SÉRIE DE DOCUMENTOS DE TRABALHO PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Sentidos por Jovens com Incapacidade Catherine Frazee Parceiro / Tradução para português: PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Sentidos por Jovens com Incapacidade Catherine Frazee1 Fundação Laidlaw Catherine Frazee é professora na Faculdade de Estudos sobre Incapacidade da Universidade Ryerson, em Toronto, e é directora adjunta do Instituto para a Investigação, Estudo e Educação de Incapacidade da Fundação Ryerson RBC. Copyright © 2003 Fundação Laidlaw As opiniões expressas neste documento são as da autora e não reflectem necessariamente as da Fundação Laidlaw. Biblioteca Nacional do Canadá – No prelo Frazee, Catherine, 1954Fixe! : inclusão, direitos e igualdade vividos por jovens com incapacidade Catherine Frazee. (Série de Documentos de Trabalho - Perspectivas sobre a inclusão social) Inclui referências bibliográficas. ISBN 0-9730740-9-4 1. Jovens com incapacidade - Canadá. 2. Integração social - Canadá. 3. Igualdade - Canadá. I. Fundação Laidlaw. II. Título. III. Série: Perspectivas sobre a inclusão social, série de documentos de trabalho. HV1569.3.Y68F73 2003 305.9'0816'0971 C2003-900439-2 Fundação Laidlaw 365 Bloor Street East, Suite 2000 Toronto, Ontario, Canada M4W 3L4 Tel.: (416) 964-3614 Fax: (416) 975-1428 Presidente Paul Zarnke Director Executivo Nathan Gilbert Edição e Layout Is five Communications Este documento é parte da Série de Documentos de Trabalho, Perspectivas sobre a Inclusão Social da Fundação Laidlaw. Os documentos completos (em inglês apenas) e os respectivos sumários, em francês e inglês, podem ser transferidos a partir da página de Internet da Fundação Laidlaw em www.laidlawfdn.org na rubrica Agenda da Infância/Série de Documentos de Trabalho sobre Inclusão Social ou pedidos através de [email protected] Preço: $11,00 documento completo; $6,00 Sumários (IVA não incluído e despesas de envio incluídas). PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Índice Sobre a Fundação Laidlaw.................................................................................. v Prefácio...............................................................................................................vii Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Sentidos por Jovens com Incapacidade ... 1 Introdução: "Ao nosso modo... Nas nossas condições" ..................................... 1 Inclusão: "Ser quem sou... Fazer o que eles fazem” .......................................... 2 Inclusão: "Partilhar, Partilhar, Partilhar” .............................................................. 4 Igualdade e Exílio: Almoço na Sala 20 ............................................................... 8 Conclusão: Um Apetite pelo Envolvimento....................................................... 14 Notas finais ........................................................................................................ 16 Bibliografia ......................................................................................................... 20 PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Sobre a Fundação Laidlaw A Fundação Laidlaw é um organismo privado de interesse público que usa os seus recursos humanos e financeiros de formas inovadoras de reforçar o envolvimento cívico e a coesão social. A Fundação usa o seu capital para melhorar o ambiente e realizar as capacidades de crianças e jovens, para aumentar as oportunidades de desenvolvimento humano e criatividade e para sustentar comunidades e ecossistemas saudáveis. A Fundação apoia uma carteira diversificada de projectos inovadores e frequentemente não convencionais em três áreas de programa: nas artes, no ambiente e na melhoria das perspectivas de vida para as crianças, jovens e famílias. Trabalhar para a inclusão social é um tema que destaca grande parte das actividades da Fundação. As palavras-chave na missão da Fundação — desenvolvimento humano, comunidades sustentáveis e ecossistemas — implicam que aquilo que é alcançado se baseie num aumento de capacidades e competências. Não só a inclusão social está a ser desenvolvida como um emergente fluxo de financiamento, como é um valor intrínseco à Fundação Laidlaw, tanto estrutural como programaticamente. Nathan Gilbert Director Executivo Para mais informações sobre a Fundação Laidlaw, por favor, contacte-nos: The Laidlaw Foundation Tel: 416 964-3614 Fax: 416 975-1428 Email: [email protected] www.laidlawfdn.org PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Prefácio: A Perspectiva sobre a Inclusão Social da Fundação Laidlaw O contexto da inclusão social As crianças escalaram para o topo das agendas governamentais em vários momentos na última década para voltarem a cair sempre que surge um recuo económico, um défice orçamental, uma crise nas relações entre a administração central e local, um receio de terrorismo e segurança nacional. Embora se tenham alcançado importantes feitos na política pública nos últimos 5 a 10 anos, não houve um empenho sustentado do governo para com as crianças nem uma significativa melhoria no bem-estar das crianças e das famílias. De facto, em muitas áreas, as crianças e as famílias perderam terreno e a exclusão social está a emergir como um importante problema no Canadá. Os exemplos abundam e incluem estes factos. • a sobre-representação de famílias de minorias raciais e de crianças entre aqueles que vivem na miséria nas grandes cidades e a negação do acesso a vários serviços às famílias de imigrantes e refugiados; • o aumento de 43% no número de crianças que vivem na pobreza no Canadá, desde 1989, o aumento de 130% no número de crianças em centros para sem-abrigo em Toronto, bem como a persistência de uma das mais altas taxas de encarceramento de jovens entre os países da Commonwealth; • a exclusão de crianças com incapacidade dos quadros de políticas públicas (por exemplo, a Agenda das Crianças Nacionais), de definições de desenvolvimento de crianças “saudáveis” e, demasiado frequentemente, da vida comunitária. Estas situações fornecem o contexto para o interesse da Fundação Laidlaw na inclusão social. O programa Agenda para a Infância da Fundação começou a explorar a inclusão social, em 2000, como um modo de voltar a focar as políticas para as crianças e famílias através de: • reestruturação do debate sobre a pobreza, a vulnerabilidade e o bemestar das crianças de modo a destacar as dimensões sociais da pobreza (isto é, a incapacidade de participar totalmente na comunidade) • associação da pobreza e vulnerabilidade económica a outras fontes de exclusão, como o racismo, a incapacidade, a rejeição da diferença e opressão histórica • encontro de um território comum entre aqueles que se preocupam com o bemestar das famílias com crianças para ajudar a gerar maior vontade política e pública para actuar. A Fundação encomendou uma série de documentos de trabalho destinados a examinar a inclusão social a partir de várias perspectivas. Embora os autores tenham abordado o tópico por diferentes pontos de partida e tenham enfatizado diferentes aspectos da exclusão e da inclusão, há importantes fios condutores e conclusões comuns. Os documentos de trabalho chamam a atenção para as novas realidades e novos entendimentos que devem ser tidos em consideração no desenvolvimento de políticas sociais e a criação de uma sociedade justa e saudável. Prefácio: A Perspectiva da Fundação Laidlaw Estes são: • Quer a causa de exclusão seja a pobreza, o racismo, o receio das diferenças ou a falta de orientação política, as consequências são as mesmas: uma falta de reconhecimento e aceitação; impotência e ‘falta de voz’; vulnerabilidade económica; diminuídas experiências de vida e limitadas perspectivas de vida. Para a sociedade como um todo, a exclusão social dos indivíduos e grupos pode transformar-se numa importante ameaça à coesão social e à prosperidade económica. • Uma abordagem baseada nos direitos é inadequada para responder às exclusões pessoais e sistémicas sofridas por crianças e adultos. As pessoas com incapacidades lideram o caminho ao apelar a abordagens baseadas na inclusão social e reconhecimento valorizado para proporcionar aquilo que só os direitos humanos não conseguem. • A diversidade e a diferença, quer na base da raça, incapacidade, religião, cultura ou género deve ser reconhecida e valorizada. A abordagem de “tamanho único para todos” já não é aceitável e nunca foi eficaz no progresso do bem-estar das crianças e das famílias. A política pública deve ser estreitamente associada às experiências vividas pelas crianças e famílias, tanto em termos de programas reais como em termos do processo para chegar a essas políticas e programas. Esta é uma das razões para o crescente foco nas cidades e comunidades como lugares onde a inclusão e a exclusão ocorrem. • Os programas e políticas universais destinados a todas as crianças e famílias proporcionam, de forma geral, uma base mais forte para a melhoria do bem-estar do que as abordagens residuais, com gruposalvo ou segregadas. A investigação e evidência anedótica para esta reivindicação estão a crescer a partir dos sectores da educação, desenvolvimento infantil e saúde pública. Compreender a inclusão social A exclusão social emergiu como um importante conceito político, na Europa, na década de 1980, em resposta às crescentes divisões sociais resultantes das novas condições do mercado laboral e à inadequação das disposições de bem-estar social existentes para responder às necessidades em mutação de populações mais diversas. A inclusão social não é, porém, apenas uma resposta à exclusão. Embora vários documentos científicos usem a exclusão social como o ponto de partida das suas dissertações, os mesmos partilham a visão que a inclusão social tem valor por si só, como um processo e como um objectivo. A inclusão social refere-se à garantia que todas as crianças e adultos são capazes de participar, enquanto membros valorizados, respeitados e participativos da sociedade. É, por conseguinte, um conceito normativo (com base no valor) - um modo de elevar a fasquia e compreender onde queremos chegar e como lá chegar. A inclusão social reflecte uma abordagem pró-activa, de desenvolvimento humano, ao bem-estar social que apela a mais do que a remoção de barreiras ou riscos. São necessários investimentos e acções para proporcionar as condições à inclusão, tal como a saúde pública e o desenvolvimento humano internacionais nos ensinaram. Reconhecer a importância da diferença e da diversidade tornou-se fundamental para novos entendimentos sobre a identidade a nível nacional e comunitário. A inclusão social vai um passo mais à frente: esta apela à validação e ao reconhecimento da diversidade bem como ao reconhecimento do que há em comum nas experiências vividas e nas aspirações partilhadas entre pessoas, particularmente evidentes entre famílias com crianças. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL A pedra fundamental da inclusão social O processo de realização dos documentos científicos revelou que a inclusão social é um conceito complexo e desafiante que não pode ser reduzido a apenas uma dimensão ou significado. Os documentos científicos, a par de várias outras iniciativas patrocinadas pela Fundação no âmbito da sua exploração da inclusão social, ajudaram-nos a identificar cinco dimensões críticas, ou pedras fundamentais, da inclusão social: Reconhecimento valorizado - Conferindo reconhecimento e respeito a indivíduos e grupos. Isto inclui o reconhecimento das diferenças no desenvolvimento das crianças e, por conseguinte, a não equiparação da incapacidade com uma patologia; o apoio às escolas públicas que são sensíveis às diferenças culturais e de género; e a extensão da noção ao reconhecimento do valor comum através de programas universais como os cuidados de saúde. Desenvolvimento humano - Alimentar os talentos, habilidades, capacidades e escolhas das crianças e adultos para vivem uma vida que valorizem e para fazerem um contributo que eles próprios e os outros considerem valer a pena. Os exemplos incluem: oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento para todas as crianças e adultos; cuidado infantil comunitário e programas de recreação para crianças que promovam o crescimento e sejam desafiantes e não apenas para tomar conta. Isto sugere fortemente que a inclusão social se estende para lá da atracção de grupos “marginais” ou de noções de periferia contra centro. Refere-se ao encurtamento de distâncias físicas, sociais e económicas que separam as pessoas e não apenas à eliminação de fronteiras ou barreiras entre nós e eles. Envolvimento e empenho - Ter o direito e o apoio necessário para fazer/ser envolvido na tomada de decisões que afectam o próprio, a família e a comunidade e ser envolvido na vida comunitária. Os exemplos incluem: envolvimento dos jovens e controlo dos serviços para a juventude; contributo dos pais para o currículo escolar ou tomada de decisões que afectem os filhos; envolvimento dos cidadãos nas decisões de política municipal e participação política. Proximidade - Partilhar espaços físicos e sociais para proporcionar oportunidades para interacções, se desejado, e reduzir as distâncias sociais entre pessoas. Isto inclui a partilha de espaços públicos como parques e bibliotecas; bairros e prédios de rendimentos mistos e escolas e turmas integradas. Bem-estar material - Ter os recursos materiais que permitam às crianças e aos pais participarem activamente na vida comunitária. Isto inclui terem habitações seguras e um rendimento adequado. Prefácio: A Perspectiva da Fundação Laidlaw Próximos passos: Construir cidades inclusivas e comunidades Nos próximos três anos, o programa Agenda Infantil da Fundação Laidlaw focar-se-á na Construção de cidades e comunidades inclusivas. A importância das cidades e das comunidades está a tornar-se cada vez mais reconhecida, porque o bem-estar das crianças e das famílias está estreitamente ligado ao local onde vivem, à qualidade dos seus bairros e cidades e aos “lugares comuns” onde as pessoas interagem e partilham experiências. Christa Freiler Coordenadora do Programa Agenda Infantil Fundação Laidlaw A visão da Fundação Laidlaw para uma sociedade socialmente inclusiva baseia-se num movimento internacional que quer fazer progredir o bem-estar das pessoas através da melhoria da saúde das cidades e das comunidades. A realização desta visão é um projecto a longo prazo para assegurar que todos os membros da sociedade participam de forma igual enquanto cidadãos valorizados e respeitados. É uma agenda baseada na premissa de que para que a nossa sociedade seja justa, saudável e segura é necessária a inclusão de todos. Paul Zarnke Presidente e antigo director do Comité de Consultoria da Agenda infantil Fundação Laidlaw Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a quem se segue, pela sua contribuição e empenho na série de documentos científicos sobre a inclusão social: os autores, sem os quais não existiriam documentos científicos; Karen Swift, Frank Stark, Nancy Matthews, Jennifer Keck, Daniel Drache e os quarenta revisores externos dos documentos, cada um dos quais forneceu opiniões criticas e aconselhamento especialista em várias fases do processo de edição; os membros do Comité de Consultoria do Programa Agenda Infantil, Nathan Gilbert, director executivo e o Conselho de Administração da Fundação Laidlaw pelo seu apoio, interesse e comentários críticos; e a Larisa Farafontova, Eva-Marie Dolhai e Richard Wazana pela sua perseverança e competente assistência em fases críticas do processo. Esta série é dedicada à memória da Dra. Jennifer Keck que faleceu a 12 de Junho de 2002 após uma longa batalha contra o cancro. Jennifer foi um importante membro do comité editorial, uma informada e apaixonada revisora dos documentos científicos e uma inabalável defensora da justiça social e da inclusão social de todas as pessoas. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Sentidos por Jovens com Incapacidade PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Sentidos por Jovens com Incapacidade Introdução: "Ao nosso modo... Nas nossas condições" Os jovens têm sempre de ouvir os adultos, raramente somos levados a sério. Nós é que temos de ir à escola; nós é que teremos de lidar com os conflitos quando formos adultos. Temos que tentar pôr em prática as nossas ideias e praticar formas de resolver conflitos. Nós queremos fazer amigos à nossa maneira. Temos de fazer isso se quisermos aprender a relacionarmo-nos uns com os outros. Queremos a ajuda dos adultos, mas nas nossas condições. Penso que todos os jovens precisam que as coisas mudem, não só as crianças com incapacidade. 2 Maresa Mackeith, Utilizadora Facilitada de Comunicações “Todos os jovens precisam que as coisas mudem.” Gerações de adultos fizeram diferentes interpretações da necessidade de mudança para sustentar o crescimento das crianças e promover o seu bem-estar. Este documento – embora sujeito às limitações da interpretação dos adultos – procura analisar a relação entre inclusão e igualdade, tentando basear este inquérito numa consideração activa das experiências, perspectivas e vozes das crianças e dos jovens. Em particular, este documento centra-se nas experiências de jovens com incapacidades, procurando compreender melhor o significado da inclusão social para eles e como é que a sua experiência da realidade os relaciona com os conceitos fundamentais e os princípios da igualdade. Este foco na incapacidade fornece uma singular e importante oportunidade de destacar e reflectir sobre as nossas respostas às “perguntas difíceis” da diferença tanto a nível individual como político. É bem reconhecido que o estatuto da igualdade das pessoas com incapacidade é posto em perigo por padrões de exclusão social profundamente enraizados e que o tratamento desigual no contexto da incapacidade toma frequentemente a forma da negação de oportunidades para uma participação inclusiva. Conforme afirmado pelo Supremo Tribunal do Canadá: É uma infeliz verdade que a história das pessoas com incapacidade no Canadá é de exclusão e marginalização. As pessoas com incapacidades têm sido frequentemente excluídas da força laboral, tem-lhes sido negado o acesso a oportunidades de interacção e desenvolvimento social, sujeitas a preconceitos e relegadas a instituições… Esta desvantagem histórica tem, em grande medida, sido formada e perpetuada pela noção que a incapacidade é uma anormalidade ou defeito. Em virtude disso, as pessoas com incapacidade não têm merecido a “mesma preocupação, respeito e consideração” que é s. 15(1) das exigências da Carta. Ao invés, eles têm sido sujeitos a atitudes paternalistas de pena e caridade e a sua entrada na vida social tem sido condicionada pela imitação de normas de boa forma física... Uma consequência destas atitudes é a persistente desvantagem social e económica com que as pessoas com incapacidades se deparam. As estatísticas indicam que as pessoas com incapacidades, em comparação com as pessoas sem incapacidades, têm menos acesso à educação, têm maiores probabilidades de ficarem fora do mercado de trabalho, enfrentam uma taxa de desemprego muito superior e estão concentradas na extremidade mais baixa da escala salarial quando empregadas. 3 Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades Neste contexto, não surpreende que as crianças com incapacidade sofram a exclusão social numa medida superior à das crianças sem incapacidades. De acordo com uma Folha de Informação sobre Incapacidade, recentemente publicada pelo Canadian Council on Social Development (Conselho Canadiano para o Desenvolvimento Social): Eles [i.e., as crianças com “necessidades especiais”] sofrem maior violência por parte de outras crianças. Estas têm maior probabilidade, que as crianças sem necessidades especiais, de sentirem que os seus pares não gostam delas e de se sentirem “abandonadas”. Estas crianças também têm menores probabilidades de se sentirem seguras na escola. Embora, na maioria dos casos, as diferenças entre crianças com necessidades especiais e as que não têm essas necessidades sejam bastante pequenas, as diferenças existem e estendem-se a muitas facetas da experiência social.4 Ouvindo relatos directamente da boca de jovens com incapacidades e dos seus pares, este documento defende que através da lente das incapacidades podemos aperceber-nos claramente das limitações de um foco exclusivo nos direitos e reconhece o contributo essencial da inclusão social no desafio da promoção, respeito e protecção por uma vida de dignidade e igualdade para todos os cidadãos. Este documento toma como ponto de partida uma série de diálogos por e-mail com seis jovens de Alberta, com idades entre os 15 e 18 anos.5 Após instrução dos mesmos, estes informadores serão identificados pelos seguintes nomes: Aaron, Brandalyn Lofgren, Kyle, Linda, Lynnsey Harder e Trevor. Dois destes jovens têm incapacidades; os outros quatro estão envolvidos numa relação de proximidade com alguém com incapacidades. As suas observações e reflexões sobre inclusão são o pilar da análise que se segue numa base de urgência e autenticidade. O pressuposto subjacente a este documento é que a experiência da exclusão social aumenta a consciencialização para a inclusão social e que esta maior consciencialização e apreciação proporcionam vividas e abundantes informações que merecem a atenção de teoricistas legais e políticos. Inclusão: "Ser quem sou... Fazer o que eles fazem” No início das nossas conversas colocou-se a Aaron, Brandalyn, Kyle, Linda, Lynnsey e Trevor a questão fundamental: “O que é a inclusão?” Na maior parte, estes jovens definiram inclusão em termos de oportunidade: A oportunidade de participar; a oportunidade de alcançar; a oportunidade de se ser visto e compreendido; a oportunidade de pertencer: Lynnsey: Para mim a inclusão é dar a cada criança, adolescente e adulto a oportunidade de se juntar e ser incluído em qualquer actividade apesar de qualquer coisa (incapacidades, QI, etc.) 6 Alguns definiram inclusão em termos de princípios éticos básicos: Trevor: Inclusão significa amizade e tratarmo-nos uns aos outros com atenção e respeito.7 Outras definições foram, fundamentalmente, experimentais: Aaron: Inclusão é conseguir estar com miúdos da minha idade e fazer o que eles fazem e ir onde eles vão. Inclusão é estar com eles. A inclusão ajuda as pessoas a verem que há muito mais em mim do que o autismo. Ajuda-as a ver que eu sou um adolescente normal. A inclusão é importante, porque me permite ser quem sou e estar com os meus amigos que fazem aquilo que fazem. 8 PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Alguns reconheceram e articularam o elemento crucial de apoio ao exercício da agência individual: Kyle: Inclusão é receber todo o apoio de que necessito para estar numa sala de aulas normal na escola, fazer todas as actividades nos escuteiros ou qualquer outra coisa que eu queira tentar fazer.9 Para alguns, há uma qualidade transcendente à inclusão – um reconhecimento do próprio no outro – e uma afirmação das necessidades e aspirações universais do homem: Linda: Inclusão é ver as capacidades e não as incapacidades de cada um e apoiar cada indivíduo de modo a ajudálo a alcançar o seu máximo potencial. A inclusão é olhar para a alma de alguém e vê-lo como um ser humano com emoções, sentimentos e desejos como todos nós. A inclusão é tudo isto e muito mais, mas mais importante, a inclusão é fazer com que aqueles que se sentem excluídos ou isolados se sintam incluídos.10 Mais surpreendente foi a ênfase que a maioria dos contribuintes colocou sobre os valores gémeos da participação e da aceitação: Brandy: Para mim, a inclusão é pertencer… estar com todos e sentir que faço parte do que estão a fazer. É aceitação e saber que nos “encaixamos” (acho eu). Não somos diferentes dos outros. Sentirmo-nos seguros, em segurança e fortes. Podermos ser nós próprios. A verdadeira inclusão não vem por fases. Ou existe ou não existe. 11 No seu recente texto feminista com o subtítulo “Experimentar e Compreender a Incapacidade”, Thomas destacou uma dualidade de forças restritivas que operam nas vidas das pessoas com incapacidade. Por um lado, há várias barreiras e restrições que travam as oportunidades das pessoas com incapacidade para agirem no mundo social. Activistas, legisladores e comentadores prestaram bastante atenção à remoção dessas barreiras e à promulgação de normas legais e reguladoras que garantem o acesso de pessoas com incapacidade a locais públicos, serviços e oportunidades. Embora ainda falte fazer muito em matéria de implementação dessas normas e do desmantelamento de barreiras físicas, estruturais e sistémicas, esta noção de acesso é bem reconhecida – uma matéria directa de tijolos e argamassa ou madeira, pregos e esforço físico, uma questão de desenho e acomodação, uma questão de como os recursos e prioridades estão atribuídos. A súplica de Kyle por apoio para “fazer todas as actividades… que gostava de experimentar”, o desejo de Aaron de estar com os colegas e “fazer o que eles fazem e ir onde eles vão” e o incitamento de Lynnsey para que todos sejam “incluídos em qualquer actividade” dirigem-se a um altamente prevalecente fenómeno de exclusão das principais actividades e oportunidades – e sugere que a inclusão exige uma atenção vigilante à remoção de barreiras. Uma comunidade inclusiva, dizem-nos os nossos informadores, é uma na qual as oportunidades para actuar no mundo social não são, conforme notou o Supremo Tribunal em Eldridge, “condicionais à imitação de normas da boa forma física”. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades Por outro lado, de acordo com Thomas, “há dimensões adicionais, frequentemente intangíveis, à exclusão social das pessoas com incapacidades”. A linguagem e os mecanismos destas restrições são muito menos compreendidas do que as formas de “acesso” que as contrariam. Para as pessoas com incapacidade, uma completa noção de acesso deve ir muito além do desafio mecânico da entrada em prédios ou o desafio burocrático da elegibilidade para oportunidades cívicas. O acesso também deve ser sobre abrir caminho para a cidadania e comunidade humana e sentirse seguro e valioso. Com esta moldura, a inclusão apela ao empenho numa dinâmica de acesso ao respeito, acesso a um sentido do próprio como uma pessoa completa e o acesso à identidade como um valorizado contribuinte, um detentor de direitos, conhecimento e poder. A noção de “pertença”, identificada por Brandy como sinónimo de inclusão, extrai um imperativo de se sentir “seguro, em segurança, forte... [para que] possamos ser nós próprios”. Estes mesmos intangíveis parecem, também, sublinhar a ênfase dada por Trevor à “atenção e respeito” e às informações de Linda sobre “ver” verdadeiramente os indivíduos com incapacidades através da lente da nossa humanidade comum. Aaron conclui: A inclusão é importante, porque me permite ser quem sou e estar com os meus amigos que fazem aquilo que fazem. [Ênfase adicionada] As suas conclusões ecoam fortemente o argumento de Thomas segundo o qual: O foco deve incluir não só uma preocupação com o que “fazemos” e como “agimos” (ou somos impedidos de fazer e agir) enquanto pessoas com incapacidades, mas também uma preocupação com “quem somos” (ou somos impedidos de ser) e como nos sentimos e pensamos sobre nós próprios. Com base neste relato de inclusão como promoção das liberdades para fazer e ser, podemos agora considerar um conjunto de “narrativas de inclusão”. A partir dos relatos que se seguem, pode ser possível dar início a um esboço preliminar sobre como experiências inclusivas formam não só o que fazemos, mas também como actuamos e que somos e como nos sentimos e o que pensamos sobre nós próprios. Inclusão: "Partilhar, Partilhar, Partilhar” Eu preocupo-me com a inclusão porque afecta o meu futuro. Eu tenho sonhos e se não estiver incluído não me conseguirei desenvolver para me tornar na pessoa que quero ser e alcançar os meus objectivos… Kyle Kyle tem 15 anos e é um aluno do nono ano. Ele descreve as suas incapacidades nos seguintes termos: Quanto tinha 3 anos tive um acidente de afogamento que me deixou uma lesão cerebral, por isso agora uso a língua gestual ou a minha máquina Dynavox 12 para falar com as pessoas.13 Quando lhe é pedido que descreva a sua mais antiga memória de inclusão, Kyle tem dificuldades consideráveis. Segundo o pai, Kyle “sempre foi incluído.” Com algum esforço, contudo, ele lembra a seguinte experiência: A minha mais antiga memória de ser incluído foi quando tinha cinco anos e foi incluído em Beavers. Eu ainda estava numa cadeira de rodas. Havia muitos rapazes da minha idade; começávamos cada encontro com o cântico “Beavers, Beavers, Beavers. "Partilhar, Partilhar, Partilhar.” Ao mesmo tempo fazíamos um sinal com dois dedos. Eu adorava estar com os outros miúdos; fazíamos jogos e trabalhos manuais. Um dos rapazes ajudava-me a fazer o meu trabalho e havia sempre alguém para empurrar a minha cadeira de rodas para que eu pudesse participar nos jogos. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Ninguém sabia como encontrar um modo de eu poder comunicar com eles, nessa altura. Mas um dia, a minha mãe estava a comer uma torrada e eu também queria. Lembrei-me do sinal de partilha de Beavers e fiz esse sinal à minha mãe. Ela demorou algum tempo, mas acabou por perceber que eu queria partilhar a torrada dela. Depois disso, a mãe achou que se calhar era melhor aprendermos alguma língua gestual. E funcionou. 14 O avanço comunicativo de Kyle é contado como um resultado directo, ainda que acidental, de um inclusivo programa Beavers. Sem diagnóstico ou intervenções clínicas, este momentos “eureka” pertenceu a Kyle e à mãe dele. Relatos deste tipo de triunfos são tema recorrente nas narrativas de pessoas com incapacidades. Crianças – e adultos – descobrem capacidades latentes e resolvem problemas que confundem os peritos. Embora não esteja no âmbito deste documento retirar conclusões da natureza empírica deste fenómeno, podemos apreciar – pelo menos intuitivamente – uma ligação entre a inclusão e o alargamento das exposições; entre o alargamento de exposições e o aumentado repertório individual de possibilidades; entre o aumentado repertório individual de ferramentas e ideias e uma maior probabilidade de uma bem sucedida aplicação. Como Kyle conclui, “Funcionou!” Para Kyle e para outros jovens incluídos neste artigo, a inclusão funcionou bem de forma geral. Quase sem excepção, estes jovens definiram inclusão, primeiramente não como um conceito, mas como uma experiência – uma experiência de crescimento e descoberta universalmente vista como pessoalmente emancipadora e socialmente compensatória. Para cada um dos jovens contribuintes, a inclusão confere o precioso prémio da amizade e, com esse prémio, uma passagem a se estar ligado aos outros, de ser conhecido, respeitado e cuidado. Aaron, por exemplo, apresenta a profundidade da sua compreensão da amizade em termos que ecoam a empatia e a compaixão: Tenho pena das pessoas que não têm amigos... Eu posso divertir-me e estar feliz e ser eu próprio com os meus amigos… Gosto de estar com eles e fico feliz quando eles estão felizes e fico triste quando eles estão tristes e sorrio para eles e dou-lhes um abraço e gosto que estejam comigo sempre… Eles dizem-me olá e incluem-se nas actividades deles e ajudam-me se eu preciso e sentam-se comigo e cuidam de mim quando eu preciso e preocupam-se comigo quando estou feliz ou triste ou zangado ou chateado e passam tempo comigo. A amiga de Aaron, Brandy, na sua afirmação sobre o que faz um “verdadeiro amigo”, retira maduras conclusões sobre a nascente da inclusão. O seu amigo Aaron é ‘diferente’, mas a diferença que conta para Brandy é ética e não funcional ou de desempenho. Nesta escala, Aaron está acima do seu grupo de pares e participa em valiosas relações de amizade incondicional: Aaron é um verdadeiro amigo. O melhor amigo que alguém pode desejar. Ele não se importa com as suas notas, sobre as suas capacidades para jogar basquetebol, se usa ténis Nike e calças Tommy, se tem os dentes tortos ou borbulhas na cara. Ele é o melhor tipo de amigo porque demonstra uma amizade incondicional, sem qualquer contrapartida! Á medida que os jovens relatam as suas experiências, torna-se claro que enquanto a simples proximidade física seja um prérequisito, não é de modo algum determinante da experiência da inclusão. A amizade é a característica que distingue e define a inclusão – amizade que é livremente expressa como uma dimensão do ser e trocada sem medidas ou considerações: Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades Trevor: Não compreendo porque é que [a mãe de Kyle] acha que eu dou demasiado ao nosso relacionamento. Ela está sempre a dizer-me que dou demasiado a Kyle, mas nunca parece que é assim. Limito-me a ser eu próprio – da melhor forma que consigo. Mesmo ao fim de ano e meio ainda não compreendo. 15 É uma amizade de luta e não do tipo ‘luva de pelica”, na qual Kyle e Trevor podem explorar e expressar total egoísmo, a trabalhar e a brincar, na escola e fora dela, activo e passivo, com bom e mau humor: Kyle: Alguns amigos só são simpáticos na escola; eles ajudam com o trabalho ou almoçam connosco. Depois há o Trevor, ele é o meu melhor amigo. Passamos tempo juntos, dormimos em casa um do outro, vamos ao centro comercial, ouvimos música, jogamos computador, vemos filmes, implicamos um com o outro e rimos muito. Trevor e eu aceitamo-nos um ao outro como somos. A maior parte do tempo em que Trevor e eu estamos juntos brincamos e passamos momentos divertidos mas, às vezes, também nos chateamos um ao outro - e está tudo bem. Faz parte de se ser um bom amigo. 16 Notoriamente, a qualidade da amizade que define inclusão é bastante diferente da sombria aliança entre companheiros de cárcere, como lembra Maresa Mackeith nas suas recordações das experiências da infância em instituições segregadas para crianças com deficiências: Eu já estive em todo o tipo de escolas. Na escola especial, era tratada como se não compreendesse nada. Tentei fazer amigos, mas éramos tão mal tratados que era impossível falarmos uns com os outros. Não quero ver essas pessoas agora, porque fico muito triste.17 Na experiência dos jovens entrevistados para este trabalho, a ligação entre o sentimento de bem-estar de alguém e a inclusão é directa e irredutível. Para Kyle, Trevor e Aaron, a questão sobre ‘como nos sentimos e o que pensamos sobre nós próprios” está inextrincavelmente associada a sentimentos de ser incluído: Kyle: Quando somos incluídos é mesmo “fixe” e sentimo-nos realmente mal quando não somos. 18 Trevor: Sentimo-nos bem quando somos incluídos, porque sabemos que alguém gosta de nós, temos alguém em quem confiar e que nos apoie. 19 Aaron: [Se eu não fosse incluído] estaria sempre em casa e iria sentir-me sozinho, triste e zangado. 20 A investigação conduzida por Jenkins e Keating confirma que uma robusta rede de relações sociais, como a amizade dos pares, está fortemente correlacionada com o desenvolvimento da resiliência infantil e com a capacidade para lidar com o stress exterior. Funcionando como um tipo de “intervenção natural”, os sentimentos de ligação aos outros demonstraram contribuir para um sentimento de segurança, integração e orientação para um objectivo. Para Kyle, o stress do assédio dos pares é mantido em perspectiva através de um saudável sentimento de inclusão autoforjado na mente: O pior de quando se está na escola é quando os miúdos nos ignoram ou nos chamam fracos, mas penso que isso acontece com toda a gente e não apenas com quem tem necessidades especiais… Algumas pessoas preocupam-se que estejam todos juntos nas mesmas aulas. Eu sei que o meu lugar é junto dos meus amigos e o lugar deles é junto de mim. 21 Os jovens que contribuíram para este documento destacaram temas de cooperação, confiança e apoio mútuo na respectiva enumeração dos benefícios de inclusão. O comentário de Aaron ilustra como as amizades inclusivas não só sustentam a confiança na sua identidade presente, como lhe permitem ultrapassar o medo em limiares de desenvolvimento. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL As amizades inclusivas, na nossa opinião, sustentam não só o ser como também o tornar-se: Aaron: Posso divertir-me com [os meus amigos] e incentivá-los e concentrar-me melhor com os meus amigos à minha volta… Não teria os amigos que tenho se não fosse incluído. Eles estão sempre lá para mim e encorajam-me, apoiam-me e ajudam-me. Eles dão-me auto-confiança. Eu acho que não teria conseguido dar o grande passo da escola secundária, porque tinha imenso medo, mas depois descobri que os meus amigos também tinham medo e não foi assim tão difícil afinal de contas. Éramos todos iguais. 22 Nas suas reflexões sobre amizade inclusiva, os jovens que participam neste estudo não pareceram dividir e diferenciar entre linhas de fisiologia ou capacidade intelectual demonstrável. As normas de comportamento, contacto físico e comunicação parecem mais fluidas, com o processo de definição do próprio e do outro baseado antes em valores e normas de conduta. Um verdadeiro amigo, como Brandy declarou, é alguém que não nos julga pela marca dos ténis ou pelas borbulhas na cara. Noutro comentário, ela ilustra o valor da aceitação na amizade inclusiva em relação ao delicado desenvolvimento da identidade adolescente: Quando alguém nos ignora ou grita connosco, nós tendemos a ficar afastados dessa pessoa, mas não Aaron, nós voltamos sempre a tentar. Muitas pessoas não querem que nada advenha do seu primeiro contacto com Aaron, mas acaba sempre por acontecer. As pessoas são atraídas por ele e querem estar sempre ao pé dele. Especialmente quando têm um dia mau. Só o facto de estar com ele trás todo o conforto do mundo. Ele dá-nos segurança sem dizer uma palavra. Ele parece ter uma aura de aceitação à volta dele. 23 O estranho, o forasteiro no meio deles não é aquele cujos padrões de discurso ou comportamento o marcam como diferente, mas aquele que não partilha no sistema de valor da inclusão – o “espertalhão” do miúdo novo que faz “uma grande coisa” do comportamento do rapaz autista é rapidamente e definitivamente colocado no seu lugar pelos seus pares e a violência pára aí. Brandy: Eu sentiria mesmo pena do miúdo que quisesse implicar com Aaron, porque todos o defendem em todas as circunstâncias. Quando um miúdo novo chegou à escola e mencionou algo negativo sobre Aaron, todos na sala defenderam Aaron e a questão não foi mais longe. Se Aaron estivesse numa sala diferente da nossa ou se não tivesse crescido com estes miúdos e não tivesse com eles uma relação tão próxima, a situação poderia ter sido bastante diferente...24 O significado de inclusão para estes jovens está, por conseguinte, inter-relacionado com a procura da identidade. “Quem somos” evolui e é alimentado através de relacionamentos de auto-afirmação. De facto, a reciprocidade é, talvez, o elemento único mais importante nos testemunhos de inclusão ouvidos. Os relacionamentos descritos não estão manchados pelo impulso caridoso de respostas societárias mais alargadas à incapacidade, sendo, ao invés, caracterizadas por mutualidade e respeito: Trevor: Estar com Kyle é divertido, ele nunca se chateia por ter apenas uma coisa para fazer e tem as coisas em consideração... Tamara: Aaron tornou a sala de aulas mais divertida e trouxe mais entusiasmo à aprendizagem. Ele é um dos melhores amigos que já tive por causa do seu autismo. Ele ouve os meus problemas e não os vai contar a ninguém. Ele é muito divertido e muito esperto. Tenho a certeza que os outros miúdos da minha turma que conhecem o Aaron concordam que ele é muito inteligente e muito bom amigo. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades Acho que deviam existir mais pessoas como o Aaron. Aquilo que mais senti falta quando deixei a Centennial School foi do Aaron.25 A partir destas narrativas vemos que a inclusão decorre de uma ética não de tolerância, mas de activa valorização da diferença. Na subcultura inclusiva a partir da qual Aaron e os seus colegas oferecem as suas reflexões, a crescente confiança de Aaron assenta numa base rica de respeito, apoio e afecto dos pares. Na sua fácil camaradagem com Trevor e outros, Kyle domina e manifesta uma identidade de espirituosa confiança em si próprio e irrepreensível vitalidade. Em ambientes escolares, descritos pelos críticos do sistema como “as instituições mais disfuncionais criadas pelo mundo desenvolvido”26, grupos de jovens de Edmonton criam oásis de reciprocidade e envolvimento. O significado de inclusão é rápido e vibrante, sugerido – mesmo quando não totalmente captado – nestas imagens de “ser” e “tornar-se” mútuas. Igualdade e Exílio: Almoço na Sala 20 Pertencer. Uma única palavra tão dolorosa. Esta conjura algumas das nossas mais profundas nostalgias e, para alguns de nós, talvez, as mais dolorosas recordações. As afirmações sobre igualdade começam e acabam com um desejo de pertença, de comunidade. Ideias de igualdade encontram-se no coração da promessa canadiana de comunidade. Ainda assim nós sabemos que as comunidades são construídas de duas formas: acolhendo e afastando. O desejo de pertença é intenso e profundo. Cada um de nós tem uma profunda experiência pessoal sobre isso, que foi construída desde a infância. ... A lei da igualdade visa proteger e promover a pertença; acolher outros no feudo e encorajar e cimentar os nossos laços de comunidade. É suposto fazer-se isto através de uma subtil e complexa mistura de fardo e benefício: a mão de ferro na luva de veludo.27 (Pentney 1996) A única coisa que não gosto na minha escola é que todos os miúdos com necessidades especiais almocem na sala vinte.28 Kyle Aaron tem 16 anos e é um aluno do 10º ano. Aaron tem autismo. Desde o jardim-deinfância até ao 6º ano, Aaron foi incluído em toda a programação regular da escola elementar do seu bairro. Perto do final do sexto ano, Aaron e a família foram informados que Aaron seria agrupado a outros jovens com incapacidade e colocado numa turma separada na escola secundária, com “experiências inclusivas” específicas a serem fornecidas em áreas designadas, como educação física. Em nome de Aaron, a sua família desencadeou uma acção legal para contestar esta decisão e para que Aaron continuasse a frequentar as aulas na companhia dos seus amigos sem incapacidades. Ao longo de todo o processo legal, Aaron prosseguiu o sétimo ano em casa. Os amigos de Aaron da escola elementar iam a casa dele depois das aulas para fazerem os trabalhos de casa em conjunto. Ocasionalmente, visitavam-no à hora de almoço nos dias de escola e mantinham-se em contacto ao fim-de-semana através de actividades na igreja, na piscina e no campo de desportos local. Escreveram cartas ao conselho directivo da escola, sustentando o direito de Aaron a uma educação totalmente inclusiva: PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Estimado Conselho Directivo, Penso que Aaron deveria estar numa turma regular. Ele esteve numa até agora, por isso, para quê mudar? Aaron é o meu melhor amigo e é importante que ele esteja numa turma regular porque, de outro modo, ele não irá aprender tanto quanto é capaz de aprender. Aaron precisa de estar numa turma regular para ter muitos amigos. Aaron ensinou-me muitas coisas e penso que é importante que ele esteja na turma certa. A minha turma. Sinceramente, Tanner Após uma avaliação académica no final do seu sétimo ano, Aaron foi autorizado a juntar-se aos seus amigos na escola secundária. Segundo a mãe dele, “Aaron não só se ajustou à mudança de casa para a escola, como também zarpou sem voltar a olhar para trás.”29 Para Aaron e para a sua família e amigos, tal como para muitas outras famílias canadianas cujos filhos com incapacidades vêem negada a oportunidade a um serviço educacional totalmente inclusivo,30 a questão é de direitos mais do que de opinião “profissional” e política institucional. Brandy, amigo de Aaron, vê as coisas assim: Todos temos as nossas diferenças. Alguns miúdos têm dificuldades em escrever, outros (como eu) têm dificuldades em compreender coisas como poesia ou histórias estranhas. Seja qual for o caso, todos nós nos debatemos com coisas diferentes – alguns mais que outros, mas isso não é razão para os isolar de todos os outros. A sociedade não consideraria dividir as pessoas pela cor do cabelo ou pelo facto de usarem óculos ou não, portanto porque é que miúdos como o meu amigo Aaron têm de ser diferentes? Algumas pessoas podem chamar-lhe aprendizagem especializada, mas eu chamo-lhe preconceito.31 Introduzir a mão de ferro na luva de veludo. A lei canadiana para a igualdade, expressa na secção 15 da nossa Constituição e na legislação federal e estatal sobre direitos humanos, fez-nos percorrer uma boa distância na exposição do preconceito referido por Brandy e no afastamento de padrões profundamente enraizados de discriminação e desvantagem. A jurisprudência sobre direitos à igualdade proporcionou importantes ferramentas analíticas e legais de remédio e reparação sempre que a discriminação – directa ou indirecta – é encontrada em acções, políticas e sistemas públicos ou privados. Numa análise mais próxima, contudo, encontramos limites inerentes ao paradigma dos direitos/igualdade na desenraização da “persistente desvantagem social e económica”32 que é enfrentada pelas pessoas com incapacidade. Os direitos, parece, são orientados para aquilo que fazemos e como agimos, oferecendo recurso legal às pessoas excluídas da actividade e oportunidade predominante. Por outro lado, as questões sobre “quem somos” e “como sentimos e que pensamos sobre nós próprios” podem ser julgadas com menos prontidão, particularmente num contexto legal e político caracterizado por um inconsciente, ainda que penetrante, desvio – um clima que “condiciona a entrada na corrente social principal à imitação das normas de apetência física”.33 O que é que a nossa justiça oferece às crianças e/ou às famílias das crianças excluídas da participação na comunidade? Embora esteja fora do âmbito deste documento fazer o mapeamento completo dos desenvolvimentos e precedentes na jurisprudência canadiana sobre direitos humanos e igualdade possa ter sobre essas reivindicações, será instrutivo para o objectivo actual analisar dois importantes casos nos quais jovens com deficiências estiveram directamente envolvidos como queixosos. O primeiro destes foi Youth Bowling Council of Ontario versus McLeod34, uma decisão do Tribunal Distrital de Ontário de 1990. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades O requerente neste caso foi Tammy McLeod, uma rapariga de 11 anos com paralisia cerebral que, desde os 6 anos de idade, participava em bowling recreativo num local perto da sua casa em Strathroy, Ontário. Tammy jogava com a ajuda de uma rampa de madeira cujo topo repousava no seu colo enquanto ela se sentava numa cadeira atrás da linha de queimado. A mãe colocava a bola no topo da rampa e Tammy alinhava a rampa para direccionar a bola que depois empurrava. Tammy foi registada no Ontario Youth Bowling Council e, em 1985, qualificou-se, juntamente com outras crianças, para participar no torneio local. Contudo, Tammy não foi autorizada a competir no torneio porque o Conselho deliberou que ela não era elegível enquanto usasse uma rampa para empurrar a bola. Um Human Rights Board of Inquiry ordenou, em 1988, que o Conselho permitisse que Tammy competisse utilizando a rampa e que aprovasse uma nova regra que previsse as adaptações para jogadores jovens com incapacidades. O Conselho apelou desta decisão argumentando que “para que o torneio fosse justo, para que houvesse uma justa comparação das capacidades dos participantes, era essencial que os participantes utilizassem os seus atributos físicos”.35 Ao rejeitar o apelo e manter a decisão do Board of Inquiry, o Tribunal sublinhou: A integração de pessoas com e sem incapacidades no bowling atinge um objectivo maior da política pública de Ontário, conforme enunciado no preâmbulo do Código [dos Direitos Humanos]. A exclusão das pessoas com incapacidade do torneio quando estas são acolhidas fora no torneio não é aceitável na ausência de qualquer razão que se sobreponha. A razão sugerida é o efeito sobre a justiça do torneio, mas com base nas provas, tal efeito decorrente da participação de Tammy – ou de uma dúzia de Tammys, de facto – seria minúsculo. A premissa não afirmada subjacente ao argumento do Conselho é, na minha opinião: que o nível de organização do torneio, o seu prestígio, o seu âmbito nacional e a sua declaração de um campeão impedem os participantes de utilizar dispositivos de ajuda. Eu não posso aceitar a premissa que um torneio desportivo, qualquer que seja a sua organização, âmbito, prestígio, esteja por isso isento do alcance dos efeitos de remédio do Código. O uso de dispositivos de ajuda de outro modo banidos do torneio não é uma dificuldade indevida para o Conselho. Não há prova de dificuldade para os concorrentes. Não lhes é pedido que alterem o modo como jogam de modo algum. A prova é clara que o dispositivo de Tammy não lhe confere qualquer vantagem competitiva face aos outros. A velocidade de bola é lenta. Ela não consegue variar significativamente a velocidade da bola – um importante elemento de competição; nem consegue fazê-la girar o que, segundo o perito do Conselho, é uma chave do sucesso. ... Nenhuma prova foi dada por nenhum concorrente que se queixasse do aparelho de Tammy. As crianças parecem aceitála completamente.36 Para Tammy, o resultado de três anos de litígio foi uma afirmação do seu direito de participar na actividade recreativa inclusiva que quisesse escolher. Para Aaron, o resultado do processo de um ano de defesa e estudo em casa37 foi uma afirmação do seu direito de participar num ambiente totalmente inclusivo de escola secundária. Em ambos os casos, apreciados princípios de igualdade foram invocados com sucesso “para proteger e promover o sentimento de pertença”. Mas em nenhum dos casos foi, porém, o direito absoluto à inclusão afirmado. Para Tammy, a decisão do tribunal parece trazer bastante importância: • A ausência de queixas por parte dos seus colegas; PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL • A ausência de qualquer necessidade dos outros adaptarem a sua maneira de jogar; e • A persistente desvantagem competitiva de Tammy. Para Aaron, como já vimos anteriormente, um longo processo judicial foi driblado por uma avaliação formal que demonstrou paridade académica com os seus pares. Embora, por vezes, o seu comportamento e métodos de comunicação divirjam das normas sociais, a sua aptidão académica – para seu benefício – está conforme essas mesmas normas. De um modo directamente paralelo ao sucesso da reivindicação de Tammy, podemos ver o apoio dos colegas de Aaron, o facto de ele não requerer qualquer “tratamento especial” que pudesse ser interpretado como privilégio e a ausência de qualquer necessidade de grandes remodelações no programa escolar – todos estes factores pesaram significativamente no sucesso da sua reivindicação para a colocação numa escola inclusiva. A experiência de Aaron é um profundo contraste com o segundo caso aqui apresentado para análise: Eaton versus o Conselho de Educação de Brant County. Este caso centrou-se sobre a colocação educacional de Emily Eaton, uma criança de 12 anos com várias incapacidades. Durante os primeiros três anos da sua educação, Emily, com a ajuda de uma auxiliar de educação a tempo inteiro, frequentou aulas regulares juntamente com os seus pares sem incapacidades na escola pública local. Após a identificação de receios quando ao crescente isolamento de Emily num “ambiente teoricamente integrado”, a Comissão de Identificação, Colocação e Análise do conselho educacional da sua escola determinou que Emily – tal como Aaron – deveria ser coloca junto a outras crianças com incapacidades numa classe segregada de educação especial. Os pais de Emily opuseram-se a esta decisão, insistindo que Emily mantivesse o acesso a uma educação inclusive e levando o caso a vários níveis de recurso até ao Supremo Tribunal do Canadá. O acórdão do Tribunal de Recurso de Ontário, emitido pela juíza Arbour, examinou o significado da exclusão num contexto social mais alargado: Em todas as áreas da vida comunitária, o objectivo perseguido por e em nome de pessoas com incapacidades nas últimas décadas foi a integração e a inclusão. No contexto social, a inclusão é obviamente um factor importante para a aquisição de competências necessárias para que cada um de nós possa funcionar de forma eficaz como membros do grupo que a tratamos como um dado adquirido. O isolamento por escolha não é necessariamente uma desvantagem. Há pessoas que escolhem frequentemente viver à margem do grupo para uma melhor realização pessoal. Mas a exclusão forçada dificilmente é considerada uma vantagem. De facto, enquanto sociedade, nos usamos a exclusão como forma de punição. O exílio e a expulsão, mesmo sem sozinhos, seriam vistos por muitos como uma forma severa de punição. O encarceramento, além da componente de privação da liberdade, é uma forma de punição pela exclusão, por segregação da população predominante. Dentro do ambiente de prisão, uma maior segregação e isolamento são usados como métodos disciplinares. Mesmo quando os presos são segregados da população principal da prisão para sua própria segurança, o facto de terem de cumprir as suas penas afastados da população principal é considerado uma dificuldade adicional.38 O Tribunal de Recurso de Ontário determinou que a decisão de educar Emily numa sala de aulas especial para estudantes com incapacidades – contra a sua vontade conforme expressa pelos seus representantes legais – era discriminatória no âmbito do significado da secção 15 da Constituição. O Tribunal determinou que a menos que os pais de uma criança com incapacidades consentissem na colocação dessa criança num ambiente segregado, o conselho directivo da escola deve proporcionar colocação que seja o menos exclusiva possível da população principal e mantenha capacidades razoáveis para responder às necessidades especiais da criança.”39 Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades Na sua decisão a juíza Arbour salientou a reciprocidade do benefício que constitui o endosso característico dos relacionamentos inclusivos destacados no início deste documento: A inclusão na população principal da escola é um benefício para Emily porque sem esta ela teria menos oportunidades de aprender como é que as outras crianças trabalham e vivem. E eles não aprenderiam que ela pode viver com eles e eles com ela. ... A perda do benefício da inclusão é nem mais que a perda de um benefício simplesmente porque todos tomam a inclusão como garantida.40 Lamentavelmente, a decisão do Tribunal de Recurso de Ontário acabou por ser anulada pelo Supremo Tribunal do Canadá e a colocação de Emily numa classe de educação especial foi sustentada. O juiz Sopinka, representando a maioria, endossou o princípio de que a “integração deve ser reconhecida como a norma da aplicação geral devido aos benefícios que geralmente proporciona”. 41 Ele enquadrou, porém, a sua decisão em termos que tornavam as "diferenças” de Emily centrais à análise, concluindo que as suas “reais características pessoais” (isto é, as suas incapacidade) eram de tal ordem que ela requeria uma educação especial para “alcançar a igualdade”. A discriminação com base nas incapacidades, ao contrário de outras formas de discriminação, segundo o juiz Sopinka: ... requererão frequentemente que se façam distinções para ter em consideração as reais características pessoas das pessoas com incapacidades… ... A incapacidade, enquanto razão proibida, difere de outras razões enumeradas, como a raça ou o sexo, porque não há nenhuma variação individual relativamente a essas razões. Contudo, no que respeita à incapacidade, esta razão significa coisas muito diferentes dependendo do indivíduo e do contexto. 42 Num quadro descrito pelo juiz Sopinka como “o dilema da diferença”, aquilo que parece discriminação contra uma pessoa com um determinado tipo ou grau de incapacidade (como Tammy ou Aaron) pode parecer tratamento igual a outra pessoa com um tipo ou grau diferente de incapacidade (como Emily). Segundo o Tribunal, a exclusão ou segregação tanto pode ser “protectora da igualdade e violadora da igualdade, dependendo da pessoa e do estado de incapacidade”.43 Perante tal quadro, a diferença tem uma profunda importância. Devem ser feitas distinções entre linhas de demonstráveis funções físicas e intelectuais de modo a determinar rotas “adequadas” de igualdade. As normas mais fluidas e as categorias baseadas no valor, cujos modelos são Aaron, Brandy, Kyle, Linda, Lynnsey e Trevor, estão bastante afastadas desta análise. A questão identificada pelo Tribunal como primordial em Eaton foi se “o indivíduo [neste caso, Emily] pode beneficiar das vantagens proporcionadas pela integração”.44 A própria Emily, e não o ambiente escolar, tornou-se no foco na interrogação. No final de contas, devido à natureza particular e à extensão das suas incapacidades, o Tribunal determinou que tinha pesado os “vários interesses educacionais” de Emily e “tido em consideração as suas necessidades especiais e concluído que a melhor colocação para ela seria numa classe especial”.45 O Tribunal determinou que não podia ser encontrada qualquer violação dos direitos à igualdade na colocação involuntária de Emily num local da escola exclusivo. Embora o Tribunal de Eaton tenha reconhecido um “direito” qualificado à inclusão, a exploração feita pelo Tribunal às causas da exclusão podem ser seguidas até às mais convencionais concepções de incapacidade como desvantagem relacionada com “agir” e “fazer”, mas talvez eclipsando as relacionadas com “ser” e “pertencer”. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL A exclusão do ambiente principal da sociedade resulta da construção de uma sociedade baseada apenas em atributos “predominantes” aos quais as pessoas com incapacidades nunca conseguirão ter acesso. Quer seja a impossibilidade de sucesso num teste escrito por parte de uma pessoa cega ou a necessidade de uma rampa de acesso a uma biblioteca, a discriminação não recai na atribuição de características não verdadeiras ao indivíduo com incapacidade. A pessoa cega não vê e a pessoa numa cadeira de rodas precisa de uma rampa. É, sim, a falha em proporcionar acomodações razoáveis, em afinar a sociedade de modo a que as suas estruturas e pressupostos não resultem na relegação e expulsão das pessoas com incapacidades da participação que resulta em discriminação contra as mesmas. A análise à discriminação que usa o argumento de “atribuição de características estereotipadas” como comummente compreendida é simplesmente inapropriada aqui. Esta pode ser vista como um caso de estereotipo inverso que, ao não permitir a situação de um indivíduo com incapacidade, ignora a sua incapacidade e força o individuo a afogar-se ou a nadar em conjunto com o ambiente predominante. Está é o reconhecimento das características reais e razoável acomodação destas características que é o objectivo central da secção 15(1) relativamente à incapacidade.46 Uma critica à decisão sobre Eaton deve começar com algum reconhecimento de que as capacidades funcionais de Emily podem ser directamente relevantes para os tipos de instalações necessárias para que ela comunique, participe e aprenda no ambiente da sala de aulas. Nesta medida, as suas características reais, como as da pessoa cega ou da que usa uma cadeira de rodas, para usar o exemplo do juiz Sopinka, merecem talvez ser tidas em consideração “de modo a obter a igualdade”. A primeira fase da análise seria, de facto, o contexto essencial à interrogação não à elegibilidade de Emily para a inclusão, mas sim às práticas do conselho directivo da escola – estruturando a questão em volta de apurar se o conselho tinha de facto forçado Emily a “afogar-se ou a nadar com o ambiente predominante [a sala de aulas]”, facilitando ou obstruindo a sua oportunidade de actuar no mundo social. Se esta diferente estruturação da questão teria levado ou não a um resultado mais favorável no caso Eaton é discutível – tal como acabou por ser a própria decisão. No seguimento da decisão inicial do Tribunal de consignar Emily a uma classe segregada, a família Eaton tinha realizado as transições necessárias para transferir Emily para uma classe inclusiva dentro do sistema escolar separado. De facto, apesar do registo factual apresentado ao Tribunal incluir pouca ou nenhuma prova disto, à data da decisão do Tribunal, Emily já tinha usufruído de vários anos do mesmo tipo de inclusão positiva e bem sucedida descrita na história de Aaron. Talvez, como Aaron, Emily “tenha zarpado sem voltar a olhar para trás”. Não obstante, o resultado legal da reivindicação de Emily Eaton a um tratamento igual destaca determinadas inadequações fundamentais numa análise de direitos que preserva aquilo que, por coincidência, Martha Minow também descreve como “o dilema da diferença”. A implementação superficial de um tipo de “inclusão exclusivista” – que coloca crianças com incapacidades sem apoio e sem intervenção criativa em salas de aulas que são já de si demasiado grandes e que têm falta de recursos – deixa-as vulneráveis a uma análise de igualdade que vê as suas diferenças como "residindo nelas próprias”.47 Tal análise perpetua as suas desvantagens ao impor condições à inclusão, retendo mais uma vez a oferta de participação igual como contingente às suas capacidades de imitar normas sociais valorizadas. Em vez de se focar em tipos de relacionamentos que precisam ser cultivados para garantir o bem-estar de um jovem, levando a uma exploração crítica de recursos e métodos com grande probabilidade de produzir este resultado, o discurso convencional sobre direitos pode relegar para o Almoço na Sala 20, crianças cujas diferenças confundem as imaginações daqueles que têm poder para afirmar e proteger o seu ser e pertencer. As distinções feitas com base em “características pessoais reais”, não são, seguramente, nem relevantes nem apropriadas no contexto da determinação do acesso de um indivíduo a uma relação, mutualidade, respeito e egoísmo. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades A estrutura dos direitos à igualdade dão clara e adequadamente àqueles que procuram desafiar barreiras à total participação, uma linguagem persuasiva na qual estruturarem as suas afirmações e um fórum legal no qual perseguirem os seus argumentos. Os mecanismos baseados nos direitos, contudo, podem ser mais adequados a remediar restrições à actividade do que a remediar restrições ao “ser” e ao “pertencer”. Além disso, a efectividade da doutrina da igualdade para garantir o direito à inclusão em casos muito concorridos permanece longe de certa. O desenrolar das reivindicações de Tammy e Aaron sugere, contudo que prévias experiências inclusivas aumentam as probabilidades do sucesso na avaliação de reivindicações baseadas em direitos. Na medida em que a inclusão forja relações de consideração e respeito mútuos, estes relacionamentos podem atribuir algum grau de resistência e segurança ao direito aos direitos. Conclusão: Um Apetite pelo Envolvimento Para salvar as nossas crianças temos de deixar que elas nos salvem do poder que incorporamos: teremos de confiar na diferença que elas personificam para sempre.48 June Jordan, Activista dos Direitos Humanos e Poeta dos EUA Como este trabalho se iniciou com as vozes de jovens a descreverem o significado da inclusão a partir das suas próprias experiências, é apropriado regressar aos mesmos contribuintes para moldar a conclusão do estudo. À medida que procuramos orientação e correcção, tentando mobilizar “o poder que incorporamos” como educadores, analistas, políticos, eleitores e decisores, devemos fazê-lo de uma maneira que sustente a busca dos jovens pela justiça e inclusão. Como é que o exercício da governação adulta influenciou as experiências de inclusão descritas por estes jovens? Qual o impacto e contributo que eles atribuem aos adultos em posições de autoridade? Lynnsey tem 17 anos e é uma aluna do 12º ano. O irmão mais novo de Lynnsey tem Síndrome de Down e algumas dificuldades de audição. Lynnsey lamenta que o seu irmão tenha visto recusada a oportunidade de receber a sua educação numa sala de aulas inclusiva. A sua sensibilidade a esta injustiça infere em muitas das suas interacções e encontros sociais: Quando era mais nova fui a uma festa de Natal onde estavam vários miúdos – uma das quais com Tourette, a filha de uma amiga da minha mãe. Alguns de nós estávamos para ir nada na piscina – eu e outra rapariga sugerimos que a devíamos convidar para ir nadar connosco. Foi aí que um adulto se intrometeu para dizer que talvez não fosse uma boa ideia porque nós poderíamos ter dificuldades em nos dar com ele. Tendo estado rodeada por crianças com incapacidades durante toda a minha vida, achei que isto era algo muito estranho para se dizer. Desnecessário será dizer que aquela rapariga nunca foi nadar, mas fez uma amiga!49 Para Lynnsey, a advertência do adulto foi simplesmente “uma coisa estranha para se dizer”, irracional, mas felizmente driblável. Para vários outros jovens contribuintes, as proibições dos adultos foram vistas como uma problemática muito mais grave: PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Linda: Pessoalmente, penso que muitos professores temem a inclusão, temem que isso seja algo muito caro, muito difícil e, de alguma forma, sentem que não sabem como reagir ou até mesmo abordar estudantes com incapacidades desenvolvimentais, sendo que reagem a esses sentimentos, declarando que são contra ou que não acreditam. super 50 A análise de Linda sobre o comportamento do adulto em resposta aos sentimentos não ditos, não reconhecidos é agudamente perspicaz. As suas observações convidam-nos à auto-reflexão crítica sobre a medida em que argumentos baseados nas “realidades" económicas ou "dificuldades práticas" logísticas podem mascarar sentimentos mais profundos de inadequação e inexperiência, talvez vestígios do próprio sistema da prática de exclusão através do qual muitos adultos cresceram até à maturidade Ela lembra-nos que ela e os seus colegas estão dispostos a aceitar o desafio – e a oportunidade – que lhe negamos: para liderar, desde o local do nosso obstáculo: Eu acredito que os colegas numa escola gostariam de descobrir como ajudar um amigo e colega com incapacidade se lhes for dada a oportunidade. Parece que as atitudes dos professores e directores agem como os principais obstáculos para que tenhamos esta oportunidade. 51 Kyle fala de forma convincente dos adultos que cronicamente subestimam as suas capacidades. Ele destaca a recorrente interferência do pensamento rígido e outras inibições do adulto em relação à criatividade tendências padronizadas que são fatais para o projecto de inclusão: Às vezes, a inclusão é difícil na escola porque, por vezes, as pessoas não acreditam que eu posso fazer as coisas e nem sequer me dão a oportunidade. Quando as expectativas das pessoas são definidas constituem obstáculos à inclusão porque não usam a imaginação para encontrar formas de fazer isso acontecer.52 super Para Lynnsey, Linda e Kyle, o exercício da autoridade do adulto na vida de crianças com incapacidade reduz a irrefutável lógica de inclusão com a violência descarada do estereótipo, do encerramento e da desvalorização. As suas observações são apoiadas por outra pesquisa que explora as experiências e perspectivas das crianças com incapacidade. Shakespeare et al. destacam a medida em que o comportamento dos adultos e as configurações sociais definem, reforçam e legitimam as categorias de diferença e inferioridade que as crianças com incapacidade devem resistir altivamente nas suas tentativas de construir identidades autónomas, competentes e interdependentes. Eles sugerem que "a institucionalização da diferença parece ser uma justificação inconsciente das práticas de segregação encontradas em muitas escolas ". Antle et al. observaram, no seu estudo sobre as transições para a independência, que os jovens com incapacidade eram obrigados a "detonar em baixas expectativas", especialmente nos sistemas educacionais, reflectindo a experiência do activista com incapacidade americano, Ed Roberts, 40 anos antes. Middleton, também, documenta a medida em que os jovens com incapacidade no seu estudo "sentiram-se anulados e padronizados", com baixas expectativas e falta de oportunidade. A inclusão social pode ser entendida como qualquer processo ou um resultado. Como processo, a inclusão social chama-nos a cultivar em todas as crianças um apetite para o envolvimento, a auto-expressão e autodescoberta, em conjunto com uma expectativa bem fundada de que a sua participação será bem-vinda, as suas escolhas serão apoiadas, as suas contribuições serão valorizadas e a sua integridade preservada. Como resultado, a inclusão social revela-se em comunidades que permitem uma gama de oportunidades significativas e respeitosas do envolvimento das crianças, expressão e descoberta, de forma consistente e, ao mesmo tempo, promover a criança "a ser" e "tornar-se", bem como o seu "fazer" e "agir”. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades "A relação entre a inclusão e a igualdade pode ser vista, através da lente da incapacidade, como uma relação de dois princípios distintos, integrais e complementares, ambos operando ao serviço de apenas um produto social. Assim como o princípio da igualdade se expressa na forma de direitos, o princípio da inclusão é expresso na forma de relacionamentos. Permanecer como colunas de igual peso e proporção, ordenam-nos a igual atenção e respeito. Cada um está enfraquecido na ausência do outro; cada um reforça o imperativo do outro para a fixação da dignidade humana e bem-estar. Este artigo tentou evidenciar o papel das crianças e jovens como agentes sociais, visando o exercício da autonomia e escolha, para afirmar valores e a identidade e influenciar a política e a cultura institucional dentro da qual os seus sonhos para o futuro devem ter raiz. A medida em que os direitos e o discurso dos direitos podem ser usados como ferramentas para apoiar estes processos dependerá, em grande parte, da nossa capacidade para abandonar as hierarquias de diferença e negociar novos relacionamentos de empatia e respeito mútuos. A questão da igualdade é o significado de igual valor moral, dada a realidade que em quase todos os sentidos possíveis concretos não somos iguais, mas muito diferente e muito desigual nas nossas necessidades e capacidades. O objecto não é fazer com que essas diferenças desapareçam quando falamos de igualdade de direitos, mas questionar como podemos estruturar as relações de igualdade entre as pessoas com diferentes tipos de desigualdades concretas. 53 Concluímos este trabalho com a sugestão que, embora possamos ser muito desiguais nas nossas necessidades e capacidades, somos muito mais iguais na nossa necessidade, desejo e capacidade de ligação humana. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL Notas finais 1 O autor estende o seu agradecimento a uma série de jovens Canadianos que apresentaram um painel intitulado "Educação Inclusiva", na Associação Canadiana para a Vida Comunitária Primeira Conferência Nacional da Família, em Edmonton, Alberta, 21 de Outubro de 2000. Grande parte do conteúdo deste artigo reflecte sobre as suas apresentações e vem directamente de trocas de correio electrónico com o autor após a conferência. Estes contribuintes escolheram serem identificados pelos nomes seguintes: Aaron, Brandalyn Lofgren, Kyle, Linda, Lynnsey Harder e Trevor. Um agradecimento também a Heather e Paul Kohl, Brian Lillo e Vanessa Grimm pela sua ajuda na facilitação destes diálogos. 2 Maresa Mackeith. "A importância da Amizade." Apresentado utilizando a comunicação facilitada, 1999. 3 Eldridge. V British Columbia (Attorney General) (1997). 4 Conselho Canadense para o Desenvolvimento Social, Incapacidade - Ficha de Informação (Ottawa: Conselho Canadiano para o Desenvolvimento Social, 2001). Consultar também, L. Hanvey, Children and Youth with Special Needs (Ottawa: Conselho Canadiano para o Desenvolvimento Social, 2001). 5 Na altura das entrevistas de pesquisa. 6 Lynnsey Harder, e-mail ao autor, 14 de Dezembro de 2000. Na altura das entrevistas, Lynnsey tinha 17 anos e era uma aluna do 12º ano. 7 Trevor, e-mail ao autor, 15 de Janeiro de 2001. Na altura das entrevistas, Trevor tinha 15 anos e era um aluno do 9º ano. 8 Aaron, e-mail ao autor, 12 de Abril de 2001. Na altura das entrevistas, Aaron tinha 16 anos e era um aluno do 10º ano. 9 Kyle, e-mail ao autor, 15 de Janeiro de 2001. Na altura das entrevistas, Kyle tinha 15 anos e era um aluno do 9º ano. 10 Linda, e-mail ao autor, 20 de Dezembro de 2000. Na altura das entrevistas, Linda tinha 18 anos e escolaridade equivalente ao primeiro ano da faculdade. 11 Brandy Lofgren, e-mail ao autor, 9 de Abril de 2001. Na altura das entrevistas, Brandy tinha 16 anos e era um aluno do 10º ano. 12 Um dispositivo de aumento de comunicação computorizado para invisuais. 13 Kyle, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 14 Kyle, e-mail, 18 de Janeiro de 2001. 15 Trevor, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades 16 Kyle, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 17 Mackeith, “A Importância da Amizade.” 18 Kyle, e-mail, 15 de Janeiro de 2001. 19 Trevor via Kyle, e-mail, 15 de Janeiro de 2001. 20 Aaron, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 21 Kyle, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 22 Aaron, e-mail, 12 de Abril de 2001. 23 Brandy Lofgren, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 24 Ibid. 25 Tâmara, carta ao Sr. Herbert Seder, Secretário-Chefe, Wetaskiwin Regional Public Schools, 20 de Agosto de1997. 26 M. Wente, "Let's Trash All High Schools," The Globe and Mail, 7 de Abril de 2000, p. 15. 27 W. Pentney, "Belonging: The Promise of Community - Continuity and Change in Equality Law 1995-96," Canadian Human Rights Reporter (1996). 28 Kyle, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 29 Mãe de Aaaron, e-mail, 9 de Abril de 2001 30 Veja, por exemplo, o recente caso de Ottawa de Zachary Bonnah de nove anos, cujo pai foi acusado de infracção após ter tentado várias vezes levar Zachary à escola nos dias em que assistentes de educação especial (atribuídas pelo Conselho durante apenas dois dias por semana) não estavam disponíveis. J. Rupert, "Love versus the Law: A Father Defends His Actions," The Ottawa Citizen, 2000. 31 Brandy Lofgren, "Educação Inclusiva" (painel na Associação Canadiana para a Community Living First National Family Conference, Edmonton, 21 de Outubro de 2000). 32 Eldridge. V British Columbia (Attorney General) (1997). 33 Eldridge. V British Columbia (Attorney General) (1997). 34 Youth Bowling Council of Ontario v McLeod, in C.H.R.R. (Ont. Div. Ct. 1990). 35 Ibid., para. 32. 36 Ibid., para. 33-35. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL 37 Mãe de Aaron, e-mail, 16 de Abril de 2001. De acordo com a mãe de Aaron, nem ela nem qualquer professor do Aaron sabiam que ele era capaz de trabalhar a nível escolar até este ano. A avaliação académica que demonstrou este facto provou ser essencial na negociação do seu regresso à escola, sem a necessidade de um longo processo experimental. 38 Eaton v Brant (County) Conselho de Educação, 22 O.R. (3d) 1 (C.A.) (1995): 15. 39 Eaton v Brant County Board of Education, 1 S.C.R. 241 (1997): 40. 40 Eaton v Brant (County) Conselho de Educação, 22 O.R. (3d) 1 (C.A.) (1995): 15-16. 41 Eaton v Brant County Board of Education, 1 S.C.R. 241 (1997): 69. Não vale nada, conforme apontou O. Endicott num artigo não publicado “Key Trends in Case Law Pertaining to Supports for Persons with Disabilities” que: O Tribunal Supremo continuou a apoiar a inclusão enquanto norma constitucional, em 2000, quando Justice Binnie, no julgamento de Granovsky, reavaliou as palavras de Justice Sopinka e reforçou-as com uma citação divergente de Thurgood Marshall na decisão do Tribunal Supremo norte-americano em Cleburne v. Cleburne Living Centre Inc., em que escreveu que a exclusão “priva os [incapacitados] da maior parte da liberdade e realização humana – a capacidade de estabelecer conexões e participar na vida da comunidade.” 42 Eaton v Brant County Board of Education, 1 S.C.R. 241 (1997): 66, 69. 43 Eaton v Brant County Board of Education, 1 S.C.R. 241 (1997): 69. 44 Ibid. 45 Ibid. em 76. 46 Eaton v Brant County Board of Education, 1 S.C.R. 241 (1997): 67. 47 M. Minow, Making All the Difference: Inclusion, Exclusion and American Law (Ithaca, New York: Cornell University Press, 1990). 48 June Jordan, “Old Stories: New Lives” (keynote address to Child Welfare League of America, 1978). Publicado em Moving Towards Home: Political Essays (1989). 49 Lynnsey Harder, e-mail, 14 de Dezembro de 2000. 50 Linda, e-mail, 20 de Dezembro de 2000. 51 Linda, carta ao Secretário-Chefe Emery Dosdall, 12 de Agosto de 2000. 52 Kyle, e-mail, 15 de Janeiro de 2001. 53 Jennifer Nedelsky, “Reconceiving Rights as Relationship,” Review of Constitutional Studies 1, no. 1 (199): 21. Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Vividos por Jovens com Incapacidades Bibliografia Antle, B., and C. Frazee. 1999. Creating a Life of Your Own: Experiences of Transition to Independence among People with Physical Disabilities. Toronto: West Park Hospital, Gage Transition to Independent Living. Canadian Council on Social Development. 2001. Folha de Informações sobre Incapacidade. Ottawa: Canadian Council on Social Development. Eaton v Brant (County) Board of Education. 1995. 22 O.R. (3d) 1 (C.A.). Eaton versus o Conselho de Educação de Brant County. 1997. 1 S.C.R. 241. Endicott, O., "Key Trends in Case Law Pertaining to Supports for Persons with Disabilities." Artigo não publicado Hanvey, L. 2001. Children and Youth with Special Needs. Ottawa: Canadian Council on Social Development. Holtzberg, M., and B. Howard. 1996. Portrait of Spirit: One Story at a Time. Oakville: Disability Today Publishing Group Inc. Jenkins, J., and D. Keating. 1998. Risk and Resilience in Six- and 10-Year-Old Children. Ottawa: Applied Research Branch, Strategic Policy, Human Resources Development Canada. Mackeith, M. 1999. The Importance of Friendship. Disponível no site de Internet: http://www.parentsforinclusion.org/voices.htm. Middleton, L. 1999. Disabled Children: Challenging Social Exclusion. Oxford: Blackwell Science Limited. Minow, M. 1990. Making All the Difference: Inclusion, Exclusion and American Law. Ithaca, New York: Cornell University Press. Nedelsky, J. 1993. Reconceiving Rights as Relationship. Review of Constitutional Studies 1, no. 1: 21. Pentney, W. 1996. Belonging: The Promise of Community. Continuity and Change in Equality Law 1995-96. Canadian Human Rights Reporter. Rupert, J. 2000. Love versus the Law: A Father Defends His Actions. The Ottawa Citizen. Shakespeare, D. T., D. M. Priestley, et al. 1999. Life as a Disabled Child: A Qualitative Study of Young People's Experiences and Perspectives. Leeds: Disability Research Unit, University of Leeds. Thomas, C. 1999. Female Forms: Experiencing and Understanding Disability. Buckingham: Open University Press. Wente, M. 2000. Let's Trash All High Schools. The Globe and Mail, 7 April. Youth Bowling Council of Ontario v McLeod. 1990. C.H.R.R., Ont. Div. Ct. D/120. PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL PUBLICADO EM 2002-2003 Clyde Hertzman - Leave No Child Behind! Social Exclusion and Child Development Dow Marmur - Ethical Reflections on Social Inclusion —Andrew Jackson and Katherine Scott - Does Work Include Children? The Effects of the Labour Market on Family Income, Time, and Stress Michael Bach - Social Inclusion as Solidarity: Re-thinking the Child Rights Agenda Martha Friendly and Donna Lero - Social inclusion for Canadian Children through Early Childhood Education and Care Meg Luxton - Feminist Perspectives on Social Inclusion and Children’s Well-Being Terry Wotherspoon - The Dynamics of Social Inclusion: Public Education and Aboriginal People in Canada Peter Donnelly and Jay Coakley - The Role of Recreation in Promoting Social Inclusion Andrew Mitchell and Richard Shillington - Poverty, Inequality, and Social Inclusion Catherine Frazee - Fixe! Inclusão, Direitos e Igualdade Sentidos por Jovens com Incapacidade Anver Saloojee - Social Inclusion, Anti-Racism and Democratic Citizenship Ratna Omidvar and Ted Richmond - Immigrant Settlement and Social Inclusion in Canada Os artigos completos (apenas em inglês) e os resumos em francês e inglês podem ser descarregados a partir do site de Internet de Laidlaw Foundation em www.laidlawfdn.org na Agenda Infantil / Série de artigos sobre inclusão social ou encomendado em [email protected] Preço: $11,00 artigo completo; $6.00 Resumos (Taxas não aplicadas e portes incluídos).