ÁREA TEMÁTICA: 12- Atendimento Educacional Especializado em classe comum. CARRINHO DE CONTROLE REMOTO: ENRIQUECIMENTO INTRACURRICULAR PARA ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO PALUDO, Karina Inês 1 RESUMO: A educação brasileira foi organizada ao longo dos anos de forma a padronizar os indivíduos. Como desdobramento desse cenário, localizam-se diversas problemáticas, como a formação do professor, para citar uma. Assim, por mais que se reconheçam muitos casos de sucesso e uma lenta transformação, tem-se ainda uma postura docente centrada na reprodução dos conteúdos previamente organizados no currículo escolar e no olhar homogêneo em direção aos alunos nas salas de aula, impedindo que os sujeitos tenham suas particularidades valorizadas e atendidas. Lutando contra a maré, está-se diante de um panorama educacional marcado pela emergente necessidade de oferecer oportunidades educacionais que atenda a diversidade do alunado. Nesse contexto, destacam-se os sujeitos com altas habilidades/superdotação, que como educandos da modalidade de Educação Especial, necessitam de um atendimento educacional especializado. Deste modo, apresenta-se nesta oportunidade, uma proposta de atendimento educacional especializado realizado com um aluno com indicadores de altas habilidades/superdotação, matriculado na quarta série (no ano de 2010, a nomenclatura utilizada hoje seria quinto ano), de uma escola localizada no sul do Brasil. Utilizou-se da estratégia de enriquecimento intracurricular, isto é, desenvolvida na sala de aula regular por professora de disciplina específica. O aluno, aqui referido, apresentava um potencial acima da média, criatividade e grande envolvimento nas tarefas que se elencava para desenvolver. Tinha uma grande curiosidade sobre carros, o que explica seu grande desejo em produzir um carrinho de controle remoto. Assim, realizou-se um projeto individual com este aluno – como uma das estratégias sugeridas pelo enriquecimento intracurricular, que tinha como objetivo final produzir o carrinho de controle remoto, o que explica o título deste trabalho. O presente estudo objetiva chamar a atenção para a necessidade de se olhar os alunos a partir de uma visão multifacetada, como um grupo heterogêneo, além de argumentar sobre a possibilidade de se atender os alunos com altas habilidades/superdotação na sala de aula regular, conforme a implantação da política educacional brasileira. Esse estudo se justifica ainda por contribuir para a práxis docente, a partir do compartilhamento da experiência se reitera a possibilidade do atendimento individualizado na sala de aula regular. Como caminho metodológico para subsidiar o presente texto, partiu-se de pesquisa exploratória, por meio de análise bibliográfica em livros e artigos científicos e pesquisa empírica, na medida em que se apresenta um estudo de caso. Palavras-Chave: Modelo de Enriquecimento Escolar; Atendimento Educacional Especializado; Prática Pedagógica; Formação docente. 1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná/UFPR. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Práticas Educativas – Mediar/UNIOESTE. E-mail: [email protected] REMOTE CONTROL CAR: INTRACURRICULAR ENRICHMENT FOR STUDENTS WITH HIGH ABILITY / GIFTEDNESS ABSTRACT: The brazilian education was organized over the years in order to standardize individuals. As this scenario unfolding, located several problems, such as teacher training, to name one. So, as much as we recognize many cases of success and a slow transformation, there is also a teacher-centered approach in the reproduction of the contents previously held in the school curriculum and homogeneous look toward students in classrooms, preventing subjects have their particularities valued and met. Fighting the tide is in front of a panorama marked by the emerging educational need to provide educational opportunities that meets the diversity of students. In this context, we highlight the subjects with high ability/gifted, students who like the sport of Special Education, require a specialized educational services. Thus, this opportunity presents itself, a proposal for a specialized educational services performed by a student with indicators of high ability/gifted, enrolled in fourth grade (in 2010, the nomenclature used today would be the fifth year), a school located in southern Brazil. We used the strategy intracurricular enrichment, that is, developed in the regular classroom teacher for specific discipline. The student, referred to here, had an above-average potential, creativity and strong engagement in tasks that elencava to develop. He had a great curiosity about cars, which explains his great desire to produce a remote control car. Thus, there was an individual project with this student - one of the strategies suggested by the enrichment intracurricular, which aimed to produce the ultimate remote control car, which explains the title of this work. This study aims to draw attention to the need to look at students from a multifaceted view, as a heterogeneous group, and argue that the possibility to serve students with high ability/gifted in the regular classroom, as Brazilian educational policy implementation. This study is justified also by contributing to the teaching practice, through sharing of experience reiterates the possibility of individualized care in a regular classroom. As a methodological way to support this text, broke exploratory research through literature review books and articles in scientific and empirical research, in that it presents a case study. Keywords: Enrichment Model School, Educational Services Specialist, Teaching Practice, Teacher education. Início de conversa... O cenário educacional encontra-se marcado pelo crescente debate acerca da inclusão de alunos. Diante desse cenário, apresenta-se nesta oportunidade, o alunado com altas habilidades/superdotação, que como população da modalidade de Educação Especial, necessita de um atendimento educacional especializado, para desenvolver seu potencial. Contudo, esse direito nem sempre é materializado. Uma justificativa para tanto, pode estar na existência de mitos. Pérez (2003) explica que as causas dos mitos estão vinculadas ao desconhecimento e dubiedade das informações sobre as altas habilidades/superdotação na sociedade. Esta autora cita os principais mitos: qualidade exclusivamente genética ou ambiental; incidência mínima na população; centrada em classes socioeconômicas privilegiadas; sinônimo de alto QI (Quociente Intelectual), mantendo-se estável por toda a vida; garantia de adultos eminentes. E ainda que, o aluno com altas habilidades/superdotação se destaca em todas as áreas do desenvolvimento humano, tira boas notas em todos os domínios do currículo escolar e, não precisa do outro em seu processo educativo ou de atendimento educacional especializado. Os mitos reforçam a exclusão ou o esquecimento da educação diferenciada para o alunado com altas habilidades/superdotação. Em função disso, muitos alunos acabam por reprimir seu talento, o que ocasiona o entrave no desenvolvimento do potencial. Os alunos com altas habilidades/superdotação são frequentemente esquecidos em sala de aula. Isto porque, não é usual (decorrente dos mitos já citados) se trabalhar com estes sujeitos em salas do ensino regular, culminando, por vezes, no enquadramento aos demais alunos da turma. Enquadramento porque o trabalho desenvolvido não permite avançar, ir além do patamar de desenvolvimento que está. Ainda que nem sempre se materialize, a política educacional brasileira garante aos educandos com altas habilidades/superdotação o direito à educação especializada (Brasil, 2008). Contudo, averígua-se que dificilmente essa população é atendida na sala de aula regular pela falta de conhecimento por parte do professor de como fazê-lo. Diante desse contexto, apresenta-se, nesta oportunidade, uma proposta de atendimento educacional realizada com um aluno com indicadores de altas habilidades/superdotação, a partir da estratégia de enriquecimento intracurricular, isto é, desenvolvida na sala de aula regular por professora de disciplina específica. Atendimento educacional especializado para alunos com altas habilidades/superdotação: metodologia de enriquecimento Com base na política educacional brasileira, constata-se que os alunos com altas habilidades/superdotação necessitam de atendimento educacional especializado, com vistas a atender suas singularidades, visualizando o pleno desenvolvimento de seu potencial, uma vez que, “[...] por maiores que sejam as aptidões e talento, caso não haja estímulo e atendimento adequados, os estudantes dificilmente atingirão um nível de excelência em suas habilidades” (Sabatella, 2008, p. 116). O enriquecimento é a estratégia que comumente tem sido utilizada na educação de alunos com altas habilidades/superdotação. É uma metodologia de ensino que vai além do aumento de atividades, implica antes, em oferecer aos educandos oportunidades para ampliar e aprofundar os conhecimentos em uma área do saber, assunto ou disciplina de seu interesse (Freeman & Guenther, 2000). Segundo Pereira e Guimarães (2007, p. 165) é imprescindível que a metodologia de enriquecimento promova [...] estímulos e experiências investigativas compatíveis com os interesses e as necessidades apresentadas pelos alunos, fundamentados em ações planejadas e preparadas, de modo a propiciar troca de conhecimentos, investigação de temas variados, desenvolvimento de distintas habilidades, envolvimento em trabalhos no contexto real e condução de experimentos. Quando se fala em enriquecimento, não se pode deixar de mencionar o Modelo de Enriquecimento Escolar, proposto por Joseph Renzulli, por ser reconhecido em âmbito internacional, além de ser base teórica de políticas e programas brasileiros (Renzulli, 2004). Essa metodologia tem como premissa a totalidade do ser, além de destacar o “[...] desenvolvimento de suas habilidades baseadas em estratégias que buscam valores e percepções pessoais, possibilitando aos alunos a superação dos desafios encontrados no mundo real” (Pereira & Guimarães, 2007, p. 166). O diferencial deste modelo é que não se trata “[...] de um pacote instrucional pronto e fechado, mas sim de um plano de organização a ser adaptado conforme as necessidades do professor e do aluno e as características do ambiente escolar” (Chagas, Maia-Pinto & Pereira, 2007, p. 57). Como uma estratégia do Modelo de Enriquecimento Escolar, Renzulli apresenta o Modelo Triádico de Enriquecimento, que é uma proposta de aprendizagem que propicia ir além das atividades comumente desenvolvidas. Propõe três tipos de atividades, tipo I, II e III. As atividades do tipo I tem o objetivo de expor os alunos a conhecimentos exploratórios, como um ingresso a novos conteúdos e informações. Como exemplo pode-se citar a discussão de temas variados, oficinas diversas, palestras com diferentes profissionais, entrevistas, feiras, etc. Elas podem ser advindas do interesse de um aluno ou proposta pelo professor, como maneira de despertar a atenção e curiosidade dos educandos para diferentes assuntos (Paludo, 2009). As do tipo II, por sua vez, tem a intenção de instrumentalizar o sujeito, por meio de materiais, métodos e técnicas visualizando a realização de algum projeto, que seria a atividade do tipo III (Chagas & cols. 2007). As atividades do tipo III são “[...] atividades nas quais os alunos se tornam investigadores de problemas reais, formulando problemas, usando metodologias apropriadas, e desenvolvidas através do Enriquecimento do Tipo II, para resolver o problema” (Alencar & Fleith, 2001, p. 135). Estas atividades permitem ao aluno, aprofundar-se em uma área específica e à criação de produtos. Dessa forma, os alunos tornam-se produtores de conhecimento ao invés de receptores dos conhecimentos existentes (Alencar & Fleith, 2001). Como exemplo de atividades de enriquecimento do Tipo III pode-se citar: elaboração de software, livro, poesia, história em quadrinhos, maquete, jogo, peça de teatro e outras. Cabe ressaltar que estas atividades não precisam necessariamente obedecer a uma ordem linear de realização, assim, em determinado projeto o aluno pode não precisar da atividade do tipo II ou ainda, refazer uma atividade do tipo II, por exemplo (Paludo, 2009). De acordo com Freitas e Pérez (2010) as estratégias de enriquecimento podem ser extracurriculares e intracurriculares. Deste modo, abordar-se-á, a seguir, o enriquecimento intracurricular, a partir da exposição de um projeto individual. Carrinho de controle remoto: experiência de enriquecimento intracurricular O enriquecimento intracurricular é uma estratégia imperativa quando se almeja, de fato, o desenvolvimento das potencialidades, visto que, os alunos com altas habilidades/superdotação apresentam necessidades educacionais não apenas no atendimento extracurricular. De acordo com Freitas e Pérez (2010, p. 65) o enriquecimento intracurricular consiste em [...] estratégias propostas e orientadas pelo docente de sala de aula regular ou das diferentes disciplinas, durante o período de aula ou fora dele (tarefas adicionais, projetos individuais, monitorias, tutorias e mentorias), que podem ter como base o conteúdo que ele está trabalhando num determinado momento e cuja proposta pode ser elaborada conjuntamente com o professor especializado ou mesmo com um professor itinerante, quando for necessário. Panzeri (2006) contribui ressaltando que não se trata de propor aulas especiais nas quais o aluno precisa ser retirado do convívio com seus colegas, mas antes, se mantém o sujeito em sua sala regular, adaptando o currículo e o ensino aos seus interesses e necessidades, o que configura o indício de uma educação na diversidade. Para obter o objetivo, que é o desenvolvimento do potencial do educando, o enriquecimento intracurricular precisa respeitar os estilos de aprendizagem, os interesses e características de idade, maturidade e histórico de vida dos alunos. Assim, esta estratégia pode ser concretizada através de pesquisas individuais e/ou em grupos pequenos, atividades individualizadas, projetos individuais, readequação dos conteúdos previamente determinados no currículo escolar, para citar algumas (Freitas & Pérez, 2010). Diante desse cenário, apresentar-se-á, nesta oportunidade, um projeto desenvolvido em um enriquecimento intracurricular, com um aluno, João 2, matriculado na 4ª série do Ensino Fundamental 3, de uma escola pública, localizada no município de Foz do Iguaçu, oeste do Paraná/Brasil, com o intuito de se compartilhar com os professores a possibilidade de fazer um trabalho individualizado na sala de aula regular. Contudo, o trabalho realizado não se limitou ao desenvolvimento do projeto individual, realizando-se também o processo de identificação, visto que o aluno se diferenciava dos demais de sua turma, por conta da flexibilidade de pensamento, criatividade e interesses incomuns. O processo de identificação foi viabilizado a partir do uso de alguns instrumentos, a saber: Ficha de itens para observação em sala de aula – Fiosa; Questionário para identificação de indicadores de altas habilidades/superdotação, para professores – QIIAHSD – PR; Questionário para identificação de indicadores de altas habilidades/superdotação, para responsáveis - QIIAHSD –R; Questionário para identificação de indicadores de altas habilidades/superdotação para o aluno – QIIAHSD – A; Tabulação de fichas de identificação (Freitas & Pérez, 2010). Iniciou-se com a aplicação do instrumento Fiosa (Ficha de Itens para Observação em Sala de Aula), que tem o objetivo de fazer um levantamento dos alunos que se destacam. Esta, respondida pelo professor regente da sala de aula, objetivou averiguar se João seria destacado. De maneira simultânea, realizou-se a aplicação dos questionários para identificação de indicadores de altas habilidades/superdotação – “QIIAHS”, respondidas pelo professor regente da turma, responsável (família) e pelo próprio aluno, com o intuito de se obter as 2 Apesar do consentimento da família e da criança em utilizar o nome verdadeiro na divulgação do trabalho, usou-se nome fictício por conta de um cuidado ético. 3 No ano de 2010. Hoje a nomenclatura utilizada seria 5º ano do Ensino Fundamental. informações sobre o educando de fontes diferentes, para posteriormente, compará-las e analisar os pontos em comum (Tabulação de fichas de identificação) (Freitas & Pérez, 2010). Até esse momento, centrou-se a atenção para obter as informações da situação. Com base nos instrumentos relacionados, João se destacou dos colegas de turma por apresentar potencial superior a media e por exprimir características de Altas Habilidades/Superdotação, qualidades reiteradas nas informações advindas do professor e da família. O passo seguinte foi alcançar as informações da ação. Para tanto, alguns instrumentos fizeram-se necessários: Teste de inteligências múltiplas; Questionários Meus Talentos; Portfólio do Aluno (Freitas & Pérez, 2010). Tendo como pressuposto o entendimento do processo de identificação como algo contínuo e multifacetado, utilizaram-se também entrevistas informais com a família e com João, para mapear as áreas de interesse do mesmo. O processo realizado proporcionou subsídios para averiguar indicadores de altas habilidades/superdotação, já que João apresentara os anéis estabelecidos na teoria de superdotação Concepção dos Três Anéis: habilidade acima da média; envolvimento com a tarefa e criatividade (Renzulli, 2004). Com o mapeamento dos interesses deste aluno, verificou-se que seu maior interesse estava centrado na área de automóveis, onde seu desejo era criar um carrinho de controle remoto (visualizado no preenchimento dos questionários e nas entrevistas). O aluno possui grande conhecimento na área (habilidade acima da média), tem maneiras e ideias próprias e originais sobre automóveis, conserto, design, etc, (criatividade) e é capaz de passar horas, relatado por ele, mexendo com carros (envolvimento com a tarefa). Faz-se oportuno destacar que, seu irmão é dono de uma oficina de carros e demonstra grande conhecimento sobre mecânica. Pode-se inferir, deste modo, que as altas habilidades/superdotação contam com um fator genético, mas também o ambiental é imprescindível para desenvolver e construir conhecimento e, potencializar as habilidades do sujeito. As informações obtidas durante o processo de identificação desenhou, juntamente com João, o projeto que seria realizado. Assim, optou-se por se utilizar o Modelo Triádico de Enriquecimento, estratégia do Modelo de Enriquecimento Escolar advindo de Renzulli, pela familiaridade da professora com a metodologia e também por se acreditar em sua contribuição para o processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, como João já tinha um interesse específico (a paixão por carros e o desejo de construir um carrinho elétrico), partiu-se da atividade do tipo II, o que viabilizaria posteriormente, seu projeto (atividade do tipo III). Assim, ofereceram-se a João os aparatos de ensino (técnico) e de materiais, o que propiciou a concretização do projeto, a construção do carrinho de controle remoto. Figura 1: Professora Karina e João. Fonte: foto tirada pela autora deste trabalho. Figura 2: Carrinho elétrico. Fonte: foto tirada pela autora deste trabalho. Como o modelo propõe, contou-se com a ajuda de um especialista. Neste caso, um engenheiro eletricista, que propiciou a instrumentalização técnica para viabilização do projeto. A participação deste profissional permitiu inferir ainda mais sobre a presença dos indicadores de altas habilidades/superdotação no aluno, a partir do presente relato: Quando me foi feita a proposta de auxiliar um aluno do ensino fundamental a construir um carrinho elétrico, confesso que fiquei um pouco preocupado com o nível de conhecimento deste aluno. O projeto do carro era simples, porém exigia um pouco de atenção e paciência para poder fazer um bom trabalho, pontos que eu julgava não serem muito comuns em crianças da idade do Daniel. Com muita “propaganda” do aluno, a professora Karina me convenceu a ir ajuda-lo. Durante a atividade, Daniel ficou muito empolgado, falava dos trabalhos que havia feito ajudando o irmão em sua oficina e impressionou-me a facilidade e a rapidez que ele entendeu o funcionamento do carro, o que não achava muito normal para crianças dessa idade. Quando começamos a montagem eu fiquei, a princípio, responsável por algumas tarefas que seriam mais complicadas. Mas durante o desenvolver do trabalho, percebi que ele seria completamente capaz de fazer tudo sozinho e resolvi mudar, eu fiquei apenas auxiliando e direcionando o que ele deveria fazer. Foi muito bom ver a empolgação dele para montar o carro, a capacidade dele de se focar em fazer o trabalho e o rápido aprendizado do que e como deveria ser feito. Ao fim foi gratificante ver o Daniel se divertindo, sorrindo e brincando com o carrinho que ele havia montado, diferente do menino tímido e calado que eu havia conhecido quando cheguei na escola. O projeto permitiu ao educando olhar para si próprio de uma maneira diferente. Não mais como alguém estranho, diferente de seus colegas (já que não tinha amigos com interesses em comum), mas ao contrário, ver-se como um indivíduo com potencial, e que pode ir muito além do que imagina. Diante do explanado, é importante destacar que o professor tem um papel crucial para o desenvolvimento do aluno e, que este pode aniquilar o cognitivo de um sujeito se não valorizá-lo como um ser integral, isto é, a valorização da interrelação entre os aspectos cognitivo e afetivo. Considerações finais A partir da investigação teórica realizada na construção do presente texto, constata-se que o sistema de ensino regular não atende, de fato, a diversidade, como implica a política educacional brasileira. Vê-se antes, uma dupla estratificação do ensino entre a universidade e a educação básica, na qual os resultados das pesquisas não chegam à escola e este pode ser um dos motivos para a lentidão na melhoria da qualidade da educação. Averígua-se que intrínseco as propostas pedagógicas existem uma concepção velada que reproduz uma visão homogeneizadora, que por mais que discurse quanto à diversidade dos alunos, não se garante a inclusão, de fato, no processo de ensino-aprendizagem. Acreditase que este cenário é advindo da própria estrutura do sistema de ensino que é pautado em um padrão que em nada reconhece as especificidades, necessidades e dificuldades dos sujeitos. No que concerne em específico aos alunos com altas habilidades/superdotação, analisa-se que estes não têm suas necessidades educacionais atendidas, sendo a formação do professor um dos grandes empecilhos. Acredita-se que a formação inicial e continuada do docente é um fator chave para se ultrapassar os moldes tradicionais de repressão e padronização ainda incutidos na escola. O currículo, como elemento importante nas relações educacionais, precisa ser problematizado e desmistificado. Existe uma postura de que este deve ser cumprido fielmente no decorrer do ano letivo, o que impede sua flexibilização e (re) adequação as necessidades dos alunos. Infere-se, assim, que muitos casos de alunos que não obtêm sucesso na aprendizagem são decorrentes deste entendimento oculto frente ao currículo, que reproduz conteúdos que nada tem a ver com a realidade e interesse do alunado. Contrário a este contexto, acredita-se que o aluno deve atuar na tomada de decisões no processo de ensino-aprendizagem, precisa ser ouvido. A relação do que se estuda com o contexto de problemas reais, é o que reveste o processo de aprendizagem de significado, e, portanto, propicia o desenvolvimento da criatividade e estimula a busca de informações. Verifica-se a multiplicidade de potenciais e inteligências na sala de aula, indivíduos com habilidades para criar grandes ideias e produtos, entretanto, a educação uniformizada que recebem inibem seu desenvolvimento, sob o risco de desperdício de potencial. Nesse sentido, o enriquecimento, tanto extracurricular quanto intracurricular, é uma possibilidade metodológica que permite atender o educando, tendo como premissa seus interesses e necessidades, representando assim, um ensino de qualidade, significativo e crítico. Além de que, tal metodologia de ensino é recomendada tanto para alunos com ou sem altas habilidades/superdotação, visto que todo indivíduo possui um potencial e, independente do nível deste, deve ser explorado e desenvolvido. www.donna.zerohora.com.br/espelhomeu REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alencar, E. M. S. de, & Fleith, D. S. (2001). Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. 2ª ed. São Paulo: EPU. Chagas, J. F, Maia-Pinto, R. R, & Pereira, V. L. P. (2007). Modelo de Enriquecimento Escolar. In: Fleith, Denise S. (Org.) A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: Volume 2: atividades de estimulação de alunos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Freeman, J, & Guenther, Z. (2000). Educando os mais capazes: idéias e ações comprovadas. São Paulo: EPU. Freitas, S. N., & Pérez, S. G. P. B. (2010). Altas habilidades/superdotação: atendimento especializado. Marília: ABPEE. Gama, M. C. S.(2006). 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