hz 138Hz 97Hz 58Hz Figura 152 – Declividade dos movimentos do pedido: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada) 32 Nesses três estímulos, é importante lembrar que o alinhamento na tônica final é antecipado. 115 5.5.4 Excursão dos movimentos do pedido A excursão desse contorno é ampla na primeira subida e normal na segunda; no entanto, é importante notar que o primeiro pico atinge um nível de referência alto no registro e o segundo pico, um nível de referência baixo. Esse contorno com o campo tonal expandido (ST 3.1/ nota 6,3) possui uma avaliação ligeiramente melhor do que a do campo tonal comprimido (ST 3.2/nota 5). Con 'ver sa com 'e le 221Hz 191Hz 138Hz 127Hz 108Hz 88Hz 97Hz 58Hz Figura 153 – Excursão dos movimentos do pedido: movimento normal (linha plena), movimento amplo (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 5.6 Sugestão 5.6.1 Direção dos movimentos da sugestão A sugestão é um contorno caracterizado por um padrão descendente-ascendentedescendente, em que o movimento ascendente-descendente final é fundamental para o seu reconhecimento. Se esse contorno estiver em um registro alto, o reconhecimento do seu valor funcional não será muito afetado (EST 2.1/ nota 7,7), diferentemente do registro baixo que prejudica seu reconhecimento (EST 2.2 / nota 4,3). 5.6.2 Alinhamento dos movimentos da sugestão O alinhamento na primeira sílaba tônica é antecipado, bem como o alinhamento do pico da F0 na tônica final (EST 1.1/ nota 7,8). Caso esse alinhamento for intermediário ou tardio, o reconhecimento do contorno é prejudicado (EST 1.2/ nota 4,1; EST 1.3/ nota 5,2). Con 'ver sa com 'e le Figura 154 – Alinhamento dos movimentos da sugestão 116 5.6.3 Declividade dos movimentos da sugestão Os movimentos presentes nesse contorno são todos graduais, exceto pelo movimento ascendente íngreme que começa na pretônica final. Con 'ver sa com 'e le 229Hz Figura 155 – Declividade dos movimentos: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada) 5.6.4 Excursão dos movimentos da sugestão Este contorno se caracteriza por possuir uma excursão ampla no movimento ascendente que termina em um nível de referência alto no registro (EST 3.1/nota 6,5/ EST 3.2/ nota 5,3/ EST 3.3/nota 7; EST 3.4/ nota 6,3). Assim, de acordo com o teste de percepção, se o pico na tônica final estiver em um nível de referência baixo no registro, o reconhecimento do valor funcional da sugestão é muito prejudicado (ST 3.5/ nota 3,5; ST 3.6 /nota 3,8). Con 'ver sa com 'e le 305 Hz 267Hz 229Hz 152Hz 134Hz 114Hz 76Hz 79Hz Figura 156 – Excursão dos movimentos da sugestão: excursão normal (linha plena), excursão ampla (pontilhado), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 5.7 Questão parcial 5.7.1 Direção dos movimentos da questão parcial Este contorno pode ser caracterizado por um movimento descendente ao longo de todo o enunciado. No entanto, também é possível ocorrer um platô com duração de até 170m sobre as duas primeiras sílabas no início do contorno (co/mo). 5.7.2 Alinhamento dos movimentos da questão parcial No contorno da questão parcial, o alinhamento do movimento descendente incidindo sobre todas as sílabas, incluindo a sílaba tônica inicial e final, é sempre antecipado. 117 'Co mo vo 'cê 'sa be Figura 157 – Alinhamento dos movimentos da questão parcial 5.7.3 Declividade dos movimentos da questão parcial Esse contorno se caracteriza por um movimento descendente gradual ao longo de todo o enunciado (EST 2.1/ nota 7,1; EST 2.2/ nota 8,7). Entretanto, este padrão pode permitir um movimento plano, desde que apresente uma duração de até 170ms (EST 1.1/ nota 8,2/ ST 2.2/ nota 8,5). Acima dessa duração, se não houver o movimento descendente gradual, a compreensão do contorno começa a ser bastante prejudicada (ST 1.3/ nota 5,7; EST 1.4/ nota 4,8), tornando-o completamente descaracterizado se esse movimento plano estiver presente desde o início do contorno até a tônica final (EST 1.5/ nota 2,7) ou postônica final (EST 1.6/ nota 2,5). 'Co mo vo 'cê 'sa be Figura 158 – Declividade do movimento melódico da sugestão: movimento gradual (linha reta), movimentos melhor avaliados (cor azul) 'Co mo vo 'cê 'sa be Figura 159– Declividade do movimento melódico da questão parcial: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 118 5.7.4 Excursão dos movimentos da questão parcial O movimento descendente se caracteriza por começar em um nível de referência alto no registro e terminar em um nível de referência baixo do registro. Essas duas características foram mantidas no estímulo com campo tonal expandido (EST 3.1/ nota 9,3), no entanto, a avaliação desse contorno apresenta uma queda expressiva se o início dele não estiver em um nível tão alto no registro e nem terminar em um registro tão baixo (EST 3.2 /nota 5,3). 'Co mo vo 'cê 'sa be 342Hz 262Hz 73Hz 53Hz Figura 160 – Excursão dos movimentos da questão parcial: excursão normal (linha plena), excursão ampla (linha pontilhada), movimento melhor avaliado (cor azul), movimento pior avaliado (cor vermelha) 5.8 Exclamação 5.8.1 Direção dos movimentos da exclamação Este padrão se caracteriza por apresentar uma variação na parte inicial do contorno melódico33 quanto à direção do movimento que pode ser um movimento ascendente (EST 1.1/ nota 7,6), um platô (EST 1.4/nota 6,5; EST 1.5/ nota 8,1; EST 1.6/nota 7; EST 1.7/ nota 6,2) ou um movimento descendente (EST 1.2/nota 7,6). Em seguida, há um movimento ascendente-descendente ao final do enunciado, que é fundamental para seu reconhecimento. Sem esse movimento ascendente-descendente no final do contorno, o sentido da exclamação é bastante prejudicado (EST 1.3/nota 4,5; EST 1.8/nota 3,3; EST 1.9/ nota 2,3; EST 4.1/nota 3,3). 5.8.2 Alinhamento dos movimentos da exclamação O alinhamento no movimento ascendente que abarca a tônica final é caracterizado como intermediário ou tardio (EST 2.2/nota 5,8; EST 2.3/nota 6,3), já a possibilidade de um 33 A diferença encontrada no início do contorno da exclamação, que pode ter um movimento ascendente ou descendente ou um platô, provavelmente decorre da emoção que é manifestada pela exclamação, como: o espanto, a admiração ou a indignação. Por exemplo, se a exclamação expressar admiração, pode ocorrer um movimento descendente no início do contorno; já se expressar um espanto, o movimento pode ser ascendente, etc. Essa hipótese ainda será testada em futuros experimentos. 119 alinhamento antecipado não foi considerada aceitável pelos ouvintes (EST 2.1/ nota 3,2), prejudicando nitidamente o reconhecimento da exclamação neutra. 'Co mo vo 'cê 'sa be Figura 161 – Alinhamento dos movimentos da exclamação 5.8.3 Declividade dos movimentos da exclamação Em relação à declividade do movimento, nota-se que na parte inicial do contorno, o movimento é gradual, por outro lado o movimento ascendente da tônica final e o movimento descendente na postônica final ocorrem em uma sílaba só, o que os caracteriza como movimentos íngremes. 'Co mo vo 'cê 'sa be Figura 162 – Declividade do movimento da exclamação: movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada) 5.8.4 Excursão dos movimentos da exclamação A excursão do movimento ascendente inicial desse contorno é ampla (EST 3.1/nota 7,8), já a excursão do movimento ascendente-descendente no final do contorno é normal. Se a parte inicial desse contorno não estiver em um nível de referência alto do registro, o reconhecimento dele é bem prejudicado (EST 3.2/ nota 4,2). 'Co mo vo 'cê 'sa be 269Hz 189Hz 157Hz 171Hz 131Hz 109Hz 137Hz 50Hz Figura 163 – Excursão dos movimentos da exclamação: excursão normal (linha plena), excursão ampla (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha) 120 5.9 Traços dos movimentos melódicos do PB Após a descrição dos resultados dos testes de percepção, inicia-se a fase de definição dos movimentos melódicos com base nos valores físicos padronizados (‘t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 163); sendo assim, o grupo de contornos melódicos relevantes perceptivamente analisados nesta dissertação será decomposto de acordo com os traços propostos pelo modelo IPO. O parâmetro da direção do movimento, se for positivo [+ascendente], se refere a um movimento ascendente, que, por sua vez, implica um valor positivo na taxa de mudança da F0. Por outro lado, se este parâmetro for negativo [–ascendente], indica um movimento descendente que possui valor negativo na taxa de mudança. Os parâmetros que se referem ao alinhamento da sílaba tônica são o [antecipado] e o [retardado], que indicam conjuntamente se o alinhamento está mais à esquerda da sílaba tônica [+antecipado] [–retardado] ou mais à direita da sílaba tônica [–antecipado] [+retardado]. Além disso, há uma terceira possibilidade em que o término do movimento não está nem próximo da margem esquerda e nem próximo da margem direita, localizando-se em na porção intermediária da vogal, recebendo o rótulo [–antecipado] [–retardado]. O parâmetro [estendido] se refere ao número de sílabas abarcado pelo movimento, se este for positivo significa que o movimento abarca mais de uma sílaba; porém, se este for negativo, significa que o movimento ocorre em apenas uma sílaba. Como este parâmetro está diretamente ligado com a noção de declividade do movimento, um movimento [–estendido] pode ser denominado um movimento íngreme e um movimento [+estendido], um movimento gradual. O último parâmetro, que se refere ao nível do campo tonal, pode ser positivo [+ amplo] indicando que o movimento melódico cobre a extensão da linha de declinação mais baixa até a linha de declinação mais alta, possuindo uma excursão ampla; caso seja negativo [–amplo], o movimento é considerado normal na extensão do falante, que corresponde ao tamanho padrão da sua extensão. Ao todo foram discriminados 8 movimentos melódicos relevantes perceptivamente no PB com base nesse corpus, sendo 4 tipos de subidas e 4 tipos de quedas. Com base nesses parâmetros, os traços decompostos desses movimentos serão reunidos no seguinte quadro: 121 Mov. /1/ /2/ /3/ /4/ /A/ /B/ /C/ /D/ Ascendente + + + + - - - - Antecipado - - - - + + + + Tardio + + + + - - - - Estendido + - - + + - + - Amplo - - + + - + + - Traço Quadro 12 – Movimentos melódicos do PB e a sua composição de traços As subidas /1/ e /2/ possuem campo tonal parcial e se diferenciam pela extensão do movimento, em que /1/ é gradual [+ estendido] e /2/ é íngreme [– estendido]. As subidas /3/ e /4/ possuem campo tonal amplo e se distinguem pelo parâmetro extensão do movimento, já que em /3/ é íngreme [– estendido], e em /4/, é [+ estendido]. No tocante às quedas, o movimento descendente /A/ e /D/ possuem campo tonal parcial e se distinguem pela extensão do movimento, sendo /A/ [+ estendido] e /D/ [– estendido]. No caso de /B/ e /C/, esses movimentos possuem campo tonal amplo e se distinguem pela extensão do movimento; sendo /B/ [– estendido] e /C/ é [+ estendido]. 5.10 Configurações dos padrões melódicos do PB As configurações são movimentos melódicos combinados com outros que formam unidades maiores (‘t HART; COLLIER; COHEN, 1990: 154). De acordo com o modelo IPO, um contorno é a maior unidade descritiva no sistema entonacional; pois, ele é uma sequência de configurações. Nesta pesquisa, enunciados com extensão fixa de 6 sílabas compuseram o corpus, sendo assim é importante ressaltar que a descrição das configurações é uma primeira abordagem, que será aperfeiçoada em função do parâmetro da extensão do movimento, além de outras variáveis. A seguir serão especificados os movimentos melódicos e seus traços constitutivos que correspondem às configurações mais típicas dos contornos dos atos ilocutórios. 122 a) Asserção: /1A/ +asc. –asc. –antec. +antec. +tard. –tard. +estend. +estend. –amp. –amp. A asserção apresenta um movimento ascendente, com alinhamento da F0 na tônica inicial tardio, seguido de um movimento descendente com alinhamento na tantecipado. Além disso, ambos os movimentos são graduais, abarcando mais de uma sílaba, com excursão normal. b) Questão total: /2A/ /3&B/ +asc. –asc. +asc. –asc. –antec. +antec. –antec. +antec. +tard. –tard. +tard. –tard. –estend. +estend. –estend. –estend. –amp. –amp. +amp. +amp. Na questão total, o primeiro movimento ascendente íngreme possui alinhamento tardio e a excursão normal. O primeiro movimento descendente gradual é antecipado e também possui excursão normal. Já o movimento ascendente íngreme final apresenta o alinhamento tardio e excursão ampla e o último movimento descendente íngreme, um alinhamento antecipado e excursão ampla. No modelo IPO, o símbolo & indica que há um movimento complexo, isto é, dois movimentos melódicos que ocorrem na mesma sílaba. 123 c) Ordem: /1A/ +asc. –asc. –antec. –antec. +tard. +tard. +estend. –amp. +estend. –amp. A ordem, assim como a asserção recebeu a mesma configuração, apresentando um movimento ascendente inicial com alinhamento tardio e o movimento descendente final com alinhamento antecipado; ambos são graduais e possuem excursão normal. Apesar do contorno da ordem e da asserção serem os mesmos em enunciados com essa extensão de 6 sílabas, distinções entre esses dois contornos podem ser observadas em enunciados mais longos. Na asserção, observa-se com frequência um movimento ascendente sobre as sílabas postônicas anteriores à tônica final do enunciado, enquanto na ordem, o movimento sobre essas mesmas sílabas é descendente34. d) Desafio: /4C/ +asc. –asc. –antec. +antec. +tard. –tard. +estend. +estend. +amp. +amp. O desafio possui o movimento ascendente com alinhamento tardio e o movimento descendente com alinhamento antecipado; ambos os movimentos são graduais e possuem excursão ampla. Esse contorno se assemelha muito ao contorno da ordem, apresentando a diferença de seus movimentos possuírem excursão ampla, enquanto a ordem possui excursão normal. 34 MORAES, J.A, informação pessoal. 124 e) Pedido: /3*35A/ /2&A/ +asc. –asc. +asc. –asc. –antec. +antec. –antec. +antec. +tard. –tard. +tard. –tard. 0 estend +estend. +amp. –estend. +estend. –amp. –amp. +amp. O pedido apresenta o primeiro movimento ascendente com alinhamento tardio e com excursão ampla; no entanto, é importante ressaltar que o parâmetro da extensão do primeiro movimento ascendente pode ser [– estendido], mas também [+ estendido] com uma frase mais extensa do que a frase utilizada no corpus dessa pesquisa. Por isso, optamos por atribuir-lhe o traço [0 estendido], deixando-o, assim, não especificado quanto a esse traço. Já o primeiro movimento descendente gradual possui alinhamento antecipado e excursão ampla. O segundo movimento ascendente íngreme possui alinhamento tardio e excursão normal, e, o último movimento descendente gradual, um alinhamento antecipado e excursão normal. f) Sugestão: /A*/ /3&A/ 0 asc. +asc. –asc. 0 antec. –antec. +antec. 0 tard. +tard. –tard. +estend. +estend. +estend. +amp. +amp. –amp. 35 A subida 3 vem acompanhada de um asterisco (*) para indicar que apesar de ter sido feita a descrição do movimento de acordo com os traços binários com base no corpus dessa pesquisa, tais traços podem variar a depender da extensão do enunciado ou simplesmente ter sido observada variação em outros parâmetros do movimento. Esse comentário é valido para todos os demais movimentos que vierem com o símbolo do asterisco (*). 125 No início do contorno da sugestão, há variação quanto ao tipo de movimento que pode ser descendente ou plano, por isso os traços da direção do movimento e alinhamento não estão especificados; apenas os traços da extensão gradual e da excursão normal estão especificados. Em seguida, há um movimento ascendente íngreme com alinhamento tardio e excursão ampla, seguido de um movimento descendente gradual com alinhamento antecipado e excursão ampla. Por fim, é importante ressaltar que o pico da tônica final que está em um nível de referência alto no registro, juntamente com o alinhamento antecipado, é essencial para o reconhecimento do contorno. g) Questão parcial: /C*/ –asc. 0 antec. 0 tard. +estend. +amp. A questão parcial possui um movimento descendente gradual com alinhamento antecipado e excursão ampla. No entanto, na parte inicial desse contorno, pode ocorrer um platô sobre as sílabas iniciais ao invés do movimento descendente; por esse motivo, o parâmetro do alinhamento não está especificado. h) Exclamação: /C*/ /2&D/ 0 asc. +asc. –asc. 0 antec. –antec. +antec. 0 tard. +tard. –tard. +estend. –estend. –estend. –amp. –amp. +amp. 126 Nota-se que na exclamação, há variação quanto ao tipo de movimento que pode ocorrer no início do contorno como: o movimento ascendente, descendente ou um platô. Por isso, o traço direção do movimento e o traço do alinhamento não estão especificados36. Na parte final do contorno, há um movimento ascendente íngreme com alinhamento tardio e excursão normal, e, por fim, um movimento descendente íngreme com alinhamento antecipado e com excursão normal. 36 O movimento descendente no início do contorno da exclamação vem acompanhado de um asterisco (*) para indicar que essa classificação é provisória. 127 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a pesquisa realizada para esta dissertação, conclui-se que os movimentos melódicos do PB podem ser descritos segundo a abordagem do modelo IPO. Isso significa que o processo de estandardização dos movimentos melódicos resultou em um número limitado de movimentos relevantes perceptivamente capazes de formar os contornos melódicos que fazem parte do corpus desta dissertação. Dentre os achados dessa pesquisa, estão: Os 8 movimentos melódicos relevantes perceptivamente do PB se dividem em 4 movimentos ascendentes e 4 movimentos descendentes e se distinguem de acordo com os parâmetros acústicos propostos pelo modelo IPO (direção do movimento, alinhamento, extensão do movimento e campo tonal); Em termos de descrição acústica, a definição do valor do limite inferior e superior da linha de declinação no qual a F0 se move para cima e para baixo determina a extensão do registro modal do falante. Além disso, a padronização dos valores da excursão, duração e da taxa de mudança que classificam os movimentos melódicos em íngremes e graduais. Tais valores padronizados proporcionam um detalhamento fonético que classifica diferentes tipos de movimentos melódicos do PB. O fato de que a excursão de um movimento melódico atinge um nível de referência alto ou baixo dentro do registro modal do falante é um parâmetro relevante para a identificação do valor funcional de alguns contornos analisados nesse corpus. Em outras palavras, estabelecer esses limites de referência no registro é fundamental para a identidade dos padrões melódicos do PB. O alinhamento parece ser um parâmetro crucial na identificação do valor funcional dos contornos quando ele está associado a movimentos ascendentes íngremes que atingem seu pico em um nível de referência alto no registro. Como os contornos melódicos foram descritos por um conjunto de parâmetros acústicos propostos pelo modelo IPO, serão tecidos alguns comentários sobre os parâmetros que foram importantes para sua identificação e seu processo de estandardização, como: (i) Na asserção, todos os movimentos melódicos são graduais e o pico do movimento ascendente precisa atingir o limite superior dentro do nível de referência baixo no 128 registro. A variação nesse contorno ocorre em relação à sílaba que inicia o movimento descendente no final do contorno. (ii) No contorno melódico da questão total, houve a constatação de que as sílabas pretônicas e postônicas finais são importantes para a configuração do movimento ascendente final que é íngreme e possui excursão ampla, atingindo seu pico no limite superior do nível de referência baixo no registro. É possível haver variação nesse contorno em relação ao alinhamento na tônica final, que pode ser intermediário, tardio ou até mesmo antecipado. (iii) No contorno da ordem, o movimento ascendente gradual atinge seu pico na primeira sílaba tônica, que, por sua vez, está no limite superior do nível de referência baixo no registro. A variação desse contorno está concentrada no início do movimento descendente que pode ocorrer logo após o pico na tônica inicial ou depois de um platô. (iv) No contorno melódico do desafio, o movimento ascendente gradual inicial atinge seu pico na primeira sílaba tônica dentro do nível de referência alto no registro. A variação desse contorno está concentrada no início do movimento descendente que pode ocorrer logo após o pico na tônica inicial ou depois de um platô. (v) No contorno do pedido, o primeiro movimento ascendente possui excursão ampla, situando-se seu pico em um nível de referência alto no registro, enquanto o segundo movimento ascendente íngreme atinge seu pico no limite superior no nível de referência baixo no registro. A variação desse contorno está no alinhamento tanto da tônica inicial quanto da tônica final. (vi) No contorno melódico da sugestão, a combinação dos parâmetros do movimento ascendente íngreme com excursão ampla e do alinhamento antecipado na tônica final é responsável por sua caracterização. A variação desse contorno está no movimento inicial que pode ser descendente ou plano. (vii) No contorno da questão parcial, o movimento descendente sai do nível mais alto e atinge o nível mais baixo de referência no registro. A variação ocorre na parte inicial do contorno, onde pode haver um platô antes da queda. (viii) No contorno melódico da exclamação, o movimento ascendente íngreme que incide sobre a tônica final possui uma excursão normal e pode apresentar variação quanto a seu alinhamento que pode ser intermediário ou tardio. Além disso, a variação também ocorre 129 na parte inicial do contorno em relação à direção do movimento que pode ser ascendente, descendente ou um platô. No que se refere à descrição feita para o holandês, de que trata o trabalho seminal de ‘t Hart, Cohen e Collier (1990), algumas diferenças foram constatadas em comparação com os resultados encontrados nesse corpus do PB: A maioria dos movimentos melódicos descritos no PB se diferencia pelos parâmetros da excursão e extensão do movimento melódico. Apesar da maioria dos movimentos melódicos não ter seu valor funcional alterado pelo parâmetro do alinhamento, é possível notar que este pode ser considerado um parâmetro relevante perceptivamente, podendo indicar o valor funcional neutro de um contorno, ou seja, a depender do alinhamento, uma nuance expressiva pode ser adicionada ao enunciado. Com base nessas conclusões, a contribuição que essa pesquisa pode trazer para a descrição entonacional modal do PB é a identificação do valor funcional desses contornos melódicos por meio de uma abordagem perceptiva com um detalhamento fonético que contém: (i) a definição dos níveis de referência alto e baixo no registro modal do falante que permite classificar a excursão normal e ampla dos movimentos, (ii) a padronização dos valores de parâmetros acústicos, como a taxa de mudança, duração e excursão, que discriminam os movimentos melódicos. Além disso, o fato de se colocar a percepção dos ouvintes em foco permite que a descrição se volte para aspectos acústicos que são relevantes perceptivamente para o ouvinte. Em relação às perspectivas futuras, é preciso testar a tolerância dos valores padronizados propostos aqui nesta dissertação que estão classificando os movimentos melódicos como os limites de referência alto e baixo no registro modal, a taxa de mudança, a duração e a amplitude da excursão. Sendo assim, é importante delimitar quanto pode haver de variação os valores que foram padronizados, sem que isso afete a aceitabilidade dos movimentos. Além disso, para a continuação desse trabalho será crucial abordar a questão de como classificar níveis na extensão melódica do falante (pitch range), pois se percebe que essa característica fonética precisa ser discriminada por causa de suas implicações na identificação do valor funcional dos contornos. Ademais, a questão do alinhamento deverá ser melhor analisada, pois apesar do modelo IPO postular três possibilidades de alinhamento, no 130 corpus desta pesquisa, somente dois tipos de alinhamentos (antecipado, na porção inicial da sílaba e tardio, na porção final da sílaba) parecem necessários e suficientes para categorizar funcionalmente os contornos. Devido à limitação do tempo, outras possibilidades de experimentação não foram exploradas nessa pesquisa como: (i) a manipulação de alguns parâmetros que em certos contornos melódicos não foi realizada, por conta do número reduzido de estímulos criados nessa análise inicial; (ii) a transformação de um padrão melódico em outro padrão através da alteração de um ou mais parâmetros acústicos que classificam os movimentos melódicos; (iii) a exploração sistemática da esfera expressiva, presente em alguns contornos durante o processo de manipulação da curva melódica; (iv) a inclusão de novos atos de fala que, a princípio, não foram inseridos no conjunto de contornos, mas que surgiram no processo de estilização da curva melódica de alguns contornos como, o da asserção e o da questão total. Por fim, os resultados desse estudo corroboram, em vários aspectos, descrições feitas com base em outros modelos da entoação ou em trabalhos experimentais com padrões melódicos do PB, como, por exemplo, Moraes e Rilliard (2013), que mostraram que a diferença entre o contorno do desafio e o da ordem está no ataque mais alto do desafio; ou, em Moraes (2008), o fato dos contornos da questão parcial e exclamação se diferenciarem pela presença de um movimento ascendente-descendente que só ocorre na tônica final da exclamação; ou ainda o fato do alinhamento mais neutro da tônica final do pedido estar localizado na margem esquerda da tônica final, ao contrário do que acontece na questão total, cujo alinhamento se localiza em sua margem direita, segundo Moraes e Colamarco (2007). É certo que muito trabalho ainda precisa ser feito para se chegar a um inventário completo/gramática dos movimentos melódicos do PB, já que aqui levou-se em conta um grupo de contornos melódicos do PB com enunciados que tinham apenas um tamanho (6 sílabas), e, nos testes de percepção, foi utilizado só um dos quatro informantes. No entanto, a pesquisa aqui apresentada é apenas o começo desse processo de experimentação que tem por objetivo trazer evidências no nível fonético que possam compor um inventário dos padrões melódicos possíveis no PB e que, posteriormente, possam servir como base para a representação abstrata da realização do sinal acústico da fala, e que sejam perceptivamente aceitáveis pelo falante nativo do português brasileiro. 131 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUSTIN, J. (1962) Performativo-constativo. In: OTTONI, P. Visão performativa da linguagem. Campinas: Ed. Da UNICAMP, pp.109-144. BARBOSA, P. A. (2012) Panorama of experimental prosody research. 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(1990) A Perceptual Study of Intonation: An experimental-phonetic approach to speech melody. Cambridge: Cambridge University Press. 134 APÊNDICE A (i) Exemplo de instrução entregue aos ouvintes antes da aplicação do teste de percepção para o contorno da asserção: Você vai ouvir a frase Marina cantava dita como uma afirmação de 11 maneiras distintas e, em uma escala de cinco pontos, irá julgar: a) Até que ponto a frase é compreendida como uma afirmação normal (neutra)? Se para você a frase for neutra, assinale uma das opções: muito bom ou bom. b) Se você achar que ainda que se trate de uma asserção, ela não seja mais neutra, marque médio (o meio da escala). c) Caso a frase seja uma asserção estranha (não natural) ou que, na verdade, não pareça uma asserção por talvez se tratar de outro contorno, como por exemplo, uma pergunta, marque uma das opções: muito ruim ou ruim. Após ouvir duas vezes cada enunciado, marque sua resposta, e, em seguida, você passará a ouvir o próximo enunciado. 135 (ii) Exemplo de folha de resposta entregue aos informantes para marcar suas interpretações dos enunciados no teste de percepção: Nome:____________________________Idade:_______Escolaridade:________________ Marque um dos graus na escala abaixo para cada enunciado que você irá escutar: 1) 8) 2) 9) 3) 10) 4) 11) 5) 12) 6) 13) 7) 14) 136 APÊNDICE B – Medidas de F0 dos estímulos com melhor avaliação nos testes de percepção para a estandardização dos valores da excursão, duração e taxa de mudança Asserção Mov. (Estímulos) mel. ST1.1 ST1.2 ST1.4 ST3.1 Questão total ST1.2 Duração (ST) (s) Frequência final (Hz) (Hz) 1. 80Hz 130Hz 8.40 0.46 17.28 ST/s 2. 130Hz 74Hz -9.75 0.60 -20.03 ST/s 1. 84Hz 129Hz 7.42 0.31 24.73 ST/s 2. 129Hz 65Hz -11.78 0.74 -15.91 ST/s 1. 80Hz 130Hz 8.40 0.64 12.36 ST/s 2. 130Hz 74Hz -9.75 0.42 -28.80 ST/s 1. 60Hz 150Hz 15.86 0.45 33.54 ST/s 2. 150Hz 54Hz -17.68 0.61 -24.28 ST/s Mov. Frequência inicial Frequência final Excursão Duração Slope (ST) (s) (ST/s) (Hz) (Hz) 1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 21.08 ST/s 2. 124Hz 81Hz -7.37 0.39 -18.75 ST/s 3. 81Hz 148Hz 10.43 0.08 140.85 ST/s 4. 148Hz 70Hz -12.96 0.37 -36.80 ST/s 1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 21.08 ST/s 2. 124Hz 80Hz -7.56 0.38 -19 ST/s 3. 80Hz 148Hz 10.63 0.17 58.41 ST/s 4. 148Hz 70Hz -12.96 0.27 -45.38 ST/s 1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 21 ST/s mel. (Estímulos) ST1.1 Excursão Frequência inicial Taxa de mudança (ST/s) 137 2. 124Hz 80Hz -7.58 0.38 -19.10 ST/s 3. 80Hz 148Hz 10.65 0.25 40 ST/s 4. 148Hz 70Hz -12.96 0.20 -63.55 ST/s 1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 20.84 ST/s 2. 124Hz 60Hz -12.56 0.39 -31.27 ST/s 3. 60Hz 148Hz 15.63 0.21 61.69 ST/s 4. 148Hz 70Hz -12.96 0.22 -55.80 ST/s Ordem Mov. (Estímulos) mel. Frequência inicial Frequência final (Hz) (Hz) 1. 100Hz 2. ST1.3 ST3.1 Excursão Duração Slope (ST) (s) (ST/s) 131Hz 4.67 0.13 32.76 ST/s 131Hz 74Hz -9.88 0.65 -14.73 ST/s 1. 100Hz 131Hz 4.67 0.44 9.49 ST/s 2. 131Hz 74Hz -9.88 0.34 -26.66 ST/s ST2.2 1. 131Hz 74Hz -9.88 0.77 -12.40 ST/s ST 3.1 1. 80Hz 151Hz 10.99 0.13 75.15 ST/s 2. 151Hz 54Hz -17.80 0.65 -26.23 ST/s Desafio Mov. (Estímulo) mel. Frequência inicial Frequência final (Hz) (Hz) 1. 136Hz 2. 1. ST1.1 ST1.3 ST1.2 ST2.1 Excursão Duração Slope (ST) (s) (ST/s) 284Hz 12.74 0.23 48 ST/s 284Hz 30Hz -38.91 0.62 35.95 ST/s 136Hz 284Hz 12.74 0.24 47.26 ST/s 138 2. 284Hz 30Hz -38.91 0.39 -59.02 ST/s 1. 116Hz 304Hz 16.67 0.17 87.29 ST/s 2. 304Hz 25Hz -43.24 0.68 -34.63 ST/s 1. 163Hz 341Hz 12.79 0.18 66.94 ST/s 2. 341Hz 36Hz -38.95 0.67 -40.59 ST/s Pedido Mov. (Estímulos) mel. Frequência inicial Frequência final (Hz) (Hz) 1. 117Hz 2. ST3.1 ST4.1 ST 1.1 ST 1.2 ST1.4 ST 1.6 Excursão Duração Slope (ST) (s) (ST/s) 201Hz 9.36 0.14 64.23 ST/s 201Hz 66Hz -19.27 0.27 -47.96 ST/s 3. 66Hz 118Hz 10.05 0.18 18.72 ST/s 4. 118Hz 78Hz -7.16 0.36 -19.52 ST/s 1. 117Hz 201Hz 9.36 0.14 64.23 ST/s 2. 201Hz 66Hz -19.27 0.27 -52.84 ST/s 3. 66Hz 118Hz 10.05 0.24 20.26 ST/s 4. 118Hz 78Hz -7.16 0.31 -22.44 ST/s 1. 117Hz 201Hz 9.30 0.14 63.69 ST/s 2. 201Hz 66Hz -19.20 0.20 -60.15 ST/s 3. 66Hz 117Hz 9.92 0.28 10.53 ST/s 4. 117Hz 77Hz -7.15 0.32 -21.66 ST/s 1. 117Hz 201Hz 9.30 0.25 36.12 ST/s 2. 201Hz 66Hz -19.20 0.10 -133.88 ST/s 3. 66Hz 117Hz 9.92 0.28 10.28 ST/s 139 4. 117Hz 77Hz -7.15 0.32 -21.80 ST/s 1. 97Hz 221Hz 14.25 0.14 99.38 ST/s 2. 221Hz 50Hz -25.72 0.26 -60.65 ST/s 3. 50Hz 138Hz 17.57 0.24 32.37 ST/s 4. 138Hz 58Hz -15.00 0.31 -46.75 ST/s Sugestão Mov. Duração Slope mel. Frequência final Excursão (Estímulos) Frequência inicial (ST) (s) (ST/s) (Hz) (Hz) 1. 114Hz 98Hz -2.61 0.29 -7.67 ST/s 2. 98Hz 191Hz 11.55 0.26 43.87 ST/s 3. 191Hz 79Hz -15.28 0.36 -38.14 ST/s 1. 136Hz 117Hz -2.54 0.28 -8.53 ST/s 2. 117Hz 229Hz -11.50 0.25 46.74 ST/s 3. 229Hz 95Hz -15.17 0.36 -38.19 ST/s 1. 113Hz 98Hz -5.62 0.28 -7.57 ST/s 2. 98Hz 305Hz 19.63 0.26 79.87 ST/s 3. 305Hz 79Hz -23.31 0.36 -56.88 ST/s Mov. Frequência inicial Frequência final Excursão Duração Slope (ST) (s) (ST/s) (Hz) (Hz) ST3.1 ST1.1 ST 2.1 ST 3.3 Questão parcial mel. (Estímulos) ST1.2 1. 99Hz 70Hz -2.61 0.29 -32.64 ST/s ST 2.1 1. 300Hz 301Hz 0.06 0.07 -0.57 ST/s 2. 301Hz 73Hz -24.41 0.66 -36.23 ST/s 140 ST 2.2 ST 3.1 1. 300Hz 301Hz 0.06 0.17 -0.43 ST/s 2. 301Hz 74Hz -24.17 0.56 -41.62 ST/s 1. 340Hz 340Hz -0.005 0.09 -4.44 ST/s 2. 340Hz 233Hz -6.55 0.07 -81.00 ST/s 3. 233Hz 93Hz -15.90 0.44 -37.74 ST/s 4. 93Hz 73Hz -4.04 0.24 -16.04 ST/s Excursão Duração Slope (ST) (s) (ST/s) Exclamação Mov. (Estímulos) mel. ST 1.1 ST1.2 ST 1.5 ST 1.6 Frequência ini cial Frequência final (Hz) (Hz) 1. 131Hz 229Hz 9.66 0.44 21.65 ST/s 2. 229Hz 93Hz -15.60 0.17 -44.83 ST/s 3. 93Hz 117Hz 3.97 0.19 18.55 ST/s 4. 117Hz 69Hz -9.14 0.23 -65.04 ST/s 1. 229Hz 119Hz -11.33 0.70 2. 119Hz 177Hz 6.87 0.12 54.99 ST/s 3. 177Hz 69Hz -16.30 0.24 -65.04 ST/s 1. 229Hz 229Hz 0 0.18 2.56 ST/s 2. 229Hz 119Hz -11.33 0.54 -20.69 ST/s 3. 119Hz 177Hz 6.87 0.12 55.18 ST/s 4. 177Hz 69Hz -16.30 0.24 -65.04 ST/s 1. 229Hz 229Hz 0 0.29 2.32 ST/s 2. 229Hz 119Hz -11.33 0.41 -27.07 ST/s 3. 119Hz 177Hz 6.87 0.12 54.18 ST/s 4. 177Hz 69Hz -16.30 0.23 -65.00 ST/s -8.82 ST/s 141 ST 1.7 ST 2.3 ST 3.1 1. 229Hz 229Hz 0 0.46 0.88 ST/s 2. 229Hz 119Hz -11.33 0.25 -44.58 ST/s 3. 119Hz 177Hz 6.87 0.11 52.63 ST/s 4. 177Hz 69Hz -16.30 0.23 -65.95 ST/s 1. 196Hz 229Hz 2.69 0.46 5.64 ST/s 2. 229Hz 86.6Hz -16.83 0.10 -129.22 ST/s 3. 86Hz 177Hz 12.49 0.27 26.03 ST/s 4. 177Hz 69Hz -16.30 0.23 -65.34 ST/s 1. 171Hz 237Hz 5.65 0.14 44.25 ST/s 2. 237Hz 269Hz 2.19 0.30 7.23 ST/s 3. 269Hz 99Hz -17.30 0.28 -105.14 ST/s 4. 99Hz 157Hz 7.98 0.12 169.63 ST/s 5. 157Hz 49Hz -20.15 0.23 -68.04 ST/s 142 APÊNDICE C (i) P-valores obtidos no teste Mann-Whitney aplicado aos resultados do teste de percepção dos contornos da asserção, questão total, ordem, desafio e sugestão Asserção ST1.3 X ST1.2 ST1.3 X ST1.1 ST1.3 X ST1.4 ST1.3 X ST1.5 ST1.3 X ST2.1 ST1.3 X ST2.2 ST1.3 X ST3.1 ST1.3 X ST3.2 ST1.3 X Orig. ST1.3 X CC Orig X CC Q.total ST1.3 X ST1.1 ST1.3 X ST1.2 ST1.3 X ST2.1 ST1.3 X ST2.2 ST1.3 X ST3.1 ST1.3 X ST3.2 ST1.3 X ST4.1 ST1.3 X ST4.2 ST1.3 X ST5.1 ST1.3 X ST5.2 ST1.3 X ST6.1 ST1.3 X ST6.2 ST1.3 X Orig. ST1.3 X CC Orig X CC Ordem ST1.1 X ST1.2 ST1.1 X ST1.3 ST1.1 X ST1.4 ST1.1 X ST1.5 ST1.1 X ST2.1 ST1.1 X ST2.2 ST1.1 X ST3.1 ST1.1 X ST3.2 ST1.1 X Orig. ST1.1 X CC Orig X CC pH0 (Mann Whitney) 0,226635 0,000114 0,799033 0,000035 0,004498 0,011622 0,330611 0,003413 0,869638 0,584441 0,746473 pH0 (Mann Whitney) 0,720184 0,694256 0,784772 0,442191 0,181658 0,000030 0,003186 0,001192 0,050202 0,000001 0,656707 0,065574 0,730483 0,954045 0,784571 pH0 (Mann Whitney) 0,952829 0,716158 0,093759 0,000252 0,311776 0,000090 0,000820 0,896378 0,007547 0,779262 0,037352 Desafio ST1.1 X ST1.2 ST1.1 X ST1.3 ST1.1 X ST1.4 ST1.1 X ST1.5 ST1.1 X ST1.6 ST1.1 X ST2.1 ST1.1 X ST2.2 ST1.1 X ST3.1 ST1.1 X ST3.2 ST1.1 X ST4.1 ST1.1 X ST4.2 ST1.1 X Orig. ST1.1 X CC Orig X CC Pedido ST1.1 X ST1.2 ST1.1 X ST1.3 ST1.1 X ST1.4 ST1.1 X ST1.5 ST1.1 X ST2.1 ST1.1 X ST2.2 ST1.1 X ST3.1 ST1.1 X ST3.2 ST1.1 X ST4.1 ST1.1 X ST4.2 ST1.1 X Orig. ST1.1 X CC Orig X CC pH0 (Mann Whitney) 0,626718 0,000403 0,000035 0,002992 0,007379 0,599273 0,033878 0,572030 0,853732 0,371256 0,261729 0,703363 0,055723 0,102812 pH0 (Mann Whitney) 0,287399 0,176236 0,177264 0,014909 0,367493 0,000114 0,787264 0,218726 0,384221 0,931914 0,017934 0,000022 0,007755 LEGENDA DE CORES Verde - significante Amarelo - tendência forte Vermelho - tendência fraca 143 APÊNDICE C (ii) P-valores obtidos do teste Mann-Whitney aplicados aos resultados do teste de percepção dos contornos da sugestão, questão parcial e exclamação Sugestão ST1.1 X ST1.2 ST1.1 X ST1.3 ST1.1 X ST2.1 ST1.1 X ST2.2 ST1.1 X ST3.1 ST1.1 X ST3.2 ST1.1 X ST3.3 ST1.1 X ST3.4 ST1.1 X ST3.5 ST1.1 X Orig. ST1.1 X CC Orig X CC Q.P. ST1.1 X ST2.1 ST1.1 X ST2.2 ST1.1 X ST1.2 ST1.1 X ST1.3 ST1.1 X ST1.4 ST1.1 X ST1.5 ST1.1 X ST1.6 ST1.1 X ST3.1 ST1.1 X ST3.2 ST1.1 X Orig. ST1.1 X CC Orig X CC pH0 (Mann Whitney) 0,000060 0,004012 0,919107 0,000486 0,039455 0,006288 0,374041 0,034545 0,000022 0,086420 0,049100 0,536880 pH0 (Mann Whitney) 0,150972 0,359590 0,540726 0,006534 0,000160 0,000005 0,000002 0,027150 0,000351 0,753385 0,213906 0,101032 Exclamação ST1.1 X ST1.2 ST1.1 X ST1.3 ST1.1 X ST1.4 ST1.1 X ST1.5 ST1.1 X ST1.6 ST1.1 X ST1.7 ST1.1 X ST1.8 ST1.1 X ST1.9 ST1.1 X ST2.1 ST1.1 X ST2.2 ST1.1 X ST3.1 ST1.1 X ST3.2 ST1.1 X ST4.1 ST1.1 X Orig. ST1.1 X CC Orig X CC CC X ST3.1 pH0 (Mann Whitney) 0,931098 0,000729 0,144286 0,407643 0,346711 0,104071 0,000049 0,000002 0,000032 0,033530 0,676500 0,000075 0,000015 0,398186 0,197582 0,764891 0,659725 CC X ST3.2 0,000007 144