4 seguros sexta-feira, 4 de julho 2014 seguros sexta-feira, 4 de julho 2014 5 Conferência APROSE debateu desafios da mediação de seguros Mediação profissional une-se pela valorização da atividade Ampliar o reconhecimento público do valor da mediação profissional de seguros e melhorar a comunicação digital de dados entre mediadores e seguradores são alguns dos temas que mobilizaram, esta terça-feira, os associados da APROSE e da ANACS na conferência de debateu os desafios da mediação. A revisão da Lei da Mediação, cujo projeto está ainda em formulação, mereceu também grande destaque no encontro de distribuidores profissionais de seguros ANA SANTOS GOMES [email protected] “ Existimos enquanto existirem clientes, riscos e coberturas. E a sociedade portuguesa tem de reconhecer a relevância da atividade da mediação profissional”, anunciou Luís Cervantes, presidente da Associação Portuguesa da Mediação Profissional de Seguros (APROSE), no início da conferência “Os Desafios da Mediação de Seguros”, que juntou perto de 500 profissionais em Lisboa. Luís Cervantes explicou a todos que “para fortalecer a notoriedade da mediação será necessário apostar decisivamente na qualidade do serviço ao cliente, no momento da venda e no pós-venda”, pelo que a APROSE está empenhada na criação de padrões para esses momentos decisivos na relação que se estabelece com os clientes. Anunciando uma concertação de esforços com a direção da Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (ANACS), Luís Cervantes quis debater uma questão de possível concorrência desleal, que se prende com a dificuldade sentida por muitos clientes em mudar a mediação dos seus seguros a qualquer momento, como a lei permite, quando em causa está um contrato celebrado através de um banco. “A legislação permite que o cliente possa sempre mudar a mediação do seu contrato, mas na banca é habitualmente confrontado com inúmeras barreiras e potenciais retaliações”, constatou Luís Cervantes. A questão ganha relevo quando a banca constitui o principal canal de distribuição de produtos do Ramo Vida em Portugal, detendo mais de 70% desse mercado. Já no Ramo Não Vida, a primazia é dada aos agentes, provando que a esmagadora maioria dos consumidores prefere o aconselhamento de um mediador profissional na hora de subscrever seguros de proteção dos seus bens e da sua família. “Cada vez mais a mediação profissional deve ser orientada para o cliente, preocupada com a qualidade de serviço, deve ser conhecedora do mercado e das suas tendências e deve ter capacidade de inovação e diferenciação”, alegou Luís Cervantes, acrescentando que é imprescindível a uma mediação que se quer profissional uma “maior abertura ao mundo digital e às novas tecnologias e uma elevada capacidade de desenvolvimento de projetos perenes, com sucessão assegurada”. É neste contexto que o presidente da APROSE defendeu, perante a plateia de mediadores de seguros, a afirmação da mediação profissional através de um padrão de atendimento distintivo, que se pretende estabelecer através da credenciação APROSE. Um projeto a associação pretende levar a cabo nos próximos meses e que deverá discriminar negativamente os mediadores que não forem possuidores desta credenciação que atesta a capacidade de prestar um serviço competente, esclarecedor e transparente de mediação de seguros. Regulador destaca profissionalização crescente da mediação “Os desafios devem, antes de mais, ser encarados como oportunidades para melhorarmos as nossas competências e os nossos resultados”, disse José Figueiredo Almaça, presidente do Instituto de Seguros, aos mediadores presentes no auditório da FIL. “A distribuição dos produtos da atividade seguradora é uma atividade exigente, que obriga a uma atualização constante de conhecimentos técnicos, de forma a acompanhar a complexidade dos produtos e, claro está, o também cada vez maior grau de exigência dos clientes”, constatou o presidente da autoridade de supervisão do setor segurador. Reconhecendo que nem todos os portugueses se apercebem das mudanças vividas na atividade de mediação de seguros nos últimos anos, José Almaça considerou “inquestionável que o setor está hoje melhor preparado para enfrentar os desafios futuros, tanto ao nível das competências académicas, como profissionais”. A comprovar esta afirmação, o presidente do ISP realçou o facto de mais de 87% dos profissionais de mediação terem atualmente formação dos níveis secundário ou superior. “O grau de conhecimento que os mediadores têm dos seus clientes, que lhes advém da proximidade, é um fator importante para se conseguir perceber qual o produto mais adequado para cada um dos clientes”, referiu o presidente do ISP, lembrando que “esta proximidade revela-se crucial no momento da venda, mas também e sobretudo na fase do pós-venda”. “A nova diretiva da mediação vai influenciar decisivamente o futuro da mediação em Portugal” Pedro Seixas Vale Pedro Penalva, administrador-delegado da AON, defendeu mesmo que “a mediação, enquanto setor de serviços profissionais, terá dificuldade em crescer se não conseguir passar para o cliente um conjunto de garantias sobre a sua capacidade de prestar esses serviços. E assim dificilmente haverá perceção do seu real valor”. Para Pedro Penalva, “este processo é fundamental face à evolução do consumidor perante o processo de compra”, alegando mesmo que “este grau de credenciação é do interesse da globalidade da indústria, onde se incluem, naturalmente, as seguradoras”. Pedro Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), lembra, no entanto, que a eventual credenciação de mediadores será certo uma valorização adicional, porque “já não é qualquer pessoa que faz mediação de seguros”, referindo-se à necessária admissão junto do Instituto de Seguros de Portugal. Inevitabilidade do mundo digital Estabelecer um código de conduta entre a APROSE e as companhias de seguros para uma boa autorregulação das suas relações e estabelecer um protocolo bidirecional para a comunicação digital de dados entre os mediadores e as companhias de seguros são dois projetos que a APROSE quer também levar a bom porto nos tempos que se avizinham. As virtudes, garante, são relevantes: a redução do risco operacional e o aumento da produtividade. “Esta ainda é uma indústria com muito papel e isso não é positivo”, reconhece Luís Cervantes. David Pereira, presidente da ANACS, confirma. “Ainda há muito papel. É certo que já houve mais. Mas não trabalhamos sozinhos e há seguradoras que ainda nos obrigam a trabalhar com muito papel”. António Belo, administrador-delegado da MAPFRE em Portugal, acredita que “os protocolos bidirecionais são fundamentais, pois é certo que temos tecnologias, mas temos agora de a alinhar e nessa matéria é necessário haver convergência”. António Belo disse também que “ao nível da comunicação tudo pode ser melhorado” e sublinha que “as seguradoras têm todo o interesse em estabelecer mecanismos de cooperação com um canal tão importante como a mediação”. O administrador-delegado da MAPFRE lembra que “a gestão de clientes, a estratégia e a sustentabilidade dos projetos são desafios importantes da atualidade numa altura em que há grupos financeiros a sair do setor e isso vai implicar necessariamente mudanças na atividade de mediação de seguros nos próximos anos”. Pedro Penalva, da AON, não tem dúvidas de que “se houvesse um modelo comum de interligação entre as companhias e mediadores, conseguir-se-ia gerar mais valor e chegar melhor ao cliente”. Mas lembra Pedro Penalva que “se boa parte dos recursos é ocupada com ‘backoffice’ não há tanta capacidade para gerar valor”. À espera de uma nova diretiva Prevista para 2015, a revisão da Lei da Mediação é um tema que preocupa severamente a classe de mediadores profissionais, que contam com o assento da APROSE na Federação Europeia de Mediadores de Seguros (BIPAR) para acompanhar a par e passo o desenvolvimento dos trabalhos preparatórios da revisão da diretiva europeia de mediação, que será mais tarde transposta para a legislação nacional. “A lei tem de evoluir. Há muito a fazer na defesa da mediação profissional”, alega Luís Cervantes. “Há que rever a figura do mediador ligado individual, que não faz sentido, podendo originar a saída de milhares de pessoas que atualmente estão habilitadas para exercer mediação de seguros. E há que rever a figura do mediador ligado coletivo, pois há necessidade de implementar regras de formação compatíveis com o facto de este representar várias companhias de seguros”, reivindicou o presidente da APROSE. Luís Cervantes salientou ainda a necessidade de aumentar a proteção do consumidor através da possibilidade de implementar uma efetiva transferência de mediação, sem pressões. E a revisão da diretiva da mediação é mesmo o principal problema identificado por Pedro Seixas Vale no que ao futuro dos mediadores diz respeito. “Por favor leiam bem a proposta de revisão da diretiva, pois deixa de haver uma diretiva de mediação e passa a haver uma direti- “Cada vez mais a mediação profissional deve ser orientada para o cliente, preocupada com a qualidade de serviço, deve ser conhecedora do mercado e das suas tendências e deve ter capacidade de inovação e diferenciação” Luís Cervantes va de distribuição de seguros, o que inclui todos os trabalhadores das seguradoras que vendem seguros e todos os agregadores”, destacou o presidente da APS. Seixas Vale não tem qualquer dúvida de que “a nova legislação vai influenciar decisivamente o futuro da mediação em Portugal” e aconselhou os mediadores a beneficiarem da sua antiguidade enquanto canal de distribuição de seguros. Exemplificando algumas mudanças relevantes previstas, Seixas Vale lembrou os mediadores que a proposta de revisão da diretiva prevê, entre outras medidas, que os mediadores expliquem aos seus clientes o cálculo das suas remunerações em cada seguro que vendem e que justifiquem os conselhos que dão em matéria de subscrição. “Acredito que os mediadores vão ter mais conflitos de interesses para gerir e que as remunerações vindas das seguradoras vão fazer-vos sentir menos independentes”, antecipou Pedro Seixas Vale• ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO N.º 5964 DE 15 DE JULHO DE 2014 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Quem é Quem nos CORRETORES de SEGUROS Índice 02 José Almaça, Instituto de Seguros de Portugal: “Nova directiva quer reforçar protecção dos consumidores” 06 Opinião: Pedro Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores 08 Saiba como a MDS aumentou 04 Entrevista a Luís Cervantes número de clientes através da integração de agentes em todo o país. e José David Nunes: “A afronta da banca à mediação é total” 11 Quem é quem entre os corretores Mediação de seguros vale mais que mediação imobiliária Em 2012, comissões passaram os 447 milhões de euros. IRINA MARCELINO Chris Ratcliffe / Bloomberg [email protected] Associações do sector da mediação de seguros querem criar um selo que ateste a qualidade do trabalho. PUB Os temas mais actuais para a mediação de seguros estiveram em discussão a 1 de Julho em Lisboa, numa iniciativa da Associação Portuguesa da Mediação Profissional de Seguros (APROSE). Com um peso de 447 milhões de euros na economia portuguesa (valor de comissões do ano 2012, segundo estudo do regulador Instituto de Seguros de Portugal), a mediação de seguros profissional vale hoje mais que a mediação imobiliária ou do que a distribuição automóvel, lembrou Luís Cervantes, presidente da APROSE. Ainda assim, a sua imagem na sociedade não é marcante como a destes outros segmentos que se dedicam à mediação. Aumentar o impacto que a mediação profissional de seguros tem na sociedade é, por isso, um dos vários desafios apresentados pela associação, que anunciou, na conferência decorrida na FIL, em Lisboa, a convergência com a outra associação que representa agentes e mediadores, a Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (ANACS). “A ANACS e a APROSE têm definido convergências em comum. A mediação está unida e convergente”, afirmou Luís Cervantes. É com essa união de forças que os mediadores de seguros, onde se incluem agentes colectivos e individuais e ainda corretores de seguros e resseguros, querem enfrentar vários dos seus desafios. Uma das formas escolhidas para aumentar esse reconhecimento é, além da maior aposta em formas de comunicação, a criação de uma credenciação, um selo de qualidade que ateste a qualidade do trabalho de venda e pós venda dos mediadores, selo este que seria registado na própria APROSE. A “credenciação” >> II Diário Económico Terça-feira 15 Julho 2014 QUEM É QUEM NOS CORRETORES DE SEGUROS Conferência na FIL, em Lisboa Foi a uma sala cheia de mediadores e seguradores que foi anunciada a convergência entre APROSE e ANACS. Fotos: Paulo Alexandre Coelho “ “ “ “ Portugal tem particularidades que o distingue do resto da Europa. Comparase muito o sector segurador com o bancário pela excessiva presença da banca no sector segurador. (…) Há uma série de grupos financeiros portugueses a sair do sector e isto vai ser uma transformação na actividade. ANTÓNIO BELO, O número de reclamações do sector segurador é mínimo para um sector que tem milhões de contratos. A litigiosidade do sector segurador não é muito elevada. O nível de litigiosidade é de 1%. Passou de um dos maiores utilizadores de tribunal para um dos menores. PEDRO SEIXAS VALE, Na mediação profissional somos poucos, produzimos muito, mas não faz sentido duas associações. É verdade que não somos iguais, que temos associados diferentes, mas também é verdade que em tão poucos mediadores profissionais não faz sentido duas associações. Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores JOSÉ DAVID NUNES, Administrador Delegado da Mapfre Enquanto sector de serviços profissionais, se não consegue articular valor com os seus clientes terá nos próximos tempos grande dificuldade em ser sustentável e em ser capaz de crescer. A questão da credenciação é um factor preponderante e determinante”. PEDRO PENALVA, Presidente da ANACS Administrador Delegado da AON Portugal Três associações juntas para futura memória: Luís Cervantes, da APROSE, José David Nunes, da ANACS, Pedro Seixas Vale, da APS. “ A proposta de revisão da directiva tem como principais objectivos reforçar a protecção dos consumidores de seguros, assegurar condições equitativas de concorrência entre todos os participantes envolvidos na comercialização de produtos de seguros e aumentar o grau de integração dos mercados. JOSÉ ALMAÇA, Presidente do Instituto de Seguros de Portugal Peso dos prémios por canal de distribuição >> APROSE levaria a dar um outro passo, o do aperfeiçoamento de código de conduta que incentive a auto-regulação. Os mediadores e corretores querem assim provar a sua qualidade e capacidade face às outras opções disponíveis no mercado, como é o caso dos mediadores ligados individuais e colectivos, que habitualmente não são mediadores a tempo inteiro. “Há 22 mil pessoas estão habilitadas a prestar serviços de mediação. Mas não existem 22 mil mediadores profissionais. Os que são profissionais têm de se poder distinguir. Os mediadores ligados individuais são irrelevantes em termos de peso de volume de negócios mas ajudam a confundir os consumidores”, considera Luís Cervantes. Sobre este tema, António Côrrea, CEO da Luso Atlântica, líder de mercado entre os corretores, defenderia posteriormente em entrevista a este “Quem é Quem” a existência no mercado de apenas 2.500 mediadores e corretores face aos mais de 20 mil actuais. No final da conferência da APROSE, José Almaça, o presidente do Instituto Português de Seguros, lembraria também que na última década o número de mediadores passou de 40 mil para cerca de 25 mil. Quem não se mostrou de acordo com o argumento da necessidade de redução de mediadores ligados foi o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), Pedro Seixas Vale, lembrando a baixa representatividade dos mediadores ligados (ver tabelas). A sala, onde estavam presentes várias centenas de profissionais, quer os presidentes das associações, lembraram ainda outra questão de suma importância para estes profissionais: a concorrência feita no ramo vida pela banca. “Habituámo-nos, nos últimos 20 anos, a ter o banco como vendedor de seguros de vida quando se subscreve algum dos seus produtos. Hoje, 74% dos produtos vida são comercializados ao balcão do banco”, disse o presidente da APROSE, que assume querer trazer o tema “para cima da mesa”. Apesar de não “bastar uma lei que proíba os bancos de vender seguros”. Mas uma nova lei da mediação deve ser aplicada de igual forma a todos os mediadores, o que faria com que as pessoas pudessem ter escolher”. Para as seguradoras, no entanto, esta concorrência assumida como “afronta” por mediadores e corretoras não é clara, já que os vendedores de seguros nos bancos “regras e formação específica e que lhes dá capacidade para vender. As seguradoras são gestoras multicanais e vão continuar a ser”, afirmou ainda. Outro dos temas em destaque foi o da directiva europeia que vai regular o sector da mediação de seguros. Várias perguntas e dúvidas surgiram tanto na plateia como na mesa – Seixas Vale afirmou mesmo que este é um tema a que todos os mediadores devem estar atentos -, mas Luís Cervantes garantiu que a discussão da directiva ainda está no seu início e que os países do Sul da Europa estão unidos em relação a uma série de questões. Uma das novidades da directiva é o facto de deixar de dizer apenas respeito à mediação de seguros, passando a abranger todas as formas de distribuição de seguros. I NO RAMO NÃO VIDA NO RAMO VIDA Agentes 54% 17,10% 17,10% 1,30% Corretores Mediadores ligados individuais 2,30% 0,6% Banca 15,30% 74,10% Venda directa seguradoras 8,30% 6,60% Venda directa telefone 2,10% Venda directa internet 0,30% Outros 0,60% Fonte: APS, Outubro de 2013 0,30% IV Diário Económico Terça-feira 15 Julho 2014 QUEM É QUEM NOS CORRETORES DE SEGUROS ENTREVISTA LUÍS CERVANTES, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DA MEDIAÇÃO PROFISSIONAL DE SEGUROS E DAVID PEREIRA, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE AGENTES E CORRETORES DE SEGUROS “A afronta da banca à mediação é total e em todas as frentes” Associações de mediadores querem unir-se e lutar contra a concorrência dos bancos. IRINA MARCELINO No final da conferência realizada pela Associação Portuguesa da Mediação Profissional de Seguros (APROSE), Luís Cervantes,o seu presidente, e o presidente da ANACS, falaram ao Diário Económico sobre os temas que mais os preocupam. Sobre a directiva europeia que deve ser transposta, notou-se um grande burburinho na sala. Mas as opiniões dos oradores eram divergentes. Afinal, o que é que vai acontecer? As empresas devem estar assustadas? David Pereira (DP): A directiva ainda está numa fase prematura, ainda é um embrião e ainda pertence ao futuro. Mas vai começar a ser discutida em 2015, que é dentro de cinco meses… DP: Sim, esperemos. Mas ainda estamos em 2014. E os temas que aqui trouxemos, como a união das associações, a relação com a banca, a evolução digital, estes temas são actuais, são mais importantes para a credibilização destes profissionais. Um dos temas sobre os quais se falou pouco e os nossos parceiros de mesa evitaram o tema, mas notou-se o incómodo na plateia, tem a ver com a relação dos mediadores com a banca. Há uma afronta permanente à mediação profissional. Ela existe e não se pode escamotear. E o que é que a associação, ou as associações, pretendem fazer para melhorar essa relação com a banca? Luís Cervantes (LC): Existe mal-estar, mas um mal-estar que não é do mediador mas sim da parte do próprio consumidor. Quando alguém quer mudar o seu seguro, que fez no banco, tem dificuldade. E nós temos de pôr o dedo na ferida. Se uma pessoa quiser mudar o seguro que fez junto de um mediador, “ Se uma pessoa quiser mudar o seguro que fez junto de um mediador, pode fazê-lo com toda a liberdade, com uma carta em que assina a transferência. Então porque é que quando alguém tem os seus produtos no banco sofre retaliações quando quer mudar. Paulo Alexandre Coelho [email protected] pode fazê-lo com toda a liberdade e com bastante facilidade, com uma carta em que assina a transferência de mediação. Então porque é que quando a pessoa tem os seus produtos no banco sofre retaliações quando quer mudar? Queremos por isso ter uma abordagem conjunta, pô-la à discussão e levá-la ao limite a uma transposição do ponto de vista legal para maior protecção dos clientes. No patamar actual, os clientes desistem dessa abordagem, o cliente está resignado a essa barreira. E o que nós queremos é que essa barreira não seja uma limitação. Mas claro que muita coisa tem de alterar. Nós sabemos que são discussões fortes e que precisam de ir para cima da mesa. E sabemos que quanto mais fortes e unidos forem os representantes associativos, maior pressão podemos exercer junto da tutela. DP: Normalmente, quando se fala dos clientes referimo-nos aos individuais. Mas acontece que neste momento a banca saiu do foro dos clientes individuais e passou a sua atenção para os clientes empresariais. Ou seja, quando financiam as empresas, passam também a fazer-lhes seguros. DP: Sim. E exigem às empresas coisas que não têm nada que ver com os empréstimos. Uma empresa precisa de dinheiro para a sua activi- dade, para o seu investimento, a curto prazo. E a banca exige seguros de acidentes de trabalho, de multirriscos… que nada têm que ver com a banca! A afronta à mediação profissional é total e em todas as frentes, não só no campo individual como nas empresas e sociedades. Eles também são mediadores. Mas não usam as mesmas regras desta plateia, que tem regras democrática interpares. Os clientes dos mediadores têm liberdade total, porque a mediação de seguros é uma actividade democrática, livre. Quando se fala na mediação bancária, a pessoa vai numa situação diminuída porque precisa de crédito, precisa de alguma coisa. E é “trucidado” pela máquina bancária, que o obriga a abrir contas, a comprar cartões. E agora descobriram que o mundo dos seguros é o paradigma. E obrigam a fazer seguros, entrando em confronto directo. E ainda há um pormenor que ninguém referiu: quando se faz um seguro de crédito à habitação, adere-se a um seguro colectivo e nunca mais se consegue sair. Como assim? DP: O banco é que é cliente da seguradora. Ou seja, o credor, que manda em tudo. E se o mediador quiser fazer a alteração daquele seguro, não pode, porque o credor é que é cliente do seguro. Terça-feira 15 Julho 2014 Diário Económico José David Nunes e Luís Cervantes acusam a banca de prender os clientes aos seus seguros, ameaçando com o aumento de ‘spreads’ se os clientes quiserem mudar. Os reguladores Banco de Portugal e Instituto de Seguros, no entanto, não consideram a prática abusiva. “Profissionais devem unir-se numa única e forte associação” O alinhamento de opiniões das associações sobre os desafios da mediação uniu os representantes. Como vai funcionar a convergência entre a APROSE e a ANACS? DP: É uma viragem, onde o que importa é partir, é começar. Como vai acontecer, iremos os dois convergir no sentido de uma unificação das duas associações, a contento dos associados da ANACS e a contento dos associados da APROSE. Mas é necessário que a nossa actividade e que os profissionais estejam unidos numa única e forte associação. LC: A convergência foi fácil quando começamos a trocar impressões. Há um alinhamento completo do que são os desafios da mediação. Nesta primeira fase estamos a trabalhar em conjunto, mas o objectivo é ir mais longe. Claro que há alguns detalhes que vamos ter de ultrapassar, mas a caminhada é feita e estou convencido que num curto espaço de tempo vamos ter uma só voz. Vimos hoje [terça-feira dia 1 de Julho] que as preocupações são convergentes, e não vão ser os processos formais e PUB Pode explicar melhor? DP: Quando as apólices de multirriscos e de vida crédito imobiliário são tituladas pelo próprio banco, o cliente passa a ser um mero aderente dessas apólices. Quer isto dizer que se o cliente, um dia, pretender transferir a mediação dos seus seguros efectuados no banco para um mediador profissional, ocorrência normal entre mediadores e permitida pela Lei, nunca o conseguirá porque, para a seguradora, o titular da apólice é o banco e não o cliente do banco. Dito de outra maneira, o cliente bancário deixou de ser um indivíduo livre num país livre, antes um escravo do sistema bancário e, pior de tudo, com a complacência da tutela e das seguradoras. Mas mesmo assim, se o cliente insistir em retirar os seguros do banco porque facilmente consegue melhores preços na mediação profissional, logo surge o banco a ameaçar com o aumento de taxas, o aumento do ‘spread’ e outras acções semelhantes. Moral da história: perante este quadro o cliente acaba por desistir resignado. Por isso defendo que a actividade de mediação é uma actividade perfeitamente democrática, em que os clientes são livres de exercerem os seus direitos de cidadania e de liberdade, por oposição à atitude ditatorial da mediação bancária. Números ANACS 103 A ANACS tem 103 associados, representando um volume de negócios de cerca de 370 milhões de euros. APROSE 1.200 A APROSE tem 1.200 associados, entre corretores e agentes de seguros, representando 22% do mercado de mediação não vida. V os processos jurídicos que nos vão impedir de ter uma voz só no mercado. Complicado é trazer mais vezes estas plateias a discutir o sector de actividade e ganhar notoriedade junto da sociedade. O que é que separava mediadores e corretores? LC: Na verdade, ambas as associações tinham mediadores e corretores. Mas houve um processo de cisão há 20 anos, em que associados da APROSE fundaram a ANACS. Mas tal como existiu um processo de cisão, há uma convergência no presente e um futuro comum. Mas há diferenças em relação ao que preocupa mediadores e corretores? LC: Há diferenças, mas têm de ser percepcionadas pelo consumidor. O consumidor deve saber que, quando quer comprar os seus seguros, se optar por uma marca, existe um mediador que a representa; e que se escolher por uma solução mais lata tem outros correctores que têm uma panóplia de oferta muito mais vasta. Com esta união, queremos também passar a ideia para a sociedade sobre o que é exactamente a mediação profissional. I.M.