ANAIS MÉTODOS DE DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS CONJUNTOS SOB A ÓTICA DA TEORIA DA AGÊNCIA: UM ESTUDO EM UMA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DE PALMITO. DALCI MENDES ALMEIDA ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU JORGE EDUARDO SCARPIN ( [email protected] ) UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU Resumo Este estudo objetiva verificar a aplicação dos métodos de distribuição dos custos conjuntos sob a ótica da teoria da agência. A pesquisa caracteriza-se como descritiva, do tipo estudo de caso e qualitativa. Os achados da pesquisa apontaram que os resultados obtidos por produtos, utilizando-se o critério de alocação dos custos conjuntos adotado pela empresa, não diferem muito dos métodos sugeridos pela literatura, sendo benéfico tanto para a cooperativa quando ao cooperado, pois permite uma melhor análise da rentabilidade por produto. No entanto, o produto mais rentável para a cooperativa, não é o que gera uma melhor rentabilidade para o cooperado. Palavras-chave: Métodos de Distribuição. Custos Conjuntos. Teoria da Agência. Cooperativa de Palmito. 1 Introdução Para poder competir neste mercado acirrado e manterem-se sustentáveis as empresas precisam cada vez mais trabalhar com um controle de custos seguro e informativo a fim de utilizarem estratégias para redução de seus custos e assegurarem um preço competitivo. É uma questão de sobrevivência. Tal controle se faz ainda mais necessário quando se tem a figura dos custos conjuntos, ou seja, um custo de um único processo que gera vários tipos de produtos. Os custos conjuntos por serem indivisíveis se tornam difíceis de serem alocados aos produtos e consequentemente de serem mensurados e controlados pela empresa. Diversos são os métodos propostos pela literatura para a alocação de tais custos, porém todos envolvem alto grau de subjetividade. Mesmo diante da subjetividade de tais métodos, sua adoção permite um maior controle, segundo Leone (2000) determinação da rentabilidade, avaliação do patrimônio. Para Horngren, Foster e Datar (2000), análise da lucratividade das divisões, determinação da gratificação de gerentes e análise da lucratividade do cliente. A forma de controle e alocação dos custos pode impactar no resultado dos produtos, setores, podendo postergar ou antecipar resultados, consequentemente isto pode influenciar positivamente ou negativamente na distribuição das sobras ao final de um determinado período no sistema cooperativo, influenciando nas relações entre cooperativa e cooperado. Diante disso, tem-se a seguinte problemática: Como a aplicação dos métodos de distribuição dos custos conjuntos influencia na relação entre cooperativa e cooperado sob a ótica da teoria da agência? O sistema de cooperativismo tem a cada dia adquirido mais importância dentro da economia brasileira. Gimenes e Gimenes (2006, p. 1) destacam que “[...] o cooperativismo 1/16 ANAIS possui grande relevância para a economia brasileira, na medida em que atua apoiando o desenvolvimento econômico e social, principalmente das pequenas propriedades rurais.” O sistema cooperativista é regido por vários princípios doutrinários como a liberdade, a igualdade, a fraternidade, e a solidariedade o que leva a uma gestão democrática, a livre adesão, a educação cooperativa, ao retorno pro rata, a livre entrada e saída da sociedade. (BIALOSKORSKI NETO, 2009). Segundo Martinez (1998, p. 1) a teoria da agência “[...] proporciona um sistema de referência para a descoberta de relações intrínsecas entre o objeto da contabilidade e seus diversos usuários, ofertando uma estrutura lógica importante para a compreensão do papel e relevância da contabilidade.” Assim, o estudo possui como objetivo verificar a aplicação dos métodos de distribuição dos custos conjuntos sob a ótica da teoria da agência. Um aspecto que motiva a pesquisa é a produção científica sobre os custos conjuntos que ainda é escassa. No entanto, é um tema de extrema importância dentro da gestão de custos, em função da subjetividade e arbitrariedade que envolve o assunto quando se trata da alocação dos custos aos vários produtos gerados. Figueiredo e Moura (2002) estudaram custos conjuntos em indústria de castanha de caju, Ducati (2005) na suinocultura, Souza, Souza e Faria (2006) na cunicultura, Eidt et al. (2006) em empresa madeireira, Zanin, Zanin e Nesi Filho (2007) na produção suína, Correa e Voese (2009) no setor vinícola. Portanto, outro aspecto que motiva a pesquisa, é que não foi encontrado trabalhos sobre custos conjuntos na atividade agropecuária de palmito em cooperativa, talvez por ser uma atividade que ainda é muito explorada de forma clandestina e também pelo fato de ser uma atividade nova no Brasil. No Brasil segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileira OCB (2009), existem 7.261 cooperativas, com 8.252 milhões de cooperados, gerando 274 mil empregos, com um faturamento em 2009 de R$ 88 bilhões. Para Rodrigues e Durigan (2007, p. 98), o agronegócio do palmito é uma atividade nova no Brasil e no mundo. “Se adotada a concepção mais restrita do termo negócio agrícola é mais recente ainda, pois só na última década começa a perder o caráter de atividade eminentemente extrativa e de industrialização, em grande parte clandestina.” O artigo está estruturado em cinco sessões iniciando com esta, onde apresenta-se a introdução, na segunda sessão tem-se o referencial teórico, na terceira os procedimentos metodológicos da pesquisa, em seguida a descrição e análise dos dados e por fim as considerações finais. 2 Referencial Teórico Apresenta-se neste item o embasamento teórico da pesquisa, com teoria da agência, agronegócio cooperativo e a atividade de palmito como negócio sustentável e custos conjuntos e os métodos de distribuição. 2.1 Teoria da agência A teoria da agência possui como base as relações contratuais, onde a firma é vista como um lugar que existem vários contratos que se cruzam em vários sentidos e entre diferentes partes da organização. (MARTINEZ, 1998). Lopes e Martins (2007, p. 32), definem a teoria da agência como sendo: Teoria contratual, onde a empresa é vista como um conjunto de contratos entre os diversos participantes, cada contratante contribui com algo, seja, trabalho, capital, produtos, governo e em troca todos recebem uma parte do todo que pode ser salário, dividendos, dinheiro, impostos. Assim a teoria da agência explica a relação entre o agente e o principal. SegundoHendriksen e Van Breda (1999, p.139), “um desses dois indivíduos é um agente do 2/16 ANAIS outro, chamado de principal – daí o nome de teoria de agency. O agente compromete-se a realizar certas tarefas para o principal; o principal compromete-se a remunerar o agente.” A relação entre o principal e o agente não se estabelece somente entre os proprietários e os gerentes, podendo adequar-se a diferentes relações. (MARTINEZ, 1998). Jensen e Meckling (1976, p.5) definem “[...] a relação de agência como um contrato pelo qual uma ou mais pessoas (principal) contratam outra pessoa (o agente) para executar algum serviço em seu nome delegando alguma autoridade para a tomada de decisão do agente.” Segundo Martinez (1998, p.3), o “problema central de análise na Teoria do Agenciamento (agency problem) é a possibilidade do agente assumir um comportamento oportunista no tocante as suas ações (ou omissões), visando aumentar sua satisfação pessoal.” Os conflitos existentes entre os administradores (controle) e os acionistas (propriedade) são uma das situações que caracterizam a teoria da agência. Cada um agente e principal possui interesses específicos, os administradores desejam, por exemplo, reter lucros, enquanto os acionistas possuem interesse que os lucros sejam distribuídos. (KLANN et al. 2009). Os conflitos entre agente e principal geram os custos de agenciamento que segundo Nossa (2000, p.7), “[...] são os gastos incorridos na prevenção e resolução de conflitos entre o principal e o agente, ou seja, aqueles associados à contratação entre as partes, bem como as perdas resultantes das atitudes oportunistas do agente.” Jensen e Meckling (1976, p.6) definem os custos de agenciamento como a soma: “das despesas de monitoramento pelo principal, das despesas com cobertura de seguros e das perdas residuais.” Para Bezerra et al. (2007) o sistema de distribuição de custos, bem como de maneira geral os sistemas de informações gerenciais, possuem forte importância na redução dos custos de agência, pois o método utilizado para alocação impactará nos resultados das unidades organizacionais e consequentemente nos resultados dos agentes, influenciando no valor de suas recompensas e provocando mudanças no seu comportamento. O sistema interno de contabilidade em geral e de distribuição de custos afetam em especial os custos de agência. (ZIMMERMAN, 1979). As pesquisas que utilizam a teoria da agência procuram explicar porque as empresas adotam determinados critérios contábeis, por exemplo, o que levaria uma empresa adotar um determinado método de depreciação, um determinado método de avaliação de estoques. Outras aplicações contábeis dos modelos de agência são: a agência na auditoria, a agência nos preços de transferências e a agência e a compensação de executivos. (MARTINEZ, 1998). 2.2 Agronegócio cooperativo e a atividade de palmito como negócio sustentável Indivíduos que trabalham em conjunto em busca dos mesmos objetivos é que regem o sistema cooperativista. Para Bialoskorski Neto (2009, p. 711) “[...] as cooperativas são organizações entre as economias particulares dos cooperados, de um lado, e o mercado, de outro, aparecendo como estruturas intermediárias, formadas em comum.” O artigo 3º. da Lei 5.764/71, destaca que “celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.” As cooperativas podem adotar qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, como por exemplo: cooperativa agropecuária, de consumo, habitacional, de trabalho, de crédito, educacional entre outras. Para Bialoskorski Neto (2009), o cooperativismo apresenta vantagens e dificuldades. Para o produtor rural apresenta uma grande vantagem já que aumenta seu nível de renda, pois facilita o seu relacionamento com as estruturas de mercado, diminui seus custos. A integração como princípio doutrinário permite mudanças tecnológicas atendendo as exigências modernas 3/16 ANAIS dos consumidores. Como dificuldades, podem-se destacar a falta de divisão entre a propriedade e o controle gerando uma tendência do ganho isolado do produtor, a perpetuação da gestão, onde o presidente poderá permanecer por tempo indeterminado no mandato. A exploração do palmito como atividade econômica ainda é recente no país tornandose uma atividade relevante a partir da década de 40 no Sul do país. Ainda não se tem dados oficiais e exatos de extração e produção de palmito, as variações sem explicação são muitas de um ano para outro, gerando informações inconsistentes sobre a real importância dessa economia. As informações do mercado informal do palmito também não são exatas. (RODRIGUES e DURIGAN, 2007). Rodrigues e Durigan (2007) através de sua pesquisa realizada entre junho de 2002 e março de 2003 estimaram a produção de palmito no Brasil em torno de 160.000 t/ano. A diminuição dos estoques de palmito nativo e a pressão ambientalista favorecem a expansão dos cultivos. No entanto, em 2007, já se observava a falta de matéria-prima em algumas regiões e preços elevados. Segundo IBGE (2008), em 2008 existiam 17.006 hectares de área plantada, sendo produzidas 84.006 toneladas de palmito e a produção avaliada em R$ 131.665. Esforços vêm sendo realizados para que o cultivo do palmito seja desenvolvido como uma atividade sustentável. Rodrigues e Durigan (2007) destacam que “aumentam significativamente a pressão legal e dos movimentos ambientalistas com vistas ao manejo sustentável de produtos florestais, em especial do palmito [...].” Normas vêm sendo editadas para evitar a sua exploração incorreta, tornado uma atividade que gere benefícios econômicos, sócias e ambientais. 2.3 Custos conjuntos e os métodos de distribuição Os custos conjuntos são os custos de um único processo que geram diversos produtos (HORNGREN, FOSTER e DATAR (2000), SANTOS (2005), LEONE (2000), MARTINS (2008). Observa-se, que a produção conjunta apresenta três características básicas: processo único, mesma matéria-prima e obtenção simultânea de mais de um produto. (SOUZA e DIEHL, 2009). Os custos comuns diferem dos custos conjuntos, pois os mesmos são divisíveis já os custos conjuntos não. (SANTOS, 2005). Para Leone (2000, p. 339) “O ponto no processo produtivo onde surgem produtos diferentes produzidos pelo emprego de custos comuns é o ponto de separação. O ponto de separação “representa o estágio do processo de produção em que dois ou mais produtos são separados.” (GIELOW, 2005, p. 13). Os produtos a partir do ponto de separação recebem denominações diferentes, dependendo da relevância que cada um possui em termos financeiros, sobre o faturamento total da empresa. (SCRAMIM e BATALHA, 2009). Para Santos (2005), os produtos conjuntos são subdivididos em: co-produtos, subprodutos e sucatas. Segundo Scramim e Batalha (2009, p.448), “[...] os produtos principais produzidos por um processo de produção conjunta que representam substancialmente o faturamento da empresa são chamados de co-produtos.” O subproduto “Trata-se de um ou mais produtos de valor relativamente pequeno, produzidos simultaneamente com outro produto de maior valor, denominado produto principal.” (SANTOS, 2005, p. 144). Para Martins (2008, p. 162) o subproduto possui como principais características: “valor de venda e condições de comercialização normais, relativamente tão assegurados quanto os produtos principais da empresa; surgem como decorrência normal do processo produtivo, só que possuem pouquíssima relevância dentro do faturamento global da firma.” Bruni e Famá (2004, p. 199) definem sucata como “[...] produtos que podem ou não surgir do processo produtivo 4/16 ANAIS convencional ou de co-produtos e subprodutos rejeitados que podem ser vendidos ou reciclados como combustível para caldeiras e outros.” Existem diversos métodos para a distribuição dos custos conjuntos, não existindo o modelo ideal, todos envolvem subjetividades e precisam de cuidados no momento da aplicação. Santos (2005, p.143), corrobora com a ideia quando menciona que “[...] é importante salientar que qualquer deles não retrata exatamente a ocorrência efetiva de custos, porque qualquer que seja o método empregado, os custos serão sempre alocados de maneira arbitrária, devido à característica de os custos conjuntos serem indivisíveis.” Em função da subjetividade dos métodos, os mesmos devem ser aplicados com cautela, pois poderão causar inconvenientes às empresas, em algumas situações, como: “a) na avaliação da rentabilidade setorial ou por produto; b) na distribuição de gratificação e/ou participação nos resultados setoriais; c) o próprio problema de formação do custo, podendo ocasionar a alguns produtos, custo injusto ou maior que o preço de venda.” (OLIVEIRA, ERFURTH e SCARPIN, 2008, p. 14). Horngren, Foster e Datar (2000) classificam os critérios de distribuição dos custos conjuntos em duas abordagens, sendo uma empregando dados de mercado e outra empregando dados físicos como peso ou volume. Dentro da primeira abordagem tem-se: O método do valor das vendas no ponto de separação que segundo Horngren, Foster e Datar (2000), a alocação dos custos conjuntos é realizada com base no valor relativo das vendas da produção total de cada item no período contábil no ponto de separação. Os custos conjuntos são distribuídos no ponto de separação tomando como base o preço de venda dos produtos, considerando que poderiam ser vendidos nestas condições. (SANTOS, 2005). O método do valor líquido realizável estimado (VLR) “onde faz-se a alocação dos custos conjuntos com base no valor líquido realizável estimado relativo (valor esperado das vendas finais decorrente do andamento normal do negócios menos os custos separáveis de produção e de comercialização esperados de toda a produção do período).” (HORNGREN, FOSTER e DATAR, 2000, p. 389). E por fim, o método da margem bruta percentual do VLR, que faz a alocação dos custos conjuntos de forma que a margem bruta total seja igual para todos os produtos. Compreende três etapas: Etapa 1: cálculo da margem bruta total; Etapa 2: dedução da margem bruta do valor final das vendas, para obtenção dos custos total; Etapa 3: dedução dos custos separáveis esperados dos custos totais, para obtenção da alocação do custo conjunto. (HORNGREN, FOSTER e DATAR, 2000). Na segunda abordagem tem-se: o método da medida física. Este método faz a alocação dos custos conjuntos com base em unidades de medida (quilos, litros, etc...) comuns a todos os produtos, de maneira proporcional à quantidade obtida de cada produto. (SANTOS, 2005). Martins (2008) e Souza e Diehl (2009), apresentam ainda o método da média ponderada. Martins (2008, p. 167), menciona que “uma forma também subjetiva, mas às vezes de bons resultados, é a de se ponderar cada Co-produto em termos de grau de dificuldade, importância, facilidade de venda etc. de cada um.” Portanto, o método da média ponderada leva em consideração para a alocação, características próprias de cada produto, como tamanho, dificuldade de elaboração, tempo consumido na fabricação, entre outras, sendo aplicado um fator de ponderação de acordo com essas características. (SOUZA e DIEHL, 2009). Poucos ainda são os estudos relacionados aos custos conjuntos. A seguir destacam-se alguns: 5/16 ANAIS Autores Figueiredo e Moura (2002) Ducati (2005) Souza, Souza e Faria (2006) Eidt et al. (2006) Pinto, Silva e Hein (2007) Welgacz, Silva e Corso (2007) Zanin, Zanin e Nesi Filho (2007) Sancovschi e Gomes (2007) Oliveira, Erfurth e Scarpin (2008) Correa e Voese (2009) Objetivos investigar os processos de alocação de custos conjuntos, praticados nas indústrias de beneficiamento de castanha de caju, no Ceará. demonstrar como um frigorífico de suínos pode gerencialmente compor os custos dos produtos industrializados, sem a utilização dos custos conjuntos distribuídos pela metodologia conhecida e evidenciar mais claramente a formação do preço de venda de seus produtos industrializados. demonstrar a aplicação dos principais métodos de atribuição dos Custos Conjuntos na cunicultura (criação de coelhos), a partir de um estudo de caso. identificar os métodos de alocação dos custos conjuntos em uma empresa Madeireira através de um estudo de caso. sistematizar os conceitos fundamentais e utilizar a Teoria dos Jogos aplicada a distribuição do custo conjunto, na forma de um sistema de informações interdependentes. analisar os métodos de alocação dos custos que não são realmente separáveis visto que tal investigação é importante para propósitos de tomadas de decisões gerenciais. apresentar uma discussão sobre a gestão de custos e formação de preços de venda em agronegócios caracterizados pela produção conjunta em uma agroindústria familiar. documentar o tratamento contábil dispensado, por três empresas brasileiras, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Braskem S. A., e a Pan- Americana S. A. Indústrias Químicas, aos seus produtos conjuntos, subprodutos, sucatas e perdas; e mostrar como a contabilidade auxilia os administradores dessas empresas na análise de decisões referentes a estes produtos. comparar os principais métodos de alocação dos custos conjuntos, aplicados à atividade madeireira através de um estudo de caso. comparar os principais métodos de alocação dos custos conjuntos que são aplicados no setor vinícola por meio de um estudo de caso. Quadro 1: Pesquisas brasileiras sobre custos conjuntos. Fonte: Elaborado pelos autores. (2011). Observa-se que em geral os estudos apresentados trabalham a avaliação dos métodos de distribuição dos custos, assim além dos estudos sobre custos conjuntos serem escassos os mesmos se limitam aos critérios de alocação. 3 Procedimentos metodológicos da pesquisa Quanto aos objetivos a pesquisa é caracterizada como descritiva. Andrade (2002, p.124) menciona que “nesse tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Isto significa que os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não manipulados pelo pesquisador.” 6/16 ANAIS No que se refere aos procedimentos caracteriza-se como estudo de caso. Raupp e Beuren (2009, p. 84) mencionam que “a pesquisa do tipo estudo de caso caracteriza-se principalmente pelo estudo concentrado de um único caso.” “[...] é realizado de maneira mais intensiva, em decorrência de os esforços dos pesquisadores concentrarem-se em determinado objeto de estudo.” Para Yin (2005, p. 32), “um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.” Quanto à abordagem do problema a pesquisa a pesquisa é do tipo qualitativa. Raupp e Beuren (2009, p. 92) afirmam que “na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. A abordagem qualitativa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo, haja vista a superficialidade deste último.” A empresa pesquisada é uma indústria cooperativa de Conservas de Palmito de Palmeira Real da Austrália, com capacidade produtiva de 4.108.000 (quatro milhões, cento e oito) potes/ano. A escolha da empresa deu-se em função do atendimento às questões de pesquisa e também pela facilidade ao acesso às informações propiciadas pela metodologia aplicada. Os dados foram coletados por meio de visitas para observações do processo produtivo, análise documental através das planilhas de custos e relatórios do sistema de custos e por meio de entrevistas com o controller da empresa. Yin (2005) destaca que os dados para os estudos de caso podem se basear em muitas fontes de evidências entre elas cita: a documentação, entrevistas e a observação direta as quais foram utilizadas neste estudo. Para atender ao objetivo da pesquisa que consiste em verificar a aplicação dos métodos de distribuição dos custos conjuntos sob a ótica da teoria da agência serão adotados os seguintes procedimentos: a) Em um primeiro momento aplicar-se-á os métodos de distribuição dos custos conjuntos apresentados pela literatura e que se adaptam a empresa sendo eles: método do valor das vendas no ponto de separação, método da margem bruta percentual do VLR, método da medida física e por fim o método da média ponderada. Os dados para aplicação dos métodos foram obtidos através de planilhas de Excel e relatórios do sistema de custos. Em seguida, serão comparados os resultados obtidos através da aplicação dos métodos propostos na literatura, com os métodos e resultados da empresa. b) Num segundo momento serão avaliadas as possíveis implicações de mudança do critério, nos resultados e consequentemente na relação entre cooperativa e cooperado. Estes dados foram coletados através de entrevista com o controller que teve duração de 60 minutos, através de um roteiro com seis perguntas abertas. Após a análise dos dados solicitou-se ao controller que revisasse os resultados alcançados. Yin (2005) destaca que a revisão do estudo de caso por pessoas participantes e informantes do caso, objeto de estudo, é um dos procedimentos que garante qualidade ao resultado da pesquisa. 4. Descrição e análise dos dados A análise dos dados aconteceu em duas etapas as quais se apresentam a seguir: 4.1 Aplicação dos métodos de distribuição dos custos conjuntos A atividade agropecuária do palmito é um trabalho muito artesanal, onde a habilidade manual é um ponto fundamental na qualidade do produto final. O processo produtivo da 7/16 ANAIS cooperativa é realizado por lotes/clientes, assim não acontece a produção de vários clientes ao mesmo tempo. A seguir descreve-se o processo produtivo por etapas para um melhor entendimento dos cálculos: 1ª. Etapa: Recebimento das hastes de palmitos dos cooperados onde num primeiro momento os mesmos são descascados, sendo as cascas trituradas e doadas para agricultores e o palmito repassado para o setor de corte. Preocupada com a sustentabilidade a empresa através de seus associados realiza o cultivo de forma ecologicamente correta, substituindo o extrativismo de palmeiras nativas. Atualmente alguns produtores estão migrando áreas de arroz para o plantio do palmito. A empresa também possui um técnico que faz todo o acompanhamento da produção desde o plantio até a colheita. 2ª. Etapa: Neste momento os palmitos são cortados, e dependendo da qualidade da matéria-prima é possível ter um maior aproveitamento ou não, para toletes, aperitivos, o que resta da haste e feito o palmito picado, sendo produzidos nove tipos de produtos: a) Aperitivo 300 gr. drenado; b) Banda 300gr. branco; c) Picado 1,8 kg drenado; d) Picado 300 gr. drenado; e) Tolete 300 gr. drenado; f) Tolete 1,2 kg drenado; g) Tolete 1,8 kg drenado; h) Rodela 1,8kg drenado; e i) Rodela 300gr. drenado. Cabe destacar que os produtos tolete 6x1,8 kg., rodela 6x1,8 kg. e o picado 6x1,80 kg. foram convertidos em caixas com 15 potes de 300 gr., assim todos os produtos foram convertidos para a mesma unidade de medida, tal conversão se faz necessária, pois dependendo do método aplicado é preciso trabalhar com a mesma unidade de medida. 3ª. Etapa: Nesta etapa os palmitos são colocados nos vidros, com o ácido cítrico, água e sal e passam por um processo de cozimento de aproximadamente vinte minutos. 4ª Etapa: A última etapa consiste na embalagem onde os vidros são fechados e lacrados, sendo armazenados em caixas. Tal processo caracteriza-se como conjunto, pois apresenta as características determinadas por Souza e Diehl (2009), possui o mesmo processo, a mesma matéria-prima, com vários produtos. O ponto de separação do processo produtivo do palmito acontece exatamente no momento em que as hastes são cortadas. A seguir figura ilustrativa do ponto de separação: Haste do Palmito Processo de desdobramento Ponto de separação Produtos: Picado15x300 gr Tolete 15x300 gr Picado 6x1,8 gr Rodela 15x300 gr Subprodutos: Tolete 6x1,8 kg Banda 15x300 gr Aperitivo 15x300 gr Rodela 6x1,8 kg Figura1: Ponto de separação. Fonte: Dados da pesquisa. De acordo com Horngren, Foster e Datar (2000), Martins (2008) e Scramim e Batalha (2009) a classificação em produtos e subprodutos, depende da representatividade destes no faturamento total da empresa. Pode inclusive um item ser considerado em um período como subproduto e no próximo período como produto em função de um aumento da sua representatividade sobre as vendas. Assim, consideraram-se como subprodutos os itens que representavam menos de 10% sobre o faturamento total da empresa no ano de 2009. 8/16 ANAIS Analisando as características do processo produtivo e os dados em termos de controle interno da empresa identificaram-se os custos conjuntos a seguir: Tabela 1: Custos conjuntos Custos Conjuntos 365.628 38.175 174.104 577.908 Itens Mão de Obra Direta Custos com Materiais Custos Gerais Total Fonte: Dados da pesquisa. A empresa atualmente não utiliza nenhum critério proposto pela literatura para alocação dos custos conjuntos. Possui como base para a distribuição, o valor da matériaprima, este que é identificado após o corte, ou seja, recebida a haste de palmito no momento do corte é verificado, quantos potes de palmito tolete, de palmito aperitivo e assim com todos os demais produtos que a remessa de haste gerou, sendo identificado neste momento o custo da matéria-prima (haste de palmito) para cada produto. Com isto a cooperativa paga a matéria-prima de acordo com a sua qualidade. Diante da literatura estudada verificou-se a possibilidade de aplicação dos critérios de alocação dos custos conjuntos a seguir: 4.1.1 Método do valor das vendas no ponto de separação Neste método os custos são alocados de acordo com o valor de mercado dos produtos, assim calculou-se a representatividade das vendas de cada produto em relação às vendas totais e aplicou-se o percentual encontrado sobre o valor dos custos conjuntos. A Tabela 2 evidencia os custos alocados: Tabela 2: Método do valor das vendas no ponto de separação Volume em caixas Tolete 15x300 gr. 5.955 Tolete 6x1.800 gr. 1.740 Rodela 15x300 gr. 3.746 Rodela 6x1.800 gr. 1.373 Picado 15x300 gr. 21.632 Picado 6x1.800 gr. 15.715 Banda 15x300 gr. 1.582 Aperitivo 15x300 gr. 1.365 Total 53.108 Fonte: Dados da pesquisa. Produtos Venda Unitária 101,1145 92,1168 66,8414 47,9192 32,9188 26,4093 59,1208 62,9527 44,9119 Venda Percentual Total 602.137 25,2449 160.283 6,7200 250.388 10,4976 65.793 2,7584 712.099 29,8551 415.022 17,4000 93.529 3,9213 85.930 3,6027 2.385.182 100 Custo Conjunto Unitário Total 24,4991 145.892 22,3191 38.835 16,1950 60.667 11,6104 15.941 7,9759 172.535 6,3987 100.556 14,3244 22.661 15,2529 20.820 577.908 Observa-se que o produto que recebeu maior custo foi o picado 15x300 gr. uma vez que é o item que possui maior representatividade sobre as vendas 29,86%, seguido do tolete 15x300 gr. que representa 25,24% das vendas. No entanto, pelo custo unitário o produto picado 6x1.800 gr. foi o que menos recebeu custo, acompanhando o preço de venda unitário do produto, evidenciando o princípio deste método que está no preço de venda, quanto menor for este preço, menor será o custo absorvido pelo produto. 4.1.2 Método da margem bruta percentual do VLR Para o cálculo da margem bruta seguiu-se três etapas. Em um primeiro momento calculou-se a margem bruta total que representou 29,17% da receita total conforme Tabela 3: 9/16 ANAIS Tabela 3: Cálculo da margem bruta total Itens Receita Total Custo Total Lucro Bruto Fonte: Dados da pesquisa. R$ % 2.385.182 1.689.324 695.857 100 70,8258 29,1742 Em um segundo momento, deduziu-se a margem bruta do valor final das vendas, para obtenção dos custos totais conforme se observa na Tabela 4: Tabela 4: Cálculo do custo total Venda Total Tolete 15x300 gr. 602.137 Tolete 6x1.800 gr. 160.283 Rodela 15x300 gr. 250.388 Rodela 6x1.800 gr. 65.793 Picado 15x300 gr. 712.099 Picado 6x1.800 gr. 415.022 Banda 15x300 gr. 93.529 Aperitivo 15x300 gr. 85.930 Total 2.385.182 Fonte: Dados da pesquisa. Produtos Margem Bruta 29,1742 29,1742 29,1742 29,1742 29,1742 29,1742 29,1742 29,1742 - Custo Total Unitário Total 71,6152 426.468 65,2425 113.522 47,3409 177.339 33,9392 46.598 23,3150 504.350 18,7046 293.943 41,8728 66.243 44,5868 60.861 1.689.324 Na última etapa, deduziram-se os custos separáveis esperados dos custos totais, para obtenção da alocação do custo conjunto de acordo com a Tabela 5. Tabela 5: Cálculo da alocação do custo conjunto Custo Custos Custo Conjunto Total Separáveis Unitário Total Tolete 15x300 gr. 426.468 298.358 21,5131 128.110 Tolete 6x1.800 gr. 113.522 78.797 19,9568 34.725 Rodela 15x300 gr. 177.339 142.481 9,3056 34.859 Rodela 6x1.800 gr. 46.598 22.947 17,2263 23.652 Picado 15x300 gr. 504.350 400.466 4,8023 103.884 Picado 6x1.800 gr. 293.943 109.307 11,7490 184.635 Banda 15x300 gr. 66.243 11.052 34,8868 55.191 Aperitivo 15x300 gr. 60.861 48.009 9,4153 12.852 Total 1.689.324 1.111.417 577.908 Fonte: Dados da pesquisa. Produtos Por este método o picado 6x1.800 gr. foi o produto que mais recebeu custo conjunto, seguido do tolete 15x300 gr. Este método considera que todos os produtos são igualmente rentáveis, pois demonstram a mesma margem, porém levando em consideração a prática de mercado esta sistemática não seria adequada, já que os preços são definidos de acordo com a concorrência. 4.1.3 Método da medida física Pelo método da medida física os custos conjuntos são alocados com base em unidades de medida, sua utilização só é possível quando se tem a mesma unidade de medida para todos 10/16 ANAIS os produtos. No caso da empresa em estudo utilizou-se como unidade de medida caixas de 15 potes de 300 gramas. A Tabela 6 apresenta os resultados alcançados. Tabela 6: Método da medida física Volume Percentual em caixas Tolete 15x300 gr. 5.955 11,2130 Tolete 6x1.800 gr. 1.740 3,2763 Rodela 15x300 gr. 3.746 7,0536 Rodela 6x1.800 gr. 1.373 2,5853 Picado 15x300 gr. 21.632 40,7321 Picado 6x1.800 gr. 15.715 29,5906 Banda 15x300 gr. 1.582 2,9788 Aperitivo 15x300 gr. 1.365 2,5702 Total 53.108 100 Fonte: Dados da pesquisa. Produtos Custo Conjunto Unitário Total 10,8817 64.801 10,8817 18.934 10,8817 40.763 10,8817 14.941 10,8817 235.394 10,8817 171.007 10,8817 17.215 10,8817 14.854 577.908 Por este método o produto que mais recebeu custo foi o palmito picado 15x300 gr. e num segundo momento foi o picado 6x1.800 gr. que representou 29,59% do total de quilos vendidos. 4.1.4 Método da média ponderada No método da média ponderada utiliza-se um fator de ponderação para cada produto de acordo com a sua importância, facilidade de venda, dificuldade de elaboração. Neste caso, utilizou-se para cada produto um fator de ponderação de acordo com sua facilidade de venda. No caso da empresa o produto de maior facilidade de venda é o tolete 15x300 gr., tal produto não possui grande representatividade no volume vendido em função de não possuir disponibilidade para a venda. A Tabela 7 demonstra os custos conjuntos alocados por este método. Tabela 7: Método da média ponderada Fator de Volume Ponderação Custo Conjunto Produtos Percentual Ponderação em caixas Total Unitário Total Tolete 15x300 gr. 8 5.955 47.640 32,6946 31,7288 188.945 Tolete 6x1.800 gr. 7 1.740 12.180 8,3590 27,7627 48.307 Rodela 15x300 gr. 3 3.746 11.238 7,7125 11,8983 44.571 Rodela 6x1.800 gr. 4 1.373 5.492 3,7691 15,8644 21.782 Picado 15x300 gr. 1 21.632 21.632 14,8457 3,9661 85.795 Picado 6x1.800 gr. 2 15.715 31.430 21,5699 7,9322 124.654 Banda 15x300 gr. 5 1.582 7.910 5,4285 19,8305 31.372 Aperitivo 15x300 gr. 6 1.365 8.190 5,6207 23,7966 32.482 Total 53.108 145.712 100 577.908 Fonte: Dados da pesquisa. Pelo método da média ponderado o produto que mais absorveria custos seria o tolete 15x300 gr. seguido do picado 6x1.800 gr. Conforme visto na revisão da literatura este método é considerado muito subjetivo, apesar de ser de fácil aplicação. 4.1.5 Comparação dos métodos Para a comparação dos métodos levantou-se o resultado bruto de cada produto, analisando-se os resultados obtidos com a aplicação dos métodos de alocação dos custos 11/16 ANAIS conjuntos propostos pela literatura e o método utilizado pela empresa. A Tabela 8 evidencia os resultados: Tabela 8: Resultados obtidos por produtos em cada método Valor das Vendas Tolete 15x300 gr. 157.887 Tolete 6x1.800 gr. 42.651 Rodela 15x300 gr. 47.241 Rodela 6x1.800 gr. 26.905 Picado 15x300 gr. 139.098 Picado 6x1.800 gr. 205.159 Banda 15x300 gr. 59.816 Aperitivo 15x300 gr. 17.101 Total 695.857 Fonte: Dados da pesquisa. Produtos Margem Bruta 175.668 46.761 73.049 19.195 207.749 121.079 27.286 25.070 695.857 Medida Física 238.978 62.552 67.144 27.906 76.239 134.708 65.262 23.068 695.857 Média Método Ponderada Empresa 114.834 85.726 33.179 23.143 63.336 -79.026 21.064 11.968 225.838 329.280 181.060 289.851 51.105 67.516 5.439 -32.601 695.857 695.857 Através do método utilizado pela empresa os produtos mais rentáveis são o picado 15x300 gr., seguido do picado 6x1.800gr. e do tolete 15x300 gr. sendo tais produtos os mais rentáveis também pelos métodos valor das vendas, margem bruta, medida física e média ponderada. Já os menos rentáveis apresentados de acordo com o método utilizado pela empresa foram a rodela 15x300gr. e o aperitivo 15x300 gr., onde o aperitivo também se apresentou como um dos produtos menos rentável pela maioria dos métodos. Percebe-se de maneira geral que os resultados obtidos pela empresa não são totalmente diferentes dos resultados obtidos de acordo com os métodos propostos pela literatura que são considerados de grande subjetividade. No entanto, não se teve um método onde os resultados de todos os produtos se aproximassem dos resultados obtidos pela empresa. Pela forma de controle que a empresa possui, pelas particularidades apresentadas em seu processo produtivo, acredita-se que no momento o método mais adequado para alocação dos custos conjuntos seja o utilizado pela empresa. 4.2 Implicações de mudança do critério de alocação O método de alocação dos custos conjuntos utilizado pela empresa somente é possível em função da forma de pagamento da matéria-prima (haste de palmito), que é de acordo com a qualidade do produto, tornando uma matéria-prima identificável. Segundo o controller da empresa a matéria-prima é cortada na produção do associado, geralmente é feito um corte seletivo, ou seja, uma equipe de funcionários da cooperativa seleciona as hastes que já estão em ponto de corte é vão dar uma maior rentabilidade na produção. A haste entra na linha de produção e só vamos identificar o valor exato que vamos pagar para o produtor de acordo com a rentabilidade do produto. Este critério foi utilizado sempre, inclusive é uma prática adotada na quase totalidade de indústrias que fazem processamento de palmito. No entanto, observa-se que nem todos os produtos que geram maior rentabilidade para a empresa, são os mais rentáveis para o cooperado, isso pode ser percebido em todos os métodos adotados, um exemplo é o palmito picado que é o produto de menor custo para a empresa. A reação dos cooperados não é muito positiva porque o produto que possui maior representativa no processamento é o picado que fica em torno de 65%, e é um produto que possui uma rentabilidade para o produtor menor, que custa R$ 0,60, logo quanto mais picado se obtiver com a produção dele menor o valor que será repassado, obviamente que isso 12/16 ANAIS depende muito do manejo da produção, do local que foi plantada esta haste, do momento em que foi cortada, já tivemos haste aqui que foi paga em média R$ 3,00, enquanto haste que gerou uma rentabilidade de R$ 1,00, então depende muito do processo produtivo da louvara. O produtor reclama, pois ele quer a maior rentabilidade possível, por ele só faria tolete e isso daria no máximo R$ 2,30, no entanto como temos um rigoroso processo e primamos muito pela qualidade do produto, então acabamos tendo um percentual de picado um pouco maior em virtude de os outros produtos terem que ter certa qualidade desejada em função da nossa clientela. Tal cenário somente mudaria se a forma de pagamento da matéria mudasse, por exemplo, ao invés de se pagar de acordo com a qualidade do produto, se pagaria pela haste, tal situação impactaria significativamente na rentabilidade de cada produto. O controller relata: já existiram sugestões por parte dos cooperados para ser adotado pela cooperativa o pagamento por haste produzida, só que é um critério que gera uma subjetividade muito grande, se tenho uma produção que gera uma rentabilidade boa, vale a pena se pagar por haste, se a produção do associado não gerar uma boa rentabilidade a indústria terá prejuízo. Tal situação impacta na relação entre cooperativa e cooperado, gerando conflitos. Já houve muita discussão inclusive nos momentos que ocorreu aumento de matéria-prima, nós pagávamos o picado a R$ 0,50 centavos, há dois anos passamos para R$ 0,60 centavos o que onerou bastante o custo da matéria-prima, pois R$ 0,10 centavos já representam muito num produto que possui uma produtividade muito grande. Porém, para atender uma expectativa dos cooperados e por se tratar de cooperativismo, onde não se objetiva a lucratividade nas operações com os associados, foi atendida essa expectativa. Seria interessante pagar bem mais, para que tivessem mais rentabilidade, que produzissem mais, que tivéssemos maior escala, que hoje é um dos fatores que impede a maior representatividade no mercado em termos de comercialização, porém em virtude da prática de vendas, não conseguimos pagar mais do que estamos pagando hoje, que já é muito. Então o conflito existente foi mais sobre a rentabilidade que eles ganham, pois eles não estavam obtendo o ganho que imaginavam que iriam ter com essa cultura. Foi questionado como tais conflitos são resolvidos. Geralmente todos os conflitos são resolvidos no próprio grupo, hoje temos um grupo formado por 38 associados, então todos os problemas, decisões, estratégias que visam definir o futuro da indústria, são discutidas com os associados, desde o início do projeto, desde a implantação foi assim. O critério adotado para o pagamento da matéria-prima (haste de palmito) impacta não somente na rentabilidade de cada produto como também na distribuição das sobras, pois a distribuição das sobras é proporcional ao valor da matéria-prima entregue a cooperativa. Com a relação a esta situação o controller menciona que: na sociedade cooperativa a distribuição das sobras é proporcional ao valor da matéria-prima entregue a cooperativa durante o período, com isso a mudança de critério vai impactar no custo da matéria, por exemplo, se o critério passar a ser por haste, e consequentemente na sobra. Hoje se tem um critério justo, pois o associado que mais ganhou durante o ano, foi o que mais investiu na produtividade, teve uma matéria-prima de melhor qualidade, uma rentabilidade melhor e na sobra ele também vai ganhar mais, pois contribuiu mais para a indústria. Percebe-se que independente do critério de alocação adotado nem todos os produtos mais rentáveis para a cooperativa são para o cooperado, isso em função do procedimento adotado para o pagamento da matéria-prima, tal procedimento impacta também na sobra distribuída ao cooperado ao final do período, uma vez que a mesma é proporcional a matériaprima repassada a cooperativa. No entanto, o associado que mais investir na sua produção é o que obterá maior retorno. 13/16 ANAIS 5 Considerações finais O estudo teve por objetivo verificar a aplicação dos métodos de distribuição dos custos conjuntos sob a ótica da teoria da agência. Para tanto, se realizou um estudo de caso em uma cooperativa agropecuária de palmito, utilizando-se como instrumento de coleta de dados a observação direta, análise documental e entrevista padronizada. Observou-se que a empresa não se utiliza dos critérios de distribuição de custos conjuntos sugeridos pela literatura, com isso aplicou-se o método do valor das vendas, método das unidades físicas, método da margem bruta, método das ponderações e comparou-se com os custos alocados pela empresa. Acredita-se que o critério atualmente utilizado, distribuindo os custos conjuntos de acordo com o custo da matéria-prima, evidencia melhor a realidade, pela forma de controle que a empresa possui e pelas particularidades apresentadas em seu processo produtivo. A partir da comparação dos métodos por meio do estudo de caso, pode-se perceber que, apesar da subjetividade de tais critérios, não existindo um método ideal, os produtos que apresentaram maior rentabilidade pelo método utilizado pela empresa, foram também os que apresentaram pelos critérios sugeridos pela literatura. Diante das respostas obtidas junto ao controller para analisar a relação cooperativa e cooperado, constatou-se que o critério atualmente utilizado para a definição do valor a ser pago de matéria-prima e consequentemente para a distribuição dos custos conjuntos apesar de muitas vezes não agradar ao cooperado é o que melhor reflete a realidade, onde o associado que mais vai ganhar durante o ano será aquele que mais contribui para a indústria, ou seja, aquele que mais investiu na produtividade, teve uma matéria-prima de melhor qualidade, consequentemente terá uma rentabilidade melhor e maior participação nas sobras. No entanto, cabe destacar que o produto que mais apresentou rentabilidade para a cooperativa é o que possui menos rentabilidade para o cooperado. É importante mencionar que este estudo possui limitações, como a de que os resultados alcançados são restritos ao caso em estudo, sendo obtidos com base nas características de uma única empresa, assim como pelos instrumentos de pesquisa adotados, não podendo ser generalizados. Pesquisas futuras são necessárias, com isso, como trabalhos futuros sugerem-se a análise dos critérios de rateios para os demais custos observando o impacto desses na relação entre cooperativa e cooperado, possuindo como pano de fundo a teoria da agência, pesquisas na área de custos relacionando a outras teorias também são requeridas, como teoria das restrições e teoria da contingência. Referências ANDRADE. Maria Margarida. Como preparar trabalhos para cursos de pós graduação: noções práticas. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002. BRASIL. Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5764.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010. BEZERRA, Francisco Antônio et al. Alocação de custos, teoria da agência e externalidades: uma revisão e relacionamento de conceitos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 14., 2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa: CBC, 2007. CD-ROM. BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo; Agronegócio cooperativo. In: BATALHA, Mário Otávio: (Org.). Gestão agroindustrial. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 711-734. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços: Com Aplicações na Calculadora HP 12 C e Excel. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2004. 14/16 ANAIS CORRÊA, Michael Dias; VOESE, Simone Bernardes. Custos conjuntos aplicados à atividade vinícola: um estudo de caso dos métodos de alocação. Custos e Agronegócio on line. v. 5, n.3, set./dez. 2009. DUCATI, Erves. O preço de mercado na formação do custo gerencial de produtos industrializados na indústria frigorífica. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE CUSTOS, 11., 2005, Florianópolis. Anais... Florianópolis: 2005. CD-ROM. EIDT, Jorge et al. Gerenciamento dos custos conjuntos na atividade madeireira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 13., 2006, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: CBC, 2006. CD-ROM. FIGUEIREDO, Sandra Maria Aguiar de; MOURA, Liliam. Os custos na produção conjunta das industrias de beneficiamento de castanha de caju – Estado do Ceará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 10., 2002, São Paulo. Anais... São Paulo: CBC, 2002. CDROM. GIELOW, Paulo Oscar. Custos conjuntos na tomada de decisões sobre resultados na agroindústria de beneficiamento de arroz. 2005. 140 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis. Universidade Regional de Blumenau FURB, Blumenau 2005. GIMENES, Régio Márcio Toesca; GIMENES, Fátima Maria Pegorini; Cooperativismo agropecuário os desafios do financiamento das necessidades líquidas de capital de giro. Revista de Economia Contemporânea. Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 389-410, mai./ago. 2006. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999. HORNGREN, Charles T.; FOSTER, George; DATAR, Srikant M. Contabilidade de custos. 9 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Lavoura permanente palmito, 2008. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1613&z=t&o=1&i=P. Acesso em: 05 set. 2010. JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. Theory of the firm: Managerial Behavior, Agency costs and Ownership Structure. Journal of Financial Economics, vol. 3, p. 305-360, October, 1976. KLANN, Roberto Carlos et al. Influência do risco moral e da accountability nas tomadas de decisões. In: CONGRESSO IAAER ANPCONT, 3., 2009. São Paulo. Anais…São Paulo: IAAER ANPCONT, 2009. CD-ROM. LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Planejamento, Implantação e Controle. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2000. LOPES, Alexsandro Broedel; MARTINS, Eliseu. Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. 2. re. São Paulo: Atlas, 2007. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARTINEZ, A. L. Agency theory na pesquisa contábil. In: CONGRESSO ENANPAD, 22., 1998. Foz do Iguaçu. Anais eletrônicos... Foz do Iguaçu: EnANPAD, 1998. Disponível em: <http://www.ppge.ufrgs.br/giacomo/arquivos/eco02036/martinez.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2010. NOSSA, Valcemiro; KASSAI, Sílvia; KASSAI, José Roberto. A teoria do agenciamento e a Contabilidade. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 24., 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ENANPAD, 2000. CD-ROM. 15/16 ANAIS OLIVEIRA, Everaldo Leonel de; ERFURTH, Alfredo Ernesto; SCARPIN, Jorge Eduardo. Métodos de alocação de custos conjuntos aplicados à atividade Madeireira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 15., 2008, Curitiba. Anais... Curitiba: CBC, 2008. CD-ROM. ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS - OCB. Números do Cooperativimo, 2009. Disponível em: http://www.brasilcooperativo.coop.br/site/servicos/biblioteca.asp?CodPastaPai=40. Acesso em: 05 set. 2010. PINTO, Juliana; SILVA, Tarcísio Pedro da; HEIN, Nelson. Sistema de informações interdependentes: uma aplicação da teoria dos jogos na distribuição do custo conjunto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 14., 2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa: CBC, 2007. CD-ROM. RAUPP, Fabiano Maury; BEUREN, Ilse Maria. Metodologia da Pesquisa Aplicável às Ciências Sociais. In: BEUREN, Ilse Maria: (Org.). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: teoria e prática. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 76-97. RODRIGUES, Aníbal dos Santos; DURIGAN, Maria Eliane. O agronegócio do palmito no Brasil. Instituto Agronômico do Paraná. Londrina, 2007. ROSA, Luiz Carlos. Interface física e econômica em gestão de processo de produção de produtos conjuntos. 2004. 103 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Curso de PósGraduação em Engenharia, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. SANCOVSCHI, Moacir; GOMES, Jarbas Augusto. Tratamento contábil dos custos dos produtos conjuntos, subprodutos, sucatas e perdas: a experiência de três empresas brasileiras. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 14., 2007, João Pessoa, Anais... João Pessoa: CBC, 2007. CD-ROM. SANTOS, Joel José. Análise de Custos. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2005. SCRAMIM, Fernando Cezar Leandro; BATALHA, Mário Otávio. Gestão de custos ambientais. In: BATALHA, Mário Otávio: (Org.). Gestão agroindustrial. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 431-502. SOUZA, Célia de; SOUZA, José Carlos de; FARIA, Ana Cristina de. Métodos de atribuição de custos conjuntos aplicados à atividade de cunicultura: um estudo de caso. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 13., 2006, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: CBC, 2006. CD-ROM. SOUZA, Marco Antonio de; DIEHL, Carlos Alberto. Gestão de custos: uma abordagem integrada entre contabilidade, engenharia e administração. São Paulo: Atlas, 2009. ZANIN, Antonio; ZANIN, Rafael Antonio; NESI FILHO, Lírio. Proposta de um modelo de custeio e precificação aplicado a uma agroindústria familiar. In: Congresso Brasileiro de Custos, 14., 2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa: CBC, 2007. CD-ROM. ZIMMERMAN, J. L. The Cost and Benefits of Cost Allocation. The Accounting Review. Vol.54, No. 3. p. 504-521, July 1979. WELGACZ, Hanna Tatarchenko; SILVA, Wesley Vieira da; CORSO, Jansen Maia Del. Produção conjunta e decisões gerenciais: o caso de uma empresa de exportação de madeira tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 14., 2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa: CBC, 2007. CD-ROM. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 16/16