AS VANGUARDAS EUROPÉIAS MULHER CHORANDO, de PABLO PICASSO VANGUARDA EUROPÉIA Ao se iniciarem os anos de 1900, a Europa apresentava duas situações antagônicas, mas complementares: euforia exagerada diante do progresso industrial e dos avanços técnico-científicos (ex: eletricidade) e as conseqüências desse avanço no processo burguês-industrial: uma disputa cada vez mais acirrada pelo domínio dos mercados fornecedores e consumidores, que resultaria na 1ª Guerra Mundial. VANGUARDA EUROPÉIA Assim, contrastando com o clima eufórico da burguesia, também vamos encontrar o pessimismo característico do fim de século, representado pelo decadentismo simbolista. Essa contradição gera um clima propício para a efervescência artística, favorecendo o aparecimento de várias tendências preocupadas com uma nova interpretação da realidade. VANGUARDA EUROPÉIA multiplicidade de tendências – Futurismo – Expressionismo – Cubismo – Dadaísmo – Surrealismo -, convencionouse chamar Vanguarda Européia, responsável por uma verdadeira inundação de manifestos, escritos entre 1909 e 1924, ou seja, durante a guerra e nos anos imediatamente anteriores e posteriores. A essa VANGUARDA Vanguarda: do francês avant-garde, a palavra significa “o que marcha na frente” (termo militar). Artística ou politicamente, se chama de vanguardas aos grupos ou correntes que apresentam uma proposta e/ou uma prática inovadora. No campo das artes e das idéias, designa aqueles que estão à frente de seu tempo. Les demoiselles d`Avignon, de PABLO PICASSO O CUBISMO O marco inicial do Cubismo ocorreu em Paris, em 1907, com a tela Les Demoiselles d''Avignon, de Pablo Picasso . Nesta obra, influenciado pela arte primitiva e pelas máscaras africanas, o artista espanhol retratou a nudez feminina de uma forma inusitada, onde as formas reais, naturalmente arredondadas, deram espaço a figuras geométricas perfeitamente trabalhadas. Tanto nas obras de Picasso, quanto nas pinturas de outros artistas que seguiam esta nova tendência, como, por exemplo, o francês – Georges Braque – há uma forte influência das esculturas africanas e também pelas últimas pinturas do pósimpressionista francês Paul Cézanne, que retratava a natureza através de formas bem próximas as geométricas. termo “cubismo” foi inventado por Matisse, ao observar quadros de Braque, numa exposição de 1908 (em Paris). O primeiro núcleo de pintores cubistas foi composto pelo encontro de Georges Braque e Pablo Picasso, imitados em seguida por Mondrian, Juan Gris, Picabia, Férnand Léger. O movimento teve início em 1907 (com o quadro “Les demoiselles d`Avignon” , de Picasso) e conheceu seu declínio com o fim da Primeira Guerra Mundial (1918) O PABLO PICASSO (1881 – 1973) Georges Braque (1882 – 1963) Historicamente o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Entretanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas as suas partes num mesmo plano. É como se os objetos estivessem abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas. Ou seja, enquanto o Impressionismo procurava apreender a realidade “tal como a vemos”, através da percepção, o Cubismo tenta apresentar a realidade “tal como ela é”. Mas, paradoxalmente, o culto do objeto vai conduzir a destruição do real: a análise e a decomposição sistemática do objeto, desarticulando a forma e reduzindo-a a elementos puramente geométricos, no afã de captar a estrutura profunda das coisas, afastam a arte da verdadeira aparência. Do Cubismo ao Abstracionismo (a completa ausência de figurativismo), o passo é breve. Assim, os pintores cubistas opõem-se à objetividade e à linearidade da arte renascentista e da realista. Buscando novas experiências com a perspectiva, procurando decompor e recompor os objetos representados em diferentes planos geométricos e ângulos retos, com espaços múltiplos e descontínuos, que se interceptam e se sucedem, de tal forma que o espectador, com o seu olhar, possa remontá-los e ter uma visão do todo, de face e de perfil, como se estivesse dado uma volta em torno deles. Outra técnica introduzida pelos cubistas é a COLAGEM, que consiste em montar a obra a partir de diferentes materiais, como figuras, jornais, madeira, tecidos, etc. Na LITERATURA, essas técnicas da pintura correspondem à fragmentação da realidade, à superposição e simultaneidade de planos – por exemplo, reunir assuntos aparentemente sem nexo, misturar assuntos, espaços e tempos diferentes. Houve também (no Cubismo literário) as experiências visuais do poeta Guillaume Apollinaire (amigo íntimo de Picasso), que explorou a disposição espacial e gráfica do poema – técnica que, nas décadas de 1950-60, influenciaria o surgimento do Concretismo no Brasil. Assim, a literatura cubista apresenta características como o ilogismo, humor, antiintelectualismo, instantaneísmo, simultaneidade, linguagem predominantemente nominal. “La colombe poignardée et le jet d`eau”, de Guillaume Apollinaire “A pomba apunhalada e o jato d`água” CALIGRAMA = Texto que dispõe tipograficamente as suas palavras de forma a obter uma sugestão figurativa semelhante ao tema tratado. Tradução do poema de Apollinaire por Patrícia Galvão (Pagu) - 1947 figuras apunhaladas – Caros lábios em flor – Mia Mareye – Yette Lorie – Annie e você Marie – onde estão - vocês ó – meninas – Mas – junto a um – jacto de água que – chora e que suplica – esta pomba se extasia – Todas as recordações de outrora? – Onde estão Raynal Billy Dalize – Os meus amigos foram para a guerra – Os seus nomes se melancolizam – Esguicham para o firmamento – Doces Como os passos numa igreja – E os seus olhares na água parada – Onde está Crémnitz que se alistou – Morrem melancolicamente – Pode ser que já estejam mortos – Onde estão Braque e Max Jacob – Minha alma está cheia de lembranças – Derain de olhos cinzentos como a aurora – O jacto de água chora sobre a minha pena – Os que partiram para a guerra ao norte se batem agora – A noite cai o sangrento mar – Jardins onde sangra abundantemente o louro rosa flor guerreira. - Na Literatura Modernista Entre os modernistas brasileiros da década de 1920 = Influências Cubistas em Oswald de Andrade (fragmentação da realidade + predominância de substantivos + flashes cinematográficos): Hípica Saltos records/Cavalos da Penha/Correm jóqueis de Higienópolis/Os magnatas/As meninas/E a orquestra toca/Chá/Na sala de cocktails. O Cubismo na pintura Modernista No Brasil, o Cubismo manifestou-se, timidamente, nas pinturas de Anita Malfatti que recebeu duras críticas do escritor Monteiro Lobato. No entanto, Malfatti impôs seu estilo (cubista e expressionista) com várias obras. Anita Malfatti O homem de sete cores & A mulher de cabelo verde Outra artista que utilizou o estilo cubista em algumas de suas obras foi a artista Tarsila do Amaral,que, com sua obra, revolucionou a arte no Brasil. Outro artista brasileiro que utilizou a estética cubista foi Di Cavalcanti, claramente influenciado por Picasso. Di Cavalcanti, Moças Tarsila do Amaral, Carnaval em Madureira O FUTURISMO Dinamismo de um cão na coleira, de Giacomo Balla O FUTURISMO O Futurismo foi um movimento artístico e literário iniciado oficialmente em 1909 com a publicação, no jornal francês Le Figaro, do Manifesto Futurista, do poeta italiano Filippo Tommasio Marinetti (1876-1944), que surpreende os meios culturais europeus pelo caráter violento e radical de suas propostas. Muito mais do que por obras, o movimento futurista difunde-se por meio de manifestos (mais de 30) e conferências, tendo sempre à frente a figura de seu líder, Marinetti. O FUTURISMO Aspectos relevantes do Futurismo: Total identificação entre o movimento e seu líder = Futurismo = Marinetti. A adesão de Marinetti ao fascismo de Mussolini (1919), dadas as evidentes afinidades ideológicas entre eles. A celebração da técnica e da velocidade. Glorifica-se a audácia, o amor ao perigo, a energia, a guerra, a tecnologia, o automóvel, e todo o dinamismo da vida moderna. O FUTURISMO Aspectos relevantes do Futurismo: O desprezo pelo passado. A valorização, na arte, do imprevisto e da revolta. Elogio do “caráter higiênico das guerras”. Elementos artísticos sugestivos de velocidade e mecanização da vida moderna. O FUTURISMO Rejeita o moralismo e o passado, exalta a violência e propõe um novo tipo de beleza, baseado na velocidade. O apego do futurismo ao novo é tão grande que chega a defender a destruição de museus e de cidades antigas. Agressivo e extravagante, encara a guerra como forma de higienizar o mundo. A palavra chave desse movimento era “dinamismo” e sua principal contribuição foi a idéia de reunir visualmente: som, luz e movimento. O carro passou, de Giacomo Balla “Manifesto futurista” 1909 MARINETTI 1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e à temeridade. 2. Os elementos essenciais de nossa poesia serão a coragem, a audácia e a revolta. 3. Nós declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. 4. Não há mais beleza senão na luta. Nada de obra-prima sem um caráter agressivo. 5. Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas idéias que matam, e o menosprezo à mulher. 6. Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias. Manifesto Técnico da Literatura Futurista” (1912) Projeto estético renovador = Linguagem jovem e contestadora das convenções = Revolução na linguagem (literária) = Maior importância do movimento. A destruição da sintaxe e a disposição das “palavras em liberdade”; O emprego de verbos no infinitivo, com vistas à substantivação da linguagem; A abolição dos adjetivos e dos advérbios; O emprego do substantivo duplo (praçafunil, mulher-golfo) em lugar do substantivo acompanhado de adjetivo; A abolição da pontuação, que seria substituída por sinais de matemática (+, - , :, =, >, <) e pelos sinais musicais; A destruição do “eu” psicologizante. A importância do Futurismo O movimento futurista impulsionou decisivamente toda a arte de vanguarda, tanto a européia como a não-européia. No Brasil, ele foi o principal estímulo artístico e intelectual dos jovens renovadores de São Paulo (SAM), a tal ponto que os mesmos eram conhecidos – durante os primeiros anos da década de 1920 – mais como “futuristas” do que como “modernistas”. A importância do Futurismo Assim, a palavra Futurismo passou a designar qualquer postura inovadora na arte, levando Oswald de Andrade a saudar, em 1921, o jovem poeta Mário de Andrade como um artigo intitulado “O meu poeta futurista”. Temendo uma identificação com o fascismo, Mário vem a público negar, mais do que o movimento futurista, a figura de seu líder. No prefácio de Paulicéia desvairada, afirma: A importância do Futurismo “Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o . Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andrade, chamandome de futurista, errou.” Em Portugal, notadamente entre 1910 e 1920, houve uma maior identidade entre os modernistas de primeira hora e o Futurismo. Já nos primeiros números da revista Orpheu (1915) encontramos textos futuristas de Fernando Pessoa e de Mário de Sá Carneiro. “Ode triunfal” = texto futurista de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica] Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,] Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.] Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!] (...) “Ode ao burguês”, poema futurista de Mário de Andrade Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, O burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! O homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-apouco!] (...) Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! (...) Fora! Fu! Fora o bom burguês!... (...) O EXPRESSIONISMO O GRITO (1893), de EDVARD MUNCH O grito, de Munch, expressa o desespero da figura humana em cima da ponte. Que ser grita? O grito é de angústia? As formas sinuosas do céu e da água e a forte diagonal da ponte, conduzem o olhar do expectador diretamente para a boca que se abre num grito. Parece expressar uma terrível solidão existencial. Duas figuras estão vindo em sua direção. Serão elas os motivos do grito? Serão elas a morte ou a salvação? O EXPRESSIONISMO O movimento expressionista surgiu em 1910, na Alemanha, trazendo uma forte herança da arte do final do século XIX, preocupada com as manifestações do mundo interior e com uma forma de expressá-las. Daí a importância da expressão, ou seja, da materialização, numa tela ou numa folha de papel, de imagens nascidas em nosso mundo interior, pouco importando os conceitos então vigentes de belo e feio. O EXPRESSIONISMO O objetivo dos expressionistas era combater o Impressionismo, tendência da qual eles provinham. O Impressionismo consistia em uma corrente da pintura que valorizava a impressão, isto é, era uma arte sensorial e subjetiva quanto ao modo de captação da realidade. Na relação entre o artista impressionista e a realidade, o movimento de criação vai do mundo exterior para o mundo interior. O EXPRESSIONISMO Já no Expressionismo ocorre o oposto: o movimento de criação parte da subjetividade do artista, do seu mundo interior, em direção ao mundo exterior. Assim, para o artista expressionista, a obra de arte é reflexo direto de seu mundo interior e toda a atenção é dada à expressão, isto é, ao modo como forma e conteúdo livremente se unem para dar vazão às sensações do artista no momento da criação. O Expressionismo foi uma corrente artística que, pela deformação ou exagero das figuras, buscava a expressão dos sentimentos e emoções do autor. O artista expressionista buscava a experiência emocional. Preocupando-se mais com as emoções do observador do que com a realidade externa. Os autênticos precursores do Expressionismo vanguardista apareceram no final do século XIX e começo do século XX. Entre eles, destacam-se: Vincent Van Gogh, Paul Gauguin, Edvard Munch. O principal pintor expressionista é o norueguês Edvard Munch, autor de quadros intensamente dramáticos. Vincent Van Gogh Paul Gauguin EDVARD MUNCH O EXPRESSIONISMO Durante e depois da 1ª Guerra Mundial, o Expressionismo assumiu um caráter mais social e combativo, denunciando os horrores da guerra, as condições de vida desumanas das populações carentes, etc. Possui um sentimento de fraternidade universal e desprezo pela civilização materialista, industrial, mecanizada. Fundamentos do Expressionismo: A arte não é imitação, mas criação subjetiva, livre. A arte é expressão dos sentimentos. A realidade que circunda o artista é horrível e, por isso, ele a deforma ou a elimina, criando a arte abstrata. A razão é objeto de descrédito. A arte é criada sem obstáculos convencionais, o que representa um repúdio à repressão social. Fundamentos do Expressionismo: A intimidade e a vivência da dor derivam do sentido trágico da vida e causam uma deformação significativa, torturada. A arte se desvincula do conceito de belo e feio e torna-se uma forma de contestação. A ARTE EXPRESSIONISTA Das artes plásticas, especialmente da pintura, a estética expressionista passou também a ser utilizada pela literatura, cinema, dança, música, teatro. Destacam-se os artistas: na pintura, Kandinski, Chagall, além de Van Gogh, Cézanne, Gauguin e Munch; na literatura: August Stramm, Herman Hesse, Thomas Man; no teatro, Kayser e Brecht; na música, Schoemberg; no cinema, Wiene. O Expressionismo na Literatura Combinações rítmicas, cortes surpreendentes, jogo de imagens ousadas, sublimação do patético e exaltação das paixões; Liberdade léxica (vocabulário), sintática (funções e relações das palavras e frases) e semântica (significado da palavra); Linguagem fragmentada, elíptica (oculta), construída por frases nominais (basicamente aglomerado de substantivos e adjetivos), às vezes até sem sujeito; O Expressionismo na Literatura Despreocupação com a organização do texto em estrofes, com o emprego de rimas ou de musicalidade; Combate à fome, à inércia e aos valores do mundo burguês. Expressionismo & Futurismo O movimento expressionista tem em comum com o Futurismo a disposição de demolir a cultura passada e criar um novo homem; mas dele se difere pelo pacifismo, pelo sentimento de fraternidade e pelo desprezo ao materialismo industrial. Por não aderir ao Nazismo, foi por ele destruído, a partir de 1933, quando Hitler subiu ao poder. O Expressionismo no Brasil No Brasil, o Expressionismo marcou uma forte influência no teatro de Oswald de Andrade e de Nélson Rodrigues; na pintura: Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Lasar Segall, Anita Malfatti e na poesia de Augusto dos Anjos. A boba, de Anita Malfatti Série “Retirantes”, de Portinari O bananal, de Lasar Segall Di Cavalcanti O DADAÍSMO O ELEFANTE CELEBES = MARX ERNST O DADAÍSMO Em 1916, em plena guerra, um grupo de refugiados em Zurique, na Suíça, inicia o mais radical movimento da vanguarda européia: o Dadaísmo. O termo “dadá” foi escolhido ao acaso, abrindo-se o dicionário Larousse, no cabaré “Voltaire” (ponto de encontro do grupo dadaísta), de Zurique, por Tristan Tzara e outros artistas revoltados contra os horrores da guerra. O DADAÍSMO Caracterizou-se por um cunho fortemente anárquico, expressando a rebelião da geração jovem contra os poderosos círculos internacionais e a burguesia acomodada. Foi um movimento antiarte por excelência, pois, através de arruaças, exposições extravagantes, agitações anárquicas, banquetes excêntricos e tumultuados, os dadaístas gritavam a sua trágica revolta, ridicularizando tradições e valores institucionalizados. O DADAÍSMO norma estética era a “lei do acaso”, apregoando a poesia e a pintura automáticas: faziam poemas remexendo alguns recortes de jornais no fundo de um chapéu; misturavam tintas sem nenhum critério; convidavam os visitantes de suas exposições a quebrarem os quadros à vontade, pois achavam que não tinham valor algum; choravam em casamentos; davam risadas durante os enterros; enfim pregavam e praticavam o mais absoluto inconformismo. A única O DADAÍSMO Quanto às obras artísticas, é pequena a produção do Dadaísmo suíço. Mas o movimento se espalhou para o mundo, sendo cultivado especialmente em Nova Iorque. Max Ernst utiliza montagens e colagens em suas obras e Marcel Duchamp desenvolve a técnica do readymade, com a qual é satirizado o mito mercantilista da civilização capitalista. A técnica do ready-made consiste em extrair um objeto do seu uso cotidiano e, sem nenhuma ou com pequenas alterações, atribuir-lhe um valor. Os ready-mades de Duchamp O DADAÍSMO Na literatura, o Dadaísmo caracteriza-se pela agressividade, pela improvisação, pela desordem, pela rejeição a qualquer tipo de racionalização e equilíbrio, pela livre associação de palavras (a escrita automática = mais tarde aproveitada pelo Surrealismo) e pela invenção de palavras com base na exploração apenas do seu significante. Canção dadá, de Tristan Tzara a canção de um dadaísta que tinha dadá no coração cansava demasiado seu motor que tinha dadá no coração o ascensor (elevador) levava um rei pesado frágil e autônomo cortou seu grande braço direito o enviou ao papa em roma Manifesto dadá (1918), de Tristan Tzara “Eu escrevo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípio contra os manifestos, como sou também contra os princípios.” “Que cada homem grite: há um grande trabalho destrutivo, negativo, a executar. Varrer, limpar. A propriedade do indivíduo se firma após o estado de loucura, de loucura agressiva, completa, de um mundo abandonado entre as mãos dos bandidos que rasgam e destroem os séculos.” A participação de André Breton O importante poeta francês André Breton adere ao movimento dadaísta, mas logo acaba negando-o por achar que não levava a nada. Breton não concordava com a idéia de Tzara em manter a linha original do movimento. Como a guerra terminara já havia alguns anos, era hora de reconstruir o que fora demolido: a Europa e a arte. Breton, então, abandona o grupo dadaísta e, em 1921, deu origem ao Surrealismo, uma das mais importantes correntes artísticas do século XX. O SURREALISMO A METAMORFOSE DE NARCISO, de SALVADOR DALI O Surrealismo foi um movimento artístico e literário que surge na França nos anos 20, reunindo artistas anteriormente ligados ao dadá. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Defende que a arte deve libertar-se das exigências da lógica e expressar o inconsciente e os sonhos, livre do controle da razão e de preocupações estéticas ou morais. Rejeita os valores burgueses, como a pátria e a família. O principal teórico e líder do movimento é o poeta, escritor, crítico e psiquiatra francês André Breton, que em 1924 publica o primeiro Manifesto Surrealista. O SURREALISMO Contra o niilismo pessimista do movimento Dadá, Breton, psiquiatra praticante na 1ª Guerra Mundial, encontrou nas teorias de Freud meios mais positivos para revolucionar a arte. Chamou de “Surrealismo” ao novo movimento que tinha como propósito fundamental anular as barreiras entre o sonho e a realidade. Para isso, usou a técnica do “automatismo psíquico”, pela qual o pensamento se liberta do controle exercido pela razão e pelos condicionamentos sociais, morais e estéticos. O SURREALISMO A finalidade do movimento era colocar “o surreal fora do seu esconderijo”, realizando a fusão da realidade com o sonho. Daí a exaltação do maravilhoso que reside no estado onírico, na alucinação, no acaso, na psicopatologia. Os principais artistas surrealistas foram: na poesia, Paul Éluard; na pitura, De Chirico e Salvador Dalí; no teatro, Antonin Artaud; no cinema, Luís Buñuel e Rossellini. O SURREALISMO Duas são as linhas de atuação do Surrealismo em seu início: as experiências criadoras automáticas e o imaginário estraído do sonho. Freud, na psicanálise, e Bergson, na filosofia, já haviam destacado a importância do mundo interior do ser humano, as zonas desconhecidas ou pouco conhecidas da mente humana. O SURREALISMO Encaravam o inconsciente, o subconsciente e a intuição como fontes inesgotáveis e superiores de conhecimento do homem, pondo assim em segundo plano o pensamento sensível, racional e consciente. O automatismo artístico consiste em extravasar os impulsos criadores do subconsciente, sem nenhum controle da razão ou do pensamento, ou seja, pôr na tela ou no papel os desejos interiores profundos, sem se importar com coerência, adequação, etc O SURREALISMO A outra linha de atuação surrealista, a onírica, busca a transposição do universo dos sonhos para o plano artístico. O sonho, na concepção de Freud, é a manifestação das zonas ocultas da mente, o inconsciente e o subconsciente. Os surrealistas pretendiam criar uma arte livre da razão, uma arte produzida num estado de consciência em que o artista estaria “sonhando acordado”. O SURREALISMO Nessas duas linhas de pesquisa e trabalho são freqüentes o ilogismo + o devaneio + o delírio + o sonho + a loucura + a hipnose + o estado de transe + o humor negro + as imagens surpreendentes e extravagantes+ o impacto do inusitado + a livre expressão dos impulsos sexuais. O Surrealismo e o Comunismo A rejeição do Surrealismo ao mundo burguês, racional, mercantil e moralista levaria alguns membros do grupo a ter ligações com o Comunismo. Para alcançar o objetivo maior do movimento – amor, liberdade e poesia - , eles acreditavam ser necessária uma transformação radical da sociedade, por meio da qual se pusesse fim ao modo de produção capitalista e à estrutura de classes sociais. O Surrealismo e o Comunismo A adesão desses membros, particularmente de André Breton, às idéias socialistas (comunistas) provoca no movimento uma cisão interna, que se agrava com a 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945) e colabora para a desarticulação do grupo. O Surrealismo e a contemporaneidade Embora o Surrealismo tenha oficialmente desaparecido com a 2ª Guerra Mundial, resquícios do movimento ou tentativas de recuperá-lo são vistos até os dias de hoje, em diferentes linguagens artísticas, o que comprova sua força criadora e a contemporaneidade de suas propostas. O Surrealismo no Brasil No Brasil, vários escritores foram influenciados pelas idéias surrealistas, tais como Mário e Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Millôr Fernandes, etc. Na pintura, Tarsila do Amaral, nos anos de 1920, revela a marca surrealista, na medida em que a proposta artística dos modernistas era um mergulho no imaginário para, de um lado, reencontrar a espontaneidade dos instintos e, de outro, matar a cultura dominante e retirar de suas entranhas a matéria prima brasileira. Urutu & Abaporu, de Tarsila do Amaral Salvador Dalí Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech nasceu em 11 de maio de 1904, na cidade espanhola de Figueres (Catalunha). Foi um dos mais importantes artistas plásticos (pintor e escultor) surrealistas da Espanha. Salvador Dalí Salvador Dalí Dalí liga-se aos surrealistas em 1929, porém, em 1922 já havia lido A Interpretação dos Sonhos de Freud, e pelo menos desde 1926, a sua pintura incorpora materiais oníricos e inconscientes. O pintor foi o mais extravagante dos surrealistas e os temas recorrentes em suas obras são: o sexo (e todas as atribulações: angústias, medos, frustrações, traumas), a memória (sua permanência ou dissipação), o sono e o sonho. O grande masturbador O sono A persistência da memória Galáxia das Esferas Gala Sonho causado pelo vôo de uma abelha em torno de uma romã, um segundo antes do despertar.