15 Universidade Federal de Pernambuco Centro de Tecnologia e Geociências Departamento de Energia Nuclear Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares (PROTEN/UFPE – CRCN–NE/CNEN) Thaísa Feliciano de Souza EXPRESSÃO DA PROTEÍNA P53 NO PROGNÓSTICO DE REAÇÕES ADVERSAS DA RADIOTERAPIA DO CÂNCER DE LARINGE Dissertação de Mestrado RECIFE – PE – BRASIL MAIO – 2013 15 EXPRESSÃO DA PROTEÍNA P53 NO PROGNÓSTICO DE REAÇÕES ADVERSAS DA RADIOTERAPIA DO CÂNCER DE LARINGE Dissertação de Mestrado 15 THAÍSA FELICIANO DE SOUZA EXPRESSÃO DA PROTEÍNA P53 NO PROGNÓSTICO DE REAÇÕES ADVERSAS DA RADIOTERAPIA DO CÂNCER DE LARINGE Dissertação submetida ao Programa de PósGraduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares, do Departamento de Energia Nuclear, da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Dosimetria e Instrumentação Nuclear. Ori entador: Prof. Ademir de Jesus Amaral RECIFE – PE 2013 Catalogação na fonte Bibliotecário Rosineide Mesquita Gonçalves Luz, CRB-4 / 1361 S729a Souza, Thaísa Feliciano de. Análise da expressão da Proteína P53 no Prognóstico de reações adversas da radioterapia do câncer de laringe / Thaísa Feliciano de Souza . - Recife: O Autor, 2013. 67 folhas, figs., tabs; gráf. Orientador: Prof. Dr. Ademir de Jesus Amaral. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares. PROTEN/UFPE, 2013. Inclui Referências, Apêndice e Anexos 1. Energia Nuclear. 2. Radiossensibilidade. 3. Câncer de Laringe. 4. Radioterapia. I. Amaral, Ademir de Jesus (orientador). II. Título. 621.48 CDD (22. ed.) UFPE BCTG/2013-201 15 ANÁLISE DA EXPRESSÃO DA PROTEÍNA P53 NO PROGNÓSTICO DE REAÇÕES ADVERSAS DA RADIOTERAPIA DO CÂNCER DE LARINGE Thaísa Feliciano de Souza APROVADA EM: 03.05.2013 ORIENTADOR: Prof. Dr. Ademir de Jesus Amaral COMISSÃO EXAMINADORA: _______________________________________ Prof. Dr. Waldeciro Colaço – DEN/UFPE ____________________________________________________ Profa. Dra. Marcela Maria de Lemos Pinto – DEN/UFPE ______________________________________________________________ Profa. Dra. Neyliane Frassinetti Gonçalves dos Santos – DEN/UFPE Visto e permitida a impressão __________________________________ Coordenadora do PROTEN/DEN/UFPE 15 Dedico aos meus pais, José e Marta. 15 AGRADECIMENTOS A Deus, porque sem Ele, nada disso existiria. Aos meus pais, Marta e José, pelo amor incondicional, pelos valiosos ensinamentos e exemplo e por terem se esforçado tanto para que eu pudesse ter uma boa educação. Às minhas irmãs, Lalá e Larissinha por me darem tantos momentos alegres e divertidos. Amo muito vocês, obrigada por tudo. À minha avó Geni, pelo seu imenso amor, carinho, cuidado, pelas palavras de conforto e orações. Aos tios Dequinho e Mariluce pela vibração por cada conquista na minha vida, que mesmo longe se fazem presentes. À minha tia Márcia, pelo carinho e cuidado. Ao meu tio Bebeto, pelos momentos de descontração. Ao meu querido tio Marcelo, pelo qual tenho imensa admiração, obrigada pelas conversas, incentivo, apoio e amizade. Ao meu tio Júnior, do qual tenho um orgulho imensurável, obrigada pela amizade, por ter sido tão importante na minha formação, por ter influenciado positivamente no desenvolvimento do meu gosto pela leitura, nas minhas preferências musicais, na forma de ver o mundo... Obrigada! Ao Prof. Ademir Amaral, por ter me acolhido em seu laboratório, ter me orientado e confiado em mim para realização dos meus trabalhos. Obrigada por seus ensinamentos e pela confiança. À Nani, pela amizade e grande ajuda na realização deste trabalho, por ter me ensinado pacientemente a citometria de fluxo. A Heberton, que foi fundamental na realização deste trabalho, por ter sido uma ponte entre o LAMBDA e o IMIP, por ajudar no encaminhamento e avaliação dos pacientes e também pelos momentos de descontração e amizade. Aos meus amigos biomédicos (Bruno, Camila, Cati, Manu, Marcela, Will, Felipe, July), por sempre estarem presentes nas horas que mais precisei e pelos momentos de descontração em nossos maravilhosos encontros. Ao meu primo Hugo, pelas suas incríveis piadas, por divertir-se junto comigo e pelo carinho. Às minhas lindas primas Helen, Valana e Íris, pela amizade, pelos momentos de descontração, pelas trocas de confidências, pelas conversas e apoio nos momentos difíceis. 15 À minha grande amiga Cecília, que sempre foi meu anjo da guarda; obrigada pelos conselhos, conversas, momentos de descontração, e à sua mãe Joélia, por sempre me acolher de forma tão carinhosa e materna na sua casa. À Suelen, pela sua grande amizade, conversas, risadas e companhia, que fizeram meus dias mais felizes durante o mestrado. Obrigada por ter sido minha segunda família durante este período. A Igor, pelo imenso apoio, conversas, conselhos, pelo amor, por se importar comigo, pelo grande carinho, amizade e dedicação que ajudaram a tornar a caminhada mais leve. Obrigada! Aos meus queridos amigos de infância Amanda, Andreza, John, Tarcila, Vanessa e Wilson, dos quais tenho muito orgulho, obrigada pela leveza das conversas, pelas palavras de apoio, conselhos e por torcerem por mim. Aos meus amigos do GERAR (DEN-UFPE), em especial, Thiago Salazar, Carlos Eduardo, Rafael Freitas, Geane Michelle, Hector Silva, Camila Dias, Amanda Salviano, Marcela Pinto, Mariel Cadena, Edvane Borges, Mariana Brayner e aos colegas do Departamento de Energia Nuclear que marcaram minha vida nestes últimos anos, pela amizade e pelos momentos de descontração. À equipe do setor de Radioterapia do IMIP, em especial aos técnicos Tarso e Geneci que sempre ajudaram e disponibilizaram com boa vontade o setor de radioterapia para a irradiação das amostras. Aos Professores membros das bancas: Profa Dra. Terezinha de Jesus, Profa. Dra. Edvane Borges, Profa. Dra. Marcela Pinto, Profa. Dra. Neyliane Santos, Prof. Dr. Thiago de Salazar e Prof. Dr. Waldeciro Colaço pela cuidadosa leitura do texto, sugestões e críticas científicas que contribuíram significativamente para a melhoria deste trabalho. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por me conceder uma bolsa de estudos neste período. Muito Obrigada! 15 RESUMO Nos estágios iniciais do câncer de laringe a radioterapia é uma das principais opções de tratamento e cura da doença. Entretanto, esta modalidade terapêutica resulta em reações adversas do tecido sadio adjacente ao tumor. Embora submetidos ao mesmo protocolo, os pacientes apresentam reações com intensidades diferentes, fenômeno atribuido à radiossensibilidade individual que é acarretada por falhas no rearo de danos celulares. Em termos moleculares, os mecanismos de reparação celular estão intimamente ligados aos níveis de expressão da proteína p53. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo principal investigar possíveis correlações entre os níveis de expressão da proteína p53 e as principais reações adversas resultantes da radioterapia de pacientes com câncer de laringe. Para tanto, foi coletado sangue periférico de 10 pacientes com câncer de laringe, em estágio T1 e T2, submetidos ao mesmo protocolo de radioterapia. Uma parte das amostras de sangue foram irradiadas com dose de 2 Gy, enquanto outra foi mantida sem irradiar (controle). Em seguida, linfócitos foram separados e marcados com anticorpo monoclonal anti-p53 e posteriormente analisados por citometria de fluxo. Avaliou-se as reações adversas de hiperemia, rouquidão, disfagia e odinofagia nos pacientes após a última sessão de radioterapia. Observou-se um aumento estatisticamente significante da expressão da p53 após irradiação das amostras de sangue, mas com grande variação interindividual. Relacionando os graus de reações adversas de pele com a expressão basal (células não irradiadas) e expressão da p53 nas células irradiadas com 2 Gy, não foi observada correlação entre os dados. As reações adversas de rouquidão, disfagia e odinofagia tiveram correlação com a expressão basal da p53 dos pacientes, onde quanto maior a expressão basal da p53, menores foram os graus de tais reações após a radioterapia. Relacionando essas reações adversas com a porcentagem da expressão da p53 após irradiação das células, não foi observado correlação. Os resultados desta pesquisa sugerem a análise dos níveis basais da proteína p53 de linfócitos do sangue periférico, por citometria de fluxo, para prognóstico das principais reações adversas (rouquidão, odinofagia e disfagia) em pacientes com câncer de laringe nos estágios iniciais, encaminhados para radioterapia. Palavras- chave: p53; radiossensibilidade; câncer de laringe; radioterapia; 15 ABSTRACT In the early stages of larynx cancer, radiotherapy is a major option of treatment and cure. However, this therapy results in adverse reactions in healthy tissue adjacent to the tumor. Although subjected to the same protocol, patients have different intensity reactions, a phenomenon attributed to individual radiosensitivity, by failures in the repair cell damage. In molecular terms, the cellular repair mechanisms are closely related to levels of p53 expression. In this context, this study aimed to investigate possible correlations between the expression levels of p53 protein and the main adverse reactions resulting from radiotherapy for patients with laryngeal cancer. To this aim, it was collected peripheral blood from 10 patients with larynx cancer in stage T1 and T2, undergo the same radiotherapy protocol. A portion of the blood samples were irradiated with a dose of 2 Gy, whereas the other one without irradiating (control). Then, lymphocytes were isolated and labeled with anti-p53 monoclonal antibody and subsequently analyzed by flow cytometry. Was evaluated the side effects levels of hyperemia, hoarseness, dysphagia and odynophagia in patients after the last session of radiotherapy. There was an increase statistically significant in p53 expression after blood samples irradiation, but with great inter-individual variation. Relating the levels of adverse skin reactions with the basal expression (non-irradiated cells) and p53 expression in cells irradiated with 2 Gy, there was no correlation between the data. Adverse reactions of hoarseness, dysphagia and odynophagia were correlated with basal expression of p53, where as higher basal expression of p53, as lower levels adverse reactions after radiotherapy. Relating these adverse reactions with the percentage of p53 expression after irradiation of the cells, there was no correlation. The results of this research suggest the analysis of basal levels of p53 protein in peripheral blood lymphocytes by flow cytometry, for prognosis of major adverse reactions (hoarseness, dysphagia, and odynophagia) in patients with larynx cancer in the early stages, referred for radiotherapy. Key words: p53; radiosensitivity; larynx cancer; radiotherapy 15 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Esquema anatômico da laringe ..................................................................... 4 Figura 2 - Efeito direto e efeito indireto da radiação ................................................... 10 Figura 3- Esquema das vias de atuação da p53 após estresse celular ........................... 14 Figura 4 - Linfócito humano visualizado por microscopia óptica ................................ 16 Figura 5 – Sistema de fluxo e detectores de dispersão frontal (FSC) e lateral (SSC) ... 20 Figura 6 - Arranjo experimental para irradiação das amostras sanguíneas em acelerador linear........................................................................................................................... 24 Figura 7 - Esquema da metodologia de obtenção das células mononucleares do sangue periférico .................................................................................................................... 26 Figura 8 - Citômetro de Fluxo do LAMBDA – DEN / UFPE ..................................... 29 Figura 9 - Gráfico de aquisição para delimitação dos linfócitos (FSC X SSC) ............ 30 Figura 10 - Dot plot apresentando o sinal captado pelos detectores FL1 e FL2 de linfócitos irradiados marcados com anticorpo anti-p53 ................................................ 31 Figura 11 - Esquema da Metodologia para avaliação da expressão da proteína p53 em sangue periférico irradiado .......................................................................................... 32 Figura 12 - Graus de reações adversas apresentadas pelos pacientes após a raditerapia ................................................................................................................................... 35 Figura 13 - a) Paciente apresentando reação leve logo após o tratamento radioterápico; b) Mesmo paciente com reação considerada severa (provavelmente devido a interrupção da utilização do creme hidratante) após 1 semana do término do tratamento ................ 42 15 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estadiamento TNM para câncer de laringe ................................................... 5 Tabela 2 - Análise comparativa entre a imunochistoquímica, imunocitoquímica, Western Blot e citometria de fluxo .............................................................................. 21 Tabela 3 - Escala dos graus de reações adversas para avaliação dos pacientes ............ 34 Tabela 4 - Interpretação dos coeficientes de Spearman ............................................... 37 Tabela 5 - Descrição do perfil dos pacientes utilizados no presente estudo ................. 38 Tabela 6 - Expressão da proteína p53 nas amostras controle e irradiada com dose de 2 Gy............................................................................................................................... 38 Tabela 7 - Expressão basal individual da proteína p53 e graus de intensidade da reação adversa de pele ............................................................................................................ 40 Tabela 8- Expressão individual da proteína p53, após irradiação com ......................... 41 Tabela 9 - Expressão basal individual da proteína p53 e correlação com os graus de .. 45 Tabela 10 - Expressão da proteína p53 em linfócitos irradiados com dose de 2 Gy e os níveis de...................................................................................................................... 49 Tabela 11 - Comparação dos níveis basais da p53 com a sobrevivência das células de cada paciente .............................................................................................................. 50 15 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AcMo Anticorpo monoclonal ANOVA Analysis of variance / análise da variância ATM Ataxia-telangiectasia mutated CdK Cyclin-dependent kinases / Quinase dependente de ciclina CF Citometria de Fluxo DNA Deoxyribonucleic Acid / Ácido Desoxirribonucléico DSB Double Strand Breaks/ Quebra de fita dupla FSC Forward Scatter GAdd45 Growth arrest and DNA-damage IgG Interglobulina G IMIP Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira INCA Instituto Nacional do Câncer LAMBDA Laboratório de Modelagem e Biodosimetria Aplicada PBMC Peripheral Blood Mononuclear Cells / Células Mononucleares do Sangue Periférico PBS Phosphate Buffered Saline / Tampão Fosfato Salina PHA Phytohemagglutinin / Fitohemaglutinina PMT Photomultiplier tube / Tubo fotomultiplicador PUMA p53 upregulated modulator of apoptosis / RI Radiação Ionizante RT Radioterapia RTOG Radiation Therapy Oncology Group / Grupo Oncológico de Radioterapia SFB Soro Fetal Bovino SSB Single Strand Breaks / Quebra de fita simples SSC Side Scatter TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UICC União Internacional Contra o Câncer 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 3 2.1 Câncer de laringe ................................................................................................. 3 2.2 Tratamento do câncer de Laringe ......................................................................... 5 2.2.1 Radioterapia e reações adversas..................................................................... 5 2.3 Radiossensibilidade ............................................................................................. 8 2.4 Resposta celular às radiações ionizantes .............................................................. 9 2.5 Proteína p53 e resposta celular ........................................................................... 11 2. 6 Linfócitos Humanos.......................................................................................... 15 2.7 Ferramentas de análise da proteína p53 .............................................................. 17 3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 22 3.1 Objetivo geral .................................................................................................... 22 3.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 22 4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 23 4.1 Perfil da pesquisa e aspectos éticos .................................................................... 23 4.2 Seleção da População ........................................................................................ 23 4.3 Coleta das amostras ........................................................................................... 24 4.4 Irradiação das amostras ...................................................................................... 24 4.5 Obtenção das células mononucleares ................................................................. 25 4.6 Avaliação da viabilidade celular e ajuste da concentração celular ...................... 26 4.7 Cultivo celular ................................................................................................... 27 4.8 Marcação das amostras ...................................................................................... 27 4.9 Citometria de fluxo ............................................................................................ 28 15 4.10 Tratamento dos pacientes ................................................................................. 33 4.11 Acompanhamento dos pacientes e avaliação das reações adversas ................... 33 4.11.1 Hiperemia Cutânea ....................................................................................... 34 4. 2 Análise estatística ............................................................................................. 37 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 38 5.2 Expressão da proteína p53 ................................................................................. 38 5.3 Reações adversas de pele e a expressão da proteína p53 ..................................... 40 5.3 Reações adversas de rouquidão, disfagia e odinofagia e a expressão da proteína p53 .......................................................................................................................... 45 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 53 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO . 62 APÊNDICE B – FICHA DE ACOMPANHAMENTO ............................................ 63 ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA ................................................ 65 ANEXO B – FICHA DE TRATAMENTO .............................................................. 66 1 INTRODUÇÃO O câncer de laringe é o mais comum dentre as neoplasias de cabeça e pescoço, sendo responsável por 30% a 40% dos cânceres dessa região (MARKOU et al., 2011). Os principais fatores que contribuem com o desenvolvimento desse tipo de câncer são o tabagismo, alcoolismo e, em menor grau, a poluição do ar (SAS-KORCZYNSKA et al., 2003; PEREIRA et al., 2005). Os tratamentos do câncer de laringe são a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia, ou ainda a combinação destas. Porém, nas fases iniciais do câncer de laringe (T1 e T2), o único tratamento utilizado é a radioterapia. O intuito de empregar a radioterapia em estágios iniciais é a preservação do funcionamento normal da laringe, proporcionando uma qualidade de vida satisfatória ao paciente após o término do tratamento (INCA, 2011). Embora a radioterapia tenha se mostrado uma ferramenta efetiva no combate ao câncer de laringe, estudos têm observado que vários pacientes têm interrompido o tratamento devido a manifestação de reações agudas adversas, o que tem levado à diminuição da possibilidade de cura da doença (GIDDINGS, 2010). As diferenças na intensidade das reações adversas apresentadas por pacientes com mesmas características físicas, mesmo tipo e estágio de tumor, e que seguem o mesmo protocolo de radioterapia apontam para a necessidade de se avaliar e determinar, no planejamento radioterápico, a chamada radiossensibilidade individual (ANDREASSEN et al., 2002; BURNET; PEACOCK, 2002). O conceito de radiossensibilidade é bastante complexo, podendo ser descrito como uma característica inerente do indivíduo, associada ao aumento dos efeitos biológicos da radiação ionizante sobre o corpo humano. De acordo com diversos estudos a radiossensibilidade está ligada a falhas no sistema de reparo celular (TWARDELLA; CHANG-CLAUDE, 2002; FEI; EL-DEIRY, 2003). A irradiação do sistema biológico desencadeia uma série de processos que é capaz de alterar as moléculas que compõem as células, sendo à molécula de ácido 2 desoxirribonucléico (DNA) uma das mais importantes, já que nela está contido o código genético humano (YOKOYA et al., 2008). Quando a molécula de DNA sofre um dano, um dos principais mecanismos ativados durante a resposta celular é a ação da proteína p53. Uma vez ativada, a p53 aumenta a transcrição de diversos genes que codificam proteínas importantes, responsáveis pela parada do ciclo celular, o próprio reparo do DNA e pela morte celular (ZHANG et al., 2004). Cavalcanti e colaboradores (2008) demonstraram que há um aumento de p53 em linfócitos humanos irradiados e cultivados in vitro por 72 horas, além de uma variabilidade interindividual na resposta, sugerindo que essa análise possui potencial para identificação da radiossensibilidade individual. É importante, portanto, avaliar a correlação entre os níveis individuais de expressão da proteína p53 e a intensidade das reações adversas em pacientes submetidos à radioterapia, a fim de avaliar a possibilidade de seu emprego como teste preditivo de radiossensibilidade individual. A consolidação de um teste de radiossensibilidade promoveria grandes avanços na avaliação dos riscos e prevenção de danos na radioterapia, pois o protocolo do tratamento poderia ser personalizado, e consequentemente possibilitando uma melhora na qualidade de vida dos pacientes. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo geral investigar as correlações existentes entre os níveis de expressão basal e pós-irradiação da proteína p53 em linfócitos humanos e as reações adversas resultantes da radioterapia de pacientes com câncer de laringe. 3 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Câncer de laringe A laringe se localiza na parte anterior do pescoço, entre as vértebras cervicais 3 e 6, mede cerca de 5 cm de comprimento nos homens, sendo ligeiramente mais curta nas mulheres (BURDETT; MITCHELL, 2011). Este órgão é responsável pela fonação, mas também auxilia na tosse e no fechamento do sistema respiratório durante a deglutição, impedindo a aspiração dos alimentos (KAWASAKI, et al., 2001; BURDETT; MITCHELL, 2011). Quanto à sua anatomia, a laringe é didaticamente dividida em: Glote: espaço onde estão situadas as duas cordas vocais verdadeiras, as quais são de extrema importância no processo de fonação (ROSA, 2011); Supraglote: região onde estão as falsas cordas vocais (ou cordas vestibulares), as quais tem uma constituição “flácida” com poucas fibras musculares, quando comparadas com as cordas vocais verdadeiras (ROSA, 2011); Epiglote: cartilagem em forma de folha que está situada entre a entrada laríngeo superior e a base da língua (BURDETT; MITCHELL, 2011); Subglote: região mais estreita e inextensível da laringe (MARCHANT, 2005). 4 A Figura 1 ilustra a laringe e suas subdivisões. Figura 1 - Esquema anatômico da laringe Fonte: Adaptado de Salvajoli et al. (1999) O câncer de laringe representa cerca de 2% de todas as neoplasias malignas no mundo, sendo o mais comum entre os cânceres de cabeça e pescoço (25%), ocorrendo predominantemente no sexo masculino. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado com o tabagismo, o consumo de álcool e em menor grau, com a poluição (LICITRA et. al, 2003; SAS-KORCZYNSKA et al., 2003; PEREIRA et al., 2005). O grau evolutivo da doença é classificado de acordo com um sistema de estadiamento, chamado TNM (INCA 2012). O sistema TNM foi desenvolvido pela União Internacional Contra o Câncer (UICC), e atualmente corresponde ao sistema de estadiamento mais usado para a classificação de doenças como o câncer. O sistema TNM apresenta uma classificação segundo três diferentes parâmetros: extensão do tumor, representada pela letra T; presença de tumores em linfonodos próximos à lesão, representada pela letra N; e a presença de metástase à distância, representada pela letra M. A adição de uma numeração após a representação literal indica o nível de extensão da doença. De acordo com a atual classificação, tem-se: para T, T0, T1, T2, T3, T4; para N, N0, N1, N2, N3; para M, M0 e M1 (RTOG, 2011). 5 A Tabela 1 apresenta a classificação do câncer de laringe quanto à extensão do tumor com base nesse sistema. Tabela 1 - Estadiamento TNM para câncer de laringe Grau Comprometimento da Laringe T1 Limitado apenas a uma sub-região da laringe, apresentando mobilidade normal das cordas vocais T2 Comprometimento da mucosa de mais de uma sub-região da laringe, apresentando mobilidade normal das cordas vocais T3 Comprometimento somente da laringe, com fixação de corda vocal, ou invasão da área pós-cricóidea, tecidos pré-epiglóticos e base da língua T4 Extensão além da laringe Fonte: Adaptada de Salvajoli e colaboradores (1999) 2.2 Tratamento do câncer de Laringe A escolha terapêutica para o câncer de laringe é determinada de acordo com a sub-região em que está localizada a lesão, levando em consideração também a classificação de estadiamento da doença. Para os estadios T1 e T2 o tratamento pode ser realizado exclusivamente com radioterapia ou com cirurgia, tendo os dois tratamentos apresentado altos índices de cura (BJÖRK-ERIKSSON, et al. 1999; PELLIZZON, et al. 2008). As taxas de controle local para tumores iniciais variam de 87 % a 92 % para as duas modalidades de tratamento (radioterapia ou cirurgia) com taxas de sobrevida após cinco anos de remissão em torno de 80 % a 90 % (PELLIZZON et al., 2008). Nos estágios mais avançados da doença, como as lesões em estadios T3 e T4, o uso da quimioterapia no tratamento se torna indispensável (HALL; GIACCIA, 2006). 2.2.1 Radioterapia e reações adversas A radioterapia (RT) é uma das modalidades terapêuticas não-cirúrgicas mais importantes no tratamento do câncer. Dentre os pacientes diagnosticados com algum 6 tipo de câncer no mundo, mais de 50% utilizarão esta técnica em alguma fase do tratamento (BARNETT, et al., 2009; RZESZOWSKA-WOLNY, 2009). O objetivo principal da RT é danificar as células malignas através da exposição destas a uma quantidade suficiente de dose de radiação ionizante (RI) (BURNET, et al. 1996; SEVERIN, et al. 2006; BARNETT, et al. 2009). As radiações ionizantes são descritas como a energia que se propaga em forma de partículas subatômica (radiação alfa e beta) e ou ondas eletromagnéticas (raios gama, raios X) através do espaço e da matéria. Podem ser oriundas de fontes naturais ou artificiais, e possuem energia suficiente para ionizar, isto é, arrancar elétrons dos átomos que compõem a matéria, com a qual interagem, produzindo íons (CHASE; RITUPER, 2002; HALL; GIACCIA, 2006; SILVA LORETO, et al. 2008). Na radioterapia, apesar das tentativas de limitar a exposição das células, pequenas porções do tecidos sadios, o tecido circunvizinho ao tumor, também é irradiado (PRISE et al., 2005). Como resultado, reações clínicas adversas podem ser observadas no tecido sadio e o tratamento radioterápico pode vir a ser interrompido (BURNET, et al., 1996; SEVERIN, et al. 2006; BARNETT, et al. 2009). As principais reações adversas resultantes da radioterapia no tratamento do câncer de laringe são: Reações de Pele: As reações adversas na pele são um dos efeitos mais comuns em qualquer tratamento envolvendo radiação ionizante (FITZGERALD; KOCH, 1999; ZACKRISSON et al., 2003). A maioria dos pacientes apresentam hiperemia1 e eritema cutâneo na área do pescoço, descamação seca ou úmida e, em casos raros, necrose (WELLS et al., 2004; SHARP, et al. 2011). A hiperemia apresentada pela pele, que geralmente é uma reação comum da radioterapia representa uma reação inflamatória, partir da liberação de citocinas das células que estão provavelmente a em processo de 7 morte. Descamação seca é uma queratinização não usual causada pela redução das células basais da epiderme. Já a descamação aquosa é caracterizada pela perda da capacidade reprodutiva das células da epiderme (HOPEWELL, 1990). Rouquidão: Implica em soprosidade, aspereza, quebra de voz, ou a mudança natural do tom. A rouquidão ou disfonia, pode ser provocada pela inflamação da região glótica, mais espessa e delimitada pelas cordas vocais verdadeiras (GARRET, et al, 1999). Disfagia: Caracteriza-se pela dificuldade na passagem de alimentos sólidos ou líquidos da boca até estômago (MANIKANTAN et al., 2009; FITZGERALD; KOCH, 1999; ZACKRISSON et al., 2003). Processo inflamatório agudo na região da supraglote e epiglote ocasiona a disfagia, por serem regiões que estão muito próximas à base da língua, chegando a tocá-la durante a deglutição. Foi observado que a disfagia pode levar à perda de peso e pneumonia por aspiração, afetando a qualidade de vida dos pacientes (CAGLAR, et al., 2008; STARMER, et al., 2008). Odinofagia: está intimamente ligada à disfagia e está relacionada com deglutição dolorosa. É ocasionada pela inflamação aguda da epiglote e supraglote, sendo também considerada uma das reações adversos mais comuns da radioterapia (VAIMAN et al., 2009; FITZGERALD; KOCH, 1999; ZACKRISSON et al., 2003). Outras reações adversas como perda de peso, aspiração das vias aéreas, obstrução e fístula, também ligadas ao tratamento do câncer de laringe através da radioterapia (FITZGERALD; KOCH, 1999). 8 Há alguns anos, a tolerância do tecido normal tem sido levada em conta como um fator determinante no planejamento da dose utilizada, fazendo com que os órgãos adjacentes ao tumor sejam afetados com a menor dose possível, mas só recentemente a variação da tolerância interindividual foi identificada. Pacientes com mesmo tipo de tumor e características físicas parecidas apresentam diferentes respostas ao nível de tecido normal quando submetidos ao mesmo protocolo radioterápico (ANDREASSEN et al., 2002; BURNET et al., 2002). Ainda que parâmetros físicos e biofísicos possam determinar o surgimento de reações adversas ao tratamento, cerca de 80% dos fatores envolvidos no surgimento destes efeitos não são determinados por tais fatores e possivelmente estão relacionados ao perfil genético de cada indivíduo que determina sua radiossensibilidade (BARNETT et al., 2009). 2.3 Radiossensibilidade O planejamento do tratamento radioterápico é geralmente baseado em parâmetros como: localização do tumor, tipo de tecido, estágio de desenvolvimento do tumor, idade e peso do paciente. Entretanto informações a respeito da diferença de radiossensibilidade individual não são utilizadas (BURNET et al., 1996; BARNETT et al., 2009). O conceito de radiossensibilidade é bastante complexo, podendo ser descrito como uma característica inerente ao indivíduo, associada ao aumento dos efeitos biológicos proveniente da ação das radiações ionizantes sobre o corpo (TWARDELLA; CHANG-CLAUDE, 2002). Evidências a respeito da radiossensibilidade individual surgiram, primeiramente, a partir da observação dos efeitos da radiação ionizante manifestados em indivíduos portadores de determinadas síndromes genéticas (i.e. Ataxia Telangiectasia, Anemia de Fanconi) quando submetidos à radioterapia (BENOTMANE, 2004; HALL; GIACCIA, 2006; WILLERS; HELD, 2006). Foi observado que as células provenientes dos indivíduos portadores destas síndromes genéticas eram mais radiossensíveis do que as 9 células de indivíduos não portadores. Posteriormente, foi constatado que essas síndromes estavam relacionadas à falhas no sistema de reparo de danos na molécula de DNA (BENOTMANE, 2004; BARNETT et al., 2009). A radiossensibilidade, no entanto, não está restrita a indivíduos portadores de síndrome genéticas desta natureza (TWARDELLA; CHANG-CLAUDE, 2002). Na verdade, estima-se que 10% da população em geral apresenta extrema sensibilidade às radiações ionizantes (ANDREASSEN et al., 2002; SEVERIN, et al., 2006;). O fenômeno da radiossensibilidade individual está diretamente relacionado com a resposta celular à irradiação. Deste modo, a radiossensibilidade do indivíduo pode ser entendida como um fenômeno resultante da radiossensibilidade celular, ou seja, da capacidade celular de reparar o dano radioinduzido, assim quanto mais radiossensivel for o individuo maior será o potencial genotóxico das RIs (FEI; EL-DEIRY, 2003). No intuito de se estabelece uma correlação entre a radiossensibilidade individual e características ligadas ao individuo, diversos mecanismos tem sido investigados ao nével celular e tecidual. (WILLERS; HELD, 2006). A importância destes estudos deve-se ao fato de que uma radiossensibilidade exacerbada, e consequente agravamento dos efeitos secundários, pode exigir a interrupção da radioterapia, o que pode comprometer o resultado do tratamento (VILLARÍN, et al. 2005). 2.4 Resposta celular às radiações ionizantes As RIs ao interagirem com o meio biológico podem causar danos em várias estruturas celulares. O DNA é considerado a principal molécula alvo para estudos em radiobiologia, devido à sua importância biológica, uma vez que esta molécula contém as informações genéticas do indivíduo e atua no controle do metabolismo celular 10 (POUGET; MATHER, 2001). Os danos radioinduzidos no DNA podem ser gerados através do efeito direto ou do efeito indireto (Figura 2) (POUGET; MATHER, 2001; GUDKOV; KOMAROVA, 2003). Figura 2 - Efeito direto e efeito indireto da radiação Fonte: Adaptada da U.S National Library of Medicine No efeito direto, a radiação interage diretamente com a molécula celular alvo, no caso da Figura 2, a molécula de DNA, ionizando–a. Já o efeito indireto das radiações se caracteriza pela interação da RI com outras moléculas (água, por exemplo) produzindo radicais livres, que podem acarretar danos a esta molécula (BARCELLOS-HOFF et al., 2005). Dos danos celulares radioinduzidos, 60% são produzidos a partir do efeito indireto, visto que 80% do interior da célula é composto de água, o que aumenta a probabilidade de interação das RIs com esta molécula (BARCELLOS-HOFF et al., 2005). Os radicais livres podem ser definidos como espécies que contém um ou mais elétrons desemparelhados, e são caracterizados por serem muito reativos e instáveis, 11 possuindo tempo curto de vida (SANTOS; CRUZ, 2001). A interação da RI produz diversos destes radicais, como o OH- (radical hidroxila) e HO2- (radical hidroperoxila), bem como outras moléculas, a exemplo do H2O2 (peróxido de hidrogênio) que são capazes de danificar a molécula alvo (BARCELLOS-HOFF et al., 2005). Diversos tipos de danos radioinduzidos podem afetar o DNA, tais como as quebras em uma só fita (SSBs–Single Strand Breaks) ou em ambas as fitas de DNA (DSBs-Double Strand Breaks). Dos tipos de danos possíveis as DSBs são as que representam uma maior toxicidade, devido a dificuldade de reparo desse tipo de dano pela maquinaria celular, sendo capazes até mesmo de ativar vias que podem induzir a morte celular (O’DRISCOLL; JEGGO, 2006; BORGES et al., 2008; BOEHME et al., 2008). Na tentativa de eliminar os danos no DNA, as células elaboraram mecanismos para identificar e reparar estes danos, restaurar corretamente o material genético, e com isso, manter a integridade do genoma e de suas informações (O’DRISCOLL; JEGGO, 2006; BOEHME et al., 2008; BORGES et al., 2008). De outra maneira, a manutenção de lesões ou erros no reparo do DNA poderia resultar no surgimento de mutações e ou alterações cromossômicas capazes de induzir o desenvolvimento de tumores malignos ou morte da célula (MISTELI; SOUTOGLOU, 2009). 2.5 Proteína p53 e resposta celular Nos mecanismos de defesa elaborados para recuperar o DNA de danos, uma das proteínas chave na coordenação do reparo do DNA, na progressão do ciclo celular e na apoptose é a p53. Considerada a “Guardiã do Genoma”, esta proteína estando relacionada com a manutenção da estabilidade genômica tem a capacidade de ativar e reprimir a transcrição de genes em resposta aos diversos estresses, inclusive por radiação (FEI; EL-DEIRY, 2003). 12 Normalmente, a proteína p53 se encontra em baixas concentrações por ter uma vida média em torno de vinte minutos. O nível da expressão da p53 aumenta após um dano, porque além do aumento de transcrição, a vida média da proteína é prolongada (LAKIN; JACKSON, 1999). O aumento da expressão do gene TP53 ocorre através de uma via de sinal de transdução. Esta mesma via também converte a forma estável da proteína p53 para uma forma ativa, através da fosforilação da proteína ATM (Ataxia Telangiectasia Mutated) (LOWNDES; MURGUIA, 2000; ALBERTS, 2004). A sequência do fator de transcrição da p53 coordena a expressão de um grande número de genes alvo que participam das respostas celulares após uma situação de estresse (MENENDEZ et al., 2009). Uma das vias usadas pela proteína p53 para a manutenção da estabilidade genômica após exposição à radiação, é a parada do ciclo celular nos pontos de checagem (checkpoints). (LOWNDES; MURGUIA, 2000; FEI; EL-DEIRY, 2003; PAWLIK; KEYOMARSI, 2004). A p53 coordena os dois principais pontos de reparação do DNA, um deles entre as fases G1 e S e o segundo na transição entre G2 e M (PAWLIK; KEYOMARSI, 2004). A parada do ciclo celular em G1 é feita através do aumento da p53, que regula a proteína p21. Níveis elevados de p21 inibem as ciclinas dependentes de quinase (Cdk), impedindo assim a progressão do ciclo celular (LAKIN; JACKSON, 1999; PECORINO, 2008). Há evidências que o aumento da proteína p53 também implica, pelo menos em parte, na parada do ciclo celular na fase G2, através da ativação do gene GADD45 e de membros da família 14-3-3 (LAKIN; JACKSON, 1999; FEI; ELDEIRY, 2003). Ao contrário da atuação indireta da p53 na parada do ciclo celular, a qual é mediada por genes alvos que inibem as CDKs, a p53 pode atuar diretamente no reparo de quebras do DNA ligando-se não especificamente após quebras simples e quebras duplas, detectando regiões de danos e promovendo o emparelhamento dos ácidos 13 nucléicos. Outros genes alvos, como o p53R2, também exercem funções importantes no reparo de danos do DNA (FEI; EL-DEIRY, 2003). Quando o dano ao DNA não é reparado, ou reparado de forma errônea, a apoptose (morte celular programada), mediada pela proteína p53, pode ser iniciada. A p53 regula um grande número de genes alvo com atividades pró-apoptóticas: NOXA (também conhecida como PMAIP1 - Phorbol-12-myristate-13-acetate-induced protein 1), PUMA (p53 upregulated modulator of apoptosis), BAX (Bcl-2 associated X protein), CD95 (Cluster of differentiation 95), KILLER/DR5, PERP, PIDD, P53Aip1, BID, entre outros (FEI; EL-DEIRY, 2003). A Figura 3 ilustra o esquema de atuação da proteína p53 após dano provocado pelas radiações ionizantes. 14 Figura 3- Esquema das vias de atuação da p53 após estresse celular P53 Expressão dos genes-alvo P21 / Gadd45/ 14-3-3 / Outros P53R2/ Outros Parada do ciclo celular PUMA/ NOXA/ DR5/ p53Aip1/ Apaf1/ Caspase6/ Bid/ Outros Reparo do DNA P53 Apoptose DNA não reparado Sobrevivência da célula Adaptada de FEI; EL-DEIRY, 2003 Cavalcanti e colaboradores (2008) identificaram, avaliando linfócitos do sangue periférico irradiados in vitro, diferentes níveis de expressão desta proteína entre os indivíduos avaliados. Esta variação interindividual indica que a avaliação da expressão desta proteína é importante para detecção da radiossensibilidade individual, visto que 15 ela está diretamente ligada com o reparo e a morte celular (ALBERTS, 2004; ROSSNER, 2004). O estudo do comportamento individual da proteína p53 é importante a gravidade dos danos depende do tipo de radiação, da dose administrada e da capacidade celular individual de reparar os danos radioinduzidos (FAVAUDON, 2007). Neste contexto, a avaliação de parâmetros bioquímicos, como a expressão da proteína p53 em células do sangue periférico, a exemplo dos linfócitos, pode resultar no desenvolvimento de um teste capaz de identificar previamente a radiossensibilidade individual (AZRIA et al., 2008), visto que a utilização dos linfócitos como tecido representativo da radiossensibilidade individual do tecido sadio já é bem validada (SHIH, et al., 2007). 2. 6 Linfócitos Humanos Funcionalmente, os linfócitos humanos são células que atuam principalmente na resposta imunológica específica que o organismo desenvolve para combater agentes externos. Para isto, estas células permanecem inativas, até o encontro e reconhecimento de uma substância capaz de ativá–las. A ocorrência deste evento necessário para induzir a proliferação e diferenciação destas células na resposta imune (JANEWAY, et al., 2007). Morfologicamente, os linfócitos apresentam um núcleo grande com regiões de cromatina condensada e inativa, e um citoplasma escasso com poucas organelas (Figura 4). Tais características indicam que os linfócitos possuem uma baixa atividade transcricional e, consequentemente, metabólica (JANEWAY et al., 2007). 16 Figura 4 - Linfócito humano visualizado por microscopia óptica Fonte: (FENECH et al., 2003) Existem cerca de 2 x 1012 linfócitos no corpo humano, o que faz com que sua massa celular total seja comparada com a de órgãos como o fígado ou cérebro, por exemplo (ALBERTS, 2004). Estas células são transportadas entre os diferentes sítios de localização através da circulação sanguínea e linfática: sua circulação é continua entre sangue e os tecidos linfóides periféricos, retornando para o sangue através dos vasos linfáticos (ABBAS; LICHTMAN, 2005). Dessa maneira, os linfócitos são células que estão constantemente em circulação entre os tecidos que compõem o organismo, levando aproximadamente 30 minutos para completar um ciclo completo de recirculação no organismo humano. Cerca de 2% da população linfocitária total é encontrada no sangue venoso periférico (JANEWAY et al., 2007). A utilização de linfócitos do sangue periférico em pesquisa de radiossensibilidade é um fator que aumenta a rapidez das análises, já que estas células são de mais fácil obtenção, por estarem presentes em grande quantidade no sangue periférico e serem de fácil manipulação laboratorial (ALMODÓVAR et al., 2002; LEONG et al., 2004; HENRÍQUEZ-HERNÁNDEZ, et al., 2012). Além disso, foi demonstrado que os linfócitos do sangue podem ser um tecido substituto valido para a estimativa da resposta a danos celulares e reparação de outros tecidos do corpo (SHIH, et al., 2007). 17 Neste sentido, linfócitos são bons modelos biológicos para a investigação de alterações de parâmetros celulares e moleculares, como a expressão da proteína p53, no intuito desenvolver um teste preditivo de radiossensibilidade individual. 2.7 Ferramentas de análise da proteína p53 A detecção da proteína p53 pode ser realizada por métodos como imunohistoquímica, imunocitoquímica, Western Blot e citometria de Fluxo. O método de imunohistoquimica é um dos mais utilizados para este fim e consiste no uso de anticorpos monoclonais (AcMo) que reconhecem a proteína p53 e para detectar sua expressão em cortes histológicos, no entanto alterações na fixação do tecido, modo de incubação e a subjetividade na contagem podem diminuir a sensibilidade da técnica. O tempo de análise também é bastante longo (KLUMB, et al, 2002; CAVALCANTI JUNIOR, et al., 2006). Na imunocitoquímica células em suspensão ou fixadas em lâminas, que são incubadas com AcMo anti-p53. Esta técnica apresenta a vantagem de identificar a localização precisa da proteína no núcleo da célula e ainda de correlacionar os resultados obtidos com a análise citomorfológica (KLUMB, et al, 2002; CAVALCANTI JUNIOR, et al., 2006). O principal fator limitante da técnica é a necessidade da manutenção do material a temperaturas muito baixas (-70ºC), devido a rápida degradação da p53 (KLUMB et al, 2002). O método de Western Blot consiste na realização de uma eletroforese em gel de poliacrilamida para determinação do peso molecular da proteína aliada à especificidade da imunoquímica (TURPEINEN et al., 2002). Este método possui alto poder de resolução, entretanto é pouco utilizado, pois se trata de uma metodologia demorada, que constituída de várias etapas, e requer a necessidade de muitos equipamentos e manipulação de substâncias químicas tóxicas, o que eleva o custo de execução e 18 dificulta sua utilização para análise de um número elevado de amostras (KLUMB et al, 2002; CAVALCANTI JUNIOR et al., 2006). A citometria de fluxo (CF) tem se destacado como método de escolha na detecção de antígenos presentes na superfície das células, intracitoplasmáticos e nucleares. Trata-se de uma tecnologia semi-automatizada utilizada para o estudo de populações celulares heterogêneas, e se distingue das demais por apresentar maior praticidade e por permitir a avaliação de mais de uma proteína ao mesmo tempo, quando necessário (KLUMB, et al, 2002; CAVALCANTI JUNIOR, et al., 2006). Através da CF é possível avaliar parâmetros físicos e bioquímicos apresentados por uma única célula (ELMORE, 2007). As principais vantagens da citometria de fluxo estão associadas à sua capacidade analítica. Um alto número de eventos pode ser analisado em questão de segundos, podendo chegar a cerca de 20 000 células por segundo, contra cerca de 200 células contadas no método de imunocitoquímica, sendo o primeiro mais representativo estatisticamente (KLUMB, et al, 2002). O equipamento que realiza estas análises é o citômetro de fluxo que é composto basicamente por três sistemas físicos complementares: Sistema de fluxo: Responsável por transportar as células em fila indiana, individualmente, na camada de fluxo, para que estas sejam posicionadas no centro de um feixe de laser. Sistema óptico: Consiste em um feixe de laser que intercepta a célula, e por um conjunto de filtros ópticos (espelhos dicróicos) que captam a luz dispersa e emitida por fluorocromos; 19 Sistema eletrônico: Converte os sinais luminosos detectados em sinais eletrônicos (tensão), que são processados e analisados pelo sistema computacional (BACAL; FAULHABER, 2003). Na CF as células são marcadas com um anticorpo específico conjugado a um fluorocromo. Em seguida estas células são introduzidas no citômetro por aspiração e são transportadas dispostas em fila indiana para as câmeras de fluxo através de um líquido isotônico, onde o laser interceptará a célula, como visualizado na Figura 5 (BACAL; FAULHABER, 2003). O feixe de laser ao atingir uma célula ou partícula será disperso proporcionalmente ao tamanho desta célula ou partícula e captado por um detector frontal ao feixe, o Forward Scatter ou FSC. A dispersão lateral, ocasionada também pela incidência do feixe de laser, que define a granulosidade e a complexidade da célula será captada por espelhos laterais, Side Scatter ou SSC (BACAL, 2003). Correlacionando as medidas do FSC e SSC é possível diferenciar células em uma população heterogênea. 20 Figura 5 – Sistema de fluxo e detectores de dispersão frontal (FSC) e lateral (SSC) Side Scatter - SSC Adaptado de http://probes.invitrogen.com Forward Scatter - FSC Feixe de laser Fonte: Adaptado de http://probes.invitrogen.com As positividade a com um anticorpo conjugado a um fluorocromo é identificada através do fenômeno de fluorescência, que ocorre quando um composto absorve a energia da luz e emite sua própria luz, a uma escala de comprimentos de onda característica para aquele composto (BECTON, DICKINSON AND COMPANY, 2000). Os citômetros de fluxo utilizam canais de fluorescência separados (FL) para detectar a luz emitida. Os detectores são fotodiodos ou tubos fotomultiplicadores (PMTs), onde fotodiodos são normalmente utilizados para medir a dispersão e os PMTs,por serem instrumentos mais, são ideais para leituras de fluorescência (BECTON, DICKINSON AND COMPANY, 2000). Quando a luz atinge um fotodetector uma pequena corrente é gerada. A sua tensão associada tem uma amplitude proporcional ao número total de fótons recebidos pelo detector. Os valores dos dados digitais são recebidos pelo computador e o software 21 traduz esta informação em imagens (histogramas e “dot plots”) para que se possa visualizar a informação (BECTON, DICKINSON AND COMPANY, 2000). A Tabela 2 mostra o resumo das principais diferenças entre as técnicas citadas como mais usadas para avaliação da proteína p53. Tabela 2 - Análise comparativa entre a imunochistoquímica, imunocitoquímica, Western Blot e citometria de fluxo Nº DE CÉLULAS AVALIADAS TEMPO DE ANÁLISE TIPO DE ANÁLISE PRECISÃO DA ANÁLISE TIPO DE TÉCNICA REPRODUTIBI LIDADE IMUNO- IMUNO- WESTERN CITOMETRIA HISTOQUIMICA CITOQUIMICA BLOT DE FLUXO 102-103 102-103 105-106 105-106 Horas Horas Dias Minutos Positivo/Negativo Positivo/Negativo Positivo/Negativo Multiparamétrica Subjetiva Subjetiva Subjetiva Manual Manual Manual Baixa Baixa Baixa Objetiva Semiautomatizada Alta Fonte: Adaptada de Cavalcanti Junior e colaboradores, 2003 Devido às vantagens e possibilidades do seu uso, a CF pode ser utilizada para avaliar a expressão proteica de uma célula, entre outros eventos celulares. 22 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Investigar possíveis correlações entre os níveis de expressão basal e pósirradiação da proteína p53 em linfócitos humanos avaliados por CF, e as reações adversas resultantes da radioterapia de pacientes com câncer de laringe. 3.2 Objetivos específicos Avaliar, por citometria de fluxo, os níveis de expressão da proteína p53 em linfócitos irradiados e não irradiados em pacientes com câncer de laringe; Avaliar a presença e o grau de intensidade das seguintes reações adversas: hiperemia cutânea, rouquidão, disfagia e odinofagia; Investigar possível correlação dos níveis de expressão individual da proteína p53, basal e após irradiação dos linfócito com os dados sobre as reações adversas documentadas; Avaliar a empregabilidade das análises em teste preditivo da radiossensibilidade. 23 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Perfil da pesquisa e aspectos éticos O estudo foi do tipo experimental ou ensaio clínico não randomizado, aprovado pelo comitê de ética do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) (nº do processo: 1939-11 – Anexo A). De acordo com as orientações do comitê de ética todos os indivíduos deveriam ser instruídos sobre a proposta do estudo, e mediante concordância, oficializarem sua inclusão no estudo por assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A). 4.2 Seleção da População Para seleção da população de estudo, foram aplicados os seguintes critérios: Critérios de inclusão: Pacientes do IMIP Indivíduos portadores de neoplasia de laringe em fase inicial (T1 e T2); Indivíduos que seriam submetidos exclusivamente à radioterapia; Indivíduos que não passaram por quimioterapia durante o tratamento; Indivíduos que tenham conhecimento de não terem sido submetidos a agentes químicos ou físicos que possam danificar o DNA, antes do início do tratamento; Indivíduos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido/TCLE As informações acerca do estágio da patologia e terapias utilizadas foram obtidas a partir de prontuários e informações do médico que estava acompanhando cada paciente. 24 Critérios de exclusão: Recusa do indivíduo em continuar sua participação na pesquisa; Circunstâncias materiais ou logísticas que tornassem impossível o desenrolar normal da investigação. Por fim, a população de estudo foi de 10 pacientes. 4.3 Coleta das amostras A coleta das amostras foi realizada no IMIP, antes do início do tratamento radioterápico. Para a punção de cada paciente foi realizada a assepsia da porção anterior do braço do paciente com álcool a 70%, e, utilizando sistema a vácuo, foram coletados 12 mL de sangue periférico venoso contendo o anticoagulante heparina sódica. As amostras foram devidamente identificadas e divididas em duas alíquotas de 3 mL cada. 4.4 Irradiação das amostras As amostras foram irradiadas em um acelerador linear de partículas (Siemens / Primus) pertencente ao setor de radioterapia do IMIP com taxa de dose de 200 cGy.min1 e energia de 6 MeV. A Figura 6 ilustra o processo de irradiação das amostras sanguíneas. Figura 6 - Arranjo experimental para irradiação das amostras sanguíneas em acelerador linear 25 Duas seringas contendo 3 mL de sangue foram inseridas, uma por vez, em um fantoma de água sólida com densidade semelhante ao tecido mole humano (ρ = 1 g.cm3 ) e foram posicionadas no centro do campo de irradiação (10cm x 10cm), a uma distância de 100 cm entre o campo de origem da radiação e a superfície do bloco de água sólida. A dose de radiação X administrada foi de 2 Gy. A escolha por esta dose foi feita com base no tratamento radioterápico convencional, esta dose é compatível com a dose administrada por fração na radioterapia aplicada aos pacientes (2,25 Gy). Uma alíquota não foi irradiada, sendo, portanto, o controle negativo do estudo. Após a irradiação, as amostras foram acondicionadas em recipiente térmico e transportadas ao Laboratório de Modelagem e Biodosimetria Aplicada (LAMBDA), no Departamento de Energia Nuclear (DEN) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para processamento. 4.5 Obtenção das células mononucleares Para obtenção das células mononucleares (PBMC – Peripheral Blood Mononuclear Cells), todas as amostras foram diluídas em solução salina tamponada com fosfato (PBS - Phosphate Buffered Saline, pH = 7,2-7,4) na proporção de 1:1, e em seguida depositadas individualmente sobre uma solução de Ficoll (GE Healthcare) na proporção de 2:1, respectivamente. As amostras foram então centrifugadas a 400 x g durante 35 minutos. Após a centrifugação, o sangue foi separado em seus elementos principais de acordo com a densidade, o que possibilitou a obtenção da PBMC, onde estão os linfócitos (células de interesse desse estudo). A Figura 7 ilustra o processo de separação do sangue por densidade e localização das PBMCs. 26 Figura 7 - Esquema da metodologia de obtenção das células mononucleares do sangue periférico Plasma Sangue Total PBMC Ficoll Ficoll Outras células PBMC Centrifugação ( 400 x g /35’) Fonte: Adaptado de Freitas-Silva, 2010 A camada de PBMC obtida foi removida por aspiração e transferida para outro tubo. Em seguida, foi adicionado PBS na proporção de 1:2, respectivamente, para retirada de resíduos de Ficoll das células. Após isso, as amostras celulares foram centrifugadas a 250 x g por 10 minutos. Esta etapa foi repetida mais uma vez. Após o término da centrifugação, o sobrenadante contido no tubo foi desprezado e, em seguida, adicionado 1 mL de meio de cultivo RPMI 1640 (Cultilab) suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB - Cultilab) ao botão celular obtido. A partir dessa suspensão celular, foram analisadas a viabilidade celular e realizado o ajuste da concentração celular. 4.6 Avaliação da viabilidade celular e ajuste da concentração celular Para tal procedimento, um volume de 10 µL da suspensão celular obtida no item anterior (item 4.5) foi adicionado a 90 µL do corante azul de tripan 0,4% v/v (Sigma). Este corante azul de tripan é capaz de corar células com danos na membrana celular (não viáveis), que podem ser visualizadas através de microscopia óptica convencional. Desta maneira, só foram consideradas viáveis as células não marcadas pelo azul de tripan. 27 As suspensões foram consideradas adequadas para o cultivo quando a viabilidade foi maior que 90%. Com base na analise e contagem realizada, foi realizado o ajuste da concentração da suspensão celular inicial. A concentração celular foi ajustada para 2 x 106 células.mL-1. 4.7 Cultivo celular Para o cultivo celular, 100 µL da suspensão celular ajustada (isto é, 2 x 105 células) foram depositados em placas de cultura de 96 poços com fundo chato (Techno Plastic Products-TPP). Após a deposição das células nas placas, foi adicionado 100 µL de meio RPMI 1640 suplementado com 10% de SFB contendo o mitógeno fitohemaglutinina (Cultilab) para estimular o crescimento e proliferação dos linfócitos T. A concentração final deste agente foi ajustada para 10 µg.mL-1 por poço da placa de cultivo celular. As células foram cultivadas em incubadora com 5% de CO2 a 37o C durante 72 horas. 4.8 Marcação das amostras O protocolo para esta pesquisa baseou-se no trabalho de Cavalcanti (2005), o qual padronizou a técnica de avaliação da p53 por citometria de fluxo para o LAMBDA, com adaptações. Após o término do cultivo, as células foram transferidas para tubos de citometria, perfazendo 6 x 105 células/tubo. As amostras celulares foram centrifugadas a 300 x g por 5 minutos e, ao término da centrifugação, o sobrenadante obtido foi 28 descartado e, às células contidas no tubo, foi adicionado um volume de 100 µL de PBS gelado. As amostras foram centrifugadas novamente (300 x g por 5 minutos). Após o descarte do sobrenadante, foram adicionados 300 µL de paraformaldeído a 4% e incubou-se os tubos em gelo durante 20 minutos. Logo após as células foram centrifugadas a 400 x g durante 5 minutos e foram adicionados 300 µL de solução permeabilizante (Perm / wash – BD), a fim de deixar a membranas das células permeáveis aos anticorpos a serem aplicados posteriormente. As células foram centrifugadas a 400 x g durante 5 minutos, seguido do descarte do sobrenadante. Este procedimento foi repetido mais uma vez. Às células permeabilizadas foram adicionados 100 µL de perm/wash e, em seguida, todas as amostras (não irradiadas e irradiadas) foram marcadas com anticorpo monoclonal anti-p53conjugado a molécula de PE (ficoeritrina). As amostras não irradiadas foram marcadas ainda com o anticorpo anti-IgG1-PE, para detecção de marcações inespecíficas e uma alíquota foi mantida sem marcação para ajuste dos parâmetros de aquisição do citômetro de fluxo. Em seguida, as amostras foram incubadas por 30 minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Após o período de incubação, as amostras foram ressuspensas duas vezes com perm/wash e centrifugadas a 400 x g por 5 minutos para remoção de anticorpos que não se ligaram. Finalizado, foi adicionado a cada tubo um volume de 500 µL de perm/wash e as células seguiram para a análise por citometria de fluxo. 4.9 Citometria de fluxo As células foram adquiridas no citômetro de fluxo Gallios da Beckman Coulter (Figura 8) do LAMBDA-DEN/UFPE. As aquisições foram feitas utilizando-se o software Gallios (Beckman Coulter), eas análises, o software Kaluza (versão 1.0, Beckman Coulter). 29 Figura 8 - Citômetro de Fluxo do LAMBDA – DEN / UFPE As leituras foram iniciadas com a amostra não marcada. O laser utilizado foi o de argônio (488 nm), que é capaz de excitar as moléculas de PE, cujo sinal é detectado no canal FL2 (585/42 nm). A voltagem e ganho dos detectores do equipamento foram ajustados de forma que fosse possível a identificação e delimitação da região de células de interesse. Os dados obtidos foram apresentados em dot-plots bidimensionais (2-D) do tipo densidade, nos quais dois parâmetros em questão são dispostos em um único gráfico, onde o eixo horizontal apresenta o sinal captado pelo detector FSC, enquanto o eixo vertical apresenta o sinal captado pelo detector SSC. Foram adquiridos 50.000 eventos para cada amostra. A Figura 9 ilustra o gráfico de aquisição usado para delimitação dos linfócitos através dos parâmetros de FSC e SSC. Para as análises dos dados foi utilizado o software Kaluza (Beckman Coulter). 30 Figura 9 - Gráfico de aquisição para delimitação dos linfócitos (FSC X SSC) A Figura 10 mostra um exemplo de dot plot obtido durante o presente trabalho, onde o quadrante superior esquerdo apresenta as células que apresentaram fluorescência, isto é, foram positivas para p53; enquanto o quadrante inferior esquerdo ilustra as células negativas para o parâmetro avaliado. A partir das células de interesse foi verificada a positividade para o fluorocromo PE, identificado em dot plot com os parâmetros FL1 por FL2. Esta leitura foi realizada para todas as amostras (Não marcada, IgG1-PE, p3-PE não irradiado, p53-PE irradiado). 31 Figura 10 - Dot plot apresentando o sinal captado pelos detectores FL1 e FL2 de linfócitos irradiados marcados com anticorpo anti-p53 22,07% O resultado final da expressão da proteína p53 foi determinado através da subtração do percentual de células positivas para o controle isotípico (IgG) do percentual de células positivas para as amostras marcadas com p53 - não irradiadas e irradiadas, afim de retirar as possíveis marcações inespecíficas do resultado final. O resultado da expressão da p53 foi dado em termos percentuais (%). A Figura 11 mostra o esquema da metodologia que foi utilizada no presente estudo, para avaliação da proteína p53 em sangue periférico irradiado in vitro. 32 Figura 11 - Esquema da Metodologia para avaliação da expressão da proteína p53 em sangue periférico irradiado 1) Coleta de sangue periférico (10 pacientes) 2) 2,0 Gy Não irradiado 3) Plasma Sangue Total PBMC* Ficoll Ficoll PBMC* Outras células Isolamento das Células Mononucleares do Sangue Periférico (PBMC) Cultura celular (72 horas; 37°C e 5% CO2) Controle Não marcado Controle IgG Controle p53 2,0 Gy p53 Permeabilização e Marcação das células 4) Análise – Citômetro de Fluxo 33 4.10 Tratamento dos pacientes O tratamento dos pacientes foi realizado segundo protocolo do IMIP. Para os pacientes com tumores com estadiamento T1 o tratamento consistiu em 28 frações de 2,25 Gy, totalizando 63 Gy; já para os pacientes com o estadiamento do tumor em T2 foram feitas 29 aplicações de 2,25 Gy, totalizando assim 65,25 Gy. O protocolo do serviço de radioterapia do IMIP recomenda que após cada seção e 3 vezes ao dia, seja feito o uso de uma loção oleosa à base de ácidos graxos essenciais, com vitaminas A e E (Dersani) para manter o equilíbrio hídrico da pele, a fim de minimizar as reações adversas apresentados pela pele durante e após a radioterapia. Este procedimento foi mantido por questões éticas. 4.11 Acompanhamento dos pacientes e avaliação das reações adversas Para acompanhamento dos pacientes foi utilizada a Ficha de Tratamento (Anexo B), onde constam os dados e parâmetros de tratamento, com resumos das revisões periódicas de cada paciente realizadas a cada 15 dias de tratamento, inclusive após o termino do mesmo. Para avaliação das reações adversas foi utilizada a Ficha de Acompanhamento (Apêndice B), onde são documentados os graus das reações adversas (hiperemia cutânea, rouquidão, disfagia e odinofagia) que ocorreram durante o tratamento, observados pelos médicos e pelos próprios pacientes. Os dados foram utilizados para avaliar a radiossensibilidade individual dos pacientes. Segundo parâmetros da RTGO foi construída uma escala para avaliação das reações adversas que foram apresentadas pelos pacientes, a qual é apresentada na Tabela 3. 34 Tabela 3 - Escala dos graus de reações adversas para avaliação dos pacientes Escala das Reações Adversas NA Não apresentada + Leve ++ Moderada +++ Severa Fonte: Adaptada da RTOG, 2011 As reações adversas analisadas foram: hiperemia cutânea, rouquidão, disfagia e odinofagia. 4.11.1 Hiperemia Cutânea Para avaliação do grau das reações adversas de pele foram registradas imagens pré e pós-tratamento, visando avaliar o grau das reações adversas de pele apresentados em reação ao tratamento radioterápico. As imagens pré-tratamento foram registradas antes da primeira aplicação de radioterapia e as imagens pós-tratamento foram adquiridas logo após a última sessão. Todas as imagens foram avaliadas por uma equipe médica, composta por quatro radioterapeutas, dos quais somente um teve contato direto com os pacientes do estudo. É importante salientar que esta análise foi realizada por cada médico separadamente, e que os avaliadores não tiveram contato com os outros dados do estudo, como a expressão da proteína p53, caracterizando o estudo como duplo cego. Buscou-se assim, uma avaliação isenta e objetiva de cada profissional sobre os graus das reações adversas de cada paciente. A Figura 12 mostra exemplos de diferentes graus de reações adversas apresentadas pelos pacientes, avaliadas pelos radioterapeutas. Em A constam registros de antes do inicio da radioterapia (à esquerda) e após o tratamento (à direita) de um paciente que teve reações adversas de grau leve, caracterizada apenas por vermelhidão na região do tratamento. Em B encontra-se ilustrada uma reação adversa de grau moderada, apresentando vermelhidão e descamação seca. Em C observa-se uma reação 35 adversa severa, onde se pode observar vermelhidão intensa e descamação aquosa após a radioterapia. Figura 12 - Graus de reações adversas apresentadas pelos pacientes após a raditerapia A ( (Grau Leve) B (Grau Moderado) C (Grau Severo) 36 4.11.2 Rouquidão, Disfagia e Odinofagia As reações adversas referentes à rouquidão, disfagia e odinofagia foram avaliados segundo informações fornecidas pelos próprios pacientes, seguindo a mesma escala construída para as reações adversas de pele (que varia de “não apresentada” a “severa”). Rancati e colaboradores (2010) utilizaram uma escala de avaliação das reações adversas semelhante à do presente trabalho. Para rouquidão, os seguintes parâmetros foram considerados para a classificação da intensidade: Não apresentada (NA) - paciente não apresentava diferença vocal antes e depois do tratamento; Leve (+) - ligeira mudança na voz, porém sem dificuldades na fala; Moderada (++) - além de apresentar mudança vocal, o paciente também sentia dificuldades no ato de falar; Severa (+++) - o paciente sentia grande dificuldade para falar, impedindo-o de exercer a fala fluentemente. As reações adversas de disfagia (dificuldade ao engolir) e odinofagia (dor ao engolir) são próximas e podem ser designadas como dificuldade para engolir de uma forma geral, uma vez que os pacientes tiveram a mesma percepção a respeito dos graus de severidade de ambas as reações, descrevendo os parâmetros de disfagia e odinofagia como sendo de igual intensidade. Esta resposta também foi encontrada por Caglar e colaboradores (2008), e por Jensen e colaboradores (2007) que também não conseguiram distinguir este parâmetro nos seus estudos, caracterizando ambos como dificuldade de engolir. Os parâmetros para a classificação da intensidade das reações adversas de Disfagia e Odinofagia: 37 Não apresentada (NA) - o paciente não sentia diferença na maneira de deglutir em comparação à sua condição antes do tratamento; Leve (+) - o paciente conseguia comer alimentos sólidos, porém sentia maiores dificuldades se comparado à antes do tratamento; Moderada (++) - o paciente não conseguia deglutir todos os tipos de alimentos que comia antes do tratamento, mas ainda se alimentava de alimentos sólidos; Severa (+++) - o paciente não conseguia comer alimentos sólidos. 4. 2 Análise estatística Para a comparação das expressões da proteína p53 das amostras controle com às amostras irradiadas, bem como para comparação entre os indivíduos foi utilizada a análise da variância (ANOVA), ao nível de 5%. Foi realizado, como teste estatístico, a correlação de Spearman para verificar a correlação entre os resultados de expressão da proteína e os graus das reações adversas apresentadas pelos pacientes. O teste estatístico baseado na correlação de Spearman indica a força e a direção do relacionamento entre duas variáveis aleatórias. A Tabela 4 descreve como interpretar os valores do coeficiente de correlação de Spearman. Tabela 4 - Interpretação dos coeficientes de Spearman Valor de r 0,00 a 0,19 0,20 a 0,39 0,40 a 0,69 0,70 a 0,89 0,90 a 1,00 Interpretação Correlação bem fraca Correlação fraca Correlação moderada Correlação forte Correlação muito forte Fonte: Adaptada de MORETTIN e colaboradores, 2010 38 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Perfil dos pacientes A Tabela 5 mostra as principais informações dos pacientes avaliados no presente estudo. Tabela 5 - Descrição do perfil dos pacientes utilizados no presente estudo Pacientes Fumante Estadiamento SIM A SIM B NÃO C SIM D SIM E SIM F SIM G SIM H SIM I SIM J M-masculino; F-feminino; T1 T2 T1 T2 T2 T1 T2 T1 T1 T2 Sexo M M F F M M F M M M Idade (anos) 51 76 56 69 72 57 58 51 53 60 5.2 Expressão da proteína p53 A Tabela 6 mostra a porcentagem da expressão da proteína p53 de cada paciente em linfócitos não irradiados (controle) e irradiados com 2 Gy. Tabela 6 - Expressão da proteína p53 nas amostras controle e irradiada com dose de 2 Gy Pacientes A B C D E F G H I J Expressão da proteína p53 Controle 2 Gy Fator de aumento 0 6 ∞ 0,03 6,85 228,3 x 3,04 13,32 4,38 x 4,2 23,7 5,64 x 4,4 9,63 2,18 x 7,13 8,37 1,17 x 8,04 5,08 0x 11,02 10,63 0x 12,28 22,02 1,79 x 15,02 24,4 1,62 x 39 Os resultados mostraram aumento estatisticamente significante da expressão da p53 após exposição dos linfócitos à radiação (p < 0,0001). Nota-se também que este aumento ocorre de forma não homogênea, com significante variabilidade interindividual (p = 0,0003). Estes resultados corroboram com os de Cavalcanti e colaboradores (2011), que também identificaram aumento na expressão da proteína p53 com o aumento da dose de radiação em linfócitos humanos irradiados in vitro e cultivados durante 72 horas, bem como uma grande variabilidade entre os indivíduos analisados. Pode-se observar que houve uma variação significante da expressão basal da proteína p53 entre os pacientes avaliados. Rossner e colaboradores (2004), investigando a proteína p53 através da técnica de ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay) também encontraram uma grande variação da concentração basal da proteína p53 nos linfócitos dos indivíduos analisados. Ainda se sabe muito pouco sobre a dinâmica basal da proteína p53. Enquanto alguns trabalhos têm sugerido que a p53 é mantida em níveis baixos em condições basais (LOEWER, 2010), outros mostram variadas amplitudes da p53, ou mesmo que a quantidade de expressão é independente da quantidade de danos (GEZA-ZATORSKY et al., 2006). Levine (1997) afirma que o aumento dos níveis de expressão da proteína p53 é proporcional ao dano celular, ou seja, aumenta com o aumento da dose. A expressão basal da proteína p53 pode variar de acordo com o indivíduo, considerando-se que as células no corpo humano estão sofrendo pequenos estresses constantemente. O dano à estrutura do DNA é um evento comum e pode ocorrer através de hidrólises espontâneas e formação de radicais livres. Além disso, as células são expostas a vários outros tipos de estresses, como o estresse metabólico, que também ativam a p53 (LOEWER et al., 2010). 40 Tem sido relatado frequentemente que a alta expressão basal da p53 se relaciona fortemente com o tabagismo, hábito encontrado na maioria dos pacientes com câncer de laringe (KATO et al., 2001). De acordo com Rössner e colaboradores (2004) os níveis de expressão da proteína p53 em indivíduos fumantes são maiores quando comparados com aos indivíduos não fumantes. No presente estudo, todos os pacientes eram fumantes, com exceção do paciente C. Cavalcanti Júnior e colaboradores (2004) encontraram variações entre 0 e 4% na expressão basal da proteína p53 em linfócitos do sangue periférico de indivíduos sadios, no entanto no estudo citado não havia a informação se os doadores teriam sido expostos à algum agente químico, como o tabagismo, que pudesse interferir nos níveis de expressão basal desta proteína. 5.3 Reações adversas de pele e a expressão da proteína p53 Na Tabela 7 é possível observar os níveis das reações adversas de pele dos pacientes relacionado com o aumento da expressão basal da proteína p53, isto é, o percentual de células que expressam a proteína sem o estresse físico da radiação. Tabela 7 - Expressão basal individual da proteína p53 e graus de intensidade da reação adversa de pele Pacientes A B C D E F G H I J Expressão da proteína p53 (%) Controle (Não irradiado) 0 0.03 3.04 4.2 4.4 7.13 8.04 11.02 12.28 15.02 Reação adversa Pele +++ ++ + ++ + + +++ + ++ ++ NA- reação não apresentada; + leve; ++ moderada e +++ severa; 41 O valor calculado do coeficiente de Spearman foi de -0,1168, o que indica uma correlação bem fraca e não significativa (p > 0,05) entre os dados. A análise indica portanto, que não há correlação entre os diferentes graus de reações adversas de pele e a expressão basal da proteína p53. A Tabela 8 apresenta os níveis de reações adversas da pele dos pacientes e a expressão da proteína p53 nas amostras irradiadas com 2 Gy. Tabela 8- Expressão individual da proteína p53, após irradiação com a dose de 2 Gy e reação adversa de pele Pacientes Expressão da proteína p53 (%) Reação Adversa 2 Gy Pele G A B F E H C I D J 5,08 6 6,85 8,37 9,63 10,63 13,32 22,02 23,7 24,4 +++ +++ ++ + + + + ++ ++ ++ NA- reação não apresentada; + leve; ++ moderada e +++ severa O coeficiente de Spearman foi de 0,3114, sendo assim, houve uma correlação fraca e não significante estatisticamente (p > 0,05) entre os dados, isto é, não houve correlação entre os níveis de reação adversa de pele apresentada após a radioterapia com a expressão da p53 em linfócitos dos pacientes irradiados in vitro. 5.3.1 Estudo de caso Durante este trabalho, um dos pacientes foi reavaliado por um comitê de médicos radioterapeutas. Este paciente apresentou reações adversas de pele deste paciente leves, com vermelhidão, logo após o término da radioterapia. Entretanto, após 42 uma semana do término do tratamento, as reações de pele do mesmo paciente foram consideradas severas, apresentando ainda uma descamação aquosa, como ilustrado na Figura 13. Figura 13 - a) Paciente apresentando reação leve logo após o tratamento radioterápico; b) Mesmo paciente com reação considerada severa (provavelmente devido a interrupção da utilização do creme hidratante) após 1 semana do término do tratamento A B O paciente relatou ter parado de usar o creme hidratante logo após o término do tratamento radioterápico, o que não ocorreu com os demais pacientes, e esta interrupção do uso pode ter sido a causa do agravamento da lesão. Este caso em particular mostrou que a não utilização ou a irregularidade no uso do creme hidratante pode afetar o grau das reações adversas de pele, e o não controle deste parâmetro pode ter afetado diretamente o grau das reações adversas de pele de cada paciente não permitindo a devida correlação destes com a expressão da proteína p53. As razões para a aplicação tópica de cremes é o desconforto do paciente com coceiras, ardor e irritação da pele. Tais sintomas podem ser agravados pelo ressecamento de áreas com excesso de queratina (LAVERY, 1995). 43 Ponten e colaboradores (2001) afirmam que o uso tópico de cremes corticosteroides tem efeito radioprotetor, reduzindo o grau de intensidade de reações adversas agudas radioinduzida. Como dito anteriormente, o creme Dersani revitaliza e mantem o balanço hídrico da pele, e possui em sua composição vitaminas A e E. A vitamina A protege a epiderme contra os danos mediados por radicais livres, atuando como antioxidante através da sua capacidade de inibição da oxidação de compostos pelos peróxidos. Além disso, a vitamina A participa de inúmeros processos fisiológicos, dentre eles a manutenção da integridade das células epiteliais (REIFEN, 2002). A vitamina A tem se mostrado eficiente também como agente antiinflamatório, incluindo inflamação a nível epitelial, onde sua aplicação tópica aumenta a renovação celular, tornando a epiderme mais fina, diminuindo desta forma, o surgimento de tampões queratinosos (REIFEN, 2002). A vitamina E é outro antioxidante de grande importância (WOLF et al., 1998; SANTOS; CRUZ, 2001), protegendo, principalmente os tecidos adiposos da ação dos radicais livres. Outra atividade importante da vitamina E, é a atuação na interrupção do ciclo celular na fase G1 podendo conduzir a célula para a apoptose (SANTOS; CRUZ, 2001). Deficiências da vitamina E, fazem com o que os danos produzidos pelos radicais livres causem peroxidação lipídica, e consequentemente destruição da célula (SANTOS; CRUZ, 2001; YILMAZ, 2006). A vitamina E, além de contribuir para a eliminação de radicais livres gerados pela irradiação, e portanto, apresentar-se como um agente radioprotetor dos tecidos normais durante a radioterapia (YILMAZ, 2006), também é um poderoso agente antiinflamatório (BRUUNSGAARD et al., 2003). Rahman e colaboradores (2008) constataram que a aplicação tópica desta vitamina diminui o índice de inflamação cutânea. As propriedades apresentadas pelas vitaminas A e E possivelmente levaram a uma diminuição do efeito indireto da radiação, pelo combate aos radicais livres, diminuindo assim os danos celulares provocados pela radioterapia. A reação 44 antiinflamatória e de renovação celular pode ter influenciado nos graus de descamação e queratinização da pele, apresentados por alguns pacientes. O estudo de caso deste paciente em particular sugere, portanto, que a frequência do uso ou a não utilização do creme pode interferir nos níveis de reações adversas apresentadas pela pele, o que pode explicar a não correlação com a expressão da proteína p53. Wells e colaboradores (2004) não encontraram diferenças significativas de reações adversas entre grupos que usaram cremes hidratantes e grupos que não fizeram o uso destes, diferentemente do presente estudo, que identificou uma alteração da avaliação do paciente após a interrupção do uso do creme recomendado. Campbell e Illingworth (1992) observaram que até mesmo a maneira de lavagem do local irradiado afeta o grau das reações adversas da radioterapia. Os pesquisadores monitoraram três tipos de lavagens em pacientes com câncer de mama submetidas à radioterapia, onde um grupo não lavou a área irradiada, o segundo grupo lavou somente com água e o último grupo fez a lavagem da área irradiada com água e sabão neutro. Como resultado, obtiveram um decréscimo significante nos graus das reações adversas apresentadas, como eritema e descamação, nas pacientes que usaram água e sabão neutro para lavar a região. Outros fatores também podem contribuir para a variação de severidade das reações de pele, como o sítio do tratamento, volume do tecido irradiado, dose, fracionamento da dose e tempo de irradiação, combinação com a quimioterapia, tabagismo e predisposição genética (WELLS et al., 2004; MCQUESTION, 2006). No presente estudo todos os parâmetros mencionados acima foram controlados, permitindo que a predisposição genética ou radiossensibilidade individual fosse avaliada. Entre os 10 pacientes avaliados, apenas um era não fumante e o resultado das reações adversas de pele não mostrou diferença entre os grupos. 45 5.3 Reações adversas de rouquidão, disfagia e odinofagia e a expressão da proteína p53 A Tabela 9 mostra a correlação do percentual de expressão da proteína p53 nas células não irradiadas (controle) com os graus de reações adversas apresentadas por cada um dos pacientes. Tabela 9 - Expressão basal individual da proteína p53 e correlação com os graus de rouquidão, disfagia e odinofagia. Pacientes Expressão da proteína p53 (%) Reações adversas Controle (Não irradiado) Rouquidão Disfagia / Odinofagia A 0 ++ ++ B 0.03 ++ ++ C 3.04 + + D 4.2 ++ ++ E 4.4 ++ ++ F 7.13 + + G 8.04 + + H 11.02 + NA I 12.28 + + J 15.02 + + NA- reação não apresentada; + leve; ++ moderada e +++ severa Para os níveis de rouquidão, o coeficiente de correlação de Spearman (-0,7107) indica uma forte correlação negativa com a expressão basal de proteína p53, sendo esta correlação significativa estatisticamente ao nível de 5% (p = 0,0212). Este dado indica que quanto maior o nível de expressão basal individual da proteína p53, menos severa será a reação adversa de rouquidão. Para as reações adversas de disfagia e odinofagia o coeficiente de Spearman foi de -0,7135, o que confirma forte correlação negativa entre a expressão da p53 e a intensidade destas reações. Esta correlação foi estatisticamente significante ao nível de 5% (p = 0,0232). A correlação apresentada indica que quanto maior os níveis de expressão basal da p53, monos severas serão as reações de disfagia e odinofagia. Numa segunda análise podemos separar 2 grupos distintos: o primeiro apresentou baixa expressão da proteína (em branco) enquanto que no segundo 46 observou-se alta expressão da proteína p53 (em cinza). O primeiro grupo apresentou reações adversas mais severas quando comparados ao segundo grupo. O fato do tecido sadio apresentar maior expressão basal da proteína p53, parece servir como um “alerta” inicial, que faz com que o tecido biológico responda de forma mais eficaz quando agredido pelas radiações ionizantes. É como se o organismo já tivesse preparado para uma resposta imediata ao sofrer estresse, diferente dos que expressam pouca p53 basal, que teria que aumentar os níveis destas para responder ao mesmo dano. A resposta celular ao dano radioinduzido depende da quantidade de p53 ativada e do tempo de duração na sua ativação, isto é, quanto mais forte e mais longa for a ativação da p53, maiores a chance de respostas mais efetivas, como o encaminhamento da célula para apoptose (GUDKOV; KOMAROVA, 2003). Os resultados do presente trabalho mostram que indivíduos que possuem, portanto, uma alta expressão basal da proteína p53, portanto, mais tempo de contato com a p53 ativada, teria mais eficiência no processo de encaminhamento da célula danificada ao reparo celular ou à apoptose ao ser exposta à agressão por radiações ionizantes. Em estudos realizados em células do timo, foi possível observar que as células que não expressavam p53 morreram de outra forma que não apoptose, já as células que expressavam p53 na sua forma ativa eram eliminadas por apoptose após serem irradiadas (GUDKOV; KOMAROVA, 2003). Diversos estudos têm observado que o acúmulo da proteína p53 leva à parada do ciclo celular que pode facilitar o reparo do DNA e/ou levar à apoptose radioinduzida (FEI; EL-DEIRY, 2003). Os pacientes que tiveram menor expressão da proteína p53, provavelmente tiveram também menor morte celular induzida por apoptose e possível aumento de morte celular por outras vias, como a necrose, fato que gerou fibrose do tecido sadio e posterior aumento no grau da reação adversa de rouquidão destes pacientes. Desta forma, é provável que pacientes que já possuem baixa expressão basal 47 da proteína p53 quando submetidos à exposição às RIs podem ter a morte via apoptose diminuída, e consequente aumento da morte por outras vias, como a necrose, e consequente aumento de inflamação tecidual. A disfagia e odinofagia, bem como a rouquidão são resultados da formação de edema. O edema é um dos efeitos da radioterapia, e ocorre devido ao crescimento da permeabilidade vascular causada pelo bloqueio dos vasos sanguíneos e linfáticos e por mediadores inflamatórios liberados por células que sofreram danos após irradiação e não foram encaminhadas para a apoptose (ICHIMURA et al., 1997). A inflamação é a resposta primária de danos do tecido biológico e se caracteriza pela liberação de vários mediadores que regula a permeabilidade vascular (MANIKANTAN et al., 2009). O processo inflamatório também induz fibrose tecidual, o que leva, por exemplo, a um aumento da rouquidão (WANG et al., 1998; BARCELLOS-HOFF et al., 2005). Considerando estes dados da literatura, pacientes que apresentaram uma baixa expressão basal da proteína p53 apresentaram um alto grau de inflamação tecidual e consequente aumento nos graus de rouquidão, disfagia e odinofagia, provavelmente tiveram um retardamento do processo de checagem do ciclo celular. Com isso as células danificadas pela radiação não puderam ser reparadas ou encaminhadas para a apoptose em 72 horas (tempo de cultivo celular utilizado na pesquisa), ou seja, como as células ainda estavam no processo de checagem e/ou sofrendo processo de morte por outras vias, houve um aumento da inflamação e consequente aumento das reações adversas apresentadas por estes pacientes. Por outro lado, pacientes que apresentaram alto nível de expressão basal da proteína p53, o que provavelmente levou ao aumento de reparação do dano celular e grande parte das mortes via apoptose, que possibilita uma recuperação tecidual mais rápida, associada a uma das características da apoptose celular, que é o não aparecimento de inflamação, devido à formação dos chamados corpos apoptóticos e rápida fagocitose destes. A fagocitose dos corpos apoptóticos evita a liberação de restos celulares no tecido biológico, prevenindo assim a produção de citocinas indutoras de 48 reação inflamatória, diminuindo assim, o grau das reações adversas (SCHLEGEL; WILLIAMSON, 2001; KUROSAKA et al., 2003). Na Tabela 9 é possível observar ainda, que dentre os pacientes que apresentaram baixo nível de expressão (em branco), o paciente C apresentou rouquidão, disfagia e odinofagia consideradas leves, sendo considerado um ponto fora da curva. Uma das possíveis explicações se deve ao fato de o paciente C ser o único dentre os 10 que não era fumante. De acordo com Hocevar-Boltezar e colaboradores (2009), o tabagismo influencia na qualidade de voz e no nível de rouquidão após o tratamento de radioterapia. Considerando todas as impressões, o resultado das correlações sugere o uso da avaliação da expressão dos níveis basais da proteína p53 como teste preditivo de eficácia da resposta celular dos tecidos normais contra os danos causados pela radiação. Esta análise parece predizer a radiossensibilidade em pacientes submetidos à radioterapia. É necessário ainda mais estudos, com um número maior de indivíduos, para que se possa avaliar a tendência mostrada no presente trabalho. A Tabela 10, abaixo, mostra os níveis das reações adversas (rouquidão, disfagia e odinofagia) nos pacientes, de acordo com o percentual de células que expressaram a proteína p53 após irradiação com dose de 2 Gy. Para melhor visualização os dados foram organizados em ordem crescente de expressão da proteína p53. Para a reação adversa de rouquidão o valor do coeficiente de Spearman foi de 0,2132, havendo portando, uma correlação fraca e não significativa estatisticamente ao nível de 5%. Para as reações de disfagia e odinofagia o valor do coeficiente de Spearman foi de - 0,2010, sendo também uma correlação fraca e não significativa. 49 Tabela 10 - Expressão da proteína p53 em linfócitos irradiados com dose de 2 Gy e os níveis de reações adversas dos pacientes após a radioterapia Pacientes Expressão da proteína p53 (%) 2 Gy G A B F E H C I D J Rouquidão 5.08 6 6.85 8.37 9.63 10.63 13.32 22.02 23.7 24.4 Efeitos colaterais Disfagia Odinofagia + ++ ++ + ++ + + + ++ + + ++ ++ + ++ NA + + ++ + + ++ ++ + ++ NA + + ++ + NA- reação não apresentada; + leve; ++ moderada e +++ severa; Estes dados corroboram com Ribeiro e colaboradores (2000) que relacionaram a expressão da proteína p53 por imunohistoquímica após irradiação com efeitos clínicos em pacientes com câncer retais submetidos à radioterapia. Estes autores também detectaram nenhuma correlação. Ponten e colaboradores (2001) avaliaram a expressão da p53 por imunohistoquimica após irradiação de 2 Gy em células da pele, sendo observada uma grande diferença inter-individual na expressão da p53. Os pesquisadores correlacionaram ainda os resultados com as reações da radioterapia ligadas à inflamação, como edema e eritema e foi observado que a expressão desta proteína não reflete a resposta adversa individual. Pontem e colaboradores (2001) ainda afirmam que o mecanismo que regula o crescimento da p53 em resposta ao dano radioinduzido necessita de estudos adicionais para ser melhor elucidado. Ferreira (2012), num trabalho complementar a este, observou forte correlação entre a sobrevivência celular e as reações adversas dos mesmos pacientes avaliados neste trabalho após tratamento de radioterapia para câncer de laringe em estágios T1 e T2. Os dados obtidos são apresentados na Tabela 11. Observou-se que quanto maior o Pele +++ +++ ++ + + + + ++ ++ ++ 50 índice de sobrevivência celular maiores foram os níveis de reações adversas apresentados pelos pacientes. Barber e colaboradores (2002) também mostraram uma correlação inversa entre morte celular induzida por radiação e a toxicidade apresentada pelos pacientes após radioterapia, isto é, quanto maior o nível de morte de linfócitos irradiados, menor será o risco de desenvolvimento de reações adversas severas. A variedade da resposta à radioterapia está associada com a condição genética individual do paciente. Tabela 11 - Comparação dos níveis basais da p53 com a sobrevivência das células de cada paciente irradiada com a dose de 2,5 Gy de Ferreira (2012) Expressão da proteína p53 (%) Controle (Não irradiado) 0 0.03 3.04 4.2 4.4 7.13 8.04 11.02 12.28 15.02 Sobrevivência celular % (Ferreira, 2012) 2,5 Gy 54.88 74.09 69.17 72.9 70.28 54.3 60.14 30.84 56.98 50 Da análise desta Tabela 11, é possível observar que a maioria dos pacientes que apresentaram expressões basais mais baixas par a p53 teve um alto percentual de sobrevivência celular (69,17 ≤ 74,09), após irradiação com dose de 2,5 Gy. Já os pacientes do grupo 2 (primeira coluna em cinza), que apresentaram os níveis expressão basal mais altos, tiveram menores índices de sobrevivência celular após irradiação (30,84 ≤ 60,14). Foi realizado o teste estatístico de correlação de Pearson onde a sobrevivência foi dividida em 2 grupos distintos: Grupo 1: sobrevivência de 30,84% até 52,5% e 51 Grupo 2: sobrevivência de 52,5% até 74,09%. O número 52,5 foi achado através de uma média simples entre o maior e o menor percentual de sobrevivência celular. Como resultado, obteve-se o coeficiente de correlação de Pearson no valor de – 0,76, isto é, apresentou-se uma forte correlação estatisticamente significante entre a expressão da proteína p53 e a sobrevivência celular. A correlação da expressão basal de p53 dos pacientes com a sobrevivência celular destes mesmos pacientes analisadas por Ferreira (2012) era esperada justamente devido ao importante papel da p53 na apoptose de células que sofreram esse tipo de estresse físico. A proteína p53 por estar envolvida no processo de parada celular, e consequente controle na proliferação, bem como no processo de apoptose (KLUMB et al., 2002) quando está em níveis altos nas células faz com que estas diminuam o grau de proliferação e aumentem os níveis de apoptose, o que explica a correlação deste grupo com as sobrevivências celulares mais baixas. Todos estes resultados têm dado suporte à teoria de que o estudo das respostas induzidas pela radiação em linfócitos do sangue periférico é um método eficaz para predizer a resposta dos tecidos normais à radiação. Basicamente duas relações têm sido utilizadas para predizer os níveis de reações adversas de tecidos sadios após radioterapia: Altos níveis de danos ao DNA foram associados com altos níveis de reações severas. Em contraste, baixos níveis de morte celular estão associados com alto nível de toxicidade dos tecidos sadios (HENRÍQUEZ-HERNÁNDEZ et al., 2012). Com isso, o presente trabalho indica que a avaliação da expressão dos níveis basais individuais da proteína p53 por citometria de fluxo pode ser um bom indicador de radiossensibilidade individual para as reações adversas de rouquidão, disfagia e odinofagia em radioterapia de câncer de laringe, embora seja necessário o estudo com maior número de pacientes. 52 6 CONCLUSÃO Há variação interindividual significativa da expressão basal da proteína p53, bem como um aumento significativo e variável da sua expressão após a irradiação das células dos pacientes; Não foi possível correlacionar os graus de reações adversas da pele com os níveis de expressão basais e pós-irradiação da p53; As reações adversas de rouquidão, disfagia e odinofagia não puderam ser correlacionadas com os níveis de expressão da p53 em linfócitos irradiados com a dose de 2 Gy; Houve forte correlação entre os níveis basais individuais de expressão da proteína p53 e as reações adversas de rouquidão, disfagia e odinofagia, onde quanto maior a expressão basal da p53, menor é o grau de severidade das reações adversas; 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAS, A. 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Recife, _______ de ______________________ de _________. Assinatura do doador (ou responsável): ______________________________________. Assinatura do responsável pela coleta: ______________________________________. Testemunhas: ______________________________________ ______________________________________ 63 APÊNDICE B – FICHA DE ACOMPANHAMENTO FICHA DE ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE DADOS DO PACIENTE NOME: ____________________________________________________________ ENDEREÇO: _______________________________________________________ BAIRRO: _________________ MUNICÍPIO: ____________ ESTADO: _____ TELEFONE: ________________________ IDADE: _____________________________ SEXO: ( ) MASCULINO ( ) FEMININO ETNIA: ______________________________ FUMANTE: ( ) SIM ( ) NÃO FEZ USO DE ALGUM TRATAMENTO ANTERIOR COM RADIAÇÃO IONIZANTE? ( ) SIM ( ) NÃO OBS: _______________________________________________________ FEZ USO ANTERIORMENTE DE QUIMIOTERAPIA? ( ) SIM ( ) NÃO OBS: _____________________________________________________________________________ PARÂMETROS DE TRATAMENTO DOSE TOTAL: ________________ DOSE POR FRAÇÃO: ______________ 64 TOXICIDADES PELE GRAU: ( ) LEVE ( ) MODERADA ( ) SEVERA ROUQUIDÃO GRAU: ( ) LEVE ( ) MODERADA ( ) SEVERA DISFAGIA GRAU: ( ) LEVE ( ) MODERADA ( ) SEVERA ( ) MODERADA ( ) SEVERA ODINOFAGIA GRAU: ( ) LEVE DATA: _____ / _____ / ________ RESPONSÁVEL: _________________________________________ 65 ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA 66 ANEXO B – FICHA DE TRATAMENTO 67