Curso Online A Escola no Combate ao Trabalho Infantil
Professora Marcia Acioli1
Vídeo Aula 32
Participação e Protagonismo – Compartilhando Experiências
Eu gostaria de citar duas experiências para mostrar como não só é viável, mas como
é muito gostoso trabalhar com direitos na escola, vista como um local de referência para a
educação pedagógica em direitos. É possível trabalhar em todas as faixas etárias. Eu
tenho muita experiência com várias faixas etárias e várias etapas da escola, mas quero
citar duas, uma de quarta série e uma de ensino médio. Em qualquer destas experiências,
nós partimos dos recursos que temos, sejam eles pedagógicos ou estéticos, pois
trabalhamos muito com arte.
Na quarta série foi trabalhada a ideia de montar uma cidade. Perguntamos para as
crianças o que existe na cidade, elas foram falando e anotando: casas, edifícios, lojas,
farmácias, hospital, escola... Depois de citarem muitas coisas, problematizamos um pouco
mais, colocando questões como, por exemplo: E se a pessoa morrer? “Ah, tem que ter
cemitério...” É muito interessante perceber como as crianças sempre colocam muita
diversão nas suas cidades. Sempre tem circo, zoológico, campinho de futebol, parquinho
(aos montes), pista de skate... Depois das crianças falarem tudo o que existe em uma
cidade, elas foram desafiadas a representarem a cidade. Em vários grupos desenhavam
partes da cidade que depois era montada, formando um imenso desenho. Temos alguns
exemplos deste processo no material chamado “Protagonismo Juvenil: Direitos, Cidadania
e Orçamento Público”3.
Continuando o processo, foi discutido com os alunos a partir de questões como:
Nesta cidade as crianças estão felizes? Esta tudo bem ali? Os alunos começaram a reparar
que faltava um hospital, um posto de saúde, uma escola... E problematizando cada vez
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Márcia Acioli é arte educadora formada pela Universidade de Brasília, especialista em Violência Doméstica,
pela USP e mestre em educação. Foi professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal por 17 anos e
Assessora Nacional do Programa de Defesa e Promoção dos Direitos da Infância, Adolescência e Juventude
da Cáritas Brasileira por 5 anos. Desde setembro de 2008 é Assessora Pedagógica do Instituto de Estudos
Socioeconômicos – INESC (www.inesc.org.br).
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto escrito.
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Disponível no site do INESC - http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/outraspublicacoes/PROTAGONISMO%20JUVENIL.pdf/at_download/file
mais, desafiamos as crianças a darem respostas mais complexas, pensando sobre os
direitos e como eles se realizariam na cidade. Foram incluídos, então, nos desenhos, o
Conselho Tutelar, a Defensoria Pública, o Ministério Público, entendendo que este conjunto
de instituições auxiliaria na garantia dos direitos das crianças daquela cidade. Foi uma
experiência bastante demorada, mas divertidíssima, e muito gostosa de fazer com as
crianças.
A outra experiência que quero relatar se refere ao ensino médio. Depois dos alunos
terem estudado a proteção integral, os direitos e o Estatuto de um modo geral, propusemos
que um direito específico fosse problematizado, para que eles conhecessem mais a fundo
os mecanismos que estavam colocados na lei. Foi escolhido, coletivamente, o direito à
educação, porque eles estavam na escola, e este era um apelo muito forte naquele
momento. A primeira atividade foi o levantamento da concepção que estes adolescentes,
meninos e meninas, tinham sobre o que caracterizaria uma educação de qualidade. Isso
representava uma coisa diferente da escuta da secretaria de educação, por exemplo. Os
próprios alunos colocaram o que entendiam por um projeto político-pedagógico
transformador da sociedade, com gestão democrática dentro da escola.
Depois disto o grupo resolveu fazer uma pesquisa na escola, partindo da questão: A
escola real combina com a escola ideal? A problematização desta questão foi feita como o
uso de vídeos, fotografias e entrevistas. A escola inteira foi fotografada e cada profissional
foi entrevistado, para eles construírem uma conclusão. Também passaram, para saberem
como organizar os dados, por aulas sobre pesquisa. Isso foi muito interessante porque esta
aula de pesquisa, apesar de ser voltada para um projeto específico, deu suporte para toda
a experiência pedagógica, ou seja, para outros momentos e atividades e não somente para
esta pesquisa. Também fizemos uma oficina de comunicação e o projeto foi concluído com
um vídeo.
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No mesmo ano, os alunos deste projeto participaram de aulas sobre orçamento
público, mostrando como é fundamental que se saiba a relação entre orçamento e direito,
porque para o direito ser de fato prioridade, como consta no Estatuto, é essencial que esta
prioridade seja traduzida como orçamento, ou seja, que o governo destine recursos para
efetivar a escola de qualidade que se espera. Após estudar o orçamento e conhecer a
escola, os alunos participaram de uma audiência pública e, nela, questionaram a
diminuição de valores que estariam destinados à melhoria da educação. Por fim,
concluindo o processo, eles apresentaram uma proposta de emenda orçamentária que foi
aprovada, no valor de dois milhões de reais. É interessante dizer que no grupo de
adolescentes que participaram nós tínhamos deficientes e filhos e filhas de catadores de
materiais recicláveis, por exemplo, que conseguiram desenvolver argumentações
importantíssimas, conquistando a efetivação de um direito que beneficiou não só a escola
deles, mas as crianças e adolescentes de todo o Distrito Federal.
É muito interessante mostrar que isso não é complicado, não é uma coisa difícil de
fazer, pelo contrário, são momentos de extrema alegria. E eu quero destacar aqui a alegria
do ponto de vista de Espinosa, que diz que: A alegria é o aumento da minha força interna e
o aumento da capacidade de agir. E a tristeza é a diminuição da força interna, a diminuição
da capacidade de agir. É possível conseguir esta realização não somente no plano
pedagógico, mas no plano das realizações humanas. Eu gosto muito de falar isso, de dar
destaque a isso, porque não é difícil, pelo contrário, quando nós estamos imbuídos deste
sentimento de alegria, a experiência flui.
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É preciso, porém, que estejamos bastante atentos sobre qual a melhor linguagem
para trabalhar em cada momento, e qual o melhor recurso pedagógico, mas sempre
considerando que o movimento é bom e desejável na escola. O movimento de corpos, de
ideias, o movimento humano de maneira geral. É interessante que as pessoas saírem dos
seus lugares, porque isso também significa sair simbolicamente dos seus lugares atuais,
construindo um novo lugar, ou seja, uma sociedade onde todas as pessoas, adultos e
crianças, adolescentes e jovens, homens e mulheres, brancos, negros, deficientes e não
deficientes, homossexuais, lésbicas, enfim, que todas as pessoas tenham dignidade.
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