A sua revista eletrônica ______________________________________________________________
ALGUMAS QUESTÕES RELATIVAS À NEUROSE OBSESSIVA
Adriana de Araújo Gomes1
Cássio Eduardo Soares Miranda2
Maria Cristina Lima de Souza3
Poliana Teixeira Pedrosa4
Renata Maila de Oliveira Finotti5
RESUMO
Este artigo refere-se à neurose obsessiva, o qual apresenta uma conceituação da mesma a
partir da psicopatologia referenciada no DSM-IV, como também na abordagem psicanalítica,
remetendo-se a conceituação freudiana e lacaniana e perpassando por questões da
constituição do sujeito através da castração, do desejo e da morte, na formação e definição
de uma estrutura clínica neurótica obsessiva.
PALAVRAS-CHAVES: Neurose obsessiva, castração, desejo e morte.
ABSTRACT
This article refer to an obsessive neurosis, that shows a conception of it, considering the
psychological diseases representing in DSM-IV, as to in an approach of psychoanalysis,
sending to a conception of Freud and Lacan and pass by questions about the subject
construction through the castration, the desire and the death, in formation and definition of a
clinic structure obsessive neurotic.
Key words: Obsessive neurosis, castration, death and desire
Rápido percurso sobre a constituição do sujeito
1
Graduanda em Psicologia pelo Unileste- MG
Psicanalista, doutorando em Letras pela UFMG
3
Graduanda em Psicologia pelo Unileste-MG
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Graduanda em Psicologia pelo Unileste-MG
5
Graduanda em Psicologia pelo Unileste-MG
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O filhote de Homem é marcado, desde o seu nascimento, por uma condição de desamparo.
Por sua condição inacabada, encontra-se em posição de dependência de outro humano e
não possui qualquer condição de sobrevivência própria. Em sua relação com o Outro para o
suprimento de suas necessidades, aquilo que é da ordem puramente biológica passará a se
configurar como algo diferente, marcado pela linguagem. Assim, o que inicialmente
apresenta-se sem sentido, com a entrada do outro primordial torna-se possível a nomeação
da excitação e do grito sem significado. Tal ação específica, segundo Freud (colocar aqui a
data do texto da experiência de satisfação), permite colocar o sujeito no campo do
simbólico, que é a “fonte da comunicação e de todos os motivos morais”. Todo este
processo se estabelece na experiência de satisfação, que é a retirada do sujeito da posição
de nada, a partir do atendimento de sua necessidade pelo outro primordial. Desse modo, a
experiência de satisfação é um tempo fundamental na constituição do sujeito, pois o bebê
humano é tomado como objeto de desejo por uma mãe faltosa e desejante.
Ser tomado como falo pela mãe possui uma dupla lógica, sustentada por um luxo perigoso:
ao mesmo tempo em que é fundamental para a constituição do sujeito, permanecer alienado
a essa posição é situar-se no lugar do Nada.
Com Lacan, podemos dizer que Espelho e Édipo são coincidentes, uma vez que o terceiro
tempo do Estádio do Espelho é coincidente com o primeiro tempo do Édipo. Ao sair da fase
identificatória do Estádio do Espelho, a criança coloca-se na posição de satisfazer o desejo
da mãe, na condição de falo e encontra-se, aí, assujeitada ao desejo da mãe.
Este momento, portanto, é a entrada do Édipo. Que corresponde primeiramente no
momento em que a criança tomada é como objeto do desejo da mãe, ou seja, é o falo da
mãe. Existe por parte da criança um investimento objetal pela mãe, a criança quer ser o
desejo do desejo da mãe. Como diz Lacan, no primeiro tempo e na primeira etapa, portanto,
trata-se disto: “o sujeito se identifica especularmente com aquilo que é objeto do desejo da
mãe. Essa é a etapa fálica primitiva, aquela em que a metáfora paterna age por si, uma vez
que a primazia do falo já está instaurada no mundo pela existência do símbolo do discurso e
da lei. Para agradar a mãe é necessário ser o falo”.
Porém, é preciso que a criança saia desta posição de falo da mãe, pois a mesma pode ser
“engolida” pela mãe, e para isto torna-se necessário a entrada do pai nessa relação, para
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que o mesmo promova a castração, que possibilitará a constituição do sujeito. Assim, o
sujeito deixará de investir objetalmente na mãe passará a ter uma identificação com o pai. O
que remete a metáfora paterna, que corresponde em inscrever o Nome-do-Pai, que é a lei
que entra como proibição de ter acesso ao objeto do desejo. Como argumenta Lacan, “no
segundo tempo, no plano imaginário, o pai intervém efetivamente como privador da mãe, o
que significa que a demanda endereçada ao Outro, caso transmita como convém, será
encaminhada a um tribunal superior. Com efeito, aquilo sobre o qual o sujeito interroga o
Outro, na medida em que ele o percorre por inteiro, sempre encontra dentro dele, sob certos
aspectos, o Outro do Outro, ou sua própria lei. É nesse nível que se produz o que faz com
que aquilo que retorna à criança seja, pura e simplesmente, a lei do pai, tal como
imaginariamente concebida pelo sujeito como privadora da mãe”.
No terceiro tempo do Édipo, é fundamental que o pai não seja apenas o castrador, mas é
necessário que ele aponte possibilidades. Ele deve se apresentar para a mãe como aquele
que pode dar o que ela deseja. E ao filho deve se mostrar potente, para que o mesmo possa
se identificar com o pai, pois ele é quem tem o falo. Lacan ressalta que, “o pai pode dar a
mãe o que ela deseja, e pode dar porque possui. Aqui intervém, portanto, a existência da
potência no sentido genital da palavra – diga-se que o pai é um pai potente. Por causa
disso, a relação da mãe com o pai torna a passar para o plano real”. Diante ainda dos
dizeres de Lacan, “o pai se revela como aquele que tem. É a saída do complexo de Édipo.
Essa saída é favorável na medida em que a identificação com o pai é feita nesse terceiro
tempo, no qual ele intervém como aquele que tem o falo. Essa identificação chama-se Ideal
do eu”.
Em síntese, pode-se pensar que ao final do Édipo o que se tem de um sujeito é a sua
estrutura – neurose, psicose ou perversão – e em cada estrutura, tem-se um tipo clínico –
aqui, interessa-nos a neurose obsessiva. No entanto, é oportuno destacar que em uma
psicanálise de orientação lacaniana, o que sustenta um tratamento e faz um sujeito é a
particularidade de cada caso.
DSM-IV e Neurose obsessiva: aquilo que não existe
Segundo o DSM-IV, considera-se o Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva
(F60. 5 - 301.4) um padrão invasivo de preocupação com organização, perfeccionismo e
controle mental e interpessoal, às custas da flexibilidade, abertura e eficiência, que começa
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no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo
menos quatro dos seguintes critérios:
“(1) preocupação tão extensa, com detalhes, regras, listas, ordem,
organização ou horários, que o ponto principal da atividade é perdido;
(2) perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (por ex., é
incapaz de completar um projeto porque não consegue atingir seus
próprios padrões demasiadamente rígidos);
(3) devotamento excessivo ao trabalho e à produtividade, em detrimento
de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia
necessidade econômica);
(4) excessiva conscienciosidade, escrúpulos e inflexibilidade em
assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicados por
identificação cultural ou religiosa);
(5) incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo
quando não têm valor sentimental;
(6) relutância em delegar tarefas ou ao trabalho em conjunto com outras
pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as
coisas;
(7) adoção de um estilo miserável quanto a gastos pessoais e com outras
pessoas; o dinheiro é visto como algo que deve ser reservado para
catástrofes futuras;
(8) rigidez e teimosia.”
Com esta lista, o DSM-IV encerra sua discussão sobre aquilo que poderia ser a neurose
obsessiva. A título de esclarecimento, O Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação
Psiquiátrica Norte-Americana (DSM) constitui o resultado melhor acabado das propostas
empírico-operacionais da chamada Escola de Saint-Louis, liderada por Feighner, Robins e
Guze na década de 70. A criação de um sistema operacional de diagnóstico para pesquisa
como o RDC (Research Diagnostic Criteria) e, posteriormente, do DSM-III derivam
diretamente das proposições elaboradas por aquele grupo de pesquisadores, que tinha
como finalidade o fim da “Babel diagnóstica” que aparecia nas disciplinas implicadas na
psicopatologia. De fato, os vários manuais e índices diagnósticos chegavam a utilizar a
mesma designação para objetos teóricos diversos. A finalidade, então, dessa escola era
criar um sistema objetivo e pragmático para a classificação do sofrimento mental.
Com base em um pragmatismo tipicamente estadunidense, o DSM lança mão do termo
Transtorno para classificar o sofrimento mental e, desse modo, estabelece um ponto ideal,
uma vez que Transtorno (disorder, em inglês) aponta para algo que algo está em desacordo
com uma "ordem" operacionalmente definida. Tal sistema ideal de classificação busca
oferecer critérios explícitos, operacionalmente definidos, verificáveis e passíveis de
contabilização estatística.
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Uma questão que se levanta é que o DSM, ao lado da CID-10 exclui a subjetividade e toma
o sintoma pela estrutura, ou seja, aquilo que responde à uma classe, esmaga o sujeito e o
exclui de cena, uma vez que a particularidade do sujeito não tem a ver com a classificação,
mas com aquilo que escapa a ela.
Conceitualização Psicanalítica da Neurose Obsessiva
De acordo com o dicionário enciclopédico de psicanálise, a neurose obsessiva é uma das
psiconeuroses de defesa, devido ao fato de resultarem de uma ação “traumática” de
experiências sexuais vividas na infância e de constituírem um esforço de defesa contra
qualquer representação e qualquer afeto que provenham dessas experiências e tendem
perpetuar o que elas tinham de incompatível com o eu. O trabalho defensivo da neurose
obsessiva consiste, portanto, em transformar a representação forte da experiência infantil
penosa numa representação enfraquecida e em orientar para outros usos a soma de
excitação, por esse estratagema, foi desligada de sua fonte verdadeira.
Freud (1996), em seu texto sobre as neuroses de, apresenta sua preocupação com o
problema das neuroses e a partir de seus estudos sobre o tipo clínico Neurose Obsessiva,
pode afirmar que o paciente que analisou gozava de boa saúde mental até o momento em
que houve uma ocorrência de incompatibilidade em sua vida representativa – isto é, até que
seu eu se confrontou com uma experiência, uma representação ou um sentimento que
suscitaram um afeto tão aflitivo que o sujeito decidiu esquecê-lo, pois não confiava em sua
capacidade de resolver a contradição entre a representação incompatível e seu eu por meio
da atividade de pensamento.
Assim, a tarefa que o eu se impõe, em sua atitude defensiva, de tratar a representação
incompatível como non-arrivé, simplesmente não pode ser realizada por ele. Tanto o traço
mnêmico como o afeto ligado à representação lá estão de uma vez por todas e não podem
ser erradicados. Mas uma realização aproximada da tarefa se dá quando o eu transforma
essa representação poderosa numa representação fraca, retirando-lhe o afeto – a soma de
excitação – do qual está carregada. A representação fraca não tem então praticamente
nenhuma exigência a fazer ao trabalho da associação.
Mas a soma de excitação desvinculada dela tem que ser utilizada de alguma outra forma.
Até este ponto, os processos observados na histeria, nas fobias e nas obsessões são os
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mesmos; daí por diante, seus caminhos divergem. Quando alguém com predisposição à
neurose carecem da aptidão para a conversão, mas, ainda assim, parece rechaçar uma
representação incompatível, dispõe-se a separá-la de seu afeto, esse afeto fica obrigado a
permanecer na esfera psíquica. A representação, agora enfraquecida, persiste ainda na
consciência, separada de qualquer associação. “A seu afeto, tornado livre liga-se a outras
representações que não são incompatíveis em si mesmas, graças a essa ‘falsa ligação’, tais
representações se transformam em representações obsessivas” (FREUD, 1996; p. 51).
Pode-se dizer que, todo ‘Eu’ constrói uma fantasia. Sendo assim, o que caracteriza a
neurose é que o Eu está submetido às exigências da realidade e imposições do supereu.
O obsessivo tem falsas conexões, considerada precária. E como conseqüência, tem a
tentativa de retirar do pensamento aquela representação incompatível, através de outros
pensamentos, o qual cria estratégias como diversos pensamentos, rituais, etc., para lidar
com sua incompatibilidade.
O Desejo na Neurose Obsessiva
Para o obsessivo, a questão do desejo é central. Esse desejo, como diz Lacan, “é o desejo
do outro, porque seu desejo é evanescente. A razão disso deve ser buscada numa
dificuldade fundamental de sua relação com o outro, na medida em que este é o lugar onde o
significante ordena o desejo. Assim, o sujeito procura se exprimir, manifestar num efeito de
significante como tal aquilo que acontece em sua própria abordagem do significado”.
Dessa forma, o desejo que é revelado pelo inconsciente é sempre incestuoso. No entanto, o
sujeito vive a anulação de seu desejo. Ele tenta evitar o desejo, tamponando a sua falta, o
qual, não dá conta dessa inconsistência. Diante disto, Rinaldi coloca que, “o obsessivo está
orientado para o desejo, mas o que é característico de sua sintomatologia, é que, ao
apreender o desejo no Outro, o que causa angústia, ele recorre, como defesa, à demanda
do Outro. O recobrimento do desejo pela demanda revela a profunda dificuldade do sujeito
obsessivo para passar ao lugar do desejo e sustentá-lo por sua conta e risco, sendo assim,
ele está sempre na dependência que o Outro o autorize ou lhe peça isso”.
Lacan ressalta que “o desejo sempre ultrapassa qualquer espécie de resposta que esteja no
nível da satisfação, pede, em si mesmo, uma resposta absoluta, e, portanto projeta seu
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caráter essencial de condição absoluta em tudo o que se organiza no intervalo interno entre
os dois planos da demanda, o plano significado e o plano significante. É nesse intervalo que
o desejo deve ter lugar e se articular”. Continua a dizer que, “na abordagem do desejo pelo
sujeito, o outro se torna intermediário. O outro como lugar da fala, como aquele a quem se
dirige a demanda, passa a ser também o lugar onde deve ser descoberto o desejo, onde
deve ser descoberta sua formulação possível. É aí que se exerce a todo instante a
contradição, porque esse outro é possuído por um desejo – um desejo que, inaugural e
fundamentalmente, é estranho ao sujeito”.
Pode-se também dizer que, o obsessivo nega o tempo todo o amor. O amor é considerado
para a psicanálise, um desencontro, devido o obsessivo negá-lo o tempo todo, sendo que, o
que fica é o seu falo. “É no espaço virtual entre o apelo da satisfação e a demanda de amor
que o desejo ocupa seu lugar e se organiza. Por isso é que só se pode situá-lo numa
posição sempre dupla em relação à demanda, ao mesmo tempo além e aquém, conforme o
aspecto pelo qual se considere a demanda – demanda em relação a uma necessidade, e
demanda estruturada em termos de significante” (Lacan). O que fica marcado então é a
impossibilidade do obsessivo de se haver com o seu próprio desejo.
No entanto, a anulação do desejo do outro acontece a partir da redução do parceiro à
condição de objeto, ignorando-o. Rinaldi ressalta que, é “no dilema entre destruir o Outro ou
mantê-lo a qualquer custo, que o obsessivo revela a sua profunda dependência do Outro
para a obtenção do acesso ao desejo. A saída que encontra é recobrir o desejo com a
demanda do Outro, em que o desejo é denegado e assume a forma imperativa da
necessidade, pois é através disso que ele sustenta o seu desejo enquanto excluído”.
Para Lacan, “o desejo sempre ultrapassa qualquer espécie de resposta que esteja no nível
da satisfação, pede, em si mesmo, uma resposta absoluta, e, portanto projeta seu caráter
essencial de condição absoluta em tudo o que se organiza no intervalo interno entre os dois
planos da demanda, o plano significado e o plano significante. É nesse intervalo que o
desejo deve ter lugar e se articular”. Rinaldi ressalta que, “é nesse intervalo, entre a relação
do sujeito com sua demanda e o Outro que lhe é tão necessário, que se localiza o desejo,
em si mesmo anulado, mas cujo lugar é mantido. E é isso que se pode servir de guia na
condução da análise de neuróticos obsessivos”.
Lacan contribui, dizendo que, “a subsistência da dimensão oral constitui o ponto de equilíbrio
da fantasia obsessiva como tal, sendo necessária existir. No entanto, o obsessivo está
sempre pedindo alguma permissão, pois assim ele estabelece uma certa relação com a
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própria demanda. Pedir permissão na medida mesma em que a dialética com o outro – o
outro como falante – é posta em causa, posta em questão, ou até posta em perigo, é
dedicar-se, afinal de contas, a restaurar esse outro, é colocar-se na mais extrema
dependência dele”.
“O obsessivo necessita de um desejo insatisfeito, isto é, de um desejo para além de uma
demanda. O obsessivo resolve a questão do esvaecimento de seu desejo fazendo dele um
desejo proibido. Faz com que ele seja sustentado pelo outro, precisamente pela proibição do
outro. Essa maneira de fazer o desejo ser sustentado pelo outro é ambígua, porque um
desejo proibido nem por isso significa um desejo sufocado. A proibição está ali para
sustentar o desejo, mas, para que ele se sustente, é preciso que se apresente. Aliás, isso é o
que faz o obsessivo, e a questão é saber como. A maneira como ele o faz, é muito
complexa, ao mesmo tempo ele o mostra e não mostra. Ele o camufla, e é fácil compreender
por quê. Suas intenções, não são puras” (Lacan).
Assim, “o obsessivo oscila num balanço, e que seu desejo, quando sua manifestação, indo
longe
demais,
torna-se
agressivo,
recai
quando
ou
pende
de
novo
para
um
desaparecimento, ligado ao medo da retaliação efetiva dessa agressividade por parte do
outro, ou seja, ao medo de sofrer por parte deste, uma destruição equivalente à do desejo
que ele manifesta. Pois é preciso que o outro se preserve e se sustente a qualquer preço,
pois é o lugar onde se registra a façanha, onde se inscreve sua história. É isso que torna o
obsessivo tão adepto de tudo o que é da ordem verbal, da ordem do cálculo, da
recapitulação, da inscrição, e também da falsificação. O que o obsessivo quer manter acima
de tudo, sem dar a impressão disso, com um jeito de quem almeja outra coisa, é esse outro
onde as coisas se articulam em termos de significante” (Lacan).
O sujeito se sente realizado quando reconhece o desejo do outro como tal, sendo esta, uma
fantasia, uma ilusão, para o obsessivo, pois o que ele quer é que o outro consinta com seu
desejo. Assim, os caminhos encontrados pelo obsessivo, para a busca da solução do
problema de seu desejo, são interpretados de uma maneira clara para ele, podendo-se
confirmar tal fato, na maneira como se comporta com seu semelhante. Lacan coloca que,
“poupar o outro é exatamente o que está no fundo de toda uma série de cerimoniais, de
precauções, de desvios, em suma, de todas as manobras do obsessivo. O obsessivo tem a
tendência a repetir atos, o que equivale a mergulhá-lo à repetição em suas formas mais
gerais, que vem como uma tentativa de solução do problema da relação do desejo com a
demanda”.
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Sendo assim, o objetivo principal e preliminar na conduta do obsessivo é a manutenção do
outro, ou seja, é através da manipulação do outro que o obsessivo realiza seu desejo. Então,
o sujeito dirige-se inicialmente ao outro para a satisfação de suas necessidades. Contudo,
Lacan fala que, “as diversas tentativas de reequilíbrio que o sujeito faz, evidenciam o que é o
objeto de sua busca equilibradora, a saber, conseguir reconhecer-se em relação a seu
desejo. Na relação do sujeito obsessivo com o seu desejo – à medida que ele tenta
aproximar-se do objeto, nas vias que lhe são propostas, seu desejo se amortece, a ponto de
chegar à extinção, ao desaparecimento”.
Diante destas afirmações, Rinaldi afirma que “estas indicações são preciosas porque
permitem destacar duas questões centrais para a análise da complexa dinâmica do desejo
na neurose obsessiva: a relação ao significante falo, que ressurge em todos os pontos da
fenomenologia do obsessivo, através de sua polipresença nos sintomas, e a prevalência da
morte que marca esta dinâmica de forma radical”.
A Morte na Neurose Obsessiva
Segundo Valore, “o corpo do obsessivo é, desgraçadamente seu mesmo, prova ás vezes,
escandalosa para o seu gosto, de um crime inaugural que ele pode apagar, esse corpo, o
neurótico sabe, está destinado para morte. E não estão todos? Por certo que sim, mas em
nenhuma outra lógica, isso é experimentado com tal fatalismo quanto na lógica obsessiva.
Dessa forma, o obsessivo sabe que é com a morte que ele pagará pela sua existência,
porque é a uma morte que a deve. Ele deve. Mas deve, acima de tudo seu corpo. E de seu
corpo, mais do que nada, seu sexo. Ele é culpado, culpado de poder fazê-lo, de desejá-lo.
Aliás, é mais uma dívida. Ele deve ser culpado”.
“O obsessivo duvida. Por isto mesmo, ele duvida e deve ter razão de duvidar. Pois, se essa
operação que o tornou devedor tivesse sido bem sucedida, sua história poderia ter sido
outra. Ele poderia estar morto e no céu. Entre a obrigação de viver e a proibição de viver,
ele vai desdobrando sua estratégia, mas de pensamento” (Valore).
“Na Neurose Obsessiva, estamos o tempo todo dizendo desse corpo, da sina a que o
condenam as coordenadas obsessivas, mas cerní-lo diretamente não é fácil. Se escolhemos
passar pelo homem nos encontramos com o fato de que ele é um ser que não tem corpo”
(Valore).
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Segundo Calligaris, citado por Valore, ‘o homem é um puro espírito’. O homem é, na medida
em que tem para com o Pai uma dívida simbólica. Que uma suspeita paire sobre ela e
conjure o obsessivo a recobri-la por uma outra dívida, imaginária, impagável, é só um
complicador a mais. Aí talvez resida a dificuldade do obsessivo, “entre ser um homem, na
medida em que tem para com o Pai essa dívida simbólica e, nesse caso não ter que se
ocupar de ter um corpo; ou, por outro lado ter um corpo, pelo qual deve e cuja
materialização pode condená-lo às escolhas mais sacrificiais.”
O conceito de pulsão de morte, tal como formulado por Freud, indica que, para o homem, a
vida projeta-se desde sempre para a morte. Nossa única certeza é a morte, morte essa que
não pode, contudo, ser experimentada na sua radicalidade, como ponto limite cuja
ultrapassagem abole toda experiência possível. Mas é por referência a este ponto de falta,
que se desenvolvem os fenômenos da vida. Lacan vem destacar que é pela sujeição ao
significante, através da qual experimentamos a vida, que o homem se percebe como já
morto. Como não há experiência da morte, ela é simbolizada de outra maneira, justamente
pelo significante privilegiado que representa o desejo e o impulso da vida. É o falo que
assume um lugar especial na cadeia significante para introduzir a dimensão de falta-a-ser
através da qual a linguagem marca a vida do sujeito. (Rinaldi)
Enquanto o histérico encarna a falta, o obsessivo visa obturá-la, o que faz a qualquer preço,
em detrimento de seu desejo e através de sua inteligência e racionalização, nem sempre,
entretanto, fazendo justiça ao que se propõe – é conhecido o famoso “emburrecimento”
neurótico. Suturando a divisão que o histérico, por sua vez, explicita, ele abole a clivagem,
esquiva-se da castração, devota-se a preencher o intervalo, mas, sobretudo, vigia para
perseguir o desejo ali onde o fareja, mirando-o com seu implacável voto de morte (Lima).
Dessa forma, de acordo com Rinaldi, o obsessivo busca seu desejo num além, o que faz
com que ele faça o seu desejo passar à frente de tudo. Ao buscá-lo além, o que ele visa é o
desejo como tal na medida em que ele nega o Outro. Vemos aí claramente a presença da
pulsão de morte, como sustentação desse desejo puro. Mas o Outro é o lugar do desejo e,
para constituir-se, o desejo do sujeito precisa deste apoio no Outro. A destruição do Outro
representa a destruição do próprio desejo e é nisto que esbarra o obsessivo, revelando a
profunda contradição entre ele e seu desejo. Na verdade, trata-se de uma contradição que é
interna ao próprio desejo. Disso decorrem as constantes idas e vindas do obsessivo, uma
vez que a possibilidade de realização de seu desejo se apresenta como mortal. É desse
momento que ele se afasta, na medida em que alcançá-lo significa matar o desejo. Lacan
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chama a atenção para o fato de que, mais do que uma distância do objeto, trata-se na
neurose obsessiva de uma distância do desejo.
S. Leclaire (1977), citado em Lima, nos trás que o obsessivo está sempre pronto para tudo,
desde que não se comprometam. Neste sentido, vale lembrar que ele dá tudo, ou seja, na
verdade não dá coisa alguma, donde não se deve crer em sua aparente generosidade a
qual, segundo Lacan (op. cit.), é a máscara que encobre o ódio pelo Outro.
Sendo assim, Lima nos afirma, que o obsessivo não dialetiza”, seja em análise seja no
convívio familiar e social. Verificam-se neste sujeito características de imobilidade e
incomunicabilidade. Na descrição de Leclaire, citada em Lima, “ele sente-se isolado, vazio e
frio, emparedado sem nada para dizer.” Assim, se o sujeito histérico tem uma questão
sexual – sou homem ou mulher? – a questão do obsessivo é existencial, já observara Lacan
– estou morto ou vivo?
O que caracteriza sua demanda precoce e exigente, é que se trata de uma demanda de
morte, porque as primeiras relações com o Outro foram marcadas por essa anulação do
desejo em que ele se apreende como desejo no Outro. É esse lugar de enigma do desejo da
mãe que ele se vê convocado a ocupar, o que o instala no dilema de saber se ele é ou não
é aquilo que é o desejo do Outro. O recurso à demanda, como saída para esse impasse,
através do qual ele preserva o lugar de seu desejo enquanto excluído, anulado, não pode ter
no horizonte outra coisa senão uma demanda de morte. É o que se observa nos obsessivos
graves, em que os silêncios prolongados, que tantas dificuldades criam ao desenvolvimento
da análise, revelam os obstáculos que essa demanda de morte traz para a articulação do
discurso do obsessivo e de sua demanda.
Na medida em que a demanda de morte é formulada no lugar do Outro, no discurso do
Outro, e por ser o Outro o lugar da demanda, ela acarreta a morte da demanda, como é
possível apreender na forma sempre desviada, negada, suprimida, ou então agressiva, que
o obsessivo formula sua demanda. (Rinaldi)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constituição do sujeito se dá de forma primordialmente na castração, processo este que é
vivenciado pelo sujeito no complexo de Édipo. O qual possibilitará a inscrição do nome do
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pai na relação entre mãe e filho, assim o sujeito se constituirá, como também irá definir a
sua estrutura clínica que é seu modo particular de lidar com a representação incompatível,
ou seja, aquilo que lhe é causador de sofrimento. A estrutura clínica neurótica obsessiva é
um tipo de estrutura que irá realizar falsas conexões através de outros pensamentos, na
tentativa de retirar da consciência aquela representação incompatível. E para isso irá criar
uma série de estratégias como, por exemplo, pensamentos obsessivos e rituais para lidar
com aquilo que lhe é intolerável.
Ao considerar o desejo do obsessivo, este será sempre incestuoso devido remeter sempre à
falta do sujeito, e, portanto, ele quer tamponá-la, não querendo se houver com o mesmo. O
obsessivo não se atém com o seu desejo, ele anula o tempo todo o desejo do outro,
reduzindo-o ao objeto. Além disso, ele se coloca na posição de dependente do outro, como
forma de demandar algo, sendo capaz de verbalizar esta dependência, quando pede
permissão ao outro de algo. E, ao mesmo tempo, ele tende a destruir o outro, controlando-o,
que ao fazê-lo, tenta mantê-lo a qualquer custo, revelando neste ato, a sua profunda
dependência ao outro para a obtenção do acesso ao seu desejo. O obsessivo quer que o
outro consinta com o seu desejo. Sendo assim, uma forma de lidar com o problema de seu
desejo, de sua falta, é criando manobras para conseguir dar conta de uma situação
intolerável. Entretanto, o obsessivo passa a se orientar com o desejo do outro como uma
forma de defesa, relacionando assim, o tempo todo, com a sua demanda ao outro.
Para o obsessivo, seu corpo é destinado à morte, sendo que é com este corpo que pagará a
divida de um crime inaugural que ele não pode pagar. É a morte que ele deve, ele deve
acima de tudo seu corpo. E entre a obrigação de viver e a proibição de viver ele vai
desdobrando sua estratégia.
Assim, a questão da morte é abordada dentro da estrutura obsessiva, no qual, refere-se a
um dilema existencial, pois as primeiras relações com o outro foram marcadas pela
anulação do seu desejo.
Por fim, pode-se dizer que o analista pode contribuir no caso clínico; neurose obsessiva, no
sentido de histerizar o sujeito, para que esse se apresente e assim coloque suas demandas.
Assim, é relevante que o analista veja o sujeito como um ser subjetivo, e através de uma
teoria, construa sua práxis, de acordo com o caso particular que estiver em questão.
REFERÊNCIAS
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FREUD, Sigmund. As neuropsicoses de defesa: tentativa de uma formulação de uma teoria
da histeria adquirida, de muitas fobias e obsessões de certas psicoses alucinatórias.
In:____________. Edição standard das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud.
Vol. VII. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1996.
GAZZOLA, Raul. Estratégias da Neurose Obsessiva. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
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LACAN, Jacques. O seminário 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1999.
LIMA, Miriam Aparecida Nogueira. O propósito da neurose obsessiva. Rio de Janeiro, 15 de
Agosto de 2001. Disponível em: http://www.interseccaopsicanalitica.com.br/art070.htm
Acesso em 07/06/07 ás 11h08min.
RAPPAPORT, Clara Regina; HASSAN, Sara Elena; MOLLOY, Carmen Savorani.
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Algumas questões relativas à neurose obsessiva