O Brasil e as Negociações para a Implantação da ALCA As questões relacionadas com as negociações para a formação da ALCA não são assunto de fácil solução, nem têm uma resposta única e definitiva. Porém, da mesma forma como a União Européia concentrou-se durante anos em torno de uma União Aduaneira e, posteriormente, de um Mercado Comum, já deveríamos ter desenvolvido algo do gênero, mesmo que em caráter experimental, ou com iniciativa limitada aos países latinos do continente americano, tendo em vista nossas afinidades e nossa formação em termos de História. Na realidade, negociações dos países do MERCOSUL com a Comunidade Andina foram iniciadas há algum tempo, bem como com o México, porém ainda sem uma aplicabilidade definitiva ou, pelo menos, satisfatória. E, pelo que sabemos, o acordo firmado para a formação do NAFTA tem beneficiado, de forma indistinta, a todos os signatários. Entre os países de nosso continente, o Chile e o México já há bastante tempo vêm conduzindo a assinatura de dezenas de acordos com um sem número de países. O Brasil, por ser o maior país da América Latina, quer em termos de superfície, quer em termos de população, quer em termos de Produto Interno Bruto, já deveria ter negociado e assinado um grande número de acordos, mesmo que com uma pauta de produtos reduzida, visando não somente um maior acesso a mercados, mas também a proteção de setores que, por diversas razões, não têm condições de participar de uma competição de caráter internacional. Porém, não é isso que temos visto acontecer, pois nossas iniciativas nesse campo não têm guardado correlação com o tamanho de nossa economia nem com a dinâmica de nosso setor empresarial. Não podemos perder “o bonde da História”. Se ficarmos por último, deixaremos escapar de nossas mãos quase todas as vantagens comparativas e competitivas que desenvolvemos em anos recentes, inclusive aqueles vinculados ao setor primário da economia. Além do mais, temos que levar em consideração que um outro ganho que decorre da assinatura de acordos internacionais, em virtude da atuação e da influência direta de uma geração diversificada de produtos e de uma concorrência rápida, eficiente e de conformação global, reside na quase inexistência de países com elevados níveis de inflação, fato que ocorria com bastante freqüência em passado relativamente recente. Para finalizar, observo com preocupação que temos deixado de lado inúmeras e importantes oportunidades de negociar e de assinar acordos internacionais. Porém, não obstante esse fato, acredito que todos agora estamos vendo que, especificamente no tocante à ALCA, a unidade e o desenvolvimento do continente americano – em todos os sentidos – são fundamentais, em virtude das extraordinárias reservas ambientais e riquezas humanas, tecnológicas, agrícolas e minerais de que dispomos, do extremo norte ao extremo sul, do Canadá à Terra do Fogo, e que poderão ser utilizadas, no futuro, para benefício de todos os povos desta parte do mundo e da humanidade em geral. Paulo de Albuquerque Membro do Conselho Superior de Economia do Instituto Roberto Simonsen - COSEC Diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da FIESP - DEPECON Diretor de Economia e Estatística da ABRACI – Assoc. Brasileira de Circuitos Impressos Diretor de Análise e Estudos Econômicos do Grupo FORMITEX Ex-Chairperson (Presidente) do Grupo Estratégico de Economia da AMCHAM - SP Ex-Professor de Economia e Finanças da Universidade Ibirapuera - SP Ex-Professor de Estatística Metodológica da PUC - RS São Paulo, julho de 2005.