RECEPTIVIDADE À INOVAÇÃO PEDAGÓGICA: O PROFESSOR E O
CONTEXTO ESCOLAR
DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, NA ESPECIALIDADE DE
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Ana Paula Pereira de Oliveira Cardoso
Provas concluídas em 27 de Abril de 2001
RESUMO
A dissertação de doutoramento apresentada tem como principal objectivo apreciar a
receptividade dos professores à inovação pedagógica, entendida como as atitudes, mais
ou menos favoráveis, que estes assumem face à inovação nos seus papéis, tal como são
definidos de acordo com a perspectiva da educação permanente (Simões, 1979), bem
como a influência de determinadas variáveis pessoais (características de personalidade e
formação profissional) e do contexto escolar nessa maior ou menor predisposição para
inovar.
A questão geral a que pretendemos dar resposta pode ser enunciada, da seguinte forma:
- Que variáveis estarão relacionadas com as atitudes dos professores face à inovação
pedagógica, nomeadamente no que concerne aos novos papéis, definidos segundo a
perspectiva da educação permanente?
A investigação empírica de natureza quantitativa levada a efeito, no estudo definitivo,
envolveu 377 professores do concelho de Viseu. A amostra é um grupo com um campo
de variação entre os 25 e 45 anos de idade, com um número maior de elementos do sexo
feminino, estando representados todos os níveis de ensino, desde o 2º ciclo do ensino
básico ao ensino secundário. A maioria dos sujeitos é licenciada e possui entre 7 e 25
anos de experiência docente. Os inquiridos responderam a um conjunto de instrumentos
psicológicos, relativos a aspectos da personalidade dos participantes e do seu contexto
de trabalho, bem como a uma escala de atitudes (AFIP) elaborada para o efeito. Foram
realizadas, entre outras, análises estatísticas bivariadas e multivariadas, que incluem a
regressão múltipla hierárquica e a path analysis.
Os nossos resultados revelam uma significativa influência sobre as atitudes dos
professores de três importantes grupos de variáveis: de personalidade, do contexto
escolar e de formação, com especial destaque para os dois primeiros.
As características de personalidade do professor são aquelas que têm uma influência
maior nas atitudes dos professores face à inovação pedagógica, destacando-se, por
ordem decrescente de associação com a variável dependente, a abertura à experiência, a
inovação, a tolerância à ambiguidade, a motivação intrínseca e a aceitação do risco. A
influência combinada destas cinco variáveis nas atitudes dos professores, aferida,
através da regressão múltipla hierárquica, traduziu-se em resultados satisfatórios, em
termos de explicação da percentagem da variância da receptividade à inovação. Este
resultado vem corroborar a primeira hipótese geral formulada de que as características
de personalidade dos professores têm uma influência significativa na receptividade
destes aos novos papéis face a uma educação permanente.
As variáveis do contexto escolar, encaradas em termos da percepção que o professor
tem de determinadas dimensões do mesmo (estabilidade/mudança do sistema,
relacionamento professor/aluno, desenvolvimento profissional e pessoal do professor e
autonomia profissional), revelaram-se, também, influentes nas atitudes do professor face
à inovação pedagógica, destacando-se, neste grupo, a percepção do relacionamento
professor/aluno. Este resultado vem ao encontro da segunda hipótese geral, segundo a
qual a percepção que os professores têm do contexto escolar em que actuam terá uma
influência significativa nas suas atitudes face aos novos papéis.
As variáveis de formação têm uma influência relativamente modesta na receptividade
dos professores à inovação pedagógica, exceptuando-se a formação continuada, que
revela um coeficiente de correlação significativo, mais elevado, com as atitudes dos
professores.
As implicações deste estudo são de diversa ordem. Entre outras, salientam-se: a
necessidade de identificar os professores potencialmente mais inovadores e estimular a
sua actuação, dando-lhes condições favoráveis ao seu exercício profissional; o fomentar
de programas de desenvolvimento pessoal dos docentes no sentido de promover uma
maior abertura à mudança; o reforço de determinadas dimensões psicossociais do
contexto escolar mais propícias à iniciativa e à comunicação entre os diversos
intervenientes no processo educativo, sobretudo entre professores e entre professor e
alunos; o delinear de uma formação continuada de professores, que seja, explicitamente,
orientada para a promoção da mudança individual e institucional, que incentive não só o
desenvolvimento profissional mas também pessoal do docente.
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