1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ABIDIAS FREIRIA TEIXEIRA TRANS MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO DA PRIMEIRA RÁDIO MISSIONÁRIA DO BRASIL SÃO PAULO 2010 2 ABIDIAS FREIRIA TEIXEIRA TRANS MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO DA PRIMEIRA RÁDIO MISSIONÁRIA DO BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião. ORIENTADOR: Prof. Dr. Ricardo Bitun SÃO PAULO 2010 3 T266t Teixeira, Abidias Freiria Trans Mundial : um estudo de caso da primeira rádio missionária do Brasil / Abidias Freiria Teixeira – 2010. 136 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010. Bibliografia: f. 130-135 1. Rádio 2. Religião 3. Missões 4. Mídia 5. Protestantismo I. Título LC BX4836.B6 CDD 261.52 4 ABIDIAS FREIRIA TEIXEIRA TRANS MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO DA PRIMEIRA RÁDIO MISSIONÁRIA DO BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião. Aprovado em ___/____/____. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Ricardo Bitun - Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca Universidade Federal do Rio de Janeiro 5 A Deus, sustentador da minha vida. À minha esposa Alcione Lopes Freiria Teixeira, o incentivo e paciência para com esse período intenso de estudos. A meus filhos, Henrique e Jônatas pelo apoio nos momentos mais difíceis da pesquisa. 6 AGRADECIMENTOS A Universidade Presbiteriana Mackenzie, pela oportunidade desta especialização e pela bolsa de estudos que me foi concedida. Ao meu orientador, Prof. Dr. Ricardo Bitun, pelas repetidas palavras de estímulo. Ao secretário executivo da Rádio Trans Mundial, José Carlos dos Santos, que colocou em minhas mãos os documentos necessários para que esta pesquisa fosse possível. Ao Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes, de quem recebi o primeiro incentivo para contar a história da Rádio Trans Mundial. Ao Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro, por suas análises e contribuições. Ao Prof. Dr. Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca, pelas sugestões feitas durante a qualificação. Ao Conselho da Igreja Presbiteriana de Vila Bonilha, o tempo cedido para os estudos. A todos meus sinceros agradecimentos. 7 RESUMO O objetivo desta pesquisa está diretamente relacionado com a mídia evangélica brasileira, produzida pela empresa Rádio Trans Mundial. Trata-se de um estudo de caso sobre a produção midiática protestante histórica, porém, não denominacional. A partir das transformações culturais produzidas pelo Renascimento e invenção da imprensa, analisaremos o processo de desenvolvimento da comunicação humana até o surgimento do rádio e sua utilização como meio de comunicação religiosa para longas distâncias por instituições missionárias. A pesquisa tem o foco histórico-cultural em aspecto geral, se propõe a analisar o papel da mídia no campo religioso brasileiro e sua eficácia em delimitar identidades culturais evangélicas. Em seguida, faremos um levantamento historiográfico da Rádio Trans Mundial, sua origem internacional, sua implantação no Brasil e sua contribuição no campo religioso. A pesquisa também proporcionará o resgate histórico-cultural, a partir do depoimento dos ouvintes que receberam a influência da Rádio Trans Mundial, mostrando que suas transmissões e o contato com os ouvintes contribuíram para o fortalecimento das referências ideológicas e culturais do protestantismo brasileiro. Palavras-chave: rádio, religião, missões, historia, mídia, Protestantismo. ABSTRACT The aim of this thesis is directly related to the Brazilian evangelical media produced by Trans World Radio. This is a case study of a mainline Protestant nondenominational media production. Starting from the cultural changes produced by Renaissance and the invention of the press, it will look into the development process of human communications to the rise of radio and its use as a medium to communicate to long distances by religious 8 missionary institutions. The research has a focus on cultural history, and its purpose is to analyze the role of media in the Brazilian religious field and its effectiveness in defining evangelical cultural identities. Subsequently we will make a historical survey of Trans World Radio, his international origins, his implementation in Brazil and his contribution to the Brazilian religious field. The research also will provide a historical and cultural rescue, based on reports from listeners who received the influence of Trans World Radio, showing how their broadcasts and contact with listeners contributed to the strengthening of ideological and cultural references of Brazilian Protestantism. Key-words: radio, religion, missions, history, media, Protestantism . 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 10 CAPÍTULO 1 OS CÉUS ESTÃO ABERTOS: RAÍZES HISTÓRICAS DA RÁDIO TRANS MUNDIAL NO BRASIL.............................................................................................18 1.1 O Renascimento no Século XVI ...................................................................................... 20 1.2 O Renascimento e o Nascimento da Imprensa .................................................................. 22 1.3 A Modernidade e a Secularização ..................................................................................... 26 1.4 O Nascimento do Rádio .................................................................................................... 28 1.5 Primeira Transmissão Radiofônica Comercial .................................................................. 30 1.6 A Primeira Rádio Brasileira .............................................................................................. 31 1.7 As Rádios Missionárias ..................................................................................................... 36 1.7.1 HJBC (World Radio Missionary Fellowship) – A Voz dos Andes ................................ 40 1.7.2 Far East Broadcasting Company (Companhia de Radiofusão do Oriente) .................... 41 1.7.3 Trans World Rádio – Rádio Trans Mundial ................................................................... 42 CAPÍTULO 2 EM CÉU BRASILEIRO: O DESENVOLVIMENTO DA RÁDIO TRANS MUNDIAL NO BRASIL................................................................................55 2.1. Das Primeiras Transmissões ao Estabelecimento da Rádio Trans Mundial no Brasil ..... 59 2.2. Edmund Spieker e a Organização da Rádio Trans Mundial no Brasil ............................. 61 2.3 Os Primeiros Anos da RTM-B: Fase de Instalação da Infra Estrutura da Rádio .............. 69 2.4 Os Primeiros Anos da RTM-B: O Capital Humano .......................................................... 70 2.5 Consolidação da RTM-B................................................................................................... 72 2.6 Fase de Expansão da RTM-B ............................................................................................ 74 2.7 O Perfil dos Ouvintes da RTM-B ................................................................................... ...78 2.8 Programação e Conteúdo...................................................................................................88 CAPÍTULO 3 ONDAS AO CÉU E PRODUTO NA TERRA: A RTM E A PRODUÇÃO DE BENS SIMBÓLICOS..........................................................................................................96 3.1 Conectando a Nação Religiosa: Emissoras Afiliadas da RTM-B.....................................105 3.1.1 Parceria com a Rádio Nova Difusora de Osasco............................................................106 3.1.2 Emissora Afiliadas em Rede com a RTM-B...................................………...……..….108 10 3.1.3 Entrevista com José Carlos dos Santos: Atual Secretário Executivo da RTM-B..........112 3.2 Linha Editorial e Outros Produtos: Andando com os Próprios Pés..................................114 3.2.1 O Pão Diário ................................................................................................................. 115 3.3 Atuações de Desdobramentos da RTM-B. ...................................................................... 119 3.3.1 Línguas Indígenas: Projeto Ticunas. ............................................................................ 122 3.3.2 Capelania Escolar ......................................................................................................... 123 3.3.3 Projeto Ana................................................................................................................... 124 3.3.4 Projeto Antenas e Projeto Ceifa Sul: Plantação de Igrejas ........................................... 123 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 126 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 130 ANEXO - CD contendo programas históricos da RTM ................................................... 136 11 INTRODUÇÃO A Rádio Trans Mundial surgiu no cenário midiático internacional de forma bem tímida e, em menos de quarenta anos, se tornou uma das principais emissoras missionárias operando em âmbito mundial. Fundada pelo missionário americano Paul Ernest Freed, iniciou suas transmissões em 1953, em Tânger, Marrocos, no extremo Norte da África, cidade separada da Espanha e do continente europeu por apenas 14 km. Denominada “A Voz do Tanger”, nome sugestivo, pela característica “oral” do meio de transmissão da mensagem – o rádio, e inspirado em outras rádios internacionais, cuja “voz” atravessava continentes por meio das ondas sonoras de rádio1. O objetivo inicial de Paul Freed era evangelizar a Espanha, país de maioria Católica Romana e, segundo ele, negligenciado pelo movimento missionário protestante2 moderno. A utilização do rádio permitiria atingir grandes distâncias, sobrepondo barreiras políticas, ideológicas, religiosas, num período histórico marcado por inúmeras restrições, conhecido como Guerra Fria. Transmitindo primeiramente em inglês e espanhol, não demorou muito para que outros países no continente europeu e africano fossem alcançados pelas transmissões a partir de Tânger, desafiando Paul Freed a ampliar sua visão missionária para outras nações, além da Espanha. Diante da impossibilidade política de continuar em Marrocos, a Voz do Tânger foi transferida para Monte Carlo, capital do Principado de Mônaco, Sul da França, mudando seu nome para “Trans World Radio” – Rádio Trans Mundial -, deixando clara a abrangência mundial pretendida a partir daquele momento. No Brasil, as primeiras transmissões da Rádio Trans Mundial aconteceram em 1964, através da nova estação transmissora na Ilha de Bonaire, Antilhas Holandesas, próxima à costa da Venezuela, utilizando transmissores super potentes, com capacidade de atingir todo o país. Seu impacto foi positivo, visto que o rádio era o meio de 1 A rádio Voz da América foi ao ar em 1942, financiada pelo governo dos EUA. Ainda está em operação e possui uma audiência estimada em 125 milhões de pessoas. < http://www.voanews.com >, acesso em 23 de novembro de 2010. 2 Protestantismo. Um dos três ramos do cristianismo, sua história está intimamente vinculada à Reforma. O protestantismo nasceu no século XVI com Martinho Lutero (1483-1546). O nome “protestante” foi pela primeira vez pronunciado em 1529 quando os luteranos protestaram contra as resoluções da Assembléia de Spira e posteriormente caracterizou os adeptos deste movimento nos lugares por onde propagou sua mensagem (AZEVEDO, 1999,p.368) 12 comunicação mais popular e difundido neste período, e, em muitos lugares, a única maneira de entrar contato com o mundo exterior. A Rádio Trans Mundial em Bonaire transmitia para o Brasil em português e também em alemão, com o objetivo de alcançar a expressiva colônia alemã radicada no Sul do país. Após cinco anos de transmissões contínuas para o Brasil, curiosamente partiu dos emigrantes alemães, em São Paulo, a iniciativa de organizar uma Rádio Trans Mundial brasileira, o que aconteceu em 1970. Da comunidade evangélica alemã brasileira vieram as primeiras lideranças nacionais da rádio, o apoio na infra estrutura e o suporte financeiro, que ainda hoje, 40 anos depois, responde por boa parte do sustento da emissora. No Brasil, a Rádio Trans Mundial seguiria os mesmos princípios administrativos e ideológicos de sua sede, o de ser uma rádio missionária, sustentada com recursos dos fieis e suas igrejas, sem vinculação denominacional e sem natureza comercial. Ao longo de quarenta anos, a Rádio Trans Mundial foi se adaptando às transformações tecnológicas, religiosas, culturais e políticas brasileiras, inovando sua grade de programação, investindo na produção editorial, em projetos sociais, contribuindo para a construção da história cultural religiosa brasileira. Objetivo O objetivo desta pesquisa está diretamente relacionado com a mídia evangélica3 brasileira, produzida pela empresa Rádio Trans Mundial. Trata-se de um estudo de caso sobre a produção midiática protestante histórica4, porém, não denominacional. Tendo 3 Denominamos evangélicos todos os grupos de origem protestante anglo-saxã que se instalaram no Brasil entre o início do século XIX (anglicanos, episcopais, presbiterianos, metodistas, batistas, congregacionalistas, adventistas) e as primeiras décadas do século XX (pentecostais em geral Assembléia de Deus, Congregação Cristã, Igreja do Evangelho Quadrangular, entre muitas outras), e seus desdobramentos nacionais ao longo de todo o século XX e início do século XXI. (BELLOTTI, 2009) 4 Por protestantismo histórico se entende todas as denominações clássicas do protestantismo que no século XIX foram implantadas no Brasil até o final do Império. Presbiterianos, metodistas, batistas, episcopais, anglicanos e luteranos são os principais ramos do protestantismo histórico. (MENDONÇA, 1995). 13 em perspectiva as transformações culturais produzidas pelo Renascimento e invenção da imprensa, analisaremos o processo de desenvolvimento da comunicação humana até o surgimento do rádio e sua utilização como meio de comunicação religiosa para longas distâncias por instituições missionárias. Na continuação, faremos um levantamento historiográfico da Rádio Trans Mundial, sua origem internacional, sua implantação no Brasil e sua contribuição no campo religioso. Justificativa O surgimento do rádio e seu poder para dizer tudo a todos, atraiu muito cedo a atenção de líderes evangélicos americanos e, posteriormente, de outras partes do mundo, inclusive no Brasil. No contexto brasileiro, principalmente nas duas últimas décadas do século XX, a ascensão das programações religiosas evangélicas, no rádio e na televisão, “tem chamado a atenção de pesquisadores, estudiosos da mídia, assim como da própria mídia não religiosa” (FONTELES, 2010, p. 3). Uma parte significativa destas pesquisas está voltada para analisar o fenômeno do crescimento das denominações pentecostais e neopentecostais, a utilização ostensiva que fizeram dos meios de comunicação de massa, especialmente o rádio e a televisão, por serem os segmentos religiosos que melhor se adaptaram e se destacaram no uso desses meios de comunicação de massa. O que atraiu a atenção para a Rádio Trans Mundial, foi sua abrangência internacional; o fato de não estar historicamente ligada ao movimento pentecostal, mas às igrejas de tradição histórica e cultural reformada; sua origem, com finalidade missionária; sua aceitação dentro de um protestantismo brasileiro fragmentado por diferentes tendências teológicas; a ausência de um registro historiográfico mais detalhado de sua presença e atuação no campo religioso brasileiro por quatro décadas. De natureza interdenominacional, contribuiu para um diálogo com os variados segmentos denominacionais que foram desafiados a ver a relevância da rádio como agência missionária singular, fazendo o papel de um agente multiplicador em território nacional, com abrangência maior do que uma comunidade religiosa poderia alcançar. 14 A pesquisa também proporcionará o resgate histórico-cultural, a partir do depoimento dos ouvintes que receberam a influência da Rádio Trans Mundial, mostrando que suas transmissões e o contato com os ouvintes contribuíram para o fortalecimento das referências ideológicas e culturais do protestantismo brasileiro. Com uma programação, não restrita ao discurso religioso e conversionista, com abordagem de temas seculares e de interesse geral, contribuiu para inserção cultural e política de seus ouvintes, bem como para a superação do preconceito dos meios de contato com o sagrado. A pesquisa também contemplará os efeitos das rápidas transformações ocorridas no campo das comunicações, a partir da virada do milênio, principalmente a interligação do território nacional, via satélite, o que tornou as transmissões em OC (ondas curtas), freqüência utilizada pela Trans Mundial, menos relevante, obrigando-a a buscar parcerias com emissoras mais regionalizadas, com transmissões nas freqüências AM e FM, mais utilizadas pelos ouvintes, visando resgatar sua visibilidade e justificar sua relevância missionária. Alinhando-se aos novos tempos, assimilou rapidamente as novas tecnologias de comunicação disponível, como a transmissão via-satélite e pela internet, buscando instantaneidade de transmissão e acessibilidade de qualquer lugar do planeta. Também assumiu um caráter mais empresarial, redefinindo o conceito de “missão de fé”, sustentada por ofertas voluntárias, passando a priorizar a produção de bens simbólicos religiosos, marcando presença mais destacada no mercado consumidor evangélico, seguindo as tendências mercadológicas dos novos tempos. Referências Teóricas A pesquisa tem o foco histórico-cultural em aspecto geral, se propõe a analisar o papel da mídia no campo religioso brasileiro e sua eficácia em “delimitar identidades culturais evangélicas” (BELLOTTI, 2009, p. 207). Podemos contar com a contribuição de Peter Burke, para quem qualquer pesquisa no campo da comunicação e dos estudos culturais deve levar em consideração a própria história do desenvolvimento da tecnologia da comunicação. Burke entende que a mídia deve ser vista como um sistema em contínua mudança, onde diversos 15 fatores desempenham papeis de maior ou menor destaque. Para Burke, “As reações dos diferentes grupos de pessoas sobre o que ouvem, vêem ou lêem exige estudo permanente” (2006, p. 15). Para Burke o principal objetivo do historiador cultural deve ser o de retratar padrões de cultura, ou seja, descrever os pensamentos e sentimentos característicos de uma época e suas expressões ou incorporações manifestas em suas produções culturais. Determinadas idéias ou influências de uma época não podem ser desvinculadas daqueles que a vivenciaram e estiveram sob sua influência. A Rádio Trans Mundial, como a pesquisa procurará demonstrar, é, ela própria, resultado de influências ideológicas e teológicas de uma época, pós Segunda Guerra, marcada por um sentimento de urgência em relação ao trabalho missionário mundial e pela abertura para novas tecnologias que poderiam viabilizar esse objetivo. A tecnologia ligada à comunicação pelo rádio foi recebida como a resposta para o cumprimento da missão de evangelizar o maior número de pessoas, no menor espaço de tempo possível, visto que poderia separar corpo e mensagem, ou seja, a presença física da comunicação. A utilização do rádio não foi uma descoberta, mas uma conseqüência natural da cultura radiofônica em auge no mundo pós-guerra. Ao mesmo tempo, no contexto brasileiro, na perspectiva do impacto cultural causado nos ouvintes, reflete também uma época em que o rádio, principalmente na freqüência de ondas curtas, conseguia alcançar e influenciar inúmeras comunidades isoladas, levando cultura, informação, valores morais e espirituais, além de atenuar a sensação de abandono e isolamento. No caso dos ouvintes da Rádio Trans Mundial é possível destacar dos depoimentos escritos a influência marcante na história pessoal e familiar de muitos deles. Também, do mesmo autor, o livro A Escola dos Annales (1929 – 1989). A Revolução Francesa da Historiografia (1997), onde critica o modelo rankeano, em que a história é apresentada apenas na perspectiva dos heróis - a perspectiva memoralista, com a consequente marginalização da história cultural. Poderíamos também chamar este paradigma [história rankeana] de a visão do senso comum da história, não para enaltecê-lo, mas para assinalar que ele tem sido com freqüência – com muita freqüência – considerado a maneira de se fazer história, ao invés de ser percebido como uma dentre as várias abordagens possíveis do passado. 16 A história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de quem tem sempre se concentrado nos grandes feitos dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos. Ao resto da humanidade foi destinado um papel secundário no drama da história. [...] Vários novos historiadores estão preocupados com a história vista de baixo; em outras palavras, com opiniões de pessoas comuns e com sua experiência da mudança social (BURKE, 1992, pp.10, 12,13). No cenário midiático da atualidade, dominado por grandes corporações ou mesmo denominações religiosas, é importante estudar a história da perspectiva de uma rádio com as características da Trans Mundial. O registro historiográfico tem esse objetivo, qual seja, trazer à luz a contribuição de uma emissora de rádio religiosa, de escopo missionário, não comercial, não denominacional, presente em vários países, mas com menor visibilidade midiática, ou mesmo desconhecida por grandes contingentes populacionais. Na mesma perspectiva da história cultural, a dissertação de Karina Bellotti, Uma Luz Para o Seu Caminho: A Mídia Presbiteriana no Brasil no Caso de “Luz Para o Caminho” (1976-2001) traz uma contribuição importante pela análise da mídia evangélica ligada ao protestantismo histórico. Bellotti afirma que “tudo o que é produzido no âmbito dos meios de comunicação possui sentido histórico” (2003, p. 16). Ainda que o foco de suas pesquisas seja as representações do sagrado na literatura, esse mesmo conceito sociológico contribui para entender o conteúdo das transmissões da Rádio Trans Mundial, sua forma de ver e exprimir o mundo e os efeitos da recepção da mensagem sobre os ouvintes, na forma como impõe coletivamente tais representações religiosos definindo sua forma de agir e de pensar. Os diversos grupos cristãos evangélicos que produziram mídia no Brasil, visavam moldar a cultura brasileira utilizando os novos meios, a fim de tornar o cristianismo evangélico predominante na cultura brasileira (BELLOTTI, 2009, p. 274). Karina Bellotti analisa a circulação de bens culturais evangélicos por meio da mídia e o decorrente mercado consumidor em franco crescimento no Brasil, afirmando que “por meio do mercado de bens cristãos, a mídia evangélica possibilita meios de 17 expressão para diversos grupos culturais” (BELLOTTI, 2009, p. 303) além de contribuir para a cultura transdenomincional tão evidente hoje no protestantismo brasileiro. Joana Puntel, escrevendo sobre cultura midiática e igreja, destaca as várias abordagens de cultura na atualidade, principalmente a abordagem antropológica, onde a cultura é vista como o comportamento mediado por símbolos. A partir desta perspectiva analisa os meios de comunicação de massa, onde a “produção e a circulação de formas simbólicas passaram a ser cada vez mais mediadas pelos mecanismos de comunicação de massa das instituições” (PUNTEL, 2005, pp. 46, 47). A transmissão cultural, dentro desta abordagem, “é o processo pelo qual as formas simbólicas são transmitidas dos produtores aos receptores” (PUNTEL, 2005, p. 47) e em como o ouvinte, no caso do rádio, apropria-se do conteúdo da mensagem e torna aquele conteúdo significativo para sua vida, interpretando sua vida a partir daquelas referências simbólicas recebidas. “Neste contexto a comunicação de massa transforma-se em produção e transmissão de formas simbólicas. É uma grande e profunda mudança na sociedade, porque a comunicação de massa, como forma simbólica, começa a mediar a cultura moderna.” (PUNTEL, 2005, p. 113, grifo do autor). Como fonte primária, a pesquisa se beneficiará do registro histórico na obra Towers to Eternity (Torres para a Eternidade), autobiografia de Paul Freed, fundador da Rádio Trans Mundial, em que relata sua infância, como filho de missionários, sua formação acadêmica, bem como as influências que foram decisivas na escolha do país e do meio de transmissão da mensagem religiosa, o rádio. No contexto histórico brasileiro, utilizaremos o depoimento de primeira mão, não editado, cujo título é: Os Céus Estão Abertos, escrito em 1982 por Edmund Spieker, que assumiu a responsabilidade pela fundação da Rádio Trans Mundial no Brasil. Os detalhes históricos, os primeiros dados estatísticos sobre a abrangência da audiência da rádio foram documentados por ele nesta obra. Outra contribuição importante, na linha acadêmica, é o da historiadora Ruth A. Tucker, em “...Até aos Confins da Terra.” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs (1986), em que dedica um capítulo para descrever as primeiras iniciativas evangélicas na utilização do rádio. 18 Metodologia O método empregado nesta dissertação será histórico, pois as informações nela contidas estarão baseadas em depoimentos registrados em diversas fontes bibliográficas e testemunhais, seguindo as seguintes etapas: Pesquisa bibliográfica e documental. As investigações bibliográficas foram realizadas a partir de materiais escritos sobre meios de comunicação com ênfase em radiofusão, especialmente os depoimentos de primeira mão de Paul Freed e Edmund Spieker, diretamente relacionados com a origem da Rádio Trans Mundial.Foram realizadas algumas entrevistas com personagens que conheceram pessoalmente o fundador da Trans World Radio – Rádio Trans Mundial – internacional e com os que conviveram com Edmund Spieker, o primeiro missionário de tempo integral a serviço da Rádio Trans Mundial, responsável pela implantação da rádio no Brasil. 19 CAPÍTULO 1 - OS CÉUS ESTÃO ABERTOS: RAÍZES HISTÓRICAS DA RÁDIO TRANS MUNDIAL A invenção do rádio e sua capacidade extraordinária de transmissão do discurso para longas distâncias revolucionaram o cenário da comunicação mundial a partir do final da década de 1920. Em 1927, a BBC5 de Londres tornou-se pioneira ao inaugurar sua primeira estação experimental visando comunicar-se em inglês, por ondas curtas de rádio, com os seus cidadãos espalhados por diversas partes do Império Britânico. Em 1938 a BBC já produzia programas em diversos idiomas e se firmava no cenário internacional pelos relevantes serviços que prestava na área da comunicação. Outros países logo seguiram os passos da BBC, igualmente interessados na radiofusão internacional. As transmissões internacionais pelo rádio em ondas curtas, por décadas foram utilizadas na transmissão de pronunciamentos oficiais de governantes, na promoção da cultura, dos interesses comerciais, da educação, do entretenimento e do turismo por parte dos países que a utilizavam. A utilização deste recurso de comunicação permitia estabelecer contato com pessoas expatriadas ou no mar, com os militares em bases distantes, para reforçar os laços culturais com outras nações, ou mesmo, para a satisfação do orgulho nacional. O rádio também era um valioso instrumento de comunicação em tempos de crise. Alguns missionários, dentre eles, Clarence Jones, logo perceberam o potencial que a transmissão por ondas curtas de rádio teria na comunicação do evangelho para grandes distâncias, transpondo, sem qualquer resistência, barreiras geográficas, culturais, lingüísticas, políticas e ideológicas. Afinal de contas, os céus estavam abertos. Uma emissora de rádio, utilizando esta tecnologia de comunicação, poderia fornecer “ao vivo” a presença de missionários em regiões que estes não poderiam exercer o seu trabalho regular, além de alcançar uma ampla maioria de ouvintes não letrados em diversas partes do mundo. A união do meio de transmissão - o rádio, com o livro sagrado – a Bíblia, somadas ao zelo missionário americano, presente na primeira 5 British Broadcasting Corporation. Neste ano, acordos governamentais estipulavam “que a BBC deveria fornecer informação, entretenimento e educação. [...] Ela deve levar para o maior número possível de lares, o que de melhor houver em cada setor de conhecimento, esforço e realização humanos (BRIGGS;BURKE, 2006, pp. 219,220). 20 metade do século XX, fez dos Estados Unidos da América um líder no campo da radiofusão do protestantismo evangélico. A historiadora Ruth A. Tucker, afirma que no final da década de 1920, Cristãos perspicazes perceberam o potencial desse novo meio de divulgação do evangelho. Paul Rader em Chicago, R.R. Brown em Omaha, e Charles E. Fuller em Santa Ana, Califórnia, foram todos pioneiros no campo de radiofusão cristã. À medida que esses divulgadores cristãos abriram novos horizontes na América, outros cristãos de visão ampla começaram a sonhar com a possibilidade do impacto do rádio no campo missionário no exterior (TUCKER, 1986, p. 402). A Rádio Trans Mundial surgiu dentro deste contexto histórico de expansão e consolidação da radiofusão internacional por ondas curtas de rádio. Em todos os lugares ao redor do mundo, pessoas buscavam por meio do rádio, ampliar seus conhecimentos do mundo, de outras culturas e línguas – ou mesmo receber informações políticas mais confiáveis do que as de seu próprio país. O rádio era uma forma de conectar-se com o mundo, com a informação, com o conhecimento; uma forma de ir além de suas próprias fronteiras culturais e políticas e se abrir para novos conhecimentos. Paul Freed, fundador da Trans Mundial, via na tecnologia do rádio, o meio mais eficaz para proclamar a mensagem cristã reformada para o maior de número de pessoas, no menor tempo possível. Esse ímpeto expansionista e, porque não dizer, ideológico, ficaria marcado na própria identidade da rádio, quando se firmou no cenário da rediofusão evangélica internacional com o nome: Trans World Radio – Telling the World of Redemption, que traduzido é: “Contando ao Mundo sobre a Redenção”. Não podemos entender as mudanças na tecnologia da informação e comunicação, sem uma análise do panorama que acolheu este fato, pois eles aconteceram num cenário de intensas transformações na área da comunicação a partir da imprensa de Gutenberg, em pleno Renascimento Cultural, movimento intelectual que lançou os fundamentos teóricos da modernidade. Gerson Leite de Moraes, pesquisador na área da mídia, observou que “O processo de desenvolvimento da imprensa permite afirmar que a modernidade nasceu sob a égide da comunicação” (2008, p. 21). 21 Partindo do Renascimento, movimento de redescoberta das potencialidades do homem, e da invenção da imprensa, este capítulo mostrará o desenvolvimento dos meios de comunicação, hoje denominados de “mass media”6, ou seja, meios de comunicação de massa, até a invenção do Rádio e a possibilidade de transmissão da informação, em tempo real, para longas distâncias. 1.1 O Renascimento no Século XVI. O Renascimento foi um período histórico marcado por um encadeamento de transformações e mudanças econômicas, sociais, políticas, religiosas, artísticas, morais e literárias. Teve início em Florença, na Itália, no fim do século XIV e propagou-se por toda a Europa entre os séculos XV e XVI, mais intensamente e rapidamente em algumas regiões do que em outras. Intelectuais desse período, cansados da escolástica aristotélica, começam a buscar uma nova inspiração artística e literária a partir dos clássicos da antiguidade grega e latina. Dos escritos de Petrarca, do humanismo de Erasmo, da Reforma de Lutero, até o despertar científico, político e filosófico dos iluministas, o que se vê é uma virada radical e sem precedentes, até então, na forma do homem ver a si mesmo, a natureza, a religião, e a política. Citando Burckhardt, Reali & Antisteri, escrevem que O Renascimento emergia como fenômeno tipicamente italiano quanto às suas origens, caracterizado pelo individualismo prático e teórico, pela exaltação da vida mundana, pelo acentuado sensualismo, pela mundanização da religião, pela tendência paganizante, pela libertação em relação às autoridades constituídas que haviam dominado a vida espiritual no passado, pelo forte sentido de história, pelo naturalismo filosófico e pelo extraordinário gosto artístico. [...] Seria, portanto, uma época que viu surgir uma nova cultura, oposta à medieval (REALE; ANTISERI, 1990, p. 25). O termo “renascimento” foi usado primeiramente nas artes, referindo-se a uma arte mais requintada em relação à arte medieval e foi utilizado pelos próprios homens da 6 Mass media. Meios de comunicação de massa que atingem uma gama vastíssima de pessoas (MORAES, 2008, p.19). 22 Renascença para se autodenominarem, deixando claro que queriam distanciar-se daquilo que definiam como fantasias medievais a fim de buscar um novo modelo cultural nos escritores da Antiguidade Clássica. Se na Idade Média, a palavra “renascimento” possuía uma conotação teológica de transformação espiritual do homem, no “Renascimento” irá adquirir o sentido secular de “re-forma” do homem e do seu mundo por meio da renovação de sua capacidade e poderes. Talvez o traço mais característico desse período seja o humanismo [...]. O Renascimento, fiel à sua valorização dos clássicos, foi buscar o lema do humanismo no filósofo grego da sofística, Protágoras, em seu célebre fragmento: “O homem é a medida de todas as coisas”. Este lema marca de forma decisiva a ruptura com o período medieval, com sua visão fortemente hierárquica de mundo, com sua arte voltada para o elemento sagrado e com sua filosofia a serviço da teologia e da problemática religiosa (MARCONDES, 2001, p.141). O humanismo representou o esforço do homem de pensar e agir por si mesmo, de tomar suas decisões e ser responsável por elas; em ser autônomo em relação a toda e qualquer autoridade ou verdade imposta, quer pela Igreja ou tradição. Costa (2009, p.194), observa: “Se a Idade Média foi o tempo de Deus, a Renascença foi o tempo do homem”. É o homem redescobrindo a sua singularidade enquanto ser dotado de razão e de palavra e, por isso, da capacidade de conferir sentido e forma às suas idéias. Assim fazendo, rompe com a concepção teocêntrica predominante durante toda a Idade Média que via o homem com um ser miserável e incapacitado pelo pecado. A dignitas hominis – a dignidade do homem renascentista opõe-se a miséria hominis – miséria do homem medieval. Dessa forma, segundo Walker: O Renascimento significou uma nova visão do mundo, na qual foi posta ênfase sobre esta presente vida, sua beleza e alegria – sobre o homem como homem – mais que sobre o céu ou o inferno futuros e sobre o homem como objeto de salvação e perdição. O meio pelo qual se realizou esta transformação foi a reaparição do espírito da Antiguidade clássica, especialmente como manifesta em seus grandes monumentos literários (WALKER, 1980, p. 388). 23 Devemos levar em consideração que esse antropocentrismo não foi radical, mas paulatino, pois ainda viviam numa sociedade onde a presença da cultura cristã os envolvia por todos os lados, conforme escreveu Lucien Febvre: Antigamente, no século XVI, com mais fortes razões ainda, o cristianismo era o próprio ar respirado por toda a região que convencionamos designar por Europa e que constituía a Cristandade. Uma atmosfera em que o homem vivia sua vida, toda a sua vida – e não unicamente sua vida intelectual; também sua vida privada em seus múltiplos comportamentos, sua vida pública em suas diversas ocupações, sua vida profissional onde quer que se enquadrasse. Tudo isto, automaticamente, sob qualquer condição, total e independentemente de toda vontade expressa de ser crente, de ser católico, de aceitar ou de praticar sua religião. Atualmente se escolhe. Ser cristão ou não. No século XVI não havia escolha. Era-se cristão de fato. [...] Do nascimento até a morte, estabelecia-se uma imensa cadeia de cerimônias, de tradições, de costumes e práticas que, sendo todas cristãs ou cristianizadas, amarravam o homem, mesmo contra sua vontade, escravizando-o apesar de suas pretensões de tornar-se livre. E, acima de tudo, cercavam sua vida privada (FEBVRE, 1978, p. 38). 1.2 O Renascimento e o Nascimento da Imprensa. A invenção da imprensa no século XV, segundo Jean Delumeau (1983, p. 151), marca o que ele caracteriza como sendo o “avanço decisivo” do Renascimento. Essa “revolução” cultural não teria atingido tais proporções sem a imprensa inventada por Johann Gutenberg por volta do ano 1440. Segundo Hermisten M. Costa, O Renascimento nunca poderia ter sido o verdadeiro Renascimento, a difusão da cultura entre a multidão, se esse entusiasmo não tivesse surgido simultaneamente com o meio de difundi-lo. Até parece, na verdade, que o próprio entusiasmo produziu a invenção da imprensa, assim como uma corrente poderosa força um passagem. Numa época em que a disseminação da literatura dependia de copistas de manuscritos, mesmo que houvesse centenas deles, as idéias estavam fadadas a permanecer em possessão da minoria. É sempre uma questão interessante a de que os homens produzem os movimentos, ou os movimentos produzem os homens (COSTA, 2009, p.40). 24 A imprensa não apenas divulgou e consolidou o Renascimento, mas também precedeu o que foi chamado de era moderna pelos historiadores. Chineses e japoneses conheciam e praticavam a impressão, mas seus milhares de ideogramas tornavam o método da impressão algo muito complexo, se comparado com um alfabeto de 20 ou 30 letras conforme o alfabeto Ocidental. Até então, o livro era um artefato caro, raro e disponível a uma pequena parcela da população ligada ao clero. Sua reprodução dependia do árduo trabalho desenvolvido por copistas que levavam muito tempo para compilar e reproduzir as obras existentes. Paralelamente a isso, a Europa vivia um período de renovado interesse pelo conhecimento que levou uma grande parcela da população a interessar-se pelo aprendizado da leitura. Até então, o clero tinha sido o único intermediário entre o livro e as camadas comuns da população. Mas após a invenção da imprensa, conforme observa Costa (2009, pp. 40, 41), “iniciou-se um processo efetivo de confecção de livros para os estudantes, rompendo, aos poucos, com o monopólio intelectual do clero e a transmissão oral do saber, que caracterizou bem a Idade Média.” Conforme observou Roberts, o conhecimento deixou de ser privilégio de “uma pequena elite [...] por estarem íntima e especialmente ligadas aos ritos religiosos” (1996, p. 187). O que se observa na Europa, a partir da primeira impressão de Gutenberg é o que ficou conhecido como “revolução gráfica”. A Europa, com uma população laica letrada, reunia condições culturais e sociais que contribuíram para essa revolução, o que pode ser verificado pelas inúmeras máquinas de impressão que rapidamente se espalharam por esse continente em poucas décadas. O número crescente de imprensas instaladas na Europa e a grande demanda por livros demonstram isto. Por volta de 1500, haviam sido instaladas máquinas de impressão em mais de 250 lugares na Europa – 80 na Itália, 52 na Alemanha e 43 na França. As prensas chegaram a Basiléia em 1466, a Roma em 1467, a Paris e Pilsen em 1486, a Veneza em 1469, a Leuven, Valência, Cracóvia e Buda em 1473, a Westminster (distinta cidade de Londres) em 1476 e a Praga em 1477. Todas essas gráficas produziram cerca de 27 mil edições até o ano de 1500, o que significa que – estimando-se uma média de 500 cópias por edição – cerca de 13 milhões de livros estavam circulando naquela data em uma Europa com cem milhões de habitantes (BRIGGS;BURKE, 2006, p. 24). 25 Embora num contexto histórico e cultural em que o monopólio do saber estava nas mãos da Igreja Romana, firma-se irremediavelmente por meio da imprensa, o que foi posteriormente denominado de democratização da cultura e da informação. Muitos autores, pelo conteúdo polêmico de seus escritos e por sua ligação com a Igreja, não permitiram que seus livros fossem divulgados para não serem perseguidos pela Inquisição. Embora o rigor das autoridades eclesiásticas no final do século XV e XVI, os editores sempre encontravam uma maneira de burlar a censura e publicar os livros proibidos. Percebe-se desde essa época que a mídia é um objeto de difícil controle. Qualquer tentativa de controlar a mídia em qualquer tempo é uma ação infrutífera. A modernidade nasceu rompendo com padrões arcaicos e trazia no seu bojo o germe da liberdade (MORAES, 2008, p. 25). Para o filósofo Francis Bacon (1561 – 1626), grande crítico da ignorância e do obscurantismo intelectual o trio “imprensa – pólvora - bússola” mudou definitivamente o mundo. A bússola impulsionou a navegação para limites nunca antes imaginados. A pólvora mudou o modelo arquitetônico das cidades, tornando obsoletos os castelos e suas muralhas, bem como mudou todo o conceito bélico. A imprensa abriu as comportas da divulgação e do acesso ao conhecimento. Vale também recordar a força, a virtude e as conseqüências das coisas descobertas, o que em nada é tão manifesto quanto naquelas três descobertas que eram desconhecidas dos antigos e cujas origens, embora recentes, são obscuras e inglórias. Referimo-nos à arte da imprensa, à pólvora e à agulha de marear [bússola]. Efetivamente essas três descobertas mudaram o aspecto e o estado das coisas em todo o mundo: a primeira nas letras, a segunda na arte militar e a terceira na navegação (BACON, 1973, p. 94). Carter Lindberg (2001, p. 428), destacando a tradução da Bíblia feita por Martinho Lutero e a ênfase dada por ele na educação universal, reconhece tais iniciativas, além de pioneiras, “um passo à frente no sentido de privar a elite do controle 26 exclusivo sobre as palavras e sobre a Palavra.” Asa Briggs destaca as mudanças culturais trazidas pelo aumento do letramento da sociedade européia: As conseqüências do aumento do letramento e sua penetração na vida diária foram muitas e variadas. Cresceu o número de pessoas em ocupações ligadas à escrita: empregados de escritório, contadores, escrivães, notários, escritores públicos e carteiros, por exemplo. [...] Os resultados políticos do letramento compreendiam a disseminação dos registros escritos – o que se pôde notar a partir do século XVIII, se não antes – e, com eles, a grande dependência do processamento da informação, termo que iria aparecer com destaque nas futuras teorias de comunicação, a saber, na identificação, no final do século XX, de uma sociedade de informação (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 41). Com o incremento da produção gráfica e com o amplo letramento da sociedade européia, a leitura passou a ser mais crítica, visto que vários livros tratavam sobre o mesmo assunto e suas opiniões poderiam ser comparadas, dando origem as inúmeras controvérsias acadêmicas que resultavam sempre em novas publicações e novas polêmicas. Mesmo assim, ressalta Burke: A mudança cultural foi mais aditiva do que substantiva. [...] a velha mídia de comunicação oral por manuscritos coexistiram e interagiram com a nova mídia impressa, assim como esta , hoje uma mídia antiga, convive com a televisão e a Internet desde o princípio do século XX (BRIGGS; BURKE, 2006, p.74). O surgimento do jornal, no século XVII, pode ser visto dentro deste contexto de busca pela informação e pelo conhecimento que caracterizou o homem moderno. J.M. Roberts destaca que no século XVIII os jornais possuíam ampla circulação pela Europa A partir de folhas impressas e de boletins informativos impressos ocasionais surgiram no século XVIII jornais de publicação regular, que satisfaziam várias necessidades. Os jornais nasceram na Alemanha do século XVII, aparecendo um diário em Londres em 1702, existindo em meados do século uma importante imprensa provincial e imprimindo-se, anualmente, milhões de jornais. Revistas e semanários começaram a circular em Inglaterra na primeira metade do século XVIII (ROBERTS, 1996, p. 9). 27 1.3 A Modernidade e a Secularização. As mídias escritas e impressas trouxeram outros fatores e ligações que não podemos deixar de verificar para a análise do contexto que contribuiu para o avanço da comunicação por meio de mídia radiodifusora. Gerson Leite de Moraes associa o nascimento da modernidade com o desenvolvimento da mídia ao afirmar: Não é exagero dizer que a modernidade nasceu sob o impacto do desenvolvimento da mídia, principalmente da mídia escrita, - que foi pioneira nesse contexto -, abrindo com isso, um largo caminho para o desenvolvimento da liberdade e da expressão dessa liberdade por meio de outras mídias que serão desenvolvidas nos séculos seguintes (MORAES, 2008, p. 25). O termo “modernidade”, embora associado àquilo que julgamos contemporâneo, historicamente está situado no final da Idade Média, entre os séculos XV e XVI, quando os valores medievais estavam entrando em colapso. Esse período de transição foi posteriormente denominado de modernidade, principalmente pelas intensas transformações ocorridas, como o nascimento da burguesia, do capitalismo, fim do monopólio religioso do catolicismo, pluralidade de crenças e práticas religiosas, primeiros ensaios científicos, principalmente as hipóteses heliocêntricas levantadas por Nicolau Copérnico e posteriormente confirmadas por Galileu Galilei (1564-1642). O termo “secularização” nasce no contexto religioso da Reforma Protestante, quando aconteceram as expropriações de terras que pertenciam à Igreja Católica e que estavam situadas dentro do Sacro Império Romano Germânico. Historiadores, como Greens e Roberts associam o nascimento da era moderna com o alvorecer do Iluminismo. Bebendo na fonte da Renascença, o Iluminismo elevou o indivíduo ao centro do mundo. René Descartes lançou as bases filosóficas do edifício moderno ao privilegiar o papel da dúvida – um princípio formulado por meio de sua apropriação da máxima de Agostinho Cogito ergo sum [Penso, logo existo]. Descartes, portanto, definiu a natureza humana como uma substância pensante e a pessoa humana como um sujeito racional autônomo. Posteriormente, Isaac Newton 28 deu à modernidade seu arcabouço científico ao descrever o mundo físico como uma máquina cujas leis e regularidade podiam ser apreendidas pela mente humana. O ser humano moderno pode muito bem ser descrito como a substância autônoma e racional de Descartes, cujo habitat é o mundo mecanicista de Newton (GRENS, 1997, pp.17,18, Grifo do autor). Percebe-se claramente o projeto secularizante da modernidade via Iluminismo. A razão “iluminada” pelo conhecimento e pela informação é vista como responsável pelas transformações históricas e culturais sem precedentes no mundo ocidental. Roberts afirma que “parte do que tem sido designado por revolução científica do século XVII deve ser atribuída ao simples efeito cumulativo de uma informação mais rápida e amplamente difundida” (1996, p. 191). Tudo passa agora a ser avaliado pela razão, produzindo uma reviravolta na filosofia, no conceito de ciência, no dogmatismo religioso, na moral e na política. A sociedade deve ser construída racionalmente. Crêem firmemente na capacidade da razão autônoma do homem. O homem deixa de ser um mero observador passivo da natureza, busca compreende-la, visto que supõe que seu conhecimento é exato, objetivo e bom. Assim, a marca do Iluminismo é o seu otimismo no progresso do conhecimento e da ciência, que associado à educação, produzirá um novo homem e uma nova sociedade, conforme observa Greens: “O ideal moderno defende a autonomia do eu, o sujeito autodeterminante que existe fora de qualquer tradição ou comunidade.” (1997, p. 20). As crenças religiosas são colocadas sob suspeita, pois podem reduzir a autonomia do homem, que coloca acima de si uma autoridade “externa” - acima da razão. O historiador David Harvey destaca a dessacralização do conhecimento que caracterizou o Iluminismo: O pensamento iluminista abraçou a ideia do progresso e buscou ativamente a ruptura com a história e a tradição esposada pela modernidade. Foi, sobretudo, um movimento secular que procurou desmistificar e dessacralizar o conhecimento e a organização social para libertar os seres humanos de seus grilhões. [...] Abundavam doutrinas de igualdade, liberdade, fé na inteligência humana e razão universal (HARVEY, 1992, p. 23). 29 1.4 O Nascimento do Rádio Da invenção da imprensa e dos milhares de livros impressos e divulgados pelo mundo, da preocupação com a melhoria das estradas e do aperfeiçoamento do sistema postal evidenciado ao longo dos séculos, a preocupação era uma só – o acesso a informação. Tornar a informação acessível a um maior número de pessoas, em diferentes regiões, no menor tempo possível. Com a invenção do telégrafo elétrico em 1837 a ligação entre transporte e comunicação, que fora realidade até o século XIX, sofreu um processo radical de transformação. Mesmo assim, as localidades precisavam ser interligadas por cabos transmissores – a telegrafia por cabos - como até hoje acontece com a transmissão de energia elétrica. Poucas décadas depois já se discutia a possibilidade de realizar a transmissão de mensagens sem o uso de fios, o que aconteceu primeiramente com a transmissão de sinais e posteriormente com a transmissão da voz. Cientistas intrigados e desafiados por essa possibilidade realizaram inúmeras pesquisas relacionadas ao campo eletromagnético. O telégrafo sem fio tornou-se realidade, possibilitando um grande avanço nas comunicações principalmente marítimas, por onde escoava o comércio mundial e o transporte internacional de passageiros. Alguns nomes se destacaram mundialmente pelas pesquisas que realizaram com a transmissão da voz por ondas eletromagnéticas – a radiofonia, entre eles, Nikola Tesla, de origem sérvia, mas que muito cedo imigrou para os Estados Unidos. Foi, de acordo com Sônia Virgínia Moreira, um dos pioneiros nesse campo de pesquisa, e conseguiu registrar as primeiras patentes de rádio em 1900 no Departamento de Patentes dos Estados Unidos. Nikola Tesla está entre os pioneiros nas tentativas de transmissão sem fio à distância porque as experiências realizadas com as ondas terrestres estacionárias levaram-no a vislumbrar que nelas estava o caminho capaz de conduzir a um sistema mundial integrado para a distribuição centralizada de recursos eletrônicos, muitos dos quais a serem inventados (MOREIRA, 2005, p. 26). 30 Outros nomes importantes desenvolveram pesquisas semelhantes, como o de Guglielmo Marconi, imigrante italiano radicado na Grã-Bretanha, e o do canadense Reggie Fasseden. Eduardo Miditsch destaca no texto abaixo importantes personalidades ligadas aos primeiros experimentos de transmissão da voz sem a utilização de fios: A história oficial igualmente atribui a primeira transmissão da voz por ondas eletromagnéticas ao canadense Reggie Fasseden. Na noite de Natal de 1906, Fasseden surpreendeu os operadores de telégrafo sem fio dos navios que navegavam na costa de Massachussets, adaptando um microfone para transmitir-lhes sua própria voz e um solo de violino. O pioneirismo de Marconi e Fasseden, no entanto, é questionado por evidências de que os mesmos experimentos já estavam sendo realizados, com sucesso, em outros lugares. Nos Estados Unidos, o imigrante croata Nikola Tesla, engenheiro responsável por várias outras invenções, como a transmissão de energia elétrica por corrente alternada e o controle remoto, realizou a transmissão sem fio de um sinal sonoro em 1893. Sem a mesma sorte e sem o tino comercial de Marconi, Tesla morreu praticamente na miséria, em 1943, seis meses antes da Suprema Corte dos Estados Unidos reconhecer a primazia de suas patentes em relação às do italiano (MEDITSCH, 2001, p. 33). À parte dessas discussões, temos que reconhecer que foi com Guglielmo Marconi e suas pesquisas com a transmissão de sinais por impulsos elétricos, que as potencialidades do rádio chamaram a atenção do mundo, ainda que inicialmente apenas visto como uma substituição da telegrafia por fios. Marconi não via o rádio como um meio de grande difusão. Na verdade nem usou a palavra radio. E nisso não estava sozinho. Por exemplo, em 1899, The Electrician afirmava que mensagens dispersas por radiofusão somente desperdiçam energia, viajando com persistência fútil para o espaço celestial (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 157). É interessante observar que o aspecto visto como sendo o mais inútil ou fútil da radiofusão, posteriormente seria reconhecido como o seu maior mérito – o de levar a cultura, a informação, o entretenimento para os lugares mais distantes possíveis. Este fato evidencia o quanto nossa própria visão de realidade é limitada pelos parâmetros históricos culturais nos quais estamos inseridos. 31 1.5 A Primeira Transmissão Radiofônica Comercial No dia dois de novembro de 1920, após inúmeras tentativas experimentais, começa a operar comercialmente, em East Pittsburg (Pensilvânia), a primeira emissora radiofônica com transmissões regulares trazendo as informações sobre as eleições americanas daquele ano. A pesquisadora Lia Calabre destaca, além do início da primeira rádio comercial, a cobertura jornalística presente nas primeiras transmissões. Apesar das diversas experiências realizadas em vários países desde os primeiros anos do século XX, a radiofusão como um serviço de transmissão regular surgiu em novembro de 1920, nos Estado Unidos. A KDKA, como foi batizada a primeira emissora radiofônica, utilizava equipamentos fabricados pelo Westinghouse e tinha como base de sua programação a produção de coberturas jornalísticas. Na Inglaterra e na França, as primeiras emissoras radiofônicas surgiram no ano de 1922 (CALABRE, 2002, p. 8). Três anos após essa primeira transmissão regular, o rádio já alcançava a marca aproximada de 12 milhões de ouvintes com sua atenção disputada por mais de cem estações transmissoras. Esse crescimento só foi possível devido às potencialidades comerciais que muitos investidores americanos anteviam na fabricação e na venda de rádios. A radiofusão norte-americana foi montada estruturalmente como empresa comercial. A Westinghouse fabricou e vendeu receptores de rádio, quase ao mesmo tempo em que sua estação emissora, a KDKA, transmitia notícias sobre as eleições presidenciais de novembro de 1920. Logo depois, passou a irradiar músicas conhecidas e de aceitação geral, provocando um aumento na venda dos aparelhos receptores (TOTA, 1990, p. 35). Nos Estados Unidos, no final da década de 1920, já existiam mais de 5,5 milhões de rádios em uso, metade dos rádios existentes no mundo. Com a popularização crescente desse meio de comunicação, ampliou-se também as possibilidades de acesso a esse bem de consumo – objeto dos desejos de todas as famílias. O rádio, de acordo 32 com Lia Calabre, foi o primeiro artefato eletrônico a entrar no espaço doméstico, produzindo alterações nas relações familiares, como posteriormente aconteceu com a televisão, cuja influência se estendeu por gerações até a chegada da Internet na década de 1990. Na década de 1930, o rádio já trazia o mundo para dentro da casa. [...] O rádio foi o primeiro meio de comunicação a falar individualmente com as pessoas, cada ouvinte era tocado de forma particular por mensagens que eram recebidas simultaneamente por milhões de pessoas. O novo meio de comunicação revolucionou a relação cotidiana do indivíduo com a notícia, imprimindo uma nova velocidade e significação aos acontecimentos (CALABRE, 2002, p. 9). Na Europa, a popularização do rádio, como meio de comunicação, seguiu a mesma tendência de crescimento verificada nos Estados Unidos. Na Alemanha da década de 1930, por exemplo, o número de ouvintes estimados em 4 milhões em 1933, saltou para 29 milhões em 1934 e, no final desta década, em 1939, ano em que começou a Segunda Guerra Mundial, o número de ouvintes saltou para 97 milhões. 1.6 A Primeira Rádio Brasileira Definitivamente aceito e consolidado como meio eficaz de comunicação, não foram poucos os intelectuais que imaginaram o rádio como difusor da cultura e do conhecimento, dentre estes, Edgard Roquette Pinto que no início da década de 1920 idealizou o rádio como meio eficaz de interligar o imenso território nacional por meio da informação e do conhecimento. Liana Milanez destaca o otimismo de Roquette com a utilização do rádio na integração e educação dos brasileiros. Os Estados Unidos estavam sendo interligados pelo rádio e a Europa também, através de Marconi. Nas fantasias dos mais otimistas, já havia operários ouvindo Mozart, analfabetos bebendo as palavras de Bernard Shaw e gente dos mais distantes rincões sabendo as últimas de Wall Street ou do palácio de Buckingham, tudo pelo rádio. Ele era 33 uma arma, mil vezes mais poderosa do que os canhões da Grande Guerra. Roquette começou a imaginá-la integrando e educando os milhões de brasileiros dispersos pelos mais de 8 milhões de quilômetros quadrados. Seria como completar, só que em escala nacional, a obra de Rondon (MILANEZ, 2007, p. 71). Introduzido no Brasil em 1922, o rádio foi o primeiro veículo de massas a predominar em nosso país, no século XX, fazendo parte do cotidiano doméstico. O rádio, conforme observa Pereira (2001, p. 52), “veio, pela sua estrutura, uso e principalmente função, adicionar novos conteúdos à sociedade e cultura brasileiras.” Em 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência do Brasil, duas empresas americanas de energia elétrica, a Western e a Westinghouse, instalaram pequenas estações de rádio de 500 watts no pavilhão reservado aos Estados Unidos na Exposição Internacional do Rio de Janeiro. As multidões ouviram assombradas o som do Hino Nacional e um discurso do presidente Epitácio Pessoa. Depois foi irradiada a ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Nesse período ainda o governo não demonstrara interesse no uso do rádio. Comprou os equipamentos, mas entregou-os aos Correios para serem usados como telégrafos. O que se espalhava pelo país era a comunicação independente, rádioamadora, mesmo assim os obstáculos legais eram imensos para obter a permissão para o funcionamento. Roquette Pinto estava presente nesta exposição e prontamente percebeu a importância dessa nova extraordinária invenção - o rádio. Juntamente com o professor Henrique Morize, seu amigo e presidente da Academia Brasileira de Ciências e outros intelectuais, ele empenhou-se no projeto da construção de uma emissora de rádio. O primeiro grande obstáculo a ser superado era o das leis brasileiras que dificultavam que os brasileiros tivessem o rádio em suas casas por se tratar de uma tecnologia pouco conhecida e que poderia ameaçar a segurança do país. Liana Milanez destaca este momento histórico em que o rádio foi colocado sob suspeita no país. Com ecos e fumaças da Grande Guerra de 1914-1918 ainda no ar, supunha-se que o rádio podia ser um instrumento perigoso, capaz de levar os segredos militares brasileiros para as potências estrangeiras – donde todo cuidado era pouco. A polícia estava autorizada a prender quem fosse flagrado ouvindo aparelhos desautorizados (MILANEZ, 2007, pp. 70, 71). 34 Roquette Pinto finalmente conseguiu convencer as autoridades políticas sobre as vantagens que o rádio apresentava para um país de dimensões continentais como o Brasil e em 20 de abril 1923 surge, em uma sala nas dependências da Academia Brasileira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, acreditando no potencial cultural do novo veículo de comunicação para um Brasil composto, na sua grande maioria, de analfabetos. Renato Ortiz (2001, p. 188), afirma que “o índice de analfabetismo brasileiro era comprometedor: 84% em 1890, 75% em 1920.” Como outros intelectuais brasileiros, Roquette se convertera ao Positivismo do filósofo francês Augusto Comte, que defendia que a redenção do homem se daria por meio do conhecimento. O rádio poderia dar ao Brasil aquilo que ele mais precisava – a educação. No dia 1º de maio, sob vista grossa da autoridade, com um transmissor montado por Morize, a Rádio Sociedade fez a sua primeira transmissão experimental pela estação da Praia Vermelha. [...] Roquete tomou o microfone e, com grande otimismo e exagero, disse: “A partir de agora todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão livremente o conforto moral da ciência e da arte pelo milagre das ondas misteriosas que transportam, silenciosamente, no espaço, as harmonias” (MILANEZ, 2007, p. 73, grifo do autor). Pelo idealismo de seus fundadores e por estar ligada a Academia Brasileira de Ciências, o conteúdo de sua programação foi considerado altamente elitizado. Era uma rádio fundada pela elite e transmitindo uma programação para a elite brasileira. Devemos levar em conta que o rádio era uma tecnologia que não estava disponível para a massa da população brasileira na década de 1920. Esse rádio da década de 1920, com uma programação intelectualizada e de preços altos, terminava sendo ouvido pelo mesmo grupo que o produzia, ou seja, era um veículo de comunicação ligado às camadas altas da população (CALABRE, 2002, p. 22). 35 Em 1924 surgiria a Rádio Clube do Brasil, sendo acompanhada por inúmeras estações de rádio nos anos seguintes. Entramos definitivamente e irreversivelmente na era do rádio, cativados pelo encanto e liberdade de suas ondas sonoras, tão bem descritas por Robert McLeish no texto abaixo: Esta capacidade de deslocamento geográfico é que gera seu próprio entusiasmo. [...] Livros e revistas podem ser detidos em fronteiras nacionais, mas o rádio não respeita limites territoriais. Seus sinais eliminam barreiras montanhosas e cruzam as profundezas do oceano. O rádio pode juntar os que se encontram separados pela geografia ou pela nacionalidade – ajuda a diminuir outras distâncias de cultura, aprendizado ou status. Os programas de propagandistas políticos ou de missionários cristãos podem ser transmitidos num país e ouvidos em outro. Algumas vezes enfrentando interferências hostis, outras bemvindas como uma verdade que sustenta a vida, os programas radiofônicos possuem uma liberdade independente das linhas de um mapa. Obedecendo às regras da capacidade do transmissor, atividades das manchas solares, interferências de canal e sensibilidade do receptor, o rádio pode trazer liberdade para os oprimidos e luz para o que estão nas trevas (MCLEISH, 2001, pp. 16, 17). Na década de 1930 é autorizada a propaganda comercial pelas rádios e começa a popularização do rádio. Sua programação se diversifica e se adapta ao gosto popular, iniciando uma guerra pela preferência do público. Com isso, como numa avalanche, surgiram os patrocinadores, os cachês artísticos, os programas de auditório, os humorísticos, as transmissões esportivas, os anúncios e os jingles ao vivo. Os aparelhos baratearam e o rádio tornou-se, finalmente, acessível a todo mundo (MILANEZ, 2007, pp. 79, 80). O ideal de Roquette Pinto - de uma rádio educativa - começava a ser ameaçado. Ele entendia que o rádio não deveria ter vinculação comercial, política e religiosa, apenas cultural e educativa. Porém, a realidade posterior demonstrou que as possibilidades do novo invento não poderiam ser enquadradas dentro de esquemas rígidos e pré-estabelecidos de uso. O rádio até 1935, afirma Renato Ortiz, 36 Se organiza basicamente em termos não comerciais, as emissoras formando sociedades e clubes cujas programações eram marcadamente literomusicais. Havia poucos aparelhos (eram de galena), e o ouvinte tinha de pagar uma taxa de contribuição para o Estado pelo uso das ondas. Essa foi uma fase de experimentação (muitos amadores construíam seus próprios receptores sonoros), e a radiofusão estava mais amparada na personalidade de um indivíduo do que numa organização empresarial ou estatal. Os problemas técnicos eram ainda consideráveis, e a irradiação sofria contínua interrupção. A situação começa a se modificar na década de 1930 com a introdução dos rádios de válvula e a mudança da legislação, que permitia então a publicidade no rádio, fixando no início um limite de 10% da programação diária (em 1952 esse limite seria aumentado para 20%). As emissoras podiam agora contar com uma fonte de financiamento constante e estruturar suas programações em bases mais duradouras (ORTIZ, 2001, p. 191). Percebendo que a sobrevivência da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro estava ameaçada, Roquette entra em contato com o Ministério da Educação e acerta os termos de sua doação para o Governo Federal – principalmente o de continuar investindo na transmissão de programas educativos e culturais, sem fins lucrativos. No dia 7 de Setembro de 1936, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro deixou de existir surgindo a Rádio Ministério da Educação. A distração foi ocupando todo o espaço da programação da rádio, ficando em lugar secundário àquelas irradiações que se poderiam vagamente denominar educativas: boletins informativos, orientação cívica, religiosa e política, cursos, etc. A programação do rádio deixa de ser elitista e na medida em que as elites foram perdendo o interesse nesse meio de comunicação, as massas começaram a ter acesso ao rádio. A popularidade e a popularização do rádio pode ser medida pelo aumento do número de emissoras no país a partir da década de 1930, conforme dados apresentados pelo antropólogo João Baptista Borges Pereira. Até 1932 – data do início do rádio propagandístico – O Estado bandeirante possuía apenas 9 emissoras, 3 das quais localizadas na capital. Em 1935, este número elevava-se respectivamente para 18, indo alcançar em 1940 total de 31 emissoras, sendo 10 situadas em São Paulo. Em 1942, localizava-se no Estado aproximadamente 40% do total de 106 estações espalhadas pelo país. (...) Segundo publicação da Unesco, em 1962, entre todos os países de língua portuguesa e espanhola espalhados pelos quadrantes do globo, o Brasil com 934 prefixos situou-se em 1º. Lugar, quanto ao número de transmissoras. 37 (...) Ainda, segundo a mesma publicação da Unesco, em 1952, entre países de língua portuguesa e espanhola, o Brasil colocava-se em segundo lugar, com 2 milhões e quinhentos mil aparelhos (PEREIRA, 2001, p. 62). O crescimento do número de emissoras de rádio no país atesta claramente o “florescimento de uma cultura radiofônica com o surgimento de espetáculos, como programas de auditório, de música popular e as radionovelas” (ORTIZ, 2001, p. 191). 1.7 As Rádios Missionárias A mídia tem acompanhado a história da evangelização protestante desde a invenção da imprensa por Gutenberg. Todos os meios de comunicação escrita foram amplamente empregados para a divulgação da mensagem religiosa, porém nada comparado em extensão e eficácia ao rádio. As potencialidades desse novo meio de comunicação despertaram o interesse de variados segmentos confessionais que com sua utilização poderiam multiplicar o número de seus ouvintes e libertar tanto o mensageiro quanto a mensagem do espaço sagrado do templo, lançando suas vozes pelo ar. Leonildo Silveira Campos observa que o nascimento comercial do rádio e o uso do rádio para fins religiosos foram quase que simultâneos. Comercialmente, o rádio nasceu no dia 2 de novembro de 1920, em Pittsburgh, iniciando-se, apenas dois meses depois, em janeiro de 1921, a transmissão de programações religiosas, colocando-se no ar os cultos da Calvary Episcopal Church. No ano seguinte, entrou em operação a primeira emissora ligada a uma igreja, a National Presbyterian Church de Washington [...] Em 1925 [...] já eram 600 emissoras em operação nos Estados Unidos, das quais 63 pertenciam às igrejas ou movimentos religiosos (CAMPOS, 1997, p. 266, grifo do autor). Desse ponto em diante, a presença de pregadores no rádio apenas cresceu, principalmente entre os pentecostais, segmento que soube tirar o maior proveito da 38 visibilidade midiática do novo meio de comunicação. Isael de Araújo, pesquisador do movimento pentecostal afirma que, Os pentecostais norte-americanos foram os primeiros a reconhecer o potencial do rádio para o ensino da Bíblia e o evangelismo, imediatamente depois que as estações comerciais começaram a ter seu funcionamento autorizado, em 1920. (ARAÚJO, 2007, p. 722). No contexto brasileiro, uma denominação pentecostal em particular, a Congregação Cristã no Brasil7, sempre se mostrou resistente à mídia de forma geral. Leonildo Campos escreve sobre a resistência de grupos pentecostais quando do advento do rádio por julgarem “o ar como morada de demônios e que não se deveria misturar pregação com entretenimento” (1997, p. 267, grifo nosso). Esta observação histórica também é registrada por Isael de Araújo. Durante os primeiros anos do rádio, nem todos os pentecostais aceitaram o veículo como um meio para pregar o evangelho. Para alguns, o “ar” era como o território do Diabo, e, por essa razão, não devia ser usado pelos crentes. A transmissão do evangelho pelo rádio, que também estava sendo usado para entretenimento mundano, era considerado por alguns como uma forma de comprometer o evangelho – uma crítica que, mais tarde, também foi usada contra os ministérios televisivos (ARAÚJO, 2007, p. 722). De forma geral, quer nos EUA como no Brasil, os evangélicos assimilaram rapidamente o valor positivo desse meio de transmissão de mensagem e incorporaram a defesa do mesmo em seu discurso. Os que possuíam uma visão mais ampla começaram a pensar na utilização do rádio no campo missionário no exterior e no impacto que causaria. O rádio, embora não substituísse os meios tradicionais de transmissão da mensagem – a transmissão pessoal, presencial e a transmissão pela mídia impressa – poderia ampliar a capacidade de alcance e a eficácia desta transmissão. Ruth A. Tucker 7 Congregação Cristã no Brasil: Denominação pentecostal fundada em 1910 por Louis Francescon 39 observa que a utilização do rádio não substituiria a presença missionária no campo, mas poderia ser um facilitador desse processo de contato e aceitação. Afirma: Desde o início, a rádio não foi vista como um instrumento a ser usado independentemente da abordagem missionária tradicional. Embora alguns missionários se mostrassem duvidosos a princípio, eles logo compreenderam o valor de ter seu caminho aberto por meio do rádio (TUCKER, 1986, p. 402). Os céus estavam abertos às ondas sonoras do rádio. Barreiras culturais, sociais, políticas, econômicas, ou mesmo preconceitos religiosos, que poderiam constituir-se obstáculos intransponíveis para a transmissão presencial da mensagem, poderiam ser mais facilmente retiradas por meio do rádio. O rádio abriria o caminho para a evangelização pessoal, iria a lugares que missionários não poderiam ir, alcançaria pessoas que jamais responderiam a uma abordagem convencional – corpo a corpo, e fortaleceria as igrejas nos campos missionários. O potencial de uma estação de rádio serviria muito bem aos propósitos da Conferência Missionária de Edimburgo, realizada na Escócia, de 14 a 23 de julho de 1910, cujo lema era “Evangelizar o mundo nesta geração”. Serviria também aos propósitos do Congresso do Panamá, realizado em 1916, visando incluir a América Latina no centro dos interesses das agencias missionárias protestantes. Se a Conferência de Edimburgo percebia que o cenário mundial, sob forte influência inglesa, era favorável para o esforço missionário no continente africano, asiático e na Oceania, o Congresso do Panamá “está relacionado à emergência dos Estados Unidos como potência mundial [...] com o papel estratégico da América Latina nesta nova fase de expansão norte-americana” (WIRTH, 2009, p. 40). Conscientemente ou não, os ecos da ideologia do “Destino Manifesto” (MENDONÇA, 1995, p. 62), se faziam presentes impulsionando esta nova investida missionária com os melhores recursos que a tecnologia possuía neste momento histórico. Alimentados por esta ideologia, acreditavam na supremacia cultural e espiritual americana, como povo destinado por Deus a estender a influência “superior” da cultura americana protestante sobre nações pagãs e atrasadas. Outro aspecto importante a ser levado em consideração é a mudança do conceito de missionário que ocorre na virada para o século XX. No século XIX, o missionário 40 era essencialmente um evangelista, preocupado com a salvação de almas e com a implantação de igrejas. Sua função prioritária, ainda que desenvolvesse a medicina ou trabalhasse na tradução de textos bíblicos, era a de um pregador do evangelho. No século XX, mais especificamente na década de 1930, começa a existir, segundo a historiadora Ruth A. Tucker, uma preocupação com a especialização do missionário. A ênfase na especialização das missões surgida em grande parte como uma resposta às mudanças tecnológicas, políticas, sociais e religiosas durante o século XX, tem sido ampla e variada. As áreas da medicina, trabalhos de tradução, rádio e aviação atraíam milhares de especialistas missionários nas décadas recentes, e outras como educação, literatura e trabalho agrícola também cresceram num ritmo firme (TUCKER, 1986, p. 349). Essa ênfase irá crescer após o término da Segunda Guerra mundial, quando os Estados Unidos volta a experimentar um reavivamento religioso e uma nova percepção do senso de urgência da obra missionária mundial. Muitos desses especialistas vão surgir dentre os veteranos da guerra que usarão suas habilidades profissionais em campos missionários mundiais. A divisão do mundo pós guerra em dois blocos, capitalista e comunista, com a “cortina de ferro” colocada ao redor da Europa Oriental, fortaleceu ainda mais esse senso de urgência missionária, bem como a necessidade de profissionais especializados, com vocação missionária, para atuarem na evangelização do mundo. As especializações missionárias em maior número e que causaram o impacto mais profundo sobre as tendências recentes na evangelização do mundo, foram as ligadas à medicina, trabalhos de tradução e linguística, rádio e gravações, e aviação. Essas especialidades não foram um fim em si mesmas, mas na verdade ministérios que incentivaram e apoiaram a obra de evangelistas missionários e dirigentes de igrejas nativas (TUCKER, 1986, p. 361). Três emissoras de rádios surgiram desse esforço pela evangelização mundial e todas fundadas por missionários americanos. O foco da primeira emissora, na década de 1930, foi a América Latina de língua hispânica, embora sua capacidade de transmissão 41 tenha atingido vários países, inclusive o Brasil. A segunda emissora, fez do Continente Asiático seu alvo e teve origem com missionários pentecostais após a 2ª. Grande Guerra. A terceira emissora, a Rádio Trans Mundial, nasceu com o objetivo de evangelizar a Europa e antes de completar duas décadas de existência, suas transmissões já atingiam o Brasil, firmando definitivamente sua presença no país a partir de 1970. 1.7.1 HCJB (World Radio Missionary Fellowship) - A Voz dos Andes Clarence Wesley Jones nasceu em 1900, no estado de Illinois, em uma família cristã a serviço do Exército da Salvação. Na adolescência entrou para a Banda do Exército da Salvação aprendendo a tocar vários instrumentos musicais. Graduou-se no Instituto Bíblico Moody em 1921, recebendo nos anos que se seguiram forte influência dos movimentos avivalistas e dos movimentos voltados para as missões mundiais. Em 1927, ainda envolvido com a música e com a evangelização, “convenceu-se de que Deus queria que fosse para a América do Sul a fim de implantar uma rádio missionária nessa região” (TUCKER, 1986, p. 404). Em 1928, em viagem exploratória para a América do Sul, convenceu-se de que o trabalho missionário poderia ser desenvolvido mais rapidamente com a ajuda do rádio. Passou pela Venezuela, Colômbia, Panamá e Cuba, solicitando permissão dos oficiais dos governos desses países para a instalação de uma emissora de rádio, pedido definitivamente negado pelas autoridades. Em 1930, prestes a desistir desse projeto, conheceu Reuben e Grace Larson, missionários no Equador desde 1924, e por meio deles conseguiu permissão daquele governo para a instalação de uma rádio no país. Quito, capital do Equador, foi a cidade escolhida por Jones para irradiar os programas radiofônicos para a América do Sul. Segundo a historiadora Ruth A. Tucker, a Voz dos Andes foi a primeira rádio missionária mundial. O primeiro programa missionário mundial pelo rádio foi transmitido ao vivo no dia de Natal em 1931, através de um transmissor de 250 watts localizado num curral de ovelhas em Quito, no Equador. [...] Os 42 treze aparelhos receptores no país estavam ligados, e a Voz dos Andes estava no ar (TUCKER, 1986, p. 406). A Voz dos Andes dependia das doações das igrejas americanas que enfrentavam os efeitos da recessão econômica provocada pela crise de 1929. As dificuldades iniciais foram superadas e a rádio foi conquistando o reconhecimento do governo e do povo do Equador. Na medida em que isso acontecia, a Voz dos Andes ampliava o número de seus receptores e sua capacidade de transmissão. Clarence Jones teve como princípio, anunciar a mensagem evangélica de forma positiva, visto estar inserido em uma cultura fortemente marcada pelo catolicismo. Também abriu os microfones da rádio para que as autoridades políticas tivessem livre acesso nas comunicações oficiais ou nas datas comemorativas do país, o que sempre fizeram. Em 1940 a Voz dos Andes já operava com um transmissor de 10.000 watts e recebia cartas de lugares distantes como Nova Zelândia, Japão, Índia, Alemanha e Rússia. Nas décadas de 1950 e1960 a potência da rádio aumentou para 500.000 watts e programas religiosos eram transmitidos em português. Na década de 1980 a emissora já transmitia suas mensagens em quinze línguas, funcionava 24 horas e prestava assistência médica para a população por meio de dois hospitais e clínicas médicas móveis. Ao longo dos últimos 65 anos, a história da Voz dos Andes tem demonstrado uma profunda identificação com o evangelismo conservador e conversionista, mas não pode ser considerada uma emissora a serviço do pentecostalismo. Seus dirigentes colocaram no ar a primeira emissora de televisão daquele país, em 1961. Em 1993, a Voz dos Andes contava com 3.2 milhões de Watts de potência e irradiava sua programação religiosa em 18 idiomas, incluindo grego, chinês e árabe (CAMPOS, 1997, p. 268). Esta definição que identifica o discurso da HCJB como “conservador e conversionista” e de não estar a “serviço do pentecostalismo” também caracterizará a Rádio Trans Mundial. A partir de 01 de janeiro de 2007 a HCJB – A Voz dos Andes, conhecida no exterior como HCJB WORLD RADIO, mudou oficialmente o seu nome para HCJB 43 GLOBAL. Seu objetivo atual é o de integrar o ministério de mídia e de saúde visando impactar a sociedade ao redor do mundo, bem como, anunciar o Evangelho e cooperar com o crescimento da Igreja. Em alguns países, as letras que compõem o nome da emissora, são traduzidas de diversas formas. No Brasil, por exemplo, significa: Hoje Cristo Jesus Bendiz; nos Estados Unidos: Heralding Christ Jesus´Blessings, que é o sinal de identificação original da estação; no Equador e América Latina: Hoy Cristo Jesús Bendice; na Alemanha, a rádio se apresenta como: Hore Christi Jesu Botschaf. 1.7.2 Far East Broadcasting Company - (Companhia de Radiofusão do Extremo Oriente) Com o final da Segunda Guerra Mundial, um novo despertamente missionário toma conta dos Estados Unidos. A Companhia de Radiofusão do Extremo Oriente, a FEBC, surgirá dentro deste contexto histórico. Soldados americanos em guerra no pacífico ficaram sensibilizados com as necessidades espirituais da Ásia, da China particularmente, e viram no rádio um meio eficaz de transmissão da mensagem cristã para esses povos. Três desses ex-soldados, Robert Bowman, John C. Broger e Willian J. Roberts, de formação religiosa pentecostal, “construíram uma rede com estações potentes, a qual denominaram de Far East Broadcasting Company” (ARAÚJO, 2007, p. 723). A historiadora Ruth A. Tucker acrescenta: Com o fim da guerra [...], a visão latente de três homens no sentido de levar o evangelho pelo rádio ao Extremo Oriente concretizou-se. John Broger, um jovem oficial das Forças Armadas dos Estados Unidos [...] voltou para casa mais apaixonado do que nunca pela rádio missionária. Seus dois amigos, Robert Bowman, figura conhecida na rádio cristã de Los Angeles, e William Roberts, um pastor que tinha seu programa diário pelo rádio, concordaram entusiasmados em juntar-se a ele na aventura proposta (TUCKER, 1986, p. 409). 44 A iniciativa de estabelecer uma estação de rádio na China não foi bem sucedida. Como a Indonésia estava sob forte influência americana e sua localização no Mar do Sul da China era favorável para atingir a Ásia como um todo, ela foi escolhida para a sede da FEBC. As primeiras transmissões foram ao ar no dia 04 de junho de 1948, da cidade de Manila. No ano seguinte, as transmissões internacionais já estavam atingindo a China e expandiu-se até cobrir a maior parte do sudeste asiático. Atualmente a FEBC produz programas em mais de 154 línguas do mundo, com transmissões diárias, totalizando 627 horas, atingindo os seguintes países: Índia, Indonésia, Japão, Coréia, Filipinas, Rússia, Singapura, Taiwan, Tailândia, Vietnã. 1.7.3 Trans World Radio – Rádio Trans Mundial A.L.Robertson, Vice-diretor do Conselho de Diretores da Trans World Radio, prefaciando a biografia de seu fundador, publicada em 1968 (1ª. edição) afirma que o começo da Rádio Trans Mundial não aconteceu em uma estação transmissora, “...mas no coração de um homem, Paul E. Freed” (FREED, 1994, p. 9, tradução e grifo nosso). Paul Ernest Freed nasceu em 1918, em Detroit, Michigan. Seus pais, Dr. Ralph Freed e Mildred Forsythe Freed atuaram como missionários da Aliança Cristã e Missionária no Oriente Médio, trabalhando na Palestina, Transjordânia (atual Jordânia) e Síria, região que sofria forte interferência política inglesa nas primeiras décadas do século XX, antes da fundação do Estado de Israel em 1948.8 Dos pais missionários, Paul Freed recebeu as influências espirituais determinantes na sua formação a na escolha da carreira religiosa. Já adolescente, completou seu colegial em Beirute, no Líbano, indo depois para os Estados Unidos estudar na Faculdade Wheaton, Illinois, graduando-se em antropologia em 1940. Continuou seus estudos na Faculdade Missionária Nyack, New York, instituição 8 A Aliança Cristã e Missionária foi fundada pelo pastor presbiteriano Albert Benjamin Simpson em 1887. O que nos meados do século XX se tornou mais uma denominação evangélica resultou da junção de duas organizações paraeclesiáticas: A Aliança Cristã, que incidiu sobre o exercício e a promoção da vida cristã e Superior O Evangélica Missionário da Aliança, que incidiu sobre a mobilização dos "consagrados" cristãos na obra de esforços missionários estrangeiros. Estes dois grupos reunidos em 1897 para formar a Aliança Cristã e Missionária. Foi apenas muito mais tarde durante a meados do século XX que uma denominação oficial foi formado. Site: Acesso dia 07/setembro/2010 www.cmalliance.org/about/history/sim 45 fundada por A. B. Simpson e ligada a Aliança Cristã e Missionária, onde estudou com renomados missionários, dentre eles, Clarence Jones, fundador da primeira rádio missionária no mundo, A Voz dos Andes, em Quito, Equador. Obteve mestrado na Universidade de Colúmbia em 1956 e em 1960, já na direção da Rádio Trans Mundial, obteve seu doutorado em comunicação de massa pela New York University.9 Em 1948, Paul Freed começou a trabalhar para a Youth for Christ (Mocidade Para Cristo) em Nyack, New York, e posteriormente em Greensboro, Carolina do Norte. Foi ordenado pastor pela Convenção Batista do Sul em 1949, ano que viajou como representante de sua região para o congresso da Youth for Christ, em Beatenberg, distrito de Interlaken, Suíça. Paul Freed precisou fazer uma parada em Barcelona, na Espanha. A Espanha, país historicamente católico, nunca fizera parte dos interesses missionários de Paul Freed. Na época, com 30 anos de idade, recém casado com Betty Jane Freed, com planos de vida bem definidos, nem mesmo entendia o que ele fazia em Barcelona. Durante a realização daquele congresso, dentre inúmeros participante de várias partes da Europa e da América, dois representantes da Espanha tornaram-se elos importantes nos acontecimentos que se dariam em sua vida ao chamarem a sua atenção para a realidade espiritual da Espanha e seus 30 milhões de habitantes na época. Eles desafiaram Paul Freed a começar a Youth for Christ na Espanha, o que conseguiu, embora restrições colocadas pelo governo espanhol ao este trabalho. Daquele momento em diante a Espanha passou a fazer parte de suas preocupações. Em Greensboro, Carolina do Norte, cidade onde residia, Paul Freed refletia numa forma mais eficaz de atingir a imensa população de espanhóis. Escreveu: 9 Esse movimento teve início nos Estados Unidos, em na década de 1940, com o objetivo de alcançar os jovens através de canais não convencionais de evangelização que, na opinião de seus organizadores, estavam faltando para a igreja da época. Comícios bem animados direcionados especificamente para os jovens foram realizados em diversas cidades americanas. Com a rápida expansão do movimento, sentiu-se a necessidade de estabelecer – organizar uma liderança e estruturar o movimento. Assim nasceu a Youth for Christ – Mocidade para Cristo – tendo como seu primeiro presidente o pastor de Chicago, Torrey Johnson e Billy Graham como primeiro evangelista de tempo integral. Em 1950 a MPC já era um movimento internacional e Mocidades para Cristo surgiram em diversos países com o objetivo de influenciar a vida religiosa dos jovens ao redor do mundo. O lema da MPC “Voltada para o tempo, mas ancorada na Rocha” – ou seja, valendo-se das mais variadas formas de comunicação do evangelho com os jovens, mas firmada na Palavra de Deus. http://www.yfci.org/yfci/history.php - acesso dia 29 de maio de 2010 46 No segundo país mais montanhoso da Europa, o relevo espanhol intrincado torna extremamente difícil o acesso às comunidades. Trinta milhões de pessoas mexeram com o meu coração. Havia apenas uma única resposta em minha mente para o problema: o rádio. Como nada mais, o rádio poderia ser o cobertor da nação, dos picos aos vales, do interior de Madri à costa de Cádiz. Eu não tinha um centavo de apoio, eu não sabia quais as medidas a tomar. Mas de uma coisa eu estava certo: O Senhor ligara inquestionavelmente o meu coração ao coração da Espanha (FREED, 1994, p. 17, tradução nossa). Ele não estava sendo pioneiro nesta conclusão. O mundo da década de 1950 já estava bem avançado no terreno das comunicações radiofônicas. Vivia-se o período áureo da comunicação radiofônica mundial – cuja tecnologia já estava disponível para grande parte da população mundial e caminhava a passos largos para se tornar ainda mais acessível para as camadas mais simples da população. A televisão dava seus primeiros passos e o acesso a essa nova tecnologia de comunicação ainda era extremamente limitado. Ele sabia que, depois dos Estados Unidos da América, a Europa era o continente com maior número de aparelhos de rádio naquela década. Tendo vivido as experiências do campo missionário na infância e adolescência, acompanhando o trabalho de seus pais, sabia também que a ação missionária tradicional, ou seja, de abordagem pessoal, seria um trabalho desgastante, lento, com fortes resistências culturais e religiosas e com resultados regionalizados e isolados. Sabia também que o rádio, por suas características, poderia ter sua transmissão captada em qualquer lugar sem sofrer as mesmas resistências que um contato pessoal sofreria. O rádio poderia até mesmo antecipar uma ação missionária mais efetiva. Em 1949, com essa meta futura bem definida, compreendeu que não poderia ficar restrito a uma cidade e pediu demissão da Youth For Christ. Até o final de 1950, dedicou-se ao trabalho secular visando o sustento da família e a preparação de um fundo de poupança para o início de suas viagens a Espanha. Trabalhou em Scranton, Pennsylvania, como desenhista e construtor de trailers e posteriormente dedicou-se a construção de casas. Em 1951, Paul e sua esposa, Betty Jane, e outro amigo viajaram para a Espanha a fim de verificar as possibilidades de estabelecer uma estação de rádio. Embora Paul não tivesse considerado qualquer outro lugar, além da própria Espanha, tornou-se logo evidente que Tanger, 47 no Norte da África, a 40 km da Espanha através do Estreito de Gibraltar, seria um ponto mais adequado (TUCKER, 1986, p. 414). Na Espanha, como no restante da Europa, as rádios eram estatais e não havia concessões para emissoras privadas, enquanto em Tânger, no Marrocos, além da proximidade com a Espanha, tais restrições não existiam no início da década de 1950, devido às condições políticas desta região africana, sob administração política internacional. Sobre as restrições européias, Paul Freed escreveu: O interesse dos europeus, na transmissão cristã na Europa era quase inexistente quando começamos em 1954. Uma das razões para a indiferença entre os evangélicos foi que, além de Mônaco e Luxemburgo, nenhum dos países europeus tinha autorização para iniciativas de radiodifusão privada. As empresas de radiofusão ou eram públicas, ou operavam em um sistema de supervisão, que instituía conselhos de acordo com a proporção da força dos partidos do governo (FREED, 1994, p. 68, tradução nossa). Em Tânger, Paul Freed adquiriu uma propriedade que pertencera a uma escola missionária e que estava desativada, pelo preço simbólico de 15 mil dólares. Retornou aos Estados Unidos, produziu um filme colorido retratando a realidade espiritual do povo espanhol – Banderilla - e empenhou-se na divulgação deste projeto por igrejas nos EUA e no Canadá, visando captar recursos para a estação de Tânger. Ele estava definitivamente convencido que o seu ministério era com o rádio e que Tanger era o seu endereço. No dia 11 de Fevereiro de 1952, a Trans World Radio teve seu início oficial sob o nome: “International Evangelism” - Evangelismo Internacional. Mas foi somente no ano seguinte que a estação começou a ser construída. Paul Freed vendeu sua própria casa e carro para investir neste projeto. Seu pai Ralph Freed e sua mãe Mildred Freed, missionários aposentados, aceitaram o desafio de cooperar com o filho na instalação da estação e mudaram-se para Tânger, tornando-se seu braço direito por longos anos. Dois outros colaboradores integraram a equipe inicial: Hermann Schulte, alemão, que compartilhava do mesmo sonho de Paul Freed e Ruben Lores, cubano, pastor de uma 48 pequena comunidade evangélica de língua espanhola em Tânger, que ficaria responsável pelas transmissões em Espanhol. Com a instalação de um pequeno transmissor com capacidade de 2.500 watts – alugando o tempo de transmissão de uma emissora de rádio local, as primeiras transmissões para a Espanha tiveram início no dia 22 de Fevereiro de 1954 com programações bilíngües: inglês e espanhol. Com o retorno de Ruben Lores para Cuba no início de 1955, a direção dos programas em espanhol passaria para a responsabilidade de Miguel e Maria Balbuena, espanhóis. Ele elaborou os primeiros cursos bíblicos por correspondência oferecidos aos ouvintes e ela produziu os primeiros programas direcionados ao público infantil. Em 1956, “A Voz do Tânger” passou a operar com um transmissor de 10.000 watts de potência e tempos depois, outro transmissor da mesma potência foi instalado, duplicando e melhorando sua capacidade de transmissão. Em cinco anos de operação, o grupo de “missionários” passou de dois para 26 e as programações eram transmitidas em 24 diferentes idiomas, alcançando partes da Europa, Norte da África e Oriente Médio. Em meio a esse visível crescimento, os rumos políticos em Tânger sofreram alterações com a independência do Marrocos e uma das primeiras determinações do novo governo foi a de nacionalizar todas as rádios estrangeiras em seu território até o fim de 1959. Nesse entremeio, Paul Freed já vinha mantendo contados confidencias com a Rádio Monte Carlo, no Principado de Mônaco, estudando a possibilidade de estabelecer ali a nova sede da RTM. Os acontecimentos políticos em Marrocos só fizeram acelerar esses contatos. Como parte do acordo, caberia a Paul Freed a aquisição de antenas e transmissores e caberia a Rádio Monte Carlo, que detinha os direitos legais de transmissão, alugar todo o tempo para as programações da RTM e dar o suporte técnico e operacional na instalação dos equipamentos. O contrato teria vigência de dez anos, renovados automaticamente. As despesas iniciais com o aluguel, suporte técnico e instalações de equipamentos somaram, na época, o montante de 500.000 dólares. Em setembro de 1959, Paul Freed assinou o contrato com a Rádio Monte Carlo, surgindo a Rádio Trans Mundial, em substituição “A Voz de Tânger". A partir de então a Rádio Trans Mundial alcançaria projeção no campo da mídia evangélica mundial. . 49 “A Voz do Tânger” permaneceu no ar até o dia 31 de Dezembro de 1959. Após esta data, seus estúdios continuaram sendo utilizados para a produção dos programas de língua hispânica. As transmissões de Monte Carlo começaram efetivamente no dia 16 de outubro de 1960, nove meses após a última transmissão em Tânger. Operando com equipamentos mais modernos e com um potente transmissor de 100.000 watts, com antenas capazes de atingir os países mais próximos como a Itália, Alemanha e França, bem como oito áreas que foram definidas como alvos da rádio naquele momento: 1º. Espanha e Portugal. 2º. Ilhas Britânicas. 3º. Escandinávia. 4º. União Soviética. 5º. Países satélites do Leste Europeu, quando ainda estavam sob a influência política da União Soviética. 6º. Europa Central. 7º. Sul da Europa. 8º. Oriente Médio e Norte da África. Muito interessante é o comentário do Dr. Benjamim L. Armstrong, que cooperou com o Dr. Paul Freed na implantação da RTM em Monte Carlo e posteriormente serviu como seu diretor. Quem teria pensado que Mônaco, a famosa capital do jogo [...] se tornaria o local da recém constituída [...] rádio missionária? Ninguém, exceto o visionário, Dr. Paul E. Freed, fundador da TWR, de Cary, Carolina do Norte, EUA., que realizou negociações confidenciais com a Rádio Monte Carlo para um contrato de arrendamento a longo prazo do meio mais poderoso de transmissões de ondas curtas (ARMSTRONG, Ben. Informative: ASSIST News Service (ANS). Norah Chambers Freed, 101, Of Trans World Radio Dies September 22,2007. Disponível em: <http://www.assistnews.net/Stories/2007/s07090199.htm>. Acesso em 15 de setembro de 2010). A revista Time, na sua edição maio de 1961, no artigo intitulado, “Religion: The Word from Monte Carlo” – Religião: A Palavra de Monte Carlo -, dedica uma coluna 50 para falar da Rádio Trans Mundial desde a concepção de sua idéia na Suíça, em 1948, até o ano de 1961, quando já transmitia de Monte Carlo e era internacionalmente conhecida. Escreve: O Principado de Mônaco, centro playboy do país europeu, tornou-se importante reduto do evangelismo protestante. Em uma montanha com vistas para o Mediterrâneo, um ministro batista, nascido em Detroit e uma equipe [...] estão irradiando um fluxo constante de transmissões religiosas [...] que atingem da Ásia ao Pacífico. [...] Espanha e América Latina. A mensagem do Evangelho é transmitida em Russo, Espanhol, Letão, Hebraico, Árabe, Sueco, Português, Francês, Inglês, Italiano e Alemão. Dentro de três meses serão adicionados a Armênia, Georgia e Usbequistão; dentro de um ano, Chinês e Hindu [...]. Este novo estilo de falar em línguas teve sua origem em uma reunião perto de Interlaken, Suíça, em 1948, na qual um grupo de líderes evangélicos protestantes Norte Americanos, incluindo Billy Graham e o Dr. Harold Ockenga da Boston’s Park Street Church, decidiram que o Protestantismo Europeu estava escondendo sua luz debaixo do alqueire. Embora houvesse 28 estações protestantes no Exterior, eles notaram que nenhuma estava na Europa, que tinha dois terços dos aparelhos de rádio fora dos Estados Unidos. A Trans World Radio, como a missão é chamada, se viu forçada a deixar o Tânger em 1959 quando Marrocos anunciou que estava prestes a incorporar esta “porta livre”. Seu novo endereço, a Mônaco Católico Romana, perto do palácio de verão do príncipe Rainier e princesa Grace, revelou-se admiravelmente estratégico para as transmissões (TIME. Religion: The World from Monte Carlo, EUA, 1961,5 de maio de 1961. Disponível em <http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,872350,00.html> Acesso em: 15 de setembro de 2010. Tradução nossa). No primeiro ano de transmissão em Monte Carlo, a RTM recebeu aproximadamente 18.000 mil cartas e mais 800 pedidos de ajuda espiritual de diversas partes do mundo. Esse retorno favorável levou Paul Freed a um novo desafio: produzir os programas nos próprios países alcançados pela rádio, retransmitindo-os pelas potentes antenas de Monte Carlo. Seu objetivo era que líderes conhecidos e respeitados em seus países na área da exposição bíblica e da música dessem a sua contribuição na gravação dos programas para o seu próprio povo. De acordo com Robert T. Coote, “Freed começou a estabelecer escritórios regionais na Europa para providenciar liderança e programação nacional. Como 51 resultado, em 1965, mais da metade do apoio financeiro vinha da Europa” (COOTE, p. 225, 1998, tradução nossa). Destes contatos com “representantes” regionais dos países alcançados pelas antenas da rádio, surgiram os primeiros escritórios internacionais que passaram a trabalhar em cooperação com a RTM, inclusive o Brasil. A sucursal da Alemanha, precursora da “Evangeliums Rundfunk” – o ramo alemão da RTM – teve início neste período, 19 de outubro de 1959, sob a direção de Hermann Schulte, dedicado cooperador de Paul Freed desde o início em Tânger. Hermann Schulte e a Evangeliums Rundfunk seriam decisivos para a instalação da Rádio Trans Mundial no Brasil em 1970. A estratégia de Paul Freed foi descrita por ele mesmo com estas palavras: Este tipo de arranjo dá-nos qualidade e influência que nunca poderíamos alcançar se nós mesmos tivéssemos que produzir toda a programação em um único local. Por apresentar pregadores com uma clara mensagem do Evangelho, homens conhecidos e amados em seus países, temos automaticamente maior influência e uma audiência mais receptiva. [...] Acreditamos firmemente que é absolutamente imperativo atingir as pessoas a partir de sua própria casa, a fim de relacionar a nossa programação com as reais necessidades dos nossos ouvintes (FREED, 1994, pp. 119, 124, tradução nossa). Percebemos que o esforço de Paul Freed era com o alcance e com a qualidade da transmissão da mensagem cristão pelo rádio. Correspondentes nos países alcançados pela RTM enviavam relatórios esporádicos, notificando a freqüência sintonizada e horários mais favoráveis para a recepção dos sinais, o que contribuía para o planejamento estratégico das programações. Cartas chegadas dos pontos mais longínquos ou mesmo narrativas de pessoas que, por exemplo, conseguiram fugir dos países sob a “cortina de ferro” relatando sobre os benefícios da programação da RTM, só faziam crescer a sua certeza que pessoas estavam sendo alcançadas e impactadas com as transmissões ao redor do mundo. Ainda que “potência de transmissão” não garantisse quantidade de audição, Paul Freed entendia que a rádio estava atingindo o seu objetivo. 52 Em 1961, com 42 anos de idade, emocionalmente fragilizado por um enfarto, Paul Freed percebeu, entre outros questionamentos pessoais, que ainda faltava muito para ser feito em termos de alcance de transmissão radiofônica. No final de 1961 e começo de 1962, durante o tempo de recuperação do enfarto sofrido, ele começou a questionar seriamente sobre a possibilidade de encontrar outro local para a construção de uma “super estação” de transmissão. Especialistas apontavam o Caribe, na América Central, como ponto ideal para atingir seus objetivos. Dessa região poderia alcançar quatro, dos cinco continentes do mundo, com qualidade considerável. A sugestão seria entrar em contato com as autoridades holandesas para obter do governo Holandês a concessão para a construção de uma estação de rádio em seu território. Se obtida a concessão, a estação no Caribe poderia agir em cooperação com a de Monte Carlo, captando o seu sinal e retransmitindo-o com maior força e eficácia. Para os representantes do governo das Antilhas holandesas, Paul Freed fez um pedido para a utilização de um transmissor com a capacidade de 500.000 watts – o que faria da Rádio Trans Mundial a maior estação de transmissão AM no Hemisfério Ocidental. A emissora mais potente dos EUA operava com a capacidade máxima de 50.000 watts. Para sua surpresa, depois de um curto período de negociações com os representantes do governo holandês, recebem a autorização para a construção de uma estação no Caribe além de todo o apoio na infra-estrutura para o projeto. Paul Freed escreveu: Jamais antes na história da radiofusão, um grupo particular de qualquer tipo obteve tal concessão. Ela nos capacitaria a atingir milhares e milhares no interior de muitos países, pessoas que jamais teriam possibilidade de ouvir de outra maneira (FREDD, 1994, p. 169, tradução nossa). O objetivo de Paul Freed para o Caribe era a construção de uma estação transmissora com a tecnologia mais moderna disponível - com antenas potentes para alcançar todas as direções com a maior força possível. Escreveu: “Devemos fazer todo o esforço técnico para chegar a todas as pessoas possíveis.” (FREED, 1994, p. 170, tradução nossa). A princípio, essa super estação deveria ser construída em Curaçao, mas 53 engenheiros, tanto do governo holandês como da Rádio Trans Mundial, perceberam a impossibilidade desse local cedido pelo governo por ficar nas proximidades do aeroporto, o que causaria problemas nas transmissões. Nesse momento, pensaram na possibilidade de colocar a estação numa ilha adjacente, Bonaire, o que foi prontamente permitido pelas autoridades. Posteriormente descobriram que Bonaire era local indicado, visto que a intensa salinidade da ilha contribuía favoravelmente para a condutividade – o sal molhado é junto com o metal o melhor condutor. Peritos diziam que a estação em Bonaire teria sua capacidade de transmissão ampliada devido a esta particularidade da ilha. A construção da estação começou em Setembro de 1963. Em 01 de Outubro de 1964 aconteceu a abertura oficial da estação em Bonaire diante da presença dos oficiais governamentais presentes na ilha. A dedicação da emissora só aconteceu no dia 25 de fevereiro de 1965, para coincidir com a visita da princesa Beatriz da Holanda ao local. Em 1964 as transmissões estavam sendo levadas ao ar regularmente, com resposta aos sinais vindo desde o Canadá até a Terra do Fogo, a ponta mais meridional da América do Sul. As transmissões em espanhol, a partir de Bonaire, se estendiam como um cobertor sobre toda a América Latina. Em 1965 começou a operar um transmissor de ondas curtas com 260.000 watts de potência, possibilitando transmissões em vários idiomas para vários países do mundo, o que passou a exigir da RTM uma programação em vinte e quatro línguas diferentes já no final da década de 1960. Da Argentina ao Canadá, Cuba, Índia, as cartas de incentivo chegam em Bonaire. [...] Durante as três primeiras semanas após a abertura do complexo da rádio das Antilhas, 1200 cartas chegaram dando evidências de que os programas estavam sendo ouvidos em cinqüenta e oito diferentes países na Europa, África, América Central e do Sul e Estados Unidos. [...] O primeiro vai ao ar em Português, para o Brasil; outros são enviados para a América Central e do Sul, em Inglês, Espanhol e Holandês, em seguida, ao longo do dia, até a meia-noite, os programas em vinte idiomas ganham asas pelo ar. [...] Outras cartas indicam que as emissões são ouvidas claramente em lugares como a Tchecoslováquia, a Letônia, Portugal, Finlândia, Ceilão, África do Sul, Gana e em navios no mar (FREED, 1994, pp. 181, 183, tradução nossa). 54 A certeza de que deveriam transmitir com qualidade e ao maior número possível de nações, independentemente da certeza da recepção ou dos resultados da recepção, constituía a grande motivação da RTM, que continuou, após Bonaire, articulando meios para atingir os lugares mais distantes do globo. De Tânger, na África, para Monte Carlo, na Europa, seguida da Estação em Bonaire, na América Latina, a Rádio Trans Mundial deu continuidade a seu projeto de expansão mundial. Em agosto de 1973, a Suazilândia, pequeno país do sudeste africano, deu permissão para a Rádio Trans Mundial montar ali mais uma estação transmissora com capacidade para alcançar a África subsaariana e Paquistão. Em 1974, em cooperação com a Rádio Monte Carlo, a RTM iniciou suas transmissões a partir de Chipre utilizando um transmissor AM de 600 mil watts. Vinte e um países no Oriente Médio e Norte da África ficaram ao alcance de suas transmissões – uma população estimada na época de 350 milhões de pessoas. Em 12 de maio de 1975 a Rádio Trans Mundial instalou transmissores na ilha de Guam, e em 22 de agosto de 1975 começou a emitir sua programação diariamente em mais de 35 idiomas para a Ásia Central, Sudeste Asiático e na região Ásia-Pacífico. Em 25 de novembro de 1975, o governo de Sri Lanka concedeu permissão para construir uma estação de transmissão em seu território. As transmissões só tiveram início em 1978, com suas antenas voltadas para a Índia e com programas produzidos em mais de 15 idiomas. Na década de 1980 a Rádio Trans Mundial estabeleceu uma relação de cooperação com rádios no Uruguai, dando uma melhor cobertura para a zona conhecida como “Cone Sul”. Na década de 1990, outros acordos foram assinados: Primeiro com a Rádio Tirana, na Albânia, em 20 de agosto de 1993, com o objetivo de atingir a Europa Oriental. Em seguida, com a Rádio Moscovo sul da Ásia, que a partir de junho de 1993 passou a transmitir para o norte da Índia, Butão, Nepal e Tibet. Em 1994 mais uma estação foi organizada na África do Sul, em Johanesburgo, expandindo consideravelmente a área de cobertura da transmissão da Rádio Trans Mundial no continente Africano. Outras estações transmissoras foram instaladas em anos posteriores. Na Polônia, em 1997, oferecendo programação cristã para os povos da Escandinávia. Na Rússia, em 55 São Petersburgo, em janeiro de 2000 e no Brasil, em novembro de 2002, com um transmissor de 50.000 watts em ondas curtas. Se, a princípio, o alvo de Paul Freed era a Espanha, tempos depois se tornou o mundo todo. Quanto maior a capacidade de transmissão, maiores eram as possibilidades de cobrir pelas ondas de rádio vastas extensões territoriais. A historiadora Ruth A. Tucker, em 1986 já registrava esse crescimento da RTM, conforme escreve: De todas as organizações missionárias de radiofusão, a maior e mais diversificada é a Rádio Trans-Mundial. Fundada em 1954, a RTM transmite hoje com uma potência de cerca de cinco milhões de watts, cuja capacidade pode atingir oitenta por cento da população mundial. De Monte Carlo, Bonaire, Swazilândia, Chipre, Sri Lanka e Guam, seus transmissores gigantes enviam programas cristãos em mais de oitenta línguas e dialetos diferentes (TUCKER, 1986, p. 413). Atualmente, a Rádio Trans Mundial é uma rede de rádio com mais de duas mil e setecentas emissoras, operando em ondas médias (OM), ondas curtas (OC) e FM, além de sua transmissão pela internet. É a maior rede de rádio do mundo e está presente em todos os continentes, transmitindo sua programação em mais de 200 idiomas, incluindo inúmeros dialetos. Utiliza 40 transmissores em 14 localidades espalhadas pelo mundo e transmite via satélite para três continentes. É composta por uma equipe internacional de mais de 2.000 pessoas servindo em mais de 40 países e recebe mais de 1,5 milhões de cartas por ano a partir de ouvintes em mais de 160 países. A Rádio Trans Mundial coopera com outras emissoras cristãs, com os produtores de programas nacionais, organizações missionárias, denominações, igrejas locais e indivíduos. Atualmente possui transmissores em Monte Carlo, Bonaire, Suazilândia, Chipre, Guam, no Sri Lanka, Uruguai, Albânia, Rússia, Johanesburgo, e na Polônia. Paul Ernest Freed permaneceu na presidência da Rádio Trans Mundial até o ano de sua morte, em 1994. A sede internacional da Trans Word Rádio fica em Cary, Carolina do Norte, USA, e seu atual presidente é Lauren Libby. 56 CAPÍTULO 2 - EM CÉU BRASILEIRO: O DESENVOLVIMENTO DA RÁDIO TRANS MUNDIAL NO BRASIL A América Latina, segundo alguns historiadores, foi negligenciada durante séculos pelas missões protestantes, e somente no final do século XIX a percepção desse esquecimento começou a chamar a atenção. A historiadora Ruth A. Tucker apresenta dados estimativos da presença evangélica na América Latina na virada do século XIX para o século XX. Calcula-se que em 1900 havia apenas 50.000 cristãos evangélicos em toda a América Latina, cuja cifra praticamente centuplicou nos cinqüenta anos que se seguiram e excede hoje a casa dos vinte milhões. “Em lugar algum”, segundo Herbert Kane, “o cristianismo cresceu tão rapidamente neste século XX (TUCKER, 1986, p. 329). Algumas explicações foram apresentadas para essa indiferença para com as missões na América Latina. Citando Harold Cook, escreve Ruth A. Tucker: Harold Cook, outro historiador de missões, deu porém algumas razões ou mesmo uma explicação satisfatória para essa negligência. Um dos fatores era que a violenta perseguição católica romana tornava as missões protestantes para a América Latina pouco atraente ou até impossíveis. Outro elemento mencionado por Cook foi que a América Latina não possuía a atração ligada de alguma forma às regiões como o Oriente, a África ou os Mares do Sul. Outrossim, alguns dos líderes das sociedades missionárias protestantes argumentavam que a América Latina já era nominalmente cristã e portanto a atividade protestante nessa área não podia ser propriamente ser classificada como missões da mesma maneira que a obra na Índia, China e África (TUCKER, 1986, p. 329). Tucker, no entanto, esclarece que essa visão sobre a América Latina partia dos delegados da Conferencia Missionária de Endinburgo em 1910 e de alguns líderes das missões de “fé” cuja prioridade era alcançar locais onde a mensagem de Cristo ainda não fora anunciada. 57 Se as sociedades missionárias individuais tinham as restrições acima mencionadas sobre a América Latina, o mesmo não acontecia com as sociedades denominacionais que estavam sendo estruturadas na virada do século XIX para o século XX. Estas sociedades fizeram da América Latina em geral, e do Brasil em particular, seu grande alvo missionário. Ruth A. Tucker, citando Stephen Neill afirma que essas sociedades missionárias denominacionais se introduziram na América Latina “com o propósito expresso de converter os católicos romanos”. Acrescenta: “A maioria dos latinos-americanos, especialmente os índios nativos, eram católicos-romanos nominais e nunca haviam recebido a menor instrução sobre a doutrina católica” (1986, p. 330). Observa ainda a mesma historiadora: Foi sobre esses povos aborígenes – cerca de dez milhões deles na parte ocidental da América do Sul – que muitas das novas missões concentraram seus esforços. A Missão para os índios da América do Sul (South American Indian Mission), a Missão Evangélica para os Andes (Andes Evangelical Mission), a Missão Wycliffe para Tradução da Bíblia (Wycliff Bible Traslators) e a Missão Novas Tribos (New Tribes Mission), foram todas fundadas com o objetivo de alcançar esses povos primitivos sobre os quais Charles Darwin escreveu: É difícil acreditar que sejam nossos semelhantes. Para os missionários, porém, não havia dificuldade em crer que fossem criaturas humanas e mais ainda, almas preciosas por quem Cristo morreu. Eles estavam dispostos a arriscar suas vidas a fim de levar a esses povos a esperança da vida eterna (TUCKER, 1986, p. 330, grifo do autor). Essa visão sobre a América Latina no final do século XIX, especificamente do Brasil, como local pouco viável ou atraente para o envio de missionários devido a violenta perseguição da Igreja Católica Romana não condiz com os relatos de Émile G. Léonard, historiador do protestantismo brasileiro, que nos seus levantamentos históricos defende a tese de que o Brasil desse período, até mesmo pelas características do catolicismo aqui praticado, era um país aberto para a propagação da mensagem protestante ou reformada, fato este que se evidenciou na prática, pela receptividade e crescimento do protestantismo em solo brasileiro. Alguns historiadores ressaltam que as incursões permanentes do protestantismo na América Latina estão diretamente relacionadas com a chegada de imigrantes protestantes ao continente. A imigração, consequentemente, favoreceu a vinda dos 58 primeiros missionários ao continente, resultando num protestantismo denominado “protestantismo de imigração”10 e “protestantismo de missão”11. Os governos da América Latina, principalmente o Brasil, segundo Ondina Gonzáles, viam na imigração, Uma forma de contrabalançar a influência do conservadorismo político e econômico e o catolicismo tridentino. Esses governos geralmente eram os mesmos que convidavam e protegiam os missionários protestantes. Eles o faziam pelas mesmas razões que os levavam a promover a imigração protestante. Assim, embora diferentes em muitos aspectos, as duas formas que deram origem ao protestantismo na América Latina – imigração e as missões – estavam intimamente ligadas (GONZÁLES, 2010, p. 304). No Brasil, as denominações ligadas a este protestantismo de missão, mais destacadamente, presbiterianos, batistas e metodistas, se destacaram nas primeiras décadas do século XX por sua intensa atividade evangelizadora estimulados, principalmente, pelas dimensões geográficas do país com grandes áreas não alcançadas. Émile G. Léonard, historiador do protestantismo brasileiro, sobre esse ímpeto evangelístico escreveu: Os países novos permitem, se assim podemos dizer, uma evangelização a fogo contínuo, pelo fato de oferecerem, constantemente, novos campos de trabalho e novos obreiros, recentemente convertidos e tomados pela flama do primeiro amor (LÉONARD, 2002, p. 342). Paralelamente à evangelização pessoal ou individual, realizada pelos membros das Igrejas, os meios mais modernos de comunicação de massa da época, com destaque para o rádio, começavam a ser utilizados pelas igrejas. Émile G. Léonard, acrescenta que: 10 Protestantismo de imigração: Teve início com a vinda dos primeiros imigrantes alemães para o Brasil a partir de 1824 (Mendonça, 1990). 11 Protestantismo de missão: Teve início com a vinda dos primeiros missionários norte americanos para o Brasil a partir de 1855 (Mendonça, 1990). 59 “Ao lado dessa técnica rudimentar, a mais poderosa de todas, a evangelização protestante utiliza, no Brasil, os meios mais modernos. Possui alto-falantes em suas capelas e nas praças públicas; começa a adotar o uso de automóveis missionários; dispõe, aos domingos, de 22 emissões radiofônicas e, embora muitas sejam de alcance apenas local, outras, como a “Voz Evangélica do Brasil” – para a qual contribuem presbiterianos, congregacionais, metodistas, batistas, independentes e episcopais – alcançam grande parte do país (LÉONARD, 2002, p. 346). Isto significa que no Brasil da década de 1940, o rádio já havia sido incorporado como aliado na transmissão de programas evangélicos, algo que já era realidade na Europa, na América do Norte e na América Latina. Em 1931, na América Latina, ocorre a primeira transmissão evangélica pela HCJB de Quito, “A Voz dos Andes” (Campos, 1997, p.268). Karina Bellotti, pesquisadora da produção midiática evangélica no Brasil, escreve: O uso evangélico da mídia de massa no Brasil iniciou-se no final dos anos 1930 e no começo dos anos 1940, juntamente com a profissionalização dos meios seculares de comunicação. [...] O primeiro caso é o uso do rádio pelos Adventistas do Sétimo Dia [...] em 1943. [...] O rádio foi adotado pelos evangélicos por ser o único meio de massa acessível em termos de custos e de retorno. Desde meados do século XIX, os primeiros missionários evangélicos usaram a imprensa e a distribuição de Bíblias e tratados como forma de comunicação, porém, sua inserção cultural foi limitada, pois a maioria da população brasileira era analfabeta. Assim, quando o rádio se popularizou em nosso país entre os anos 1930 e 1940, um novo investimento em propaganda foi feito. O mais antigo registro de uso do rádio por evangélicos encontrado até hoje está no jornal presbiteriano “O Puritano”, que em 10 de maio de 1938, convida seus leitores a prestigiar em 15 de maio de 1938 a primeira irradiação do programa (BELLOTTI, 2009, pp. 625, 626). Pela utilização do rádio, as diversas denominações protestantes buscavam sua inserção na cultura brasileira, visibilidade midiática, relevância e crescimento no número de seus seguidores. Isto, segundo Karina Bellotti (2009, p. 623), contribuiu para fomentar uma “cultura evangélica transdenominacional”. 60 Os evangélicos marcariam sua presença na mídia brasileira, primeiro no rádio, depois na televisão, buscando, de acordo com Luís Mauro Sá Martino, “legitimação perante a sociedade, a fim de divulgar suas ideologias” (2003, p. 45). É importante ressaltar que o rádio nas décadas de 1940 a 1970 era ainda um artigo de luxo que não estava presente na grande maioria dos lares brasileiros. O geógrafo brasileiro Milton Santos observa que as Condições materiais que são hoje consideradas banais nos lares brasileiros conhecem sua difusão em meados da década de 1980, aproximadamente. Em 1975, objetos como fogão, geladeira, televisão e rádio estavam presentes em poucos domicílios urbanos e eram extremamente escassos nas áreas rurais. No Sudeste, região onde a geladeira alcançava maior difusão na década de 1970, 46,3% dos domicílios urbanos tinham esse artefato, presente em apenas 8,6% dos domicílios urbanos nordestinos. Por outro lado, apenas 18% das residências urbanas sulistas havia um aparelho de televisão, e em 23,1% delas havia rádio. No Sudeste esses índices eram 10,9% e 31,9%, respectivamente (SANTOS, 2001, pp. 226, 227). 2.1 Das primeiras transmissões ao estabelecimento da Rádio Trans Mundial no Brasil As primeiras transmissões da Rádio Trans Mundial para o Brasil acontecem após o estabelecimento de sua mais nova transmissora em Bonaire, Antilhas Holandesas, conjunto de ilhas próximas da Venezuela. Todo o território brasileiro ficou debaixo do desta nova transmissora da Trans Mundial. Através de Bonaire, em 1965, a Rádio Trans Mundial faria sua transmissão inaugural na língua portuguesa, na voz do pastor Israel de Lima, o primeiro brasileiro a fazer parte do departamento de língua portuguesa da Trans Mundial. Isto aconteceu num momento em que o cenário evangélico brasileiro era altamente favorável e receptivo para uma rádio com a sua característica “transdenominacional”. O protestantismo já estava instalado no Brasil há pouco mais de um século e as mais diversas denominações protestantes já estavam espalhadas de norte a sul do país. Aparelhos de rádio capazes de recepção de ondas curtas já estavam bem difundidos nos 61 lares brasileiros e a imensa extensão territorial do país era ainda um grande desafio para uma rádio com capacidade suficiente para cobrir esta vasta extensão territorial. Ouvintes espalhados por todo o Brasil poderiam sintonizar a RTM e apropriar do seu conteúdo para a construção de seu desenvolvimento cultural e humano. Sendo uma rádio internacional, que não dependia do mercado publicitário para a sua sobrevivência, seu conteúdo era marcantemente educativo, ainda que essa educação fosse de natureza religiosa. O rádio, de ondas curtas é [...] um instrumento de mediação de valores culturais representados pelos signos, linguagens e conhecimento, expressos nos seus programas, que permite ao ouvinte construir a sua concepção de mundo a partir da percepção e interpretação daquilo que ouve (SILVA NETO, 2004, pp. 9, 10). Como observou a pesquisadora Martha Scheimberg, o rádio, ao “transmitir informação, ao comunicar significados, ele participa do processo sócio-cultural de grande parte da população do planeta, pelo que podemos dizer, efetivamente, que o rádio educa” (1997, p. 50). Após três anos de transmissões contínuas para o Brasil, de 1965 a 1968, vê-se a necessidade da criação de um Conselho Administrativo da RTM no Brasil. Esta iniciativa fazia parte da política da RTM - Internacional, qual seja, a de aproximar-se do contexto cultural e religioso dos países alcançados por suas transmissões. A Rádio Trans Mundial sentia a necessidade de iniciar uma representação no Brasil. O missionário que em Natal, Rio Grande do Norte, apoiara o trabalho até então havia falecido. A estação estava irradiando diariamente os seus programas em português ao Brasil e a equipe na Ilha de Bonaire estava muito distante para fazer qualquer contato direto com os ouvintes ou mesmo os radio programadores. A programação existente tinha de ser ampliada. [...] A Rádio Trans Mundial Internacional via como condição para este trabalho, a formação de uma entidade missionária nacional, que funcionasse em cooperação, mas não em dependência com a organização internacional (SPIEKER, 1982, p. 4). 62 Observa-se desta declaração acima que, embora houvesse uma preocupação intensa com a transmissão – quanto mais longe, melhor - havia também uma preocupação, não menor, com a recepção. Ao buscar maior proximidade com os ouvintes, produzindo programas valendo-se do contexto histórico, político e social do país, a Rádio Trans Mundial deixava evidente sua natureza missionária. A formação de um Conselho Missionário seria o primeiro passo efetivo dessa aproximação da RTM com os ouvintes brasileiros. O passo seguinte deveria levar ao estabelecimento de uma rádio totalmente brasileira, voltada exclusivamente para a realidade brasileira e dentro da filosofia de administração idealizada pela RTM internacional, ou seja, que trabalhasse em cooperação com a emissora internacional, mas que fosse auto-sustentável e independente. O professor Leonildo Campos, pesquisador da religião, escrevendo sobre a Rádio Trans Mundial, destaca esta característica administrativa “independente” que a rádio deveria ter no Brasil: A rigor trata-se de um conglomerado de emissoras independentes, cuja história começou em 1953, no Marrocos, norte da África, com uma pequena rádio transmitindo pregações protestantes à Espanha católica, então sob regime franquista (CAMPOS, 1997, pp. 268, 269). De onde viria o apoio para a formação da RTM aqui no Brasil? Qual pessoa poderia apresentar as credenciais necessárias e lançar mão integralmente desta tarefa? Que grupo de homens e denominações ligaria suas histórias com a história da RTM no Brasil? 2.2. Edmund Spieker e a organização da Rádio Trans Mundial no Brasil Assim como a história da RTM internacional está ligada ao nome de Paul Freed, a história da RTM no Brasil, doravante designada como RTM-B, está ligada ao nome de Edmund Spieker. 63 Edmund Spieker nasceu na Alemanha Ocidental e imigrou para o Brasil quando tinha apenas oito anos de idade. Edmund Spieker residia em Curitiba e pertencia, naquele momento, a uma denominação de origem alemã, presente no Sul do País, Igreja Evangélica Cristianismo Decidido. Atuava como secretário assistente na Diaconia, organização social ligada à Igreja Luterana. No exercício desta função, viajava constantemente, de Manaus a Porto Alegre, a fim de implantar e supervisionar o programa nacional da entidade por todo o Brasil. Era casado com Marli Spieker, brasileira, descendente de alemães e já tinham um filho, Márcio Spieker, com alguns meses de vida. Em 1967 mudou-se com sua família para o Rio de Janeiro para ficar mais perto do escritório central da Diaconia. Nesta época, juntamente com outros imigrantes alemães, já fazia parte do recém criado Conselho da Rádio Trans Mundial, porém, desconhecia totalmente o universo do funcionamento de uma rádio. Partilhava do interesse comum em dar apóio as transmissões da RTM no Brasil, embora julgasse estar ainda muito distante o tempo do estabelecimento de uma representação da Rádio Trans Mundial no Brasil. De acordo com os registros históricos da RTM-B, a iniciativa que resultou na sua fundação partiu da própria comunidade evangélica alemã brasileira. Um pequeno grupo de cristãos das regiões Sul e Sudeste se reúne para levar adiante o plano de fundar a RTM. Foram feitos contatos entre os produtores em língua alemã e um grupo de pastores e empreendedores alemães no Brasil. Com a visita de dois diretores da ERF, uma rádio evangélica alemã ao nosso país, ficou decidida a criação de uma entidade missionária radiofônica brasileira, ligada à TWR (Trans World Radio, fundada em 1954) e à ERF (Boletim Informativo da Rádio Trans Mundial, nº 9, Janeiro; Fevereiro, 2007). Em meio a estas circunstâncias, Edmund Spieker recebeu uma carta da Alemanha, convidando-o para participar de uma reunião com Herman Schulte, da Evangeliums-Rundfunk (ERF), a versão alemã da Rádio Trans Mundial fundada em 1959. 64 Foi uma surpresa quando chegou a carta de Horst Marquardt, diretor de programação do Evangeliums-Rundfunk (ERF), o ramo alemão da Rádio Trans Mundial, solicitando a minha presença em São Paulo. Lá deveria ter entrevista com Herman Schulte, o presidente desta missão, naquele país. Ele estaria chegando de uma reunião com a diretoria internacional da RTM em Chatham, nos EUA, para apresentar-me algum assunto de importância (SPIEKER, 1982, p. 3). O alemão Herman Schulte foi um dos primeiros cooperadores de Paul Freed, quando do início das transmissões radiofônicas em Tânger, no Marrocos. Compartilhava do ideal de Paul Freed de uma rádio exclusivamente missionária. Seu maior desejo era fazer com que as transmissões evangélicas atingissem a Alemanha e países onde houvesse grande concentração de emigrantes, como era o caso do Brasil. Não é sem razão que as primeiras transmissões radiofônicas da RTM em Bonaire, para o Brasil, em 1965, foram feitas em português e também em Alemão, atingindo a significativa colônia alemã radicada no sudeste e sul do país. Herman Schulte era o presidente da sucursal alemã da Rádio Trans Mundial quando o nome de Edmund Spieker foi sondado para iniciar uma representação da RTM no Brasil. Schulte e Horst Marquardt, ex-militante comunista que se convertera ao cristianismo, assumiram o compromisso de contribuir mais efetivamente com a implantação de uma representação da RTM no Brasil, valendo-se do amplo apoio recebido da comunidade alemã brasileira para este projeto. Edmund Spieker, alemão de nascimento, pastor filiado a Igreja Evangélica Livre12, com pleno domínio do idioma, identificado com a comunidade alemã e com a realidade brasileira, foi o nome indicado pelo então conselho da RTM no Brasil para dar os passos efetivos na organização da rádio no Brasil. O encontro entre Herman Schulte e Edmund Spieker aconteceu em fevereiro de 1969, na Igreja Batista Alemã, em São Paulo. O tema da conversa foi a organização de um escritório da RTM no Brasil que estivesse sob a coordenação de Spieker. Ele seria contratado como representante de tempo integral da RTM para o Brasil para a execução 12 A Igreja Evangélica Livre surgiu da reunião de imigrantes alemães que residiam em São Paulo desde o final da década de 1930 e foi organizada em 16 de agosto de 1959 e registrada oficialmente no dia 23 de junho de 1960. 65 deste projeto de implantação da rádio. Mesmo sem qualquer experiência anterior na área de comunicação de massa, o desafio foi aceito por Edmund Spieker. As metas traçadas naquele encontro para os próximos meses incluíam uma série de viagens, período em que Edmundo Spieker faria alguns estágios nas estações transmissoras da RTM Internacional, a fim de familiarizar-se com o meio de transmissão de mensagem – o rádio - e suas particularidades. Viajaria primeiramente para Monte Carlo, depois para Wetzlar (Alemanha), local da sede da ERF. Seguiria para os EUA, para um encontro com Paul Freed, concluindo seu estágio na estação de Bonaire, no Caribe. O compromisso da ERF era o de auxiliar apenas no início da representação da RTM no Brasil, mais especificamente nos dois primeiros anos. Depois disto, caberia a Edmundo Spieker, juntamente com o Conselho da RTM, mobilizar as igrejas brasileiras, sensibilizando-as para a viabilidade do projeto. Edmund Spieker tinha naquele momento, 30 anos de idade e, sua esposa, Marli, 24 anos. Nos fins de maio de 1969 viajaram para Monte Carlo, onde foram recebidos pelo Dr. Ralph Freed, pai de Paul Freed e diretor geral da Rádio Trans Mundial. Edmund escreveu sua impressão deste momento. Foi interessante conviver com a equipe em Monte Carlo. Eram missionários de muitos países e idiomas diferentes que produziam os seus programas no conjunto de modernos escritórios. Posteriormente estes programas eram irradiados pela estação de Monte Carlo, com a qual a RTM mantinha um contrato. Os poderosos transmissores cobrem a Europa, Oriente Médio e o Norte da África: uma área onde vivem 600.000.000 de pessoas (SPIEKER, 1982, p. 7). Em julho de 1969 o casal Spieker chegou à Alemanha Ocidental, na cidade de Wetzler, sede da Evangeliums-Rundfunk, onde foram recebidos por Horst Marquardt para mais um período de treinamento nas questões técnicas relacionadas à comunicação pelo rádio. Informa que naquela época a ERF recebia uma média diária de 240 cartas dos ouvintes (SPIEKER, 1982, p. 8). Deixou a Alemanha no final do mês de agosto de 1969, levando consigo alguns equipamentos eletrônicos para o primeiro estúdio de gravação no Brasil. 66 Da Alemanha seguiu para os EUA, em direção a sede da RTM internacional, que naquela época ficava em Chatam, New Jersey, para um encontro com Paul Freed, já na condição de primeiro representante de tempo integral da RTM na América do Sul. Um dia depois, viajou para a Ilha de Bonaire, onde foram recebidos pelos missionários brasileiros, Rev. Israel de Lima e sua esposa Eudália, para um último período de 15 dias de treinamento. Bonaire impressionou profundamente Edmund Spieker. Escreveu: Estávamos na maior emissora evangélica do mundo. [...] Dois geradores, cada um do tamanho de uma locomotiva, alimentavam três gigantescos transmissores, dois de OC e um de OM (ondas curtas e médias). [...] Em RTM – Bonaire opera o mais potente transmissor de OM de nosso continente. Ele tem a potência de 500.000 watts (500 Kw), e, dado a um sistema de antenas direcionais, se faz ouvir desde o Canadá até o Sul da Argentina. Este potentíssimo transmissor entrou no ar em oito de agosto de 1964 e apenas três semanas mais tarde já haviam chegado cartas de 58 países. [...] E o que falar dos transmissores em Onda Curta? O maior deles tem 250 Kw e leva o evangelho literalmente ao redor do nosso globo terrestre, à distâncias que nunca antes haviam sido alcançadas por um pregador do Evangelho (SPIEKER, 1982, pp. 11,12). Edmundo Spieker, descrevendo o alcance e a eficiência da estação de Bonaire, acrescenta: A impressão que temos é a de um gigantesco farol que Deus instalou naquela pequena nesga de terra, ali no Caribe, para iluminar todo o nosso continente com a luz do evangelho. RTM-Bonaire é um milagre moderno, e uma prova do grande amor de Deus, que impulsiona homens, mulheres e crianças a servirem ao Senhor naquela Ilha distante. Amor que utiliza a técnica de hoje para proclamar Redenção a Todo Mundo. [...] Deus nos confiara o maior púlpito para a proclamação do Evangelho e este deveria estar à disposição de Sua Igreja no Brasil (SPIEKER, 1982, p. 12). A ideologia conversionista, presente na teologia e na tradição missionária protestante é evidente nas palavras de Edmund Spieker, o que nos remete às observações do professor Antônio Gouvêa Mendonça, estudioso da Sociologia do Protestantismo, quando afirma: 67 A teologia conversionista, componente da tradição missionária, repousa sobre o princípio de que convertendo-se os indivíduos a sociedade toda acabará se convertendo e mudando para melhor. [...] O protestantismo missionário brasileiro não veio do continente europeu, mas dos Estados Unidos, cujo protestantismo tinha raízes na Reforma Inglesa. Talvez por isso que o protestantismo que chegou ao Brasil tenha tido intenções fortemente pragmáticas: pretendia ser elemento transformador da sociedade através da transformação dos indivíduos (MENDONÇA, 1990, pp. 56,17). No registro histórico da Rádio Trans Mundial no Brasil, Os Céus Estão Abertos, escrito por Spieker em 1982, ele informa que retornando ao Brasil, reuniu o Conselho da RTM no dia 4 de outubro de 1969, em Curitiba, na época presidido pelo missionário Alfred Pfeiffer, ligado a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, onde relatou suas experiências e os sete objetivos que deveriam ser alcançados no Brasil em relação a RTM. 1º. Formação de um Conselho Nacional da RTM no Brasil para assistir o secretário executivo Edmundo Spieker, doravante, representante da RTM no Brasil sob a direção de William Mial, diretor da RTM Bonaire para a América Latina. 2º. Parceria entre a ERF e o Secretário Executivo, para o fornecimento de mensagens em alemão e atendimento das correspondências dos ouvintes deste idioma no Brasil – aproximadamente três milhões de emigrantes no final da década de 1960. 3º. Edmund Spieker, como missionário da RTM responderia diretamente a Bonaire, mas no desenvolvimento e implantação do trabalho poderia ter toda liberdade de ação. 4º. A representação da RTM no Brasil trabalharia em parceria com o departamento de português em Bonaire. 5º. Despertar o interesse de cristãos brasileiros para contribuir com o sustento da RTM a fim de torná-la auto-sustentável. O caminho sugerido para atingir este objetivo seria irradiar as mensagens de pastores conhecidos no território brasileiro. Eles dariam a visibilidade que a nova rádio precisava naquele momento e sensibilizariam para a necessidade de sua manutenção. 6º. Dar suporte a Bonaire na instalação de um sistema de monitores que acompanhariam as freqüências das transmissões; contatar organizações eclesiásticas 68 interessadas em irradiar programas em português; incentivar as lideranças evangélicas nacionais a cooperarem ativamente na programação da RTM-B. 7º. Manter uma caixa postal para atendimento dos ouvintes. A primeira diretoria da RTM no Brasil, após a volta de Edmund Spieker ficou assim constituída: 1. PRESIDENTE: Johann Rempel,da Igreja Evangélica Livre de São Paulo, industrial. 2. VICE-PRESIDENTE: Pr. Hartmut R. Glaser, membro da Convenção Batista Pioneira e professor da cadeira de Eletrônica da Universidade de São Paulo. 3. SECRETÁRIO: Roland Koerber , diácono da Igreja Batista Alemã em São Paulo, químico industrial. 4. DIRETOR e TESOUREIRO: Osvaldo Krebs, industrial. 5. PRESIDENTE DO CONSELHO DE PROGRAMAÇÃO: Pr. Robert Schmidt, da Igreja Batista Alemã. 6. SECRETÁRIO EXECUTIVO: Edmund Spieker. Os passos seguintes foram legais, ou seja, elaboração dos estatutos da RTM-B e a eleição de uma diretória para registrá-la como entidade jurídica o que aconteceu no dia 18 de dezembro de 1970, no Cartório Adalberto Netto, em São Paulo, Capital, com a seguinte publicação no diário oficial: Fundada nesta Capital, sua sede tem por fim propagar o evangelho de Jesus Cristo, na sua pureza e integridade, bem como promover a vida cultural e educacional, através do rádio, da televisão, da distribuição de literatura e de outros meios de comunicações. O prazo de duração é indeterminado, será administrada por uma diretoria, cujo presidente a representará em juízo ou fora dele. Os estatutos poderão ser reformados. Os sócios não respondem subsidiariamente pelas obrigações sociais. No caso de dissolução seu patrimônio será transferido para uma entidade com fins análogos e reconhecido pelo governo, como de utilidade pública (SPIEKER, 1982, p. 21). A diretoria eleita para fins legais ficou assim constituída: 69 Presidente Arthur Bruno Alfredo Clebsch Vice-Presidente Johann Rempel Secretário Dr. João Bernardes da Silva Tesoureiro Walter Frederico Matschulat Conselheiro Willy Haeuser Com exceção do Dr. João Bernardes da Silva, pastor da Igreja Presbiteriana Independente, todos os demais membros da diretoria da RTM-B estavam ligados a comunidade evangélica alemã no Brasil, responsáveis diretos pela implantação da rádio no Brasil, conforme registrou Edmund Spieker: Lembramos aqui, com gratidão, de Alfred Pfeiffer, de São Bento do Sul – SC, missionário pioneiros da M.E.U.C13. e que serviu como presidente do Conselho da RTM-B na fase de instalação da entidade; do Pr. Karl Gerhard Braun, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil [...]. Ainda o missionário Theodoro Grischy da A.I.C.D14., de Curitiba; Walter Glaser da Igreja Batista Alemã de São Paulo; Pr. Traugott Salzmann, da Igreja Evangélica Livre de Santo André; Pr. Helmut Fuerstenau, da Igreja Batista Alemã em São Paulo. Todos eles foram homens da primeira hora e que atenderam, sem medir esforços, ao desafio da RTM-B, com muito amor e uma ampla visão missionária (SPIEKER, 1982, p. 21). 13 A MEUC é uma entidade missionária evangélica que se reconhece na tradição da Reforma Protestante e do Pietismo, inserida no contexto da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), com atividades realizadas em diversas cidades e através de diversos departamentos. Surgiu com a chegada ao Brasil do missionário Alfred Pfeiffer em 14 de dezembro de 1927. (http://www.meuc.org.br/quemsomos - acesso em 25 de setembro de 2010) 14 A.I.C.D – Associação cristã que surgiu na Alemanha em 1894 com o objetivo de organizar e dinamizar o trabalho das mocidades nas igrejas daquele país, denominada "Jugend für Entschiedenes Christentum". Os missionários que vieram da Alemanha a partir de 1932 e que faziam parte desta associação, organizaram a AICD no Brasil, chamada de - Mocidade de Cristianismo Decidido ligada a IECD – Igreja Evangélica Cristianismo Decidido. ( http://www.iecdpg.org.br/historico.html - acesso em 25 de setembro de 2010) 70 2.3 Os Primeiros Anos da RTM-B: Fase de Instalação da Infra Estrutura da Rádio. Da Alemanha, Spieker trouxe para o Brasil os primeiros equipamentos para a montagem de um estúdio piloto. Um gravador, microfones, mixer e alguns pequenos acessórios. De Bonaire, trouxe um rádio receptor “Grundig Satellit 5000”, usado na época para sintonizar as frequências de ondas curtas. “Com este aparelho seria possível sintonizar a emissora, medir a força de seu sinal e recomendar as melhores freqüências para Bonaire” (SPIEKER, 1982, p.14, grifo nosso). Com o apoio da comunidade evangélica alemã no Brasil, o primeiro escritório e o primeiro estúdio da RTM-B foram instalados em São Paulo, nas dependências da Igreja Batista Alemã e inaugurados no dia 8 de dezembro de 1969. No dia 12 de Março de 1971 foi adquirido um terreno de 1000m2, na Rua Épiro, na Vila Alexandria, São Paulo, local em que seriam definitivamente instalados os escritórios e estúdios da RTM, com recursos levantados em grande parte pela colônia alemã. O jornal “O Estado de São Paulo”, segundo relato de Spieker, na edição de 10 de Novembro de 1971, publicou uma pesquisa sobre as 22 estações estrangeiras mais ouvidas no Brasil, dentre essas, mencionou a RTM em Bonaire, seus horários e freqüência de transmissões. A nota acrescentava que a “RTM, a par da doutrinação evangélica, se ocupa de problemas educativos e culturais, mas sempre relacionados com a religião” (SPIEKER, 1982, p. 29). No final deste mesmo ano, a RTM, precisando de acomodações mais amplas, instalou-se numa residência na Rua Conde de Arajá, 196, na Vila Mariana, na capital paulista, onde permaneceu até a construção de sua sede própria. A construção do edifício da Rádio Trans Mundial só teve início no dia 30 de Março de 1973, ocasião do lançamento da pedra fundamental, em solenidade dirigida pelo missionário Arthur B. Clebsch, presidente da RTM-B. Oito meses após, no dia 01 de Dezembro daquele ano, deu-se a inauguração do prédio de escritórios e estúdios ocupando uma área construída de 400 m2. O entusiasmo de Edmund Spieker transparece no depoimento abaixo: 71 No dia 1 de dezembro de 1973 festejou-se a inauguração do prédio de escritórios e estúdios na Rua Épiro, 110, na Vila Alexandria. Que festa! Perto de 300 pessoas estavam reunidas para o culto de louvor. E o ambiente era de exultação e alegria no Senhor. Thomas J. Lowell [representante da TWR international] descerrou a fita verde amarela. E a casa moderna e bem equipada foi naquela hora, dedicada a Deus. Uma casa de pregação da Palavra! [...] Após 4 anos de constantes adaptações e mudanças estávamos enfim em nossa própria casa. No primeiro tempo a equipe dos 12 colaboradores quase se perdia na amplidão das novas instalações. Tínhamos construído com a visão do futuro e queríamos estar preparados para as tarefas que continuavam a crescer constantemente (SPIEKER, 1982, pp. 31,31). 2.4 Os Primeiros Anos da RTM-B: O Capital Humano No primeiro ano de funcionamento da RTM-B, Edmund Spieker e Marli Spieker assumiram todas as responsabilidades com a administração, produção e gravação dos primeiros programas no Brasil. A primeira integrante da equipe chegou em fevereiro de 1970. Tratava-se da missionária Hildegard Metzger, cedida pela Missão Evangélica Independente. Hildegard foi uma maravilhosa resposta às nossas orações. O trabalho já era demais para mim e Marli. Hildegard assumiu a parte da correspondência enquanto Marli se dedicava à produção do programa infantil, ao qual deu o nome de “Criança Feliz”. [...] Eu fazia programas em português incluindo as mensagens de pastores, reportagens de acontecimentos do mundo evangélico e diversas entrevistas com obreiros cristãos ativos na obra do Senhor. Além disso realizava muitas viagens com reuniões informativas e contatos diversos. Frequentemente era convidado para pregar em igrejas, em retiros, em congressos e sempre aproveitava estas oportunidades para falar do trabalho que Deus nos confiara. Havia muito que fazer. Às vezes eu me deparava com meus limites e pensava em como seria bom se fosse dois. [...] O trabalho crescia a olhos vistos. O programa infantil recebia cartas cheias de gratidão e entusiasmo (SPIEKER, 1982, p. 24). 72 Em Julho de 1970, outro integrante somou-se à pequena equipe da RTM-B. Era o Pr. Fritz Sharf, que assumiu a responsabilidade de buscar a colaboração de pastores brasileiros para a gravação de programas semanais, tarefa difícil neste primeiro momento em que a Trans Mundial era pouco conhecida da liderança evangélica, principalmente em São Paulo. No mesmo ano, Ana Giraldi, ex-missionária entre os índios, integrou a equipe da RTM-B, assumindo em 1971 a responsabilidade pelos cursos bíblicos por correspondências direcionadas para o público adulto e infantil. Em 1972, dois anos após sua organização, a equipe da RTM-B possuía nove colaboradores e produzia programas para adultos, crianças e jovens. Fitas com gravações dos programas estavam sendo reproduzidas por cinco estações de rádio no Paraná e Santa Catarina e recebiam uma média mensal de 750 cartas. Muitas Bíblias, Novos Testamentos, livros e folhetos evangelísticos haviam sido enviados, acompanhando os milhares de cartas circulares e pessoais. A edição de folhetos, informativos e boletos de horários chegava perto de 200.000 exemplares (SPIEKER, 1982, p. 29). Em 18 de Fevereiro de 1974, o Rev. Davi Nunes dos Santos, esposa e dois filhos, retornam ao Brasil depois sete anos de permanência na TWR (Trans World Rádio), em Bonaire, onde atuou no departamento de língua portuguesa. Original de Mamanguape, na Paraíba, formado em teologia e jornalismo, com larga experiência na produção de programas de rádio, tornou-se um dos nomes mais destacados nos primeiros anos da RTM-B. No Brasil, seu nome ficaria identificado com o programa “Através da Bíblia”, destinado a uma exposição sistemática de toda a Bíblia dentro de uma linguagem contextualizada para a realidade brasileira. Esta série de programas foi traduzida e adaptada do original americano “Thru the Bible”, de autoria do pastor presbiteriano, Dr. J. Vernon McGee, e permaneceu sob a direção do Rev. Davi Nunes dos Santos até o ano de 2006. Em 1975, Germano Shuettel, rádio-técnico, de Porto Alegre, RS, assumindo toda a responsabilidade com as questões técnicas da RTM. Em 1977, Neusa Itioka, assume o departamento de Aconselhamento Espiritual. 73 No mesmo ano, Walter Matschulat, após aposentar-se com 53 anos de idade, integrou a equipe RTM-B, assumindo a responsabilidade pela contabilidade e a função de Secretário Executivo Assistente. Com a rádio estruturada, Edmund Spieker dedicou-se mais intensamente ao trabalho de divulgação da RTM por todo o Brasil. Seu objetivo era tornar a Trans Mundial conhecida no território nacional e despertar a liderança evangélica brasileira para apoiar sua visão missionária. 2.5 Consolidação da RTM-B No início da década de 1980, a RTM-B já havia consolidado sua presença no cenário midiático evangélico brasileiro como a primeira rádio missionária do país. Possuía sede própria, equipe de funcionários, produção e gravação de programas para diferentes públicos, intensa comunicação por cartas com ouvintes das mais variadas regiões brasileiras. Os programas produzidos no Brasil eram enviados por avião a Bonaire, no Caribe, e mandados de volta para o Brasil através das ondas sonoras emitidas pelos potentes transmissores daquela estação internacional de rádio. Bonaire tornou-se um nome bem conhecido principalmente nas regiões, norte, nordeste, central e sul do Brasil. Edmund Spieker escreveu: A Palavra de Deus está dia e noite varrendo os céus do Brasil! Os 23 milhões de rádio receptores em uso no país se transformavam em poderosos veículos de comunicação do Evangelho. [...] Se inicialmente ficamos impressionados com a enorme audiência no Norte e Nordeste, mais tarde então nos fascinava o número de ouvintes na região Central e Sul do Brasil (SPIEKER, 1982, p. 34). O Brasil atravessava a ditadura militar, e o rádio de ondas curtas era ainda um meio de comunicação acessível das camadas sociais mais simples da população, ou daquelas mais isoladas no imenso território nacional. Desde período, a RTM guarda inúmeros depoimentos de ouvintes assíduos de sua programação em diversas regiões 74 brasileiras, para quem os nomes Bonaire e Trans Mundial eram familiares. Os depoimentos abaixo foram selecionados por Edmund Spieker. Existem casos bem originais como aconteceu em Imperatriz, MA, de onde nos relata o Sr. José Inácio de Souza: “Moramos aqui num povoado com 16 mil habitantes e a nossa rua ainda não tinha nome. Quando chegou a época do emplacamento, o responsável encontrou-se com a minha esposa e em conversa pediu que ela dessa uma sugestão sobre qual nome daria à nossa rua. Ela respondeu: Rua Bonaire. A sugestão foi aceita e hoje moramos na Rua Bonaire. Esta é a origem de nosso endereço. Isto em gratidão a Deus pelas bênçãos recebidas através das programações da RTM transmitidas de Bonaire” (SPIEKER, 1982, p. 45). Pessoas que vivem em áreas remotas têm testemunhado da importância da RTM em suas vidas. De Ji-Paraná (Rondônia): “Irmãos, moramos muito distantes da igreja. São 28 Km a pé ida e volta. Agradecemos a Deus por este programa que chega em nossa casa todos os dias” (SPIEKER, 1982, p. 44). Uma carta que nos sensibilizou bastante chegou de São Miguel do Guamá, PA, em março de 1979. “Venho lhes avisar que, alguns meses quando a porca velha deu cria, separei logo um porquinho para criar para a Trans Mundial. Sendo já grande o porco, passou um marreteiro com o seu barco e o comprou por Cr$ 600,00. Mando este dinheiro, pois a RTM é como um pastor para mim” (SPIEKER, 1982, p. 47). Depoimentos como esses, sobre o benefício da informação veiculada pelo rádio, podem ser multiplicados aos milhares, no Brasil como em outros países, o que levou pesquisadores a destacar a observação de Marshal McLuham, sobre o rádio como um “meio quente”15 de comunicação. Ele estimula a imaginação do ouvinte - falando as massas, sua mensagem chega a cada um de forma muito particular, como se o locutor estivesse conversando apenas com ela. Outras características apontadas pelos pesquisadores que fazem do rádio um meio eficaz de comunicação são: O uso da linguagem oral, o que permite que sua mensagem chegue a todos igualmente, mesmo que o ouvinte não seja alfabetizado; sua 15 Meio quente de comunicação: Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. [...] A fala é um meio frio de baixa definição, porque muito pouco é fornecido e muita coisa deve ser preenchido pelo ouvinte. De outro lado, os meios quentes não deixam muita coisa a ser preenchida ou completada pela audiência (McLuhan, 2007). 75 penetração, podendo chegar aos cantos mais remotos; sua mobilidade, visto que pode estar presente, sem complicações, nos mais variados lugares; seu imediatismo e instantaneidade, vistos que os fatos são transmitidos no momento da ocorrência. Cesar Cyro destaca a capacidade do rádio de estimular a imaginação dos ouvintes. O rádio possui um magnetismo próprio, característica única como veículo de comunicação. Por não podermos ver nosso interlocutor, o imaginamos do nosso jeito, da forma que gostamos. É nesta liberdade de pensarmos da nossa maneira, que ele nos conquista, pois como ouvintes abrimos nossa mente para receber suas mensagens. O rádio entra sem pedir licença nas casas, nos automóveis, nos escritórios, enfim, em todos os lugares em que um simples receptor estiver ligado (CYRO,1990, p. 63). 2.6 Fase de Expansão da RTM-B Apesar de sua presença no campo religioso brasileiro, como a primeira rádio missionária do país, a RTM-B, de sua fundação até o ano de 1996, atuou apenas como produtora de programas. Por se tratar de uma rádio internacional, com uma representação no Brasil, a RTM-B existia e desenvolvia suas funções sem necessidade de permissão ou concessão do Governo Federal, assim como outras emissoras internacionais ouvidas no país. Os programas eram produzidos nos estúdios da rádio em São Paulo, transmitidos via satélite para Bonaire e mandados de volta para o Brasil pelos transmissores de Bonaire. Assim permaneceu por quase três décadas. Somente em 1996, quando emissoras pentecostais e neopentecostais já dominavam o cenário da radiofusão evangélica no país, por meio da compra de emissoras em diversas capitais brasileiras, a RTM-B adquire finalmente sua emissora de rádio – a Rádio Nova Visão, em Santa Maria, RS. Esta rádio detinha a concessão de três freqüências de ondas curtas de rádio. Finalmente a RTM-B passaria a transmitir sua programação a partir do território brasileiro. 76 O pesquisador Isael de Araújo documentou esse período do avanço pentecostal sobre as emissoras de rádio. Afirma que a Igreja Universal do Reino de Deus16 comprou sua primeira emissora em 1984, a Rádio Copacabana, no Rio de Janeiro. Outras denominações são apontadas pelo pesquisador pelo seu investimento pesado na compra e produção de programas de rádios, como a Igreja Pentecostal Deus é Amor17 e a Igreja Internacional da Graça de Deus18. Em 1990 [a Igreja Universal do Reino de Deus], já havia adquirido emissora nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Em muitos lugares, a igreja nasceu através de um núcleo a partir de um programa de rádio. Em 2007, a Rede Aleluia contava com 56 emissoras afiliadas e estava presente em 22 Estados brasileiros, abrangendo uma área correspondente a 75% do território nacional. A Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada em 1980, por R.R. Soares, também investe pesado na ridiofusão. Ela adquiriu a Rádio Relógio que pertencia à Nova Vida, e montou a rede Nossa Rádio FM, com estações no Rio (89.3), São Paulo (91.3) e Minas Gerais (97.3). (ARAÚJO, 2010, p. 729). Entre as denominações de tradição histórica não houve o mesmo ímpeto pela presença na mídia radiofônica. Não houve ao que tudo indica, por razões doutrinárias ou culturais, empenho destas igrejas tradicionais em persistir. Também não houve percepção para levar em consideração todo o potencial que o rádio significava, especialmente num país com forte tradição cultural oral. Os pentecostais, mais atentos a esta característica cultural brasileira, tiraram melhor proveito deste meio de comunicação. “A cultura popular, dominada pela oralidade, cria o sentido de que a palavra falada tem poder – e mobiliza o povo para o pentecostalismo” (CESAR, 1999, p. 76). Os pentecostais, no contexto da mídia evangélica, não foram os primeiros a perceber o potencial do rádio, mas foram os primeiros a adaptá-lo às características culturais da massa populacional brasileira, especialmente a mais pobre, resultado das ondas migratórias para os grandes centros urbanos, carente de consolo espiritual e que encontraram no rádio uma palavra de estimulo e esperança. 16 Denominação neopentecostal fundada em 1977 por Edir Macedo. Denominação pentecostal fundada em 1967 por Davi Miranda. 18 Denominação neopentecostal fundada por 1980 Romildo R. Soares. 17 77 O movimento pentecostal ajudou a satisfazer a grande necessidade emocional de um povo analfabeto e abandonado e a dar sentido de objetividade e comunidade àqueles a quem Niebuhr chamou “deserdados” (HAHN, 1989, p.352, grifo do autor). A Rádio Nova Visão, na cidade de Santa Maria, RS, pertencia ao Pr. Ivan Nunes, ligado a denominação pentecostal O Brasil para Cristo. Em 1996, entendendo que a Trans Mundial poderia dar prosseguimento ao seu projeto de evangelizar o Brasil pelo rádio, vendeu sua concessão para a RTM-B, que passou a utilizar suas antenas para a transmissão de suas programações, passo significativo para a consolidação de sua atuação missionária no Brasil. Segue-se um período de cinco anos, até o dia 24 de maio de 2001, quando uma publicação do Diário Oficial da União finalmente oficializa a concessão das três freqüências de rádio para a Trans Mundial. Para legalizar a transação comercial, a RTM-B precisou ser transformada em fundação, passando a se chamar Fundação Sistema RTM de Rádio e Televisão. Em 2004, finalmente foi inaugurado o novo pátio de transmissão em Santa Maria, com 50 mil watts de potência, transmitindo em três freqüências de OC (ondas curtas), 24 horas por dia. Observa-se que enquanto os pentecostais e neopentecostais enxergavam no rádio uma excelente alternativa para dar visibilidade institucional a suas denominações, ou até mesmo como um negócio lucrativo, as denominações de tradição histórica não se mostraram entusiasmadas com a utilização desta mídia. Ainda que tardiamente tenha conseguido sua concessão de rádio, a RTM-B, em nenhum momento deixou de assimilar e incorporar os avanços na tecnologia da comunicação. Em 1996 já fazia suas transmissões por via satélite, tecnologia que estimulou a produção de programas ao vivo, buscando maior interação com os ouvintes, assimilando o formado das rádios seculares AM e FM. Em 1998 inaugurou o site da emissora – www.transmundial.com.br - disponibilizando ao público todas as informações da rádio, como por exemplo, sua história, boletins informativos, redes afiliadas, depoimentos dos ouvintes, linha editorial, dentre outras informações. Em 2000, a rádio começou a operar por 24 horas seguidas, e em 2002, começou a transmitir sua programação pela internet, permitindo o acesso da rádio de qualquer lugar do mundo, beneficiando ouvintes dentro e fora do país, conforme os depoimentos abaixo. 78 Meu nome é Miriam, vivo na Alemanha e sou ouvinte assídua desta maravilhosa rádio que é uma benção para minha vida, principalmente naqueles momentos que me sinto desanimada e com saudades do Brasil. Conheci a Rádio Trans Mundial quando era criança, minha mãe ouvia na madrugada e eu pensava que ela não existisse mais. Este ano quando estava procurando rádios evangélicas para ouvir, encontrei a Rádio Trans Mundial novamente, quase nem acreditei e desde este dia não deixei mais de ouvir. [...] Que Deus abençoe a todos e abraços meu aqui de Munique, Alemanha. Miriam Bendak. Email, 2007 (Rádio Trans Mundial, Assembléia SP/2009, p.116). Aqui é Viviani, moro no Japão e estou, sempre que possível, ligada na Trans Mundial. Agradeço a Deus por vocês existirem pois longe da minha família, da minha igreja [...] ficaria difícil viver sem a palavra de Deus. Escuto muito o programa Um Amigo na Madrugada, pois com doze horas de fuso, aqui é dia. Acompanho também o Pão Diário e tudo o que me dá tempo de participar. Agradeço a Deus por vocês terem este ministério tão precioso! Que a unção de Deus esteja sempre sobre vocês. Viviani, email, 2007, Japão (Rádio Trans Mundial, Assembléia SP/2009, p.114). Os dados de acesso ao site da RTM-B e a rádio online em 2009 são significativos, embora modestos diante do potencial que o recurso oferece. ACESSO MENSAL AO SITE - 2009 79 ACESSO MENSAL A RÁDIO ONLINE EM 2009 2.7 O perfil dos ouvintes da RTM-B A partir da década de 1930, as emissoras de rádio começaram a se espalhar pelo Brasil no ritmo do aumento na aquisição de aparelhos receptores. De nove emissoras em 1932, o número elevou-se respectivamente para 18 em 1935, 31 em 1940 e 106 estações em 1942. João Batista Borges Pereira, com base nos dados da Unesco, afirma que em 1952, “entre os países de língua portuguesa e espanhola, o Brasil colocava-se em segundo lugar, com 2 milhões e quinhentos mil aparelhos” (PEREIRA, 2001, p. 62). Em 1962 o Brasil, com 934 prefixos, já ocupava o primeiro lugar em números de transmissoras entre os países de língua portuguesa e espanhola. De 1970 até 1999, segundo as informações de Milton Santos, O rádio vê quadruplicar seu número de emissoras entre 1977 e 1999. [...] Com uma presença maciça tanto na cidade como no campo, o rádio mostra-se bem eficiente no seu papel de transmissor de informação e de elo de comunicação. Mais de 70 % de todos os domicílios – urbanos e rurais – do Brasil possuíam, em 1995, um aparelho de rádio (SANTOS, 2001, p. 241). 80 A mesma precisão de dados não se verifica quando o assunto é sobre a audiência das emissoras de rádio. O pesquisador João Batista Borges Pereira, escrevendo sobre a extensa rede de aparelhos receptores no Brasil na década de 1960 e sobre os milhares de ouvintes distribuídos de maneira irregular por largos espaços físicos e sociais, destaca a inexistência de dados sistemáticos sobre os ouvintes de rádio neste período. Nenhuma investigação sistemática foi feita no Brasil sobre esta categoria social. Aquilo que dele se sabe são os resultados de levantamentos parciais, visando determinar diferentes índices de audiência deste ou daquele programa, desta ou daquela emissora. Enfim, são dados colhidos apenas para atender a interesses específicos de mercado (PEREIRA, 2001, p. 29). No caso da RTM-B, também não há uma investigação sistemática da audiência e todas as inferências são feitas a partir do contato dos ouvintes com a rádio. Os depoimentos são inúmeros e provenientes de diversas regiões do Brasil. Isto significa uma expressiva cobertura das ondas sonoras em boa parte do território nacional, porém não são garantia de que a audiência da rádio seja igualmente expressiva. Os depoimentos por cartas, numericamente expressivos até o final da década de 1990, começaram a ser substituídos por emails, resultados da cultura digital em expansão no país. Esses depoimentos demonstram o que os pesquisadores afirmam sobre o rádio, ou seja, que a sua utilização como meio de comunicação, religiosa ou secular, estabelece vínculos afetivos com os ouvintes fazendo da audição do rádio necessidade constantes. Da análise das correspondências dos últimos cinco anos, um detalhe chama a atenção, são escritas por ouvintes evangélicos agradecendo os benefícios recebidos por meio da programação da emissora. Ricardo Bitun (2007, p. 98), estudioso da mídia evangélica, acrescenta ainda, que o uso dos meios de comunicação de massa permite que o ouvinte tenha uma experiência religiosa mediada por esse meio. O fiel, na solidão de sua própria casa, experimenta uma “apropriação do sagrado” fora do espaço físico da igreja. A medição da audiência está muito relacionada com a natureza de uma rádio. Se ela é comercial e depende da propaganda para sobreviver economicamente, a audiência passa a ser o seu foco principal. Se é “missionária”, como a Rádio Trans Mundial, poucos ou muitos ouvintes justificam a sua razão para existir e transmitir. 81 Lia Calabre informa que o rádio, a partir da década de 1930 e com a permissão de inserção de propaganda comercial em sua programação, também passou a se interessar pela audiência. A forma mais comum para isso – medir a audiência - era a promoção de concursos com distribuição de brindes, seguida pela análise da correspondência recebida. Caso a reação do público fosse negativa, o programa era reformulado ou retirado do ar. Quanto mais crescia o número de emissoras, mas exigentes ficavam os ouvintes (CALABRE, 2002, pp. 25,26, grifo nosso). Edmund Spieker, com base no número de aparelhos de rádio na década de 1970, estimado em 23 milhões de unidades, e com base nas correspondências recebidas neste período, estimava que 60% de todos os municípios brasileiros estavam sob o alcance dos transmissores da Rádio Trans Mundial em Bonaire. No sul do país, este percentual subia para 75% dos municípios (1982, p. 33). A relação com os ouvintes sempre foi importante dentro da filosofia da Rádio Trans Mundial. Um departamento específico de relacionamento com os ouvintes sempre existiu e ainda existe na RTM. Por meio destas cartas era possível analisar o alcance da emissora e o benefício que ela estava trazendo para ouvintes espalhados por diversas localidades. As cartas sempre serviam para motivar as equipes envolvidas no processo de produção e veiculação dos programas. Sabiam que vidas estavam sendo atingidas pela programação, o que compensava todo e qualquer esforço realizado, ainda que a maior parte dos ouvintes permanecessem no anonimato. Pelos testemunhos e as inúmeras cartas que recebemos, sabemos que o nosso auditório ouvinte no Brasil é imenso. Para estimar a audiência de uma emissora, diz uma estatística da Europa: “1 escreveu, 5.000 gostariam de ter escrito.” Nos EUA se conclui: “1 escreveu, 10.000 escutaram”. Não temos um referencial absoluto para fixar o nosso número de ouvintes no Brasil, onde em determinadas áreas ainda existe o analfabetismo e um sistema de correio elementar. Mas tomando por base apenas a média entre as estatísticas da Europa e dos EUA, então baseando na média de cartas recebidas mensalmente entre 1978 e 1982, chegaríamos a 7.560.000 ouvintes por mês. Isso realmente é maravilhoso (SPIEKER, 1982, pp. 53,54, grifo do autor). 82 Os depoimentos dos ouvintes sempre estiveram presentes em todos os relatórios e publicações da Rádio Trans Mundial. Atualmente, em plena era digital, estas informações detalhadas podem ser obtidas com facilidade no endereço eletrônico da rádio. O estímulo produzido pelas correspondências é evidente nos relatos de Edmund Spieker (1982, p. 25), no depoimento histórico que produziu sobre os primeiros anos da RTM no Brasil: “A entrada de cartas aumentava dia a dia. Em julho de 1970 já registrávamos o milésimo ouvinte em nosso arquivo de endereços. No fim do mesmo ano já recebíamos uma média de 500 cartas por mês.” Outros depoimentos de Spieker podem ser destacados: Muitas das cartas encaminhadas ao departamento de aconselhamento espiritual são provenientes de alunos do curso bíblico por correspondência “Viver como Cristão” que procuram maior orientação. Este curso foi lançado em 29 de setembro de 1971 e mais de 23.000 pessoas já participaram dele. Ana Giraldi, ex-missionária entre os índios, que desde 1970 tem feito parte da equipe da RTM-B é a pessoa que cuida minunciosamente do bom andamento deste setor. Além do curso para ouvintes adultos, Ana, atende também o curso bíblico por correspondência “Criança Feliz”. [...] Mais de 2000 crianças de todo o Brasil, desde 15 de agosto de 1978 têm participado deste cursinho. No decorrer dos anos foram muitas as cartas, os testemunhos e os relatos que ouvimos. Aqui podemos fazer menção de uns poucos apenas. Bem no interior de Piranhas - MA, um ouvinte escreve: “Aqui nesta região há muitos crentes, os quais se converteram através de seu programa. São poucos os meus vizinhos que possuem rádio, por isso eu coloco o meu rádio aqui em casa na janela, que dá para a rua, ponho o volume no máximo e assim todos ouvem os programas. Pessoas que vivem em áreas remotas têm testemunhado da importância da RTM em suas vidas. De Ji-Paraná (Rondônia): “Irmãos, moramos muito distantes da Igreja. São 28 Km a é ida e volta. Agradecemos a Deus por este programa que chega em nossa casa todos os dias. Eu sou crente há mais de três anos, mas ainda não tinha ouvido explicações tão boas como as suas sobre a Palavra de Deus.” Ler a correspondência na RTM é algo emocionante. Dia após dia recebemos cartas de todas as partes do Brasil. O conteúdo é o mais diverso e reflete a situação espiritual de nossos ouvintes. Baseados nestas informações podemos ainda melhor dirigir a mensagem (SPIEKER, pp. 40, 41, 44, 45). 83 No decurso dos 40 anos de existência e transmissão da Rádio Trans Mundial, a manifestação dos ouvintes sempre se fez presente. Cartas e fotos estão acumuladas na sede da RTM em São Paulo, como testemunho desse contato com os ouvintes, principalmente no período de forte audiência das ondas curtas, quando o aparelho de rádio era o único meio de contato com o mundo exterior, especialmente em regiões remotas do Brasil. As cartas, deste período, estão marcadas por expressões de gratidão, por depoimentos de conversão e de bem estar espiritual recebidos por meio das transmissões da emissora. Com a integração via satélite das comunicações no Brasil, tecnologia cujo acesso se popularizou a partir da década de 1990, a audição das rádios de ondas curtas em geral, e também da Trans Mundial, sofreu um retrocesso significativo. Outros meios de comunicação, principalmente a televisão, ficaram disponíveis para a população do país, mesmo nas regiões mais longínquas. Com a difusão da internet, em ritmo crescente desde o final da década de 1990 até hoje, de acordo com Solange Dias Mendes19, a frente do Setor Ministerial e de Atendimento ao Público desde 1993, “as cartas enviadas diminuíram progressivamente, sendo substituídas por emails. O conteúdo das mensagens também sofreu uma alteração significativa com a mudança do meio de comunicação. As cartas eram longas, detalhadas, carregadas de sentimentos. O ouvinte queria contar um pouco da história de sua vida. Os emails são curtos, objetivos, apressados, mais impessoais, destacando esta ou aquela preferência específica do ouvinte sobre a programação da rádio” (informação verbal). De acordo com José Carlos dos Santos, atual diretor executivo da Rádio Trans Mundial, quando questionado sobre o perfil dos ouvintes da rádio, respondeu: Pelo rádio em Ondas Curtas, AM e FM20, a maior parte dos ouvintes da Rádio Trans Mundial pertencem às classes sociais C e D, mais 19 Informação fornecida por Solange Dias Mendes, reponsável pelo setor ministerial e de atendimento ao público, em São Paulo, em Outubro de 2010 20 OC (ondas curtas) É a modulação em amplitude (AM), cuja portadora está compreendida na faixa de frequencia de 4.950 kHz até 26.100 kHz. AM – Amplitude Modulada – Quando o sinal modulador da mensagem de radiofrequencia, que se propaga do transmissor, é recebido pelo portador de um aparelho de rádio em sintonia com faixa de ondas médias. As faixas de OM (onda médias), OT (onda tropicais 62,90 e 120 m) e OC (ondas curtas 49,31, 25,15,13m) adotam este tipo de modulação. AM é designativo deste tipo de modulação. OM é designativo de uma faixa de freqüência. 84 identificados com esse veículo de comunicação. Pela Internet, alcançamos mais as classes sociais A e B, mais integrados com a comunicação digital (Informação verbal, 14.10.10 – na RTM-B). A RTM-B procura em seus boletins informativos impressos ou pela internet, dar amplo destaque as comunicações feitas pelos ouvintes, por carta, telefone ou por email. É uma forma de legitimar a sua existência dentro do cenário evangélico brasileiro e de continuar sensibilizando os seus mantenedores. Fora esses contatos dos ouvintes com a Rádio Trans Mundial, não existe nenhuma pesquisa científica de sua audição no Brasil. Todas as informações estatísticas são elaboradas e publicadas apenas com bases nestes relatos esparsos, importantes como base ideológica, mas sem precisão científica. No relatório impresso referente ao exercício de 2009, apresentado na Assembléia Geral da RTM-B, realizada uma vez por ano, com a presença dos sócios mantenedores, dois terços das duzentas e quarenta e uma páginas desta prestação de contas contêm depoimentos isolados dos ouvintes da RTM-B, no Brasil e no mundo, desde 2005. Da página 83 à página 234, os depoimentos são repetidos à exaustão, prefaciados com as seguintes palavras: Frutos do nosso trabalho. Todo o material recebido como resposta ao nosso trabalho pode ser observado através dos testemunhos relatados em cartas, telefonemas, emails. Extratos gerais da Rádio Trans Mundial. O que dizem nossos ouvintes (Relatório da Diretoria Referente ao Exercício de 2009. Rádio Trans Mundial. Assembléia SP/2009, p.83). Enquanto empresa sem fins lucrativos, de natureza missionária, cujo objetivo é a transmissão do discurso religioso, a questão da medição da audiência não é a mais relevante para a RTM-B. Porém, isto não implica que haja um desinteresse pela FM – Frequencia Modulada – “Sistema de transmissão em que a onda portadora na faixa 88 a 108 Mhz é modulada em freqüência, ou seja, a moduladora, que é a informação na faixa de audiofrequencia, altera a freqüência central da emissora em função de sua intensidade e de sua freqüência. O processo em FM é submetido a menor incidência de ruído e lhe é inerente uma faixa mais ampla de reprodução do áudio, o que lhe dá maior fidelidade (César Cyro, 1990) 85 audição. O constante investimento na produção de programas com qualidade, a programação “ao vivo” durante várias horas do dia, a permanência no ar por 24 horas, a possibilidade do acesso digital e, mais destacadamente, a busca de parcerias com emissoras AM e FM em várias localidades do país são indícios suficientemente fortes do empenho da Rádio Trans Mundial no Brasil por uma audiência maior. Karina Bellotti, analisando outra produção de mídia, menor em sua expressão, mas semelhante na tradição histórica protestante, afirma que a não preocupação com a medição da audiência, Longe de ser desinteressada, visa a uma lógica: a de atrair somente quem estiver preparado para ouvir e entender a mensagem cristã. Precisar da mensagem cristã, na visão teológica cristã, todo mundo precisa, mas no caso da tradição protestante reformada, a conversão não ocorre de uma hora para outra; é mais um processo. O apelo às massas é atraente para qualquer igreja, mas na visão protestante reformada, isso esconde o perigo da corrupção da mensagem. Agradar a todos significaria subjugar Deus às vontades de todos (BELLOTTI, 2003, p. 47). Em agosto de 2009, na comemoração dos 40 anos de existência da Trans Mundial no Brasil, uma pesquisa foi feita pela própria rádio a fim de definir o perfil de seus ouvintes. Foram pesquisados ouvintes por telefone, email, cartas. Outros foram estimulados por chamadas ao vivo, dentro da programação. De um total de 207 ouvintes entrevistados, 57% são homens e 48% têm entre 36 e 55 anos de idade. 95% dos entrevistados se consideram evangélicos, destes, 31% pertencem à igreja Assembléia de Deus e 20 % pertencem à Igreja Batista. Os outros 49% estão divididos entre variadas denominações. Quase a totalidade dos ouvintes é alfabetizada, 99%. A cidade com maior audiência é Goiânia. Os Estados com maior audiência são Goiás e São Paulo. A maior parte dos ouvintes escuta a Trans Mundial pelas emissoras afiliadas, o que mostra que a estratégia da rádio para buscar visibilidade utilizando emissoras regionais está dando certo. Um número expressivo de ouvintes, 36%, acompanha a Trans Mundial pela internet, confirmando a cultura digital em expansão no país.Na maior parte dos estados a audiência é inexpressiva, ou ausente, como na região amazônica. Vale lembrar que na década de 1970, os Estados da Amazônia se destacaram pela grande audiência da Trans Mundial a partir de Bonaire. 86 O resultado da pesquisa foi transformado em gráficos que reproduzimos abaixo. Sexo 119 88 Masculino Feminino 119 - Homens 88 - Mulheres Total = 207 ouvintes. Ouvintes pesquisados Faixa Etária FAIXA ETÁRIA 4655 a 55 3644 a 45 2638 a 35 10 a 14 15 a 25 5635 a 65 26 a 35 36 a 45 1521 a 25 46 a 55 56 a 65 666 ou + 101 a 14 A) 0,5 % - 10 a 14 anos D) 21,3% - 36 a 45 anos B) 10% - 15 a 21 anos E) 26,7% - 46 a 55 anos C) 18% - 26 a 38 anos F) 17,5% - 56 a 65 anos G) 3% - 66 ou mais Faixa Etária Predominante Obs.: 7 não responderam Divisão por faixa etária Cidades com mais ouvintes 1% 5% Cidades com 1 ouvinte 14% Cidades entre 2 a 5 ouvintes Cidades entre 6 a 10 ouvintes 80% Cidades com mais de 10 ouvintes Cidades com mais ouvintes: 1º - Goiãnia GO = 16 3º - Nova Russas CE = 6 2º- São Luiz MA = 12 4º - Osasco SP = 6 5º - São Paulo SP = 5 Distribuição por cidades 66 ou mais 87 Estados citados ESTADOS QUE PARTICIPARAM 35 34 30 25 15 9 3 1 5 1 8 7 3 2 7 3 1 São Paulo Rondônia Santa Catarina Ceará Goiás Distrito Federal Paraná Bahia Mato Grosso Mato Grosso do Sul Pernambuco Piauí Minas Gerais Rio Grande do Sul Tocantins Maranhão Rio de Janeiro Pará 8 Estados com mais participações: 1º Goiás = 35 ouvintes 2º São Paulo = 34 ouvintes 3º Minas Gerais = 30 ouvintes 4º Mato Grosso = 25 ouvintes 5º Maranhão = 15 ouvintes 6º Ceará = 9 ouvintes Distribuição por Estados Estados com mais participações: 1º Goiás = 35 ouvintes 2º São Paulo = 34 ouvintes 3º Minas Gerais = 30 ouvintes 4º Mato Grosso = 25 ouvintes 5º Maranhão = 15 ouvintes 6º Ceará = 9 ouvintes De 1 a 8 ouvintes. Estados com participação zero. Estados com maior participação Profissões mais Citadas 56 95 Dona de Casa 30 Autônomo 21 Professor 13 Vigilante 8 7 7 7 7 6 6 Dona de Casa Autônomo Professor Vigilante Costureira Func. Público Aposentado Comerciante Agricultor Estudante Outros Profissão dos Ouvintes 88 1 - 2º Grau Completo 26% ESCOLARIDADE Escolaridade 1 grau incompleto ou em curso 1% 2 -11ºgrau Graucompleto Completo 25% 4% 19% 17% 3 -21ºgrau Grauincompleto Imcompletoou 19% em curso 4 -2Superior Completo 17% grau completo Completo 8% 5 -Superior 2º Grau Imcompleto 25% 26% incompleto 6 -Superior Superior em curso 4%ou em curso 8% ñ alfabetizado 7 - Não alfabetizado 1% Escolaridade dos ouvintes Denominações Citadas RELIGIÃO 31% Assenbléia de Deus 20% 31% 20% Batistas 20% Outras 95 % Evangélico/Protestante 4% Católico 1 % Católico Ortodoxo 0% Sem Religião 10% 10% Não tem Denominação 3% 9% Presbiterianos 3% 4% Congregação Cristã 4% 20% 9% 3% Deus é Amor 3% Metodistas Denominações Denominações mais Citadas 64 42 41 20 19 8 7 6 Assembléia de Deus Batista Presbiteriana Congregação Cristã Deus é Amor Metodista 64 - Assembléia de Deus 41 - Batistas 19 - Presbiterianos 08 - Congregação Cristã 07 - Deus é Amor 06 - Metodistas 20 - Não tem denominação 42 - Outras Não tem Outras Religião – Denominações dos ouvintes pesquisados Linha do Tempo Quanto tempo do dia ouvem a RTM ? 25% ouvem dia todo ? 25% Ouvem o Dia Todo Horários Mais Ouvidos 75% Ouve Tempo Parcial 75% ouvem tempo parcial Horários de maior audição 89 Como Ouvem Total 225 ouvintes. 18 responderam que ouvem tanto por radio, como por internet. 26 53 Internet 39 Podcast 2 OC FM AM ou OM 105 64 % ouvem por Radio 36% 36 % ouvem por Internet 64% Audição pelo Rádio e Internet 2.8 Programação e conteúdo A programação da RTM sempre teve como objetivo levar mais do que a mera informação ou o entretenimento para os ouvintes, queria na verdade, levar valores que pudessem fazer a diferença em suas vidas ou contribuir de forma positiva para sua evolução humana, certamente pensado dentro de um contexto histórico-cultural alinhado com a tradição protestante. Como veículo de comunicação de massa, a RTM nunca pretendeu neutralidade religiosa. Houve a todo instante uma mobilização consciente da mídia para mudar as atitudes das pessoas, o que Burke denomina de “propaganda religiosa” (2006, p. 105). Seus objetivos foram claramente delineados desde sua origem, ou seja, produzir programas de qualidade, tendo a Bíblia Sagrada como parâmetro infalível para fazer uma leitura dos acontecimentos históricos, políticos, sociais, culturais, relacionando-os com as questões espirituais, definindo padrões ou referências éticas, morais, comportamentais capazes tanto de interferir na vida dos ouvintes como em reforçar suas convicções religiosas. “No campo da construção de sentido por meio das representações, o “real” é sempre um dado construído historicamente conforme o prisma de quem se apropria dele” (BELLOTTI, 2003, p. 44). Na sua programação, a Rádio Trans Mundial apropria-se do real e dá sentido a ele a partir das referências bíblicas como base de comportamento para todas as pessoas. 90 Por sua natureza interdenominacional e vocação missionária, o conteúdo de sua programação não aborda questões polêmicas no universo doutrinário dos diversos “protestestantismos” brasileiros, optando sempre pelos temas de consenso. Sobre isto, observou Spieker: O Conselho de Programação da RTM-B, bem como a equipe de produção tem estado alerta às necessidades de tão grande auditório. É grande a variedade dos programas que são dirigidos a descrentes e crentes, crianças, jovens e adultos. São abordados assuntos como Salvação, Edificação, Mordomia, há um programa de clínica pastoral, séries sobre Espiritismo, drogas, tóxicos e pornografia, bem como comentários sobre notícias e fatos da vida. São diversas também as formas de abordagem: pela exposição bíblica, testemunho, entrevista, dramatização, painel, palestra e comentário. [...] Além dos redatores e produtores da própria RTM-B, contamos na produção dos programas com a colaboração voluntária de pastores e obreiros de diversas denominações evangélicas e de um grupo de jovens e crianças. [...] Deus nos deu o privilégio de lançar a boa semente pelos ares deste imenso Brasil e maravilhados assistimos como o Seu Espírito opera uma colheita realmente abundante (SPIEKER, 1982, p. 48). Existem quatro blocos padrão, apresentados por locutores diferentes cuja programação está descrita abaixo: 1º. Bom Dia RTM – de 2ª a Sábado das 08h00 às 12h00. Programa diversificado de entretenimento, estudo bíblico, musical, jornalismo e edificação espiritual. 2º. Espaço Trans Mundial – de 2ª a 6ª das 14h00 às 18h00. Programa diversificado de entretenimento, estudo bíblico, musical, jornalismo e edificação espiritual. 3º. Um Amigo na Madrugada – de Domingo a Domingo das 00h00 às 04h00. Oferece companhia para o ouvinte da madrugada, edificação espiritual, música e informação. 4º. RTM em Bonaire – De Domingo a Domingo das 04h00 às 06h00 e das 20h00 às 21h00. A programação se alicerça em: Bom Dia RTM, Espaço Trans Mundial, Noite RTM e Amigos da Madrugada. No meio de tudo isso 91 estão os programas, como Rota 66, Mulheres de Esperança, Sons do Coração, Através da Bíblia, entre outros. Certamente este não é um trabalho fácil. Muito amor e dedicação são transmitidos diariamente pelas ondas do rádio (Informativo da Rádio Trans Mundial, 1º Trimestre, 2009, pp. 18,19). Os demais programas estão inseridos dentro destes quatro blocos padrão. São programas variados, abordando os mais diferentes temas da vida cristã. INFORMAÇÕES TÉCNICAS Amigos do Rádio. Informações técnicas para radiofusores, amadores e dexistas, apresentado cinco vezes por dia. ESTUDO BÍBLICO: Através da Bíblia. Estudo sistemático de toda a Bíblia como comentários capítulo por capítulo. (cinco vezes por dia) Conversando com Luiz Sayão. Programa de perguntas e respostas sobre questões cristãs em geral feitas pelos ouvintes através de emails ou cartas. (quatro vezes por dia) Didática. Programa que responde a questões doutrinárias básicas. (diário, inserido em vários horários) Rota 66. Estudo expositivo pelos 66 livros da Bíblia, culminando com lições cristãs práticas com produção e apresentação do Pr. Luis Sayão. (quatro vezes por dia) EDIFICAÇÃO: Boletim de Oração do Projeto Ana. Programa diário com leitura do pedido de oração do dia que consta no boletim de oração do Projeto Ana com acréscimo de dados sobre o projeto. Mensagem para Hoje. Programa da Umbet – União Missionária Brasileira que oferece oportunidade de ouvir a palavra de Deus sob aspectos práticos. Programa diário apresentado em horários variados. Palavra Viva. Passagens bíblicas lidas nas várias edições da Bíblia e para situações específicas: tristeza, medo, ansiedade, gratidão, etc. Diário. Pão Diário. Leitura do Devocional Pão Diário do ano corrente, apresentado diariamente e em diversos horários. 92 Ponto de Partida. Programa diário onde são apresentas pequenas mensagens interpretando os fatos da vida. EVANGELIZAÇÃO Boas Novas. Meditações sobre os Evangelhos, produzidos pela HCJB, apresentados duas vezes por semana e aos domingos. Dia a Dia. Mensagens pregadas pelo Pr. Paschoal Piragine Jr., da Primeira Igreja Batista de Curitiba – PR, apresentados de 2ª a 6ª às 13h00. A fé vem pelo ouvir. Gravação dramatizada do Novo Testamento produzida pela Sociedade Bíblica do Brasil e reproduzida diariamente em diversos horários da programação da emissora. Hora da Irmandade. Programa produzido pelo Pr. Mário Hort da Igreja de Deus. São mensagens bíblicas que sempre estão relacionadas a algum acontecimento do momento. Aos domingos. Louvor e Salvação. Programas de mensagens, músicas instrumentais e evangelização, produzidos e apresentados pelo Exército da Salvação aos sábados e domingos. Meditações. Programa produzido pela HCJB com mensagens para a vida cristã e para o fortalecimento espiritual, apresentado aos sábados. Palavra do Pastor. Mensagens de cunho evangelístico apresentadas por pastores de diferentes denominações que são convidados para trazer uma mensagem para os ouvintes. Programa diário com quatro exibições. Paz e Segurança. O púlpito no rádio. Exposição da Palavra de forma direta ao ouvinte. Exortação, evangelização, edificação. Programa gravado ao vivo na Igreja Batista de Vila Mariana, São Paulo, e apresentado em dois horários aos domingos. Um Tempo com Deus. Meditações e orações de No Cenáculo, da Igreja Metodista. Produção e apresentação: Bispo Nelson Luiz Campos Leite. Apresentado as quartas e sábados. ENTRETENIMENTO – Segmento infantil, jovens e mulheres. Atletas no Ar. Programa levando a Palavra de Deus no mundo do esporte amador e profissional. Voltado para quem gosta de esportes com dicas para a boa forma, 93 notícias do mundo esportivo em geral, eventos, entrevistas. Apresentado sexta e reapresentado aos sábados e domingo. Clubinho do Pijama. Programa infantil com música, entretenimento, conteúdo pedagógico-teológico e histórias bíblicas interpretativas. Apresentação aos domingos e durante a semana. Entre Amigas. Programa dedicado à mulher preocupada com sua vida familiar, seus afazeres e seu relacionamento com Deus. Apresentado às segundas-feiras com repetição durante a semana. Entrevista. Entrevistas diversas feitas pelos produtores sobre temas relevantes do cotidiano cristão e com personalidades conhecidas. “Entrevistas sempre são bem recebidas pelo público. [...] Uma entrevista bem-feita valoriza a emissora, engrandece seu horário e o mais importante, entretém o ouvinte” (CYRO, 2002, p.100). Apresentado e reapresentado ao longo da semana. Hora do Pijama. Histórias bíblicas infantis interpretativas para serem escutadas antes de dormir, apresentado de segunda à sexta. Na Contramão. Programa dedicado à juventude com músicas, entrevistas, temas relacionados ao universo dos jovens e com possibilidade de participação dos ouvintes. Quartas feiras com repetição em outros dias da semana. Vida em Família. Parceria entre a RTM e o Ministério Oikos, ministério cristão de apoio à família, apresentado quatro vezes por semana. BIOGRÁFICOS Perfil. Programa biográfico de cantores cristãos. Uma viagem musical às canções que marcaram uma geração. Apresentado aos finais de semana e repetidos em outros dias e horários. Biografia. A vida e a história daquelas pessoas da Bíblia que ousaram confiar e andar com Deus. Programa diário, apresentado em diferentes horários. Arquivo RTM. Um programa que mostra um pouco do arquivo histórico da RTM com os programas que foram ao ar ao longo dos 40 anos de existência da rádio. Disponível em gravação anexa. Relatos de fé. Testemunhos de transformações espirituais apresentados aos domingos com repetições na semana. 94 MUSICAIS Diário de Viagem. Relatos das viagens realizadas por Wesley e Marlene, divulgadores do trabalho da RTM no Brasil, com testemunhos e inserções musicais. Programa apresentado eventualmente. Musical RTM. Programa com uma seleção das melhores músicas cristãs, apresentadas sem intervalos e em horários alternados ao longo da semana. Hinos que tocam. Um momento especial com hinos clássicos que falam ao coração. Em diversos horários durante a semana. Sons do coração. Reflexões e meditações sobre adoração além de entrevistas com músicos e compositores cristãos. Programa produzido e apresentado por Nelson Bomilcar, músico conhecido no campo evangélico brasileiro. JORNALÍSTICO e INFORMATIVO Atualidades RTM. Programa semanal que mostra os bastidores da RTM e de quem trabalha na rádio, apresentada às sextas-feiras com repetições na semana. Boletim Rural. Programa diário de notícias voltado para o público das áreas rurais. Entenda o que acontece. As notícias são explicadas de maneira didática para que o ouvinte compreenda o que acontece ao seu redor. Falando sério. Utilidade pública com dicas práticas para o bem-estar social e conclusão bíblica reflexiva. Fé e Sociedade. Pequena análise de assuntos e acontecimentos atuais da política, economia e cultura sob o prisma cristão. Apresentação e produção do Pastor Luiz Sayão. Giro Missionário. Traz notícias do campo missionário e reflexão sobre o chamado para a responsabilidade de levar o evangelho a outros povos. Magazine. Os destaques das principais revistas semanais brasileiras e das revistas cristãs. Missão Notícia. Programa que atualiza diariamente os acontecimentos missionários no Brasil e no mundo. Nota do Minuto. Pequenas notícias atemporais sobre missões, saúde, comportamento e curiosidades em geral. 95 Notícias da hora. A informação resumida dos principais fatos da última hora. São flashes informativos dos acontecimentos, atualizados de hora em hora, presentes em todos os programas. Pensamento Verde. A ecologia e o meio ambiente descrita de maneira séria através das últimas notícias. Radiografia. Esclarecimentos médicos a respeito de assuntos ligados á saúde e bem estar. Resumo das notícias do dia. Resumo das principais notícias da manhã e do dia através de uma visão sensata á luz da Palavra de Deus. Revista RTM. Resumo das principais notícias da semana. Mulheres de Esperança. Programa semanal que aborda temas ligados à mulher, com entrevistas, músicas, testemunhos, com aplicação dos princípios bíblicos para a vida diária. Seguindo as tendências das rádios modernas, inseriram em sua grade de programação as notícias seculares, as notícias esportivas, prestação de serviços, destaques das principais manchetes de jornais e revistas de expressão nacional, além das músicas cristãs contemporâneas, a matéria–prima principal tanto das emissoras seculares como cristãs. A RTM-B conta com profissionais capacitados na produção e na técnica, além de três equipes de locução que se comunica com os ouvintes no mesmo estilo das rádios seculares. Mesmo não possuindo natureza comercial, procura acompanhar de perto as tendências das emissoras comerciais, buscando estabelecer uma identificação com o cotidiano dos ouvintes, procurando cativá-los. Grande parcela da massa de ouvintes do rádio é formada por pessoas simples, de população de baixa renda, que ligam muitas vezes o rádio em busca de lazer, divertimento e identificação com um amigo. É este público que consagra e mistifica seus comunicadores gerando-lhes audiência certa todos os dias. Já uma outra parcela do público também busca no rádio a informação, a notícia, a utilidade pública e a prestação de serviço. Como é um veículo instantâneo e de grande mobilidade na forma de trazer a notícia, possui grande credibilidade por parte do público (CYRO, 2002, p. 92). Alexandre Brasil Fonseca (2003, pp. 276, 277), escrevendo sobre o impacto da mídia – rádio e televisão – na conversão das pessoas entende que seu impacto é mais 96 confirmatório do que decisório, ou seja, reforça as convicções ou influencia àqueles que já estão inseridos no contexto religioso específico. “Há consenso na literatura de que a audiência dos programas religiosos é composta na sua grande maioria por fieis das religiões que os produzem.” Embora reconheça, em certa medida, que a adesão de novos fiéis seja mediada pelo contato pessoal, mais que pelo rádio ou televisão, também constatou em suas pesquisas de campo que 31% dos evangélicos entrevistados, atribuem à mídia, especialmente ao rádio, uma influência em sua conversão. “A influência do rádio e da televisão na conversão por denominação encontrada foi: Rádio: Renovada (43.2%); Pentecostal (36.6%); Universal (32.0%); Assembléia de Deus (21.2%); Batista (219.9%) e Tradicional (14.6%) (FONSECA, 2003, p. 278). 97 CAPÍTULO 3 - ONDAS AO CÉU E PRODUTO NA TERRA: A RTM E A PRODUÇÃO DE BENS SIMBÓLICOS. A RTM do Brasil nasceu com propósito exclusivamente missionário, não mercadológico. Seguia os mesmos princípios da RTM internacional, isto é, ser uma missão de fé, dependente apenas de Deus, não diretamente ligada a uma denominação específica, mas procurando servir a todas elas. Ruth A. Tucker diz que, desde o início, as missões de fé se associaram “aos evangélicos conservadores e a maioria dos recrutas não tinha curso superior ou era formada por institutos bíblicos ou faculdades cristãs, tais como Nyack, Moody e Wheaton” (1986, p. 309). Paul Freed, fundador da RTM, estudou em Wheaton e Nyack, instituições que exerceram forte influência neste modelo de sustento financeiro adotado pela Trans Mundial. Tucker também ressalta a importância das missões de fé no contexto missiológico do século XX. O termo missões de “fé” é geralmente associado às missões cujas normas financeiras não garantem uma renda fixa para seus missionários [...] professando, assim, confiar inteiramente em Deus para as suas exigências financeiras. [...] Os missionários da “fé” eram motivados pelo quadro mental vívido do inferno. Para eles, o propósito das missões era salvar as almas perdidas do tormento eterno do fogo e enxofre. “A maioria das inovações nas missões do século XX foram introduzidas pelas missões de fé”, segundo Kane, “incluindo o rádio, aviação, cursos bíblicos por correspondência, discos evangélicos, fitas cassetes, evangelização por saturação e educação teológica por extensão”. [...] O evangelho era claramente apresentado e os convertidos entregues aos cuidados de sociedades missionárias locais e igrejas. [...] As missões de fé evangelísticas independentes, combinadas, se tornaram a força missionária mais poderosa que o mundo já conheceu (TUCKER, 1986, pp. 309, 310, grifo do autor). Tanto o princípio do sustento, a motivação ideológica, como as estratégias adotas pela RTM internacional, ajustavam-se com o ideário das missões de fé das primeiras décadas do século XX, especialmente após a II Guerra Mundial. A preocupação era a de anunciar o evangelho ao maior número de pessoas possível – evangelização por saturação -, utilizando de todos os recursos disponíveis e entregar os convertidos aos cuidados das igrejas. 98 Fiel a esses princípios, a Rádio Trans Mundial internacional e no Brasil nasceu com o objetivo de não expor suas necessidades financeiras aos ouvintes e nem estimulálos a contribuírem por meio de sua programação. Seu sustento dependeria de cristãos e igrejas comprometidas com a sua visão e que se associassem financeiramente a ela, o que aconteceu no contexto histórico internacional e nacional. Edmund Spieker, em sua primeira visita a ERF (Rádio Trans Mundial na Alemanha), diante dos custos com sua estrutura e do sustento de quase cinqüenta funcionários perguntava para si mesmo: Mas de onde vem os recursos para sustentar um trabalho destes? Esta perguntava me acompanhava todos aqueles primeiros dias. Eu entendia que um orçamento para uma obra de tamanhas proporções deveria ser algo fantástico. E de fato, no ano de 1969 foram doados apenas ao trabalho da ERF na Alemanha, uma soma em torno de US$ 1 milhão de dólares. E o que dizer da RTM como um todo? Quando conheci melhor os homens que fundaram e lideravam esta missão de rádio, entendi que estava diante de um milagre de Deus em nossos dias. Naqueles corações ardia a verdadeira paixão pelas almas perdidas (SPIEKER, 1982, p. 9). No Brasil, a RTM se estruturou em torno de sócios mantenedores, ligados as denominações evangélicas de imigrantes alemães, os primeiros a se comprometerem com o sustento, infra-estrutura, administração e divulgação da rádio. Ligada em sua origem aos alemães do chamado “protestantismo de imigração”, o objetivo era levar prioritariamente aos brasileiros a mensagem do evangelho. A manutenção da estrutura da RTM-B, dos custos gerados para a produção dos programas, lembra os primeiros anos de existência do rádio no Brasil no final da década de 1920 e início da década de 1930, anterior ao surgimento da rádio comercial, que dependia de associados para sobreviver, conforme observou Lia Calabre, A fórmula utilizada, então, para a criação de uma nova emissora era a da formação de uma rádio-sociedade, que previa em seus estatutos a existência de associados com obrigação de colaborar com uma determinada quantia mensal. A verba arrecadada dessa forma era a principal, senão a única, fonte de renda das emissoras. Muitas pessoas se associavam, mas poucas se mantinham pagando regularmente as 99 mensalidades. Eram tempos difíceis para as rádio-sociedades (CALABRE, 2002, p. 12). É bom ressaltar que essa fórmula adotada no Brasil de uma “radio-sociedade” estava alinhada com uma ideologia que via o rádio como promotor da educação e da cultura. A sua utilização comercial poderia submetê-lo a outros interesses e interferir na qualidade de sua programação. Edgard Roquette Pinto (1884 – 1954), também chamado de “o pai do rádio” do país (CYRO, 2009, p. 46), estava tão convicto da função cultural do rádio que, percebendo que não seria possível manter a rádio fundada por ele, com objetivos estritamente educativos e culturais, diante das mudanças que o mercado impunha, preferiu ceder os direitos da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro para o governo do que para a iniciativa privada, a fim de seu objetivo cultural fosse preservado. Foi fiel a seus princípios. Esta fase do amadorismo do rádio brasileiro, anterior a fase de seu uso comercial, levou as primeiras emissoras a enfrentarem inúmeras dificuldades econômicas, refletidas no constante surgimento e desaparecimento de muitas delas. A crise só foi superada com as regulamentações feitas a partir de 1932, que liberou a transmissão de propaganda comercial e também deu início ao processo de popularização do rádio, doravante mais adaptado aos gostos populares. Cesar Cyro destaca a popularização do rádio a partir da década de 1930. A partir da década de 30, o rádio começa a se popularizar voltando-se para o lazer e o entretenimento. No lugar dos concertos e palestras, passou a executar músicas populares, reservando horários para humorísticos e para os famosos programas de auditório. Nessa época, os empresários notaram que o rádio era um veiculo eficaz para veicular seus produtos, principalmente pelo grande número de analfabetos no país. A elevação da quantidade de anúncios pagos criou a possibilidade de o rádio crescer (CYRO, 1990, p. 40). Gisela Swetlana Ortriwano afirma que a inserção da propaganda comercial no rádio alterou, conforme já era esperado, o próprio conteúdo de sua mensagem, que perdeu o viés “educativo” e transformou-se no veículo mais eficaz de comunicação popular. 100 A introdução de mensagens comerciais transfigura imediatamente o rádio: o que era “erudito”, “educativo”, “cultural” passa a transformarse em “popular”, voltado ao lazer e à diversão. [...] Com o advento da publicidade, as emissoras trataram de se organizar como empresas para disputar o mercado. [...] A preocupação “educativa” foi sendo deixada de lado e, em seu lugar, começaram a se impor os interesses mercantis (ORTRIWANO, 1985, p. 15). Tais observações históricas são importantes para destacar que a Rádio Trans Mundial, desde sua origem, caminhou na contramão das rádios comerciais, se assemelhando as primeiras rádios-sociedades que dependiam do sustento daqueles que simpatizassem com seus objetivos. No Estatuto da Rádio Trans Mundial, Artigo 6º, lemos que “A RTM é composta por um número ilimitado de associados, pessoas físicas, que compartilham seus objetivos, suas finalidades e as bases de suas atividades” (Estatuto da RTM, 10 de Abril de 2010). Embora aberta para um número ilimitado de associados, na prática, o que se observa é que esse número é bem restrito, de acordo com informação verbal do atual Diretor Executivo, José Carlos dos Santos, são “vinte e um associados, pessoa física, que dão seu nome, tempo e 65% do sustento que a rádio necessita, sendo os maiores contribuintes os descendentes de alemães.”21 No Relatório da Diretoria da RTM-B, referente ao exercício de 2009, permanece ainda o mesmo entendimento. Agradecem os “apoiadores da rádio”, entenda-se principalmente os parceiros financeiros. “Os apoiadores são aqueles que oram, aqueles que sustentam financeiramente, aqueles que divulgam e os que fazem parcerias” (Rádio Trans Mundial, Assembléia SP/2009, p. 4). Destaca-se também que os ideais culturais que a elite brasileira, ligada ao surgimento do rádio, tinha na década de 1930, eram semelhantes aos ideais de Paul Freed na década de 1960 – o rádio deveria difundir exclusivamente a “cultura” evangélica, sem qualquer envolvimento comercial, princípio incorporado pela Trans Mundial brasileira. 21 Notícia fornecida por José Carlos dos Santos, Diretor Executivo da RTM-B, em São Paulo, em outubro de 2010. 101 No Estatuto da RTM-B esse propósito cultural e não comercial também é evidente. A RTM tem por fim propagar o Evangelho de Jesus Cristo na sua pureza e integridade, bem como promover a vida cultural e educacional através do rádio, da televisão, e também pela adição, produção e distribuição de literatura e de outros meios de comunicação, tendo em vista a formação do caráter cristão que expresse a responsabilidade perante Deus e a Pátria (Capítulo I, Artigo 3º). Até este momento, a ação do marketing22, que transforma tudo, até mesmo a religião em mercadoria, não fizera sentir sua força. Edmund Spieker em 1982, diante da capacidade de transmissão da Rádio Trans Mundial, destacava que todo o sustento da rádio provinha de ofertas. De monte Carlo, Bonaire (Antilhas Holandesas, Suazilândia (África), Guam (Pacífico) Sri-Lanka (Índia) e Chipre no Mediterrâneo, o Evangelho é proclamado num total de 72 idiomas e com 6.000.000 de Watts (6.000 Kw) de potência. 80 % da população mundial está ao alcance das irradiações . Deus tem mobilizado o seu povo ao redor do mundo para sustentar esta missão de tão gigantescas proporções, com suas orações e ofertas. Toda a obra é sustentada por ofertas (SPIEKER, 1982, p. 53, grifo nosso). Ao que parece do histórico da Rádio Trans Mundial, sempre houve uma preocupação quanto à associação entre religião e dinheiro. Mesmo com a implantação da Editora RTM em 1977, a visão estava centrada mais na missão e menos no mercado. Campos, escrevendo sobre religião e marketing em 1997, destaca esta preocupação, afirmando que nos meios religiosos brasileiros “a simples menção de “religião” e “marketing” provoca em muitas pessoas estranheza e restrições, por julgarem estar havendo uma mistura indevida” (1997, p. 211, grifo do autor). Da busca de aproximação com os ouvintes surgiram os primeiros produtos da RTM-B, enviados gratuitamente aos ouvintes: os estudos bíblicos e boletins 22 Marketing é a atividade humana dirigida para a satisfação das necessidades e desejos, através do processo de troca. Philip Kotler (in CAMPOS, 1997, p. 207). 102 informativos. Os primeiros, visando fornecer informações mais precisas sobre a fé cristã, os últimos, visando informar as atividades mais recentes da rádio, bem como, sensibilizar a comunidade evangélica brasileira sobre a necessidade de investir financeiramente em sua manutenção. Assim a RTM-B procedeu até o início da década de 1990, período em que os evangélicos no Brasil já despontavam como mercado de consumo promissor e ainda pouco explorado. Bellotti situa historicamente o início da associação entre mídia (impressa ou eletrônica) e o comércio religioso. Um importante aliado dessa comunicação é o comércio de bens evangélicos, em desenvolvimento nos Estados Unidos desde os anos 1950, e no Brasil desde os anos 1980 [...] Por isso, a mídia e o mercado têm se tornado indissociáveis desde então, e precisam ser analisados em conjunto (BELLOTTI, 2009, p. 271). Os dados estatísticos do crescimento evangélico da década de 1990, principalmente das denominações neopentecostais, confirmam esse cenário favorável para o mercado, o que resultou numa “progressiva acomodação desses religiosos e suas denominações à sociedade e à cultura de consumo” (BITUN, 2007, p. 9). Embora a observação acima seja mais específica do segmento neopentecostal, esse mesmo fenômeno se verificou entre os evangélicos de tradição histórica, considerados mais conservadores. Os dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2000, comparados com os dados de 1991, revelam as alterações ocorridas no campo religioso brasileiro, conforme vejamos a seguir: Em 1991, os católicos representavam 83,3% da população; em 2000, esse número caiu para 73,8%, representando um decréscimo de 11,9%. Os evangélicos, que, em 1991, eram 9,0%, chegam, em 2000, com uma porcentagem de 15,4%, ou seja, 70,7% de crescimento. No campo religioso protestante, os pentecostais são os que mais se destacaram no último Censo Demográfico. Os pentecostais cresceram 115%, enquanto as igrejas tradicionais apenas 58% (BITUN, 2007, pp. 10,11). 103 Paralelamente a estas transformações no mercado consumidor evangélico, o Brasil da década de 1990 passava por um desenvolvimento sem precedentes na tecnologia da comunicação. O imenso território brasileiro estava sendo interligado viasatélite, tecnologia que na virada do século XX para o século XXI começava a chegar ao cidadão comum nas áreas mais distantes ou isoladas do país, proporcionando acesso a outras mídias, principalmente a televisão, limitando significativamente a audiência do rádio em OC (Ondas Curtas). A TWR em Bonaire, no início dos anos 1990, visando à redução de seus custos, encerrou as transmissões em OC (Ondas Curtas) para a América Latina, transmitindo apenas em AM (Amplitude Modulada) e com a da potência reduzida de 500 KW para 100 KW. A evolução dos meios de transmissão abriu novas perspectivas. A capacidade de ouvir rádio pela Internet é ilimitada (Informação Verbal).23 Na prática, isso significou uma expressiva redução do alcance da rádio no território brasileiro a partir de Bonaire, limitado a algumas partes do norte e nordeste do país. As demais regiões do Brasil seriam supridas a partir do parque de transmissões da RTM-B, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, transmitindo em três freqüências de ondas curtas, 25m, 31m e 49m. O fenômeno da diminuição da audiência em OC (Ondas Curtas) de rádio verificou-se no mundo todo, de acordo com Maurício Beraldo. Alcançamos o pico de audiência das rádios de ondas curtas no ano de 1989 quando aconteceu o fim da guerra fria, disse Larry Magme. A partir deste ano as audiências nas freqüências de onda curta diminuíram bastante. As transmissões em onda curta e nas faixas de onda longa são muito caras para mantê-las e desde que a guerra fria terminou alguns governos do ocidente chegaram à conclusão que não seria necessário um gasto enorme de dinheiro com transmissões, produções e na manutenção de equipamentos. Em consequência disso várias estações encerraram seus trabalhos em onda curta. Outras emissoras destinaram 23 Notícia fornecida por José Carlos dos Santos, Diretor Executivo da RTM-B, em São Paulo, em outubro de 2010. 104 seus sinais para as páginas da internet ou via satélite diminuindo os gastos. (Maurício Beraldo, ISS FANCLUBE BRASIL, O que está acontecendo com as rádios de Onda Curta? Disponível em <HTTP://rodadadossemassunto.blogspot.com/2020_07_01archive.htm >). Transformações nos hábitos culturais, voltados para o consumo, forçaram muitas instituições evangélicas a redefinirem sua visão e estratégias relativas ao mercado consumidor cristão emergente e a RTM-B não ficou imune a esses questionamentos. O modelo de sustento adotado pela RTM-B – o de uma rádio-sociedade, ainda que importante na sua estrutura começava a dar sinais de esgotamento. Somado a isto, transformações sem precedentes na tecnologia da comunicação, e o aumento de inúmeras rádios evangélicas no campo midiático brasileiro a partir de meados da década de 1980, desafiaram a RTM-B nos fins da década de 1990 a atuar em três frentes: 1º. Buscar parcerias com emissoras AM e FM nas diversas regiões do Brasil. 2º. Investir no mercado editorial. 3º. Desenvolver projetos sociais e paraeclesiásicos24 em apoio às igrejas evangélicas brasileiras. Pelos dados do orçamento da RTM-B publicados e apresentados na Assembléia de 200925, constata-se tanto a importância dos associados, como o da linha editorial para a manutenção da rádio. 24 ORÇAMENTO 4.180.398,34 CONTIBUIÇÃO DOS ASSOCIADOS 1.716.030,55 LINHA EDITORIAL 2.087.247,53 CONTRIBUIÇÕES DIVERSAS 85.143,08 Paraeclesiástica: São um meio pelo qual os cristãos evangélicos trabalham colaborativamente com a missão de alcançar o mundo pelo evangelismo e pela ação social. As organizações paraeclesiásticas realizam a função de fazer de ponte entre a igreja e a cultura. <http://pt.wikilingue.com/es/Iglesias_evang%C3%A9licas > Acesso 06 de dezembro de 2010 25 Anexo 07, Orçamento de 2009. Assembléia da Rádio Trans Mundial. Relatório da Diretoria referente ao exercício de 2009. 105 Não é necessária uma análise minuciosa para compreender a razão de sua investida no mercado dos bens simbólicos religiosos. Fazer isso foi à forma encontrada para sobreviver como instituição e como missão. Luís Mauro Sá Martino, escrevendo sobre a mídia religiosa e sobre os bens simbólicos oferecidos por ela, afirma que “Os bens em jogo são de duas espécies: os simbólicos, referentes à satisfação mental-espiritual, e os bens materiais, dos quais depende o faturamento da instituição religiosa” (2003, p. 12). Nesta nova fase, a RTMB continuaria a oferecer os bens simbólicos voltados para o bem estar espiritual dos ouvintes, bem como seus bens materiais, voltados para a sua sobrevivência financeira. O mesmo autor, com propriedade, também diferencia a mídia especializada da mídia institucional com relação aos seus objetivos. Na grande imprensa e mesmo na mídia especializada, o produto final, objeto último da divisão social do trabalho jornalístico, é a informação. Isso não acontece com a mídia institucional. A informação, veiculada em algum produto informativo – boletim, jornal semanal, programação de rádio ou TV, etc. -, é apenas suporte para a produção, reprodução e divulgação de bens de outra natureza. Assim, enquanto na mídia generalista a informação é produto fim, na mídia institucional a informação é produto meio (MARTINO, 2003, p. 19). Com estas iniciativas, a RTM-B tornou-se auto-sustentável; um feito inédito segundo os próprios funcionários da emissora, se comparada a outras RTMs espalhadas pelo mundo. “A RTM-B tornou-se referência para as demais rádios Trans Mundial espalhadas pelo mundo.”26 Nos intervalos das programações, ouve-se com freqüência: “Rádio Trans Mundial, uma missão com sustento 100% brasileiro.” A ênfase dessa mensagem tem dois objetivos: desfazer a ideia de que a rádio é uma missão sustentada por capital estrangeiro e sensibilizar o ouvinte para ser um parceiro financeiro da emissora. Colocadas estas afirmações, examinaremos mais detidamente as três frentes de atuação da RTM-B na sua busca por visibilidade, mercado e relevância institucional. 26 Notícia fornecida por Cláudio Ronque, Locutor e apresentador do programa “Um Amigo Na Madrugada”, em São Paulo, em novembro de 2010. 106 3.1 Conectando a nação religiosa: Emissoras afiliadas da RTM-B Uma das estratégias da RTM-B para buscar visibilidade no competitivo mercado da transmissão radiofônica evangélica e editorial, foi estabelecer parcerias com emissoras de rádio em diversas regiões do Brasil. Nas décadas de 1970 e 1980, já colocava suas gravações a disposição de pessoas ou igrejas que pudessem financiar o tempo de irradiação em qualquer emissora do país. No final da década de 1980 e na década de 1990, ocorre uma investida pentecostal nas rádios brasileiras, quer favorecidas pelo momento político, como na época do Presidente José Sarney que usou concessões de rádios “como moeda de troca” (BAPTISTA, 2009, p. 174) por apoio de parlamentares da bancada evangélica, quer pelo próprio ímpeto característico desses movimentos que souberam adquirir e explorar melhor do que as igrejas tradicionais históricas, a cultural oral do país. Isael Araújo (2007, p. 729), pesquisador do pentecostalismo brasileiro, destaca e expressiva presença pentecostal no rádio brasileiro afirmando que no ano de 1997, “20% das três mil emissoras de rádio no Brasil estavam nas mãos de evangélicos.” Encontrar emissoras parceiras, num campo monopolizado pela mídia pentecostal e neopentecostal, com uma programação voltada para a promoção e legitimação social de suas próprias bandeiras denominacionais, não foi e nem continua sendo uma tarefa fácil para a RTM-B, emissora que se autodenomina “sem cor denominacional”, mas com discurso alinhado ao protestantismo conservador e fundamentalista. A natureza de sua programação que privilegia mais o discurso religioso lógico, racional e menos a emotividade, o sincretismo e o sensacionalismo, torna seu público mais restrito dentro de uma sociedade brasileira massificada pela mídia pentecostal. Leonildo Campos questiona se essa característica não dificultou a inserção do protestantismo histórico no novo contexto midiático brasileiro: A crise contemporânea da pregação protestante, vista como parte essencial da comunicação religiosa, traz no seu bojo os deslocamentos provocados pelas transformações culturais sofridas pelos grupos e instituições tradicionais [...] O cenário da comunicação protestante no Brasil, marcado desde o início pelo binômio literalidade x oralidade, foi alterado com a chegada do Pentecostalismo à América Latina, principalmente por causa do alto índice de analfabetos e de pessoas ainda dotadas de uma cultura oral-auditiva. A oralidade e as emoções 107 se tornariam o centro do culto pentecostal (CAMPOS, 2008, pp. 8, 10, grifo do autor). Polêmicas a parte, o propósito da RTM-B na busca de emissoras parceiras ou “afiliadas” foi o de uma aproximação com ouvintes de rádio nas sintonias AM e FM, comuns nos lares brasileiros, nos mais variados ambientes, de fácil recepção e de audiência comprovada. Esses ouvintes, sem qualquer familiaridade com as transmissões de rádio em OC (ondas curtas), poderiam ter acesso à programação da Trans Mundial com maior facilidade. 3.1.1. Parceria com a Rádio Nova Difusora de Osasco Alcançar a cidade de São Paulo, sede da RTM-B, sempre foi um dos objetivos da Trans Mundial. A cidade de São Paulo, somadas às cidades vizinhas que constituem a grande São Paulo, destaca-se como a maior contingente populacional urbano do país. Presença maciça de evangélicos, de rádios evangélicas, de denominações evangélicas e, principalmente, do maior mercado consumidor evangélico do país. Em São Paulo, a RTM-B buscou dar visibilidade midiática a sua programação por meio da Rádio Nova Difusora, em Osasco. Por se tratar de uma rádio comercial e demandar custos elevados para a compra de um horário de transmissão, a presença da Trans Mundial nesta emissora sempre foi intermitente e descontinuada. Em 1990, ocupava duas horas na programação semanal da emissora. Em 2005, um novo acordo possibilitou a utilização do horário da madrugada, da 01h00 – 06h00, na época, com transmissão via satélite dos estúdios da RTM-B. Francisco Rossi de Almeida, político evangélico, ex-prefeito de Osasco, diretor e proprietário da emissora afirmou na ocasião que a parceria da Trans Mundial e da Nova Difusora era uma “uma oferta para o Reino de Deus, onde vidas serão alcançadas com uma programação de altíssimo nível como a da Trans Mundial. Estamos felizes nessa parceria e enquanto Deus permitir estaremos nela (Informativo Ministerial da Rádio Trans Mundial, No.2, Novembro de 2005). 108 Em 2007 a RTM-B passou a transmitir ao vivo o programa Espaço Trans Mundial, de segunda à sexta-feira das 14h00 às 17h00 e, recentemente, em abril de 2010 um novo espaço foi conseguido na emissora. Cada novo acordo gera um novo artigo nas publicações da RTM-B que são enviadas para todo o Brasil. Deste último acordo foi escrito: A transmissão para a grande São Paulo sempre foi um sonho e meta a ser alcançada. Com aproximadamente 20 milhões de habitantes, São Paulo é a sexta maior cidade do planeta e a maior concentração de habitantes do Brasil. Tendo em vista um campo missionário tão grande, no dia 19 de Abril de 2010, assumimos as transmissões pela Rádio Nova Difusora AM 1540 kHz, na cidade de Osasco, vizinha de São Paulo, durante todo o dia, das 6.30 às 17.30 horas, com intervalo das onze ao meio dia. [...] A Nova Difusora opera em AM ou OM (Ondas Médias), na freqüência de 1540 kHz e tem cobertura em toda a Grande São Paulo e cidades adjacentes a Osasco (Radio Trans Mundial, Informativo 5, 2010, p. 13). Pela primeira vez em 40 anos de história, a RTM-B ocupou o horário nobre de uma emissora comercial de rádio, apresentando, pela manhã, o programa “Bom Dia RTM”, e a tarde, o programa “Espaço Trans Mundial” – com músicas, jornalismo atualizado de hora em hora, estudos bíblicos como “Rota 66” e “Através da Bíblia”, dentre outros programas voltados para as necessidades espirituais dos ouvintes. A apresentação dos programas é “ao vivo” e conta com a direção e locução de dois profissionais experientes, Ricardo Santos e Vitor Augusto, que conseguem imprimir uma dinâmica na programação muito semelhante às rádios seculares. O Gráfico abaixo mostra a qualidade da recepção nas diversas regiões da grande São Paulo. 109 3.1.2. Emissoras Afiliadas em Rede27 com a RTM-B. Radio Paz 89,5 FM. Esta emissora é de propriedade da Igreja Assembléia de Deus em Campo de Campinas, Goiânia, GO, desde 1996. Voltada para o seu público denominacional e para o potencial mercadológico que ele representa, estimado em 50 mil membros, reserva para a RTM-B o horário da madrugada, entre 00h00 e 5h00, transmitindo simultaneamente com São Paulo o programa “Um Amigo na Madrugada”. No site da Rádio Paz FM, na grade de sua programação diária, consta a presença da Trans Mundial com estas palavras: “A Trans Mundial está no ar durante todas as madrugadas fazendo companhia ao ouvinte até as 5 horas da manhã com estudo bíblico, entretenimento, música, informação, prestação de serviço e edificação espiritual” (http://www.pazfm.com.br/programacao, acesso dia 01 de Novembro de 2010). Rádio Esperança FM, em São Luiz, MA, é outra emissora em rede com a Trans Mundial no horário da madrugada, das 00.00 – 6.00 horas. Esta rádio, pertencente à Fundação Cultural Pastor José Romão de Souza, se define como emissora comercial, de grande audiência entre evangélicos e ouvintes de outros credos religiosos, “fazendo assim grande diferença no consumo de produtos e serviços diversos” (http://www.fmesperanca.com.br, acesso dia 01 de Novembro de 2010). Também reserva meia hora na grade diária de sua programação, das 14h30 às 15h00 para apresentação do programa do Prof. Luis Sayão, “Rota 66”. Rádio Clube AM, Nepomuceno, MG. Diferente das anteriores, esta rádio não esta vinculada a uma igreja evangélica. A presença da programação da Trans Mundial nesta rádio é mais intensa, embora seu alcance esteja limitado a 26 pequenos municípios daquela região mineira. De Segunda à Sexta, das 20h00 às 06h00, aos Sábados, das 12h00 às 06h00 e Domingo das 12h30 às 06h00. No Estado do Ceará, duas emissoras transmitem a programação da RTM-B a partir das 19h00 e durante o horário da madrugada, das 00h00 – 06h00. Rádio Difusora Ceará e Rádio FM Educativa, na cidade cearense de Novas Russas. 27 Rede. Termo usado para identificar uma transmissão conjunta e simultânea de uma mesma programação feita por duas ou mais emissoras (CHANTLER, 1998, p.192). 110 Completando estas emissoras, a RTM-B também entra em rede com a TWR em Bonaire, nas Antilhas Holandesas a partir das 00h00 até as 06h00 e, durante todo o dia, através de seu parque de transmissões em Santa Maria, RS. EMISSORAS HORÁRIOS DE TRANSMISSÃO Rádio Paz FM – Goiânia, GO 00h00 – 06h00 - Em Rede Rádio Esperança FM, São Luiz, MA 00h00 – 06h00 - Em Rede Rádio Clube AM, Nepomuceno, MG 20h00 – 06h00 - Em Rede Rádio Difusora Ceará – Novas Russas, CE 19h00- 06h00 - Em Rede Rádio FM Educativa – Novas Russas, CE 19h00- 06h00 - Em Rede TWR em Bonaire – Antilhas Holandesas 00h00 – 06h00 - Em Rede RTM – 25 m - Santa Maria, RS 07h00 – 17h00 - Em Rede RTM – 31 m - Santa Maria, RS 07h00 – 19h00 - Em Rede RTM – 49 m - Santa Maria, RS 00h00 – 07h00 - Em Rede O horário noturno e, principalmente, o horário da madrugada, nas rádios em geral, é considerado um “horário morto”, ou seja, sem demanda comercial. Economicamente foi a opção viável encontrada pela RTM para marcar sua presença em alguns estados brasileiros. Tornou-se também uma boa opção para estas emissoras comerciais que se beneficiam com a qualidade dos programas produzidos pela RTM-B. A madrugada é um horário em que pessoas insones, trabalhadores em turnos noturnos, pessoas solitárias, podem encontrar no rádio, na voz do locutor, uma companhia na madrugada, conforme já sugere o nome do programa veiculado em Rede pela RTM para todo o Brasil – “Um Amigo na Madrugada”. Os principais programas do dia são reprisados sob o comando de um locutor “ao vivo”28. O depoimento dos ouvintes abaixo estimulam a RTM-B a investir no horário da madrugada. Graças a Deus, no ano passado, em decorrência de uma insônia, fui direcionada a ouvir a rádio Trans Mundial, e até hoje o rádio 28 Ao vivo. Transmissão feita no momento exato do acontecimento (CHANTLER, 1998, p.186). 111 permanece ligado na RTM a noite. Há muito necessitava aprender o conteúdo bíblico e através de vocês tenho aprendido muito sobre a Palavra de Deus. O trabalho de vocês, com certeza, é direcionado por Deus. Que Deus abençoe e fortaleça a todos da equipe (Carta de MCS, São Luis, MA, 2005, p.85. Assembléia SP/2009). Sou guarda noturno e ouvinte do Através da Bíblia. De madrugada ligo meu rádio para ouvir estas mensagens que trazem muito conforto espiritual e nos edifica a alma. Rogo ao Senhor que este programa continue no ar por muitos anos, levando alimento espiritual a todos os ouvintes. Carta de EGF, Itupuranga, PA, 2006, p.107. Assembléia SP/2009). O gráfico abaixo mostra o alcance “potencial” da Trans Mundial no território nacional quando transmite em rede na madrugada. MAPA DE COBERTURA DA RÁDIO TRANS MUNDIAL As demais afiliadas que constam nos boletins informativos da RTM-B, quase todas ligadas a grupos ou denominações evangélicas, transmitem um ou outro programa da Trans Mundial, como “Rota 66” e “Através da Bíblia”. Embora denominadas de “afiliadas”, a presença da RTM-B nessas emissoras é mais inexpressiva do que o termo “afiliada” possa sugerir aos leitores e ouvintes menos avisados. 112 Pelos dados estatísticos apresentados oficialmente pela RTM-B referentes a 2009, a rádio possuía programas em 40 emissoras afiliadas espalhadas pelo país, conforme o quadro abaixo. Estas 40 emissoras estão distribuídas da seguinte maneira: ESTADO AFILIADAS AMAZONAS 3 RORAIMA 1 MATO GROSSO 1 MARANHÃO 2 CEARÁ 3 PARAÍBA 1 TOCANTINS 1 BAHIA 2 GOIÁS 3 MINAS GERAIS 3 SÃO PAULO 6 RIO DE JANEIRO 2 PARANÁ 3 SANTA CATARINA 3 RIO GRANDE DO SUL 5 Embora a aparente amplitude da RTM-B, observa-se facilmente que sua presença no território nacional ainda é bem tímida. Nas emissoras que operam em rede, em espaço comprado, o programa é levado ao ar durante a madrugada, que comercialmente é o horário menos disputado nas emissoras de rádio. Pela internet, tecnologia mais recente a disposição dos ouvintes, a RTM-B pode ser sintonizada 24 horas de qualquer lugar do Brasil e do mundo, com excelente qualidade de transmissão. 113 3.1.3 Entrevista com José Carlos dos Santos – Atual secretário executivo da RTM-B. A função de secretário executivo sempre foi a mais influente dentro da estrutura administrativa da RTM-B desde a época de Edmund Spieker. Compete a ele tomar as iniciativas que influenciarão os destinos da emissora. Da entrevista com José Carlos dos Santos ficou evidente a preocupação com a necessidade de uma racionalização de estruturas e procedimentos administrativos da RTM-B como meio para sobreviver enquanto instituição missionária num contexto de rápidas mudanças tecnológicas, sobretudo na área da comunicação. Como ajustar a emissora aos novos tempos, com novas demandas, com ampla oferta de novos programas evangélicos nas rádios e com o alto custo financeiro que uma transmissão mais competitiva requer e, ao mesmo tempo, ser fiel ao ideal de uma rádio exclusivamente missionária, comprometida com a fidelidade aos princípios espirituais e éticos do Cristianismo? Também ficou evidente a necessidade de repensar a rádio não simplesmente como agência missionária, destinada a viver apenas pela fé, mas como uma empresa, inserida num mercado competitivo e que precisava lançar mão das estratégias de marketing para atingir seus objetivos, dentre esses, visibilidade, sobrevivência econômica e relevância missionária. Questionado sobre a venda de espaço para propagandas comerciais e sobre a política de não pedir contribuição aos ouvintes “no ar”, reconheceu que “esse 114 entendimento é antiquado e que a RTM-B sofre por causa disso.” Entendo a resposta como consequência imediata de uma autocrítica administrativa imposta pelo mercado. Questionado sobre o formato e conteúdo da programação, reconheceu que a programação da Trans Mundial está mais alinhada com as igrejas históricas. “Com as igrejas não históricas, a afinidade é menor.” Inquirido sobre a linha de produtos RTM: livros, CDs, DVDs, e, especialmente O Pão Diário, reconheceu a dependência desses produtos para a manutenção da emissora, confirmando a adoção de meios empresariais na administração da rádio. Dentro desta mesma linha mercadológica, questionei sobre a relação da RTM-B com personalidades conhecidas no meio evangélico brasileiro, como o músico Nelson Bomilcar e o Prof. Luis Sayão. A resposta dada foi que eles foram contratados pela Trans Mundial para produzirem seus programas pelo reconhecimento e credibilidade que possuem junto ao público evangélico. Convém ressaltar que os DVDs com gravações do programa “Rota 66”, dirigido por Luiz Sayão ocupam o 2º. Lugar em vendas, atrás do devocional “Pão Diário”. Sobre os acordos da RTM com as suas afiliadas, explicou, sem especificar, que várias afiliadas são pagas pela RTM-B. Na Rádio Esperança, em São Luís, ajudam com os custos da transmissão. Na Rádio Paz de Goiânia, o horário é cedido “em condições especiais” de pagamento. Quanto a sua motivação pessoal no trabalho com a RTM-B, afirmou que seu envolvimento com a emissora já se estende por vinte e dois anos. Oito anos como voluntário, oito anos como gerente administrativo e há cinco anos na diretoria executiva. Sua grande motivação é a “pregação da Palavra e o de trabalhar com um grupo de irmãos sérios”, referência aos membros da diretoria da RTM-B. Questionado sobre as atividades paraeclesiásticas – os projetos desenvolvidos pela rádio em parceria com igrejas ao redor do país -, respondeu que três projetos estão mais em foco: Capelânia Escolar, Ministério com os índios Ticunas e o ministério de ensino, com a gravação dos DVDs “Rota 66”. Questionado sobre o paradeiro de Edmund Spieker, informou que ao sair da RTM-B, foi para os EUA com sua família, a serviço da sede da Trans World Radio em Cary, Carolina do Norte, onde ainda trabalha parcialmente. Quanto a Marly Spieker, sua ligação é total com a TWR, coordenando o projeto iniciado por ela no Brasil – “Projeto Ana”, que se tornou um projeto mundial da RTM. 115 Finalmente, questionado sobre os desafios para o futuro da RTM-B, respondeu: Conseguir “concessões de emissoras pelo Brasil”, o que depende da vontade do Governo Federal, e “tornar cada vez mais sustentável o ministério da rádio.” 3.2 Andando com os próprios pés: Linha editorial e outros produtos. A preocupação da RTM-B é ser uma empresa auto-sustentável. Entende que o modelo adotado, de uma rádio-sociedade, dependente da fidelidade de sócios contribuintes e de ofertas voluntárias “imprevisíveis”, é insuficiente para suprir as constantes necessidades de investimento em marketing e tecnologia. Era necessário uma base econômica mais sólida e previsível, ou seja, ajustar a rádio aos novos tempos da economia de mercado. Em visitas a RTM-B, conversando com locutores, produtores e com o próprio secretário executivo, transpareceu a preocupação com a continuidade da colaboração espontânea dos sócios contribuintes, na sua maioria pertencente à colônia alemã e ligados à RTM desde seu início no Brasil. A questão levantada por todos é se os descendentes dessa primeira geração de sócios colaborados continuarão contribuindo com a Trans Mundial. Preocupações como essa, além dos ajustes históricos, levaram a RTM-B a adotar uma filosofia empresarial e mercadológica, presente desde o final da década de 1980 nas demais emissoras de rádios evangélicas espalhadas pelo Brasil. Fortalecer sua linha editorial com produtos de boa aceitação no mercado evangélico brasileiro foi à solução encontrada pela Trans Mundial para buscar sua autonomia financeira. Qual produto poderia fazer diferença dentro de um mercado editorial já bastante competitivo? Uma literatura devocional, sem cores denominacionais, capaz de atingir todos os públicos, de fácil leitura e com uma palavra positiva para cada dia, foi “nicho” encontrado pela Trans Mundial para uma inserção significativa neste mercado. Assim surgiu o “Pão Diário”, o principal produto de sua linha editorial e com significativa aceitação no mercado evangélico brasileiro. 116 3.2.1 O Pão Diário O primeiro Pão Diário foi colocado a disposição do público evangélico brasileiro em 1998. Coincide com o período em que se verificou um aumento na procura por livros relacionados com a vida cristã entre os evangélicos, de acordo com as pesquisas feitas por Alexandre Brasil Fonseca em 1998, citado por Karina Bellotti “Alexandre Brasil demonstrou que houve um aumento na procura por livros relativos à vida cristã entre os evangélicos.” (2003, p.206). A mesma pesquisadora acrescenta: Não se pode ignorar que muitos evangélicos (protestantes, pentecostais e neopentecostais) são recém convertidos, à procura de uma renovação constante de suas vidas diárias – o que explica o consumo de livros sobre a vida cristã – não só como fonte de informação mas também como forma de renovar os próprios hábitos de leitura (BELLOTTI, 2003, p. 208). O objetivo do Pão Diário foi trazer edificação para o cristão e reforçar a sua fé por meio da instrução bíblica. Não se trata, porém de uma novidade no mercado editorial evangélico brasileiro. Karina Bellotti cita a publicação do livreto devocional da Igreja Presbiteriana do Brasil, que também originou do programa de rádio desta denominação e teve pronta aceitação pelos ouvintes. Cada Dia, publicado ininterruptamente desde 1981. Sua origem veio do rádio – após quatro anos divulgando mensagens de otimismo e reflexão bíblica nos programas de rádio da Luz Para o Caminho. [...] Não foi o primeiro devocional a ser lançado no Brasil – o mais famoso devocional evangélico, o metodista No Cenáculo, é publicado desde 1908 nos Estados Unidos, vindo para o Brasil alguns anos depois (BELLOTTI, 2003, p. 211, grifo do autor). As primeiras edições do devocional Pão Diário foram traduzidas do inglês, de uma publicação similar nos Estados Unidos. A partir da quinta edição, ele passou a ser 117 produzido integralmente no Brasil, adaptado a realidade cultural evangélica brasileira. No mercado brasileiro já pode ser encontrada a 14ª edição do Pão Diário. A princípio, eram fascículos trimestrais traduzidos do inglês. Já na 5ª edição, a Trans Mundial ganhou autonomia e montou uma equipe de autores brasileiros para a produção dos exemplares. [...] O devocional recusa mensagens de teor teológico polêmico, com tendências denominacionais, teor político ou textos com dados de credibilidade duvidosa. [...] Evita mensagens de cunho teológico teórico, já que seu propósito é essencialmente prático. As mensagens são, por princípio, avulsas e não se criam séries de mensagens (Rádio Trans Mundial, Informativo 4, p. 6, 2010). O nome escolhido é muito sugestivo dentro do imaginário evangélico, pois recorda dois acontecimentos especiais: O milagroso sustento que Deus trouxe ao “povo escolhido” – Israel, em sua peregrinação de quarenta anos pelo deserto até chegar à terra prometida. Por analogia bíblica e teológica, os fiéis também recebem hoje o seu “pão diário”. A oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, conhecida como a oração do “Pai Nosso”, onde afirma: “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia” Mateus 6.11. (Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, 2001, Sociedade Bíblica Internacional, São Paulo). Disse, porém, o Senhor a Moisés: Eu lhes farei chover pão do céu. O povo sairá e recolherá diariamente a porção necessária para aquele dia. O povo de Israel chamou maná àquele pão. Era branco como semente de coentro e tinha gosto de bolo de mel. Os israelitas comeram maná durante quarenta anos, até chegarem a uma terra habitável; comeram maná até chegarem às fronteiras de Canaã. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com o maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhes que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor. Êxodo 16. 4, 31, 35; Deuteronômio 8.3 (Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, 2001, Sociedade Bíblica Internacional, São Paulo). O mérito do Pão Diário, razão de sua grande aceitação no mercado editorial cristão, é o de não estar diretamente ligado a nenhuma denominação específica, mas a uma instituição sem fins lucrativos e com uma imagem positiva no cenário evangélico 118 nacional. Sem as cores denominacionais, ele pode ser utilizado por cristãos dos mais diversos segmentos, mesmo fora do protestantismo. O responsável pela seleção dos textos e coordenação da impressão é Roland Körber, membro da Igreja Batista Alemã de São Paulo. A autoria dos textos devocionais é múltipla, ou seja, diversos colaboradores do Pão Diário espalhados pelo Brasil e exterior enviam seus textos, que uma vez selecionados, são impressos, resultando numa publicação muito próxima dos problemas do cotidiano dos mais variados grupos de leitores. No material publicitário da RTM-B, o sucesso editorial do “Pão Diário” é constantemente ressaltado. É o exemplar com maior saída desde seu nascimento há 12 anos, ultrapassando um milhão de cópias além de ser o mais lido na categoria de devocionais. Este é o Pão Diário. Ele auxilia na leitura da Bíblia, sempre apresenta uma mensagem direcionada e pertinente à realidade do leitor. Traz mensagem de consolo, ânimo e amor. Pelo fato de pregar Jesus Cristo, tem conquistado leitores de diversas confissões. Cada vez mais, o Pão Diário está ultrapassando barreiras e chegando até mesmo a livrarias seculares (Informativo da Rádio Trans Mundial, 1º Trimestre, 2009, p. 17). O prefácio da 14ª edição do Pão Diário foi escrito por Davi Nunes, pastor presbiteriano, atualmente jubilado, que trabalhou e atuou no departamento de língua portuguesa em Bonaire e na RTM-B por diversos anos. A ênfase dada por ele no prefácio do devocional é sobre o cuidado que os pais devem ter com a formação dos valores espirituais e morais dos filhos, a partir do próprio lar, investindo na sua educação religiosa. O lar é o lugar onde preparamos os filhos para Deus, para a Igreja e para a Pátria. Aos pais foi dada por Deus esta incumbência. A igreja e a escola são importantes, mas nada substitui a família na formação moral e espiritual dos filhos. [...] Todo cristão deve estar comprometido com a obra missionária. Mas, e aqueles que Deus nos deu como herança do Senhor? Vamos deixá-los para um segundo plano na evangelização? (Pão Diário, nº 14, Prefácio, 2011 s/n). 119 Há uma leitura específica para cada dia do ano, constando a data, o título da meditação, uma referência bíblica, a transcrição de um versículo bíblico, a meditação do dia e uma síntese da mensagem em negrito. Os temas são construídos a partir dos problemas do cotidiano humano, propondo sempre respostas alinhadas à cosmovisão cristã da existência, o que pressupõe que seus leitores já sejam adeptos de alguma igreja ou que possuam alguma familiaridade com a cultura e com o discurso religioso cristão. Temas como: Perdoe as ofensas, Moda, Alicerces, Nada de orgulho, Tenha bom ânimo, Amigo, O próximo, Olhar de fé, Tempo de Deus, Nada de ansiedade, Lamento, Vitoriosos, Persevere, Levante-se, Oposição, Refúgio seguro, Mentira, Nova chance, Fui demitido, Santidade, Cobiça, Crise, Esperança, Família, Fazer o bem, Procurando Deus, Dúvidas, Permanecer em Cristo, Adultério, Passo a passo, De joelhos, Choro que faz feliz, Perdas e ganhos, Descanse em Deus, Esqueça, Fama, servem de estímulo diário, de reforço das convicções religiosas já possuídas, mais do que para o proselitismo propriamente dito. O Pão Diário, pela sua aceitação no mercado religioso, dentro e fora do meio evangélico, se tornou o principal produto de venda da RTM-B e fundamental para a sua manutenção. Através da mídia eletrônica, escrita e institucional ele é insistentemente anunciado como a literatura ideal para a devocional da família brasileira. Martino afirma que o produto simbólico das instituições religiosas precisa “aparecer para ser conhecido. Mais do que isso, precisa provar que é melhor. O único caminho para isso no mundo atual é a mídia” (2003, p. 105). Insistentemente o “Pão Diário” é anunciado em toda programação da Trans Mundial. Os outros produtos da Editora RTM possuem um mercado consumidor mais restrito aos ouvintes da rádio. O gráfico abaixo29 mostra os produtos da linha editorial da RTM, tiragens e expectativas de venda para o ano 2011, destacando-se a quantidade de volumes do Pão Diário. Tirando os custos de produção, o lucro líquido estimado passa dos R$ 2.000.000,00. 29 Anexo04, Orçamento de 2009. Assembléia da Rádio Trans Mundial. Relatório da Diretoria referente ao exercício de 2009 120 Pão Diário 14 500.000 2.200.000,00 Pão Diário Personalizado 200.000 784.000,00 Pão diário Infantil 50.000 375.000,00 Pão Diário 14 – Espiral 20.000 154.000,00 Rota 66 6.000 450.000,00 Salmos Rota 66 3.000 48.000,00 Atos – Rota 66 DVD 200 10.000,00 CDs Músicas 10.000 90.000,00 Através da Bíblia 1.000 18.000,00 Através da Bíblia – João 500 7.500,00 Carta da Alegria 300 5.400,00 Carta da Liberdade 500 9.000,00 Total de Vendas 4.150.900,00 A expansão do mercado e do consumo de literatura evangélica, dentre outros produtos específicos para este público, é descrito por Leonildo Silveira Campos como parte de um novo “clima cultural” que: Trouxe consigo uma forte demanda por mensagens de auto ajuda,otimismo e esperança, as quais produziram esforços dos clérigos e leigos no atendimento dos desejos e necessidades temporais dos fiéis. Daí a psicologização da religião e a transformação dos produtos religiosos em produtos e mercadorias oferecidos em série e padronizados (CAMPOS, 2008, p. 5). 3.3 Atuações e desdobramentos da RTM-B A RTM-B se define como uma missão brasileira dirigida por brasileiros e voltada para as necessidades do povo brasileiro. Sem qualquer vinculação denominacional específica, deixa claro, no entanto, sua identificação apenas com aqueles que professam fidelidade à Bíblia Sagrada. 121 No início de suas transmissões no Brasil, todo esforço estava concentrado na produção de programas específicos para o público brasileiro, na aproximação da rádio com os ouvintes por meio da troca de correspondências e cursos bíblicos e na divulgação de sua atividade missionária junto às igrejas brasileiras. A produção dos programas refletia claramente a vertente conversionista, “teologia predominante na Era Missionária norte-americana” (MENDONÇA, 2002, p. 32), voltada para a conversão dos indivíduos e para a conseqüente transformação da sociedade. Ainda que os historiadores do protestantismo constatem que denominações históricas acreditavam no potencial da educação para preparar a sociedade para o evangelho, ou que envolvidas na educação não cresceram tanto pela falta de “agressividade” evangelista, também é verdade que todas elas estavam empenhadas na conversão das pessoas, acreditavam que somente pela conversão a sociedade sofreria as mudanças. Talvez outros fatores históricos e culturais tenham contribuído para o crescimento mais acentuado de algumas denominações, principalmente as pentecostais, que conseguiram se alinhar melhor com as classes sociais mais pobres, predominantes na sociedade brasileira e na membresia destas igrejas. Atuações mais específicas, ou para grupos mais específicos, sempre foi uma preocupação da RTM-B. Em 1981, Marly Spieker começou um programa direcionado para a mulher – “De mulher para Mulher”, bem antes da popularização dos programas voltados especificamente para o público feminino. Com o passar do tempo, na medida em que se observa o fenômeno da popularização das rádios evangélicas no Brasil, bem como da oferta abundante de outros meios de comunicação, como a televisão, por exemplo, a RTM-B começou a assumir contornos mais “paraeclesiásticos”, e passou a definir como parte de sua missão desenvolver projetos voltados para auxiliar a igreja evangélica brasileira na evangelização do país. No website da emissora há um link afirmando: Nosso objetivo é ser um braço de ajuda à igreja evangélica brasileira, na pregação do evangelho, implantação e colaboração no trabalho evangelístico no Brasil. Buscamos levar a Palavra de Deus aos homens de nossa terra, para que tenham contato com o poder 122 transformador do Evangelho (Site da RTM. <http://www.transmundial.com.br/institucional.php3>, acesso, 5 de outubro de 2010). Antônio Gouvêa de Mendonça (2002, pp. 55,56), coloca as organizações paraeclesiásticas dentro do contexto do enfraquecimento missionário das igrejas oriundas do protestantismo de missão, debilitadas pela teologia liberal e pela revitalização das nações não–cristãs, que prescindiram do cristianismo para alcançar altos índices de desenvolvimento tecnológico e humano. As organizações paraeclesiásticas, dentro desta visão, recuperam a teologia conversionista, presente na tradição missionária, e surgem em fins da década de 1950 como a nova força missionária mundial. Paraeclesiástica são organizações missionárias diferentes das tradicionais. Elas não se ligam às juntas ou comitês das grande Igrejas norte-americanas, mas se organizam independentemente delas com contribuições em dinheiro de membros de diversas Igrejas que assumem compromissos individuais de sustentação de missões ou missionários. [...] Não estão ligadas às grandes estruturas eclesiásticas, mas a compromissos individuais teoricamente precários, são chamadas “missões de fé”. As paraeclesiásticas agem em três diferentes níveis: evangelização de massa, acampamentos para juventude e literatura (MENDONÇA, 2002, pp. 56, 57). Neste sentido, a RTM-B, em si mesma, independentemente dos projetos atuais de apoio à igreja brasileira, pode ser vista como uma organização paraeclesiástica. Apesar da visão negativa de Antônio Gouvêa de Mendonça sobre as Igrejas tradicionais, por não conseguirem se inserir na sociedade brasileira, e das paraeclesiásticas, como instituições que apenas acentuaram esse distanciamento dos membros dessas igrejas em relação ao mundo, pensamento alinhado com o de outros historiadores do protestantismo brasileiro, é inegável, pelo histórico de transformação pessoal de muitas vidas, que houve também contribuições positivas dessas organizações na sociedade e cultura brasileira. 123 Pelo olhar daqueles que viveram pelo lado de dentro da Trans Mundial, desde Monte Carlo, posteriormente Bonaire e finalmente no Brasil, “a Rádio Trans Mundial é o maior fenômeno das missões mundiais modernas no século XX30”. Outro pesquisador do protestantismo brasileiro que menciona o surgimento das organizações paraeclesiáticas “desvinculadas institucionalmente” das igrejas organizadas é Leonildo Campos. Nas grandes cidades começaram a surgir, a partir dos anos 50, ministérios “paraeclesiáticos”, isto é, agências e distribuidores de bens religiosos, desvinculadas institucionalmente das Igrejas, especializados na prestação de serviços a segmentos da população, que por causa da adoção de novos modos de vida urbano-industriais, estavam se desinteressando das atividades propostas pelas igrejas, seitas e denominações (CAMPOS, 1997, p. 226). 3.3.1 Línguas Indígenas – Projeto Ticuna O projeto Ticuna é desenvolvido na Aldeia Filadélfia, próximo a cidade de Benjam Constant, na região da Amazônia. A RTM-B, em parceria com instituições missionárias que atuam na aldeia, participou da construção dos estúdios da Rádio Ticuna, voltado para a produção e gravação de programas na língua indígena, além de fornecer o suporte técnico necessário para a transmissão destes programas para as demais tribos ticunas da região. A Aldeia Filadélfia é composta por 300 famílias, aproximadamente 1.200 índios, de um total de 45 mil ticunas, distribuídos em mais de 120 aldeias, espalhados por uma extensa área na região Amazônica, envolvendo três países: Brasil, Colômbia e Peru. Desse total, 60% moram em território brasileiro. Os ticunas são a maior nação indígena do país, com aproximadamente 45 mil índios distribuídos em mais de 120 aldeias. Ocupam uma extensa área na região Amazônica envolvendo três países: Brasil, Colômbia e Peru, sendo que mais de 60% dos índios ticunas moram em território brasileiro. A evangelização dos ticunas começou 30 Davi Nunes, informação verbal, outubro de 2010. 124 na década de 50, hoje já estima um total de 7 mil índios em 30 aldeias convertidos ao Evangelho. Num cenário de miséria, pobreza e violência, se encontram diversas tribos indígenas, como os Macuxis e Baniua. Em ambas existe um trabalho evangelístico, as tribos recebem a Palavra de Deus, através das ondas de rádio que saem de Bonaire – ilha localizada no Caribe, ou pelas rádios afiliadas (Informativo da RTM, 2009, p.14). 3.3.2 Capelania Escolar É uma iniciativa recente da RTM-B visando desafiar as igrejas a um envolvimento com as escolas públicas e particulares do país. O projeto piloto de capelania escolar teve início em uma instituição particular de ensino, o Instituto Batista de Educação de Vitória, com excelentes resultados. Com os dados desta experiência, foi realizado o Primeiro Congresso Brasileiro de Capelania Escolar, em Campinas, no ano de 2008, com a presença de 120 participantes de 15 estados brasileiros. Nos anos seguintes, 2009 e 2010, mais dois congressos foram realizados com o mesmo objetivo. Com o intuito de oferecer capacitação e ferramentas necessárias para enfrentar problemas comportamentais que atingem a juventude contemporânea, como dependência química, sexualidade, entre outros, o pastor Marcio Alexandre e a equipe da RTM, ministram cursos de Capelania Escolar (Informativo da RTM, 2009, p. 10). A primeira proposta da RTM-B é disponibilizar aos alunos exemplares dos devocionais “Pão Diário” e “Surpresas para Hoje”, sua versão infantil. Como as escolas brasileiras, com exceção das confessionais, são leigas, a inserção do projeto de capelania nem sempre é tarefa fácil. A credibilidade da igreja na comunidade onde está à escola pode facilitar eventuais aberturas para esta proposta. Alguns Estados Brasileiros, como o Estado de São Paulo, inseriram o ensino religioso na grade curricular do Ensino Fundamental, onde o tema é abordado não pelo 125 viés confessional, mas pelo ecumênico, com aulas atribuídas aleatoriamente a professores de história, independentemente de qualquer vinculação religiosa específica. Apesar da iniciativa louvável, constitucionalmente a escola é considerada um espaço laico e legalmente não pode abrigar uma capelania no seu interior nos moldes das instituições confessionais de ensino. 3.3.3 Projeto Ana Projeto de âmbito mundial que nasceu da preocupação com o sofrimento das mulheres ao redor do mundo. É definido como um ministério de compaixão e encorajamento às mulheres oprimidas e possui três vertentes principais: oração, conscientização e programação de rádio. A fundadora deste projeto, e que ainda continua na sua direção mundial, é Marly Spieker, esposa de Edmund Spieker, primeiro secretário executiva da RTM-B. Edita um boletim mensal de oração que é traduzido em mais de 20 idiomas e distribuído para mulheres cristãs em mais de 85 países, incluindo o Brasil. Através do programa Mulheres de Esperança, a RTM internacional e nacional, uma palavra específica é dirigida para as mulheres, contendo entrevistas, músicas, conselhos práticos e espirituais. O programa é levado ao ar em mais de 300 estações ao redor do mundo e pode ser ouvido em 31 línguas, estando presente em 90 países. Como se trata de uma ajuda subjetiva e espiritual, este projeto visa trazer uma mensagem de consolo, solidariedade e esperança para as mulheres em diversas partes do Brasil e do mundo. Atualmente o projeto é coordenado por Celina Rempel 3.3.4 Projeto Antenas e Projeto Ceifa Sul - Plantação de Igrejas O objetivo do Projeto Antenas é levar a programação da RTM-B ao maior número de emissoras, seja em FM,OM,OC ou pela internet. Ele foi criado com o objetivo de sensibilizar a comunidade evangélica brasileira a contribuir com recursos para a ampliação das emissoras afiliadas da RTM. 126 O Projeto Ceifa Sul, projeto de longo prazo, tem como objetivo estabelecer parcerias com igrejas e com agencias missionárias, visando a implantação de igrejas na região sul do país, região onde é apresentado o menor índice de crescimento anual de evangélicos. 127 CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo do Renascimento Cultural e da invenção da imprensa de Gutenberg, invento decisivo para a descentralização do conhecimento e do acesso à informação, a presente dissertação abordou o desenvolvimento dos meios de comunicação até a invenção do rádio e sua possibilidade de transmitir a informação em tempo real para distâncias limitadas apenas pela potência do transmissor de ondas sonoras. Em pouco tempo ocorreu o processo de popularização do rádio como meio de comunicação de massa. Ao transmitir a informação, ao comunicar significados, o rádio não apenas acrescentou novos ingredientes culturais na sociedade moderna, como também participou do processo sócio-cultural de desenvolvimento de grande parcela população mundial. Não demorou para que o rádio fosse utilizado como meio de divulgação do discurso religioso Das primeiras transmissões experimentais em ondas curtas de rádio e sua peculiaridade de alcançar simultaneamente distâncias nunca antes imaginadas, sem quaisquer restrições de natureza política ou ideológica, vimos o surgimento das primeiras rádios internacionais seculares e, mais especificamente, das primeiras rádios missionárias, empenhadas na utilização deste moderno recurso tecnológico, associando definitivamente mídia e religião. A Rádio Trans Mundial surgiu em meio a esse contexto histórico e cultural, pós Segunda Guerra Mundial, quando os EUA experimentavam um reacender do zelo missionário. Entusiasmados com as potencialidades desta nova tecnologia de comunicação para longas distâncias – o rádio -, muitos missionários julgavam ser possível alcançar o mundo todo como a transmissão da mensagem cristã ainda em sua geração. Seu fundador, Paul Ernest Freed, deu início a uma emissora de rádio internacional, de natureza missionária, exclusivamente destinada à propagação religiosa e sem fins lucrativos. Dessas iniciativas, concluímos que Freed se propunha a fazer da Trans World Rádio (Rádio Trans Mundial) uma missão de fé, sustentada apenas por ofertas voluntárias, preservando a autonomia sob o conteúdo total da programação a ser transmitida. As cartas recebidas serviram tanto de estímulo para que a rádio ampliasse sua capacidade de transmissão, alcançando lugares até mesmo inacessíveis para qualquer missionário, como também para sensibilizar igrejas e cristãos na Europa e nos 128 EUA a financiar a emissora. Sua estratégia de aproximar a rádio da cultura dos países alcançados por suas transmissões favoreceu o diálogo com as mais variadas denominações e lideranças religiosas locais, contribuindo para o perfil “trans denominacional” que marcaria a RTM. A transmissão da mensagem dentro do contexto cultural e religioso de cada nação alcançada, resultou no surgimento de outras Trans Mundiais ao redor do mundo, num momento histórico e cultural bastante favorável para influenciar as representações do sagrado construídas pelos ouvintes, quer pela expansão dos aparelhos receptores de rádio ao redor do mundo, quer pela tecnologia de transmissão em ondas curtas com sua capacidade de atingir longas distâncias, como pelo interesse que esse novo meio de comunicação despertava em pessoas ávidas de informações ao redor do mundo. No contexto brasileiro, a investida protestante na mídia foi bem tímida e inexpressiva até a primeira metade do século XX. Neste período histórico, o rádio se espalhou como veículo de comunicação popular, passando a fazer parte do cotidiano familiar dos brasileiros nas mais variadas regiões do país. Sintonizar emissoras internacionais, que transmitiam em diversos idiomas através das ondas curtas de rádio, tornou-se comum neste período. É dentro deste contexto histórico que a Rádio Trans Mundial iniciou suas transmissões para o Brasil em 1965, como uma rádio internacional, inter denominacional, missionária, alcançando quase a totalidade do território brasileiro, com transmissões em português e também em alemão, voltada para a grande comunidade de imigrantes alemães. Dentro de um protestantismo brasileiro bastante influenciado e dependente da cultura americana, foi interessante perceber que a Rádio Trans Mundial foi organizada no Brasil, em 1970, por iniciativa dos imigrantes evangélicos de origem alemã e com investimentos iniciais feitas pela Trans Mundial da Alemanha. Mais do que isto, o suporte administrativo e financeiro ainda hoje, 40 anos depois, depende destes mesmos imigrantes. No Brasil, coube a Edmund Spieker, alemão de nascimento, a responsabilidade pela implantação da RTM-B. Exercendo a função de Secretário Executivo, acompanhou a primeira década de existência da emissora e foi personagem decisivo para a consolidação da RTM-B. Produzindo a programação a partir do contexto brasileiro, utilizando personalidades destacadas no cenário evangélico nacional, valendo-se de uma programação diversificada e dirigida a diferentes faixas etárias, num momento histórico 129 muito favorável para o rádio, a RTM-B exerceu forte influência espiritual e cultural sobre gerações de famílias brasileiras, conforme depoimentos de milhares de cartas recebidas pela emissora. Em muitos lugares do Brasil, a RTM-B era a única emissora com potência de transmissão suficiente para atingir comunidades isoladas no imenso território nacional, levando tanto informações seculares como religiosas, que foram determinantes na mudança dos paradigmas culturais e espirituais de muitos ouvintes. Dá análise das correspondências enviadas para a emissora nos últimos dez anos, concluí que a influência mais determinante da RTM-B aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980, coincidindo com o período de grande popularidade do rádio como meio mais acessível e popular de comunicação. Na década de 1990, o cenário tanto na tecnologia da comunicação, como no campo religioso brasileiro, passou por mudanças significativas e substanciais. Houve crescente acessibilidade a outras mídias, além do rádio, como a televisão e a internet. Houve, também, um grande crescimento na população evangélica brasileira, principalmente nas denominações pentecostais e neopentecostais, bem como um aumento na oferta de programas de rádio nas frequências mais usuais, como AMs e FMs. As transmissões em OC (ondas curtas), frequência de transmissão utilizada pela RTM-B, competia com inúmeras mídias de melhor acessibilidade e qualidade de recepção. A conclusão a que cheguei, com base nesses dados históricos, é que as rápidas mudanças de ordem tecnológica, econômica, histórica e cultural, contribuíram para uma racionalização administrativa da emissora, que se viu forçada a adotar as estratégias do marketing, voltada para o crescente mercado consumidor evangélico brasileiro, passando a priorizar a produção de bens simbólicos religiosos. Em outras palavras, na opinião de alguns teóricos, precisou dessacralizar a religião, passando a vê-la como um meio de obtenção de sustento e consequente sobrevivência institucional. Outra iniciativa adotada foi à busca de parcerias com outras emissoras regionais, nas frequências mais utilizadas pelos ouvintes, a fim de resgatar sua visibilidade perdida num campo midiático com forte concorrência de outras emissoras evangélicas. Isto não deve ser visto de forma negativa, mas como adequação da rádio aos novos tempos e como estratégia de sobrevivência enquanto instituição missionária, visto que o modelo administrativo adotado pela RTM-B, de uma rádio sustentada por sócios mantenedores, começava a dar sinais evidentes de esgotamento, colocando em risco a sobrevivência da emissora e de seu projeto missionário. 130 Não tendo natureza comercial e, provavelmente, sem atrativos comerciais para o mercado de anunciantes, por não dispor de uma pesquisa de audiência fundamentada em critérios científicos, precisou valer-se da qualidade de sua programação, do prestígio de alguns programas produzidos por personalidades reconhecidas no campo evangélico brasileiro, e da inserção no mercado de bens simbólicos religiosos como forma de buscar visibilidade, sustentabilidade e relevância institucional. Das visitas a RTM-B também concluí que, apesar de todas as transformações impostas pelos novos tempos, permanecem os ideais missionários dos primeiros tempos. Há intensa troca de comunicação com ouvintes, elevado número de ouvintes inscritos nos cursos bíblicos por correspondência, investimento em projetos evangelísticos e sociais, além de um amplo ministério de divulgação da RTM-B feito por correspondências, boletins informativos impressos e digitais ou pessoalmente, por meio de missionários a serviço da divulgação da rádio pelo Brasil. Das correspondências ou emails mais recentes, a conclusão a que cheguei não foi diferente da expressa por outros pesquisadores recentes da mídia evangélica, que o impacto da RTM-B é, na atualidade, mais confirmatório do que decisório. A rádio, nos últimos anos, procurou imprimir um dinamismo na programação, com transmissões ao vivo nas horas consideradas de maior audiência, com boletins informativos dos principais acontecimentos do Brasil e do mundo, com resumo das principais manchetes de jornais e revistas, além das músicas e programações estritamente evangélicas. Não deixou transparecer uma competição com outras emissoras evangélicas, mas apenas uma adequação aos novos tempos e as novas tendências também evidenciadas na comunicação através do rádio. A conclusão, a meu ver, mais preocupante, foi sobre a dependência econômica da RTM-B de um único produto em sua linha editorial – Pão Diário. Os estudos do marketing aplicado a religião, apresenta um difícil desafio a RTM-B – o desafio de levar em consideração por quanto tempo durará a “demanda” e o “ciclo de vida” deste sucesso editorial. Essa preocupação é suficiente para explicar o constante lançamento de novos produtos pela Editora RTM, que tem buscado, embora sem sucesso imediato, um produto com aceitação semelhante ao Pão Diário. Certamente, uma emissora como a Rádio Trans Mundial, propõe questões que não foram contempladas nesta dissertação, cujo registro ficou limitado ao conteúdo historiográfico e cultural. Termino, expressando o meu desejo de que as considerações apresentadas contribuam para novas pesquisas da mídia evangélica brasileira. 131 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro. CPAD, 2007. AZEVEDO, Antônio Carlos do Amaral. Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. BAPTISTA, Saulo. Pentecostais e Neopentecostais na Política Brasileira. Um Estudo sobre cultura política. Estado e atores coletivos religiosos no Brasil. São Paulo, Annablume, 2009. BELLOTTI, Karina Kosicki. 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