O CONTEXTO DA ESCOLA PÚBLICA E A RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO HUMANO E A MELHORIA DA QUALIDADE DE ENSINO Luciana Lucci de Oliveira1, Maria Aparecida Campos Dinis de Castro2, Marcia Maria Dias Reis Pacheco 3 1 Mestranda em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais- PRPPG- Universidade de Taubaté- Rua Visconde do Rio Branco, 210- Centro- 12020-040- Taubaté/SP, [email protected] 2 do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação Política e Práticas Sociais- PRPPGUniversidade de Taubaté - Rua Visconde do Rio Branco, 210- Centro- 12020-040- Taubaté/SP, [email protected] 3 Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação Política e Práticas SociaisPRPPG- Universidade de Taubaté - Rua Visconde do Rio Branco, 210- Centro- 12020-040- Taubaté/SP, [email protected] Resumo- Este artigo tem por finalidade fazer uma análise dos contextos escolares a partir da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (2005), estabelecendo relação entre o contexto da escola pública, desenvolvimento humano e a melhoria da qualidade de ensino. O estudo apresenta uma revisão bibliográfica a partir de um estudo aprofundado da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Bonfrebrenner, e da literatura já publicada sobre os processos de ensino e aprendizagem. A partir da análise conclui-se que é no ambiente escolar que as pessoas vivenciam uma boa parte de tempo de suas vidas e que se todos os profissionais da educação tiverem conhecimento dessa teoria, possivelmente, os processos escolares poderão se tornar mais qualitativos e consequentemente tal qualidade poderá impactar de forma positiva as condições de desenvolvimento humano. Palavras-chave: Escola Pública. Qualidade de Ensino. Desenvolvimento Humano. Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução Atualmente, muitos são os debates sobre a qualidade da educação que está sendo oferecida em nosso País. Nesse estudo o foco estará voltado para a relação existente relação entre o desenvolvimento humano e a qualidade da educação que é oferecida em nosso sistema educacional. Qualidade essa que é almejada não só pelos Sistemas Educacionais, bem como, pela própria sociedade. Para tanto, nesse estudo será apresentada uma análise dos contextos escolares mediante a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (2005). Esse autor defende a ideia de que o processo de desenvolvimento humano é resultado das relações entre os cenários ou entorno imediatos e contextos sociais mais amplos em que os indivíduos estão expostos. Metodologia Neste artigo é apresentada uma revisão bibliográfica a partir de um estudo aprofundado da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Bonfrebrenner, e da literatura já publicada sobre os processos de ensino e aprendizagem. Para tanto, foram realizados estudos em bancos de teses e dissertações, livros, artigos em revistas e navegações pela internet. É um estudo de natureza básica, porque se destina a suscitar conhecimentos atualizados e relevantes quanto à relação entre a qualidade de ensino e o desenvolvimento humano. Do ponto de vista dos objetivos, caracteriza-se como pesquisa exploratória porque proporciona uma visão geral e aproximada do tema explorado. Resultados e Discussão O ambiente ecológico é concebido em estruturas, cada uma delas contidas em outras estruturas maiores: o microssistema, por exemplo, compreende a relação entre a pessoa em desenvolvimento e o ambiente imediato no qual ela está inserida. Ex: a família, escola, trabalho (BRONFENBRENNER, 1977, apud, SIFUENTES, et al 2007, p. 383). Se a escola é concebida como microssistema, parece-nos relevante a indagação sobre o que determina o desempenho do professor na prática de sala de aula, lugar privilegiado no qual se realiza o ato pedagógico escolar. Para ela afluem XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1 as contradições do contexto social, os conflitos psicológicos, as questões éticas e políticas e as concepções valorativas daqueles que integram o cenário pedagógico: o professor e os alunos (CUNHA, 1989). A concepção de ensino e as práticas realizadas pelo professor poderão ser diferenciadas conforme determinadas situações, como diante dos resultados apresentados, por exemplo, por um instrumento que aponta necessárias mudanças nas estratégias de ação em torno dos processos de ensino e aprendizagem ora praticados. A hipótese de que aprender não é estar em atitude contemplativa ou absorvente frente aos dados apresentados, pode levar o sujeito a estar ativamente envolvido na interpretação dos mesmos, buscando os pontos frágeis que merecem especial atenção e atitudes renovadoras. Tudo parece indicar que para se chegar a isto é preciso caminhar em direção de se colocar como sujeito ativo de um processo, e se mostrar interessado em investigar sua própria prática, com o intuito de refletir sobre ela e fazer o delineamento de novos rumos visando maior qualidade na ação pedagógica vivida na sala de aula. Hernández (1998), em artigo sobre o modo como os docentes aprendem, convida a pensar que não se trata apenas de saber como os docentes aprendem, mas é essencial considerar em que condições eles o fazem ou têm em suas escolas, para integrar o aprendido às suas práticas cotidianas. As interações entre colegas de trabalho, as condições materiais e organizacionais da escola, a disponibilidade e incentivo da equipe gestora para aceitar e implementar inovações são alguns dos fatores que podem facilitar ou mesmo dificultar a inclusão de novas práticas em sala de aula, em decorrência de ações formadoras. Assim o pensar sobre os saberes e fazeres docentes em sala de aula possibilitam maiores esclarecimentos e mesmo confirmações sobre os processos de ensino e aprendizagem, entre professores e alunos. E, especialmente, verificar os tipos de iniciativas adotadas (voluntárias ou não) pelos docentes favorecendo a reflexão sobre seu fazer, seus sucessos e suas dificuldades no trabalho pedagógico, que de certa forma podem ter contribuído para resultados alcançados pelos alunos e que refletem sobremaneira na qualidade do ensino que é oferecido pelos sistemas educacionais. Múltiplas são as possibilidades de responder a tal situação. No entanto, é interessante penetrar no universo escolar, para então, analisar as formas de agir dos docentes diante de tais circunstâncias, identificando os elementos estimuladores de mudanças no espaço de trabalho do professor, permitindo a busca de caminhos ainda não trilhados que possibilitam novos e melhores resultados. Assim, as interações entre os professores e as relações de trabalho, as reflexões sobre a prática docente com perspectivas de mudanças, se torna conveniente, nesse sentido, um detalhamento sobre a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, de Bronfrenbrenner, irá contribuir de forma significativa para a compreensão e interpretação teórica e prática de como se dá o desenvolvimento humano relacionado ao desenvolvimento profissional docente. 2.6.1 A Teoria Bioecológica Desenvolvimento Humano do A teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano na perspectiva de Bronfrenbrenner, já foi muitas vezes reformulada e reestruturada devido à visão crítica do próprio teórico. Num primeiro modelo teórico, Bronfrenbrenner, concebia o ambiente como o foco principal, ou seja, o contexto em que o indivíduo estivesse inserido e a forma como ele o percebia era o fator determinante na compreensão do desenvolvimento. Em seguida, além do foco no ambiente, ele passa a dar ênfase aos aspectos do desenvolvimento vinculados à pessoa, e assim, é gerada uma evolução da teoria que amplia mais uma vez o entendimento do desenvolvimento humano a partir da inter-relação entre quatro aspectos: processo, pessoa, contexto e tempo, ou seja, o modelo - PPCT (KOLLER, 2007). No sentido de conceituar esse sistema de desenvolvimento integrado, Bronfenbrenner acreditava que, da mesma forma que todos os componentes desse modelo deviam ser incluídos em qualquer especificação conceitual do dinâmico sistema do desenvolvimento humano, também deviam investigar o papel de todos eles para prover informações adequadas à compreensão do desenvolvimento humano (LERNER, 2005, p. 25) E foi também a partir dessa evolução que o estudo deixa de ser caracterizado como “Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano”, passando ao status de “Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano” e o processo proximal é o principal conceito que ganha destaque, sendo considerado como o primeiro mecanismo de desenvolvimento humano (COPPETTI & KREBS, 2004 apud KOLLER, 2007). Assim, torna-se imperioso realizar um detalhamento de cada conceito contemplado nessa teoria, a fim de proporcionar um melhor XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 2 entendimento das questões suscitadas nesse estudo. Inicialmente será apresentado o conceito de Processo que segundo Bronfrenbrenner (2005), Ao longo do curso de vida, o desenvolvimento humano acontece através de processos de interações recíprocas progressivamente mais complexas entre um organismo humano ativo, em evolução biopsicológica, e pessoas, objetos e símbolos no seu ambiente externo imediato. Para ser efetiva, a interação deve ocorrer numa base consideravelmente regular, através de longos períodos de tempo. Tais formas duradouras de interação no ambiente imediato são definidas como processos proximais (Bronfenbrenner, 2005, apud KOLLER, 2007). Segundo Koller (2007) os processos proximais são formas particulares de interação entre o organismo e o ambiente que operam ao longo do tempo, mantendo certa estabilidade e reciprocidade, ou seja, eles são considerados os motores primários do desenvolvimento. Na tentativa de relacionar esse construto da teoria ao contexto escolar que é um dos principais focos desse estudo, pode se afirmar que os processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos em sala de aula, se constituem em processos proximais, pois mantém interações estáveis e recíprocas entre professor e aluno. Com relação a Pessoa, talvez o conceito mais importante seja o de interação, pois Bronfenbrenner (2005) usou esse termo com uma conotação espiral, multicausal e processual, e ele descreve o ser humano como um ser biológico e psicológico que interage constantemente com o ambiente e que também é produto dessa interação. Assim, interação significa mais do que uma relação simples e pontual, porque implicam alterações em ambas as partes envolvidas (KOLLER, 2007). Nesse sentido, mais uma vez relacionando o construto de Pessoa da teoria ao tema em questão, destaca-se para as relações desenvolvidas entre professor-aluno, professorprofessor, aluno-aluno e ainda, a relação entre esses sujeitos com o ambiente escolar, com o material didático utilizado, os conteúdos curriculares, enfim, são relações entre pessoas, símbolos e contextos que ao mesmo tempo influenciam podendo ocasionar mudanças qualitativas, e também sofrem influências e transformações. Nesse momento, será ressaltado o conceito de Contexto. Para tanto será dado crédito aos estudos de Koller (2007), a qual a partir da teoria de Bronfenbrenner, defende a ideia de que o ambiente tem papel decisivo no desenvolvimento humano, em termos físico, sociais e culturais. Desse modo, a relação entre pessoa e ambiente é multidirecional com ambos os elementos se interinfluenciando, no qual o indivíduo tem um papel ativo e intencional. Nesse sentido, a pessoa interage em vários níveis de complexidade, os quais Bronfenbrenner, subdividiu em quatro níveis de contextos: Microssistemas, Mesossistemas, Exossistemas e Macrossistemas (KOLLER, 2007, p. 162). Assim, segundo o próprio teórico Bronfenbrenner Um microssistema é um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experienciadas pela pessoa em desenvolvimento nos contextos nos quais estabelece relações face a face com suas características física e materiais, e contendo outras pessoas com distintas características de temperamento, personalidade e sistemas de crenças. O mesossistema compreende as ligações e os processos que ocorrem entre dois ou mais ambientes, os quais contêm a pessoa em desenvolvimento (p. ex., as relações entre casa e escola, escola e local de trabalho). Em outras palavras, o mesossistema é um sistema formado por vários microssistemas. O exossistema engloba as ligações e os processos que ocorrem entre dois ou mais contextos, nos quais pelo menos um deles não contém ordinariamente a pessoa em desenvolvimento, mas nele ocorrem eventos que influenciam os processos no contexto imediato a que essa pessoa pertence. [...] O macrossistema consiste no padrão global de características de micro, meso, e exossistema de determinada cultura, subcultura ou contexto social mais amplo, em particular os sistemas instigadores de desenvolvimento de crenças, recursos, riscos, estilos de vida, oportunidade estruturais, opções de curso de vida e os padrões de intercâmbio social que são imersas em cada um desses sistemas. O macrossistema pode ser definido como um modelo social para determinada cultura, subcultura ou outro contexto mais amplo (BRONFENBRENNER, 2011, p. 176-177). Novamente, relacionando cada nível de contexto da teoria às questões desse artigo, pode se configurar como microssistema as relações de sala de aula; como mesossistema as relações entre os professores e as famílias dos alunos; como exossistema as diretrizes curriculares definidas nos âmbitos das secretarias educacionais e como macrossistema todo o contexto social em que a escola está inserida. Para finalizar a análise será apresentado o conceito de Tempo, o qual é denominado pela teoria bioecológica como cronossistema. Esse conceito se refere ao conceito de um envolvimento interconectado da pessoa em seu ambiente com os processos ao longo da vida. E que também possibilita analisar as influências no XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 3 desenvolvimento da pessoa, ou seja, as mudanças e/ou continuidades decorridas ao longo do tempo no ambiente no qual a pessoa está inserida (KOLLER, 2007, p. 162). E para corroborar a definição de cronossistema, segundo Bronfenbrenner (2011), [...] o seu delineamento permite identificar o impacto de eventos e experiências anteriores, isolada o sequencialmente, no desenvolvimento subseqüente. Essas experiências podem ter suas origens no ambiente externo (p. ex., o nascimento de um irmão) ou dentro do organismo (p. ex., a primeira menstruação) (BRONFENBRENNER, 2011, p. 117). Ainda sobre o conceito de cronossistema, Bronfenbrenner se ancora nos estudos de Baltes (1979) que diferencia as experiências chamadas por ele de normativas (entrada na escola, puberdade, entrada no mercado de trabalho, casamento, aposentadoria) das experiências nãonormativas (uma morte ou doença grave na família, divórcio, mudança, ganhar na loteria), pois para esse estudioso eventos desses dois tipos acontecem durante toda a vida, podendo por muitas vezes servir como estímulos para mudanças no desenvolvimento (BRONFENBRENNER, 2011, p. 117). E aí, mais uma vez relacionando o conceito teórico ao estudo pode se comparar aos eventos que acometem alunos, professores, pessoas e símbolos que façam parte do contexto escolar, pois todas as pessoas estão sujeitas a passarem por experiências normativas e não-normativas que certamente vão influenciar no processo de desenvolvimento. Ainda com relação ao conceito apresentado acima, destaca-se para as situações conflituosas que assolam os contextos escolares. Desse modo, tais experiências podem ser causadoras desses conflitos, como esses conflitos podem gerar tais experiências de vida no sujeito. Com isso, se professores, gestores, enfim, todos os profissionais da educação tiverem conhecimento do processo de desenvolvimento, segundo a teoria foco desse estudo, possivelmente os processos escolares poderão se tornar mais qualitativos e consequentemente tal qualidade poderá impactar de forma positiva as condições de desenvolvimento humano. Referências - BRONFENBRENNER. U. Bioecologia do desenvolvimento humano: tornando os seres humanos mais humanos. Trad. André de Carvalho-Barreto. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 310. - CUNHA, M. I. O Bom Professor e sua Prática. Campinas: SP: Papirus, 1989. (Magistério: formação e trabalho pedagógico). - HERNÁNDEZ, F. Como os docentes aprendem. Pátio Revista Pedagógica. Porto Alegre, ano I, n.4 fev/ abr, 1998. - KOLLER. S. H. et al. Revisando a Inserção Ecológica: Uma Proposta de Sistematização. Psicologia: Reflexão e Crítica, n. 21(1), p. 160-169, 2007. - SIFUENTES.T. R.; DESSEN. M. O.; OLIVEIRA. M. C. S. L. Desenvolvimento Humano: Desafios para a Compreensão das Trajetórias Probabilísticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Out-Dez 2007, v. 23 n. 4, p. 379-386. Conclusão Concluindo a análise proposta pode se afirmar que a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, de Bronfenbrenner, pode contribuir bastante para as interpretações sobre o desenvolvimento humano, especialmente, quando relacionada aos contextos escolares, pois é no ambiente escolar que as pessoas vivenciam uma boa parte de tempo de suas vidas estabelecendo inter-relações entre processos, pessoas, contextos e tempo que certamente irão compor todo o processo de desenvolvimento de todos os sujeitos envolvidos. XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 4