Cuidado com a culpa, a maior inimiga da alegria! Elsie Gilbert* Complexo de inferioridade, pessimismo, falta de esperança, falta de confiança em Deus, amargura advinda de acontecimentos passados, luto, doença, sofrimento, falta de perdão, falta de tempo, estresse, medo de fracassar, conflitos nos relacionamentos, ansiedade... todos são todos inimigos da alegria. São também experiências humanas comuns num mundo mal. Alegria, em sua plenitude, só será possível em uma outra dimensão, quando Cristo voltar para reinar, e para colocar debaixo de seus pés todos os seus inimigos, sendo que o pior deles é a morte. Poucos dias antes da edição 18 da revista Mãos Dadas ir para a gráfica, recebi a notícia de que um grande amigo estava com câncer em estado terminal. Tive que administrar o fato de acabara de falar sobre alegria e agora, mais do que nunca, precisava praticar o que tinha acabado de pregar. Acabei viajando 30 horas para visitar este amigo e gastar um pouco de tempo com ele. Qual não foi minha surpresa quando o ouvi pedir a um pastor que orasse por ele para que ele experimentasse a alegria de Deus em meio ao sofrimento. Aos 49 anos, meu amigo tinha um histórico invejável de saúde e aventura. Pedalou pela Europa três mil quilômetros, duas vezes cruzou os Estados Unidos de ponta a ponta, do Pacífico para o Atlântico numa bicicleta, pilotou aviões no Congo em meio à guerra civil, resgatou destroços de um avião de Asas de Socorro na Amazônia.... E, agora, preso num leito de hospital paralisado da cintura para baixo, com câncer entranhado pela sua coluna vertical até o cérebro, tendo que lidar com o fato de que nenhum médico lhe dava esperança de cura; neste estado, ele pede ALEGRIA! Minha outra surpresa foi descobrir que este meu amigo tinha se apropriado do Salmo 131. Contou-me que quando recebera as péssimas notícias, surgira em sua mente estas palavras “De fato, acalmei e tranqüilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança.”(Sl 131.2). Impressionante, ele também já tinha feito a conexão entre virtude e criança. Só seria possível experimentar contentamento ou paz, ou até sanidade mental, durante tamanho sofrimento, se ele assumisse uma postura de bebê diante de Deus. Refletindo sobre isto, percebo que bebês não sentem culpa, podem se jogar no colo da mãe sem reservas. Não se preocupam se a mãe está ou não sobrecarregada. A entrega e confiança deles é total. Para experimentar a alegria de Deus naquela situação, meu amigo sabe que a confiança em Deus tem de ser total e irrestrita. Ficar pensando em tudo o que fez, como levou sua vida, o que deveria ter feito, o que não deveria ter feito, se Deus vai recriminá-lo ou não, ou até se Deus o colocou nesta situação como castigo, só leva a sentimentos de culpa e mais sofrimento ainda. Por outro lado, bebês também sabem chorar, espernear e deixar bem claro que estão passando por um profundo mal-estar (como quando estão com cólica, por exemplo). De novo, não sentem culpa em fazer isto. Esperam que a mamãe onipresente resolva todos os seus problemas. Este choro não implica em falta de confiança, ao contrário. Falei isto para o meu amigo. Mesmo parecendo muito contraditório, o choro e o riso têm de estar presentes, lado a lado em situações de sofrimento intenso. Mas a culpa, esta acaba com a alegria. Se sentimos culpa por pecados cometidos de forma consciente ou não, precisamos levá-los aos pés de Cristo, nos arrepender e receber o seu perdão e cura. Mas há muitos sentimentos de culpa infundados, ou absorvidos pelo meio em que vivemos. E foi por isto que resolvemos oferecer o capítulo 4 do livro Culpa e Graça: Uma análise do sentimento de culpa e o ensino do Evangelho, de Paul Tournier1. O capítulo “Problemas que o Dinheiro Traz” descreve uma porção de situações que muitas vezes nos infundem um sentimento de culpa. Todas estas situações estão relacionadas ao dinheiro. Depois de citar várias formas de nos sentirmos culpados em situações relacionadas ao ter ou não dinheiro, o autor conclui: “Ninguém fica insensível ao julgamento que nos espera na sociedade. Se somos silenciosos, nos chamam de indiferentes; se falamos muito, nos qualificam de pretenciosos. Uma mulher que use roupas clássicas será criticada com desprezo como sendo antiquada; se usa roupas mais ousadas, julgam-na uma aventureira. Todos os convidados estão com roupa de gala, e você não sabia; você é o único traje esporte: se é rico, eles admirarão a sua simplicidade e pensarão que você quis estar à vontade; mas se você é pobre, eles o tratarão rudemente. Se, por um erro inverso, você é o único a estar em traje de gala, você também ficará embaraçado. O problema, então, não está tanto na pobreza ou na riqueza, mas na inevitável comparação mútua entre os homens.” O tema do dinheiro me pareceu muito apropriado para nós que trabalhamos com problemas sociais intimamente ligados à má distribuição de renda. É ainda mais pertinente porque a 1 Texto gentilmente cedido pela ABU Editora (www.abub.org.br/editora) maioria de nós não recebe um salário a altura da importância do trabalho que realizamos. Muitos de nós realizamos um trabalho com sacrifício. Sacrificamos alguns desejos de consumo, e às vezes até deixamos de proporcionar um maior conforto para nossas famílias. Podemos desenvolver vários sentimentos de culpas e Paul Tournier foi muito feliz em listá-los. É possível até desenvolver uma espécie de compulsão por culpa. Tudo nos faz sentir culpados e passamos a nos desculpar até mesmo pela nossa felicidade. Toda culpa que carregamos, justificada ou não, terá um impacto sobre o nosso trabalho, todas elas nos farão mais pesados, roubarão de nós a alegria de servir ao nosso Senhor. E o pior de tudo é que há mais razões para nos sentirmos culpados do que para nos sentirmos inocentes. Paul Tournier não lembra que o antídoto para isso é a graça e a misericórdia de Deus. E para recebermos essa graça, precisamos voltar à posição de criança. Subir, sem vergonha, no colo de Deus e insistir para que Ele tome as nossas vidas em suas mãos. “Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber. Nem com o seu próprio corpo quanto ao que vestir. Observe as aves do céu: não semeiam nem colhem, nem armazenam em celeiros, contudo o Pai celestial as alimentam. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?” Mateus 6.25 a 27. “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” Filipenses 4.12 * Elsie Gilbert é editora da Revista Mãos Dadas <[email protected]> _________________________________________________________________________ Mãos Dadas Revista de Apoio aos que trabalham pela dignidade de nossas crianças e adolescentes. Caixa Postal 88 – Cep: 36.570-000 Viçosa MG Brasil [email protected]