QUALIDADE PERCEBIDA E A IMAGEM DE MARCAS: UMA ALTERNATIVA PARA ALIVIAR A CRISE DA COMUNICAÇÃO DE MASSA AUTORES: INSTITUIÇÃO: ENDEREÇO: CRISTINA MARIA ALCÂNTARA DE BRITO E SÉRGIO C. BENÍCIO DE MELLO (CMA/ UFPE) R. Dom Bosco, 632, aptº 603 - Boa Vista - Recife/PE CEP: 50070-070 E-mail: [email protected] Telefone: (081) 222-3148/ FAX: (081) 462-5742 RESUMO: A comunicação de massa parece não ter mais respostas para o novo mercado que se delineia, gerando consumidores confusos frente à proliferação de marcas. Neste sentido, é fundamental repensar os conceitos que até então nortearam o processo de criação de mensagens, onde uma alternativa para aliviar esta crise talvez perpasse pela construção de imagens positivas na busca pelo fortalecimento das marcas. Uma das formas de criação e solidificação de marcas, por sua vez, consiste na transmissão de imagens positivas através da comunicação. É no estudo da construção destas imagens que este artigo se explica, propondo a investigação de associações entre atributos de produto (intrínseco x extrínseco) e conceitos de marca (funcional x simbólico) na formação de uma imagem positiva através da comunicação. Após uma leitura preliminar sobre identidade de marca, percepção de qualidade e comunicação, acreditamos que a comunicação de marcas com conceitos predominantemente funcionais tendem a gerar uma imagem mais positiva se a mensagem enfocar os atributos intrínsecos, enquanto que, em se tratando de marcas com conceitos predominantemente simbólicos, a comunicação de atributos extrínsecos poderia ser mais adequada. ABSTRACT: Mass communication seems not to have answers for the new market arising, generating consumers confused front to the proliferation of brands. In this sense, it is paramount to rethink the concepts that until now have guided the process of message development. An alternative to alleviate this crisis perhaps passes through the construction of positive images in the search for brand empowerment. One of the main ways of building and strengthening brands consists on the transmission of positive images through communication. Based on the study of brand image development, this paper is justified, proposing the investigation of associations among product attributes (intrinsic versus extrinsic) and brand concepts (functional versus symbolic) when building a positive image through communication. After a preliminary reading on brand identity, quality perception and communication, we believe that the communication of brands with predominantly functional concepts tends to generate a more positive image if the message focuses the intrinsic attributes of the product, while, when brands are predominantly symbolic, the communication of extrinsic attributes could be more appropriated. ÁREA TEMÁTICA: Matérias Básicas (Marketing) QUALIDADE PERCEBIDA E A IMAGEM DE MARCAS: UMA ALTERNATIVA PARA ALIVIAR A CRISE DA COMUNICAÇÃO DE MASSA RESUMO: A comunicação de massa parece não ter mais respostas para o novo mercado que se delineia, gerando consumidores confusos frente à proliferação de marcas. Neste sentido, é fundamental repensar os conceitos que até então nortearam o processo de criação de mensagens, onde a alternativa para aliviar esta crise talvez perpasse pela construção de imagens positivas na busca pelo fortalecimento das marcas. Uma das formas de criação e solidificação de marcas, por sua vez, consiste na transmissão de imagens positivas através da comunicação. É no estudo da construção destas imagens que este artigo se explica, propondo a investigação de associações entre atributos de produto (intrínseco x extrínseco) e conceitos de marca (funcional x simbólico) na formação de uma imagem positiva através da comunicaçã o. Após uma leitura preliminar sobre identidade de marca, percepção de qualidade e comunicação, acreditamos que a comunicação de marcas com conceitos predominantemente funcionais tendem a gerar uma imagem mais positiva se a mensagem enfocar os atributos intrínsecos, enquanto que, em se tratando de marcas com conceitos predominantemente simbólicos, a comunicação de atributos extrínsecos poderia ser mais adequada. 1. INTRODUÇÃO Desde a 2ª Guerra Mundial, a concepção da existência de um mercado massificado embasou a maioria das estratégias de marketing e comunicação. Foi a suposição de haver um mercado relativamente homogêneo, com características genéricas e necessidades similares a serem satisfeitas, que guiou até há bem pouco tempo os profissionais dessas áreas na busca por evidenciarem seus bens e serviços da concorrência. Esta crença, a de haver um mercado de massa, foi fomentada por duas forças poderosas: a produção em massa e a mídia de massa, sendo esta última conceituada como o conjunto dos meios de comunicação utilizado para atingir uma ampla gama de pessoas sem um perfil claramente definido (Schultz et al, 1994). Além disso, ela foi foi respaldada pela existência, no pós-guerra, de uma demanda reprimida pelos maios variados tipos de produtos, aumento da população, crédito fácil e instantâneo (Reitman, 1996). Paralelamente a isto, a principal função da fábrica passou a ser a fabricação em massa -quantidade era o que realmente importava (Schultz et al, 1994). As linhas de montagem e as peças permutáveis da Revolução Industrial produziam mercadorias cada vez mais parecidas entre si. O povo adquiria o que podia e nunca pensava duas vezes sobre a adequação de suas escolhas. Quando Henry Ford declarou que seus carros viriam em qualquer cor que os clientes quisessem, contanto que fossem pretos, a pressuposição era de que os indivíduos queriam apenas automóveis. Para Henry Ford e os outros fabricantes, a população parecia homogênea (Schultz et al, 1994). Com idéia da existência de um mercado massific ado, surgiram estratégias mercadológicas que se baseavam na venda de produtos padronizados, produzidos em grande quantidade, para uma gama de consumidores não-diferenciados (Schultz et al, 1994). A indústria da comunicação, por sua vez, se armava de táticas com o objetivo de 1 atingir uma vasta base de pessoas com uma única mensagem de venda distribuída pelos veículos de comunicação de massa. A propaganda tradicional na mídia de massa (TV, rádio, jornal, revista, etc.), aquela que atinge um grande público sem qualificações específicas, exceto que são todos espectadores ou leitores da publicação ou se encaixam numa descrição ampla, por sua vez, tendia a atingir indivíduos dentro de um espectro quase ilimitado de características e interesses, sendo geralmente inevitável que somente uma minoria relativamente pequena possuisse necessidades e interesses que a tornasse um verdadeiro prospect para qualquer produto ou serviço que se estivesse vendendo. Podia-se apenas esperar que, nesse grande contingente de público, houvesse um número suficiente de pessoas cujos desejos coincidissem com a oferta da empresa anunciante para resultar numa campanha promocional rentável (Holtz, 1994). Hoje, porém, observa-se claramente que a comunicação de massa está em crise. Isto se deve a um processo de “desmassificação” que vem ocorrendo desde a década de 70, fenômeno previsto inicialmente por Alvin Toffler -- criador do termo (Schultz et al, 1994). Vários fatores podem ser atribuídos a esse novo direcionamento do mercado e conseqüentemente da indústria de comunicação. A globalização da economia, o avanço da tecnologia, sobretudo, da tecnologia de informação, as mudanças demográficas, bem como o surgimento de um novo perfil de consumidor, que agora percebe o seu poder de barganha e a possibilidade de ser atendido nas suas necessidades mais particulares, remeteram à necessidade de adequar as estratégias de comunicação a esse novo estado de coisas, criando mensagens mais efetivas e que captem a atenção do público. Isto significa que as mensagens veiculadas pela mídia, e até mesmo os tipos de mídia existentes, passaram a ser repensados, cedendo espaço não só a novas técnicas de criação como também a instrumentos de veiculação igualmente mais modernos e sofisticados. O que ocorre é que, como os consumidores não estão mais alinhados em grandes grupos-alvo, simples e previsíveis (Rapp & Collins, 1991), a forma de atingi-los com uma mensagem publicitária, de sensibilizá-los, de despertar seu interesse por determinada marca em detrimento de outra, precisa ser melhor estudada. A fixação de uma marca na mente do consumidor estimulando nele um comportamento de compra precisa de maior efetividade. O empresariado, em especial, tem sentido essa problemática bem de perto. Apesar das grandes empresas reservarem uma considerável fatia do seu faturamento para comunicação, parece haver um certo descontetamento com relação ao retorno do seu investimento nessa área (Rapp & Collins, 1991). Os profissionais de marketing e de comunicação, por sua vez, parecem confusos, concentrando a divulgação da empresa em aspectos não tão sensíveis ao seu público-alvo (uma vez que, “na época do mercado de massa”, normalmente tendiam a usar uma estratégia de dispersão de mensagem, atirando para todos os lados, sem um direcionamento específico). A impressão que passa é que tais profissionais percebem que antigas técnicas de criação não têm surtido o mesmo efeito que outrora, ao mesmo tempo em que não compreendem o que fazer para aprimorá-las. É imperativo ressaltar, portanto, que esses problemas urgem uma solução. A crise na indústria da comunicação é notória, e precisa de alternativas eficazes, embasadas cientificamente, a fim de gerar uma resposta positiva para o mercado. É na busca de encontrar um “norte” para o melhoramento das técnicas de criação e construção de anúncios que este artigo se explica, buscando contribuir para a criação de uma comunicação mais efetiva, cujas mensagens objetivamente atendam às metas a que se propuseram. 2 2. IMAGENS POSITIVAS Vimos que, para enfrentar a crise da comunicação de massa, é fundamental que novas técnicas de criação sejam concebidas a fim de atender às necessidades desse novo mercado “desmassificado”. Para que essas novas técnicas sejam criadas afinal, a investigação acerca da construção de imagens de marca positivas aparenta ser um caminho necessário a ser percorrido. Mas, afinal, o que são marcas, qual o seu papel e como uma imagem de marca se forma? Segundo Kapferer (1992), as marcas tornam produtos mais fáceis de serem lidos e removem a incerteza do comprador. Elas podem ser expressas como sendo “um nome, termo, signo, símbolo ou design, ou mesmo uma combinação destes, que tem a função de identificar os bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los dos concorrentes. Um nome de marca é a parte da marca que pode ser verbalizada, sua parte que pode ser expressada lingüisticamente(...). O signo de uma marca (logomarca), é a parte da marca que pode ser reconhecida mas não é verbalizável, tal como um símbolo, design, cor ou letras distintas” (Kotler e Armstrong, 1993, p. 177). Apesar da assertiva acima ser bastante clara, ela apresenta apenas o lado objetivo da definição de marca. Na verdade, uma marca é um todo muito mais abrangente e complexo do que um simples nome ou símbolo. Segundo Souza e Nemer (1993), ela deve ser uma síntese de todas as ações mercadológicas que se originam na satisfação de desejos ou necessidades específicas do consumidor. As marcas oferecem inúmeras vantagens e cumprem diferentes papéis. Do ponto de vista do consumidor, as marcas oferecem a vantagem de permitir a identificação da origem do produto, dá a possibilidade de comparação e escolha, além de poder satisfazer suas necessidades racionais, emocionais e/ou psicológicas. Do ponto de vista do fabricante, as marcas podem significar, entre outras coisas, proteção contra imitações, um elemento diferenciador em relação à concorrência, um estímulo à repetição de compra, a possibilidade de criar um sentimento de lealdade por parte do consumidor, e uma oportunidade de dar ao produto história e personalidade próprias capaz de sinalizar diferentes faixas de preço, qualidade, status e/ou estilos de vida (Souza e Nemer, 1993). Como os indivíduos captam todos esses sinais diz respeito à imagem que eles formam sobre a marca, ou seja, ao posicionamento da marca em suas mentes. Definimos imagem de marca, portanto, como o grupo de atributos e associações que consumidores captam do nome da marca. Essas associações podem ser hard -- percepções específicas de atributos tangíveis/ funcionais; ou podem ser atributos emocionais soft. A imagem ainda pode ser classificada em três componentes, ou três subimagens, cuja contribuição individual varia dependendo da categoria do produto e da marca: a) a imagem do provedor do produto/ serviço, ou imagem da corporação; b) a imagem do comprador; c) a imagem do produto/ serviço em si (Biel, 1993). Kapferer (1992) acrescenta dizendo que imagem é o desenvolvimento de uma percepção total do objeto, o que é crucial para a escolha e, posteriormente, para a compra. Outro aspecto fundamental é que imagem é um fenômeno de recepção (Kapferer, 1992). Neste sentido, ela só pode ser construída na mente do consumidor. Segundo Souza e Nemer (1993), a marca é uma das formas na qual a empresa pode se comunicar com o público consumidor e é através dela que a empresa tenta sintetizar as características do produto, formando uma imagem de marca. Quando falamos em imagem positiva, por sua vez, nos referimos a uma posição de 3 destaque na mente do consumidor, de maneira que, para ele, a aquisição da marca representa mais do que uma simples compra que atenda às suas necessidadesde, mas, sobretudo, a aquisição de um “valor” incalculável. É justamente através da transmissão de imagens positivas que as marcas se fortalecem e conseguem ser melhor evidenciadas dentre tantas outras disponíveis no mercado. Para Plummer (1985), o processo de formação de imagens inicia-se através da captação de atributos (intrínsecos e extrínsecos), benefícios e conseqüências que se associam à marca. Neste artigo, deter-no-emos aos atributos como elementos fundamentais na formação de uma percepção de qualidade de marca e conseqüentemente para uma transmissão de imagem favorável. Outro conceito que nos ajudará a construir nossos argumentos em torno da obtenção de uma imagem positiva através da comunicação referese ao conceito de identidade. Para Kapferer (1992), identidade é a personalidade da marca, é o que a torna única. Representa ainda a tentativa de obter um diferencial na mente do consumidor. Neste sentido, uma marca precisa gerar reconhecimento e identificação que sejam ímpares na mente do consumidor. Ele acrescenta que, para uma marca se tornar e permanecer poderosa, ela precisa ter um compromisso fiel com sua identidade, ou seja, com suas crenças básicas e valores de concepção. Uma identidade de marca é construída com base em conceitos funcionais e simbólicos conforme a predominância das necessidades funcionais ou simbólicas do comprador (assuntos que serão debatidos no decorrer deste artigo). Todas essas definições se entrelaçam, fazendo parte de um todo que aparentemente pode nos ajudar a propor uma possível alternativa para aliviar a crise da comunicação de massa, alternativa esta cujas esperanças se depositam na procura por uma comunicação mais efetiva, que realmente gere imagens positivas. Sendo assim, podemos dizer que o enfoque aqui proposto concentra-se na investigação da formação de uma identidade de marca, especialmente no que tange às facetas funcionais e simbólicas e na forma como tais facetas são transmitidas ao públicoalvo e por ele captadas (percepção de qualidade) a fim de gerar uma imagem de marca positiva. Sendo assim, tal problemática sugere a seguinte pergunta. Que atributos do produto a comunicação pode enfocar em sua mensagem para para melhor transmitir uma imagem de marca com diferentes conceitos? Ao responder a esta pergunta teremos contribuído para os estudos de marca e conseqüentemente ajudado aos profissionais de marketing e comunicação na árdua tarefa de obter uma vantagem competitiva num mercado cada vez mais fragmentado. 3. IDENTIDADE DE MARCA Uma das grandes forças da marca está em seu poder de diferenciação, afinal, conceitos, produtos e consumidores específicos pedem marcas específicas (Souza e Nemer, 1993). Segundo Kapferer (1992), identidade de marca é um conceito recente e sua essência repousa nas respostas às seguintes perguntas: qual a sua individualidade, suas metas e ambições de longo prazo, sua consistência, valores, crenças básicas e signos de identificação? Essas seis questões resultam na definição de uma marca, traçando o seu 4 perfil e características ímpares. A unicidade de uma marca pode ser analisada ao longo de seis diferentes facetas interpretadas por Kapferer (1992) através de um prisma: physique (funcional), personalidade (simbólico), reflexão (e.g., imagem do comprador), auto-conceito, cultura e relacionamento: ♦ Physique (funcional): Garvin (1992) sugeriu sete diferentes dimensões que devem representar aspectos funcionais da marca, tais como: performance, características, conformidade com as especificações, durabilidade, atendimento, estética, qualidade percebida. De Mello (1997) ressalta, porém, que estas dimensões concernem mais ao produto do que à marca. No sentido de oferecer um conceito mais apropriado à marca, Kapferer (1992) avança dizendo que esta perspectiva está mais relacionada ao know-how e/ou posicionamento do que a características racionais ou à combinação delas. Ex: uma Ferrari tem uma performance de 350 km/hora. Este é um atributo do produto. A perspectiva physique deste exemplo, no entanto, refere-se à potência e velocidade da Ferrari e não estritamente ao seu desempenho em km/h. ♦ Personalidade (Simbólica) : Esta perspectiva é construída com base na premissa de que a marca pode ter personalidade. Ou seja, é um conceito que sugere uma similaridade entre marca e indivíduo. Kapferer (1992) tem definido personalidade de marca como a forma na qual um consumidor percebe a marca nas dimensões que tipicamente capturam a personalidade de uma pessoa. Ela tende a servir a uma função simbólica ou emocional. ♦ Reflexão: Refere-se à premissa de que uma marca reflete uma imagem do consumidor, ou seja, reflete os tipos de pessoas que supõe-se compradores potenciais dela. ♦ Auto-conceito: É baseada na teoria do auto-conceito, norteada pela proposição de que marcas são mais prováveis de serem compradas se refletirem as percepções que os compradores têm de si mesmos (Onkvisit e Shaw, 1987; Sirgy, 1982). Ou seja, sugere que as relações comprador e marca são baseadas na congruência entre a imagem que o consumidor tem de si mesmo e a imagem que ele tem da marca (marca >< indivíduo). ♦ Cultura: Toda marca tem sua própria cultura, seu próprio sistema de valores. Kapferer (1992) ressalta que a faceta cultural se relaciona com os princípios básicos que governam a marca e seus signos externos, tais como produto e comunicação. ♦ Relacionamento: Toda marca pressupõe um relacionamento. Esta idéia emerge do modelo de comunicação no qual marca e comprador são considerados partes de um mesmo sistema (Kapferer, 1992). Para efeito deste estudo, utilizaremos as facetas funcional e simbólica por fazerem parte do lado manipulável do prisma, aquele que pode ser controlado pelos profisionais de marketing. No entanto, as facetas reflexão e auto-imagem, de uma certa forma, permearão este trabalho, pois é com base nelas que as estratégias de marca são desenvolvidas. A relação entre esses conceitos pode ser traduzida e sintetizada ao dizermos que: as identidades de marca são construídas com base nos valores funcionais e simbólicos que estiverem em consonância com os valores e necessidades dos compradores, ou seja, como um reflexo de seu auto-conceito. Sendo assim, a primeira etapa da criação de uma identidade de marca é selecionar 5 um conceito de marca. Como esta seleção é também função das necessidades dos consumidores, faz-se necessário elencá-las: 1. Necessidades Funcionais: São aquelas que motivam a investigação por produtos que solucionem problemas relacionados ao consumo. Uma marca com conceito funcional é definida como aquela designada a satisfazer necessidades de consumo geradas externamente (Park et al, 1986). Esta necessidade reflete um valor funcional, que é a capacidade funcional de utilidade ou performance física de uma escolha (Sheth et al, 1991). 2. Necessidades Simbólicas: Desejos por produtos que cumpram necessidades geradas internamente para valorização do ego, posição, papel ou identificação como membro do grupo (Park et al, 1986). Esta necessidade reflete um valor social e emocional ao mesmo tempo. O valor social é a alternativa associada com um ou mais grupos sociais, partindo de uma associação estereotipada demográfica, sócio-econômica, cultural e física; valor emocional, por sua vez, é a capacidade de um produto despertar sentimentos ou estados afetivos no consumidor, podendo influenciá-lo na sua decisão de compra (Sheth et al, 1991). 3. Necessidades Experienciais : Desejos por produtos que promovem prazer sensorial, variedade, estímulo cognitivo (Park et al, 1986). Esta necessidade reflete um valor epistêmico, que é a capacidade de suscitar curiosidade, satisfazer um desejo de conhecimento ou novidade (Sheth et al, 1991). Park et al (1986) acrescentam que, para a seleção do conceito de marca, deve-se levar em conta não só as necessidades funcionais, simbólicas e experienciais, mas também o ambiente interno das organizações (recursos, imagem, capacidade produtiva, portfólio de produtos, etc.) e o macroambiente. A seleção do conceito de marca não é excludente. Mais de um conceito pode ser criado a fim de atender a mais de uma necessidade ativada do consumidor. É fundamental, porém, ressaltar que esta escolha é estratégica, pois, com base nela, os profissionais de marketing buscarão influenciar percepções do consumidor sobre o produto. Essas percepções são formadas através da transmissão de sua identidade de marca, identidade esta que visa a sintetizar, transmitir ou evocar uma determinada imagem. EMISSOR MÍDIA Identidade de marca Sinais transmitidos RECEPTOR Imagem de marca Figura 1. Identidade e imagem (adaptado de Kapferer, 1992, p. 34) A marca de um determinado produto deve sintetizar, transmitir ou evocar, de alguma forma, a imagem planejada para ele. Porém, nem sempre a imagem idealizada pela empresa corresponde ao posicionamento do produto na mente consumidor, à visualização que ele tem dela (Souza e Nemer, 1993). Em outras palavras, a percepção que o 6 consumidor tem da marca vai depender de uma adequada construção de identidade e de uma correta estratégia de comunicação, e, mesmo assim, outros fatores, como concorrência e ruídos na transmissão, podem distorcer a relação entre a imagem concebida da percebida. A imagem percebida é função, dentre outras coisas, da qualidade que o consumidor apreende da marca. Assunto que será debatido a seguir. 4. QUALIDADE PERCEBIDA As marcas são um meio de assegurar um certo nível de qualidade e reduzir o risco de compra pelos seus atributos percebidos e associados ao produto ou empresa. Elas sintetizam as expectativas do consumidor (Souza e Nemer, 1993) Sendo assim, qualidade percebida é o julgamento do consumidor a respeito da superioridade ou excelência de uma marca (Kirmani e Zeithaml, 1993). Muitos estudos publicados têm examinado os efeitos dos atributos específicos no julgamento de qualidade percebida (Szybillo e Jacoby, 1974; Olson, 1972). Grande parte destes estudos é embasada na Cue Utilization Theory, onde os produtos consistem em uma coleção de atributos que servem como indicadores de qualidade para os compradores (Cox, 1967; Olson, 1972). A percepção de qualidade é formada a partir da percepção dos atributos intrínsecos e extrínsecos, conceitos estes que devem promover sinais diferentes sobre qualidade (Olson, 1972; Olson e Jacoby, 1973). Atributos Intrínsecos Percepção de Qualidade Imagem de marca Atributos Extrínsecos Figura 2. Modelo de Qualidade Percebida (adaptado de Kirmani e Zeithaml, 1993, p. 145) • Atributos Intrínsecos : referem-se às propriedades físicas de um produto. Estes atributos não podem ser mudados sem alterar a natureza do produto em si e são consumidos como os produtos o são. Exs: cor, textura, tamanho, etc. • Atributos Extrínsecos: são atributos relacionados ao produto, mas que não fazem parte do produto físico em si. Pela definição, eles são externos ao produto, e mudando-os não há mudança no produto físico. Exs: preço, nome de marca, nível de propaganda, garantia, custo de propaganda, local de compra. Dentre os atributos extrínsecos, o nome de marca se destaca. Isto porque ele 7 fornece uma série de informações ao consumidor, servindo como um sinal extrínseco de uma série de atributos intrínsecos, mesmo no caso de se tratar de uma mesma classe de produtos (Olson, 1976). Evidências de pesquisa sugerem que consumidores tendem a usar tanto atributos intrínsecos quanto extrínsecos quando avaliam a qualidade de um produto (Richardson et al, 1994). No entanto, alguns alegam que estes não são os únicos atributos que impactam qualidade. De acordo com Cox (1967) e Richardson et al (1994), o peso relativo dos atributos extrínsecos versus intrínsecos na avaliação de qualidade dependem dos atributos PVs (Predictive Value) e CVs (Confidence Value). PV é o nível no qual consumidores associam um atributo dado com a qualidade de um produto. CV, por sua vez, é o nível no qual consumidores confiam em sua habilidade para julgar e usar um atributo acuradamente. A percepção de qualidade formada a partir dos atributos comunicados, vai gerar uma imagem de marca positiva ou negativa. Portanto, a escolha desses atributos e a forma como eles serão aludidos, constituem-se em elementos fundamentais para uma percepção de qualidade que gere uma imagem de marca favorável. É importante ressaltar, porém, que a imagem de marca não é função unicamente da qualidade percebida, existem outros inputs para a sua criação, tais como: atitudes de marca, valor percebido, sentimentos, associações de marca e atitudes referentes ao anúncio (Kirmani e Zeithaml, 1993). O fato é que sendo a qualidade percebida um dos aspectos preponderantes para a formação de uma imagem de marca, é fundamental destacar que tal formação só passa a ser realmente efetiva uma vez que o consumidor é atingido por algum elemento comunicacional, afinal, imagem é um fenômeno de comunicação. 5. COMUNICAÇÃO A qualidade percebida e a conseqüente imagem de marca gerada são fortemente impactadas pela comunicação. É principalmente através do que é veiculado pela mídia que a identidade de marca e os conceitos nela embutidos são comunicados aos compradores, transmitindo uma percepção de qualidade e contribuindo para a formação de uma imagem positiva. O que acontece, porém, é que as marcas talvez estejam sendo mal comunicadas e conseqüentemente mal “percebidas” pelo consumidor. Comunicar uma identidade de marca para um mercado-alvo surge, portanto, como uma das principais e mais desafiantes atividades do marketing, especialmente em tempos de alta competitividade como o nosso. Daí surge a necessidade de uma estratégia de comunicação que gere uma imagem positiva e destaque a marca da concorrência, afinal, a comunicação é uma das principais responsáveis pela criação e internalização de uma imagem de marca. Park et al (1986) ressaltam ainda que uma bem comunicada imagem deve ajudar a posicionar a marca, insuflá-la da competição e potencializar sua performance no mercado. É a comunicação transmitida pela mídia que faz o link entre identidade de marca e imagem. Esta relação se dá da seguinte forma: a identidade de marca é transmitida pela mídia aos compradores, que, por sua vez, captam os atributos intrínsecos e/ou extrínsecos comunicados por ela, formando uma percepção de qualidade e uma imagem de marca. De forma mais detalhada, podemos dizer que a identidade de marca é construída selecionandose um conceito (funcional, simbólico e/ou experiencial) que melhor reflita o auto-conceito dos compradores. A partir daí, o conceito de marca será transmitido enfocando atributos 8 intrínsecos e/ou extrínsecos a fim de gerar uma imagem positiva. É importante ressaltar, porém, que uma imagem de marca pode ser desenvolvida com base em dois ou mais conceitos. Por tudo o que foi dito, acreditamos que mensagens de comunicação que transmitam associações específicas entre conceitos e atributos de marca possam contribuir para uma imagem mais positiva, o que nos leva a crer que: • Proposição 1: Para melhor ressaltar marcas com conceito funcional, a comunicação deve centrar sua mensagem predominantemente nos atributos intrínsecos que melhor representem a categoria do produto. • Proposição 2: Para melhor ressaltar marcas com conceito simbólico, a comunicação deve centrar sua mensagem predominantemente nos atributos extrínsecos que melhor representem a categoria do produto. Através da constatação dessas proposições poderemos enriquecer a discussão acadêmica sobre o assunto, contribuir para a indústria de comunicação oferecendo informações relevantes que guiem o planejamento e criação de campanhas publicitárias, e, por último, auxiliar profissionais de marketing na criação de diferenciais competitivos através do fortalecimento das marcas de seus produtos. 6. CONCLUSÕES A crise da comunicação de massa tem suscitado inúmeros desafios. Percebemos claramente que os profissionais de criação precisam construir mensagens mais efetivas, não mais direcionadas a um grande público, anônimo e heterogêneo. Acreditamos que os indivíduos do mercado “desmassificado” passam a ter perfis e gostos definidos, e, como tais, não se sensibilizam mais pelo primeiro anúncio com o qual se deparam. É visando propor a criação de anúncios mais efetivos, embasados cientificamente, que as nossas proposições se explicam, sugerindo anúncios onde as mensagens sejam consistentes aos interesses do consumidor; onde as marcas comunicadas reflitam a imagem que tal consumidor tem de si próprio; onde os anúncios tenham a capacidade de persuadir o consumidor levando-o a um julgamento de superioridade acerca da marca; onde uma imagem positiva seja perseguida através da coerência entre os atributos enfocados pela mensagem e o conceito de marca preponderante na mente do consumidor. Tendo por base esses conceitos, as nossas proposições foram construídas. Uma vez que possamos constatar a relevância delas através de uma investigação empírica, teremos dado um passo a frente nos estudos acerca desse complexo tema, oferecendo uma alternativa às técnicas de criação vigentes até então. Tal constatação proporcionará ao mercado e à academia um ferramental bastante útil na perseguição de seus propósitos. Por um lado, o mercado é favorecido à medida em que as agências de comunicação possam dispor de fundamentos científicos que embasem seu processo criativo, promovendo assim campanhas mais efetivas para os seus clientes; por outro lado, o empresariado em geral passa a ter respostas mais favoráveis aos seus esforços mercadológicos e comunicacionais. A academia, por sua vez, também é bastante favorecida à medida em que aprofunda a discussão acerca dos temas “marca”, “qualidade percebida” e “comunicação”, bem como, tem a possibilidade de compreender melhor a interrelação entre eles. Outro aspecto 9 fundamental para a academia diz respeito ao modelo existente até então, que sugere, de forma sintética, que imagens positivas são formadas, dentre outras coisas, com base nos diferentes conceitos de marca, e que a percepção de qualidade é construída a partir de diferentes atributos. Segundo o modelo existente, tanto os atributos de produto quanto os conceitos de marca são fundamentais para a criação de imagens positivas através da comunicação. Porém, com a verificação das nossas proposições, este modelo pode ser destrinchado em dois, onde certos conceitos sejam melhor ressaltados através da comunicação de determinados atributos, predominantemente, o que elevaria o julgamento de qualidade na mente do consumidor. Sendo assim, teríamos informações mais precisas que auxiliem na construção de imagens mais positivas. Por tudo o que foi dito, sugerimos que essas proposições sejam investigadas empiricamente para que assim consigamos começar a desvendar qual o caminho a ser trilhado pelos profissionais de comunicação como alternativa à crise que se apresenta. AGRADECIMENTO Os autores gostariam de expressar seu agradecimento à CAPES e à Universidade Federal de Pernambuco por contribuirem para a viabilização deste artigo. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAKER, D.A. 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