A RACIONALIDADE TÉCNICA DO
TRABALHO
EDUCAÇÃO
DO PROFESSOR DA
SUPERIOR
E
SUA
INTERFACE
COM
O
E XAME
N ACIONAL DE D ESEMPENHO DOS
E STUDANTES
SIMONE BRAZ FERREIRA GONTIJO
Universidade de Brasília
E STUDO

TEÓRICO
Objetivo estabelecer possíveis
interfaces entre o Exame
Nacional de Desempenho dos
Estudantes
–
Enade,
do
Ministério da Educação brasileiro
e a racionalização do trabalho
docente neste nível de ensino.
REVISÃO DE LITERATURA
Características do Sistema
Nacional de Avaliação da
Educação Superior - Sinaes, com
ênfase no Enade.
Características do trabalho
docente na Educação Superior
Estabelecer relações entre
Aproximações à racionalidade
técnica como elemento de
proletarização do magistério
superior, tomando como
referência a base teórica de
análise marxista em relação às
condições de trabalho e ao
modo de produção capitalista.
P RINCIPAIS
NO ESTUDO
CONCEITOS APRESENTADOS
A
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA
E DUCAÇÃO S UPERIOR

A maioria das vagas dos cursos de formação de
professores em nível superior estão concentradas em
instituições privadas e as atividades dessas estão
centradas na docência, em detrimento da pesquisa e
extensão (Gatti, 2009. p.81). Esse fato tem impacto na
formação de professores.

Os estudantes dos cursos de Pedagogia, na maioria das
vezes, dispõem “de condições de estudo limitadas e
pouca convivência com objetos intelectuais e artísticos
da cultura hegemônica” (Britto, Silva, Castilho, & Abreu,
2008).
A defasagem acadêmica do estudante que cursa a educação
superior,
A formação do professor que atua nesse nível de ensino,
A grande oferta de vagas em instituições privadas –
faculdades;
Culminou numa política pública de supervisão da
qualidade da educação superior ofertada no
Brasil denominada Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Superior – Sinaes.
O S ISTEMA N ACIONAL DE AVALIAÇÃO
DA E DUCAÇÃO S UPERIOR - S INAES

Criado pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004,
o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes) é formado por três componentes
principais: a avaliação das instituições, dos cursos e
do desempenho dos estudantes.

O Sinaes avalia todos os aspectos que giram em
torno dos eixos: o ensino, a pesquisa, a extensão, a
responsabilidade social, o desempenho dos alunos,
a gestão da instituição, o corpo docente, as
instalações e vários outros aspectos.
O S ISTEMA N ACIONAL DE AVALIAÇÃO
DA E DUCAÇÃO S UPERIOR - S INAES

Ele possui uma série de instrumentos
complementares: autoavaliação, avaliação
externa, Enade, Avaliação dos cursos de
graduação e instrumentos de informação
(censo e cadastro).

Os resultados possibilitam traçar um
panorama da qualidade dos cursos e
instituições de educação superior no País.
O S ISTEMA N ACIONAL DE AVALIAÇÃO DA
E DUCAÇÃO S UPERIOR – S INAES
F INALIDADE (L EI 10.861- 2004)
 Melhoria
da
qualidade
da
educação
superior,
 Orientação da expansão da sua oferta,
 Aumento
permanente da sua eficácia
institucional e efetividade acadêmica e social,
 Promoção
do
aprofundamento
dos
compromissos e responsabilidades sociais das
instituições de educação superior.
C ONCEITO P RELIMINAR DE C URSO – CPC


Índice atribuído ao curso após o ciclo avaliativo com
periodicidade de três anos.
Composição de insumos:
20% a titulação de doutores;
5% a titulação de mestre;
5% regime de trabalho docente;
5% questão pedagógica;
5% infraestrutura, de acordo com a opinião dos estudantes
Enade - 15% o desempenho dos concluintes; 15% o desempenho dos
ingressantes
Índice de desenvolvimento docente - 30% aferido a partir a
diferença entre o desempenho médio dos estudantes.
E NADE

O Exame Nacional de Desempenho
de Estudantes tem o objetivo de
aferir o rendimento dos alunos dos
cursos de graduação em relação aos
conteúdos
programáticos,
suas
habilidades e competências.

Como o Enade detém 60% das
informações que serão utilizados para o
cálculo do CPC a avaliação do estudante
tem o maior impacto o que o coloca no
centro das atenções dos dirigentes das IES.
R ESULTADO

DO CICLO
S INAES
Define a continuidade da oferta do curso e,
como o maior “peso” dessa avaliação está
centrado no exame relacionado a
conhecimentos do estudante, o trabalho do
professor pode passar a ser o de
ensinar/preparar para esse exame.
R ESULTADO

DO CICLO
S INAES
Para Fontanive (2005) os resultados das avaliações
devem ser analisados preponderantemente com
vista à promoção da qualidade da educação e
alguns cuidados devem ser tomados para evitar
que estes venham a produzir consequências
adversas, dentre elas, a responsabilização dos
professores pelos baixos resultados obtidos pelos
estudantes e aos estudantes o peso em relação ao
conceito atribuído ao curso .
F ORMAÇÃO
DE PROFESSORES PARA O EXERCÍCIO DA
DOCÊNCIA NO
B RASIL (S AVIANI ,2009)

Destaca-se a existência de dois modelos:

Um voltado aos conteúdos culturais-cognitivos que
privilegia a formação está centrada na cultura geral
e no domínio dos conteúdos específicos que o
professor irá ministrar e,

Outro, didático-pedagógico, cuja preocupação é
com efetivo preparo didático-pedagógico do
professor.

Há uma depreciação em relação à formação
pedagógica dos professores da educação superior.
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR
DA E DUCAÇÃO S UPERIOR

Três fatores contribuem para que essa formação seja relegada
para segundo plano.
1) Constituição histórica da docência que é considerada uma
atividade de menor importância, sendo as questões pedagógicas
desvalorizadas. Dessa forma, está apto a ser professor o que
domina o conteúdo e desenvolve aulas expositivas e/ou faz
demonstrações práticas acerca do tema apresentado. Quem
domina um conteúdo está pronto a ensiná-lo.
2) Nas políticas de avaliação do trabalho docente e, um dos
critérios mais valorizados está relacionado à produção acadêmica.
Isso conduz a um desprestígio da atividade docente.
3) Falta de estímulo legal, em âmbito nacional, para a formação
pedagógica do professor, o que reforça a não se ofertar a mesma
(Pachane, 2004).
O UTROS
ASPECTOS

Muitos professores não se dedicam exclusivamente ao
magistério e, mesmo os que o fazem, cumprem uma longa
jornada em atividades de docência, não estando previstas em
sua carga horária atividades de pesquisa e extensão.

Novas demandas são lançadas aos professores, tais como
salas de aula com um grande número de estudantes;
diversidade cultural; heterogeneidade discente.

Assim, [...] as características necessárias aos professores
universitários extrapolam – e muito – os limites do
conhecimento aprofundado da matéria e a aquisição de
habilidades necessárias à pesquisa, levando-nos a argumentar
em favor da formação pedagógica do professor universitário
(Pachane, 2004. p.06).
Relacionada à formação do
professor está o processo de
proletarização do magistério
superior.
A RACIONALIZAÇÃO TÉCNICA COMO ELEMENTO DE
PROLETARIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO SUPERIOR
Organização pedagógica de IES:
Adoção de “pacotes educacionais”;
Adoção de livros textos;
Planos de ensino pré-estruturados;
Exercícios e provas padronizados ou
elaboradas pelo professor, porém validados
por especialistas.


Isso posto como uma possibilidade de
melhoria da qualidade do trabalho
pedagógico.

As diversas formas que tem se
usado para controlar o trabalho
pedagógico do professor acabam
por desqualificá-lo, distanciando-o
de sua concepção e limitando-o ao
fazer desprovido de autoria e
reflexão.

A diretividade do trabalho do professor pode vir a
crescer com as demandas por um melhor desempenho
dos estudantes no Enade, pois nem sempre as
estratégias para essa melhoria são construídas em
conjunto com os professores.

Essa organização racional além de sugerir a existência
de estudantes com necessidades e habilidades
homogêneas, torna o professor dependente de
decisões externas tomadas por especialistas/gestores e
reduz sua atuação a um aplicador de pacotes
educacionais.
R ESPONSABILIZAÇÃO

O professor é instigado a se autocontrolar, a
recriminar-se e punir-se quando não atinge
a meta desejada (Antunes, 2005. p.53).
“Suga-se” todas as energias deste e quando
não se atinge os resultados esperados se
desconsidera os outros aspectos envolvidos
no cumprimento de suas funções.

Mais que a falta de autonomia técnica, o
professor perde em relação ao sentido ético do
trabalho pedagógico, pois “a separação entre
concepção e execução se traduz no campo
educativo numa desorientação ideológica e não
só na perda de uma qualidade pessoal para uma
categoria profissional” (Derber citado em
Contreras, 2002, p.51).
C ONCLUSÃO

A análise sugere a possibilidade de o Exame Nacional de
Desempenho dos Estudantes induzir a:
1) Uma organização do trabalho pedagógico das disciplinas
de cursos de Pedagogia concebidas a partir dos conteúdos
previstos para o Enade;
2) Perda da autonomia do professor da educação superior na
concepção de seu trabalho, culminando num processo de
proletarização do magistério superior;
3) Desvirtuamento da formação do professor dos anos
iniciais do
Ensino Fundamental, uma vez que
aprendizagens necessárias ao exercício do magistério nesse
nível de ensino não estariam sendo contempladas, pois esta
está atrelada a preparação para o exame.
R EFERÊNCIAS
Antunes, R. (2005) O caracol e a concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho.
São Paulo: Boitempo.
Lei 10.861, de 17 de abril de 2004 (2004). Institui o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior – SINAES e dá outras providências. Brasília. Recuperado em 04 de
outubro,
2009,
de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2004/Lei/L10.861.htm
Britto, L. P. L. Silva, E.O., Castilho, K.C. & Abreu, T.M. (2008) Conhecimento e Formação
nas IES Periféricas perfil do aluno “novo” da Educação Superior. Avaliação. V. 13 (3),
777-791.
Recuperado
em
09
de
janeiro,
2010,
de
http://www.scielo.br/pdf/aval/v13n3/08.pdf.
Gatti, A. B. &, Barreto, E. S. de S. (Coord.) (2009) Professores do Brasil: impasses e
desafios. Brasília: UNESCO.
Pachane, G. G. (2004) Políticas de formação pedagógica do professor universitário:
reflexões a partir de uma experiência. 27ª Reunião Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação. Caxambú, MG, Brasil. Recuperado em 12 de julho,
2010, de http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt11/t116.pdf
Saviani, D. (2009) Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema
no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação. V. 14 (40) Recuperado em 10 de
julho, 2010, de http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf
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