Diabetes
Insulina, glucagon e glicose sangüínea
Como a diabetes é uma doença que afeta a habilidade do corpo de usar glicose, vamos começar
vendo o que é glicose e como seu corpo a controla. Glicose é um açúcar simples que fornece energia para
todas as células do seu corpo. As células captam a glicose do sangue e a quebram para obter energia. Algumas células, como as células cerebrais e as células sangüíneas vermelhas, dependem somente da glicose para combustível. A glicose do sangue vem do alimento que você come.
Quando você come um alimento, a glicose é absorvida pelos intestinos e distribuída através da corrente sangüínea para todas as células do corpo. Seu corpo tenta manter um suprimento constante de glicose para as células, mantendo uma concentração constante de glicose no sangue, caso contrário, as células
teriam mais glicose do que o necessário logo após a refeição e ficariam sem nada entre as refeições e durante a noite. Portanto, quando você tem um suprimento excessivo de glicose, o corpo armazena o excesso
no fígado e nos músculos fabricando glicogênio, que é feito de cadeias longas de glicose. Quando as reservas de glicose estão baixas, seu corpo mobiliza a glicose armazenada como glicogênio e/ou estimula você a comer. O importante é manter um nível constante de glicose no sangue.
Para manter um nível constante de glicose no sangue, seu
corpo depende de dois hormônios produzidos no pâncreas que
têm ações opostas: insulina e glucagon.
Pâncreas
Seu pâncreas está localizado no abdome, abaixo do estômago. Produz muitas enzimas digestivas que quebram os alimentos (função exócrina) e hormônios (função endócrina) que
regulam a glicose no sangue.
Insulina é feita e secretada pelas células beta das ilhotas pancreáticas, pequenas ilhas de células endócrinas no pâncreas. A
insulina é um hormônio protéico que contém 51 aminoácidos. Ela
é necessária para quase todas as células do corpo, mas seus
principais alvos são as células do fígado, células adiposas e células musculares. Nessas células, a insulina faz o seguinte:
* estimula as células do fígado e dos músculos a armazenar
glicose em forma de glicogênio;
* estimula as células adiposas a formar gorduras a partir de
O pâncreas tem muitas ilhotas que
ácidos graxos e glicerol;
* estimula as células do fígado e dos músculos a fazer proteí- contêm células beta produtoras de insulina e células alfa produtoras de glunas a partir de aminoácidos;
* impede as células do fígado e dos rins de fazer glicose a partir de compostos intermediários das vias metabólicas (gliconeogênese).
Desse modo, a insulina armazena os nutrientes logo após uma refeição, diminuindo assim as concentrações de glicose, ácidos graxos e aminoácidos na corrente sangüínea.
Glucagon
Em concentrações muito altas, geralmente acima dos níveis máximos encontrados no corpo, o glucagon pode agir sobre as células adiposas degradando as gorduras em ácidos graxos e glicerol, liberando os
ácidos graxos na corrente sangüínea. Contudo, isso é um efeito farmacológico e não fisiológico.
Então, o que acontece quando você não come? Quando está em jejum, o pâncreas libera glucagon para
que seu corpo possa produzir glicose. O glucagon é outro hormônio protéico feito e secretado pelas células
alfa das ilhotas pancreáticas. O glucagon age nas mesmas células que a insulina, mas tem efeitos opostos:
* estimula o fígado e os músculos a quebrarem o glicogênio armazenado (glicogenólise) e liberar glicose;
* estimula a gliconeogênese no fígado e rins.
Diferente da insulina, o glucagon mobiliza glicose das reservas de dentro do corpo e aumenta as concentrações de glicose na corrente sangüínea; caso contrário, a glicose do seu sangue cairia para níveis perigosamente baixos.
E como o seu corpo sabe quando deve secretar
glucagon ou insulina? Normalmente, os níveis de insulina
e glucagon são equilibrados na corrente sangüínea. Por
exemplo, logo após comer uma refeição seu corpo está
pronto para receber a glicose, ácidos graxos e aminoácidos absorvidos da comida. A presença dessas substâncias no intestino estimula as células beta do pâncreas a
liberarem insulina no sangue e impedir as células pancreáticas alfa de secretarem glucagon. Os níveis de insulina no sangue começam a subir e agem sobre as células
(particularmente do fígado, adiposas e musculares) para
que absorvam as moléculas de glicose, ácidos graxos e
aminoácidos que estão entrando. Essa ação da insulina
impede que a concentração de glicose no sangue (assim
como as concentrações de ácidos graxos e de aminoácidos) aumentem substancialmente na corrente sangüínea.
Desse modo, seu corpo mantém uma concentração constante de glicose sangüínea em particular.
Por outro lado, quando você está entre as refeições
ou dormindo, seu corpo fica essencialmente em inanição.
Suas células precisam de suprimentos de glicose do sangue para continuar funcionando. Durante esses períodos,
pequenas quedas nos níveis de açúcar do sangue estiA insulina e o glucagon têm efeitos opostos
mulam a secreção de glucagon pelas células alfa pansobre o fígado e outros tecidos no controle
creáticas e inibem a secreção de insulina das células bedos níveis de glicose sangüínea
ta. Os níveis de glucagon no sangue aumentam. Ele age
sobre os tecidos do fígado, músculos e rins para mobilizar
glicose a partir de glicogênio ou para fazer glicose que
seja liberada no sangue. Essa ação impede que a concentração de glicose no sangue caia drasticamente.
Como você pode ver, o intercâmbio entre a secreção de insulina e de glucagon ao longo do dia ajuda
a manter a concentração de glicose do seu sangue constante, ficando em cerca de 90 mg por 100 ml de
sangue (5 milimolares).
Teste de tolerância à glicose
O teste de tolerância à glicose é um teste de diagnóstico para diabetes. Após passar a noite em jejum, você
colhe uma glicemia de jejum e recebe para beber uma solução com alta concentração de açúcar (75 gr de
glicose) e é colhida nova glicemia após 2 horas. O teste de tolerência oral à glicose é considerado positivo
quando a glicemia fica acima de 200 mg/dl após 120 min. Normalmente, a glicose não sobe muito e retorna
ao normal após duas a três horas. Em um diabético, a glicose sangüínea é geralmente mais alta após o jejum, sobe mais depois de ingerir a solução de glicose e leva quatro a seis horas para descer.
Diabetes
Agora que você sabe como seu corpo lida com a glicose usando insulina e glucagon está pronto para
compreender a diabetes. A diabetes é classificada em três tipos: tipo 1, tipo 2 e gestacional.
Tipo 1, também chamado de diabete juvenil ou diabete insulino-dependente, é causado por uma falta de
insulina. Esse tipo é encontrado em 5% a 10% dos diabéticos e geralmente ocorre em crianças e adolescentes. Os diabéticos tipo 1 têm um teste de tolerância à glicose positivo e glicemia de jejum elevados. Nos
diabéticos tipo 1, as células beta das ilhotas pancreáticas são destruídas, possivelmente pelo próprio sistema imunológico do indivíduo ou por fatores genéticos ou ambientais.
Tipo 2, também chamado de diabetes do adulto ou diabetes não dependente de insulina, ocorre quando o
corpo não responde à sua própria insulina (resistência à insulina). O tipo 2 ocorre em 90 a 95% dos diabéticos e geralmente em adultos acima dos 40 anos, mais freqüentemente entre os 50 e 60 anos de idade. Os
diabéticos tipo 2 têm um teste de tolerância à glicose positivo e glicemias de jejum elevadas. Nos diabéticos tipo 2 a resistência à insulina está vinculada à obesidade, provavelmente por uma alteração da sensibilidade e do número de receptores de insulina. Alguns estudos sugerem que o número de receptores de insulina nas células do fígado, adiposas e musculares está reduzido, enquanto que outros sugerem que as
vias intracelulares ativadas pela insulina nessas células estão alteradas.
Diabetes gestacional pode ocorrer em algumas mulheres grávidas e é similar a diabetes tipo 2. As diabéticas gestacionais têm um teste de tolerância à glicose positivo e glicemia de jejum. Durante a gravidez, vários hormônios bloqueiam parcialmente as ações da insulina, deixando assim a mulher menos sensível à sua
própria insulina. Ela desenvolve uma diabetes que pode ser tratada com uma dieta especial e/ou injeções
suplementares de insulina. Geralmente, o problema desaparece depois que nasce o bebê.
Independente do tipo da diabetes, os diabéticos exibem vários, mas não necessariamente todos dos
sintomas a seguir:
* sede excessiva (polidipsia)
* urina freqüente (poliúria)
* fome extrema (polifagia)
* perda de peso inexplicável
* presença de glicose na urina (glicosúria)
* cansaço ou fadiga
* alterações na visão
* dormência ou formigamento nas extremidades (mãos e pés)
* demora para cicatrizar feridas e machucados
* freqüência de infecções mais alta do que a normal
Esses sintomas podem ser compreendidos quando observamos como a deficiência de insulina ou a
resistência à insulina afetam a fisiologia do corpo.
Inefetividade da insulina
Agora que você conhece os sintomas da diabetes
(alto nível de glicose no sangue, fome e sede excessiva,
urina freqüente) vamos ver o que acontece com seu corpo
durante a diabetes. Para facilitar a discussão, vamos supor
que você tenha uma diabetes que não foi diagnosticada e,
portanto, não está sendo tratada.
Vamos ver como a falta de insulina ou resistência à
insulina afeta seu corpo para produzir os sintomas e sinais
clínicos da diabetes.
- Causa diretamente altos níveis de glicose no sangue durante o jejum e após uma refeição (tolerância à glicose reduzida).
- Suas células não absorvem glicose da corrente sangüínea,
o que faz com que você tenha altos níveis de glicose no O alto nível de glicose sangüínea na diabesangue.
tes produz glicose na urina e faz a pessoa
- Como não tem glicose proveniente do sangue entrando urinar freqüentemente pelo efeito osmótico
nas células, seu corpo "pensa" que está faminto.
nos rins
- Suas células alfa do pâncreas secretam glucagon e os
níveis de glucagon no sangue aumentam.
- Glucagon age no fígado e nos músculos quebrando o glicogênio armazenado e liberando glicose no sangue.
- O glucagon também age no fígado e nos rins para produzir e liberar glicose através da gliconeogênese.
As duas ações do glucagon aumentam ainda mais os níveis de glicose no sangue.
O alto nível de glicose no sangue faz com que apareça glicose na sua urina:
* os altos níveis de glicose no sangue aumentam a quantidade de glicose filtrada pelos seus rins;
* a quantidade de glicose filtrada excede a quantidade que os rins podem reabsorver;
* o excesso de glicose fica perdido na urina e pode ser detectado por medidores de glicose em tiras. Veja
em Como funcionam os rins detalhes sobre filtração e reabsorção.
O alto nível de glicose no sangue faz com que você urine freqüentemente:
* o alto nível de glicose no sangue aumenta a quantidade de glicose filtrada pelos rins;
* como a carga filtrada de glicose nos rins excede a quantidade que esses podem absorver, a glicose
permanece dentro do lúmen tubular;
* a glicose no túbulo retém água, o que aumenta o fluxo de urina através do túbulo;
* o aumento do fluxo de urina faz com que você urine freqüentemente.
O alto nível de glicose no sangue e o aumento do
fluxo de urina fazem você ficar constantemente sedento:
* os altos níveis de glicose no sangue aumentam a pressão osmótica do sangue e estimulam diretamente os receptores de sede no seu cérebro;
* o aumento no fluxo de urina faz com que você perca
sódio corporal, o que também estimula os receptores de
sede;
* você fica constantemente faminto. Não está claro exatamente o que estimula os centros de fome do seu cérebro,
possivelmente, a falta de insulina ou os altos níveis de glucagon;
* você perde peso apesar de estar comendo mais freqüentemente. A falta ou resistência à insulina estimulam
diretamente a degradação de gorduras nas células adiposas
e de proteínas nos músculos, levando à perda de peso;
* O metabolismo dos ácidos graxos leva à produção de
corpos cetônicos liberados (cetoacidose), o que pode levar
a problemas respiratórios, cheiro de acetona no seu hálito,
irregularidades no seu coração e depressão do sistema nervoso central, o que leva ao coma;
A falta ou resistência à insulina age sobre
* você se sente cansado porque suas células não conse- muitos órgãos, produzindo uma variedade
guem absorver glicose, deixando-as sem combustível para de efeitos
obter energia;
* Os altos níveis de glicose sangüínea aumentam a pressão osmótica do seu sangue;
* O a pressão osmótica aumentada atrai água dos tecidos, fazendo com que fiquem desidratados;
* A água do seu sangue se perde nos rins através da urina, o que diminui o volume sangüíneo;
* A redução no volume sangüíneo deixa seu sangue mais espesso (concentração mais alta de células
sangüíneas vermelhas), com uma consistência parecida com a do melado e com mais resistência ao fluxo
(má circulação);
* A má circulação de sangue causa dormência nas mãos e pés, alterações na visão, os ferimentos demoram para cicatrizar e você tem infecções freqüentes. O alto nível de glicose no sangue também pode deprimir o sistema imunológico. Por fim, isso pode levar a gangrena dos membros e cegueira.
Felizmente, pode-se lidar com essas conseqüências corrigindo a glicose sangüínea elevada através
de dieta, exercícios e medicamentos, como discutiremos a seguir.
Download

Diabetes - Prof. Dorival