AS VANGUARDAS EUROPEIAS O nascimento do mundo, de Salvador Dali VANGUARDAS EUROPEIAS Transformações tecnológicas na virada do século; o automóvel, o avião, o cinema deslocaram e aceleraram o olhar do homem moderno; novas maneiras de o homem perceber a realidade; Em meio a essas transformações, surgem várias manifestações artísticas: VANGUARDAS EUROPEIAS Expressionismo Impressionismo Cubismo, Futurismo, Abstracionismo, Dadaísmo Surrealismo As vanguardas vão dar origem à Arte Moderna VANGUARDAS EUROPEIAS Expressionismo Surgiu na Alemanha em 1910; preocupação foi a forma em expressar as manifestações do mundo interior; pouco se importavam com os conceitos de belo e feio. O importante era a "expressão", ou seja, a forma de transportar para as telas e para o papel as imagens que nasciam no seu interior; como forma de expressar a visão pessoal do artista, os expressionistas, além de darem grande importância ao poder expressivo das cores e das formas, valorizaram as composições abstratas e as imagens distorcidas, próximas da caricatura; desenvolveu-se mais na pintura e os principais representantes desse movimento foram: Vincent Van Gogh Paul Cézanne Paul Gauguim Edward Much Tarde em Nápoles (1876-1877), de Paul Cézanne Cézanne tinha interesse na simplificação das formas naturais em seus essenciais geométricos; ele queria “tratar a natureza pelo cilindro, pela esfera, pelo cone”. A atenção concentrada com a qual ele registrava suas observações da natureza resultou em uma profunda exploração da visão binocular. VANGUARDAS EUROPEIAS Expressionismo Utilizando cores irreais, dá forma plástica ao amor, ao ciúme, ao medo, à solidão, à miséria humana, à prostituição. Deforma-se a figura, para ressaltar o sentimento. O grito (1893), de Edward Munch. Campo de trigo com corvos, Vincent Van Gogh. O escolar (1888) VANGUARDAS EUROPEIAS Expressionismo Na literatura: linguagem fragmentada, nominais; elíptica, frases despreocupação quanto à organização do texto em estrofes, ao emprego de rimas ou à musicalidade; Combate à fome, à inércia e aos valores do mundo burguês. VANGUARDAS EUROPEIAS Fragmento de um poema expressionista: Soam ventoinhas em nuvens perdidas Os livros são bruxas. Povos desconexos. A alma reduz-se a mínimos complexos A arte está morta. As horas reduzidas. O meu tempo, de Wilkleim Klem VANGUARDAS EUROPEIAS Impressionismo Revolucionou profundamente a pintura e deu início às grandes tendências da arte do século XX; arte sensorial que valorizava a impressão subjetiva da realidade; o movimento de criação vai do mundo exterior para o interior; Monet, Registro Degas e Renoir são os expoentes dessa pintura; das tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a luz solar num determinado momento, pois as cores da natureza se modificam constantemente, dependendo da incidência da luz do sol; As figuras não devem ter contornos nítidos, pois a linha é uma abstração do ser humano para representar imagens; As sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos causam, e não escuras ou pretas, como os pintores costumavam representá-las no passado. VANGUARDAS EUROPEIAS Impressionismo The Waterloo Bridge, de Oscar-Claude Monet O almoço dos remadores (1874), de Pierre-Auguste Renoir L’Absinthe, de Edgar Degas (1876). Musée d'Orsay, Paris. VANGUARDAS EUROPEIAS Cubismo Surgiu em 1907, a partir das experiências do espanhol Pablo Picasso e do francês Georges Braque; desenvolveu-se inicialmente na pintura, caracterizou-se pela valorização de formas geométricas como cubos, cones e cilindros. defesa da ideia de que o artista deveria ter toda a liberdade para decompor a realidade que está interessado em representar e depois recriá-la a partir de elementos geométricos sobrepostos; Picasso (pintura) e Apollinaire (literatura) são os principais representantes dessa vanguarda. Segundo Picasso, "A arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade". Isso quer dizer que, para os cubistas, o artista não deve apenas copiar ou ilustrar o mundo real. Sua função é recriar a realidade e representá-la sob uma outra forma, revelando assim aspectos que geralmente passam despercebidos. VANGUARDAS EUROPEIAS Cubismo Guernica (1937), de Pablo Picasso Les Demoiselles d'Avignon (1907), de Pablo Picasso VANGUARDAS EUROPEIAS Cubismo Na literatura, os artistas cubistas preocuparamse com a construção do texto e ressaltaram a disposição gráfica do poema. Com isso, os espaços em branco da folha de papel passaram a ter importância. Além disso, o cubismo caracterizou-se por apresentar uma linguagem bem humorada, cheia de inversões e elipses, na qual os substantivos são dispostos de forma aparentemente anárquica e o verbo, os adjetivos e a pontuação são desprezados. VANGUARDAS EUROPEIAS Cubismo O poeta francês Guillaume Apollinaire é o principal representante do Cubismo na literatura. Depois de sua morte, foi publicado Caligrammes, poèmes de la paix et de la guerre (1913-1916), uma coletânea de poemas concretos produzidos durante a primeira guerra mundial. Il pleut des voix de femmes comme si elles étaient mortes même dans le souvenir C'est vous aussi qu'il pleut merveilleuses encontres de ma vie ô gouttelettes Et ces nuages cabrés se prennent à hennir tout un univers de villes auriculaires Écoute s'il pleut tandis que le regret et le dédain leurent une ancienne musique Ecoute tomber les liens qui te retiennent en haut et en bas Chove (Apollinaire) Chovem as vozes das mulheres como se elas estivessem mortas mesmo na lembrança É você também que chove gotículas de maravilhosos encontros de minha vida E essas nuvens turbulentas se põem a relinchar todo reconheça essa adorável pessoa é você sem o grande chapéu de palha olho nariz boca aqui o oval do seu rosto seu lindo pescoço um pouco mais abaixo é seu coração que bate aqui enfim a imperfeita imagem de seu busto adorado visto como se através de uma nuvem VANGUARDAS EUROPEIAS Cubismo Hípica (Oswald de Andrade) Saltos records Cavalos da Penha Correm jóqueis de Higienópolis Os magnatas As meninas E a orquestra toca Chá Na sala de cocktails poema de influência cubista com a presença de elementos como a fragmentação da realidade, a predominância de substantivos e flashes cinematográficos. VANGUARDAS EUROPEIAS Futurismo liderado pelo Italiano Felipo Tomamaso Marineti; forte ruptura com o passado; exaltação da vida moderna, ou seja, da máquina, do automóvel, da eletricidade, da velocidade, do movimento. em 1912, Marineti lançou o manifesto técnico da literatura Futurista, também conhecido como "Palavras em Liberdade“: critica da posição da arte literária do século XIX, propôs a destruição dos padrões da sintaxe gramatical. a identificação do Futurismo com o seu líder, Marinetti, foi tanta que essas palavras tornaram-se quase sinônimos. A partir de 1919, Marinetti aderiu ao Fascismo e isso fez com que os modernistas brasileiros, apesar de aceitar algumas idéias futuristas, passassem a repudiar a posição política adotada por Marinetti. na pintura, Giacommo Balla foi o representante mais importante. VANGUARDAS EUROPEIAS Futurismo Trechos do Manifesto Futurista de 1909 nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e à temeridade; os elementos essenciais da nossa poesia serão a coragem, a audácia e a revolta; tendo a literatura, até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo ginástico, o salto perigoso, a bofetada e o soco; nós clamamos que o esplendor do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre adornado de grossos tubos como serpentes de fôlego explosivo... Um automóvel rugidor que parece correr sobre a metralha é mais belo que a Vitória de Samotrácia; Não há mais beleza senão na luta. Nada de obra prima sem caráter agressivo; Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias. VANGUARDAS EUROPEIAS Futurismo Vladimir Maiakóvski (1893 – 1930) Sua obra, profundamente revolucionária na forma e nas idéias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente, una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma consideração pela divisão em temas e vocábulos “poéticos” e “não-poéticos”, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o inusitado arrojo das rimas. Em lugar de uma carta Fumo de tabaco rói o ar. O quarto – um capítulo do inferno de Krutchônikh . Recorda – atrás desta janela pela primeira vez apertei tuas mãos, atônito. Hoje te sentas, no coração – aço. Um dia mais e me expulsarás, talvez, com zanga. No teu hall escuro longamente o braço, trêmulo, se recusa a entrar na manga. Sairei correndo, lançarei meu corpo à rua. Transtornado, tornado louco pelo desespero. Não o consintas, meu amor, meu bem, digamos até logo agora. De qualquer forma o meu amor – duro fardo por certo – pesará sobre ti onde quer que te encontres. Deixa que o fel da mágoa ressentida num último grito estronde. Quando um boi está morto de trabalho ele se vai e se deita na água fria. Afora o teu amor para mim não há mar, e a dor do teu amor nem a lágrima alivia. Quando o elefante cansado quer repouso ele jaz como um rei na areia ardente. Afora o teu amor para mim não há sol, e eu não sei onde estás e com quem. Se ela assim torturasse um poeta, ele trocaria sua amada por dinheiro e glória, mas a mim nenhum som me importa afora o som do teu nome que eu adoro. E não me lançarei no abismo, e não beberei veneno, e não poderei apertar na têmpora o gatilho. Afora o teu olhar nenhuma lâmina me atrai com seu brilho. Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal, que incendiei de amor uma alma livre, e os dias vãos – rodopiante carnaval – dispersarão as folhas dos meus livros... Acaso as folhas secas destes versos far-te-ão parar, respiração opressa? Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa. VANGUARDAS EUROPEIAS Futurismo Trechos do Manifesto Futurista de 1912, O Manifesto Técnico da Literatura destruição da sintaxe, dispondo os substantivos ao acaso, como nascem; uso do o verbo no infinitivo, para que se adapte elasticamente ao substantivo e não o submeta ao eu do escritor, que observa ou imagina. O verbo no infinitivo pode, sozinho, dar o sentido da continuidade da vida e a elasticidade da intuição que a percebe; abolição do adjetivo para que o substantivo desnudo conserve a sua cor essencial. O adjetivo é incompatível com a nossa visão dinâmica, uma vez que supõe uma parada, uma meditação; abolição do advérbio, velha fivela que une as palavras umas às outras. O advérbio conserva a frase numa fastidiosa unidade de tom; a da pontuação, que será substituída por sinais da matemática (+, -, =, #, ˂, ˃) e pelos sinais musicais; destruição do eu psicologizante. VANGUARDAS EUROPEIAS Futurismo Ode triunfal (Fernando Pessoa) À dolorosa LUZ das grandes lâmpadas elétricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! [...] Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como um máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! [...] Manifesto Intervencionista, de Carlo Carrá ,1914. Colagem sobre papelão. Encontra-se em milão. Mar dança, de Gino Severini VANGUARDAS EUROPEIAS Abstracionismo o artista deixa de representar, de uma vez por todas, a realidade exterior; as cores e as formas passam a ser vistas como entidades autônomas com valor próprio; o quadro deixa de ter a realidade como referencial e vale por si mesmo. É uma superfície com formas e cores, mas sem tema reconhecível. Kandinsky foi o artista mais importante dessa tendência. VANGUARDAS EUROPEIAS Abstracionismo Composição VIII – 1923 – Óleo sobre tela Capricho – 1930 – Óleo sobre tela de Kandinsky VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo Fundado na Suíça em 1916, foi o mais radical dos movimentos de vanguarda; A palavra "Dadá", escolhida por Tristan Tzara, líder do movimento, pode significar várias coisas, como por exemplo: rabo de vaca santa, ama de leite, mãe etc.; o próprio Tristan disse que "Dadá" não significa nada. Segundo ele essa palavra foi encontrada casualmente quando ele abriu um dicionário; os dadaístas não propõem nada, exceto a destruição do passado, do presente e do futuro; total falta de perspectiva diante da guerra. VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo (a antiarte) Os Dadaístas são contra as teorias, as ordenações lógicas, os manifestos e pouco se importavam com o leitor. O importante para eles era criar palavras que rompiam com as barreiras da sonoridade. O importante era o urro contra a guerra e contra o capitalismo burguês. Para se ter uma idéia da importância do urro para os Dadaísta basta mencionar o prefácio da obra "Paulicéia Desvairada" de Mário de Andrade, onde ele diz o seguinte sobre o poema Ode ao buguês: "Quem não souber urrar não leia 'Ode ao burguês". Marcel Duchamp é um dos representantes dadá com a técnica do ready-made. VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo A técnica do ready-made consiste em transformar em obra de arte objetos do cotidiano, satirizando o mito mercantilista do capitalismo. Essa técnica deu origem á Arte Pop. VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo Na literatura: Agressividade; Improvisação; Desordem; rejeição a qualquer tipo de racionalização e equilíbrio; livre associação de palavras (técnica de escrita automática, que mais tarde seria aproveitada pelo Surrealismo); invenção de palavras com base na exploração apenas de sua sonoridade. VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo Confira a "receita" para se fazer um poema dadaísta segundo Tristan Tzara: Para fazer um pema dadaísta Peque um jornal. Peque a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo Veja um exemplo de poema dessa proposta – Die Schlacht (A batalha), de Ludwig Kassak: Berr... bum, bumbum, bum... Ssi... Bum, papapa bum, bumm Zazzau... Dum, bum, bumbumbum Prä, prä, prä... Ra, hä-hä, aa... Harol... VANGUARDAS EUROPEIAS Dadaísmo Entre os dadaístas tem destaque também André Breton. A orientação anarquista e niilista do movimento, bem como a falta de um programa de arte, não lhe permitiu longa duração. Tristan Tzara e André Breton desentenderam-se. Como a guerra terminara há alguns anos, era hora de reconstruir o que fora demolido: a Europa e a Arte. Tzara insistia em manter a linha original do movimento; Breton, rompendo com o Dadaísmo, abandonou o grupo para criar o movimento surrealista, uma das mais importantes correntes do século XX. VANGUARDAS EUROPEIAS Surrealismo O Surrealismo foi o último dos movimentos de vanguarda. Surgiu em 1924, em Paris, quando André Breton lançou o Manifesto do Surrealismo. O movimento nasceu de uma ruptura com o Dadaísmo. Breton e outros artistas como Louis Aragon e Salvador Dali achavam que a ação demolidora deveria ser somente uma das etapas do processo criativo. Queriam elaborar uma nova cultura, encontrar um caminho de acesso às zonas profundas do psiquismo humano. Questionando a sociedade e a arte, eles se propunham destruí-la, para recriá-la a partir de técnicas renovadoras. Os surrealistas procuravam fundir a imaginação, que dorme no inconsciente com a razão: a fantasia e a realidade unidas permitiriam captar uma super-realidade. VANGUARDAS EUROPEIAS Surrealismo Duas linhas de atuação: as experiências criadoras automáticas e o imaginário extraído do sonho, buscando liberar o artista dos limites da razão. André Breton, Salvador Dali, Juan Miró são representantes do movimento. VANGUARDAS EUROPEIAS Surrealismo VANGUARDAS EUROPEIAS Surrealismo VANGUARDAS EUROPEIAS No Brasil, vários escritores foram influenciados pelas idéias surrealistas, tais como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima. No poema ao lado de Murilo Mendes, pode-se perceber algumas características do Surrealismo, como o ilogismo, o absurdo, as imagens surpreendentes, a atmosfera onírica. Pré-História Murilo Mendes Mamãe vestida de rendas Tocava piano no caos Uma noite abriu as asas Cansada de tanto som, Equilibrou-se no azul, De tonta não mais olhou Para mim, para ninguém! Cai no álbum de retratos. VANGUARDAS EUROPEIAS Referências: TUFANO, Douglas. Estudos de língua e literatura. 5. ed. Volume 3. São Paulo: Moderna, 1998. CEREJA, William Roberto; COCHAR, Thereza. Português: linguagens. São Paulo: Atual, 2003. TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e Modernismo brasileiro. 10 ed. Rio de Janeiro: Record, 1987. http//.www.google/search