OBSERVAÇÕES ADICIONAIS SOBRE CAMBIAL APLICADA NO BRASIL A POLÍTICA Conforme havíamos mencionado anteriormente, além das discussões acerca de diversos aspectos da política econômica adotada pelos últimos governos brasileiros, um outro ponto que tem ocupado as mentes de grande parte de nossos economistas está vinculado à influência da valorização do real sobre as exportações brasileiras e sobre a economia brasileira em geral. Assim, a questão crucial hoje abordada diz respeito ao estabelecimento e à aplicação das taxas de câmbio no Brasil, especificamente no que diz respeito à taxa R$ / US$. Acontece que, não obstante ser aquela taxa fruto do resultado de negociações em um mercado específico e localizado, tem marcante influência sobre diversos outros setores – inclusive aqueles que nada têm a ver diretamente com o mercado externo – sendo inclusive utilizada para a conversão e respectiva comparação dos números do PIB brasileiro com o de outros países, fato que gera distorções no que concerne à classificação das economias e respectivos parâmetros em nível mundial. E, além dos problemas gerados com a séria queda da rentabilidade e do poder de competição de nossas exportações, o mesmo ocorre com a competição dos produtos nacionais com a maioria dos produtos importados, cujas alíquotas efetivas, no período de pouco mais de um ano, foram na prática reduzidas em cerca de 10 (dez) pontos percentuais, pelo efeito da queda da taxa de câmbio, ou da valorização do real perante as moedas estrangeiras mais utilizadas no mercado internacional, como o dólar e o euro. A título de exemplo, caso alguém houvesse importado no final de maio do ano passado um automóvel cujo custo, adicionado ao frete e ao respectivo seguro, fosse da ordem de US$ 20,000.00 (vinte mil dólares) – sessenta e dois mil quinhentos e oitenta reais na época –, pagaria de impostos (de importação, sobre produtos industrializados e de circulação de mercadorias e serviços) um valor de R$ 86.810,67, perfazendo um custo total de R$ 149.390,67. Dezessete meses depois, isto é, no final de outubro de 2005, aquele total seria de R$ 107.614,76, ou seja, teria sofrido uma redução de praticamente 28%. Fazendo os devidos cálculos e as devidas comparações, verificamos que a diferença das taxas de câmbio teve idêntico impacto àquele causado por uma redução de 10 (dez) pontos percentuais na alíquota de importação do automóvel. 2 Dessa forma, ficam praticamente sem efeito quaisquer negociações internacionais que visem a proteção da maior parte da indústria brasileira pois, conforme demonstramos acima, a valorização do real perante o dólar e o euro gerou, além de outros aspectos negativos, a abertura indevida de nossos mercados a competidores estrangeiros, sem que a economia local seja agraciada com qualquer contrapartida ou seja beneficiada com qualquer reciprocidade. Assim sendo, mesmo correndo o risco de sermos taxados de antiquados ou de ultrapassados, preferimos opinar a favor da condução de uma política cambial mais direcionada e inteligente, menos sujeita a flutuações e a especulações de toda ordem e também mais patriótica, voltada ao desenvolvimento da economia nacional e do nosso próprio país. Com a palavra os responsáveis pelos Ministérios da Fazenda – onde se inclui o Banco Central –, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e de Relações Exteriores, que são aqueles mais diretamente vinculados aos assuntos ora colocados e os mais envolvidos na aplicação das soluções dos problemas aqui abordados. Paulo de Albuquerque Diretor de Economia e Estatística da ABRACI Diretor de Análise e Estudos Econômicos do Grupo FORMITEX – São Paulo Membro do COSEC – Conselho Superior de Economia do Instituto Roberto Simonsen / FIESP Membro da Diretoria do DEPECON – Depto. de Pesquisas e Estudos Econômicos da FIESP Ex-Presidente do Grupo Estratégico de Economia da AMCHAM - Câmara Americana de Comércio de São Paulo Ex-Diretor de Desenvolvimento da LEROY MERLIN – São Paulo Ex-Professor de Economia e Finanças da Universidade Ibirapuera – São Paulo Ex-Professor de Estatística Metodológica da PUC - RS São Paulo, 15 de dezembro de 2005.