A INCLUSÃO DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA EM ESCOLA DA REDE PÚBLICA EM TERESINA Francisca Clelma da Costa Aluna do Curso de Pedagogia da UESPI – Campus Clóvis Moura, PIBIC/UESPI – Voluntária 2009/2010 ([email protected]); Antonio Francisco Soares – Professor Assistente da UESPI, orientador deste trabalho ([email protected]). Resumo A inclusão das pessoas com necessidades especiais é um dos grandes desafios que a educação enfrenta hoje. Este estudo refletiu sobre o verdadeiro sentido da inclusão e a necessidade de formação profissional. Atualmente, mesmo com as leis que amparam a educação inclusiva, percebe-se que o atendimento as crianças com necessidades educativas especiais, ainda é um grande desafio, uma vez que requer do educador e de toda a comunidade escolar conhecimento e entendimento do seu processo. A escola tem a finalidade de trabalhar o desenvolvimento integral de todas as crianças, inclusive da criança com necessidades especiais, promovendo o seu crescimento nos aspectos linguístico, físico, psicológico, social, intelectual e cultural. Neste sentido, este estudo teve como objetivo analisar o processo de inclusão dos alunos com deficiência auditiva na Rede Estadual de Ensino para compreender os aspectos ou fatores que contribuem para integração dos mesmos em turmas regulares. Para isso procurou-se observar na escola pesquisada como se dá a inclusão de alunos com deficiência auditiva. Foram feitas visitas em uma escola pública estadual, onde aplicou-se um questionário para 5(cinco) professores sendo que 3(três) deles participam de capacitação as 6ª feiras para atender alunos com deficiências auditiva e 2(dois) que não participam dessa formação. Os professores que se encontram nas salas regulares não dominam muito bem a linguagem de sinais, mas são auxiliados por um professor interprete ou pelos professores que atendem na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Na pesquisa de campo constatou-se que mesmo com as dificuldades enfrentadas, os professores procuram fazer um trabalho não apenas de integração, mas de inclusão. Palavras-chave: Inclusão. Deficiência auditiva. Educação especial. INTRODUÇÃO A integração das pessoas com necessidades especiais é um dos grandes desafios que a educação enfrenta hoje. Este estudo refletiu sobre o verdadeiro sentido da inclusão, a necessidade de formação profissional, em termos de legislação o que assegura a Educação Especial nas Instituições e quais as políticas públicas voltadas para este fim. Para fundamentação desse estudo, com resultados contundentes, questionou-se a educadores, famílias, sobre a importância da inclusão de alunos com deficiência auditiva no convívio com outros alunos em salas regulares, e consequentemente, quanto ao conhecimento de sua real capacidade de aprender. Em termos de legislação, a Educação especial aparece pela primeira vez na LDB. 4024/61, apontando que a educação dos excepcionais deve, no que for possível, enquadrar- 2 se no sistema geral de educação. Na lei 5692/71, foi previsto o tratamento especial para os alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais e os superdotados. Na década de 70 também é criado o CENESP junto ao MEC, com o objetivo de centralizar e coordenar as ações de política educacional. Este órgão existiu até 1986 e em toda a sua trajetória manteve uma política centralizadora que priorizava o repasse de recursos financeiros para a instituição privada. Em 1989 é criada a CORDEC (Coordenadoria para a integração da pessoa portadora de deficiência), junto a Presidência da República para coordenar assuntos, atividades e medidas referentes ao portador de deficiência. Extinto o CENESP. Criou-se a Secretaria de Educação Especial do MEC. Em 1986, a CORDEC foi transferida para o ministério da Ação Social e a área de Educação Especial do MEC, tornou-se coordenação, configurando uma ação do poder político da área nos dois anos. Em 1993, voltou a existir a secretaria de Educação Especial (SEESP), no ministério de Educação. Atualmente, mesmo com as leis que amparam a educação inclusiva, percebe-se que o atendimento as crianças com necessidades educativas especiais, ainda é um grande desafio, uma vez que requer do educador e de toda a instituição conhecimento e entendimento do seu processo de desenvolvimento. A escola tem a finalidade de trabalhar o desenvolvimento integral de todas as crianças, inclusive da criança com necessidades especiais, promovendo o seu crescimento nos aspectos linguístico, físico, psicológico, social, intelectual e cultural. Diante da busca incontrolável pela inclusão da pessoa com deficiência na sociedade e, principalmente na educação, realizou-se em 1994 uma conferência na cidade de Salamanca, Espanha, com representantes do mundo todo, da qual resultou um documento denominado declaração de Salamanca. A tendência da política social durante as duas últimas décadas foi de lamentar a integração e a participação e de lutar contra a exclusão. A integração e a participação fazem parte essencial da dignidade humana e do gozo e exercício dos direitos humanos. No campo da educação, essa situação se reflete no desenvolvimento de estratégias que possibilitem uma autêntica igualdade de oportunidades. A experiência de muitos países demonstra que a integração de jovens e adultos com necessidades pode progredir no terreno educativo e no da integração social. [...] As necessidades educativas essenciais incorporam os princípios já comprovados de 3 uma pedagogia equilibrada que beneficia todas as crianças. [...] (BRASIL, 1994, p. 23). Para que se possa realmente efetivar uma inclusão satisfatória da pessoa surda na Educação Escolar, é indispensável que este aluno esteja dentro desse ambiente, como se faz necessária de acordo com a LDB no art. 59 do cap. 5 Professores com especialização adequada para atendimento desses educandos nas classes comuns. As escolas devem ter um programa que atenda às necessidades do aluno com necessidades especiais especificamente o deficiente auditivo. Portanto, o mais importante é que a escola consiga todos os elementos essenciais para o desenvolvimento do trabalho de forma a educar o indivíduo para que se torne socialmente ajustado, pessoalmente completo, autônomo e competente, ou seja, um cidadão. O tema em questão procurou observar na escola pesquisada como se dá a inclusão de alunos com necessidades especiais auditivas. Percebe-se que a superação das dificuldades depende não só da participação dos envolvidos no processo inclusivo como de toda uma sociedade, de forma que o atendimento especializado reduz a exclusão e proporciona aos profissionais da área as mudanças na prática inclusiva. A educação pode ser considera como um dos mais importantes e poderosos agentes do processo civilizatório, encarregada de promover o conhecimento, transmitir experiências e produzir novas visões de mundo e de comportamento. (Eizirik, 2006, p.39). A educação é a base para uma sociedade justa, se todos seguissem essa linha de raciocínio e que realmente fizessem acontecer em nosso país uma educação de qualidade, certamente não haveria tantas desigualdades sociais, tanta gente sem ter acesso ao conhecimento. Veja o que diz Beyer na construção de uma pedagogia em uma escola inclusiva: A escola que se pretende inclusiva em cujo espaço não existam campos demarcados, do tipo, aqui está os alunos “normais” E ali os “especiais” ou os “incluídos”, como se escuta com freqüência, põe em construção uma pedagogia que não é nem diluída, face às necessidades educacionais especiais de alguns alunos, nem extremamente demarcada ou terapêutica, em que se acaba por acentuar as distinções pessoais. (Beyer, 2006, p. 75 – 76); 4 Uma escola que acolhe e se prepara pra isso e que respeite as diversidades que se encontram seus alunos sejam elas nas suas necessidades especiais ou não, mas que todos merecem a mesma atenção e um ensino de qualidade. OBJETIVOS Analisar o processo de inclusão dos alunos com deficiência auditiva na rede Estadual de ensino para compreender os aspectos ou fatores que contribuem para integração dos mesmos em turmas regulares. Identificar a concepção de educação especial; Identificar o nível de formação no Centro de Apoio Pedagógico dos portadores de Deficiência Auditiva (CAS); Conhecer a forma de ingresso e integração dos alunos com deficiência auditiva nas escolas regulares em Teresina, assim como a concepção que a comunidade escolar (professores, direção, familiares) tem sobre educação inclusiva. Reconhecer o papel desempenhado pelo professor como mediador no processo de inclusão e socialização. METODOLOGIA De acordo com Marlei Maria Diedrich (2009, p. 111) “a pesquisa de campo consiste na observação dos fatos tal como ocorrem, na coleta de dados e no registro das variáveis. Entrevistas, questionários e formulários são recursos comuns para a coleta de dados nesse tipo de pesquisa”. Dentro dessa linha de pesquisa, foi feito visitas em uma escola pública estadual, aplicou-se questionário junto a 5 professores sendo que 3 deles participam de capacitação as 6ª feiras para atender alunos com deficiências auditiva e 2 que não participam dessa formação. Os professores que se encontram nas salas regulares não dominam muito bem a linguagem de sinais, mas são auxiliados por um professor interprete ou pelos professores que atendem na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE). A escola pesquisada tem uma boa estrutura física, funciona com uma sala que atende alunos com deficiência auditiva. O horário de funcionamento é manhã, tarde e 5 noite, recebendo os alunos das salas regulares com o objetivo de ampliar os conteúdos já vistos, reforçando o que não ficou bem entendido. As técnicas utilizadas na pesquisa de campo foram fundamentais para esta pesquisa na coleta de dados. Como diz Cervo (1985: 70) “As técnicas específicas da pesquisa de campo tem por finalidade recolher e registrar ordenadamente os dados relativos ao assunto escolhido como objeto de estudo, portanto, a instrumentos de observação controlada”. Baseando-se nessa informação, o trabalho foi realizado no âmbito de uma visão mais específica sobre a inclusão de alunos com deficiência auditiva que é o foco deste estudo. RESULTADOS OBTIDOS A pesquisa de campo realizada em uma escola da rede pública estadual de Teresina, através do qual constatou-se que mesmo com as dificuldades enfrentadas, a mesma procura fazer um trabalho não apenas de integração mas de inclusão. De acordo com Hugo Otto Beyer (2006, p. 73) a educação inclusiva é aquela que: Caracteriza-se como um novo princípio educacional, cujo conceito fundamental defende a heterogeneidade na classe escolar, como situação provocadora de interações entre crianças com situações pessoais as mais diversas. Além desta interação, muito importante para o fomento das aprendizagens recíprocas, propõe-se e busca-se uma pedagogia que se dilate frente às diferenças do alunado. Isto reflete que as escolas inclusivas são aquelas que se adaptam e se preparam para receber todo tipo de aluno com suas necessidades especiais e devem preparar seus materiais, sua estrutura e seu corpo de professores e funcionários para atender esse aluno. Nesta etapa do trabalho serão apresentados os resultados do questionário aplicados aos professores que serão identificados como p.1, p.2 e p.3 veja abaixo: 1. Relacionamento dos alunos surdos durante as aulas. Para obter uma aprendizagem escolar, é preciso primeiramente relacionar-se com o outro, integrar-se ao convívio social, então, cabe ao professor fazer essa relação de integração do aluno surdo com os demais colegas de turma para que haja um bom 6 relacionamento entre ambos. Seguem os depoimentos dos professores questionados sobre o relacionamento dos alunos surdos: P1: “Exímio, pois interagem muito bem com os professores e colegas de turma”. P2: “Normalmente, pois na escola alguns professores e alunos sabem LIBRAS, ou sempre que precisam, chamam as professoras de AEE1 para auxiliar no que for possível”. P3: “O relacionamento é bom, nem todos os professores sabem LIBRAS, mas se comunicam, os alunos têm interprete para auxiliar esses professores”. _________________________ 1 AEE – Atendimento Educacional Especializada. Funciona em uma sala na escola pesquisada. Percebe-se que as respostas dos professores sobre relacionamento dos alunos surdos em sala se assemelham porque são elas mesmas que acompanham esses alunos tanto nas salas regulares como na AEE, e convivem diretamente com eles. 2. Participação da família na inclusão dos alunos surdos na escola. O papel da família é fundamental no processo de inclusão, pois é de suma importância que ela prepare o seu filho para conviver fora do seio familiar e faça o acompanhamento no desempenho do ensino/aprendizagem. Vejamos alguns posicionamentos dos professores com relação a essa participação: P1: “A família precisa muito está presente na escola pois seu apoio é indispensável no desenvolvimento desse educando”. P2: “Ainda é precária, pois são pouco os pais que se interessa pela aprendizagem dos seus filhos”. P3: “Percebe-se que os pais não se envolvem com as atividades dos filhos e não sabem LIBRAS, se comunicam por gestos e mímicas”. Com base nessas informações adquiridas, percebe-se que a participação da família é imprescindível, mas não acontece de forma desejada nessa escola, tanto que os professores sentem falta desse apoio, pois seria fundamental na aprendizagem desses alunos. Assim, é de grande importância que se conheça os alunos e as famílias com as quais se lida. 7 03. Contribuição do professor para a inclusão do aluno surdo na escola. O papel do professor é fundamental numa sala de aula principalmente se esta incluir alunos com necessidades especiais, pois precisa ter toda uma preparação, psicológica e de formação para lhe da com esse público trabalhando a interação e a inclusão no ambiente escolar. Observe o que disseram alguns professores sobre a sua contribuição: P1: “Ser um apoio em sala de aula quando a professora necessita nas discussões em sala relacionado ao conteúdo.” P2: “Apoiando os alunos nas atividades pedagógicas como também nos estudos de sua língua para acrescentar seu vocabulário”. P3: “Faço atendimento especializado no contra turno reforçando os conteúdos que são ministrados na sala regular e aprendizagem de LIBRAS.” Observa-se então que esses professores estão engajados no processo ensinoaprendizagem de alunos com deficiência auditiva e reconhecem que uma educação inclusiva é um trabalho, coletivo sendo que todos contribuem para o avanço não só deste aluno mas de todos que estão integrados na educação escolar. 04. Obstáculos enfrentados na inclusão. Trabalhar com a inclusão já é um desafio, maior ainda quando o educador não está preparado para receber o aluno com necessidades especiais, percebe-se que precisa deajuda e se dispõe a ter uma qualificação para lhe dá com o novo e reconhece que os obstáculos a serem enfrentados fortalecerá mais a sua prática. Seguem alguns depoimentos dos professores questionados: P1: “Angustia de alguns educadores ao receber e esses educandos em classe” P2: “Estar adaptando a libras aos conteúdos curricular pois a Libras ainda é uma língua com vocabulário restrito.” P3: “A comunicação no meu caso a Libras pois não tenho domínio da língua”. Percebe-se nas respostas dos professores que o domínio da linguagem de sinais utilizada para comunicar com alunos surdos ainda é um desafio a ser alcançado, muitos se angustiam de 8 como vai ser, repassado o conteúdo sem o uso de Libras e recorrem aos professores que atendem diretamente esses alunos. 05. Sugestões para melhorar o processo de inclusão de alunos surdos. O professor nunca deve estar satisfeito com sua formação, sempre está se especializando, pesquisando, principalmente quando se trabalha com inclusão, está buscando melhorar a sua prática a cada dia. Vejamos algumas sugestões desses profissionais: P1: “Capacitação dos educadores para entender o mundo do surdo”. P2: “O uso de Libras, por todos da comunidade escolar”. P3: “Que todos os funcionários da escola, principalmente os professores da sala comum aprendessem a língua dos surdos”. Com essas informações prestadas, percebe-se que a capacitação é fundamental para um bom diálogo, não só para professores que precisam estar se qualificando, más toda comunidade escolar, pois não é um contato restrito só professor e aluno, mas todos precisam socializar. COMENTÁRIOS FINAIS Na realização desse estudo foi feito uso de algumas referências que auxiliaram e fundamentaram o tema em questão. Observou-se na visão dos autores que a educação como ferramenta de inclusão é um processo que promove o aluno com necessidades especiais a ingressar em uma sociedade que o respeite e valorize suas capacidades e limitações. A pesquisa de campo serviu de subsídios para acompanhar de perto como é a educação do aluno com deficiência auditiva na escola regular, através de observações e aplicações de questionários, observou-se que a forma como esses alunos são recebidos na escola pesquisada, demonstra o interesse da inclusão, ou seja, o aluno especial ter a oportunidade de estar usufruindo dos mesmos direitos, das mesmas concepções e distribuição de tarefas em sala sem se sentir excluído. De acordo com a pesquisa feita, a escola acompanha os alunos com deficiência auditiva em salas especializadas com professores que recebem capacitação na educação especial. Também há um interprete que auxilia o professor nas salas regulares. 9 O que poderia acontecer nessa escola é que os demais professores deveriam também estar recebendo essa capacitação porque lidam com alunos surdos e não é sempre que o interprete está na sala. Claro que não é apenas a inclusão da língua de sinais que vai direcionar uma nova abordagem curricular, mas a aceitação dos surdos em sua totalidade e especificadas. O direito de toda criança à educação é o princípio fundamental desta “linha de ação”, ou seja, as escolas devem aceitar todas as crianças, independentes de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguisticas e outras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Tradução de: Edilson A. da Cunha. Brasília: CORDE, 1997. _____________. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001. _____________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96, 20 de novembro de 1996. Brasília: MEC, 1996 _____________. (1994) Política nacional de educação especial. Brasil: MEC/SEESP. BEYER, Hugo Otto. Da integração escolar à educação inclusiva: implicações pedagógicas. In: BAPTISTA, Cláudio Roberto. Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006, p. 75-76 EIZIRIK, Mariza Faermann. Dispositivos de inclusão: invenção ou espanto? In: BAPTISTA, Cláudio Roberto. Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006, p. 39. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica. São Paulo: Mc Graw – Hill do Brasil, 1975.