| IV | sexta-feira 28 de setembro de 2012 | www.oje.pt • ipad • iphone • android Corretores ENTREVISTA A FERNANDO REGO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DA MEDIAÇÃO PROFISSIONAL DE SEGUROS (APROSE) “A mediação terá de sofrer um processo natural de consolidação” Os movimentos de consolidação na corretagem de seguros são imprescindíveis para fazer face a uma conjutura adversa como a atual, defende Fernando Rego. O presidente da APROSE está convencido de que o agravamento da situação económica vai pressionar os operadores a reduzir preços, mas alerta também para o impacto negativo desse fenómeno VE / RUI MARTINHO ENTREVISTA POR ANA SANTOS GOMES Entre as várias alterações previstas para a revisão da diretiva da mediação de seguros, quais as que poderão ter impacto mais relevante junto dos corretores? São muitas, mas afigura-se-me que, neste momento, é um pouco prematuro falar delas, uma vez que a proposta de diretiva está em discussão e análise pelos diferentes países e pelo próprio BIPAR [federação europeia de mediadores de seguros], que vai reunir com as diferentes associações no próximo dia 2 de outubro. Dada a sensibilidade da matéria, julgo sensato aguardarmos até termos uma ideia da versão final da diretiva. A APROSE, através dos órgãos competentes, está a acompanhar o tema com a maior atenção e empenho, de modo a salvaguardar, da melhor forma, os interesses de todos os associados. Como têm decorrido os trabalhos de preparação desta revisão? O calendário tem sofrido derrapagens? Quando poderão ser implementadas as novas medidas em Portugal ? Sabemos que os trabalhos de preparação estão a ser levados a cabo por equipas competentes e que conhecem a complexidade e importância do assunto. A proposta de diretiva terá de ser aprovada pela Comissão e pelo Parlamento Europeu e só depois disso é que poderá ser transposta para o direito interno de cada país, o que, provavelmente, deverá demorar cerca de dois anos. “Os operadores têm que se preparar e acompanhar as tendências de internacionalização do mercado”, alega Fernando Rego No caso português, olhando para tudo o que mudou desde a implementação da lei da mediação, que alterações destaca? A atual lei da mediação, numa primeira fase, serviu para “depurar” o setor, aumentando os graus de exigência dos profissionais da atividade, procurando identificar e eliminar algum amadorismo existente anteriormente na distribuição. Serviu, também, e como consequência da transposição da anterior diretiva, para dar ao consumidor final uma melhor compreensão das tipologias de operadores, no mercado da mediação, distinguindo claramente os três tipos de entidades existentes: os mediadores ligados, os agentes e os corretores. Os últimos tempos têm sido marcados por alguns movimentos de fusões e aquisições no mercado da mediação de seguros e, em particular, na corretagem. Acredita que este movimento terá continuidade em 2013? A atividade da mediação/corretagem não está imune às convulsões “Existirá um aumento de pressão natural para a baixa dos prémios, que não se compagina com as necessidades de rentabilidade das seguradoras” que a economia nacional tem evidenciado. Naturalmente que, nestas circunstâncias, alguns operadores sentem maiores dificuldades, seja por situações de dependência face a alguns clientes, seja por ganhos de escala de concorrentes, o que levará a um movimento natu- ral de consolidação de mercado. A mediação, tal como noutras áreas de distribuição, terá de sofrer um processo natural de consolidação, imprescindível para enfrentar as condições de mercado cada vez exigentes. Os últimos meses do ano são geralmente cruciais para os corretores, que tentam renegociar os seus contratos para o ano seguinte. Este deverá ser um ano especialmente desafiante, tendo em conta o contexto económico que envolve as empresas portuguesas? Estou convencido de que as dificuldades vividas nos últimos anos se agravarão este ano, não só por força da crise económica generalizada, que leva a uma natural contração do mercado (patente nos valores mensais que denotam, face a 2011 um decréscimo do mercado Não Vida de cerca de 4%), mas também pela necessidade adicional sentida pelos clientes em reduzir os seus cus- tos. Creio que existirá um aumento de pressão natural para a baixa dos prémios, que não se compagina com as necessidades de rentabilidade por parte das seguradoras, com resultados técnicos negativos nos principais ramos. Estou certo de que será um fim de ano complicado para todos os intervenientes. Muitos operadores estão a seguir os seus clientes em operações de internacionalização. Este poderá ser um momento crucial na valorização do papel do corretor de seguros? É óbvio que sim. Os operadores têm de se preparar e acompanhar as tendências de internacionalização do mercado. Também aqui, consideramos que esta pode ser uma oportunidade relevante para os operadores nacionais, aproveitando as vantagens culturais de que a comunidade portuguesa goza em muitos países, criando operações internacionais. Será seguramente importante o va- lor acrescentado que advirá, pelo facto de serem provenientes de um mercado altamente competitivo e maduro como o nacional. A privatização em curso do maior operador do mercado segurador nacional poderá ter um impacto significativo junto dos canais de distribuição? Quando falamos de um operador com uma quota de mercado de cerca de 30%, qualquer alteração terá um impacto significativo no mercado. O governo, em conjunto com o regulador, terá de ter particular atenção ao desfecho do processo pelo impacto que terá na estrutura do mercado segurador em Portugal. Quanto aos canais de distribuição, e constituindo o grupo Caixa Seguros um parceiro incontornável e relevante nas carteiras da maioria dos operadores, terão de ser avaliados os impactos numa eventual concentração de carteira nas carteiras dos operadores.