Artigo Original
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM
DOENÇA DE PARKINSON DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Epidemiological profile of patients with Parkinson’s
disease (PD) IN THE Clinical Hospital of Federal
University of Pernambuco
Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano (CORIOLANO MGWS)1, Elizabeth Gomes da Silva (SILVA
EG)2, Emmily Silva Fortuna (FORTUNA ES)3, Amdore Asano (ASANO A)4, Douglas Monteriro (MONTEIRO D)5,
Otávio Gomes Lins (LINS OG)6
Resumo:
Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico dos pacientes com doença de Parkinson (DP) do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE). Métodos: Este estudo descritivo foi desenvolvido
com 61 pacientes com DP idiopática. Um instrumento estruturado composto por 12 itens foi elaborado para a
coleta de dados. Resultados: A média de idade dos pacientes foi 62 anos, sendo 68,8% da amostra composta
por homens. A renda média foi de R$ 1.700,00, enquanto a classe econômica apresentada pela maioria foi
C e D (70%). A maioria não concluiu o primeiro grau (47,5%) e se identificou como de etnia branca (49,5%).
Antecedentes familiares da DP foram relatados por 29,5%, principalmente o grau de parentesco tio, seguido
do pai. Com relação ao fumo, foi identificado que 33 (54%) nunca fumaram. Os sintomas não motores mais
freqüentes foram: dor muscular e articular (67,2%), constipação intestinal (62,3%) e insônia (55,7%). A maioria
(72,1%) apresentava-se no estágio 2 e 3 da doença segundo a versão original da escala de Hoehn&Yahr.
Associada à DP, 10 pacientes (16,4%) apresentam diabetes e 20 pacientes (32,8%) apresentam hipertensão
arterial sistêmica. Os pacientes referiram ter mais acesso ao serviço de Fisioterapia (35 pacientes: 57,3%) do
que aos demais serviços. Conclusões: Os pacientes com DP do HC/UFPE são, em sua maioria, homens que
se consideram de etnia branca, com idades entre 30 e 60 anos que convivem com a doença à cerca de 6
anos, a maioria nos estágios 2 e 3 (HY), com pouco acesso aos serviços de reabilitação.
Palavras-chave: Doença de Parkinson; Perfil de saúde; Perfil de impacto da doença; Fatores de risco;
Epidemiologia; Perfil Epidemiológico.
Fisioterapeuta. Profª Adjunta do Departamento de Anatomia da Universidade Federal de Pernambuco*.
Fisioterapeuta. Graduada pela Faculdade Maurício de Nassau, Recife/PE, Brasil.
3
Fisioterapeuta. Graduada pela Faculdade Maurício de Nassau, Recife/PE, Brasil.
4
Neurologista. Pró-Parkinson, Ambulatório de Neurologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.
5
Fisioterapeuta. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da
Universidade Federal de Pernambuco.
6
Neurofisiologista. Profº Adjunto do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco.
1
2
Autor para correspondência:
Maria das Graças WS Coriolano.
Rua Professor Antônio Coelho, 694, Várzea. CEP: 50740-020 - [email protected]
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NEUROBIOLOGIA, 76 (1-2) jan./jun., 2013������������������������������������������
Abstract:
Objective: To describe the epidemiological profile of patients with Parkinson’s disease (PD), Clinical Hospital of
Federal University of Pernambuco (HC / UFPE). Methods: This descriptive study was conducted with 61 patients
with idiopathic PD. A structured instrument comprising 12 items was developed to collect data. Results: The mean
age of patients was 62 years, and 68.8% of the sample of men. The average income was R $ 1,700.00, while
the economy class was presented by most C and D (70%). Most have not completed primary school (47.5%) and
identified as Caucasian (49.5%). Family history of PD were reported by 29.5%, mainly kinship uncle, followed
by the father. With regard to smoking, it was identified that 33 (54%) had never smoked. The most frequent nonmotor symptoms were muscle and joint pain (67.2%), constipation (62.3%) and insomnia (55.7%). Most (72.1%)
presented with stage 2 and 3 of the disease according to the original version of Hoehn & Yahr. Associated with
PD, 10 patients (16.4%) had diabetes and 20 patients (32.8%) had hypertension. The patients reported having
more access to Physiotherapy (35 patients: 57.3%) than the other services. Conclusions: Patients with PD HC
/ UFPE are mostly men who consider themselves Caucasian, aged between 30 and 60 years who live with the
disease for about 6 years, mostly in stages 2 and 3 (HY) with little access to rehabilitation services..
Key words: Parkinson’s disease; Health profile; Sickness impact profile; Risk factors; Epidemiology; Epidemiology
profile.
Introdução
A doença de Parkinson (DP) é a mais comum
doença do movimento, depois do tremor essencial, e
a segunda mais comum doença neurodegenerativa1.
Os sintomas motores cardinais são tremor, rigidez,
bradicinesia e disfunções posturais2, entretanto
sintomas não motores como demência, depressão,
alucinações visuais e disfunções autonômicas também
estão presentes3.
A incidência da DP idiopática aumenta
com a idade. Em 2007 havia cerca de 2 milhões
de pessoas nos Estados Unidos com a doença.
Normalmente a idade de início da DP ocorre em
torno dos 65 anos de idade, entretanto, cerca de
8% das pessoas podem desenvolvê-la entre 21 e 40
anos4. Sua etiologia é bastante discutida e as teorias
atuais sugerem uma combinação entre idade, fatores
genéticos e não genéticos1.
Há uma hipótese de que a exposição a
metais pesados como ferro, manganês, cobre,
chumbo, amálgama, alumínio ou zinco possa
aumentar o risco do sujeito desenvolver a DP através
da acumulação desses metais na substância negra,
entretanto, os estudos ainda são inconclusivos5,6.
A exposição ocupacional a pesticidas e
herbicidas assim como o consumo excessivo de café
e álcool também são considerados para o aumento
do risco em desenvolver a DP, mas também há a
necessidade de outros estudos6.
Em geral, é encontrado na literatura estudos
com evidências epidemiológicas da população
Européia, Asiática e Americana7,3,4, sendo escassos
os estudos epidemiológicos sobre a doença no
Nordeste do Brasil.
A descrição do perfil epidemiológico de uma
determinada população de sujeitos atende a diversos
propósitos: a) Identifica fatores de risco que podem
dar pistas da etiologia da doença; b) Descreve a
ocorrência da doença; c) Indica as tendências
temporais e as diferenças geográficas em sua
freqüência; d) E principalmente fornece informações
para o planejamento de estratégias de tratamento8.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo
é descrever o perfil epidemiológico dos pacientes
com DP do HC/UFPE que é referência no Estado de
Pernambuco no atendimento de pacientes com DP
20 �����������������������������������������������������������������������������
��������������������������������������������������������� Coriolano, M.G.W.; et al.
que residem tanto em cidades do interior quanto da
Região Metropolitana de Recife.
Métodos
Dentre os 156 pacientes cadastrados no PróParkinson: Medicina do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE), 61
aceitaram participar do estudo e assinaram o termo
de consentimento livre e esclarecido. Os pacientes
que chegavam ao serviço para a sua consulta de
rotina entre julho de 2010 a julho de 2011 eram
convidados a participar da pesquisa caracterizando
a amostra como aleatória de conveniência, obtida
por demanda espontânea. O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE,
ofício nº 129-2010.
Os critérios de inclusão foram: Pacientes
com diagnóstico clínico de doença de Parkinson
idiopática em qualquer estágio da doença, em
ambos os gêneros, que aceitaram participar do
estudo assinando o termo de consentimento livre e
esclarecido.
Para a realização desta pesquisa, classificada
como observacional, descritiva, transversal, foi
desenvolvida uma planilha individual de evidências
epidemiológicas. Este instrumento estruturado foi
composto por 12 itens.
O 1º item refere-se aos dados pessoais do
paciente incluindo etnia e escolaridade; o 2º item
refere-se à classificação econômica Brasil. Este critério
estima o poder de compra das pessoas e das famílias
urbanas, abandonando a pretensão de classificar a
população em termos de “classes sociais”, mas sim
em termos de “classes econômicas”35; o 3º, 4º, 5º
e 6º item investiga os fatores de risco genético, não
genético (fatores ambientais), não genético (fatores
ocupacionais) e não genético (estilo de vida),
respectivamente.
O sétimo item investiga a presença de
diabetes e hipertensão associada à DP; o 8º item
identifica a medicação prescrita para o paciente; o
9º item investiga a presença de sintomas não motores
(disautonomia); o 10º item investiga a ocorrência de
trauma psicológico ou físico.
O 11º item refere-se à aplicação da versão
original da escala de Hoehn & Yahr (HY) que
compreende cinco estágios de classificação
para avaliar a severidade da DP e abrange,
essencialmente, medidas globais de sinais e
sintomas que permitem classificar o indivíduo quanto
ao nível de incapacidade34. O 12º item investiga
o acesso do paciente a serviços de reabilitação:
terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia e
psicologia.
Resultados
Os 61 pacientes com DP avaliados
apresentaram uma média de idade de 62 anos,
sendo 41 pacientes (68,8%) do sexo masculino e
20 pacientes (31,1%) do sexo feminino. Em média,
a doença foi diagnosticada há 6 anos, quando o
paciente apresentava idade média de 56 anos
(Tabela 1).
Tabela 1: Caracterização da amostra com relação às idades.
Idade Atual
Idade Diagnóstico
Duração da Doença
Média(±)
62 (11,3)
56 (11,3)
6 (4,3)
Variação
34-83
30-81
0-20
Idade atual representa a idade apresentada no momento da coleta de dados; idade diagnóstico representa a idade
apresentada quando o paciente obteve o diagnóstico clínico; e duração da doença representa o tempo decorrido entre o
diagnóstico clínico e o momento da coleta de dados.
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As profissões identificadas foram variadas,
sendo 9 (14,8%) donas de casa; 7 (11,4%)
comerciário; 6 (9,8%) motoristas; 6 (9,8%) policiais;
4 (6,5%) domésticas; 3 (5%) agricultores; 3 (5%)
operadores de máquina. Os 23 (37,7%) pacientes
restantes apresentaram profissões distribuídas entre:
armador, auxiliar administrativo, costureira, dentista,
eletricista, empresário, funcionário público, garçom,
industriário, instalador de alarme, mecânico, militar,
pedreiro, porteiro, professor, protético, segurança,
serviço geral e técnico em enfermagem.
A renda média foi de R$ 1.700,00 (±)
R$ 1.423,00, variando entre R$ 600,00 e
R$ 8.100,00, enquanto a classe econômica
apresentada pela maioria foi C e D. A maioria dos
pacientes não concluiu o primeiro grau (Tabela 2).
Tabela 2: Caracterização da amostra com relação à classe econômica e escolaridade.
Classe Econômica
nº pacientes (%)
Escolaridade
nº pacientes (%)
A2
1 (1,6)
Analfabeto
4 (6,5)
B1
6 (9,8)
1º grau incompleto
29 (47,5)
1º grau completo
6 (9,8)
B2
11(18)
2º grau incompleto
3 (5,0)
2º grau completo
12 (19,8)
C1
15 (24,6)
3º grau incompleto
2 (3,3)
3º grau completo
4 (6,5)
C2
14 (23)
D
14 (23)
Pós-Graduação
1 (1,6)
Quanto à etnia foi verificado que 30 pacientes
(49,5%) são brancos, 19 pacientes (31%) são
pardos, 8 pacientes (13%) são negros e 4 pacientes
(6,5%) são amarelos.
Foi identificado na amostra que 18 pacientes
(29,5%) citaram antecedentes familiares de doença
de Parkinson. Seis pacientes citaram o tio, seguido
de pai, com 5 citações. O grau de parentesco mãe
recebeu 2 citações, enquanto avô, irmão, irmã,
primo e bisavó receberam 1 citação cada.Vinte e três
pacientes (37,7%) citaram antecedentes familiares de
doença neurológica, sendo que 17 deles indicaram
o acidente vascular encefálico, já os demais citaram
doença de Alzheimer, problemas mentais, problemas
neurológicos e epilepsia.
Com relação ao fumo, foi identificado que 4
pacientes (6,5%) da amostra são fumantes, 24 são
ex-fumantes (39%) e 33 (54%) nunca fumaram. A
exposição dos pacientes a fatores ambientais está
expressa na tabela 3.
Tabela 3: Exposição dos pacientes da amostra a fatores ambientais.
Exposição
nº Pacientes
%
MPTP
01
1,6%
Pesticida/Herbicida
15
24,6%
22 �����������������������������������������������������������������������������
��������������������������������������������������������� Coriolano, M.G.W.; et al.
Exposição
nº Pacientes
%
Metais Pesados
11
18%
Consumo de Água de Poço
33
54%
Exposição a Pesticida/Herbicida no Trabalho
14
23%
Exposição à Metais Pesados no Trabalho
13
21,3%
MPTP: Metil-Fenil-Tetraidro-Piridina
O consumo de álcool foi referido por 7 pacientes
(11,5%), 23 pacientes (37,7%) não consomem mais,
mas já fizeram uso e 31 pacientes (50,8%) apenas
responderam que não usam. Quanto ao consumo de
café, 16 pacientes (26,2%) não consomem café, 40
pacientes (65,6%) consomem entre 1 e 3 xícaras de
café por dia, e 5 pacientes (8,2%) consomem mais
de 3 xícaras de café por dia.
O item referente à presença de um trauma
psicológico apresentou 28 (45,9%) relatos de sim,
sendo a maioria ligada à perda de um ente querido.
O trauma físico (acidente, queda ou pancada na
cabeça) foi relatado por apenas 9 (14,7%) pacientes.
Os pacientes apresentam mais acesso aos
serviços de Fisioterapia (35 pacientes: 57,3%)
do que aos serviços de Terapia Ocupacional (8
pacientes: 13%), Psicologia (9 pacientes: 14,7%) e
Fonoaudiologia (12 pacientes: 19,6%).
Associada à DP, 10 pacientes (16,4%)
apresentam diabetes e 20 pacientes (32,8%)
apresentam hipertensão arterial. A tabela 4
apresenta uma compilação dos sintomas não motores
(disautonomia).
Tabela 4: Sintomas não motores (disautonomia). n=61
Sintomas Presentes
nº Pacientes
%
38
62,3
3
4,9
Incontinência urinária
25
41
Engasgo
22
36
Sialorréia
22
36
Insônia
34
55,7
Alucinação
21
34,4
Disfunção olfatória
24
39,3
Perda de peso no começo da doença
25
41
Alterações no apetite
22
36
Dor muscular e articular
41
67,2
Alterações respiratórias
19
31,1
Hipotensão ortostática
30
49,1
Impotência sexual
30
49,1
Libido (sempre presente)
19
31,1
Constipação intestinal
Incontinência fecal
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De acordo com a versão original da escala
de HY os pacientes estão distribuídos da seguinte
forma: Estágio 1: 12 pacientes (19,6%); estágio
2: 24 pacientes (39,3%); estágio 3: 20 pacientes
(32,8%); estágio 4: 4 pacientes (6,7%) e estágio 5:
1 paciente (1,6%). Discussão:
Idade e Gênero:
Entre os 61 sujeitos da amostra 18% (11
sujeitos) apresentavam idade entre 30 e 50 anos e
24,6% (15 sujeitos) apresentavam idade entre 51 e
60 anos. Esses dados apontam para a presença de
um contingente de sujeitos que apresentam a doença
de Parkinson (DP) de início precoce.
A DP, desde que foi descrita por James
Parkinson em 1817, sempre foi entendida como
enfermidade que afeta indivíduos na média-idade ou
acima desta faixa etária9.
O limite de idade a partir do qual se entende
DP habitual e abaixo do qual se passa a denominá-la
DP de início precoce é arbitrário, entretanto há uma
tendência que este limite seja 50 anos, ou seja, com
diagnóstico entre 21 e 50 anos10.
De acordo com o estudo de Filho (2007)11
sujeitos com DP de início precoce representariam
apenas 5 a 10% do total o que difere do encontrado
na nossa amostra. Entretanto é importante considerar
que para esses sujeitos existem diferenças das
características clínicas, curso clínico da doença e
reação ao uso da levodopa em relação a DP habitual,
o que implica na implementação de estratégias
diferenciadas de tratamento9,10.
A DP de início senil, com diagnóstico entre
70 a 87 anos9 foi identificada em 7 sujeitos (11,5%)
da nossa amostra que apresentaram diagnóstico
entre 70 e 81 anos. Dias (2006)12 afirma que a DP
aumenta progressivamente com a idade, chegando
a 3% das pessoas acima dos 70 anos de idade e
quanto mais idoso o paciente com DP, mais rápida e
desfavorável é a evolução da doença.
Com relação ao gênero 67,2% (41 sujeitos)
eram do gênero masculino e 32,8% (20 sujeitos) eram
do gênero feminino. Embora Alves (2008)1 relate
que não há diferença na incidência da DP entre os
gêneros, os efeitos hormonais protetores femininos13
podem ser a causa da maior incidência da doença
para o gênero masculino1,8,6.
Escolaridade e classe econômica:
Há poucos estudos que caracterizaram
pacientes com DP nos Serviços de Referência quanto
à renda e escolaridade. Também não foi encontrado
nenhum estudo que tenha relacionado essas variáveis
sociais ao agravamento da doença ou outro
achado. Num estudo feito por Peternella (2009)14
na Associação Maringaense de Parkinson (AMP) em
Brasília com dez parkinsonianos, seis não chegaram
a completar o ensino fundamental.
Antecedentes familiares e Etnia:
Quanto mais jovem o paciente inicia seus
sintomas, maior a possibilidade de haver um
componente genético envolvido, a julgar pelo número
de familiares de primeiro ou segundo grau também
acometidos10. Membros da família de pacientes
afetados têm de 3-4 vezes mais risco de desenvolver
a doença quando comparado com a população
em geral ou controles1. Admite-se que 20-25% dos
pacientes com DP tenham pelo menos um parente
de primeiro grau com a doença e/ou com tremor
essencial15.
De acordo com Meneses (2003)15 foi
realizado um estudo das famílias de 140 pacientes
com DP revelando que 15% dos pacientes tinham
pelo menos um dos pais ou tios com a doença, 8%
tinham um irmão doente e 77% apresentavam a
forma esporádica da doença, não tendo correlação
familiar.
24 �����������������������������������������������������������������������������
��������������������������������������������������������� Coriolano, M.G.W.; et al.
Quanto à etnia 49,5% (30 sujeitos) são
brancos, 31% (19 sujeitos) são pardos, 13% (8
sujeitos) são negros e 6,5% (4 sujeitos) são amarelos.
Segundo Jankovic (2007)8 foram realizados
vários estudos comparando a prevalência de DP
em populações multiétnicas, mas os resultados são
conflitantes, em Tuddy na cidade de Nova York e
Cuba a taxa de prevalência foi menor para os negros
do que para brancos e hispânicos sendo similar aos
resultados obtidos em nosso estudo.
Embora a incidência fosse maior em brancos
a sobrevida em pacientes negros é mais curta8.
Portanto existem outros fatores que alteram essa
taxa de prevalência em pacientes brancos e negros
de diferentes países como diferenças geográficas,
herança genética e industrialização mostrando a
necessidade de mais estudos sobre o assunto.
com alcoolismo ou com uma história prévia
de transtorno por uso de álcool20.
Exposições tóxicas:
Várias linhas de evidências implicam a
exposição a toxinas como uma etiologia potencial
ao fator de risco para o desenvolvimento da DP5, o
que corrobora com os nossos resultados em relação
à exposição dos pacientes da amostra a fatores
ambientais.
Esta associação positiva entre exposição à
pesticida e o subseqüente desenvolvimento da DP é
crescente, entretanto não há nenhuma relação clara
entre pesticidas específicos, duração da exposição
ou a via de entrada da toxina22.
Trauma físico e psicológico:
Café, Fumo, Álcool:
Embora que, neste estudo, a maioria dos
pacientes relatem consumir entre 1 e 3 xícaras
de café por dia, a cafeína cafeína tem sido
associada com menor risco de desenvolver DP21,1,6.
Bebedores de café tem uma redução de 30% no
risco de desenvolver DP em comparação aos nãobebedores19,21.
A mesma redução no risco de desenvolver
DP tem sido descrita com relação ao hábito de
fumar. Muitos estudos epidemiológicos descobriram
que fumar está associado a uma menor incidência
de DP. O risco de a doença surgir em não fumantes
é cerca do dobro dos fumantes. Isto significa que os
fumantes são cerca de 50% menos propensos a ter DP e
que os pacientes com DP têm cerca de 50% menos
probabilidade de ter fumado cigarros durante sua
vida6. Fumar é prejudicial para a saúde, entretanto
isto não deve ser um impedimento para avaliar os
componentes do tabaco considerando seus possíveis
efeitos neuroprotetores16,6,17,18,19. Com relação ao
consumo de bebidas alcoólicas, pacientes com
DP foram significativamente menos relacionados
O trauma físico (acidente, queda ou pancada
na cabeça) foi relatado por apenas 9 (14,7%)
pacientes.
A relação entre trauma na cabeça e DP é
controversa e tem sido debatida desde o início de
1900. Em 1922 o trauma foi relacionado à DP em até
15% de seus pacientes5. Segundo Khandhar (2007)5 a
DP pode se desenvolver em ex-pugilistas, mas isto não
implica necessariamente que há relação direta entre
lesão na cabeça e a patogênese da DP idiopática.
Sintomas Não-Motores:
Quanto
aos
sintomas
não
motores
(disautonomia) os mais expressivos foram: 41
pacientes (67,2%) relataram dor muscular e articular;
38 pacientes (62,3%) constipação intestinal; 34
pacientes (55,7%) insônia e 24 pacientes (39,3%)
com disfunção olfatória.
Dor muscular e articular:
Embora a dor não seja definida como uma das
características cardinais da DP ela é freqüentemente
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relatada pelos pacientes e muitas vezes é mais
incapacitante que os próprios sintomas motores23.
Segundo Silva (2008)24 a freqüência de dor
em pacientes com DP varia 30-70% e está mais
relacionada com os períodos off da doença16. A
dor músculo-esquelética pode se relacionar com a
rigidez, acinesia ou cãibras, mas não com o tremor.
Dor no ombro é uma queixa comum e pode ocorrer
devido a lesões degenerativas que aparecem ou
pioram com a doença.
A rigidez dolorosa em face, queixo e
mandíbula podem ocorrer no quadro inicial da DP ou
mesmo ser o sintoma inaugural dessa enfermidade.
Dor na região lombar, dor no pescoço são comuns
nos pacientes, predominando nos estágios mais
avançados da doença24.
A instabilidade postural, aliada a bradicinesia
e rigidez, acarreta quedas freqüentes e, como
conseqüência fratura, luxações e traumatismo das
partes moles que desencadeia dor muscular e articular
nos pacientes25.
É importante considerar no estudo da dor
na DP a sua etiologia, primária ou secundária. Ou
seja, existem causas reumáticas, osteoartríticas,
ortopédicas ou outras comuns em sujeitos idosos que
culminam, secundariamente, com o surgimento da
dor8. Portanto a identificação da dor primária na DP
é fundamental para o seu tratamento adequado.
pobre em fibras, a baixa ingestão de líquidos e a
idade do paciente, agravam o quadro10.
Constipação intestinal:
Embora Quagliato (2007)32 relate que a
disfunção olfatória é um dos sinais mais prevalentes
na DP, ocorrendo em 70 a 90% dos casos, apenas
28% dos pacientes relatam essa queixa.
Jankovic (2007)8 afirma que uma série
de estudos têm inequivocamente estabelecido
a disfunção olfativa como sinal clínico precoce
em DP, que afeta cerca de 90% dos pacientes. Ao
contrário, Andrade (1996)10 afirma que a presença
de corpúsculos de Lewy no bulbo olfatório parece
ser um achado consistente em pacientes com
DP sintomática, ocorrendo em 100% dos casos
examinados post-mortem. O autor afirma ainda que
A constipação intestinal é um sintoma
freqüente da DP e tem uma estimativa na prevalência
de 59%. Autores sugerem que a constipação seja
um fator de risco porque tem sido relatada como
uma queixa proeminente antes do início dos sintomas
motores em cerca de metade dos pacientes1.
Além deste fator, também há o papel da
medicação usada no tratamento da DP que pode
tornar mais lentos os movimentos gastro-intestinais
retardando o esvaziamento gástrico e trânsito
intestinal. Somando a estes dois fatores, a dieta
Distúrbios do Sono:
Estudos epidemiológicos indicam que entre
40-56% da população brasileira sofre de algum
distúrbio do sono. Entre estes distúrbios a insônia
de manutenção é a mais freqüente, seguida pela
dificuldade de conciliar o sono e, por último, pelo
despertar precoce. Esses sintomas, que aumentam
com a idade, são mais freqüentes nas mulheres e
em pacientes com baixo nível socioeconômico. Os
distúrbios do sono apesar de não serem específicos,
são comuns na DP15. Distúrbios do sono estão entre os problemas não
motores mais freqüentes na DP e sua prevalência esta
estimada em 80%. Os fatores relacionados à insônia
foram os sintomas depressivos, aumento da idade,
estágio da doença, agravamento motor e dose diária
de levodopa27.
Transtornos freqüentes incluem períodos curtos
de sono e fragmentação do sono causado por micção
freqüente, rigidez, câimbras dolorosas, pesadelos,
sonhos vívidos, virar na cama, distonia noturna,
movimentos involuntários dos membros inferiores e
alucinações10,29.30,31.
Disfunção olfatória:
26 �����������������������������������������������������������������������������
��������������������������������������������������������� Coriolano, M.G.W.; et al.
70-90% dos pacientes com DP apresentam perda da
sensibilidade olfativa.
Conclusões:
Os pacientes com DP do HC/UFPE são, em
sua maioria, homens que se consideram de etnia
branca, com idades entre 30 e 60 anos que convivem
com a doença à cerca de 6 anos, a maioria nos
estágios 2 e 3 (HY), com pouco acesso aos serviços
de reabilitação.
Esses pacientes têm uma renda média de R$
1.423,00 e estão inseridos nas classes econômicas
C e D, e não concluíram o primeiro grau de ensino.
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É fundamental o conhecimento dos aspectos
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profissionais do Serviço e aos centros de estudos
especializados um melhor entendimento da patologia
para que possam ser traçadas estratégias de atenção
mais adequadas para essa população.
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