UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A FILOSOFIA KAIZEN COMO FERRAMENTA DE SOBREVIVÊNCIA ORGANIZACIONAL Por: Rita de Luziete Cardoso Gomes Orientador Prof.: Ana Cristina Guimarães Mestre 2 Rio de Janeiro 2005 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A FILOSOFIA KAIZEN COMO FERRAMENTA DE SOBREVIVÊNCIA ORGANIZACIONAL Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Administração da Qualidade. Por: Rita de Luziete Cardoso Gomes. 3 AGRADECIMENTOS .... A todos que de alguma forma participaram profissional. ... do meu crescimento 4 DEDICATÓRIA ... Este trabalho é dedicado aos meus familiares e principalmente ao meu esposo, que me deu todo o apoio e incentivo nas horas difíceis. ... 5 RESUMO Esta monografia aborda a aplicação da filosofia Kaizen como ferramenta de gestão para a sobrevivência de organizações do ramo de vida e previdência. Mas para compreender a abordagem do problema proposto, que é avaliar se a aplicação da filosofia Kaizen possibilita que uma organização garanta sua sobrevivência, precisa-se primeiramente ter um panorama do mercado segurador e dos conceitos envolvidos na filosofia Kaizen. Desta forma, o capítulo I relata a história do mercado segurador e previdenciário desde a sua criação aos dias atuais. Apresenta também os seus principais conceitos, as coberturas básicas e adicionais existentes, além dos tipos de produtos pertinentes aos segmentos de vida e previdência. O Kaizen, tema do capítulo II, é traduzido como aprimoramento, e sua filosofia retrata a questão da mudança em busca do aperfeiçoamento contínuo. Tal filosofia não se aplica unicamente à organização, mas a todas as dimensões do ser humano: educação, economia, agricultura, esportes, etc. Em se tratando de organização, é fundamental que os seus conceitos sejam incorporados a sua cultura. Outro aspecto é que todos devem participar e canalizar seus esforços na busca pelo aprimoramento, desde o número um até o mais humilde colaborador na estrutura hierárquica. Tal aprimoramento não precisa ser grande ou fenomenal, mas precisa ser incremental e contínuo. Para aplicar a filosofia Kaizen, precisa-se conhecer os conceitos envolvidos em seus princípios clássicos que são: dê ênfase aos clientes; promova aprimoramentos contínuos; reconheça os problemas abertamente; promova a abertura; crie equipes de trabalho; gerencie projetos por intermédio 6 de equipes multifuncionais; nutra o processo de relacionamento correto; desenvolva a autodisciplina; informe a todos os empregados e capacite os empregados. Mas para garantirem a sua sobrevivência, conforme retratado no capítulo III, as organizações precisarão de flexibilidade e inovação, pois o fenômeno da globalização e as mudanças constantes do mercado não devem mais ser ignorados. Assim, ao atuarem neste ambiente cada vez mais competitivo e dinâmico, é fundamental que as organizações repensem constantemente os seus valores e sua cultura e promovam, por meio da colaboração de todos, a melhoria contínua, alvo da filosofia Kaizen. Entretanto, o desenvolvimento deste ambiente de trabalho, propício à melhoria da qualidade, não é algo simples de se obter. Precisa que a alta administração e a média gerência modifiquem suas atitudes e valorizem todos os seus colaboradores, ouvindo-os e integrando-os aos processos e dando-lhes a alçada devida para a tomada de decisão e implantação das melhorias. Conclui-se então que toda empresa precisa de uma visão desafiante, mas esta precisa ser compartilhada por todas as pessoas da organização, de forma que elas abandonem a postura reativa e passem a uma postura pró-ativa, antecipando-se aos diversos imprevistos e exigências do mercado, buscando continuamente a melhoria de seus processos e produtos. Somente desta forma obterão vantagem competitiva e possibilitarão a sobrevivência de suas organizações no mercado futuro. 7 METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido tendo como base as referências bibliográficas a respeito dos temas envolvidos: mercado segurador e previdenciário e filosofia Kaizen, bem como as vivências adquiridas no decorrer de outros cursos e no próprio mercado de trabalho. Após a escolha do tema, o projeto foi elaborado, e uma vez aprovado, partiu-se para a leitura da bibliografia, selecionando-se o que efetivamente contribuiria para a elaboração deste trabalho. Na fase de construção, de posse dos registros efetuados, o material préselecionado foi relido e reavaliado, visando relembrar os seus conceitos para aplicá-los ao contexto do tema proposto. Houve um refinamento gradativo no conteúdo e com as contribuições da orientadora concluiu-se a produção desta monografia, cujo propósito é avaliar a aplicação da filosofia Kaizen como fator de sobrevivência de organizações do mercado segurador. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I 11 MERCADO SEGURADOR E PREVIDENCIÁRIO 11 CAPÍTULO II 29 KAIZEN – A FILOSOFIA DA MELHORIA CONTÍNUA 29 CAPÍTULO III 50 A APLICAÇÃO DO KAIZEN COMO FATOR DE SOBREVIVÊNCIA DE SEGURADORAS 50 CONCLUSÃO 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 64 ÍNDICE 66 FOLHA DE AVALIAÇÃO 68 9 INTRODUÇÃO Nada é mais constante do que a mudança, e está é a principal característica do mundo empresarial do século XXI. O acirramento da competição em todos os segmentos empresariais, a globalização da economia, a influência que os governos exercem sobre as organizações e sociedade, as questões ambientais, as pressões sociais, a contínua elevação das exigências dos clientes internos e externos são exemplos de variáveis do ambiente que impactam o dia-a-dia das empresas. O fenômeno da globalização e os seus efeitos sobre o mercado mundial não podem mais serem ignorados por todos aqueles que desejarem sobreviver no futuro, e não se trata apenas das organizações, mas também dos indivíduos em relação ao mercado de trabalho ou até em suas relações pessoais. Dependeremos intensamente de nossa capacidade de abandonar posturas tradicionais, de sermos flexíveis e aceitarmos novos paradigmas, e principalmente de sermos proativos. A proatividade nos possibilitará a antecipação no atendimento das demandas do mercado surpreendendo favoravelmente nossos “clientes” e alavancando o nosso desempenho. Isto significa buscar melhores resultados e níveis cada vez mais elevados de performance, o que nos conduz à aplicação de uma filosofia como a proposta no Kaizen que é alicerçada nos conceitos de melhoria contínua e integração. O propósito deste trabalho é expor a aplicação da filosofia Kaizen como fator de sobrevivência para organizações do ramo de vida e previdência, desta forma, o capítulo I apresenta os temas do mercado segurador e previdenciário, o capítulo II aborda a filosofia Kaizen propriamente dita e o capítulo III inter-relaciona 10 os conceitos do Kaizen aplicados como mecanismo de sobrevivência para o mercado segurador. 11 CAPÍTULO I MERCADO SEGURADOR E PREVIDENCIÁRIO “Eu te recomendaria continuar vivendo e enfurecer aqueles que estão pagando tuas anuidades.” Voltaire 12 1.1 - Histórico de Seguros De acordo com Souza e Girolli (2003), desde a antigüidade, as pessoas já se preocupavam com os imprevistos, em especial aqueles relacionados às perdas materiais ou à perda da capacidade para o trabalho. Assim, as primeiras formas de seguro surgiram quando as antigas sociedades começaram a perceber que seus membros estavam expostos a perdas tanto materiais quanto pessoais, pelo simples fato de não conseguirem prever os acontecimentos danosos. Diferente do que existe hoje, naqueles primórdios, a atividade seguradora começou sem uma estrutura formal, entretanto, o pagamento da indenização pelas perdas sofridas naquela época pode ser considerado análogo ao pagamento dos benefícios e indenizações efetuadas pelas seguradoras atualmente. Na Grécia antiga as pessoas mais pobres acabaram criando as sociedades de socorro mútuo, cujo objetivo era cobrir o custo de despesas funerárias. Já no século XII depois de Cristo, surgiu uma modalidade de seguro denominada Contrato de Dinheiro a Risco Marítimo. Tal modalidade implicava o seguinte financiamento: caso a embarcação viesse a se perder, o navegador permanecia com o dinheiro que lhe foi emprestado, entretanto, se a embarcação chegasse intacta, este dinheiro deveria ser devolvido ao financiador. Entretanto, no ano de 1234, o Papa Gregório proibiu o empréstimo de dinheiro, fato que deu origem à forma de seguro chamada de Feliz Destino. Neste sistema, um banqueiro se comprometia a comprar a embarcação e toda a sua mercadoria com um prazo previsto para a revenda. Desta forma, se a 13 embarcação sofresse algum dano, o dinheiro adiantado pelo banqueiro serviria como indenização pelo prejuízo. Também devido ao comércio marítimo, em 1347 na cidade de Gênova, tivemos a emissão da primeira apólice de seguro, a qual ainda não contava com a figura de uma seguradora. Somente séculos depois, durante a Revolução Industrial na Inglaterra, é que o seguro começou a se estabelecer nas bases que conhecemos hoje. O surgimento do seguro em nosso país iniciou com a vinda da Família Real em 1808, quando D. João VI promoveu a abertura dos portos para o desenvolvimento do comércio marítimo. Surgindo neste mesmo ano a primeira empresa de seguro no Brasil, chamada de: Companhia de Seguros Boa-fé, situada na Bahia. Em 1810 houve a criação da Seguradora Tranqüilidade localizada no Rio de Janeiro. Como toda a economia estava baseada no transporte e no comércio de mercadorias ultramarino, este foi o único tipo de seguro desenvolvido até o ano da Independência do Brasil (1822). Com a promulgação do Código Comercial (1850), as operações de seguro foram regulamentadas, sendo, entretanto, proibido sua realização sobre a vida de cidadãos livres, visto que nesta época só era possível fazer seguro de vida para os escravos, que eram considerados instrumentos de produção. Somente décadas depois, com o Decreto 4.270 de 1901 e a Proclamação da República e a promulgação do Código Civil (1916), é que as operações de todos os ramos do seguro foram regulamentadas, inclusive o seguro de vida, tendo sido criadas as Inspetorias de Seguro, controladas pelo Ministério da Fazenda. Entretanto, o Sistema Nacional de Seguros Privados só foi instituído em 1966, por meio do Decreto-Lei n° 73, que criou a Superintendência de Seguros 14 Privados (SUSEP) - órgão responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguros, previdência privada aberta e capitalização. 1.2 - Seguros: Conceitos, Coberturas e Tipos Souza e Girolli (2003) descrevem o seguro como um contrato entre partes, onde uma delas, mediante o recebimento de um prêmio da outra parte, tem a obrigação de pagar a esta, ou à pessoa por ela designada, determinada importância, no caso da ocorrência de um evento futuro e incerto ou de data incerta, como previsto no contrato. Para se estabelecer um contrato de seguro é fundamental a análise do risco envolvido. Por risco, entende-se “um elemento essencial que sempre consta no contrato de seguro. É a partir dele que a avaliação do seguro é realizada” (SOUZA e GIROLLI, 2003, p.7). Segundo os autores, estamos sempre expostos a diferentes riscos, e em função disto, nem todos eles são seguráveis (cobertos por seguros). Para ser classificado como segurável, o risco precisa ser simultaneamente: possível, futuro, incerto, quantitativamente mensurável, causador de prejuízo econômico e independente da vontade das partes contratantes. Os riscos podem abranger além da ocorrência de danos materiais, danos às pessoas, por meio de lesões mais simples ou eventos como a invalidez ou a morte, cujos prejuízos são irreversíveis e, aos olhos dos familiares, incalculáveis, pois a vida de um ente querido não tem preço. Em se tratando do falecimento da pessoa responsável pelo sustento da família, a perda pode tornarse ainda maior do ponto de vista econômico. Daí o surgimento do seguro de pessoas, que visa reparar os prejuízos econômicos causados pelos riscos potencialmente danosos à vida humana, 15 também chamados de riscos sociais, que além de relacionar-se à morte, referem-se também à perda da capacidade de trabalho, seja ela temporária ou definitiva. Tais riscos sociais são cobertos tanto pelos seguros de pessoas quanto pelos planos de previdência complementar. Além da constante exposição do ser humano ao risco da morte, da invalidez por acidente ou por doença, há também o risco da sobrevivência, que trata da possibilidade do indivíduo viver por mais tempo, sendo que suas despesas se ampliam e seus ganhos ou economias se reduzem acarretando a perda de seu poder aquisitivo. Desta forma, surgem as seguradoras especializadas em seguros de pessoas, tendo como objetivo a proteção dos indivíduos e suas famílias contra os riscos sociais. Entretanto, as seguradoras não são obrigadas a garantir qualquer risco, nem tampouco qualquer valor de indenização, podendo aceitar um risco impondo restrições ou recusá-lo, dependendo da avaliação baseada na declaração pessoal de saúde, em exame clínico ou análise financeira. Girolli (2003), descreve três tipos de coberturas presentes na maioria dos planos de seguros: básica, adicional e especial. A cobertura básica oferece garantia contra riscos considerados padrões dentro de determinado ramo de seguro, sendo que no caso de pessoas (ramo vida), a principal cobertura básica é a que oferece garantia de morte do segurado, embora não seja a única. A cobertura adicional, também denominada acessória, ocorre mediante pagamentos adicionais para cobertura de necessidades específicas do indivíduo, cujas taxas serão adequadas ao risco escolhido pelo segurado. 16 A cobertura especial, embora seja similar à adicional, tem como principal finalidade a garantia específica de um segurado em particular, tratando-se portanto de uma garantia sob medida para o cliente. Souza e Girolli (2003) descrevem as principais coberturas oferecidas nos seguros de vida que são as seguintes: Morte - esta cobertura proporciona, ao beneficiário, um capital em função do falecimento do participante. Morte acidental - Indenização Especial por Acidente (IEA): garante ao beneficiário o pagamento de um capital caso o segurado venha a falecer em conseqüência de um acidente. Invalidez Total ou Parcial por Acidente (IPA) - esta cobertura garantirá, ao próprio segurado, o pagamento de um capital segurado caso sofra um acidente que o torne total ou parcialmente inválido. Invalidez Total e Permanente por Doença (IPD) - garante o pagamento de uma indenização ao segurado caso este apresente uma Invalidez Total e Permanente causada por alguma doença, impedindo-o de exercer qualquer tipo de atividade. Para ilustrar, pode-se citar como um exemplo de Invalidez Parcial aquela que ocasiona a perda de um braço ou uma perna em função de um acidente. Por outro lado, a perda da visão dos dois olhos em um acidente é considerada uma Invalidez Total e Permanente, pois impossibilita o segurado de exercer qualquer atividade. 17 Os seguros são divididos em três grupos (tipos): os seguros de saúde, que garantem o auxílio em despesas médico-hospitalares, os seguros de ramos elementares, que envolvem todos os seguros para coberturas de bens materiais, e os seguros de vida, atualmente denominados seguros de pessoas, alvo do escopo deste trabalho. Os seguros de pessoas visam garantir o pagamento de uma indenização ao segurado ou beneficiário, caso algum dos riscos sociais previstos no contrato se materialize para o titular, podendo ser contratados individualmente ou em grupo. No ramo de seguros de pessoas existem três grandes grupos: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais, cada qual com suas coberturas básicas, as quais serão ou não contratadas na proposta de adesão, que representa o contrato de seguro. As principais coberturas oferecidas são: Vida Individual - morte, morte acidental, Invalidez Total ou Parcial por Acidente (IPA), Invalidez Total e Permanente por Doença (IPD). Vida em Grupo – cobertura básica, coberturas adicionais e coberturas complementares. Como a própria denominação indica, a cobertura básica é fundamental, pois um seguro de vida em grupo não é contratado sem ela, fornecendo, ao beneficiário, uma indenização em caso de morte do segurado. Já as coberturas adicionais podem ser incluídas ou não na apólice. São elas: Indenização Especial por Acidente (IEA), Indenização de Invalidez Permanente Total ou Parcial por Acidente (IPA) e a Indenização de Invalidez Permanente Total por Doença (IPD). Quanto às coberturas complementares, também são opcionais, e são denominadas como Inclusão de Cônjuge e Inclusão de Filhos na apólice de seguro. 18 Acidentes Pessoais - cobertura básica e coberturas adicionais. Na cobertura básica temos: morte acidental e Invalidez por Acidente (IPA). Quanto às coberturas adicionais, são contratadas de acordo com o interesse do segurado, a saber: Despesas Médico-Hospitalares (DMH), que garante o reembolso das despesas efetuadas pelo segurado, decorrentes do tratamento de um acidente, cujo pagamento é iniciado até 30 dias contados da data do acidente, e Diárias de Incapacidade Temporária (DIT), que consiste no pagamento de diárias a partir da caracterização da impossibilidade contínua e ininterrupta do exercício de qualquer atividade física que impeça o segurado de continuar obtendo renda por meio de uma profissão. Esta cobertura acontece somente durante o período em que o segurado encontra-se sob tratamento médico. Quanto às características e aspectos particulares dos seguros, temos: Vida Individual - no mercado nacional, há opções de contratação de seguros com ou sem formação de reserva para resgate (acumulação). Vale destacar, que podemos considerar o seguro de vida individual como um produto de adesão, por excelência. As condições e valores de prêmios já estão fixados e o proponente não pode modificá-las. Vida em Grupo - o seguro de vida em grupo parte do princípio do mutualismo, pois se trata da formação de um grupo de pessoas unidas por interesses comuns, que buscam uma proteção. Esta carteira formada pelo grupo garante o pagamento de indenização ao beneficiário em caso de morte do segurado. O Seguro de Vida em Grupo é uma cobertura tradicional, sendo amplamente contratado por empresas, uma vez que esta cobertura é obrigatória para algumas classes de trabalhadores. Esse tipo de seguro é feito por meio de um contrato temporário que pode ser renovado ou cancelado ao final de um ano. 19 Anualmente, os prêmios são recalculados de acordo com a idade de cada componente do grupo segurado, pois quanto mais velho for o segurado, maior é o risco de ocorrer algum sinistro (evento previsto e coberto no contrato). Outro aspecto deste tipo de seguro é que é dividido por classes, em função do tipo de grupo segurado: Classe A - são grupos formados por integrantes de uma ou mais categorias de empregados de um mesmo empregador. Classe B - são grupos formados exclusivamente por membros de associações legalmente constituídas. Classe C - são grupos de pessoas vinculadas a pessoas jurídicas que admitam a estipulação de apólices coletivas de seguros por meio de estatuto ou decisão administrativa. Como exemplo da Classe C, pode-se citar um banco que monte uma apólice para ser disponibilizada para seus correntistas, ou ainda um Clube de Seguros que seja criado apenas com a finalidade de agregar participantes de um Seguro de Vida em Grupo disponibilizado por uma seguradora por meio de Corretores. Quanto ao aspecto da taxação do seguro de vida em grupo, baseia-se na média das idades dos participantes do grupo segurado. Esse seguro também é classificável quanto à forma de adesão e forma de custeio que podem ser: Adesão - Facultativa - as pessoas seguradas ao serem consultadas, podem aceitar ou não a contratação do produto. 20 Adesão - Compulsória - todas as pessoas do grupo são automaticamente seguradas. Custeio - Contributário - os componentes do grupo pagam integralmente os prêmios. Custeio - Não contributário - os participantes não contribuem com o pagamento dos prêmios, que são custeados totalmente pelo estipulante, que é a pessoa jurídica que contrata a apólice coletiva para a proteção de terceiros. Custeio - Parcialmente contributário - o pagamento é dividido entre o estipulante e o participante, conforme percentuais de rateio previamente definidos. Como exemplo do custeio parcialmente contributário, podemos citar uma empresa que divide o prêmio com cada participante na proporção de 50% para o estipulante - no caso a empresa - e 50% para o participante. Acidentes Pessoais - sua regulamentação está estabelecida na Circular SUSEP 09/1992, que aborda todas as normas e procedimentos adequados para a execução das operações deste ramo do seguro. O acidente pessoal caracteriza-se como um evento imprevisível, externo e causador de lesões físicas que necessitem de cuidados médicos, podendo levar a uma invalidez total ou parcial, ou até mesmo à morte. O seguro de acidentes pessoais visa cobrir os danos causados ao indivíduo possuidor do seguro. Uma indenização ao segurado, em casos de invalidez, ou ao beneficiário com o falecimento do segurado. 21 1.3 - Histórico da Previdência Para Contador (1999), a previdência social em termos formais teve início em 1883 na Alemanha, com a implantação de um seguro social baseado em três pilares: saúde, acidentes de trabalho e invalidez, incluindo-se neste último, o envelhecimento. A partir daí surgiram os sistemas de seguro social em diversos países, nos quais a previdência era normalmente organizada para determinada classe ocupacional e vinculada às contribuições. Assim, a seguridade social tornou-se um elemento vital para o equilíbrio sócio-econômico, sendo essencial tanto para a ordem econômica e manutenção da força de trabalho, quanto para o funcionamento da sociedade, independentemente da ideologia de cada país. Em termos de Brasil, Souza e Girolli (2003) relatam que o fenômeno da industrialização e a conseqüente migração de pessoas para as cidades foram os fatores que nortearam a implementação das primeiras experiências em previdência social, no fim do século XIX. Inclusive, atribuem à fundação (ocorrida em 1835) do Mongeral (Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado), atualmente denominado Mongeral S.A. Seguros e Previdência, as primeiras manifestações do que conhecemos hoje como previdência complementar. Desde então, acontecimentos como a invalidez, a morte prematura ou a diminuição da capacidade produtiva em função do avanço da idade, fazem as pessoas terem cada vez mais preocupações com o futuro e buscarem formas preventivas. Ser uma pessoa "previdente" significa estar precavida contra tais riscos, atitude que o Estado começou assumindo pelas pessoas por meio da previdência social, visto que não há dúvida de que estes riscos podem afetar, cedo ou tarde, a estabilidade econômica dos indivíduos e suas famílias. 22 Assim, com o passar dos anos, a previdência social tornou-se um tema fundamental nas mais modernas economias. E com o crescimento econômico e da população, grande parte dos sistemas de previdência passou a ser um ponto crítico dentro dos orçamentos dos Estados. Não é por acaso que a chamada “Reforma da Previdência” é tema de destaque que provoca polêmica em vários países. Entretanto, apesar dos gastos cada vez maiores com os sistemas de previdência mantidos pelos governos, estima-se que na fase de aposentadoria, cerca de dois terços da população mundial ainda sobrevivam com o auxílio de familiares. A atitude do brasileiro, frente à previdência complementar, tem mudado em função da realidade de milhões de aposentados, que não conseguem se manter adequadamente com os benefícios pagos pela previdência social oficial. Desta forma, ao contrário do que ocorria há alguns anos, um número cada vez maior de pessoas começa a ter uma clara percepção da necessidade de investir a longo prazo, fato que reflete no aumento da demanda das pessoas por alguma das modalidades disponíveis de previdência complementar. Contador (1999), salienta que no Brasil a reforma da previdência esteve em constante discussão, devido ao formato da previdência social deixar a desejar sob diversos aspectos. Como um dos problemas mais graves, cita o fato dos trabalhadores formais e seus empregadores contribuírem para um sistema falido, pois não existe nenhuma garantia de que a contribuição por eles paga será revertida em aposentadoria no tempo devido. 23 1.4 - Previdência: Conceitos, Coberturas e Tipos Contador (1999) entende que a previdência tem por fim assegurar aos beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Também relata que o sistema de aposentadoria brasileiro é subdividido em três áreas: previdência social, que concede benefícios ao trabalhador da iniciativa privada urbana ou rural, previdência dos servidores públicos e previdência privada que é complementar e facultativa. Em se tratando de previdência privada, o sistema de aposentadoria brasileiro se subdivide nas classificações aberta e fechada e o seu mercado está em expansão tanto em função do teto de benefícios estabelecido e de seu achatamento gradativo, quanto em função da estabilidade atual da moeda que estimula o trabalhador à poupança e ao planejamento de seu futuro. Para Souza e Girolli (2003), a previdência complementar se divide em dois segmentos, organizados para cobrir os riscos sociais: o plano de aposentadoria e a proteção contra os riscos de morte e invalidez, sendo que o primeiro segmento é um dos mais procurados. Com a criação da Lei 6.435 em 1977, a previdência privada foi dividida entre entidades abertas e fechadas. O sistema aberto é gerido pelas seguradoras especializadas em previdência complementar e seguros de vida, ao passo que o sistema fechado é composto pelos fundos de pensão estatais e privados, os quais não podem ter fins lucrativos e são mantidos por EFPCs (Entidades Fechadas de Previdência Complementar). No caso de uma empresa ou grupo de empresas, um fundo de pensão é extensivo à totalidade de seus empregados e a(s) empresa(s) torna(m)-se 24 patrocinadora(s) do(s) plano(s). Em geral os fundos de pensão implantados em empresas, são voltados para grandes corporações, e a maior parte das reservas dos fundos está em planos patrocinados por grandes empresas estatais ou exestatais. Recentemente, foi permitida também a criação de fundos de pensão para associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores, cujo movimento ainda está bastante embrionário. Mas, independente de ser aberto ou fechado, um plano de aposentadoria é composto por duas fases ou etapas: uma em que se acumulam reservas para fazer frente aos benefícios futuros (fase de acumulação), e na outra, o que foi acumulado é consumido em resgates ou pagamentos de rendas (fase de pagamento de benefícios). O limite entre estas duas fases é determinado pela idade de aposentadoria. Enquanto está acumulando seus recursos, o plano funciona de forma parecida com um fundo de investimento, permitindo resgates parciais. No momento em que a pessoa solicita o resgate, no dia seguinte o valor é depositado na conta do titular do plano. Se a pessoa quiser, pode também resgatar o valor total da sua reserva até mesmo antes da idade estabelecida para aposentadoria, sem maiores burocracias. Na fase de pagamento de benefícios; a renda de aposentadoria tem o objetivo de atender a diferentes necessidades. O que diferencia cada uma delas é a forma de recebimento da renda escolhida pelo segurado, a saber: Renda Mensal Vitalícia - na contratação desta renda, a seguradora se compromete a efetuar pagamentos mensais ao segurado até a data de seu falecimento. Essa renda mensal é corrigida, no mínimo, por um índice de inflação como o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado). 25 Renda Mensal Vitalícia com Reversão - funciona da mesma forma que a renda mensal vitalícia, mas com o falecimento do segurado, a renda (ou parte dela) continuará a ser paga ao beneficiário indicado. Em algumas seguradoras, esta renda só pode ser revertida ao cônjuge ou ao filho do segurado, que recebe a renda até a data de sua morte. Renda Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido - essa renda também é semelhante à renda mensal vitalícia, mas o participante tem um período mínimo garantido, variando de 5 a 20 anos. Caso ele venha a falecer durante este período, o recebimento da renda é transferido para um beneficiário. Renda Mensal Temporária - neste tipo de renda o segurado estipula um período pelo qual deseja receber o seu pagamento, que pode variar de 5 a 20 anos. O recebimento desta renda se encerrará com o falecimento do participante ou com o término do período escolhido. Esta é uma das rendas menos procuradas, pois possui um risco muito grande de o segurado vir a falecer antes do término do período contratado, perdendo todo o dinheiro investido, ou até mesmo, viver muito mais do que o período de recebimento da renda (o seu padrão financeiro, conseqüentemente, cairia bastante pela falta dessa renda). Renda Mensal por Prazo Certo - esta renda também cessa com o término do período contratado, mas caso o segurado venha a falecer antes de receber toda a renda, ela é paga aos seus beneficiários até o final do período contratado. Esta renda se assemelha à renda vitalícia com prazo mínimo garantido e à renda mensal temporária. Destaca-se também a questão dos benefícios adicionais existentes nos planos de previdência complementar, visto que eles não se resumem à parte de formação de poupança e pagamento de rendas, mas, assim como os seguros de 26 pessoas, permitem coberturas em caso de falecimento ou invalidez do participante. Estas coberturas, ao contrário dos planos de aposentadoria, não formam reserva para resgate. São elas: Renda por Invalidez - em caso de invalidez total e permanente por motivos de doença ou acidente, a seguradora garante uma renda mensal vitalícia. Algumas seguradoras oferecem a opção da renda por invalidez com prazo mínimo garantido. Pensão por Morte - em caso de falecimento do participante, os beneficiários terão o direito do recebimento de uma renda mensal vitalícia ou por prazo certo, de acordo com o que foi estipulado no contrato. Pecúlio por Morte - com o falecimento do participante, o beneficiário receberá um capital segurado (importância fixada na apólice que corresponde ao valor máximo do objeto segurado) determinado na apólice. Quanto aos tipos de planos de previdência complementar, observa-se que todos os planos de renda de aposentadoria comercializados no mercado são estruturados sob o regime de capitalização, formando reservas individuais para cada participante. E em relação à forma de adesão, existem basicamente duas opções: planos empresariais e planos individuais. Tal opção vale apenas para o segmento de planos abertos, uma vez que entre as entidades fechadas, as opções se restringem à adesão a um Fundo Multipatrocinado ou à criação de um Fundo de Pensão da própria empresa. No caso dos planos abertos, destacam-se os seguintes planos: Plano Tradicional - oferece uma rentabilidade mínima garantida com base na TR ou em um índice de inflação como o IGP-M, acrescido de juros de até 6% ao ano, além de um excedente financeiro, normalmente. Caso o segurado 27 desista do plano, em geral, há uma carência para efetuar o resgate ou transferir a reserva para outra seguradora, processo chamado de portabiLidade. Tais carências variam entre 12 e 60 meses, mas o mais comum é o prazo de carência de 24 meses para que o segurado tenha acesso às reservas constituídas. Apesar destes planos não serem mais comercializados, eles ainda representam mais de 60% das reservas dos planos de previdência complementar aberta. Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) - ao contrário dos planos tradicionais, o PGBL não oferece garantia de rentabilidade mínima. Além disso, as carências para movimentações tornaram-se bastante inferiores àquelas praticadas nos planos tradicionais. Tal como em um fundo de investimento, o cliente deve escolher em qual fundo PGBL deseja investir. Há diversas opções de fundos que variam dos conservadores até os mais agressivos, com até 49% de seus recursos aplicados em renda variável. Ressalta-se ainda a questão da blindagem dos planos, que é um fator relacionado à preservação do investimento dos participantes e cujo início ocorreu em 1977, com a criação da Lei 6.435, na qual a previdência complementar ganhou um sistema de blindagem. A partir desta lei, as seguradoras são obrigadas a desenvolver reservas técnicas que impedem que o dinheiro acumulado pelo cliente se misture com a atividade financeira da empresa que o administra. Assim, se a empresa tiver algum problema financeiro, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) recolhe essas reservas técnicas e repassa para outra instituição administrar. Por outro lado, a mesma lei também criou uma cláusula de correção monetária, válida tanto para as contribuições como para a reserva do cliente e sua renda futura, evitando que o dinheiro acumulado se desvalorize ao longo do tempo. Desta forma, mesmo que as contribuições sejam interrompidas, o valor total aplicado continua rendendo diariamente. A rentabilidade dependerá do tipo 28 de plano escolhido. Em caso de falecimento do cliente, o saldo acumulado corrigido será destinado aos seus beneficiários. Além disso, é possível a inclusão de outras coberturas, como pensão e pecúlio por morte, de forma a garantir uma renda mensal ou um capital adicional, em caso de falecimento do participante. Outro grande aliado do crescimento do mercado de seguros é o plano de Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). Tal plano tem demonstrado ser um dos produtos da carteira de vida que tem uma grande aceitação por parte dos clientes. Este produto tem grande semelhança com o PGBL, mas possui diferenças no tratamento tributário, fato que atrai muitas pessoas que desejam formar uma poupança para aposentadoria, mas que não podem usufruir o benefício fiscal dos planos de previdência complementar. 29 CAPÍTULO II KAIZEN – A FILOSOFIA DA MELHORIA CONTÍNUA “O jeito de implementar a Qualidade revela a qualidade da própria empresa.” 30 2.1 - O que é Kaizen? De acordo com Wellington (1998), a palavra Kaizen é traduzida como aprimoramento, de Kai, que significa “mudança” e Zen, que significa “bom”. O termo é utilizado para descrever um processo de gestão e uma cultura de negócios baseados no aprimoramento contínuo e gradual, cuja implementação ocorre não somente com o envolvimento ativo e comprometido de todos da organização com o que ela faz, mas também na maneira como as coisas são feitas. Entretanto, a abordagem Kaizen não significa apenas fazer melhor as coisas, ela busca conquistar resultados específicos como eliminação de desperdício (tempo, dinheiro, material e esforço), elevação da qualidade (produtos, serviços, relacionamentos, conduta pessoal e desenvolvimento dos colaboradores), redução de custos de projetos, fabricação, estoques e distribuição, além de tornar os clientes mais satisfeitos com a empresa. Pequenos e contínuos melhoramentos, na maioria das vezes, dão melhores resultados do que grandes revoluções, principalmente quando se deseja mudar as atitudes ou até mesmo a cultura da organização. E isto é o Kaizen: uma filosofia, uma abordagem, uma forma de envolvimento, um método, enfim, uma postura orientada aos resultados, que impactam toda a organização de forma simples e duradoura. Não é uma técnica super avançada para nossa realidade, mas sim o mais adequado processo de evolução para nossas empresas, incluindo pequenas e médias. O Kaizen também é uma importante base de sustentação dos programas de Qualidade Total e Certificação ISO 9000. Para Honda e Viveiro (1993), Kaizen é uma metodologia com abordagem estruturada e sistêmica, cujo objetivo é assegurar que os processos da empresa satisfaçam as necessidades e expectativas dos seus clientes, não apenas no momento atual, mas de forma continuamente melhor ao longo do tempo. 31 Como os processos empresariais são dinâmicos, o enfoque não consiste apenas em buscar a melhor solução para um momento específico, mas também desenvolver sistemáticas, não soluções, que garantam a manutenção e aperfeiçoamento das soluções encontradas. Assim, as organizações precisam desenvolver sistemas que possibilitem às pessoas serem capazes de aprender, adaptar e inovar, ao invés de simplesmente apresentarem soluções ótimas, pois o ótimo de hoje não permanecerá como o ótimo de amanhã. Fisher (1996) descreve o significado do conceito Kaizen como uma melhoria constante envolvendo todos: cúpula administrativa, gerentes e trabalhadores. É uma filosofia geral de melhoria gradual e sistemática, e cujas aplicações não se restringem ao ambiente das empresas, mas ao contrário, pode ser aplicado em diferentes esferas da vida: educação, economia, agricultura e até mesmo esporte. Destaca ainda que o Kaizen é uma filosofia que implica enfatizar sempre o processo de melhoria gradual, porque a otimização dos processos produzirá maiores lucros a médio e longo prazos, sendo esta a diferença entre o gerenciamento orientado ao processo e o orientado aos resultados. Desta forma, a filosofia Kaizen constitui o diferencial das organizações japonesas em relação às ocidentais, visto que as empresas do ocidente de maior êxito promovem mudanças motivadas pelo lucro em curto prazo, ao passo que as empresas do Japão guiam-se pela visão de melhoria gradual ao decidirem quanto devem investir. Mirshawaka (1990) também retrata o Kaizen como uma filosofia de melhoramento que não se aplica exclusivamente aos conceitos organizacionais, mas que se reflete no nosso modo de vida, seja no trabalho, na sociedade ou em casa. Além disto, o Kaizen tem um conceito de guarda-chuva que abrange a maioria das práticas japonesas com fama mundial, tais como: Total Quality Control (TQC), Círculos de Controle da Qualidade (CCQ), Sistemas de 32 Sugestões, Manutenção Produtiva Total (MPT), Kanban, Melhoramento da Qualidade, Just-in-Time e Zero Defeito. O conceito de melhoria contínua do produto e serviço é uma obrigação em relação ao cliente e nunca terminará. Ganhos enormes podem ser atingidos por meio de um processo contínuo de melhoria no projeto e no desempenho de produtos já existentes, mesmo naqueles que possam estar em “perigo”. A idéia é que o estado já atingido de um produto ou serviço nunca seja considerado o melhor, assim, haverá a contínua busca pelo aprimoramento. Grifo (1994) retrata o Kaizen como uma filosofia de vida do povo japonês, cujo objetivo é o aprimoramento contínuo. Como toda filosofia, ela penetra nos grupos sociais da nação, desde a família, o trabalho, o ensino e lazer, até o Estado propriamente dito. Em termos organizacionais, independente do ramo de atividade ou do tamanho de sua estrutura, o Kaizen é conceituado como “contínuo aprimoramento envolvendo todos – alta administração, gerentes e operários”. Na prática, o Kaizen está orientado ao processo que envolve pessoas. E o diferencial da administração japonesa sobre as demais foi justamente o seu foco no comportamento humano, visto que nenhuma atividade terá sucesso se o colaborador não estiver preparado. O Kaizen é um sucesso no Japão em função de sua cultura milenar, cujos alicerces são a religiosidade e o fato de todos os grupos sociais se considerarem uma família, fato que gera uma mentalidade nacional. Este fato pode nos fazer questionar se o Kaizen seria aplicável ao Brasil em função de nossa cultura comparada à dos japoneses. Entretanto, segundo a Grifo (1994), para usufruirmos o Kaizen não é necessário que absorvamos toda a cultura japonesa, fato que seria impraticável em sua totalidade, mesmo a longo prazo. Isto se baseia no fato do Kaizen adotar alguns conceitos que são universais, e cujos princípios poderão ser absorvidos, e praticados por qualquer nação. Basta selecionar o que se adapta à realidade cultural do país em questão e querer 33 praticá-lo. É fato que tal transformação pode demandar muito tempo, mas isto pouco importa, o mais importante é darmos o primeiro passo para esta longa caminhada. 2.2 - Princípios da Filosofia Kaizen Wellington (1998) nos descreve o Kaizen como uma maneira de pensar e agir, que fornece diretrizes aos indivíduos e equipes da empresa, e ajuda a dirigir os esforços para incremento dos lucros, em função do aprimoramento de produtos e processos que visem aumentar a satisfação do cliente, sendo uma preocupação geral. Assim, todos os empregados têm liberdade para adotar iniciativas que visem à melhoria do produto, eliminação de desperdícios ou redução de custos. Desta forma, grupos Kaizen são menos limitados do que, por exemplo, um grupo específico de projetos, um grupo de controle da qualidade ou um empregado de uma empresa ocidental tradicional. O conceito que permeia o Kaizen é que a mudança é endêmica: nada é estático, tudo deve ser revisto continuamente, e como conseqüência, o aprimoramento não precisa ser grande, pelo contrário, as modificações são pequenas, mas incrementais, garantindo que a melhor qualidade e a melhor prática estarão em constante atualização. Tal astúcia tem proporcionado às empresas Kaizen serem capazes de lançar novos produtos regularmente e com aparente facilidade, sem descansarem sobre os louros do produto do ano, modificando-o apenas quando seu concorrente lhe rouba os prêmios, ou os clientes. Tais empresas, em função de sua filosofia de aprimoramento contínuo, não precisam promover grandes avanços para ultrapassarem seus concorrentes ou para reconquistar posições de mercado. Os colaboradores, por sua vez, sentem-se competentes na participação total da evolução de sua organização e contribuem com idéias de pequeno alcance. 34 Como filosofia, o Kaizen baseia-se em princípios clássicos, cuja apresentação da autora Wellington (1998) é pautada em alguns princípios adotados por empresas no Japão, mas não se esgotam exclusivamente aos dez princípios ora expostos: 2.2.1 - Dê Ênfase aos Clientes Como uma das bases do Kaizen é enfatizar cuidadosamente as necessidades dos clientes, é fundamental que todas as atividades levem a sua maior satisfação. Kaizen não permite meio-termo: ou a empresa fornece produtos de qualidade e satisfação inigualável ou não. É responsabilidade pessoal de cada indivíduo da empresa garantir que seus produtos atendam às necessidades dos clientes. De acordo com a autora, pesquisas sugerem que os clientes desejam mais profundidade e conteúdo nos serviços que lhes são ofertados, além de um sentimento de conforto e satisfação completos, e que não são atingidos por superficialidades. A perspectiva do cliente em relação à empresa não se baseia apenas no folheado que ele vê, mas na madeira na qual toda a empresa foi talhada. Desta forma, a adoção da filosofia Kaizen em toda a empresa pode satisfazer esse desejo dos clientes, pois nas empresas Kaizen o atendimento excelente é um resultado natural das práticas diárias e de longo prazo, e não um recurso adicional. No conceito Kaizen, todos os colaboradores são responsáveis pelo atendimento e satisfação dos clientes. O Kaizen é capaz de minimizar as causas de insatisfação do cliente, levar ao encantamento e, por conseqüência, a maior lealdade por parte do consumidor. Como elementos de satisfação dos clientes, consideram-se seis pontos: produto, vendas, pós-venda, localização, tempo e cultura. Cada elemento por sua 35 vez pode ser desdobrado em vários fatores, mas nem todos serão considerados simultaneamente pelo cliente em determinadas escolhas por este ou aquele fornecedor, produto ou serviço. Tudo dependerá das necessidades psicológicas e/ou emocionais do cliente e do valor do produto. Honda e Viveiro (1993) salientam que a empresa precisa ouvir a voz do cliente, implantando um mecanismo de feedback que vise verificar a conformidade dos produtos e padrões do processo com as necessidades e expectativas do cliente. Isto possibilita que eventuais desvios sejam identificados, inclusive aqueles provenientes da própria mudança nas expectativas e objetivos dos clientes, permitindo que os padrões e atributos dos produtos ou serviços sejam alterados resultando num novo processo. 2.2.2 - Promova Aprimoramentos Contínuos Na empresa Kaizen, a busca por maneiras de aprimorar produtos ou serviços não pára a partir da nova implementação. Ao contrário, cada avanço é incorporado ao processo como um novo e formal padrão de desempenho, pelo qual o processo passa a ser avaliado. Entretanto, tal processo estará em vigor somente enquanto a equipe não encontrar uma maneira de torná-lo melhor. Segundo Grifo (1994), o aprimoramento traz a idéia de progresso. Existem dois tipos de aprimoramento: o Kaizen que se baseia em pequenos melhoramentos em esforços contínuos e a Inovação que se baseia em melhoramentos drásticos, com grande investimento em tecnologia e/ou em equipamentos. A inovação é empolgante, é um fenômeno momentâneo e orientado para tecnologia e dinheiro, enquanto o Kaizen é monótono e sutil, é um progresso contínuo e orientado para as pessoas. Entretanto, mesmo o processo de inovação requer a aplicação do Kaizen para sua consolidação, visto que qualquer inovação ao ser implantada fica abaixo do nível esperado. 36 Em geral, para as empresas ocidentais, o aprimoramento exclui o elemento humano, limitando-se quase que exclusivamente aos aspectos técnicos. Tais organizações pensam apenas na manutenção e na inovação, entretanto a inovação normalmente é imposta pelo mercado ou pela concorrência, fato que não agrega um diferencial perante as demais. Assim, conclui-se que as piores empresas são as que não fazem nada, a não ser a manutenção. Em outras palavras: a acomodação é a maior inimiga do Kaizen, cuja essência exige um compromisso substancial de tempo e esforço por parte da alta administração. As injeções de capital não servem como substituto para esse investimento. O ponto de partida para o aprimoramento é a identificação de um problema. Para tal, não basta apenas esperar que o problema apareça, mas ao contrário, deve-se buscá-lo em todo momento. É importante estar atento a situações que hoje não constituam problemas, mas que poderão sê-los no futuro, e este é um aspecto preventivo do Kaizen. 2.2.3 - Reconheça os Problemas Abertamente Todas as empresas têm problemas, e as que praticam o Kaizen não são uma exceção, mas por meio da sustentação de uma cultura apropriada de apoio, construtiva, não-confrontante, não-recriminatória, torna-se possível a qualquer equipe de trabalho revelar seus problemas. Desta forma, os problemas são analisados pelas equipes e a solução pautada nas idéias oriundas de todas as áreas, bem diferente do que ocorre tradicionalmente. Em organizações fechadas, os problemas não são admitidos, logo são ocultados e tratados de maneira conspiratória, sendo sua solução baseada em idéias fornecidas por um pequeno grupo fechado de empregados, ou ainda de uma única pessoa, excluindo a possibilidade dos demais não envolvidos diretamente na área contribuírem com idéias inovadoras. 37 Por isto a maneira Kaizen incontestavelmente exige coragem administrativa para compartilhar a base e as estruturas de poder, mudando a forma de administração. A visão dos administradores de uma empresa não pode ser encoberta por insinuações de culpa pela existência de problemas. Já para a Grifo (1994), uma organização que admite estar perfeita é uma forte candidata ao suicídio, pois a visão popular de que “em time que ganha não se mexe” é totalmente equivocada. O Kaizen procura resolver os problemas, formando uma nova cultura organizacional, na qual todos possam admitir livremente suas dificuldades, desde o número um da organização até o mais humilde funcionário. 2.2.4 - Promova a Abertura Em empresas Kaizen a tendência é existir menos isolamento funcional, inclusive, as áreas de trabalho são mais abertas e compartilhadas no Japão. Somente os altos executivos possuem escritórios individuais, e raramente se vêem símbolos que enalteçam a posição ou status, favorecendo a comunidade e reforçando a visibilidade da liderança e a viabilidade da comunicação. Em termos empresariais, Fisher (1996) aponta como a principal diferença entre as empresas ocidentais e orientais o estilo de gerenciamento. Enquanto a maioria dos supervisores no Japão encoraja uma política de portas abertas e circulação do pessoal, promovendo o contato direto entre a estrutura administrativa e o ponto de venda, no Ocidente tais práticas são raramente disseminadas, embora estejamos aprendendo depressa. Nós preferimos que o empregado venha ao nosso escritório para receber instruções ou avisos sobre a política numa determinada hora, não importando o horário dele. 2.2.5 - Crie Equipes de Trabalho 38 Para se transformar em uma empresa Kaizen, muitas mudanças são necessárias, inclusive as estruturais, entretanto, o mais importante é a introdução ativa e evidente do trabalho baseado em equipes. Todos os colaboradores de uma empresa Kaizen fazem parte de uma equipe de trabalho, chefiada por um líder de equipe, inclusive os novos colaboradores. Alguns empregados também podem fazer parte de mais de uma equipe. Tal procedimento incorpora os funcionários na vida da empresa e reforça o sentimento de propriedade, responsabilidade coletiva e foco na empresa. Para ser uma equipe, o grupo deve ter um forte objetivo em comum e um desejo de trabalhar junto, sendo capaz de atingir resultados além da soma das contribuições individuais de seus membros. Além disto, capacitação, acesso às informações, motivação e autonomia são outros fatores fundamentais de sucesso. Como características individuais cita-se a atenção aos detalhes, a postura de visão de futuro, a receptividade aos conselhos construtivos, a disposição para assumir responsabilidades, o orgulho de seu trabalho e de sua organização e a disposição para cooperar. Os líderes de equipe são, antes de tudo, tutores, comunicadores, instrutores, motivadores, além de serem uma ponte da equipe com a alta administração, podendo interceder pela equipe na obtenção de recursos financeiros para a implantação de um aprimoramento, por exemplo. Um líder de equipe Kaizen deve preocupar-se em como sua equipe trabalha e não com o que ela produz, visto que o dogma da filosofia Kaizen é manter o processo de gestão correto e os resultados desejados serão produzidos naturalmente. Em outras palavras, o líder Kaizen deve manter sua atenção diretamente nas pessoas e indiretamente nos resultados. 39 Aidar (1995) também ressalta a formação de equipe de trabalho como um fator importante para a melhoria contínua da qualidade. E para que estas equipes sejam funcionais, precisa haver um elevado grau de abertura de todos, em especial da gerência, de forma a possibilitar o surgimento de novas idéias em ponto da empresa. Todas as idéias são importantes e, por menores e mais óbvias que sejam, podem representar uma melhoria de qualidade ou economia de esforços na realização da tarefa. Assim, devem ser seriamente consideradas e, sempre que possível, implantadas. 40 2.2.6 - Gerencie Projetos por Intermédio de Equipes Multifuncionais A filosofia Kaizen pressupõe que nenhum indivíduo ou equipe de função única terá todas as habilidades necessárias ou as melhores idéias para administrar de forma eficiente um projeto, mesmo que ele se relacione diretamente com a sua disciplina. Assim, uma equipe multidisciplinar deve representar todas as funções que serão influenciadas diretamente pelo projeto desde o início até o seu término. A habilidade de reunir uma equipe multifuncional, está em formar a rede de pessoas e conhecimentos da maneira mais abrangente possível. Honda e Viveiro (1993) destacam que para se estruturar a equipe do projeto, deve-se previamente identificar as áreas de interesse do mesmo e que o tamanho da equipe dependerá da natureza e escopo do projeto. Embora não exista um tamanho ideal, a prática indica grupos de 3 a 8 membros, cuja seleção tem o objetivo de garantir a representatividade de todas as áreas envolvidas nas diversas etapas do projeto. Em outras palavras, tal equipe deve representar os interesses das áreas em que os membros atuam e ter autoridade de decisão. Outro aspecto importante é formar a equipe com membros que desempenhem, de forma complementar, os papéis de “explorador, cientista, artista, juiz e guerreiro”. 2.2.7 - Nutra o Processo de Relacionamento Correto A ênfase no processo de gestão é um fator primordial no método Kaizen, no qual as empresas preocupam-se e orientam-se para alcançar metas financeiras como em qualquer outra empresa, entretanto, sua premissa é que se os processos forem corretos e os relacionamentos forem preparados para alimentar a realização do empregado, então os resultados inevitavelmente surgirão. Tal princípio pode ser traduzido em uma única palavra: harmonia. A 41 harmonia expressa um grande desejo da cultura japonesa pela comunicação nãocompetitiva e no evitar o confronto interpessoal. Mirshawaka (1990) retrata esta questão ressaltando que a empresa não é exclusivamente um instrumento para gerar lucro para os empresários, inclusive cabendo aos mesmos investirem na própria empresa para não perderem a competitividade no mercado. A empresa deve ser conduzida como um espaço de motivação e desenvolvimento profissional dos colaboradores, além de praticar saudavelmente o relacionamento humano. Se por um lado o crescimento da organização depende do trabalho e do empenho dos seus funcionários, por outro lado o crescimento da empresa também garante o desenvolvimento das pessoas que nela trabalham. Assim, o progresso da empresa alimenta o crescimento pessoal e vice-versa. Tal ligação é a mola propulsora de qualquer empreendimento que envolva seres humanos. Por isso é que toda empresa deveria gerar lucro não como um fim em sistema, mas como instrumento do desenvolvimento, permitindo aos seres humanos, que são o seu apoio, melhores condições de trabalho, de realização profissional e principalmente de qualidade de vida. Enfim, apenas uma gestão eficiente é capaz de atingir a excelência e com ela níveis adequados de competitividade e sobrevivência organizacional. 2.2.8 - Desenvolva a Autodisciplina A autodisciplina dos empregados é a prova mais observável das raízes do Kaizen na cultura religiosa e social japonesa. A filosofia Kaizen requer isto, não somente em função da dedicação à equipe de trabalho e do comportamento autocontrolado serem entendidos como parte da ordem natural, mas também porque o respeito por si mesmo e pela empresa indica força interior e integridade, e uma capacidade de harmonizar-se com colegas e clientes. 42 Para os ocidentais, segundo a visão da autora, este é o princípio Kaizen mais estranho, pois em geral, nós ocidentais estamos menos preparados para sacrificarmos nossas famílias e nosso tempo social pela empresa, ou por um chefe, de maneira constante. Ainda assim, é evidente que existam grandes benefícios a serem conquistados por tantos empregados quanto possíveis, desde que tenham o senso de autodisciplina e determinação. Entretanto, para os ocidentais com seu natural senso empreendedor e criatividade, existe muito a ganhar pelo processo de capacitação e autonomia. 2.2.9 - Informe a Todos os Empregados A filosofia Kaizen requer que todo o pessoal esteja totalmente informado sobre sua empresa, desde a integração e durante todo o período em que trabalhar como empregado. Assim, o processo de integração é de fundamental importância nas organizações e deve ser formal, estruturado, abrangente e longo o suficiente para cumprir o seu papel. A idéia é que a atitude e o comportamento corretos dependem da compreensão e da aceitação completa da missão corporativa, da cultura, dos valores, planos e práticas da empresa, e isto representa mais do que um simples treinamento. A informação e a integração não devem ser exclusivas de um grupo restrito, mas sim compartilhada por todos, de forma a não causar a indiferença, a falta de entendimento entre equipes, os problemas de comunicação, além da falta de ação. Tais conseqüências atrapalham o relacionamento interno e o seu efeito inevitavelmente chegará aos usuários finais da empresa. Portanto, é fundamental a participação e o treinamento não seletivo, de modo que todos sejam responsáveis por alavancar o desenvolvimento da empresa, puxando o mesmo lado da corda. 43 2.2.10 - Capacite os Empregados Capacitar os empregados lhes dá a habilidade e a oportunidade de aplicarem as informações recebidas. O treinamento multidisciplinar, o encorajamento, a responsabilidade para a tomada de decisão, o acesso a fontes de dados e orçamentos, realimentação e recompensas proporcionam aos empregados de empresas Kaizen uma autonomia para influenciar os assuntos relacionados a si próprio e à empresa. Entretanto, conceder autonomia aos empregados não é dar aos mesmos o comando e o controle da empresa. Tanto isto quanto à autoridade para tomar decisões finais devem continuar com a alta administração, mas os colaboradores devem ter, de forma bem definida, autonomia e decisão local no que influencia em suas próprias tarefas. Tal poder, mesmo que em escala local, requer dos gerentes: confiança em si mesmos para administrarem por exceção, confiança e convicção de que os membros da equipe utilizarão a autonomia beneficamente, o diálogo contínuo para reforçar a cultura, os valores e o estilo da empresa e uma liderança que reforce a missão da empresa. No Japão, o grau de autonomia individual e de equipe é determinado estritamente pelo efeito limitador da liberdade pessoal, de séculos de obediência a hierarquias e posições, ao passo que as culturas ocidentais têm historicamente incentivado a individualidade, a iniciativa pessoal, e o comportamento independente, inclusive nossa resposta à hierarquia e a posições tende a respeitar somente àqueles que a conquistaram e não apenas devido à idade. Desta forma, os empregados ocidentais inicialmente poderão ter mais facilidade para lidar com a autonomia do que seus colegas japoneses, podendo inclusive explorar isto de maneira mais completa. Na perspectiva da Grifo (1994), o Kaizen está voltado para o processo e como tal, não podemos dissociar pessoas do processo. Então, se queremos 44 aprimorar os processos, temos que aprimorar o elemento humano que dele participa. Entretanto, o aprimoramento não se restringe apenas ao treinamento, trata-se também de reconhecer: esforços, interesse, dedicação, pontualidade, assiduidade, auto-desenvolvimento, espírito de cooperação, etc. No ocidente, entretanto, habitualmente só se avaliam os colaboradores em função de seus resultados quantitativos, friamente apresentados, e se estes não forem bons, os funcionários ficam “na marca do pênalti”, pois não importa se as circunstâncias lhes foram adversas ao alcance de bons resultados. Desses dez princípios, cinco referem-se ao treinamento e desenvolvimento de pessoas, e são eles que mais rapidamente podem ser transferidos para as empresas ocidentais tradicionais, de forma a estabelecer a cultura Kaizen. Eles compõem a energia, o comportamento e o esforço dos empregados, e ajudam a criar o sentimento de comunidade dentro da empresa, trabalhando em conjunto dentro de uma sociedade maior de consumidores. 45 2.3 - As Ferramentas do Kaizen Wellington (1998) utiliza o termo “ferramenta” para referir-se a um processo específico de produção ou de gestão, baseada em um ou mais princípios do Kaizen, e usada no contexto da cultura Kaizen. Ressalta ainda que, várias ferramentas que auxiliam na implementação do Kaizen já são utilizadas por organizações ocidentais, sendo que algumas destas organizações utilizam as ferramentas fora do seu contexto. Não existe mal algum em empregar a ferramenta com fim em si mesma, entretanto, este não é o propósito Kaizen, que visa utilizá-las como um conjunto para melhorar a produção e para gerar mais satisfação ao cliente. Outro ponto, é que qualquer ferramenta Kaizen deixará de proporcionar seu potencial integral se for utilizada somente por empregados ou departamentos específicos. Em empresas Kaizen, os processos de gestão e os valores corporativos fornecem a cultura contextual que transmitem o verdadeiro objetivo das ferramentas Kaizen. Desta forma, todos os colaboradores reconhecem suas responsabilidades individuais por qualidade e serviços completando a equação Kaizen, na qual a responsabilidade individual resulta do somatório de serviço, qualidade, processo e aprimoramento. A principal ferramenta do Kaizen, segundo a autora, é o sistema de sugestões que é empregado de forma diferente por empresas ocidentais e as praticantes do Kaizen. No processo ocidental, um colaborador ou um grupo de colaboradores submeterá uma idéia mais provavelmente ligada a suas próprias funções e, provavelmente, utilizando-se de um formulário especial, que será encaminhado a um comitê de avaliação pelo correio ou coletado de uma caixa de sugestão. Os membros do comitê avaliarão a idéia, e se for necessário utilizarão especialistas funcionais. Provavelmente tal avaliação compreenderá a viabilidade da idéia, os custos de implementação e quaisquer economias resultantes para a 46 organização. O comitê decidirá se a idéia será adotada e se requer aprimoramento, quer seja pelos seus mentores ou por terceiros. Os criadores de uma idéia implantada serão recompensados financeiramente, mas não existe nenhum tipo de reconhecimento ou recompensa para aqueles que não tiveram suas idéias aprovadas pelo comitê. Entretanto, o verdadeiro sistema de sugestões Kaizen funciona de forma diferente. Primeiro porque o colaborador pode ter uma idéia de melhoria relacionada a qualquer parte da organização. Segundo porque a idéia será apresentada para sua equipe de trabalho, que a avaliará, buscará refinamentos e possíveis benefícios, tudo isto com a participação de seu criador em todas as etapas do procedimento. Mas a partir deste estágio, a idéia deixa de ser individual e passa a ser de propriedade da equipe que acredita no mérito daquela idéia, sendo que seu criador não será desconsiderado, podendo inclusive ser o líder do projeto. A equipe preparará uma proposta para sua implementação, podendo utilizar a orientação de outras equipes de trabalho ou de indivíduos específicos que tenham o conhecimento e habilidades necessários. Tal proposta deve conter uma análise da relação custo-benefício, indicando claramente como a idéia melhorará a satisfação do cliente, visto que o verdadeiro indicador de valor de um aprimoramento é a reação dos clientes. A proposta será apresentada ao líder da própria equipe e depois a todos os líderes de outras equipes, cujo trabalho seja afetado pela adoção da idéia. Estes líderes decidirão se apresentarão a idéia aos seus superiores imediatos que, por sua vez, discutirão o mérito da idéia e, se for condizente, obterão da alta administração a verba para realizar um teste com a idéia. A responsabilidade pela condução deste teste é da equipe criadora que a acompanhará até sua total implementação, caso o teste seja bem sucedido. Todos os membros da equipe de trabalho de uma idéia implementada serão recompensados por um reconhecimento que eleva o moral, assim como os 47 criadores de idéias não adotadas, visto que no Kaizen o mais importante é reconhecer o trabalho por trás de todas as idéias sugeridas e não apenas das aprovadas. Na filosofia Kaizen, o desempenho de cada equipe e de seus líderes é julgado em parte com base no número de sugestões de melhoria geradas no período. Não importa se apenas um pequeno número daquelas idéias foi implementado, pois o mais importante é que todos participem da vida da empresa. Uma questão básica neste processo de avaliação das idéias é se ela resultará em um novo padrão de desempenho, pois a idéia Kaizen não deve se resumir exclusivamente a uma nova metodologia, na qual não existe uma melhoria que represente ganhos ou satisfação dos clientes. Pelo contrário, ela deve criar um novo padrão de desempenho, como menor desperdício, menores custos, maior velocidade, etc. Além do sistema de sugestões, existem outras ferramentas que dão suporte à filosofia Kaizen: Círculo de Controle da Qualidade (CCQ), Gestão Orientada por Processo (GOP), Gestão Multifuncional (GMF), Administração Justin-Time (JIT), Kanban, Controle Estatístico do Processo (CEP) e o Ciclo PDCA. Algumas outras técnicas estatísticas e de grupo também podem auxiliar na implementação diária do Kaizen, como por exemplo: brainstorming, mapeamento de processos, análise de “espinha de peixe”, análise de Pareto, histogramas, diagramas de dispersão e listas de verificação. Como forma de contribuir para a melhoria contínua, Honda e Viveiro (1993) propõem as seguintes etapas para a Gestão do Processo de Melhoria: “- Identificação e seleção das oportunidades de melhoria. - Estabelecimento de metas de melhoria. - Análise do processo atual. 48 - Geração e seleção de alternativas de aperfeiçoamento. - Implementação das melhorias. - Avaliação contínua do processo.” Tais etapas prevêem que a princípio, todo processo ou sistema pode ser aperfeiçoado, sendo então necessário selecionar o processo que representará maior potencial de ganho, medido em termos de aumento da satisfação do cliente, da posição relativa à concorrência e da otimização de recursos, bem como estabelecer suas metas de aperfeiçoamento. Em seguida, identifica-se as causas limitadoras do desempenho atual e sua inter-relação com os demais processos da organização, desenvolvendo-se alternativas que proporcionem o desempenho almejado, tais como maior produtividade, qualidade, flexibilidade ou confiabilidade do processo. O passo seguinte é elaborar um plano de ação e operacionalização das melhorias, a partir da aceitação e comprometimento por parte das pessoas envolvidas no processo, providenciando a padronização e normalização das mudanças. Finalmente, providencia-se a implementação de estratégias de monitoração e controle contínuo que assegurem a consolidação das modificações implementadas e auxiliem a detectar novas oportunidades de melhoria. Por tudo isto, as empresas que adotam a filosofia Kaizen treinam seus colaboradores em várias habilidades, o que os ajuda a colocar o Kaizen em prática. As ferramentas Kaizen são básicas e não requerem tecnologia dispendiosa para atingir a perfeita implementação de seus objetivos. Entretanto, precisam de um senso apurado de responsabilidade individual, equipes multifuncionais, compartilhamento de grupo, liderança forte e benevolente, comunicação eficiente e focalização de metas. É esta simplicidade que permite que todas as pessoas contribuam para o sucesso da missão de suas organizações. 49 50 CAPÍTULO III A APLICAÇÃO DO KAIZEN COMO FATOR DE SOBREVIVÊNCIA DE SEGURADORAS “Aqueles que pensam que não podem fazer devem abrir caminho e dar passagem para aqueles que já estão fazendo.” 51 3.1 - Evolução e Competitividade do Mercado Moura (2003) expõe a questão da revolução do modo de gestão das organizações, o que tem proporcionado a muitas empresas os meios e as condições necessárias para o crescimento, desenvolvimento e sobrevivência no mercado atual. A evolução constante das práticas de gestão e dos métodos, técnicas e ferramentas de trabalho têm como propósito a criação de condições adequadas para que as organizações alcancem melhores resultados, contribuindo para a sua lucratividade e o seu fortalecimento. Com isto, as empresas têm buscado obter o máximo de produtividade com o mínimo de recursos, promovendo a otimização de seus processos operacionais e gerenciais por meio da melhoria contínua, alvo da filosofia Kaizen. Observa-se que, ao longo das últimas décadas e principalmente neste início do século XXI, a competição empresarial tem sido muito acirrada e o mercado tem mudado constantemente. Vive-se uma realidade bem diferente das experiências passadas, e isto não deveria ser novidade para as organizações, visto que os fatos e evidências das transformações do mundo dos negócios são muito claros e impactam as empresas em geral. E como tais mudanças são constantes, muitas outras virão e modificarão as regras vigentes no mercado até então. Assim, cabe às organizações que almejam sua sobrevivência no mercado futuro muito mais do que simplesmente buscarem entender o que acontece no mercado atual. As empresas de sucesso precisarão conhecer o que está mudando e, principalmente, observarem e projetarem as tendências futuras, avaliando como isto afetará suas empresas e aos seus parceiros, e como se adequarem às novas realidades. Se as organizações não se adaptarem a este mundo de constantes mudanças, terão grande dificuldade de continuarem sua trajetória nos negócios, pois outras empresas surgirão: mais fortes, mais velozes e melhor preparadas para atuarem, conquistando a parcela de mercado daquelas menos preparadas. 52 Ao analisar a conjuntura brasileira, Moura (2003) cita que podem ser observadas nove mudanças significativas (influências ou restrições) no ambiente em que nossas empresas estão inseridas. A primeira mudança diz respeito à abertura da economia brasileira (1990) que proporcionou a entrada de produtos importados pressionando o mercado nacional em função da nova concorrência. A segunda mudança retrata a questão do aumento da concorrência e da competição entre empresas decorrentes do crescimento dos negócios gerado pelo aumento do número de empresas e a diversificação da atuação das mesmas. A terceira mudança aborda o tema da estabilidade da economia brasileira, observada a partir do Plano Real. Tal plano proporcionou a redução e o controle da inflação, eliminando a cultura inflacionária e o ganho financeiro que havia nas empresas. A quarta mudança indica que as campanhas educativas, o Código de Defesa do Consumidor e a evolução em si do mercado, tornaram os clientes muito mais exigentes do que outrora. A quinta mudança aponta a globalização da economia como propulsor da oferta de produtos diversos a preços competitivos, visto que a empresa com atuação nos vários mercados mundiais tende a ter escala de produção e livre comércio. A sexta mudança atribui tanto o aumento significativo dos salários dos trabalhadores e quanto a conseqüente reação das empresas em reduzir as posições de trabalho ao surgimento de algumas pressões sociais como, por exemplo, as reivindicações trabalhistas. A sétima mudança descreve a forte preocupação com as questões ambientais, as quais requerem das empresas o controle de seu impacto sobre o meio ambiente. A oitava mudança salienta a influência do governo sobre as empresas em função da forte carga tributária (impostos e taxas) que incidem sobre elas, e também as constantes alterações na legislação que as afeta. Por fim, a nona mudança mostra a questão do “Custo Brasil”, que é entendido como os encargos que incidem sobre produtos das empresas brasileiras, relacionados à infra-estrutura do país, de transporte, impostos, sindicatos, etc, e que impacta o 53 aumento dos preços praticados após a produção dos produtos em virtude da legislação ultrapassada. Especular o futuro é algo muito arriscado, mas ao se analisar a evolução do mercado e as situações vigentes, pode-se fazer um prognóstico geral sobre tendências da realidade empresarial tais como: “- A globalização é uma verdade e deverá continuar existindo de modo cada vez mais intenso, ampliando a competição entre empresas. - A geração de conhecimento e informação continuará intensa, fazendo surgir um grande volume de informações às quais as empresas terão fácil acesso e possibilidade de uso. - A Aplicação intensiva da Tecnologia da Informação (Informática) nos negócios, não apenas para automação do processo produtivo, mas para automação de gestão das empresas e ampla comunicação entre pessoas e empresas. - Tendência de contínua redução dos preços dos produtos. - Grande geração de novos produtos, novos processos e novas tecnologias pela estratégia de inovação das empresas, aliada às novas necessidades das pessoas e suportada pela grande geração de conhecimento. - Fortes pressões às empresas pelas exigências de redução do impacto ao meio ambiente, proteção ambiental e uso de materiais e produtos recicláveis. 54 - Crescente dificuldade de obtenção de matérias-primas e recursos como água e energia como conseqüência das preocupações ambientais.” (MOURA, 2003, p. 5). 55 Sendo ou não verdadeiras as tendências citadas, visto que são especulações, é inegável o fato das organizações necessitarem acompanhar e tentarem identificar as transformações futuras e se prepararem para a nova realidade, uma vez que tais mudanças afetarão bastante suas atuações. Isto não significa assumir o controle das variáveis externas, mas sim, se organizar e se fortalecer para suportá-las. As empresas que não acompanharem a evolução do mercado, não só perderão produtividade como também estarão fadadas ao fracasso e serão forçadas a sair do mercado em que atuam. Para que isto não ocorra, dependem de todas as pessoas da empresa e não somente dos seus dirigentes, e isto inclui todo o seu corpo de colaboradores, pois eles são os pilares da organização. Pessoas motivadas, treinadas, participativas na gestão e melhoria contínua da empresa e com foco no atendimento aos seus clientes serão o diferencial das organizações do futuro. E mais uma vez isto nos aponta para a filosofia Kaizen que tem em seus princípios estas preocupações como base de implantação. “Em um mercado global cada vez mais concorrido, as empresas estão buscando novas idéias e práticas que funcionem, sejam quais forem suas origens, de modo que possam não somente repetir os mesmos resultados, como também adaptá-los às suas próprias culturas.” (WELLINGTON, 1998, Introdução). Independente de uma pessoa ser da cultura oriental ou ocidental, ela pode praticar instintivamente o Kaizen, que, embora seja uma filosofia oriental pode ser adaptada ao ocidente. O Kaizen tem uma estrutura que incentiva definir padrões de desempenho continuamente mais elevados, mas não é um conceito novo, e sua estratégia não pode funcionar se não houver o comprometimento das pessoas. 56 3.2 - Mercado Segurador e sua Competitividade Em se tratando de mercado segurador e previdenciário brasileiro, Girolli (2003) aponta a grande concentração de suas operações em operadores ligados a bancos, os quais possuem canais de comercialização mais eficientes. Assim, além da globalização e do avanço tecnológico que tornaram o mercado em geral altamente competitivo, os bancos dominaram uma grande fatia do mercado segurador de vida e previdência no Brasil, visto que operam a custos reduzidos em função de terem aproveitado toda a sua estrutura comercial, financeira e operacional. O autor também relata que a procura por produtos do tipo PGBL e VGBL é crescente em todas as operadoras, independente do tipo de canal de comercialização utilizado. Tal aspecto é motivado pela maior consciência da população e das empresas brasileiras a respeito da necessidade de contratação de planos de previdência complementar como forma de proteção do patamar de renda futura, visto que a previdência oficial não está sendo capaz de acompanhar a necessidade de renda da população. Neste cenário, embora seja promissora a perspectiva de crescimento deste mercado, para que pequenas e médias empresas não ligadas a banco sobrevivam, precisam buscar continuamente a melhoria de seus processos de negócio e capacitação de seus colaboradores, de forma a serem mais ágeis e inovadoras na elaboração de seus produtos e serviços. Tudo isto para atender e superar a expectativa não apenas de seus clientes externos, mas de todos os seus grupos de interesse (steakholders). Mas, segundo Moura (2003), a simples construção de um “Sistema da Qualidade” não tornará a empresa mais competitiva, embora contribua muito 57 para isto. É necessário que o modelo organizacional da empresa se adapte às constantes mudanças do ambiente. Centrar a preocupação no acompanhamento das mudanças dos desejos dos clientes, na atuação da concorrência, na geração de conhecimento e no desenvolvimento tecnológico, na constante preocupação em reduzir custos, no aumento da produtividade, na busca da satisfação dos colaboradores, na preocupação da imagem da empresa no mercado e na comunidade, e também, na constante melhoria dos resultados financeiros do negócio: lucratividade, rentabilidade e crescimento. “Essa visão ampla do negócio e o esforço na melhoria contínua dos resultados obtidos e da sua organização é que representam a busca da excelência empresarial. Com o tempo, é bem possível que as qualidades intrínsecas dos produtos venham a se equivaler entre as empresas do mesmo ramo. Do mesmo modo, é provável que os preços tornem-se bastante similares para produtos do mesmo nível em face da acirrada disputa de mercado. Como meio de diferenciação e atratividade de clientes, resta às empresas melhorarem o atendimento ou buscarem a inovação de seus produtos e do modo de relacionamento com o cliente.” (MOURA, 2003, p. 166). Mas fazer isto não é tarefa fácil, sendo necessário estabelecer um modelo de organização pautado em valores de excelência. É preciso exercer a postura estrategista e visionária da empresa, acompanhar as mudanças e as tendências, tanto em termos de tecnologia como em termos de concorrentes e outras variáveis. Além disto, a organização precisa ampliar a cadeia de valor na qual está inserida. Enfim, a organização precisa buscar operar com excelência e para tal a participação dos colaboradores é fundamental e pode ser mais facilmente obtida com a adoção de uma abordagem Kaizen, na qual todos são 58 responsáveis pelo contínuo aprimoramento dos processos. E isto é muito importante, visto que no contexto atual de mercado, os processos envelhecem com muita rapidez, tornando-se obsoletos e onerosos, sendo necessário seu permanente e incansável aprimoramento, de forma a viabilizar a competitividade e sobrevivência das empresas. A grande questão é: como fazer uma organização do ramo de vida e previdência ser competitiva, ter bons resultados, combater a entropia organizacional e estar antenada às mudanças? Uma solução possível é implementar uma metodologia de gestão baseada na filosofia Kaizen, que possibilite à organização ter uma visão sistêmica e a abordagem por processos. Isto motivará os colaboradores da empresa a atuarem em direção a objetivos claros que representem o sucesso da organização. Entretanto, para alcançar o sucesso desejado a empresa precisa observar alguns pontos, pois não se consegue mudar a cultura de uma organização da noite para o dia. “Deve-se saber onde se quer chegar e caminhar firme nessa direção, tendo todas as pessoas envolvidas comprometidas com esses objetivos. O mercado e os clientes devem ser conhecidos, e deve-se, também, entender claramente o que eles desejam. Os produtos precisam traduzir esses desejos e ser gerados por processo produtivo adequado e organizado. Os empregados devem ser preparados e motivados para exercerem suas atividades.” (MOURA, 2003, p. 9). Percebe-se com isto que a empresa precisa saber onde está e o que ela é no momento presente, onde e o que deseja ser no futuro, bem como o caminho 59 que deverá adotar para efetuar as mudanças de forma a atingir seus objetivos. Tudo isto para que a empresa esteja de acordo com a necessidade de ser cada vez mais transparente e responsiva ao cliente, para operar sistemas abertos e ser uma organização aprendiz. Em outras palavras, ser totalmente flexível e adaptável às mudanças onipresentes no mercado. Neste sentido, utilizar as ferramentas de planejamento estratégico é uma ótima abordagem, principalmente se o fizer de forma participativa e não seletiva. Percebe-se que, como em qualquer outra empresa, as seguradoras precisam: efetuar o seu planejamento estratégico, identificar os grupos de interesse (steakholders) da empresa com os respectivos resultados desejados, de forma a identificar os processos que garantam o atendimento destes resultados, segmentando-os em macro-processos. Como se trata do negócio de seguros do ramo de vida e previdência, sugere-se a seguinte segmentação para os processos principais: gestão corporativa, gestão técnica, gestão de mercado e gestão de recursos, além dos processos de apoio (tecnologia da informação, facilidades, aquisição e gestão de talentos). A organização deverá também mapear todos os seus processos atuais e propor melhorias contínuas para deixálos aderentes aos resultados esperados, bem como analisar os processos que são necessários (visam atender aos resultados dos steakholders), mas que ainda não existam, de forma a priorizar projetos para a sua implementação. Wellington (1998) ressalta que combinar uma estratégia empresarial “sólida” com um ambiente “fluido” é muito mais difícil do que quando o ambiente é estático, mas como este ambiente seria uma utopia, é preciso avaliar constantemente as estratégias da empresa perante o ambiente externo. Não há dúvidas de que criar estratégias é um jogo, cuja arte está em administrar o risco, por meio da administração estratégica, mantendo atualizada sua relevância. Enfim, a questão principal é identificar os grupos de interesse da organização e os resultados que eles desejam, ou ainda o que irão desejar, e se a organização 60 está preparada para atendê-los. Como afirma o Kaizen, o lucro virá da satisfação dos clientes, no caso os steakholders. 61 3.3 - Benefícios da Aplicação da Filosofia Kaizen Como pode ser visto na ilustração “Empresa Kaizen”, a organização que adota esta filosofia obterá ao longo do tempo um desempenho em patamares cada vez mais elevados. Como o cliente é quem define os padrões de qualidade, e estes estão em constante evolução, a empresa nunca atinge a perfeição, e isto é a força propulsora da evolução da própria organização. Gráfico 1 - “Empresa Kaizen”: Fonte: MAURITI e MARANHÃO, 2004, p.112. De acordo com Fisher (1996), “é ocioso afirmar que melhoria é algo desejável. O problema é que nem sempre isso é dito em muitas empresas ocidentais, o que conduz a absolutamente nenhuma melhoria.” Na perspectiva do autor, ao se adotar a filosofia Kaizen, as empresas ocidentais podem obter impressionantes aumentos de produtividade com pouco dispêndio de capital. É comum em empresas que introduziram as práticas Kaizen terem um aumento de produtividade na ordem de 30% a 50%. Como o Kaizen inclui tanto as lideranças quanto os seus subordinados, todos podem colaborar para alcançar melhores resultados. Como parte do conceito, existe uma política de 62 recompensas que valoriza não somente os resultados mas os esforços na tentativa de obtê-los. Ainda, segundo o autor, “os históricos do Kaizen japonês estão repletos de exemplos de programas de recompensa e reconhecimento de indivíduos e grupos, visando reforçar o comportamento Kaizen.” “Os benefícios vêm não apenas em receitas prováveis geradas, em custos previstos reduzidos e em aumentos mensuráveis de qualidade. Existem benefícios mais abstratos. A atitude dos funcionários a respeito de si mesmos e de sua empresa muda quando eles vêem a si mesmos como membros competentes e apreciados de uma organização envolvida em algo desafiante, excitante e divertido – uma empresa que é capaz de agradecer da forma que eles entendam. Essa atitude é um grande passo na direção do estabelecimento de uma cultura na qual a qualidade é a norma.” TOWNSEND (apud AIDAR, 1995, p. 104). A implantação da filosofia Kaizen assegura que: todos aprendam com maior rapidez, haja maior ênfase no planejamento do desenvolvimento, o processo e a qualidade substituam custos e resultados, os esforços se concentrem no que realmente importa, todos participem da construção e da melhoria contínua da empresa. 63 CONCLUSÃO Mais do que em qualquer outro tipo de organização, as empresas do ramo de vida e previdência desejam sobreviver no mercado futuro, pois este é o seu compromisso principal: garantir os benefícios futuros contratados por seus clientes. Para isto, a busca da excelência no seu desempenho requer forte orientação para o futuro e disposição para assumir compromissos de longo prazo com todas as partes interessadas. Assim, a antecipação às novas tendências de mercado, aos novos cenários, às novas necessidades dos clientes e seus beneficiários, aos desenvolvimentos tecnológicos, aos requisitos legais, às mudanças estratégicas dos concorrentes e aos anseios da sociedade como um todo é essencial para o sucesso e perpetuação da empresa. A organização flexível e ágil, com colaboradores participativos e motivados responderá com maior rapidez às mudanças do ambiente externo e às novas necessidades dos steakholders, revisando regularmente sua visão de futuro e suas estratégias. Por meio da aplicação da filosofia Kaizen, as seguradoras poderão obter a contínua incorporação de melhorias em todos os seus processos ou inovações de produtos e serviços, o que as levará a estágios superiores de excelência, conduzindo-as à sobrevivência e à liderança de mercado. Este trabalho não esgota o tema Kaizen, mas identifica e explica os seus princípios mais relevantes e sua abordagem como ferramenta de sobrevivência organizacional de seguradoras do ramo de vida e previdência. Seu objetivo é despertar o interesse dos que buscam uma visão geral do tema, dando os primeiros passos nesta filosofia fantástica que é o Kaizen. 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIDAR, Marcelo Marinho. Qualidade Humana – As Pessoas em Primeiro Lugar: Desenvolvendo uma Cultura Empresarial Orientada para a Qualidade, através da Melhoria do Relacionamento entre Clientes Internos e Externos. São Paulo: Maltese, 1995. CONTADOR, Cláudio R. Desafios e Oportunidades no Mercado de Seguros: Uma Coletânea de Estudos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. FISHER, John G. Benchmarking para Otimizar o Desempenho. São Paulo: Clio, 1996. GIROLLI, Hirbis. Seguro de Pessoas. Rio de Janeiro: Laborativa, 2003. GRIFO, Equipe. Iniciando os Conceitos da Qualidade Total. São Paulo: Pioneira, 1994. HONDA, Auro Key e VIVEIRO, Carlos Tadeu. Qualidade e Excelência através da Metodologia Kaizen. Rio de Janeiro: Érica, 1993. MARANHÃO, Mauriti e MACIEIRA, Maria Elisa Bastos. O Processo Nosso de Cada Dia: Modelagem de Processos de Trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. MIRSHAWKA, Victor. A Implantação da Qualidade e da Produtividade pelo Método do Dr. Deming. São Paulo: McGraw-Hill, 1990. MOURA, Luciano Raizer. Qualidade Simplesmente Total: Uma Abordagem Simples e Prática da Gestão da Qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003. SOUZA, André e GIROLLI, Hirbis. Fundamentos de Seguro, Previdência e Capitalização. Rio de Janeiro: Laborativa, 2003. 65 WELLINGTON, Patrícia. Estratégias Kaizen para Atendimento ao Cliente. São Paulo: Educator, 1998. 66 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTOS 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 7 SUMÁRIO 8 INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I 11 MERCADO SEGURADOR E PREVIDENCIÁRIO 11 1.1 - HISTÓRICO DE SEGUROS 12 1.2 - SEGUROS: CONCEITOS, COBERTURAS E TIPOS 14 1.3 - HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA 21 1.4 - PREVIDÊNCIA: CONCEITOS, COBERTURAS E TIPOS 23 CAPÍTULO II 29 KAIZEN – A FILOSOFIA DA MELHORIA CONTÍNUA 29 2.1 - O QUE É KAIZEN? 30 2.2 - PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA KAIZEN 2.2.1 - Dê Ênfase aos Clientes 2.2.2 - Promova Aprimoramentos Contínuos 2.2.3 - Reconheça os Problemas Abertamente 2.2.4 - Promova a Abertura 2.2.5 - Crie Equipes de Trabalho 2.2.6 - Gerencie Projetos por Intermédio de Equipes Multifuncionais 2.2.7 - Nutra o Processo de Relacionamento Correto 2.2.8 - Desenvolva a Autodisciplina 2.2.9 - Informe a Todos os Empregados 33 34 35 36 37 37 40 40 41 42 67 2.2.10 43 Capacite os Empregados 2.3 - AS FERRAMENTAS DO KAIZEN CAPÍTULO III 45 50 A APLICAÇÃO DO KAIZEN COMO FATOR DE SOBREVIVÊNCIA DE SEGURADORAS 50 3.1 - EVOLUÇÃO E COMPETITIVIDADE DO MERCADO 51 3.2 - MERCADO SEGURADOR E SUA COMPETITIVIDADE 56 3.3 - BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DA FILOSOFIA KAIZEN 61 CONCLUSÃO 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 64 FOLHA DE AVALIAÇÃO 68 68 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Campus Tijuca Título da Monografia: A Filosofia Kaizen como Ferramenta Sobrevivência Organizacional Autor: Rita de Luziete Cardoso Gomes Data da entrega: 27/07/2005 Avaliado por: Conceito: de