O DESENVOLVIMENTO E O APRENDIZADO EM VIGOTSKY
Kassius Otoni Vieira
Kassius [email protected]
Rodrigo Luciano Reis da Silva
[email protected]
Harley Juliano Mantovani
Faculdade Católica de Uberlândia
[email protected]
PIBIC/FAPEMIG/CATÓLICA
Neste trabalho iremos abordar a doutrina de Lev Semenovitch Vygotsky ou
como é conhecido, Vygotsky. Ele foi psicólogo bielo-russo que nasceu na cidade de
Orsha em 17 de Novembro de 1896, e morreu aos 61 anos na cidade de Moscou, em 11
de Junho de 1934. Vygotsky buscou compreender a origem e o desenvolvimento dos
processos psicológicos ao longo da história da espécie humana, este tipo de
compreensão é denominado de abordagem genética, pois tem como base o estudo da
forma como o homem se desenvolve através da cultura, do seu convívio social e do
ambiente em que o mesmo está inserido, noutros termos, vamos fazer uma investigação
do arcabouço teórico que Vygotsky propôs em seus estudos da complexidade do
desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo.
Vygotsky não desenvolveu uma concepção estruturada do desenvolvimento
humano, de forma que pudéssemos interpretar os processos de crescimento e
estruturação do homem desde o sua mais tenra idade até a adulta. Esta não foi a sua
proposta, mas o que ele oferece através dos seus estudos é uma reflexão com base em
dados de pesquisas cientifica-psicológicas, sobre os vários aspectos do desenvolvimento
e da aprendizagem do ser humano. Para ele a criança de forma inata já tem em si as
duas condições para ser formada, pois estão intrinsecamente relacionadas, sendo “um
aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções
psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas” (Vygostky, p.101).
Vygotsky cita um exemplo referente a um individuo que vive em um contexto
isolado do nosso mundo atual, mas inserido dentro do seu mundo, o qual não existe
escrita, esta pessoa cria um sistema de aprendizado diferenciado do cotidiano de outros,
mas não será alfabetizado. Quando o mesmo for desligado do seu contexto social e da
sua convivência e for inserido em um cotidiano que se tem acesso a escrita e a
alfabetização, Vygotsky afirma mediante seus estudos que será despertada a
aprendizagem deste individuo, devida a mudança de ambiente, e será iniciado o
aprendizado.
É um processo pelo qual o individuo adquire informações
habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a
realidade, o meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que
se diferencia dos fatores inatos (a capacidade de digestão, por
exemplo, que já nasce com o individuo) e dos processos de
maturação do organismo, independentes da informação do
ambiente. Em Vygotski, justamente por sua ênfase nos processos
sócio-historicos, a idéia de aprendizado inclui a interdependência
dos indivíduos envolvidos no processo. O termo que ele utiliza em
russo (obuchenie) significa algo como “processo de ensino
aprendizagem”, incluindo sempre aquele que aprende, aquele que
ensina e a relação entre essas pessoas. (OLIVEIRA,1995, p.57).
Retomando o estudo de aprendizado das crianças, o que se busca descobrir é ate
onde esta criança chegou, com relação ao seu desenvolvimento. É feito então alguns
testes para que através dos mesmos, seja levantado o que se sabe ou não referente ao
senso de maturidade que a mesma tem para o aprendizado. Quando se constata que a
criança já sabe amarrar um calçado sozinho, ou sabe fazer determinadas ações sem a
ajuda de um terceiro, fica explicitada a ideia de que a mesma já se tornou independente
naquela atividade e que o seu conhecimento é suficiente para o desempenho da função.
Esta forma de avaliação do comportamento infantil busca demonstrar o que se
considera como conquista adquirida pela criança, e que não será mais necessário
trabalhar para que haja um desenvolvimento referente àquela ação ou referente àquela
área. A esta capacidade de realizar estas tarefas Vygotsky denomina de nível de
desenvolvimento, que já foram completados e conseqüentemente consolidados. Segue
então o outro nível que é o nível o qual se deseja alcançar, e este recebe o nome de nível
de desenvolvimento potencial, e esta capacidade já não pode ser desenvolvida de forma
independente, mas necessitam da ajuda de adultos ou de companheiros que já se
capacitaram para desempenhar tais funções.
Essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa
pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky.
Em primeiro lugar porque representa de fato, um momento do
desenvolvimento: não é qualquer individuo que pode a partir da
ajuda de outro, realizar, qualquer tarefa. Isto é. A capacidade de se
beneficiar de uma colaboração de outra pessoa vai ocorrer num
certo nível de desenvolvimento, mas não antes. (OLIVEIRA,1995,
p.59).
A idéia de nível de desenvolvimento potencial auxilia a captar o momento em
que as novas informações devem ser inseridas dentro da zona de conhecimento da
criança. A partir desta postulação, onde existe aquilo que é conhecido pela criança (real)
e o que o mesmo precisa aprender (ideal), surge como elo entre estas duas zonas um
“local” referencial conhecido como Zona de Desenvolvimento Proximal, que aqui é
simplificada pelas siglas ZDP, a qual o individuo que ensina precisa atingir, para que a
criança que está sendo submetida ao aprendizado, e portanto, dependente de
interferência de terceiros, seja em um futuro próximo, independente em relação ao novo
conteúdo proposto.
[...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas
uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao
desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de
desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a
aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento
intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na
criança essas características humanas não-naturais, mas formadas
historicamente. (OLIVEIRA,1995, p.115).
Mas surge uma questão intrigante para quem ensina e para quem esta envolvido neste
processo de aprendizagem, que é como atingir esta ZDP? A forma de se atingir esta
zona é em primeiro lugar impulsionar a construção do ser psicológico de quem ensina
neste caso incentivar as pessoas que estão dentro das sociedades escolarizadas a
conhecer seus alunos a ponto de provocar avanços no conhecimento do mesmo. Maria
Tereza Rego uma comentadora da teoria de Vigotsky apresenta assim o função de que
ensina.
Em síntese, nessa abordagem, o sujeito produtor de conhecimento
não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o
portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é
um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto
de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O
conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem.
(REGO, 2002 p. 98).
Vygostky aponta que o bom ensino é aquele que provoca no aluno o
adiantamento do seu conhecimento, só que este fato não deve se dar através de uma
forma autoritária de ensino, mas através de uma abordagem que consiga estimular o
conhecimento da criança. Outro fator importante que ele considera é a ação do meio
cultural e das relações sociais que o individuo vive diariamente. Em cada
relacionamento que se da entre o sujeito e o ambiente, seja ele cultural ou social, o
mesmo recebe uma carga de informações que a ajuda a reconstruir seus conceitos
anteriores e leva a reelaborar novos conceitos e gerando assim um aprendizado
dialético, que promove individualmente constantes mudanças. Estas mudanças
frequentemente geram a criação de uma nova cultura, por parte deste individuo que
mediante este processo elabora uma formação sócio histórica que fundido a outras
transformações individuais, constrói a sociedade humana como um todo.
Para Vygotsky, a aplicação desta situação em ambiente escolar traz a sugestão de
se aplicar a imitação, como recurso de aprendizado, deixando claro e evidente que a
utilização deste recurso não deve ser algo mecânico, mas uma reconstrução da
capacidade da criança de aprender algo novo, através de alguém que pode transmitir a
sua Zona de Desenvolvimento Proximal uma conhecimento referente ao que se sabe e
algo que se deve aprender.
Outra forma de se conseguir atingir a ZDP da criança dentro do ambiente escolar
e estimular a criança utilizando como ferramenta brinquedos, no qual a criança
geralmente utiliza para criar um mundo de faz de conta. Este mundo esta em todos os
sentidos carregado de significados que facilmente é apreendido pela criança. Dentro de
um ambiente visual real, a criança não consegue desvincular aquilo que esta vendo de
forma concreta e real do que é o significado. Como exemplo se ela esta visualizando
uma pessoa dormindo o seu relato não será de que a pessoa esta andando, mesmo que
você peça a ela para falar assim. No caso da utilização de brinquedos, a criança interage
com os mesmos através da sua imaginação, pois cada um tem um simbolismo ou
significado que ultrapassa a realidade concreta. O brinquedo cria então uma situação de
transição entre o real e o imaginário provocando um conhecimento novo, que a criança
poderá utilizar no seu dia a dia. Essa técnica gera também, mesmo dentro do ambiente
de faz de conta uma serie de regras, que não poderão ser quebradas, como por exemplo
quando uma criança brinca de escolinha e a mesma tem que seguir regras diante dos
seus colegas e diante da professora, que é o seu ambiente social. Estas regras irão
permanecer dentro do conhecimento da criança fazendo com que ela, após o termino da
brincadeira, consiga transportá-la para o mundo real.
{Vygotsky] entende que, no jogo, a criança cria uma "zona de
desenvolvimento proximal", e isto faz com que a criança esteja sempre
acima de sua idade média, isto é, acima de sua conduta diária, uma vez
que o jogo contém todas as tendências evolutivas de forma condensada,
sendo, em si mesmo, uma considerável fonte de desenvolvimento. (NEGRINE, 1995, p. 16).
Outra forma de se levar a criança ao desenvolvimento e ao aprendizado é através
da escrita. A escrita nada mais é do que ensinar a criança a dominar os signos por ela
conhecidos. Ao brincar de faz de conta como citado acima à criança gera uma série de
significados em sua mente, que ao pedir para serem reproduzidos em um papel vira
cheio de simbologia e significados. “ os signos representam outra realidade; isto é, o
que se escreve tem uma função instrumental, funciona como um suporte para a memória
e a transmissão de idéias e conceitos.” (Oliveira, 1995, p.68)
A criança não alfabetizada inicia o processo de escrita utilizando como
ferramenta a imitação mecânica daquilo que se conhece, ou seja, utilizando a sua zona
de desenvolvimento real, ela gera no olhar de quem já sabe escrever, apenas rabiscos.
Estes são, portanto a representação do que a criança domina, ou sabe, o professor por
sua vez, pode então, através desta demonstração de conhecimento levar a criança a
elaborar algo novo, esse percurso se dá na atuação do professor quando este atinge a
Zona de Desenvolvimento Proximal da criança.
Na teoria de Vigotsky, todo o aprendizado da criança passa pela descoberta por
parte de quem ensina, da zona de desenvolvimento proximal de quem está aprendendo,
na qual deve ser observado sempre o tipo de ferramenta pedagógica que poderá ser
utilizada pelo professor, para que este consiga de uma forma eficiente reelaborar o que
se sabe, despertar o desejo de ir de encontro ao novo e através desta mudança no
individuo conseguir gerar um aprendizado eficiente, que a posteriori o aluno irá utilizar
nas suas relações sociais. A utilização deste novo conhecimento irá escrever um novo
comportamento sócio cultural histórico, gerando sempre um processo dialético que será
carregado de novos símbolos e novos significados, e o individuo que ensina deve
contextualizar-se, buscando sempre novos métodos para atingir a zona de
desenvolvimento proximal, valendo lembrar que as ferramentas pedagógicas podem ser
as mais variadas, e as melhores ferramentas são aquelas que causam o “espanto”
criativo no aluno.
Referencias
NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil: Psicomotricidade
alternativas pedagógicas. V. 3. Porto Alegre, RS. Prodil, 1995.
OLIVEIRA, Marta Kohl de, Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento: um processo
Sócio-histórico. São Paulo: editora Scipione, 1995.
REGO, T. C. 2002. Vygotsky: uma perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Rio de
Janeiro, Vozes, 2002.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
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