A neurose obsessiva e a imagem Paterna. Este trabalho vem do interesse em tentar traduzir os aspectos conflitivos vividos na neurose obsessiva. As manifestações afetivas carregadas de conteúdos aflitivos nos levam a questionar da onde viria a idéia de culpa tão forte? A princípio estas idéias proibitivas de condenação, ameaça e punição parece que são imotivadas, porém a sua violação acarretaria desgraça, mas não se sabe porquê, para tentar entender esse impasse, que paralisa, que chega a ser supersticioso se repetem atos incompreensíveis. Em um paciente esse conflito emergiu na forma de diversos sintomas, como ato repetitivo de lavar as mãos, medo de cair os cabelos e de estar contaminado com o vírus da Aids. Freud revelou, em sua teoria sobre as neuroses, uma característica fundamental na neurose obsessiva: o seu vínculo estrutural com o sentimento de culpa. Através das referências nas representações e nos afetos atuais, das experiências precoces geradoras de prazer, o sujeito se vê invadido por recriminações, com as quais Freud chega a identificar-se com a idéia obsedante em si mesma, isto é recriminação, que o obsessivo faz a si mesmo, ao reviver o gozo sexual que antecipava a experiência ativa de outrora. Junto com o paciente defrontamo-nos com momentos aonde há encenações vividas por meio de atos repetitivos, nos quais esconderiam os seus medos e encenações de prazer-desprazer, separação e reencontro, a princípio os fatos aparecem isolados, mas durante o processo terapêutico emergem os medos referentes ‘a situações de perda e principalmente os conteúdos que falam da vida e a possibilidade da morte. Para procurar desvendar esses conflitos de sua existência emergem o desejo de morte de uma pessoa querida, eclodindo todo o conflito de sua existência. A neurose obsessiva e a Imagem Paterna Paula Salvia Trindade Prof. Alcimar Lima Nov - 2001 Este trabalho vem do interesse em tentar traduzir os aspectos conflitivos vividos na neurose obsessiva. As manifestações afetivas carregadas de conteúdos aflitivos nos levam a questionar da onde viria a idéia de culpa tão forte? A princípio estas idéias proibitivas de condenação, ameaça e punição parece que são imotivadas, porém a sua violação acarretaria desgraça, mas não se sabe porquê, para tentar entender esse impasse, que paralisa, que chega a ser supersticioso se repetem atos incompreensíveis. Em um paciente esse conflito emergiu na forma de diversos sintomas, como ato repetitivo de lavar as mãos, medo de cair os cabelos e de estar contaminado com o vírus da Aids. Freud revelou, em sua teoria sobre as neuroses, uma característica fundamental na neurose obsessiva: o seu vínculo estrutural com o sentimento de culpa. Através das referências nas representações e nos afetos atuais, das experiências precoces geradoras de prazer, o sujeito se vê invadido por recriminações, com as quais Freud chega a identificar-se com a idéia obsedante em si mesma, isto é recriminação, que o obsessivo faz a si mesmo, ao reviver o gozo sexual que antecipava a experiência ativa de outrora. Junto com o paciente defrontamo-nos com momentos aonde há encenações vividas por meio de atos repetitivos, nos quais esconderiam os seus medos e encenações de prazer-desprazer, separação e reencontro, a princípio os fatos aparecem isolados, mas durante o processo terapêutico emergem os medos referentes ‘a situações de perda e principalmente os conteúdos que falam da vida e a possibilidade da morte. Para procurar desvendar esses conflitos de sua existência emergem o desejo de morte de uma pessoa querida, eclodindo todo o conflito de sua existência. O Sentimento de Culpa na neurose obsessiva. Freud percorreu pela neurose obsessiva percebendo a ocorrência das lutas defensivas. O caráter obsessivo das formas transcritas por ele não tem haver somente com forças ou intensidade de representação, mas a sua essência é antes a indissolubilidade pela atividade psíquica passível de ser consciente e isso derivaria pelas lembranças recalcadas na sua tenra idade. A obsessão é para o paciente uma tábua de salvação, pois constitui um obstáculo aos seus impulsos, o neurótico se agarra a ela, sente que a obsessão o protege contra as tendências inconscientes. "No Mal Estar da Civilização" Freud comenta que na neurose obsessiva há tipos de pacientes que não se dão conta de seu sentimento de culpa, ou apenas o sentem como um mal estar atormentador, uma espécie de ansiedade, se impedidos de praticar certas ações. Ele nos mostra que o sentimento de culpa nada mais é do que, uma variedade topográfica da ansiedade, em suas faces posteriores coincide completamente com o medo do super ego, isto é, a severidade da consciência, a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado, desta maneira, a avaliação da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do super ego. Freud nos fala de um sentimento de culpa existente antes de um super ego e, portanto, antes da consciência. Ele nos chama a atenção sobre esse impulso agressivo, que é derivado direto do conflito entre a necessidade do amor e da autoridade e o impulso no sentido de uma satisfação instintiva, cuja inibição produz a inclinação para a agressão. A superposição desses dois extratos de sentimento de culpa – um oriundo do medo da autoridade externa, o outro, do medo da autoridade interna. Assim Freud, vai apontar a dificuldade de compreendermos a posição da consciência de diversas maneiras. O remorso seria, uma reação do ego num caso de sentimento de culpa, que estaria sob uma forma de consciente, ao passo, que o sentimento de culpa originado de um impulso mal pode se tornar inconsciente. Em alguns casos clínicos de Freud ele fala desse sentimento de culpa inconsciente relacionado ‘a imagem paterna, ‘a medida que há um desmembramento dessas manifestações recalcadas há a possibilidade do terapeuta estar mais próximo dos conteúdos representacionais e ter uma visão mais clara do processo que obrigou o paciente a entrar no quadro das neuroses. Nesse sentido, que percebo a importância de relatar um caso de neurose obsessiva, aonde me defronto com a resistência do paciente em suportar os momentos que o evocam a lembranças que associam a idéia de perdas. O fato que me chama atenção é a convicção da onipotência das idéias tanto de um amor intenso e pleno como um ódio, capaz de destruir. No caso que descrevo tento mostrar que a idéia da morte, ou da perda inicialmente não foi suficientemente simbolizada ,em contrapartida há nesse caso um exagero dos efeitos de seu sentimento hostil sobre o mundo exterior, é porque grande parte do efeito psíquico interno do mesmo escapa ao seu conhecimento consciente. Seu amor ou antes o seu ódio- é realmente poderoso, pois cria precisamente aquelas idéias obsessivas cuja procedência o indivíduo não compreende e contra as quais se defende em vão. O caso R É um caso clínico de neurose obsessiva, aonde me defronto com a resistência do paciente em suportar os momentos que remetam as idéias de perda. Nesse caso as compulsões foram se deslocando ‘a medida em que emergiam os conteúdos recalcados. O paciente procurou-me quando estava com 17 anos, com sintoma de neurose obsessiva, lavava a mão compulsivamente, e me falava que acreditava estar com Aids. Porém, o que ele me relatava nas sessões não havia risco nenhum dele estar com Aids; nunca havia tido relação sexual, não fumava, nunca usou drogas, ou qualquer outro risco que pudesse sair de sua vida metódica. Ele revelava um medo enorme de morrer e de perder qualquer pessoa da sua família. O paciente R. associa a sua infância a momentos de intenso prazer como também de muita dor, "conta que era o menino do pai,"era assim que o pai o chamava quando entrava em casa, lembra do pai colocando-o nas costas e o levando passear na rua. Resgata os momentos da última viagem que fez com a sua família para Londres e me mostra pela fotografia de sua semelhança com o seu pai. Um dia, o seu pai faz uma viagem de negócios, R. recebe a notícia de que o seu pai estava se sentindo mal e mais tarde recebeu a notícia que o seu pai havia morrido, ele teve um derrame. R. tinha 8 anos e teve a sensação que o seu mundo caiu. Essa perda trouxe uma mudança radical em sua família. Ele e o seu irmão se sentiam muito sozinho. A sua mãe não saia da cama e a sua irmã a leva para um tratamento, dizendo aos menores que possivelmente ela não voltaria mais. Quando essa cena é descrita por R os seus olhos enchem de lagrimas e o sentimento de raiva toma conta do seu semblante, retorce os pulsos e fala do ódio que tem de todos aqueles que o abandonaram. R associa imagens de coisas sujas, desorganizadas, roupas espalhadas, pratos empilhados, lugares antes ocupados e agora vazios. A maior parte do tempo ele ia para ‘a casa do seu amigo, onde cantava musicas em inglês e relembrava o último momento que havia feito uma viagem a Inglaterra acompanhados dos pais. Nessa fase mais difícil da sua vida, ele sonha repetidas vezes que pega uma bicicleta e tenta subir uma montanha muito alta e cheia de buracos e armadilhas. Sabia que no momento mais difícil ele ia conseguir chegar perto do seu pai ás vezes, dizia R: "aparecia no sonho eu pedalando e o meu pai sentado atrás e ele me dizia palavras, como: " você vai conseguir", ou ‘as vezes eu tinha a impressão de um olho, que me observava no alto da montanha, mas quando eu estava prestes a chegar acordava com o coração disparado". Os sonhos foram repetitivos durante meses. Esses sonhos desaparecem quando sua mãe voltou depois de 6 meses. Houve uma alegria imensa, mas sentia que essa euforia era escondida por um medo intenso. Ele me fala de um medo muito grande que era da sua morte. A alegria foi muito grande, mas ‘as noites, dizia ele : " ia para o seu quarto verificar se realmente ela respirava". Assim foi passando a infância, nas idas e vindas do seu quarto para o quarto da sua mãe. As lembranças mais marcantes de R. foram referentes ao seu cabelo, e na adolescência um medo inexplicável de acreditar que estava com aids. R. lembrava do comentário da mãe sobre o seu cabelo e a semelhança deste com trigos de milho e o formato de tigelinha, que era a maneira que a mãe de R gostava de corta-los. "O meu irmão, dizia R. não tem esse problema de medos de cabelo, ou de Aids. Uma coisa eu sei,"ele parece que sabia que a mamãe se preocupava mais comigo, não sei, acho por que eu sou o caçula". Inicialmente com 17 anos apareceu a compulsão de lavar as mãos e que só diminuiu sensivelmente quando ele foi revelando o seu desejo por uma tia que veio morar com eles. Essa tia, dizia R "era uma mulher muito sensual. Uma vez ao entrar no banheiro encontrei a sua calcinha no Box e me masturbei sob a calcinha, um tempo depois descobri que a minha tia estava com aids e meses depois ela falece". Quando ele associa a calcinha com a sua crença de ter contraído aids pelo fato de ter se masturbado, dá um suspiro aliviado, a compulsão de lavar as mãos desaparecem. Mas, com 21 anos, houve um deslocamento da compulsão de lavar as mãos pelo medo inexplicável de perder os cabelos. Chegava a passar horas olhando no espelho e inconformado com a queda dos seus cabelos, conta-me da pesquisa exaustiva que ele fez na internet sobre queda capilar e do vários médicos que ele procurou e dos inúmeros tonificadores aplicados no couro cabeludo, ou dos produtos importados que ele já havia adquirido. A associação do cabelo o fez resgatar as lembranças da sua infância quando saia correndo na rua para o braço da sua mãe, balançando o seu cabelo " amarelinho". Durante a sessão R. vai percebendo que as mudanças do seu cabelo estão relacionadas á imagem que o mantinha preso a infância e a fala da mãe sobre o seu cabelo "amarelinho como trigo de milho"o tornar consciente os cuidados que a sua mãe tinha com o seu cabelo, ele vai percebendo na sua própria fala de que o ele não queria perder era o laço que o mantinha preso com a sua mãe. Aponto a ele que assim como houve uma mudança nas cores do seu cabelo, como na quantidade houve uma mudança corpórea , abrindo um espaço para que ele nessa compulsão de perceber o seu cabelo diferente possa perceber também uma mudança corporal e se dê conta aos poucos de um novo acontecimento, que possibilite romper com o passado e instaurar um controle de uma descoberta singular. O medo de ter Aids foi representado pelo desejo inconsciente que ele mantinha com a sua tia e o cabelo foi representado pela ligação afetiva que ele mantinha com a mãe. Apareceu em alguns momentos a idéia da onipotência do pensamento, acreditando que poderia estar com aids no simples fato de tocar a calcinha da tia que estava no chuveiro. Ao desmontar o conteúdo recalcado o tirava da condição de prisioneiro de uma ilusão e conseqüentemente abalava a sua crença de querer manter os cabelos "amarelinhos,os mesmos que aqueles das lembranças infantis, nesse sentido, percebo que as suas compulsões eram a forma de encontrar os conflitos que estavam latentes. O encontro da figura paterna, representada pelo sonho, seria a possibilidade dele estar sujeito a uma lei que o confortasse na possibilidade de saber que mesmo distante havia um olhar, aonde o ir e o vir pudessem permitir um controle perante uma situação desagradável face ‘a separação. Freud ao ver o seu neto brincar com o carretel e repetir incessantemente o "for" ( partiu) "da" ( aqui), deduziu a existência de uma compulsão ‘a repetição, que deu lugar a pulsão de morte. Mas, ao mesmo tempo a encenação prazer-desprazer, separação e reencontro com o carretel, suposto representante da mãe, permitiu a criança um ato de liberdade perante uma situação desagradável. Possibilitou o controle da separação, dando ao sujeito a chance de se haver com suas pulsões internas. E com paciência que vou aguardar R. fazer toda a sua travessia no terreno dos fantasmas referentes ‘a idéia da perda," para que algum momento ele acredite na possibilidade de um prazer que ele possa começar a assumir na sua vida, talvez um lugar do impasse, da incerteza, mas como uma criação sua. Rompendo dessa forma, com o passado e instaurando um controle de uma descoberta singular. Aa idéias obsessivas são as lutas de combate grandiosos que são confrontados com a castração. É dessa forma, que o autor J. Dor em seu livro "o pai e a sua função em psicanálise" nos mostra como o obsessivo apresenta-se como um nostálgico do ser, que comemora, incansavelmente, os vestígios de um modo particular de relação que a mãe manteve com ele. Ele aparece, numa crença psíquica que lhe confere um lugar de objeto junto a qual a mãe seria suscetível de encontrar aquilo que é suposto esperar do pai. Apenas a significação desta "independência" mobiliza a criança na dimensão do ser. Porém toda a ambigüidade do discurso materno pode favorecer a instalação imaginária da criança num dispositivo de suplência ‘a satisfação do desejo da mãe. Este encargo prematuro é para J. Dor, o caráter particular do desejo do obsessivo que carrega sempre o selo exigente e imperativo da necessidade que o inscreve numa passividade masoquista, impondo-lhe ter que fazer com que o outro adivinhe e articule que ele mesmo não consegue demandar. De modo geral esta enfermidade se traduz pela servidão voluntária do obsessivo, que o obriga a dever assumir todas as conseqüências de sua atitude passiva. Neste sentido, segundo J. Dor, o obsessivo ocupa de bom grado. O lugar de objeto, que o remete ao estatuto fálico infantil, no qual se encontrou precocemente encerrado como filho privilegiado pela mãe. A culpa vai se tornar a expressão mais direta desse privilégio quase incestuoso da criança quanto ‘a castração. Fixado eroticamente na mãe, o obsessivo permanece continuamente cativo do temor da castração, o qual ele vai negociar sintomaticamente no terreno da perda. Assim, como o obsessivo apresenta uma tendência a constituir como tudo para o outro, assim despoticamente, tudo ele quer controlar e dominar para que o outro não lhe escape de forma alguma. Dessa forma, é que J. Dor nos adverte sobre a importância da perda inerente á castração, o qual induz o obsessivo no que diz respeito ao pai, e, mais além, perante a qualquer figura que remeta, a autoridade paterna. J. Dor conclui, nos mostrando como o obsessivo sofre deste despedaçamento épico entre a lei do pai, ‘a qual é preciso tudo sacrificar, e esta mesma lei que se deve, além disso, derrotar e dominar por sua própria conta. Essa luta impertubável se desloca sobre múltiplos objetos de investimento contribuindo para definir esse perfil específico da personalidade obsessiva que Freud definia sob a designação de "caráter anal". Bibliografia: Freud, Sigmund Observações clínicas: O Homem dos Ratos, tomo II, Editora Delta, S.ª São Paulo 1947, vol XVI Freud, Sigmund, O Mal Estar na Civilização, Imago, Rio de Janeiro, 1997. Freud, Sigmund Mas Além do Princípio do Prazer, BibliotecaNueva. Obras Completas, vol III ( 1916-1945) Bastide, Roger Sociologia e Psicanálise, Instituto Progresso Editorial, S.A, São Paulo, 1948 Laplanche, Jean A Angústia, trad Álvaro Cabral, São Paulo, Martins Fontes, 1998 Mezan, Renato Freud a Trama dos Conceitos, edit Perspectiva, 1991 Nasio, Juan David O prazer de ler Freud, trad Lucy Magalhães, Rio de Janeiro, zahar, 1999 Dor, Joel O pai e a sua função em psicanálise, trad Dulce Duque Estrada, Rio de Janeiro, Zahar, 1991 Pulsional: revista de psicanálise, vol 1, n 1 ( out 1987) São Paulo, edit Escuta, 1987