FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL LARISSA MARTINS MAIA A EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DAS FAMÍLIAS DO SETOR SUCROALCOOLEIRO EM PERNAMBUCO: UMA ANÁLISE PARA O PERÍODO DE 1995 A 2009 RECIFE 2011 1 LARISSA MARTINS MAIA A EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DAS FAMÍLIAS DO SETOR SUCROALCOOLEIRO EM PERNAMBUCO: UMA ANÁLISE PARA O PERÍODO DE 1995 A 2009 Dissertação apresentada ao Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem para qualificação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial. Orientador: Profº. Dr. Augusto César de Oliveira RECIFE 2011 2 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pela Misericórdia e ajuda. Nos momentos mais difíceis Ele sempre esteve presente, dando força, coragem e esperança para prosseguir a caminhada. Ao professor e orientador, Augusto César de Oliveira, por acreditar no meu projeto, pela paciência, conhecimento e presteza na condução das pesquisas e trabalhos, pela perseverança e apoio, um agradecimento especial. Á Albina Simões, da Faculdade Boa Viagem, também pela ajuda e paciência. Ao professor Ary Júnior, um agradecimento também muito especial. Ao meu filho Matheus, que tanto amo, pela compreensão durante minha ausência. Ele é quase sempre o estímulo que me leva à luta. Á minha querida mãe (in memorian) e ao meu pai, pelo imenso carinho e dedicação. Aos meus tios, Christina e Osório Abath, onde passei boa parte da minha adolescência e pude receber toda a base educacional e moral, pelo amor e dedicação a mim dedicados. A Wilson Correia, pessoa muito especial, que me ajudou nos momentos mais difíceis desta trajetória. Pela imensa ajuda e orientações da amiga de todas as horas e doutoranda da Universidade Federal de Pernambuco, Lucilena Castanheira. Á Pollyana Jucá, também doutoranda PIMES-UFPE, pela grande ajuda na coleta dos microdados. Á minha grande amiga Alda Mello, pela força e estímulo. Aos meus grandes amigos Pedro Motta e Elyseu Rio Filho, pelo estímulo. Ao meu especial amigo Ivaldo Moraes. Ao amigo e professor Maurício Assuero da UFPE, pelas orientações. Ao meu ex-Diretor Presidente na AD Diper, onde ainda trabalho, Jenner Rêgo, pela imensa ajuda e compreensão, e por acreditar que eu poderia conseguir. Ao meu atual Diretor Presidente, Márcio Stefanni, também pela compreensão e apoio. Á minha ex-chefe de setor, Ivone Malaquias, pela ajuda, apoio e orientações. Às minhas amigas de trabalho, Fabiana Macedo e Luiza Villela, pela compreensão durante minha ausência, pela força e ajuda, um muito obrigada. 3 RESUMO O assunto principal deste trabalho é a identificação e a análise da situação dos trabalhadores no setor sucroalcooleiro do Estado de Pernambuco, entre 1995 e 2009. O presente trabalho analisa, por meio de algumas variáveis selecionadas e pela utilização de Índices Parciais e Índices de Condições de Vida, a evolução das condições de vida desses trabalhadores. Os Índices Parciais são compostos por algumas variáveis que conseguem compor um aspecto da vida desses trabalhadores. Como ponto de partida para esta análise, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema, em que o trabalho de BALSADI (2006) foi o marco inicial e teórico para o desenvolvimento das pesquisas. As informações criteriosamente tratadas foram elaboradas através dos microdados da PNAD – Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, IBGE. Foi utilizado o mesmo método e ponderações que o BALSADI (2006) usou, adaptado aos trabalhadores do setor sucroalcooleiro de Pernambuco. A abordagem desse setor dinâmico do estado foi feita e algumas questões interessantes sobre o contexto surgiram. Os dados foram tratados e, na medida do possível, realizadas análises para o levantamento das condições de vida dos trabalhadores das três subatividades que compõem o setor sucroalcooleiro. Dos microdados da PNAD, foram coletados a situação de domicílio, os serviços públicos básicos recebidos, os bens de consumo adquiridos e renda das famílias que trabalham com o cultivo da canade-açúcar, a fabricação do açúcar e a fabricação do álcool, sub-atividades estas que fazem parte do setor sucroalcooleiro. Desta forma, este trabalho é apresentado como forma de se entender um pouco mais sobre os trabalhadores desse setor, levantando algumas questões importantes, e deixando sugestões para que os órgãos e entidades possam melhor planejar e implementar novos projetos e novas políticas públicas. Palavras chaves: cana-de-açúcar; açúcar; álcool; indicadores de condições de vida. 4 ABSTRACT The main subject of this paper is the identification and analysis of the situation of workers in the alcohol sector in the State of Pernambuco. The period extends from 1995 to 2009. This work analyzes the sector, by means of some selected variables and by the use of Partial Indices and indices of living conditions, and the evolution of the living conditions of these workers. Partial indexes are comprised of some variables that can compose an aspect of the life of these workers, excluding education and health. As a starting point for this analysis, a review of literature on the subject was carried out, in which the work of Balsadi (2006) was the first milestone and theoretical base for the development of research. The data were extracted from the micro-data PNAD – National Survey of Household Sampling, IBGE, and later treaties. The same method and considerations that Balsadi (2006) used were employed, and adapted to workers in the sugar alcohol sector of Pernambuco. An analysis of this dynamic sector of the State was undertaken and some interesting questions about the context emerged. As far as possible, analyses were performed on living conditions of workers in three sub-activities that make up the alcohol sector. From micro-data from PNAD, were collected the situation of residence, access to basic public services, the access of these families for consumer goods and income of the families that work with the cultivation of sugar cane, sugar and manufacturing of alcohol, these sub-activities that are part of the sugar/alcohol sector. Thus, this work is presented as a way to understand more about the workers in that sector in Pernambuco, raising some relevant issues, and leaving suggestions to Federal, State and municipal entities, so that they can better plan and implement new projects and new public policies. Keywords: sugarcane; sugar; alcohol; indicators of living conditions. 5 SUMÁRIO Pág CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................. 11 1.1 Objetivos ...................................................................................................... 16 1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................ 16 1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................ 16 CAPITULO 2 DESCRIÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO ....................... 17 2.1 Setor sucroalcooleiro no Brasil ..................................................................... 18 2.2 A agroindústria da cana-de-açúcar .............................................................. 23 2.3 Conjuntura atual do etanol no Brasil ............................................................ 33 2.4 Mecanização nacional da cana-de-açúcar ................................................... 34 2.5 Setor sucroalcooleiro no Nordeste ............................................................... 37 2.6 Setor sucroalcooleiro em Pernambuco ........................................................ 40 2.7 Exportações do setor sucroalcooleiro .......................................................... 52 CAPITULO 3 O MERCADO DE TRABALHO DO SETOR SUCROALCOLEIRO ........................................................................................... 59 CAPITULO 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................... 70 CAPITULO 5 METODOLOGIA ........................................................................... 79 5.1 Limite e limitações ........................................................................................ 87 CAPITULO 6 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ 90 6.1 Análise dos indicadores dos domicílios no cultivo da cana-de-açúcar ........ 92 6.1.1 Famílias rurais do cultivo da cana (trabalho permanente e temporário) ... 92 6.1.2 Famílias urbanas do cultivo de cana (trabalho permanente e temporário) 97 6.2 Análise dos domicílios na fabricação de açúcar (áreas rurais e urbanas) ... 104 6.3 Análise dos domicílios na fabricação do álcool ............................................ 108 6.4 Análise dos domicílios do setor sucroalcooleiro ........................................... 109 CAPITULO 7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................. 126 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 132 6 LISTA DE TABELAS Pág Tabela 1 Produção de cana-de-açúcar por estado – 2009................................. 19 Tabela 2 Ranking dos países produtores de cana-de-açúcar – 2008 ................ 21 Tabela 3 Produção Mundial de Alimentos – 2008............................................... 21 Tabela 4 Trabalhadores por setor – Brasil.......................................................... 24 Tabela 5 Trabalhadores da Indústria – 1995 a 2010........................................... 26 Tabela 6 Participação das atividades industriais – Brasil.................................... 27 Tabela 7 Área plantada de cana-de-açúcar (Hectares)....................................... 29 Tabela 8 Rendimento médio da produção de cana-de-açúcar (ton/ha)............... 29 Tabela 9 Quantidade produzida de cana-de-açúcar (ton).................................. 30 Tabela 10 Valor da produção (R$ 1.000) total das lavouras – Brasil e Regiões 32 Tabela 11 Valor da produção (R$ 1.000) de cana – Brasil e Regiões................ 32 Tabela 12 Área plantada por Mesorregiões......................................................... 41 Tabela 13 População da Mata Pernambucana - 2010......................................... 43 Tabela 14 Trabalhadores das Mesorregiões Pernambucanas ........................... 45 Tabela 15 Trabalhadores Setor Sucroalcooleiro Mata Pernambucana............... 45 Tabela 16 Os 10 estados com a maior quantidade de estabelecimentos .......... 49 Tabela 17 Estabelecimentos das Mesorregiões Pernambucanas....................... 49 Tabela 18 Estabelecimentos da Zona da Mata Pernambucana ......................... 50 Tabela 19 Produção de açúcar e álcool safra 2010/2011 – Usinas de PE.......... 51 Tabela 20 Exportações do Açúcar em valor (US$) quantidade (ton) - Brasil, Nordeste e Pernambuco...................................................................................... Tabela 21 Exportações do Álcool em valor (US$) quantidade (m3) – Brasil, Nordeste e Pernambuco...................................................................................... Tabela 22 Participação (%) do Açúcar e do Álcool no total das exportações do Brasil.................................................................................................................... Tabela 23 Participação (%) do Açúcar e do Álcool nas Exportações de Pernambuco - 1995 a 2011................................................................................. Tabela 24 Remuneração média do Setor Sucroalcooleiro por Região............... Tabela 25 Remuneração média de algumas atividades da Indústria, por Região – 2009..................................................................................................... Tabela 26 Rendimento médio da produção (ton/ha)............................................ Tabela 27 Número de trabalhadores no setor sucroalcooleiro por Regiões brasileiras e por atividade .................................................................................. Tabela 28 Número de Trabalhadores do Setor Sucroalcooleiro no Brasil......... Tabela 29 Trabalhadores dos Setores por Mesorregião pernambucana – 2010 56 57 58 59 62 63 64 65 66 69 7 Tabela 30 Trabalhadores do setor sucroalcooleiro da Zona da Mata Pernambucana 1995/2010.................................................................................. 69 Tabela 31 Participação (%) da área colhida de cana nas mesorregiões pernambucana 2009........................................................................................... 70 Tabela 32 Número de observações da PNAD para as famílias na atividades da cana................................................................................................................ 87 Tabela 33 Número de observações da PNAD para as famílias nas atividades do açúcar e do álcool........................................................................................... 88 Tabela 34 Índice Parcial de Bens (INDBENS)..................................................... 96 Tabela 35 Resultado dos Índices Parciais e do ICV – 2009................................ 97 Tabela 36 Índices do trabalho permanente Rural e Urbano................................ 98 Tabela 37 Melhoria do INDBENS das Famílias Urbanas.................................... 100 Tabela 38 Participação (%) das Exportações do Açúcar e do Álcool sobre as exportações totais de Pernambuco..................................................................... 105 Tabela 39 Famílias rurais e urbanas do açúcar................................................... 106 Tabela 40 INDBENS e Índice Parcial do Setor Sucroalcooleiro ......................... 111 Tabela 41 Remunerações mínima e máxima do setor....................................... 113 Tabela 42 Resultados de Balsadi – ranking dos melhores ICVs......................... 116 Tabela 43 Resultados de Balsadi – ranking dos piores ICVs.............................. 116 Tabela 44 Comparação: ICV Pernambuco / ICV Nordeste ................................. 117 Tabela 45 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais dos Empregados Permanentes do cultivo da cana.................................................... 118 Tabela 46 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais dos Empregados Temporários do cultivo da cana..................................................... 119 Tabela 47 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas dos Empregados Permanentes do cultivo da cana.................................................... 120 Tabela 48 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas dos Empregados Temporários do cultivo da cana..................................................... 121 Tabela 49 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas na Fabricação de Açúcar......................................................................................... 122 Tabela 50 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais na Fabricação de Açúcar......................................................................................... 123 8 Tabela 51 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias na Fabricação do Álcool................................................................................................................. 124 Tabela 52 Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias no Setor Sucroalcooleiro..................................................................................................... 125 Tabela 53 Índices de Condições de Vida (ICV) de todas as atividades e Setor Sucroalcooleiro..................................................................................................... 131 LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Pág Figura 1 Áreas de produção de cana-de-açúcar.................................................. 38 Gráfico 1 Evolução do emprego total no Brasil na Indústria de Transformação.. 23 Gráfico 2 Evolução da área colhida de cana-de-açúcar (Hectares).................... 28 Gráfico 3 Participação (%) das Regiões sobre a quantidade de área plantada de cana-de-açúcar .............................................................................................. Gráfico 4 Evolução do número de trabalhadores dos sub-setores da Zona da Mata..................................................................................................................... 31 47 Gráfico 5 Últimas safras pernambucanas do Setor Sucroalcooleiro................... 51 Gráfico 6 Evolução das Exportações do Açúcar (ton)......................................... 54 Gráfico 7 Saldo do emprego da Agropecuária..................................................... 59 Gráfico 8 Evolução do número de trabalhadores do Setor Sucroalcooleiro brasileiro............................................................................................................... 66 Gráfico 9 Produção de cana-de-açúcar em Pernambuco – 1995 a 2009 ........... Gráfico 10 Participação (%) da área colhida de cana nas mesorregiões pernambucanas – 2009........................................................................................ Gráfico 11 Evolução dos itens do INDDOM......................................................... Gráfico 12 Evolução (%) da quantidade de famílias no trabalho temporário de posse dos serviços públicos................................................................................. Gráfico 13 Evolução percentual da quantidade de famílias no trabalho permanente de posse dos serviços públicos....................................................... Gráfico 14 Evolução das famílias rurais no cultivo da cana com TV e Geladeira (Temporário e Permanente)................................................................................. 70 93 94 94 95 9 Gráfico 15 INDRENDA das famílias rurais em trabalho permanente e temporário............................................................................................................ Gráfico 16 Evolução dos Índices Parciais de Serviços Públicos – Rural e Urbano................................................................................................................. Gráfico 17 Evolução do INDRENDA para as Famílias Urbanas e Rurais do Trabalho Permanente........................................................................................... Gráfico 18 Evolução da quantidade de domicílios com telefone - emprego temporário urbano e rural..................................................................................... Gráfico 19 Evolução do INDRENDA das famílias urbanas e rurais do trabalho temporário............................................................................................................ Gráfico 20 INDDOM: Evolução das Famílias com domicílio próprio................... Gráfico 21 Evolução das Condições dos Serviços Públicos para as Famílias Rurais................................................................................................................... Gráfico 22 Evolução do INDBENS dos domicílios das sub-atividades do setor e do setor sucroalcooleiro.................................................................................... Gráfico 23 Evolução dos ICVs dos sub-setores e setor sucroalcooleiro............. 97 99 101 103 103 106 107 112 113 10 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO A manutenção da atividade canavieira no Estado de Pernambuco é muito importante por absorver um grande contingente de mão-de-obra na região dos canaviais, diminuindo assim, significativamente, o êxodo rural para as cidades e evitando, desta forma, o agravamento dos problemas sociais relativos à elevada densidade demográfica dos centros urbanos (MORAES, 2007a). A importância desse setor também é justificada pela influência do mesmo em outros setores da economia, tais como: indústria extrativa, indústria de transformação, energia elétrica, construção civil, comércio, transporte, armazenamento e telecomunicações, atividades financeiras, imóveis e serviços às empresas etc. Pela importância que exerce sobre a economia de Pernambuco, qualquer acontecimento que afete o setor sucroalcooleiro torna-se relevante para o desempenho da produção global do Estado. Pode-se observar que o setor agroindustrial canavieiro pernambucano apresenta um comportamento instável nas últimas décadas. Segundo Andrade (2001), iniciou-se por volta de 1875, um lento processo de extinção dos engenhos banguês, engenho estes que incluíam a moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar. Foram substituídos por usinas e engenhos centrais1. De acordo com o mesmo autor, chamavam-se usinas as que tinham propriedade particular, e quando de empresas comerciais, geralmente estrangeiras, denominavam-se engenhos centrais. Os engenhos centrais foram fechados ou transformados em usinas após a proclamação da República. Apesar da crise dos anos 1920 houve elevação do número de usinas, isto apontava um certo dinamismo no processo usineiro. Contudo acentuaram-se as disputas entre os donos de usinas, fornecedores de cana e lavradores, levando o governo a criar o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Outrossim, as destilarias governamentais também foram desativadas a fim de fortalecer as atividades de grupos econômicos privados. Os engenhos centrais não tinham diferença do ponto de vista técnico das usinas, mas sim do ponto de vista econômico: geralmente pertenciam a uma sociedade, não possuíam terras e não desenvolviam atividades agrícolas. 1 11 O apelo à produção de energia renovável e menos poluente cresceu bastante no início deste século. Uma das grandes razões foi o constante aumento do preço do petróleo. Além disso, frente às evidências do aquecimento global, reconhecidas oficialmente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas, a sociedade e vários governos reforçaram os estímulos a programas de substituição das fontes tradicionais e não renováveis de energia, como o petróleo e o carvão mineral (BACCARIN, 2009). De acordo com o Relatório Renewables 2010 Global Status Report2, outras tecnologias, incluindo a energia hídrica, a energia de biomassa e a energia geotérmica estão crescendo a taxas de 3% a 6% anuais entre os anos de 2004 e 2005. Em vários países, no entanto, a taxa de crescimento das tecnologias de energias renováveis, é muito superior à média global. Os biocombustíveis também cresceram rapidamente. Para um período de cinco anos, o etanol e o biodiesel tiveram um crescimento médio anual de 20% e 51%, respectivamente. Os últimos dados do Relatório Renewables 2010 Global Status Report revelou que, em 2010, a taxa de crescimento médio do etanol foi de 10%. De acordo com o relatório acima citado e outros referentes ao mesmo tema, a alternativa para o mundo será mesmo a produção de energia a partir de matérias-primas agrícolas (agroenergia), que são renováveis e absorvem dióxido de carbono no processo de fotossíntese. Neste caso, o Brasil já possui situação diferenciada, com a energia de biomassa, isto é, energia oriunda de materiais orgânicos, ocupando 29,7% da sua matriz energética, contra apenas 11% no mundo todo (MME3, 2006). Dos 29,7%, 13,8% são provenientes do etanol e do bagaço de cana, resíduo fibroso da moagem da cana-de-açúcar. Quando da criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975, os produtos da cana-de-açúcar representavam apenas 4,6% da matriz energética nacional. De lá para cá, vários incentivos públicos, entre outros fatores, contribuíram para a ampliação do parque produtivo sucroalcooleiro e do consumo de álcool combustível, bem como do uso do bagaço de cana como fonte de energia elétrica. 2 A Rede de Políticas de Energia Renovável para o século 21 (REN21) foi concebida para complementar a matriz dos esforços em andamento em todo o mundo para acelerar o uso adequado de energia renovável. A rede ajuda a criar um ambiente no qual as idéias e as informações são compartilhadas, e ações para promover a energia renovável são incentivadas, dado o reconhecimento positivo. Ao trabalhar em conjunto, os participantes da REN21 irão alavancar seus sucessos e reforçar a sua influência. REN21 é uma ação de follow-up chave para a Conferência Internacional sobre Energias Renováveis que teve lugar em Bonn, na Alemanha, em junho de 2004. 3 Ministério de Minas e Energia. www.mme.gov.br. Acesso em: 24/05/2011. 12 Recentemente, o já citado aumento do preço do petróleo e o lançamento dos carros “flex fuel”, associados ao mercado favorável do açúcar, resultaram em grande expansão da produção setorial. Falando um pouco mais sobre o Proálcool, a sua criação ocorreu em 1975, quando havia uma grave crise do petróleo. Já em 1973, os preços do petróleo no mercado internacional, eram equivalentes a US$ 2,91 por barril. Com a guerra do Yom Kippur4, graves crises foram geradas no Oriente Médio, com sérias perturbações de âmbito internacional, que levou à quadruplicação dos preços do petróleo (SHIKIDA; BACHA, 1999, p. 2). O crescimento da demanda por petróleo, matéria-prima fundamental para o mundo industrializado, e os baixos investimentos realizados nessa área se refletiriam em breve na alta dos preços. Logo, o conflito árabe-israelense contribuiu para a crise do petróleo, mas não foi seu fator exclusivo. Nesse período, de grande elevação dos preços do barril de petróleo, o Brasil dependia em 80% do petróleo oriundo do exterior. Por conseguinte, o ocorrido refletiu na importação do produto, pois correspondeu ao dispêndio de US$8,6 bilhões para a importação de petróleo referente ao triênio 1974-1976. Para efeito de cotejo, no triênio anterior o dispêndio com a importação de petróleo chegou a US$1,4 bilhão. Com o desequilíbrio das contas externas brasileiras, causado, em parte, pela crise do petróleo, as autoridades governamentais e fração do empresariado manifestaram interesse nas fontes alternativas para a substituição de alguns derivados do petróleo. Assim, foram propostos programas, como o Proóleo, o Procarvão e o Proálcool, mas apenas este último teve maior apoio e resultados (SHIKIDA; BACHA, 1999). Em 1990, foi instituída a nova Política Industrial e de Comércio Exterior, que extinguiu a maior parte das barreiras não-tarifárias herdadas do período de substituição de importações e definiu um cronograma de redução das tarifas de importação. O mercado de álcool, em especial, tem sido muito promissor devido à demanda elevada do álcool industrial (voltado ao segmento de bebidas, de cosméticos, farmacêuticas e de tintas e solventes) e do etanol (álcool combustível). 4 Guerra ocorrida em 1973 e envolveu o Egito e a Síria contra Israel. Como os judeus mantiveram as áreas ocupadas em 1967, Síria e Egito fizeram um ataque surpresa a Israel durante o feriado judeu de Yom Kippur, o dia do perdão. Os israelenses responderam violentamente à ofensiva, mas os egípcios chegaram a penetrar 15 km em território judeu. 13 Existe uma tendência crescente da utilização de energias limpas com o objetivo de reduzir a emissão de CO2 no âmbito internacional e isso aumenta as perspectivas favoráveis à expansão do mercado de etanol. Os carros bicombustíveis tornam-se cada vez mais populares, e o consumidor pode arbitrar entre o consumo de gasolina ou do álcool, de acordo com a relação dos preços desses combustíveis no mercado. O crescimento da produção de açúcar e álcool, devido ao aumento do uso de álcool combustível, tanto no Brasil quanto para atender a demanda externa, bem como por causa do crescimento das exportações de açúcar, traz ótimas perspectivas para o setor. Uma das causas da aceleração da mecanização da colheita, foi a proibição da queima da cana-de-açúcar como método de despalha5, com impactos negativos sobre o número de empregados da lavoura canavieira, visto que serão criados empregos na indústria do açúcar e do álcool, mas haverá redução dos mesmos na área agrícola. Ademais, haverá mudança no perfil requerido do trabalhador agrícola, atualmente de baixa escolaridade (MORAES, 2007b). O presente trabalho parte do estudo realizado por Balsadi (2006), em que são construídos e analisados, a partir dos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), dois índices sintéticos calculados para os empregados permanentes e temporários, e respectivas famílias, residentes nas áreas rurais e urbanas das Grandes Regiões do Brasil, no período 1992-2004. São eles o Índice de Qualidade do Emprego (IQE) e o Índice de Condições de Vida (ICV). Seguindo essa linha de raciocínio, a pesquisa propõe utilizar o mesmo método do autor supra citado, para desenvolver o ICV dos trabalhadores do Setor Sucroalcooleiro do Estado de Pernambuco. O autor utilizou os dois Índices citados no parágrafo acima para analisar a agricultura brasileira como um todo. A pesquisa em questão construirá apenas o ICV (Índice de Condições de Vida) excluindo o IQE (Índice de Qualidade do Emprego), que poderá também ser desenvolvido para o setor Sucroalcooleiro de Pernambuco a posteriori. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibiliza a usuários interessados os microdados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de 5 Ação de separar a palha de cana-de-açúcar, grãos de cereais etc. 14 Domicílios)6. O período utilizado para o atual estudo vai desde o ano de 1995, quando o Brasil já possuía a sua atual medida monetária7, o Real, em 2009, ano da última PNAD realizada. Os dados foram extraídos e analisados ano a ano, para a elaboração do ICV, Índice de Condições de Vida (ICV). O Índice elaborado por Balsadi partiu de 17 indicadores selecionados, de forma a mensurar quatro dimensões de grande relevância no cotidiano das famílias: as características do domicílio; o acesso aos serviços públicos; o acesso aos bens duráveis; e a renda média familiar. Os resultados evidenciaram um quadro de importantes melhorias que, obviamente, não foram homogêneas para todas as regiões, culturas selecionadas, categorias de trabalhadores e tipos de famílias analisadas. Vale ressaltar que as condições de trabalho em todo o Brasil são bem diversas, com notável desigualdade regional. Balsadi (2006) analisa a agricultura como um todo, o nosso trabalho se restringe à produção da cana-de-açúcar e fabricação de açúcar e álcool, o que representa o Setor Sucroalcooleiro, para um período de 15 anos (1995 a 2009). 6 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD investiga anualmente, de forma permanente, características gerais da população, de educação, trabalho, rendimento, habitação e outras, com periodicidade variável, de acordo com as necessidades de informação para o País, como as características sobre migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, segurança alimentar, entre outros temas. O levantamento dessas estatísticas constitui, ao longo dos 42 anos de realização da pesquisa, um importante instrumento para formulação, validação e avaliação de políticas orientadas para o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições de vida no Brasil. Acesso <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/PNAD2009/default.shtm> 7 Após sucessivas trocas monetárias (réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, novamente cruzeiro e cruzeiro real), o Brasil adotou o real em 1º de Julho de 1994, que, aliado à drástica queda das taxas de inflação, constituiu uma moeda estável para o país. Foi implantado no mandato do presidente Itamar Franco, sob o comando do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, depois eleito presidente da República. 15 1.1 – Objetivos 1.1.1 – Objetivo Geral Estudar a evolução das condições de vida das famílias que trabalham no setor sucroalcooleiro pernambucano, no período que se estende de 1995 a 2009. 1.1.2 – Objetivos Específicos A análise parte da verificação de que as áreas colhidas de cana-deaçúcar, a quantidade produzida e o valor da produção vêm aumentando, a exportação do açúcar bruto continua sendo o principal produto na pauta de exportação pernambucana, mas as condições de vida do trabalhador do setor sucroalcooleiro, provavelmente não acompanham esse crescimento do setor. Para se chegar aos resultados, torna-se necessário: a) verificar a evolução do acesso dessas famílias aos serviços públicos b) verificar a evolução das características dos domicílios c) verificar a evolução do acesso aos bens duráveis d) verificar a evolução da renda média e) construir os Índices Parciais f) construir o Índice de Condições de Vida (ICV) f) verificar a evolução do Índice de Condições de Vida (ICV) 16 CAPÍTULO 2 - DESCRIÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO De acordo com Bressan (2010), quando se examina a composição das fontes primárias de energia que formam a composição da matriz energética do Brasil, a necessidade de investimentos em energias renováveis fica ainda mais evidente. Dados do Ministério de Minas e Energia mostraram os seguintes percentuais de participação no ano de 2007: i) 37,4% de Petróleo; ii) 9,3% de Gás natural; iii) 6,0% de Carvão mineral; iv) 1,4% de Urânio; v) 14,9% Hidroelétrica; vi) 3,2% de Outras energias renováveis; vii) 12,0% de Madeira (lenha e carvão vegetal) e viii) 15,7% de cana-de-açúcar. Além do mais, o Brasil tem para a geração de energia elétrica, um arcabouço legal amplo e disciplinado. De acordo com o autor, o volume de investimentos para a expansão da matriz energética brasileira deve, até o ano de 2030, chegar a US$ 804 bilhões, sendo 4% do total proveniente do setor sucroalcooleiro, ou seja, aproximadamente, US$ 32,1 bilhões. Hoje a premissa é a busca mundial por fontes alternativas de energia, em decorrência das intempéries da natureza e ou de catástrofes climáticas que estão ocorrendo, com previsão de maiores dificuldades, num futuro não muito distante. Quando a análise parte da fantástica potencialidade que tem o país para a produção de biomassa e o seu aproveitamento energético, deve-se inferir que essas metas não estão exageradamente mensuradas e ou modestas (BRESSAN, 2010). Ainda segundo este autor, as melhorias na produtividade tanto do cultivo da cana como da produção de etanol têm crescido em virtude da inclusão de melhores variedades de cana; de economias de escala, oriundas de novas unidades industriais, maiores e mais eficientes; das melhorias tecnológicas e medidas de conservação de energia em usinas antigas, como ocorre com as usinas pernambucanas (Sindaçúcar, 2011), que aproveitam toda a sua biomassa na produção de sua própria energia. 17 2.1 – Setor Sucroalcooleiro no Brasil A cana-de-açúcar é originária do sudeste da Ásia e cultivada em uma extensa área territorial, compreendida entre os paralelos 35º de latitudes Norte e Sul, apresentando melhor rendimento em climas tropicais. Ela foi trazida ao Brasil em 1532 por Martim Afonso de Sousa e passou a ter grande importância para o País8. Inicialmente, seu principal pólo de produção era a Zona da Mata nordestina, tendo depois se expandido pela região Sudeste, notadamente no Estado de São Paulo. Hoje, quase todos os estados brasileiros produzem cana, mas o maior estado produtor ainda é São Paulo, com quase 58% da produção nacional. Na Tabela 1, dados da PAM9/IBGE mostram que Pernambuco encontra-se na sétima posição quando se fala na produção de cana-de-açúcar em toneladas. O estado de Alagoas é o primeiro estado nordestino em produção, com uma participação de 4% do valor total da produção de cana-de-açúcar no Brasil. O clima ideal para a produção da cana-de-açúcar é aquele que apresenta duas estações distintas: uma quente e úmida para proporcionar a germinação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo; seguida de outra fria e seca, para promover a maturação e conseqüente acumulo de sacarose. A época de plantio ideal para a região Centro-Sul é de janeiro a março, enquanto na Região Norte-Nordeste vai de maio a julho. A importância da cana de açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização, podendo ser empregada sob a forma de forragem, para alimentação animal, ou como matéria prima para a fabricação de açúcar, álcool, rapadura, melado e aguardente. 8 Segundo Bertotti, Ness e Massuquetti (2009) o Setor Sucroalcooleiro é considerado a mais antiga atividade econômica do Brasil. Foi o primeiro produto exportado a partir do final do século XVI, de acordo com os autores, o cultivo da cana-de-açúcar e a fabricação do açúcar, foram, no período mencionado, as atividades econômicas mais tradicionais no Brasil Colônia. 9 PAM (Pesquisa Agrícola Municipal). Disponível em: www.ibge.org.br. Acesso em: 03/10/2010. 18 Tabela 1 – Produção de cana-de-açúcar por estado – 2009 Unidade da Federação Quantidade (ton) Participação (%) São Paulo 408.451.088 59,1 Minas Gerais 58.384.105 8,4 Paraná 53.831.791 7,8 Goiás 43.666.585 6,3 Alagoas 26.804.130 3,9 Mato Grosso do Sul 25.228.392 3,6 Pernambuco 19.445.241 2,8 Mato Grosso 16.209.589 2,3 Rio de Janeiro 6.481.715 0,9 Paraíba 6.302.570 0,9 Espírito Santo 5.249.775 0,8 Bahia 4.630.196 0,7 Rio Grande do Norte 4.259.996 0,6 Maranhão 2.824.701 0,4 Sergipe 2.607.155 0,4 Ceará 2.323.937 0,3 Rio Grande do Sul 1.254.475 0,2 Piauí 859.513 0,1 Santa Catarina 699.068 0,1 Pará 698.845 0,1 Tocantins 664.284 0,1 Amazonas 368.050 0,1 Rondônia 253.277 0,0 Total 691.606.147 Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009 Nota: A participação percentual do Distrito Federal, Acre, Amapá e Roraima é quase 0 (zero) Atualmente, a principal destinação da cana-de-açúcar cultivada no Brasil é a fabricação de açúcar e álcool. O setor sucroalcooleiro é parte importante do agronegócio brasileiro, além de ser referência para os demais países produtores de açúcar e álcool. A cana-de-açúcar é a matéria-prima que permite os menores custos de produção de açúcar e álcool, em especial porque a energia consumida no processo é produzida a partir dos seus próprios resíduos (Balanço Nacional da Cana-deaçúcar e Agroenergia10, 2007). Em documento do IPEA11 (1998) chamado Relatório de Competitividade do Agribusiness Brasileiro, é mencionado que a partir dos anos 1970, o Sistema 10 Relatório extraído do MAPA (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Disponível em: http://www.agricultura.gov.br. Acesso em: 03/10/2010. 11 Documento do IPEA (Instituto de Pesquisa de Econômica Aplicada), utiliza a abordagem sistêmica chamando de SAG o Sistema Agroindustrial da Cana-de-açúcar. Os principais produtos gerados por 19 Agroindustrial da cana passou por importante transformação, deixando de ser exclusivamente voltado para o setor de alimentos, para destinar-se ao setor energético, através do Proálcool. Fomentou o destino da cana para produção de combustível, tendo efeito positivo no aumento da competitividade do sistema como um todo. As escalas de produção e moagem de cana cresceram assim como ganhos importantes em produtividade foram atingidos. Em pouco tempo, o país criou uma ampla rede de distribuição de álcool hidratado, adaptou pioneiramente veículos, desenvolveu tecnologias para uso do álcool anidro como aditivo para combustíveis e, tão rapidamente quanto produziu inovações institucionais e organizacionais, viveu o aparente declínio e descrédito da sociedade brasileira no uso energético da cana, justamente quando as preocupações mundiais passaram a ser as questões da sustentabilidade e emprego. A produção de cana-de-açúcar no Brasil tem uma importância econômica para o país desde o período colonial até os dias atuais. Desde muito cedo, percebeu-se a aptidão brasileira no cultivo desse produto agrícola, devido às condições climáticas favoráveis e à adequação da terra na produção da cultura. O Brasil apresenta vantagens comparativas na produção de cana-de-açúcar que proporcionam uma maior competitividade do açúcar brasileiro e, mais recentemente, do álcool, no mercado internacional. De acordo com os dados da FAO12 em 2008 o Brasil lidera o ranking na produção de cana-de-açúcar, com 645.300.000 toneladas métricas, seguido da Índia, com 348.188.000 MT, e da China, com 124.917.502 MT. Em termos de valor da produção, o Brasil alcança US$ 13,3 bilhões (FAO, 2008), acima da Índia, China, Tailândia e Paquistão (ver quadro abaixo). A tabela 2 abaixo mostra que a cana-de-açúcar é a segunda commodity13 mais produzida no ranking, perdendo apenas para a carne bovina, vindo depois a soja em terceiro lugar e a carne de frango, em quarta posição (FAO, 2008). este sistema são o açúcar, o álcool e outros subprodutos (bagaço de cana, vinhaça e levedura). Acesso em: 06/01/2011. 12 Dados extraídos FAO (Food And Agriculture Organization of The United Nations) Disponível em: <http://faostat.fao.org/desktopdefault.aspx?pageid=339&lang=en&country=21> Acesso em: 24/10/2010. 13 Mercadoria em estado bruto ou produto básico de importância comercial, como café, cereais, algodão, petróleo, etc., cujo preço é controlado por bolsas internacionais. 20 Tabela 2 – Ranking dos países produtores de cana-de-açúcar – 2008 Ranking Área Produção (US$ 1.000) Produção (ton) 1 Brasil 13.299.034 645.300.182 2 Índia 6.725.632 348.187.900 3 China 2.482.336 124.917.502 4 Tailândia 1.526.628 73.501.610 5 Paquistão 1.194.856 63.920.000 6 México 1.061.490 51.106.900 7 Colômbia 738.608 38.500.000 8 Austrália 677.540 32.621.113 9 Argentina 622.061 29.950.000 10 Indonésia 540.020 26.000.000 Fonte: Elaboração da autora. FAO, 2008 Tabela 3 - Produção mundial de alimentos – 2008 Ranking 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Commodity Carne bovina Cana-de-Açúcar Soja Carne de frango Leite Laranja Carne suína Arroz Café Algodão Milho Tabaco Feijão Ovos de galinha Bananas Mandioca Tomate Trigo Uva Produção ($1.000) Quantidade (ton) 18.727.175 13.299.034 12.360.728 11.948.791 7.261.109 3.257.882 3.053.255 2.522.762 2.286.655 1.953.551 1.925.338 1.551.665 1.438.764 1.302.133 997.306 962.110 916.363 877.289 659.401 9.054.468 645.300.182 59.242.480 10.243.987 27.579.383 18.538.084 3.015.114 12.061.465 2.796.927 1.315.984 58.933.347 851.058 3.461.194 1.844.670 6.998.150 26.703.039 3.867.655 6.027.131 1.421.431 Fonte: Elaboração da autora. FAO, 2008 O setor sucroalcooleiro do Brasil é o mais competitivo do mundo, com os maiores níveis de produtividade, rendimento e menores custos de produção. A 21 tendência de crescimento do preço mundial do petróleo, aliada à necessidade de redução de emissão de poluentes na atmosfera e ao grande volume de vendas dos veículos biocombustíveis deverá impulsionar, de forma crescente, as demandas interna e externa por álcool, sendo necessário grande volume de investimento. Com relação ao açúcar, a perspectiva também é de demanda mundial crescente, influenciada diretamente pelo crescimento do consumo mundial de açúcar em nível de 2% ao ano e pelas perspectivas de redução do produto em países que estão investindo na produção de álcool combustível em detrimento de incrementos na produção de alimentos (VIDAL; SANTOS J.; SANTOS M., 2006). Segundo Zanão (2009) as projeções do setor sucroalcooleiro no Brasil indicam que, nos próximos 13 anos, a produção será de cerca de 1 bilhão de toneladas de cana-de-açúcar, cerca de 45 milhões de toneladas de açúcar e 65,3 bilhões de litros de álcool. Conforme a autora, os números apontados, no entanto, estão ameaçados pela inadequação de portos, rodovias e ferrovias brasileiras. O impacto do entrave logístico sobre o setor é enorme, a infraestrutura rodoviária existente no Brasil não oferece condições para uma expansão significativa do mercado, o modal ferroviário não se apresenta competitivo para atender toda a demanda e os modais fluvial e dutoviário ainda são pouco representativos para o setor. As empresas do setor sucroalcooleiro, objetivando buscar a integração da cadeia de transportes, independente do produto ou do modal que é utilizado, buscam estratégias inovadoras com uma infraestrutura que garanta eficiência e competitividade nos custos logísticos. O setor tem investido em aumento na capacidade de tancagem das usinas, em terminais portuários modernos com grande capacidade de estocagem e altos índices de produtividade, e vem estudando alternativas intermodais para o escoamento da safra de açúcar e de álcool. A aplicação do progresso técnico no processo produtivo não é feita no sentido de contrariar ou prejudicar os trabalhadores, mas, principalmente, para favorecer os capitalistas através da elevação da taxa de lucro. O fato é que, nas agroindústrias sucroalcooleiras, para os trabalhadores, as inovações tecnológicas têm sido sinônimo de deterioração das relações e condições de trabalho (SCOPINHO, et al., 1999); no entanto, como na localidade do estudo em questão, Pernambuco, há baixa mecanização, percebe-se que essa questão pode não influenciar nas condições de vida desses trabalhadores. 22 2.2 – A agroindústria da cana-de-açúcar Em termos setoriais destaca-se a perda de participação da Indústria de Transformação no Brasil, cujo emprego caiu entre 1995 e 2000. No primeiro ano mencionado eram 4.897 mil e em 2000, 4.885 mil trabalhadores (Tabela 4). Após leve queda, o setor volta a se recuperar, e houve novo crescimento em 2010, empregando 7.885 mil trabalhadores na indústria de transformação. Gráfico 01– Evolução do emprego total no Brasil na Indústria de Transformação 50.000.000 45.000.000 40.000.000 Trabalhadores 35.000.000 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 Indústria de Transformação Total 10.000.000 5.000.000 20 10 20 05 20 00 19 95 0 Ano Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 Observando o Gráfico 1, os primeiros anos analisados mostra uma baixa quantidade de trabalhadores, provavelmente associada ao impacto da abertura comercial combinada com valorização cambial. Esta fase levou a uma ampla reestruturação da indústria, em termos de mudanças na composição. Em todo o período, que vai de 1995 a 2010, percebe-se um significativo aumento no número de trabalhadores, da ordem de 61%. Em relação ao total de trabalhadores no país, o emprego na Indústria de Transformação representou, em 2010, 18%, em 1995 essa participação era de quase 21%. Em relação aos demais setores é possível perceber um crescimento significativo do comércio e serviços (Tabela 5). 23 Tabela 4 – Trabalhadores por setor – Brasil Setores 1995 2000 2005 2010 109.095 109.608 147.560 211.216 4.897.517 4.885.361 6.133.461 7.885.702 378.208 290.352 341.991 402.284 Construção Civil 1.077.735 1.094.528 1.245.395 2.508.922 Comércio 3.340.398 4.251.762 6.005.189 8.382.239 Serviços 7.230.086 8.640.455 10.510.762 14.345.015 Administração Pública 5.458.022 5.882.565 7.543.939 8.923.380 Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca 1.007.480 1.072.271 1.310.320 1.409.597 Total 23.755.736 26.228.629 33.238.617 44.068.355 Extrativa mineral Indústria de Transformação Serviços Industriais de Utilidade Pública Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 A quantidade de trabalhador da Indústria de produtos alimentícios e bebidas e álcool etílico (usinas) possui a maior representatividade na Indústria de Transformação como um todo, com uma participação em 2010 de 22,3%, ou seja, eram 1.755 mil trabalhadores (Tabela 6); em segundo lugar, vem a indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos, com uma participação percentual de 13,1%; em terceiro a indústria química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria etc, com a participação de 11,4%. Destaca-se também o emprego na indústria metalúrgica e material de transporte, com as participações de 7,2% e 7,4%, respectivamente, de todo o emprego na Indústria Brasileira. Destaca-se ainda que estes indicadores podem refletir tanto uma expansão do emprego total dos setores como um processo de maior formalização das relações trabalhistas, uma vez que a RAIS14 considera apenas o emprego formal. O setor de açúcar e álcool nacional tem passado por profundas alterações nos anos recentes, com impactos importantes sobre a organização setorial, estratégias empresariais e sobre o mercado de trabalho. Dentre as principais mudanças ocorridas citam-se a desregulamentação do 14 RAIS é a Relação Anual de Informações Sociais, um importante instrumento de coleta de dados, instituído pelo Decreto nº 76.900, de 23/12/1975. A RAIS tem por objetivo: i) o suprimento às necessidades de controle da atividade trabalhista no País, ii) o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho, iii) a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais. Os dados coletados pela RAIS constituem expressivos insumos para atendimento das necessidades: i) da legislação da nacionalização do trabalho, ii) de controle dos registros do FGTS, iii) dos Sistemas de Arrecadação e de Concessão e Benefícios Previdenciários, iv) de estudos técnicos de natureza estatística e atuarial, v) de identificação do trabalhador com direito ao abono salarial PIS/PASEP. Disponível em:<http://www.mte.gov.br/>. Acesso em: 24/10/2010. 24 setor sucroalcooleiro, ou seja, a drástica redução da intervenção estatal e a proibição da queima da cana-de-açúcar no processo de colheita, induzindo à colheita mecanizada (MORAES, 2007a). 25 Tabela 5 - Trabalhadores da Indústria – 1995 a 2010 Indústria 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Produtos de minerais não metálicos 239.752 242.181 259.608 261.376 266.091 273.819 273.234 282.486 278.549 293.209 308.861 321.177 340.850 358.869 369.736 410.734 Metalúrgica 514.985 491.064 502.694 460.610 473.929 481.943 500.317 511.911 529.627 588.738 603.961 647.335 712.045 746.994 720.968 796.617 Mecânica 298.290 280.129 269.842 251.172 254.208 278.480 290.405 302.876 313.297 350.640 366.600 415.775 482.620 515.379 502.063 566.490 Material elétrico e de comunicaçoes 213.875 207.017 185.149 173.701 171.911 191.978 184.660 182.065 185.896 210.559 225.437 243.071 267.294 269.401 261.793 281.779 Material de transporte 316.605 308.628 313.816 278.609 276.994 296.823 300.724 316.414 331.629 385.305 411.394 437.293 495.278 524.544 513.326 583.777 Madeira e mobiliário 332.109 338.843 363.573 345.799 374.400 396.501 390.308 415.004 412.757 450.011 429.044 443.034 451.969 439.846 432.645 468.744 Papel, papelão, editorial e gráfica 318.206 314.129 307.033 299.009 297.850 308.626 306.476 307.540 307.829 324.878 338.155 360.367 372.058 385.555 386.324 406.074 Borracha, fumo, couros, peles, similares e diversas 237.741 226.201 219.999 210.155 207.496 220.775 228.113 239.222 247.935 275.326 277.578 298.529 305.925 306.841 300.763 327.271 Química, produtos farmacêuticos, veterinários e perfumaria 487.155 478.343 483.532 459.368 475.718 509.646 523.639 547.399 563.697 610.457 635.730 673.587 689.686 715.515 730.106 902.703 Têxtil 688.275 662.441 620.544 605.307 641.519 702.094 704.751 732.559 729.697 796.482 833.365 874.488 929.387 955.408 966.764 1.036.949 Calçados 196.462 202.768 182.687 184.725 211.582 240.392 248.829 262.537 272.124 312.579 298.659 306.791 316.508 306.584 319.174 348.691 Produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 1.054.062 1.045.641 995.279 947.162 952.195 984.284 1.025.006 1.109.761 1.183.122 1.328.673 1.404.677 1.573.336 1.718.547 1.785.904 1.857.422 1.755.873 Total 4.897.517 4.797.385 4.703.756 4.476.993 4.603.893 4.885.361 4.976.462 5.209.774 5.356.159 5.926.857 6.133.461 6.594.783 7.082.167 7.310.840 7.361.084 7.885.702 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 26 Tabela 6 – Participação das atividades industriais - Brasil Indústria Participação (%) Produtos minerais não metálicos 5,2% Metalúrgica 10,1% Mecânica 7,2% Material elétrico e de comunicações 3,6% Material de transporte 7,4% Madeira e mobiliário 5,9% Papel, papelão, editorial e gráfica 5,2% Borracha, fumo, couros, peles, similares, diversas 4,2% Química, produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria 11,4% Têxtil 13,1% Calçados 4,4% Produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 22,3% Fonte: Elaboração da autora.RAIS/MTE, 2010 De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM/2009), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cultura da cana-de-açúcar é a terceira mais importante na agricultura brasileira em termos de área colhida, ficando atrás apenas da soja (21,7 milhões de hectares) e do milho (13,7 milhões de hectares). Em 2009, foram colhidos 8,5 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Brasil, o que representa 14,6% da lavoura temporária do país e 13,2% de toda a lavoura brasileira. Em termos de valor bruto da produção agrícola, no entanto, a cana-deaçúcar salta para o segundo lugar, no mesmo ano, superando a cultura do milho. De acordo com a PAM, em 2009 a produção da cana-de-açúcar alcançou, sozinha, o valor de R$ 24 bilhões, contra R$ 38 bilhões da soja e R$ 15 bilhões do milho. A dimensão da fronteira agrícola da cana-de-açúcar é uma importante variável para se verificar a evolução do seu cultivo. Todavia, um indicador mais robusto é referente à quantidade da produção colhida. O gráfico abaixo apresenta a evolução da área colhida no Brasil, em hectare. A Tabela 7, na sequência, registra a expansão15 da área plantada de cana-de-açúcar no Brasil, que cresceu de 4.638 mil 15 Não há intenção de tratar os principais determinantes dessa expansão, no entanto há uma farta literatura analisando o comportamento favorável dos mercados nacional e internacional do açúcar e 27 hectares em 1995 para 8.756 mil hectares em 2009, principalmente no Sudeste, em relação do Nordeste. De acordo com a Tabela 8, a região Nordeste registrou uma queda de 8,4%, na análise desse mesmo período. Em relação aos aumentos ocorridos no Brasil e no Sudeste, que foram de 88,8% e 113,2%, respectivamente, essa queda registrada pelo Nordeste foi pouco significativa. Esse aumento ao longo dos anos analisados, mostra que a atividade agrícola se movimenta para atender à forte demanda do setor sucroalcooleiro no Brasil. Gáfico 2 – Evolução da área colhida de cana-de-açúcar (Hectares) 10.000.000 9.000.000 8.000.000 7.000.000 6.000.000 5.000.000 Brasil 4.000.000 Nordeste 3.000.000 Sudeste 2.000.000 1.000.000 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0 Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009 do álcool combustível, que influenciaram positivamente no desempenho da cultura da cana-de-açúcar no período 1992-2008. A conquista e ampliação de mercados internacionais para o açúcar, a recuperação dos preços internacionais dessa commodity, o aumento das exportações de álcool combustível após a assinatura do Protocolo de Quioto e, mais recentemente, o grande aumento das vendas de automóveis com motores flex no mercado nacional, são fatores que certamente contribuíram para a forte expansão da atividade. 28 Tabela 7 – Área plantada de cana-de-açúcar (Hectares) Ano Brasil Nordeste Sudeste 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 4.638.281 4.830.538 4.881.648 5.049.953 4.975.189 4.879.841 5.022.490 5.206.656 5.377.216 5.633.700 5.815.151 6.390.474 7.086.851 8.210.877 8.756.576 1.312.088 1.208.454 1.256.733 1.251.348 1.134.437 1.132.965 1.148.869 1.140.685 1.112.473 1.137.706 1.130.925 1.134.645 1.190.500 1.277.481 1.202.426 2.728.516 2.954.922 2.937.248 3.059.432 3.051.546 2.980.099 3.071.134 3.147.560 3.340.536 3.517.384 3.666.516 4.155.564 4.588.667 5.367.621 5.818.740 Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009 Em relação ao valor da produção, a cana-de-açúcar também registra forte crescimento quando se compara os anos analisados no projeto em questão, 1995 a 2009, com valores de R$ 4,1 bi e R$ 24 bi, respectivamente. O rendimento médio da produção de cana (quilogramas por hectare), em nível Brasil, também aumentou significativamente entre 1995 e 2009, passando de 66.614 kg/ha, em 1995, para 78.860 kg/ha em 2009; no entanto, foi na Região Norte o maior aumento relativo (31,9%), como mostra a tabela abaixo. Tabela 8 – Rendimento médio da produção de cana-de-açúcar (ton/ha) Bras il e Região Geográfica No rte No rde ste Brasil Ce ntro-Oeste Sul Sudeste 1995 200 9 Varia ção (%) 5 1.296 4 8.662 6 6.614 7 0.295 7 4.417 7 3.685 67.673 58.266 78.860 83.195 85.940 81.719 31,9 19,7 18,4 18,3 15,5 10,9 Fonte: PAM/IBGE, 2009 Quando se observam as diferenças regionais, é possível perceber que, em termos de participação, tanto na área total plantada como colhida, o Sudeste 29 ainda continua como a maior Região produtora. Em 2009, foi responsável por 66,4% da área plantada com cana-de-açúcar no Brasil. O Sudeste aumentou sua participação no período em questão, em 1995 ela respondia por 58,8% da área total plantada. Quando analisado a área colhida percebe-se um percentual de participação de 59,8% e de 66%, nos anos de 1995 e 2009, respectivamente. Em se tratando do valor da produção, o Estado com maior valor no Brasil está localizado na Região Sudeste: trata-se de São Paulo que, em 2009, respondeu por 53,5% do valor total produzido. Com o avanço deste estado, a Região Nordeste, que foi a terceira maior produtora nacional de cana-de-açúcar em 2009 (PAM/IBGE), vem perdendo espaço para regiões Sudeste e Centro-Oeste, no tocante à quantidade produzida em toneladas. Em 2008 e 2009, as participações percentuais da quantidade produzida de cana no Nordeste, em relação à produção nacional, foram de 11,5% e 10,4%, respectivamente, contra uma participação de 20% registrada em 1995. Essa queda deve-se à expansão da região Centro-Oeste, que vem aumentando sua participação percentual em relação à produção nacional, a cada ano (PAM/IBGE, 2009). Tabela 9 - Quantidade produzida de cana-de-açúcar (ton) Ano Brasil Norte Part. % Nordeste Part. % Sudeste Part. % Sul Part. % Centro-Oeste Part. % 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 303.699.497 317.105.981 331.612.687 345.254.972 333.847.720 326.121.011 344.292.922 364.389.416 396.012.158 415.205.835 422.956.646 477.410.655 549.707.314 645.300.182 671.394.957 724.865 472.591 597.909 795.818 581.194 915.508 873.597 794.672 798.437 955.837 1.085.211 1.287.166 1.319.926 1.597.337 2.025.877 0,2 0,1 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,2 0,2 0,3 60.658.799 53.778.920 61.373.531 63.286.467 53.395.858 58.856.060 59.895.333 59.725.897 65.093.080 65.499.357 60.874.754 63.182.425 68.841.282 74.155.804 70.057.439 20 17 18,5 18,3 16 18 17,4 16,4 16,4 15,8 14,4 13,2 12,5 11,5 10,4 201.051.837 215.644.015 220.029.186 226.642.135 224.606.958 217.208.153 225.479.366 241.149.595 259.788.712 276.593.030 291.991.211 332.553.607 378.238.530 445.735.240 459.049.493 66,2 68 66,4 65,6 67,3 66,6 65,5 66,2 65,6 66,6 69 69,7 68,8 69,1 68,4 21.687.348 24.645.355 25.806.370 28.074.824 28.627.229 24.659.973 29.102.672 29.814.531 33.710.908 34.271.981 31.227.899 35.744.385 48.049.088 53.432.111 55.785.334 7,1 7,8 7,8 8,1 8,6 7,6 8,5 8,2 8,5 8,3 7,4 7,5 8,7 8,3 8,3 19.576.648 22.565.100 23.805.691 26.455.728 26.636.481 24.481.317 28.941.954 32.904.721 36.621.021 37.885.630 37.777.571 44.643.072 53.258.488 70.379.690 84.476.814 6,4 7,1 7,2 7,7 8 7,5 8,4 9 9,2 9,1 8,9 9,4 9,7 10,9 12,6 Fonte: Elaboração da autora. IBGE/PAM, 2009 30 Gráfico 3 - Participação (%) das Regiões sobre a quantidade de área plantada de cana-de-açúcar 6,2% 12,0% 6,3% 100% 90% 7,4% 80% 70% Centro-Oeste 58,8% 60% 50% Sul 66,4% Sudeste Nordeste 40% Norte 30% 20% 28,3% 10% 13,7% 0% 1995 2009 Fonte: Elaboração da autora. Dados do IBGE. De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal, a cana-de-açúcar é um dos setores mais importantes da agricultura no Brasil, representando em 2009 aproximadamente 17% de todo o valor produzido (Reais) em relação à lavoura total (Tabelas 10, 11). Em relação apenas à lavoura temporária, a cana representa 21%. Além disso, ela está se tornando um setor estratégico no mundo, em razão do aumento da demanda dos biocombustíveis. Na ultima década este setor vivenciou importantes transformações, especialmente devido à maior mecanização. Apesar do grande aumento da produção desta cultura no Brasil nos últimos anos, nós não sabemos claramente qual o seu impacto social. O governo brasileiro apoia a expansão da cana-de-açúcar como forma de reduzir a pobreza. Piketty et tal. (2005) afirma ainda que, sendo esse setor empregador de uma grande parte da população, em alguns estados brasileiros uma possível redução da pobreza, por meio da implementação de políticas públicas, poderia melhorar, substancialmente o padrão de vida desses estados. 31 Tabela 10 – Valor da produção (R$ 1.000) total das lavouras – Brasil e Regiões Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 1995 2009 Ano 21.395.160,00 1.164.746,00 3.987.235,00 5.842.425,00 7.652.425,00 2.748.330,00 114.096.359,00 4.322.057,00 14.707.423,00 27.802.144,00 37.528.316,00 29.736.423,00 Lavoura Permanente Lavoura Temporária Ano Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 1995 2009 7.380.555,00 705.523,00 1.656.340,00 3.744.510,00 1.059.195,00 214.985,00 26.706.031,00 1.650.752,00 6.804.256,00 14.334.042,00 3.373.889,00 543.096,00 Fonte: Elaboração própria. Dados PAM/IBGE. Tabela 11 – Valor da produção (R$ 1.000) de cana – Brasil e Regiões Cana-de-açúcar 1995 2009 Brasil 4.127.665,00 23.990.924,00 Norte 25.685,00 199.654,00 Nordeste 1.217.807,00 3.689.073,00 Sudeste 2.264.470,00 15.093.814,00 Sul 292.641,00 1.941.302,00 Centro-Oeste 327.061,00 3.067.080,00 Fonte: Elaboração própria. Dados PAM/IBGE. Deu-se, nos primeiros anos da década de 1990, o início ao processo de desregulamentação16 dos preços dos produtos do setor sucroalcooleiro. Tradicionalmente, as usinas e destilarias desse setor eram subsidiadas e protegidas pelo Estado, desde os tempos do Brasil colonial. Com a liberação do preço do açúcar, a qual estendeu-se para o preço do álcool anidro e depois para a cana e o álcool hidratado, os preços do setor sucroalcooleiro passaram a ser determinados pela lei de livre mercado e, desde então, o setor açucareiro tem passado por profundas transformações em um período relativamente curto de tempo. Bertotti; Ness e Massuquetti (2009 apud CARUSO, 2002) compartilham deste ponto de vista ao afirmar que “os preços do açúcar brasileiro passaram a apresentar maior interrelação com os preços do mercado internacional, mediante a desregulamentação das exportações (mantidas até 1994 sob um sistema de quotas tarifárias) e o aumento acentuado das exportações brasileiras de açúcar. Esses fatores têm indicado o 16 Com o governo Collor, a análise sobre a desregulamentação feita abrange o período entre março de 1996 (quando foi publicada a Portaria da Fazenda nº 64, que liberava os preços da cana-deaçúcar, do açúcar e dos diversos tipos de álcool) e fevereiro de 1999, em que os preços de todos os produtos do setor realmente foram liberados (estipulado na Portaria do Ministério da Fazenda nº 275, de 16 de outubro de 1984) (BARROS; MORAES, 2002). 32 estabelecimento de mecanismos de arbitragem entre os preços domésticos e externos de açúcar” 2.3 - Conjuntura atual do etanol no Brasil O uso do etanol em escala no transporte nacional inicia-se com a implantação do Programa Nacional do Álcool, Proálcool, em 14 de novembro de 1975. De acordo com Rodrigues (2007) a produção de álcool passou, nessa época, na safra de 1975/1976, de 556 milhões de litros (UDOP, 2011)17, para os atuais 27,7 bilhões de litros (safra 2008/2009). Conforme a União da Indústria de cana-deaçúcar – UNICA (2011), o estado de São Paulo produziu 60,3% desse total, 16,7 bilhões de litros. O etanol está sendo bastante demandado no Brasil e no Mundo. Em razão disto, o Governo Federal tem realizado esforços para garantir o equilíbrio de oferta e demanda de combustível, monitorando o abastecimento por meio de avaliações quinzenais dos estoques e dos preços. Diversos órgãos do Governo e entidades do setor produtivo e de abastecimento estão em reuniões permanentes com a missão de garantir o suprimento de produto em todo o território nacional. De acordo com o mais recente Boletim Mensal dos Combustíveis Renováveis, do Ministério de Minas e Energia, de março/2011, desde 2003, o Governo Federal vem, sistematicamente, aumentando a oferta de recursos para o financiamento do setor, via BNDES, para a construção de usinas de etanol com o objetivo de aumentar a produção de etanol. Outra medida importante é a manutenção da diferenciação tributária, no plano federal, entre o etanol hidratado e a gasolina tipo C, privilegiando o combustível renovável. O Boletim mencionado explicita alguns fatores que contribuíram para que os preços do etanol, neste começo de ano (2011), estivessem em patamares superiores aos verificados historicamente no período de entressafra da cana-deaçúcar (dezembro a abril) na região Centro-Sul, como: i) Aumento do preço do petróleo no mercado internacional, que contribuiu para o aumento dos custos do plantio da cana-de-açúcar (combustíveis, fertilizantes etc); 17 União dos Produtores de Bionergia – <http://www.udop.com.br/index.php?item=safras> . Acesso em: 03/03/2011. UDOP. Acesso: 33 ii) Aumento do preço do açúcar no mercado internacional, que gerou forte atrativo para se produzir açúcar (atingindo quase o limite da capacidade de produção), em detrimento do etanol, que remunerou menos durante a safra; iii) Aumento expressivo da demanda por etanol no mercado interno devido ao incremento de quase 3 milhões de veículos flex-fuel na frota nacional de veículos leves; iv) Fenômenos climáticos que proporcionaram uma quebra das duas últimas safras da cana-de-açúcar, quebra esta que prejudicou tanto a renovação quanto a expansão dos canaviais que garantiriam o aumento da produção de etanol; v) E, finalmente, aumento da demanda da indústria química por etanol. O etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil apresenta custo de produção relativamente baixo, menor que o do etanol de milho dos EUA, por exemplo. Mostra-se também competitivo com a gasolina, se os preços de petróleo mantiverem-se acima de US$ 35/barril ou até menos (MACEDO, 2007). Segundo Baccarin (2009), as condições favoráveis têm atraído novos investimentos ao setor sucroalcooleiro, chegando a se projetar a instalação no Brasil de 100 novas agroindústrias sucroalcooleiras. Tal euforia não deve impedir, ao contrário, que se realizem análises e questionamentos sobre a sustentabilidade da produção brasileira de álcool, mesmo por que há sérias controvérsias sobre seus pilares ambiental e social. 2.4 – Mecanização nacional da cana-de-açúcar Embora o início da colheita totalmente mecanizada em São Paulo tenha ocorrido nos anos de 1972 ou em 1973, as principais experiências ocorreram logo após a II Grande Guerra, anos 1950, com a importação de algumas máquinas dos EUA, do tipo cortadeiras de cana inteira. Seu insucesso se deu pela grande oferta e baixo custo da força de trabalho, custos dos investimentos envolvidos na mecanização e sua inadequação em face das características da cana cultivada em São Paulo e a baixa eficiência do maquinário em solos acidentados. Ocorreram também baixa capacitação técnica disponível, falhas na reposição de peças e 34 ineficiência na assistência técnica, com sérios reflexos na capacidade que ela tem de extrair a sacarose. Uma usina de São Paulo fez a primeira experiência importando uma máquina cortadora da Louisiana (EUA). Essa máquina importada deixava as canas cortadas no solo, e provocavam um carregamento com uma grande quantidade de raízes. Por outro lado, sua utilização permitiu que fossem detectadas algumas necessidades locais mais visíveis, como a de ter um equipamento que operasse em terrenos com forte declividade (VEIGA FILHO 1998b). Entre 1980 e 1993, das pesquisas dirigidas às inovações, 40% delas estiveram centradas em pragas e doenças, 17% em mecanização agrícola e 15% em melhoramento genético e pesquisa biológica básica. Com a constatação de um número significativo e crescente também de projetos e/ou trabalhos em mecanização, houve uma demanda mais intensiva, por parte dos produtores, pela mecanização. Os pesquisadores estimaram as fontes de crescimento da produção de cana e da produtividade da força de trabalho e concluíram que o aumento da produção no período 1963-1990 podia ser explicado pelo aumento da produtividade da terra em 16%, pelo aumento da relação área/trabalhador em 34%, associada a tecnologias mecânicas, e em 50% pelo aumento da mão-de-obra empregada, associada ao aumento da área da cultura; e que o crescimento da produtividade da força de trabalho, era explicado em 32% pelo aumento da produtividade da terra e em 68% pela mecanização do processo produtivo. Veiga Filho (1998a) aborda ainda que os últimos trabalhos realizados sugeriram um grande dinamismo tecnológico da cana-de-açúcar em São Paulo. Iniciaram-se em 1970 as primeiras introduções comerciais de colhedoras nesse Estado, mas devido a vários fenômenos pertinentes ao processo econômico do desenvolvimento da economia brasileira, e por outros fatores mais, sua utilização não foi crescente, permanecendo baixa, principalmente se comparada aos 100% de mecanização encontrada em outros países ou regiões canavieiras do mundo. As razões de ordem econômica derivadas da demanda e principalmente a escassez de mão-de-obra, são muito utilizadas para explicar o padrão de mecanização do corte alcançado em vários países do mundo, e vai desde afirmações pragmáticas e taxativas a explicações mais bem elaboradas, o que não é foco do estudo. 35 Escreveram Gonçalves e Souza (1998), sobre as pressões ambientalistas, que elas crescem também no seio da sociedade brasileira, como reflexo do desenvolvimento de um capitalismo nacional, onde parte da classe média, já internacionaliza hábitos de consumo e valores sociais, em decorrência do maior conhecimento sobre os efeitos no meio ambiente das explorações econômicas. O complexo sucroalcooleiro vem enfrentando esse desafio há várias décadas, num processo iniciado com o destino dos resíduos agroindustriais, passando pela própria lógica monocultora e, no momento atual, pela insistência na proibição da queima de cana. Segmentos organizados da sociedade da região canavieira paulista vêm pleiteando medidas governamentais restritivas da queima de cana, centrando a justificativa nos efeitos sobre a qualidade de vida em geral, seja no plano da saúde humana, seja sobre solo e clima, além da persistente condenação das condições de trabalho no corte de cana. A proibição da despalha de cana por queima foi aplicada pelo Decreto de n° 42.056, de 06/08/1997, que, entre outras coisas, fixa um período de transição para que essa queima seja totalmente erradicada. Por meio desse instrumento legal, a redução da queima de cana na área mecanizável será efetuada no ritmo de 25% da área a cada dois anos, exigindo-se um mínimo de 10% de redução no primeiro ano, com o que a eliminação total demandaria oito anos. Já nas áreas não mecanizáveis, a redução bianual será 13,35%, mas em queda gradativa por quinze anos. Numa tentativa de proteger os fornecedores de cana que representam mais de 11 mil produtores no Estado de São Paulo, aqueles com área menor que 125 hectares, terão o mesmo tratamento dado à área não mecanizável. A escassez de mão-de-obra é muito utilizada para explicar o padrão de mecanização do corte da cana alcançado em vários países do mundo. A diminuição ou falta de braços, desde 1940, estimulou o desenvolvimento de máquinas para colher cana na Louisiana (EUA). Outro estudo feito por Grün (2000), para comprovar a relação entre salário do trabalhador rural e mecanização da colheita de cana-deaçúcar no mundo, constatou que quanto maior a razão salário somado à contribuição social dividida pelo preço médio da tonelada de cana, tanto maior o grau de mecanização na colheita. Os países e/ou regiões totalmente mecanizados em 1981, como a Austrália, o Havaí e a Louisiana, preenchiam esta condição, partilhando de três características comuns: intensivo em tecnologia com alta produtividade da força de trabalho, escassa população rural, e alto padrão médio de 36 vida dos habitantes. A produção por trabalhador tinha de ser suficientemente elevada para poder compensar o alto nível dos salários, e foi a mecanização quem conseguiu compensar, porque elevou a produtividade por trabalhador. Nos últimos anos, uma profunda expansão do setor sucroalcooleiro, com o crescimento contínuo na produção de álcool, açúcar e da cana-de-açúcar, matériaprima para esses produtos, tem sido observada nos resultados dos indicadores agrícolas e industriais. Este processo tem se dado em função de alguns fatores, tais como: elevado preço do petróleo, preocupações ambientais com a questão do aquecimento global, a necessidade de se buscar fontes de energia limpa e o surgimento do carro com motor flex-fuel. O Brasil encontra-se na vanguarda do processo de busca de energia limpa. Além da forte presença das fontes hidrelétricas, o país é o único que possui um programa de larga escala de veículos com motores que utilizam fontes energéticas limpas e renováveis. A competitividade do etanol produzido de cana no Brasil é significativamente maior do que a dos demais produtores, destacando-se em relação ao etanol de milho dos EUA, tanto na questão do custo como do balanço energético. Salienta-se apenas que esta situação de vantagem pode ser contestável no futuro por avanços tecnológicos em outros países, com o desenvolvimento do etanol celulósico, por exemplo, ou ainda com o surgimento de outras fontes energéticas que se tornem competitivas como a célula de hidrogênio, entre outras. Em função dos fatos acima mencionados, a expansão do setor sucroalcooleiro deve permanecer expressiva nos próximos anos. 2.5 – Setor Sucroalcooleiro no Nordeste A área dedicada à colheita da cana-de-açúcar tem um reflexo direto quando verificada a participação das regiões brasileiras na quantidade produzida (Tabela 9). As Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste ampliaram suas participações na produção, ao passo que o Nordeste registrou perda relevante (de 20% em 1995 para 10,4% em 2009) e o Norte manteve sua participação em níveis pouco significativos no mesmo período que foi analisado, 0,2% em 1995 e 0,3% em 2009. Como já foi dito, São Paulo é o estado que está bem à frente dos demais quando se trata da quantidade produzida em toneladas, o segundo colocado (Tabela 1), Minas 37 Gerais, tem uma participação percentual bem menor, de 8,7% (58 milhões de toneladas de um total de 672 milhões toneladas). A Figura 1 mostra, nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, as áreas de produção de cana, que visivelmente é muito concentrada em São Paulo e Zona da Mata de alguns estados do Nordeste. Figura 1 – Áreas de produção de cana-de-açúcar Fonte: UNICA (2011) De acordo com o Sindaçúcar18 de Pernambuco (2010), desde a época do Proálcool19, o segmento sucroenergético no Nordeste teve expansão, porém limitada; cresceu mais nas terras alagoanas, especificamente na área norte, que são mais planas. Na Paraíba e Rio Grande do Norte, que possui áreas mais arenosas, também houve expansão. As áreas mais tradicionais da região Nordeste, que são tidas como áreas de relevo acidentado, conseguem crescer verticalmente, com alguns incrementos de produtividade, paulatinamente. 18 (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco) Entrevista concedida pelo diretor David Bezerra Filho 19 Vários programas foram criados, dentre eles o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira no ano de 1971, que foi substituído no ano de 1973 pelo Programa de Apoio à Agroindústria Açucareira e, em seguida, pelo Programa Nacional do Álcool – Proálcool, em novembro de 1975 (BERTOTTI; NESS; MASSUQUETTI, 2009). 38 A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), mantém em Carpina, estado de Pernambuco a Estação Experimental de cana-de-Açúcar (EECAC), onde foi firmada, desde 1998, uma parceria público-privada entre Universidades integrantes da Rede Ridesa20 e os associados do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco – Sindaçúcar. Este convênio de pesquisa canavieira tem destaque para o melhoramento genético. O fruto dessa parceria foi o lançamento de dezoito novas culturas desenvolvidas para o Nordeste. Este novo cultivar foi chamado de “RB” e segundo a pesquisa já tem uma participação de 60% na região e que elevou a produtividade média do estado de Pernambuco em média 15 toneladas por hectare (CUNHA, 2010). Ainda segundo Cunha (2010), a logística tem sido uma grande forma de minimizar e neutralizar parte dos custos mais altos da região Nordeste, onde prevalecem atividades agrícolas manuais e fortemente sociais, versus aquelas predominantes no centro-sul, onde existe mais estabilidade climática e consequentes reduções de gastos agrícolas nos “CCT’s” - Corte, Carregamento e Transporte (mecanização). Esta comparação entre essas duas regiões, a Nordeste e Centro-Sul, onde na primeira região em relação às condições de escoamento do produto ao exterior, a vantagem é a distância das usinas aos portos, em média apenas sessenta quilômetros até os terminais portuários. De acordo com o Sindaçúcar, os portos de Natal/RN, Cabedelo/PB, Suape/Recife e Maceió/AL, apresentam, sobremaneira, menos gargalos do que os existentes nos portos do centro-sul. O Porto de Suape possui um eficiente processo de desembaraço de cargas, é considerado o mais novo do Nordeste, com investimentos para moderno terminal de açúcar refinado a granel, possibilitando-se maior valor agregado ao açúcar com destino ao norte da África e Mediterrâneo. O terminal TAS (Terminal Açucareiro de SUAPE), com capacidade estática de 160 mil tons e cadência-hora de embarque de 750 toneladas, escoará o 20 A Rede Inter-universitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro - RIDESA, formada por Universidades Federais - Ministério da Educação e Desporto, foi criada com a finalidade de incorporar as atividades do extinto PLANALSUCAR, e dar continuidade ao desenvolvimento de pesquisas visando a melhoria da produtividade do setor. A RIDESA foi inicialmente instituída por meio de convênio firmado entre sete Universidades Federais (UFPR, UFSCar, UFV, UFRRJ, UFS, UFAL e UFRPE) que estavam localizadas nas áreas de atuação das Coordenadorias do ex-Planasucar, do qual foi absorvido o corpo técnico e a infraestrutura das sedes das coordenadorias e estações experimentais. Com o apoio de parte significativa do Setor Sucroalcooleiro, por meio de convênio, a REDE começou a desempenhar suas funções em 1991, aproveitando a capacitação dos pesquisadores e as bases regionais do ex-Planasucar, aos quais se juntaram professores das universidades. 39 açúcar a granel, permitindo também em seu pátio, a paletização de containers, bem como embarques de açúcar ensacado, constituindo-se assim em terminal múltiplo. Os investimentos estimados estão na ordem de US$ 60 milhões e a licitação da obra teve como ganhador a Trade inglesa ED&FMAN. Dentro dos próximos dois anos, em 2013, já deverá ocorrer o início das operações. 2.6 – Setor Sucroalcooleiro em Pernambuco A cana-de-açúcar mantém por muito tempo o primeiro lugar na economia do Estado, de Pernambuco, quer seja na condição de produto agropecuário, quer seja na condição de insumo da indústria de transformação (setor de produto alimentício, setor de coque/refino do petróleo e álcool). Dados da SECEX21/MDIC indicam que em 2001 o açúcar de cana em bruto era o segundo produto mais exportado em Pernambuco, com um valor FOB de US$ 113 milhões, sofrendo uma queda brusca de quase 54%, no ano seguinte (US$ 52 milhões). Em 2003 passa à primeira posição com um valor de quase US$ 68 milhões, subindo em 2004 49%. Em 2008, passa à terceira posição, com um valor de US$ 100 milhões, demonstrando leve queda com relação a 2007. A Balança Comercial pernambucana terminou deficitária em US$ 2.116 milhões, no final de 2010, no entanto, a Usina Petribu S/A foi a terceira empresa exportadora, na relação das principais empresas exportadoras pernambucanas, com US$ 65 milhões (SECEX, 2011). O principal produto da pauta de exportação pernambucana, nesse período, foi o açúcar de cana em bruto. De acordo com estudos realizados pela Ancora22 (2007), até bem pouco tempo, a maior parte da Zona da Mata pernambucana era referida como região 21 SECEX: O Secex começa, em 1990, com a criação do Departamento de Comércio Exterior, no extinto Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento (MEFP). Em 1992, com a criação do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT), o órgão ganha status de secretaria. Em 1999 o Ministério passou a denominar-se Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Acesso em: www.desenvolvimento.gov.br. Acesso em:24/10/2010. 22 Ancora - Cooperativa de Profissionais Liberais, entidade sem fins lucrativos, foi fundada em 1997 por dez professores universitários e dez consultores com o objetivo (estatutário) de apoiar iniciativas de desenvolvimento sustentável. Hoje, são 75 associados trabalhando em quatro estados do Nordeste. Desde sua instituição, a empresa vem trabalhando exclusivamente com políticas públicas, através de licitações, algumas delas internacionais. Acesso: http://www.ancora.org.br/textos/011_jansen-mafra.html, em 31/05/2010. 40 canavieira. É uma das Mesorregiões que apresenta o maior potencial econômico do Nordeste, pelos seus recursos naturais disponíveis, água, solo, clima etc; pelas vantagens logísticas, ela fica em torno da Região Metropolitana do Recife, com razoável infraestrutura econômica (estradas, portos marítimos pernambucanos e de estados vizinhos, aeroporto e abundante contingente de mão-de-obra). No último censo demográfico (Censo, IBGE/2010), a sua população era de 1.310.638 habitantes, equivalendo a 14,9% da população do estado, que é de 8.796.448, dos quais 75,6 % se encontram na zona urbana (soma da população das cidades ou vilas, população das áreas urbanas isoladas e aglomerado de extensão urbana). Nessa Região concentra-se a monocultura canavieira, que, em uma área de aproximadamente 294.000 mil hectares, chegou a empregar em épocas de safra, mais de 200 mil pessoas. Tabela 12 – Área plantada por Mesorregiões Mesorregião Geográfica Sertão Pernambucano São Francisco Pernambucano Agreste Pernambucano Mata Pernambucana Metropolitana de Recife Total Área plantada (ha) 1.171 87 8.040 293.754 49.224 352.276 Fonte: Elaboração da autora. DadosPAM/IGBE, 2009 Apesar de todo esse desempenho, Jansen e Mafra (2007) da Ancora, afirmaram que o setor canavieiro de Pernambuco, não conseguiu manter o processo de desenvolvimento dinâmico que São Paulo alcançou, por exemplo. Esse setor continuou sob o domínio das oligarquias latifundiárias, por razões históricas de sua formação, suas raízes coloniais, que remontam ao Século XVI. Essas oligarquias usavam a terra como uma forma de poderio. Esse monopólio da terra garantiu a monocultura canavieira e inibiu o surgimento de outras atividades econômicas. Com isto, problemas estruturais surgiram como: i) desemprego (estrutural e sazonal) e subemprego; ii) déficits sociais elevados e a degradação acelerada do meio natural. Jansen e Mafra (2007) afirmam, ainda, que a plantação de cana-deaçúcar foi mais ampliada em Pernambuco, ainda que em áreas de solos e relevo não adequados à cultura, após a implantação do Proálcool, programa do Governo Federal, na década de 1970. Esta inadequação agravou ainda mais a situação e as 41 dificuldades crônicas de baixa produtividade agrícola. Devido ao atraso tecnológico, com a defasagem de vários componentes tecnológicos, a produtividade média era baixa em Pernambuco, em comparação com a do estado de São Paulo. Além desse efeito negativo do Proálcool, houve também a drástica redução das pequenas áreas exploradas com culturas alimentares e algumas espécies frutíferas. Mais recentemente, mesmo após essas dificuldades do setor, observa-se uma tendência para a retomada dessas iniciativas de diversificação das atividades agrícolas. Além das já citadas, os mesmo autores mencionados logo acima também apontam dificuldades nas práticas gerenciais e tecnológicas, utilizadas pela grande maioria das unidades de fabricação, mais atrasadas que as utilizadas pelos concorrentes no Centro-Sul do país. Houve um gap muito grande entre a introdução do primeiro engenho a vapor no processo de fabricação do açúcar, no final do século XIX, até 1970, quando voltaram a ocorrer investimentos significativos na modernização da indústria canavieira, principalmente, voltados para a produção de álcool. As políticas paternalistas adotadas após a década de 30, também ajudou a aumentar a defasagem tecnológica do Nordeste em relação aos competidores paulistas. Eles ainda mencionam que quando se trata do Setor Sucroalcoolero no Estado de Pernambuco, a Zona da Mata é a mais importante porque os grandes engenhos e usinas nasceram ao redor dos seus municípios e também se desenvolveram visando o fornecimento de produtos e serviços ao complexo sucroalcooleiro. Jansen e Mafra (2007) salientam que no período ao qual eles fazem referência, esses municípios eram predominantemente rurais, e os pólos de convergência da produção rural sempre foram as usinas e não as cidades. Estas cidades não funcionavam como entrepostos e não desenvolveram dinâmicas próprias, vivendo para suprir as necessidades das usinas e das pessoas com elas envolvidas. Assim, explica-se o fato de as cidades não terem se desenvolvido e tampouco crescido. A grande maioria apresenta população inferior a 60 mil habitantes, destacando-se como as maiores Vitória de Santo Antão, Goiana, Carpina e Escada, com populações de 129.974, 75.644, 74.858 e 63.517, respectivamente (Tabela 13). 42 Tabela 13 – População da Mata Pernambucana – 2010 Zona da Mata Pernambucana 2010 Localidade Total Água Preta Aliança Amaraji Barreiros Belém de Maria Buenos Aires Camutanga Carpina Catende Chã de Alegria Chã Grande Condado Cortês Escada Ferreiros Gameleira Glória do Goitá Goiana Itambé Itaquitinga Jaqueira Joaquim Nabuco Lagoa do Carro Lagoa do Itaenga Macaparana Maraial Nazaré da Mata Palmares Paudalho Pombos Primavera Quipapá Ribeirão Rio Formoso São Benedito do Sul São José da Coroa Grande Sirinhaém Tamandaré Timbaúba Tracunhaém Vicência Vitória de Santo Antão Xexéu Total Cidade ou vila Área urbana isolada Área rural Aglomerado de extensão urbana Povoado Outros aglomerados 1.310.638 33.095 37.415 21.939 40.732 11.353 12.537 8.156 74.858 37.820 12.404 20.137 24.282 12.452 63.517 11.430 27.912 29.019 75.644 35.398 15.692 11.501 15.773 16.007 20.659 23.925 12.230 30.796 59.526 51.357 24.046 13.439 24.186 44.439 22.151 13.941 18.180 40.296 20.715 53.825 13.055 30.732 129.974 14.093 979.650 18.750 20.247 16.045 33.982 7.991 7.917 6.534 72.056 28.861 9.565 13.692 22.637 7.901 53.964 9.162 19.504 15.434 58.025 29.424 12.064 7.082 11.504 11.632 17.118 14.833 8.559 27.182 46.886 36.332 16.011 8.579 11.813 34.003 13.373 7.158 13.436 21.484 15.170 46.367 10.969 13.805 113.429 9.170 - 225.855 11.308 5.469 5.219 4.645 3.362 3.516 1.165 2.080 6.761 2.219 6.445 1.135 3.171 6.418 2.268 7.302 11.280 5.571 3.492 1.700 4.065 3.422 3.081 2.959 6.084 2.886 2.849 9.965 5.074 7.515 3.684 9.517 9.792 7.096 6.783 1.296 11.008 3.673 6.005 2.086 7.109 13.682 1.698 11.167 2.388 2.305 3.803 604 401 1.666 - 66.228 641 8.466 1.104 722 2.198 361 499 264 6.986 2.482 1.928 1.294 582 3.008 785 358 9.152 1.176 2.781 809 2.727 6.339 493 7.163 685 3.225 27.738 2.396 845 675 2.105 457 259 11 1.380 3.135 842 1.259 354 847 765 2.317 195 520 75 644 873 721 1.465 1.872 559 989 2.178 - Fonte: Elaboração da autora. Condepe/Fidem 23 (IBGE 2010) Nessas cidades da Zona da Mata Pernambucana, consideradas de médio porte, existiu um forte movimento de entrada e saída de trabalhadores do campo, principalmente um fluxo de entrada daqueles desempregados oriundos dos municípios vizinhos. Essa fuga em busca de trabalho teve origem após a crise do setor sucroalcooleiro. Essa migração causou o inchaço das cidades e por consequência, a carência nos serviços de infraestrutura urbana. 23 Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas www.condepefidem.pe.gov.br. Acesso em: 25 jun 2010. de Pernambuco. Disponível em: 43 Pelo fato de os municípios da Zona da Mata serem subordinados ao complexo canavieiro local, não havia uma diversificação de outras atividades meramente urbanas. Nessas cidades, de uma forma geral, as atividades mais importantes eram e ainda são, até os dias atuais, o pequeno comércio e os serviços oferecidos pela administração pública. A indústria ainda é inexpressiva e a produção de manufaturas ainda deixa a desejar, ficando a Mesorregião, dependente de bens industriais ou agroindustriais provenientes de outras localidades. Não existe também uma variedade de serviços. O crescimento ainda visto nas principais cidades da mesorregião mencionada advém do crescimento dos programas sociais do governo federal, incluindo as aposentadorias, e as transferências de renda de pessoas que migraram para as grandes cidades. Este fato faz com que seja verificado um certo aumento de renda na localidade, que ajuda a manter as atividades comerciais e de serviços. A tendência ainda tímida de diversificação das atividades agrícolas, leva à igual tendência de ocorrerem oportunidades de diversificação urbana na Zona da Mata (agroindústrias alimentícias, beneficiando banana e derivados, passas, doces, farinha entre outras atividades). Atividades como turismo, artesanato, os movimentos artísticos e culturais, demandam mais serviços urbanos como: hotéis, restaurantes, hospitais e clínicas, empresas e órgãos de capacitação e qualificação, telecomunicações de dados e voz etc. No entanto, a grande atividade, em termos de quantidade de trabalhadores, está ligada à Indústria de Transformação, com 63.527 trabalhadores (Tabela 14). A participação dos trabalhadores ligados à fabricação de açúcar em bruto representa 64,4% do total da Indústria de Transformação (40.920 trabalhadores), o do cultivo da cana, 23,5% (14.936 trabalhadores) e a fabricação do álcool 11,5% (7.343 trabalhadores). O Setor Sucroalcooleiro concentra-se na Zona da Mata, ou seja, quase 100% dos trabalhadores ligados às atividades que compõem o setor (cultivo de cana e fabricação de açúcar e álcool), estão nesta mesorregião. Dos 166.845 trabalhadores da Zona da Mata Pernambucana, 38% estão na Indústria de Transformação (63.527). Esta quantidade é ainda um pouco menor em relação ao número de pessoas que trabalham no Setor Sucroalcooleiro, que é de 63.980 ocupados no setor (Tabela 15). 44 Tabela 14 - Trabalhadores das Mesorregiões Pernambucanas Sertão São Francisco Agreste Mata Região Metropolitana do Recife Total 792 148 275 223 893 2.331 6.583 3.963 34.411 63.527 108.738 217.222 184 286 339 401 15.688 16.898 Construção Civil 12.328 6.061 4.950 2.681 96.888 122.908 Comércio 14.607 16.585 44.582 21.728 167.180 264.682 Serviços 9.413 13.595 37.102 12.268 392.989 465.367 Administração Pública 33.180 18.533 72.257 46.428 225.536 395.934 736 12.546 9.202 19.589 9.211 51.284 77.823 71.717 203.118 166.845 1.017.123 1.536.626 Mesorregiões e Setores Extrativa mineral Indústria de Transformação Serviços Industriais de Utilidade Pública Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca Total Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 Tabela 15 – Trabalhadores Setor Sucroalcooleiro Mata Pernambucana Atividade Total Cultivo de cana-de-açúcar 14.936 Fabricação de açúcar em bruto 40.920 Fabricação de açúcar refinado 781 Fabricação de álcool 7.343 Total 63.980 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 Vê-se que as sub-atividades da Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico, Administração pública direta e autárquica e Agricultura, silvicultura, criação de animais, extrativismo vegetal, são as que mais empregam trabalhadores na Zona da Mata Pernambucana. Isto em função das usinas instaladas e cultivo de cana-de-açúcar. O setor de serviços se diversifica, surgindo assessorias e cursos em diversas áreas como contabilidade e informática. Escolas de línguas vêm completar a malha educacional junto com investimentos em formação para o trabalho e novas escolas de terceiro grau. O comércio tem crescido, surgindo setores que vêm atender a essas classes médias, como 45 revendedoras de automóveis, casas de móveis e decoração e aumento significativo de casas de materiais para construção, entre outros. Gráfico 4 – Evolução do número de trabalhadores dos sub-setores da Zona da Mata Principais Sub-setores da Zona da Mata - PE Trabalhadores Sub-setores 60.000 Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 50.000 40.000 Comércio varejista 30.000 Administração pública direta e autárquica 20.000 10.000 Agricultura, silvicultura, criação de animais, extrativismo vegetal 09 20 07 20 05 20 03 20 01 20 99 19 97 19 19 95 0 Ano Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 Mesmo com toda essa dinâmica de crescimento, os problemas sociais desses municípios continuaram crescendo, principalmente a partir da crise do setor canavieiro, no início da década de 1990. Percebe-se que as periferias tornaram-se cada vez mais pobres, com maiores índices de criminalidade e violência, e ainda mais pobreza. O desemprego e a falta de segurança se firmam como um dos maiores problemas dessas cidades. Os indicadores do desenvolvimento humano e das condições de vida da população da Mata, medidos pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH24) e pelo Índice de Condições de Vida - ICV, 24 O Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente, e também do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um. <http://www.pnud.org.br/idh/>, acesso em 09/06/2011. 46 registram uma distância muito grande para uma situação de desenvolvimento aceitável e até desejável. Demais indicadores sociais de condições de vida avaliados e medidos pelo nível de escolaridade, habitabilidade, ou seja, conjunto de condições que um lugar ou habitação possui, que o torna habitável. As próprias condições da habitação e saúde, sempre evidenciam uma mesma situação de carência da população. A realidade dessas cidades, consideradas pacatas, começam a apresentar o mesmo cenário dos grandes centros urbanos, ou seja, moradias precárias, sem saneamento e sem outros serviços básicos essenciais. Merecem destaque alguns resultados positivos de programas compensatórios do Governo Federal, que vêm de certa forma, mitigando a situação de pobreza oriunda da crise da cana e de toda uma conjuntura gerada em decorrência das diretrizes públicas que prevalecem nos últimos anos. A atenção está para os programas de Erradicação do Trabalho Infantil, o trabalho de apoio à criança de 0-6 anos e serviços assistenciais, que atende a pessoas idosas, os quais vêm trazendo para a região um volume de recursos que tem um efeito multiplicador nas atividades locais além de suprir parte das necessidades básicas dessa população. “Os primeiros movimentos sociais na Zona da Mata Pernambucana surgiram da reação dos trabalhadores em defesa dos interesses do homem do campo, em face da grande dependência que mantinham com os usineiros. Esses movimentos lutavam pelos direitos trabalhistas desrespeitados, pela posse e uso da terra. O início da década de 60 assistiu o momento de maior tensão, quando da atuação das Ligas Camponesas” (Jansen e Mafra, 2007). São inumeráveis as associações rurais vinculadas aos sindicatos, permanecendo importante o seu papel, durante e após a crise do setor canavieiro. Além da defesa dos interesses trabalhistas, os sindicatos atuam também no apoio assistencial aos seus associados. Muitos dos trabalhadores têm a dupla condição de trabalhador assalariado e de produtor familiar, em parcelas de assentamentos, porém mantêm seus vínculos com o sindicato de trabalhadores rurais. Recentemente, ONGs e outras novas formas de organização social vêmse instalando na região, entre elas destacam-se fóruns, conselhos, comissões, câmaras e comitês, criados pelos programas oficiais, com composição paritária (governo/sociedade), com o fim de articular a participação popular no planejamento, fiscalização e controle das políticas públicas. Aos poucos, esses colegiados vêm possibilitando a participação mais efetiva da sociedade local em programas na área 47 de produção rural, saúde, educação, apoio à criança e ao adolescente, segurança e bem-estar, social, entre outros. Pernambuco conta hoje com 22 usinas que moem cana para a fabricação de açúcar e álcool. Duas delas moem cana apenas para a fabricação de etanol, são as destilarias autônomas. A Tabela 19 mostra a moagem e a produção das usinas pernambucanas na safra 2010/2011. Vale apenas salientar que a coluna do HTM25 está zerada porque o setor não tem exportado este produto; no Centro/Sul e Norte do Brasil a safra inicia-se no primeiro dia de maio e no Nordeste no primeiro dia de setembro, com exceção da Paraíba, que se antecipa, iniciando suas atividades em agosto. As safras duram um ano e as moagens levam de quatro a seis meses. De acordo com o Sindaçúcar-PE (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco), suas usinas associadas, criaram sob sua gestão financeira um fundo de inovação tecnológica, a partir de iniciativas focadas em sustentabilidade ambiental, com diminuição, gradual, dos contingentes de corte de cana queimada, mesmo nas ladeiras e encostas das áreas agrícolas. A iniciativa teve início na tradicional Usina Petribu, por meio de diversas viagens realizadas a vários países pelo mundo em busca de tecnologia de colhedoras para corte em inclinações íngremes. O êxito começa a surgir com testes de máquinas francesas (Ilhas Reunion), japonesas e chinesas, vocacionadas para áreas de várzeas e para inclinações que vão principalmente de 12% a 70%. A RAIS/MTE (2010) revela o número de estabelecimentos formais do Setor Sucroalcooleiro no Estado de Pernambuco. Em quantidade, é o segundo estado do Brasil, sendo a grande maioria desses estabelecimentos ligados ao cultivo de cana-de-açúcar. Em São Paulo existe uma quantidade muito maior de estabelecimentos e quase 100% deles estão também ligados ao cultivo da cana. Com um total de 668 estabelecimentos, Pernambuco é o primeiro estado do Nordeste em número de estabelecimentos formais. Desse total, 93% encontram-se na atividade do cultivo da cana-de-açúcar (Tabela 15). 25 A sigla HTM origina-se do termo em inglês HIGH TEST MOLASSES. HTM é o mel rico (mel de elevada pureza; designa também o mel que sai da centrífuga quando se efetua a lavagem dos cristais de açúcar no cesto e a água dissolve cristais de açúcar, aumentando a pureza do mel) invertido ou açúcar líquido. A diferença para o melaço é que este último é o resíduo da fabricação do açúcar. 48 Tabela 16 – Os 10 estados com a maior quantidade de estabelecimentos UF Cultivo de cana-deaçúcar Fabricação de açúcar em bruto Fabricação de açúcar refinado Fabricação de álcool Total 6.225 619 579 500 309 198 186 132 145 69 9.260 150 36 31 31 23 13 6 15 2 8 345 10 6 5 2 1 1 1 0 0 1 47 95 7 36 3 28 4 7 44 17 26 303 6.480 668 651 536 361 216 200 191 164 104 9.955 São Paulo Pernambuco Minas Gerais Alagoas Parana Rio de Janeiro Paraíba Goiás Mato Grosso Mato Grosso do Sul Total Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010. Os dados mostram notadamente que a economia pernambucana gira em torno do setor Serviços e Comércio, principalmente nas mesorregiões Metropolitana e Agreste. Em terceiro a Indústria de Transformação também concentrada nas duas mesorregiões mencionadas. Isto é percebido na tabela abaixo pela quantidade de estabelecimentos. São Paulo é o campeão no cultivo da cana-de-açúcar, fruto de investimentos realizados, pioneiramente, em novas tecnologias. Tabela 17 – Estabelecimentos das Mesorregiões Pernambucanas S ertão S ão Fra nci sco Agreste Mata Região Metropolitana do Recife Total Extrativa Mineral 55 7 24 14 37 137 Indústria de Transformação 673 34 9 3.009 734 4.293 9.058 Serviços Industriais de Ut ilidade P ública 12 10 18 24 1 05 169 Co nstrução Civil 182 27 5 4 90 199 2.505 3.651 Mesorre giões Pernambucanas Co mércio 3.566 2.982 9.308 4.943 20.828 4 1.627 Serviços 1.326 1.453 4.072 1.892 22.067 3 0.810 Administra cão P ública 90 39 1 85 111 1 52 577 Agropecuária, E xtração Vegeta l, Caça e P esca 141 89 7 8 25 1.025 4 08 3.296 6.045 6.012 17.931 8.942 50.395 8 9.325 Total Fonte: Elaboração da autora. Dados da RAIS/MTE, 2010 49 Tabela 18 – Estabelecimentos da Zona da Mata Pernambucana Setor de Atividade Econômica Extrativa mineral 14 Indústria de Transformação 734 Serviços Industriais de Utilidade Pública 24 Construção Civil 199 Comércio 4.943 Serviços 1.892 Administração Pública Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca Total 111 1.025 8.942 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2010 A Tabela 19 do Sindaçúcar que apresenta dados sobre o mercado de cana-de-açúcar, açúcar e álcool, as usinas, sua moagem e produção em detalhes, faz referência à posição das safras 2010/2011, acumulada. 50 Tabela 19 – Produção de açúcar e álcool safra 2010/2011 – Usinas de PE SINDICATO DA INDÚSTRIA DO ÁÇÚCAR E DO ÁLCOOL NO ESTADO DE PERNAMBUCO Boletim Geral de Produção Safra: 2010/2011 Dados de Moagem Unidades Produtoras Dias Efic (%) Média (t/h) POSIÇÃO EM : 15/05/2011 P Moagem (ton) Demerara Refinado (t) Cristal (ton) (ton) R O VHP (ton) D U Total (ton) Ç Ã Etanol Hid (m³) O DESTILADO Etanol Ani Total (m³) (m³) RENDIMENTO Melaço (ton) HTM¹ (ton) Melaço (ton) Etanol (l/ton) Açúcar (kg/ton) 106,60 01-SAO JOSE(*) 143 85,8 359,8 1.060.161 103.025 0 0 1,288 104.313 15.261 4.541 19.802 52.856 0 58.792 0,00 02-CUCAU(*) 183 79,3 342,2 1.192.082 0 0 0 108,821 108.821 30.099 0 30.099 49.944 0 63.476 0,00 106,48 03-CENTRAL OLHO D'AGUA(*) 147 84,9 400,9 1.201.382 105.545 0 0 2,185 0.108 7.375 0.018 25.065 58.298 0 58.168 0,00 105,44 04-SANTA TERESA(*) 139 89,5 382,7 1.142.141 0.105 0 0 5,288 110.288 3.234 15.589 18.823 46.251 0 45.748 0,00 105,05 05-BOM JESUS(*) 169 75,5 182,0 557.334 0 31.191 0 16,473 47.664 9.401 3.355 12.756 27.806 0 27.236 0,00 104,07 06-LARANJEIRAS(*) 148 74,4 240,9 636.568 0.009 36.091 0 17,142 62.333 0 0 0 0.032 0 0 0,00 103,45 07-PUMATY(*) 184 76,0 319,2 1.070.963 38.006 0 0 39,877 77.883 22.653 7.797 0.030 44.083 0 43.393 0,00 101,55 08-SALGADO(*) 161 64,8 189,4 474.368 0 32,125 0 10,790 42.915 8.691 0 8.691 26.399 0 26.327 0,00 101,21 09-IPOJUCA(*) 204 79,8 201,7 787.719 25.015 24,203 219 15,932 65.369 7.436 9.464 0.017 36.863 0 36.237 0,00 100,63 100,20 10-PETRIBU(*) 196 84,8 337,9 1.347.301 0 0.017 2.023 104,518 123.121 0 22.417 22.417 74.414 0 74.407 0,00 11-CRUANGI(*) 188 75,3 336,7 1.144.225 0 57.216 0 43,126 100.342 5.582 15.803 21.385 59.062 0 62.012 0,00 98,76 12-UNIAO E INDUSTRIA(*) 216 72,1 225,5 842.971 0 59.366 0 14,543 73.909 9.971 7.063 17.034 46.054 0 54.289 0,00 97,48 13-VALE VERDE(*) 217 73,5 167,7 0.642 0 26.898 0 22,252 0.049 11,047 0 11.047 42.707 0 31.795 0,00 95,28 14-INTERIORANA(*) 180 73,6 257,4 818.035 0 55.196 0 13,645 68.841 11,147 1.421 12.568 28.895 0 23.597 0,00 94,41 94,05 15-TRAPICHE(*) 211 73,4 373,8 1.389.246 105.401 0 18.932 0 124.333 0 18.562 18.562 57.609 0 57.866 0,00 16-UNA(*) 189 67,1 152,5 0.464 0 23.612 0 15,434 39.046 0 0 0 24.228 0 0 0,00 92,39 0 0,0 0,0 272.075 0 16.752 0 0 16.752 0 0 0 23.968 0 0 0,00 89,39 18-CATENDE(*) 58 33,7 237,7 111.621 0 6.436 0 0 6.436 0 0 0 0.010 0 0 0,00 87,04 19-JB ( ALCOOLQUIMICA )(*) 241 66,1 263,1 1.006.405 0 16.101 0 20,617 36.718 45.254 4.667 49.921 25.409 0 67.443 0,00 82,66 17-VITORIA/NORTE E SUL(*) TOTAL USINAS/ANEXAS 3.174 74,9 283,2 16.160.577 491.092 401.767 21.174 451,931 1.365.964 187.151 128.369 0.316 766.726 0 730.786 0,00 99,37 01-CACHOOL(*) 174 71,0 63,3 187.682 0 0 0 0 0 1.178 16.661 17.839 0 0 0.011 76,87 113,22 02-UNA ÁLCOOL(*) 211 76,4 141,8 548.479 0 0 0 0 0 0.037 14.807 51.737 0 0 31.723 74,76 110,11 TOTAL AUTONOMAS 385 74,0 107,7 736.161 0 0 0 0 0 38.108 31.468 69.576 0 0 43.103 75,30 110,91 3.559 74,8 264,4 16.896.738 491.092 401.767 21.174 451,931 1.365.964 225.259 159.837 385.096 766.726 0 773.889 75,30 99,87 TOTAL GERAL Fonte : Unidade Produtoras (*) Moagem Encerrada (**) Dados da quinzena anterior. Rendimento segundo resolução 06/82 do CONDEL/IAA Os dados constantes neste relatório, refletem as informações contidas no TI01 e PLANILHA SINDAC enviados pelas respectivas Unidades, cabendo as mesmas inteira responsabilidade pela veracidade dos números aqui apresentados.. T.D.C. em 01/06/2011 as 10:15:14 INFOQUÍMICA LTDA. (81) 3266.5749 - REL_004 Nota¹: As usinas não estão produzindo atualmente o HTM (agosto/2011) Nota²: As Destilarias Autônomas medem seus rendimentos na unidade litros/tonelada (l/ton) e as usinas concentram em uma linguagem única quilograma/tonelada (kg/ton) 51 A safra 2009/2010 em Pernambuco totalizou 17.945 milhões de toneladas de canas moídas com a fabricação de 1.512 milhões de toneladas de açúcar e 400 mil m³ de etanol. Uma parte do açúcar destinou-se ao mercado interno, 677.000 toneladas métricas, e 835 mil toneladas métricas para exportação. Gráfico 5 - Últimas safras pernambucanas do Setor Sucroalcooleiro 25.000.000 20.000.000 Cana (t) 15.000.000 10.000.000 5.000.000 Açúcar (t) Álcool (m³) 19 95 /1 19 996 96 /1 19 997 97 /1 19 998 98 /1 19 999 99 /2 20 000 00 /2 20 001 01 /2 20 002 02 /2 20 003 03 /2 20 004 04 /2 20 005 05 /2 20 006 06 /2 20 007 07 /2 20 008 08 /2 20 009 09 /2 20 010 10 /2 01 1 0 Fonte: Elaboração da autora. Sindaçúcar/UNICA, 2011 De acordo com o Sindaçúcar (2010, Recife) a região Nordeste é a segunda região produtora de cana com menor custo de produção, fica atrás apenas da região Centro-Sul (Mato Grosso, Goiás e Paraná). No Nordeste, o estado de Alagoas passou Pernambuco em produção porque otimizou o plantio nos tabuleiros. No caso específico da indústria sucroalcooleira brasileira, o processo de produção tem sofrido transformações substanciais impostas como necessárias para garantir melhor produtividade e competitividade nos mercados, cada vez mais exigentes. Estima-se que essas transformações foram sentidas de maneira diferenciada pelas usinas pernambucanas em função de algumas particularidades. Atualmente a produção de cana em Pernambuco, mesmo com todos os resultados positivos, enfrenta um problema que compromete sobremaneira a competitividade, quais sejam o clima e a topografia: na Zona da Mata Norte a pluviometria é menor e a topografia é um pouco melhor; na Mata Sul pernambucana, a pluviometria é melhor, no entanto a topografia é bem mais acidentada. 52 2.7 - Exportações do Setor Sucroalcooleiro Sob o monopólio de Portugal, que detinha a exclusividade do comércio com a colônia, a economia colonial brasileira foi integrada ao processo mundial de expansão do capitalismo mercantil sendo altamente especializada e dirigida para o mercado externo. De acordo com texto da Biblioteca Virtual do Estado de São Paulo26, os portugueses tinham muito interesse em conseguir uma forma de obter altos lucros com a colônia brasileira, e esse ganho estaria na atividade da cana-de-açúcar, pois o açúcar era muito bem quisto e aceito no mercado europeu. No entanto, essa atividade de transformar essa matéria-prima, a cana, em produto acabado, exigia muita mão de obra na colônia. Foi então que surgiu a saída para os o lucrativo negócio do tráfico de escravos africanos, esta foi a alternativa para a atividade naquela época, no Brasil Colônia. Ao longo de sua história, a economia brasileira viveu vários ciclos. Cada ciclo privilegiando um setor, não significando que o início de cada nova atividade lucrativa foi precedido pelo declínio da anterior, mas a reorientação da economia para uma atividade dominante com demanda em crescimento no mercado externo. Cada ciclo provocou o desenvolvimento econômico de uma determinada região em torno da monocultura: a cana-de-açúcar no Nordeste, o ouro na região Centro-Sul, nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, o café na região do Vale do Paraíba, entre o Rio de Janeiro e São Paulo e, posteriormente, o interior de São Paulo e Paraná, e a borracha, no Amazonas. Nos primeiros 30 anos de colonização, o Pau-Brasil foi o produto exportado; todavia, foi uma atividade exclusivamente extrativista. Foi mesmo a cultura da cana de açúcar a primeira atividade econômica organizada no Brasil. O seu cultivo e a fabricação de açúcar foram atividades tradicionais do Brasil colonial, sendo este o primeiro produto básico de exportação. O período de 1570 a 1650 foi o apogeu do ciclo da cana-de-açúcar, principalmente em Pernambuco. 26 Disponível em: <http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/pdf/temasdiversos-escravidaonobrasil.pdf> Acesso em: 03/01/11. 53 O café foi o produto que impulsionou a economia brasileira de 1800 a 1930 (ciclo do café), sendo o principal produto de exportação durante o período do império (1822-1889) até 1920. Durante o ciclo do café, novas culturas se destacaram como produtos de exportação, com alta demanda no mercado externo. O cacau, produzido na Bahia; a borracha, produzida na Amazônia; e o algodão, cultivado em larga escala no Maranhão, Pernambuco e Ceará. A borracha foi o segundo produto de exportação a partir de 1880, e por quase 30 anos, superando a exportação de açúcar. Em 1910, este setor entrou em crise, com a concorrência da produção inglesa na Malásia e também com o ataque de pragas na plantação. Na década de 1930, foi adotada a política de valorização do café, com a criação do Conselho Nacional do Café, em agosto de 1931, que se estendeu até 1945. Em junho de 1933, foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para coordenar a agricultura canavieira, controlar a produção, comércio, exportação e preços do açúcar e do álcool de cana. O principal mecanismo de regulação era a implantação de cotas de produção. O IAA foi extinto no início da década de 1990, iniciando-se o período de desregulamentação do setor, com a liberação das exportações e dos preços do açúcar e do álcool (DIEHL; ANDRIOLLI; BACCHI, 2007). A abertura comercial, iniciada no governo Collor, gerou uma profunda mudança na condução da política econômica nos anos 1990, obrigando os empresários a realizar profundos ajustes para adequar-se ao novo ambiente de negócios conduzido exclusivamente pelas leis de mercado. O fim do protecionismo à indústria sucroalcooleira, com a extinção do IAA, colocou os empresários diante do grande desafio de reestruturar-se para atuar em um ambiente altamente competitivo que exigia profundas transformações na estrutura do setor para garantir a sua sobrevivência. No segmento de produção, foi intensificada a mecanização em todas as etapas do processo de produção da cana de açúcar, especialmente no centro-sul do País. No segmento industrial, ocorreram transformações organizacional, estrutural e a adoção de inovações tecnológicas: fusões e incorporações de usinas/destilarias; investimento de capital estrangeiro, e mesmo nacional, na aquisição e instalação de unidades industriais no centro-sul do País; diversificação da produção. 54 Falando em exportações de açúcar, no ambiente externo, dois acontecimentos também alteraram o cenário para a sua exportação na década de 1990: o fim do acordo Cuba e Rússia e a continuidade do embargo dos Estados Unidos a Cuba, que deram ao Brasil a oportunidade de assumir parte do mercado antes atendido por Cuba e a aumentar a sua participação no mercado mundial. O Gráfico 6 apresenta o desempenho das exportações de açúcar do Brasil, Nordeste e Pernambuco, no período de 1995 a 2010. A tabela 20 mostra também em valores (US$); entretanto, valor é uma variável que oscila muito no mercado porque a compra e a venda são determinadas na bolsa de valores e depende da oferta e da demanda. Pernambuco teve aumento nas exportações nos últimos dois anos (2009 e 2010) em função da quebra de safra da Índia. Gráfico 6 – Evolução das Exportações do Açúcar (ton) 25 .00 0.000 00 0 0.0 20 .0 15 .00 Brasil Nordeste 0.000 Pernambuco 00 0 0.0 10 .0 .0 00 5.000 0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 Exportações (ton) 00 0 0.0 30 .0 Ano Fonte: Elaboração da autora. MDIC/SECEX/Aliceweb *maio 55 Tabela 20 – Exportações do Açúcar em valor (US$) quantidade (ton) - Brasil, Nordeste e Pernambuco Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Brasil Valor US$ 2.493.078 1.608.746 1.772.454 1.943.434 1.919.693 1.199.111 2.277.510 2.093.636 2.140.002 2.640.227 3.918.828 6.185.120 5.100.437 5.482.965 8.377.818 12.761.683 4.190.034 Toneladas 8.237.967 5.425.356 6.381.186 15.714.227 13.713.664 6.506.359 11.169.757 15.245.942 12.914.468 15.764.115 18.160.252 18.870.262 19.364.479 19.490.818 24.336.677 28.016.605 7.286.061 Nordeste Valor US$ 680.303 396.041 480.138 448.212 296.644 258.104 433.339 347.834 384.397 466.624 611.981 759.081 663.502 948.023 1.013.695 1.425.202 982.159 Toneladas 2.254.414 1.278.771 1.650.990 1.559.494 1.580.470 1.198.351 2.125.768 2.027.856 2.143.762 2.618.048 2.585.993 2.491.665 2.200.883 3.273.538 2.741.045 2.816.642 1.522.586 Pernambuco Valor US$ 309.240 169.655 201.147 192.425 103.714 73.700 133.181 109.123 100.707 154.159 191.780 199.195 204.171 274.918 320.265 498.138 227.731 Toneladas 1.030.034 547.872 693.811 671.743 563.014 335.163 659.163 584.933 485.721 818.694 766.130 597.240 633.297 878.201 844.370 932.893 353.967 Fonte: Elaboração da autora. MDIC/SECEX/Aliceweb *maio As exportações do álcool, no Brasil, não tiveram evolução uniforme até o início do Século XXI, sendo realizadas, principalmente, para o escoamento de excedentes de produção, sem o cuidado de manutenção de laços comerciais, provavelmente devido ao fato dos preços do álcool no mercado externo terem sido, de modo geral, inferiores aos preços de oportunidade do álcool no mercado interno e do açúcar, no mercado interno e externo. Em 1984, o Brasil exportou mais de 850 mil m³ para em 1989 a 1991 cair praticamente para zero e a partir de 1992 começou a recuperar-se lentamente. Durante toda a década de 1990, as exportações de álcool continuaram a ser influenciadas pela oferta: excesso ou a falta em alguns momentos. A Tabela 21 apresenta o desempenho das exportações de álcool do Brasil, Nordeste e Pernambuco, no período de 1995 a maio de 2011. 56 Tabela 21 – Exportações do Álcool em valor (US$) quantidade (m3) – Brasil, Nordeste e Pernambuco US$ 1.000 FOB Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Brasil Valor US$ m³ 106.919 285.442 95.420 259.301 54.129 179.320 35.520 116.905 65.849 407.220 34.786 227.258 92.146 345.675 169.153 759.016 157.962 757.375 497.740 2.321.410 765.529 2.592.293 1.604.730 3.428.862 1.477.646 3.532.667 2.390.110 5.123.993 1.338.152 3.296.465 1.014.261 1.900.165 271.526 396.892 Nordeste Valor US$ m³ 28.771 79.679 76.874 207.672 25.230 65.042 6.769 18.674 15.459 12.846 40.400 10.607 13.212 45.377 200.987 45.693 307.772 66.890 566.542 126.810 169.963 524.144 450.171 189.608 210.713 474.356 237.170 519.794 142.196 279.200 125.382 75.634 103.298 62.629 Pernambuco Valor US$ m³ 12.397 28.605 26.020 72.519 4.534 12.554 2.728 7.576 3.142 14.495 3.589 15.045 2.905 11.620 1.705 6.727 4.991 32.517 12.857 47.527 21.961 54.729 38.986 83.092 23.680 50.651 18.972 41.648 18.660 34.223 2.784 6.018 0 0 Fonte: Elaboração da autora. MDIC/SECEX/Aliceweb *maio Em Janeiro de 1999, ocorreu a desvalorização do Real e a mudança do regime cambial de bandas cambiais para taxa flutuante. A liberalização da taxa de câmbio aumentou a competitividade do açúcar e do álcool conquistadas ao longo da década de 1990. Neste mesmo ano o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) foi extinto e o setor sucroalcooleiro foi liberalizado funcionando hoje pela lei de mercado. No mercado interno, o álcool passou a ser competitivo com a gasolina a preço de mercado. As demandas do mercado interno e externo começaram a crescer; a expansão da exportação passou a ser influenciada pela demanda e não mais pela oferta. O etanol passou a ter importância crescente na balança comercial e na matriz energética. O ano da grande mudança foi 2004 quando as exportações de álcool deram um salto de 757 milhões de litros em 2003 para 2,32 milhões de metros cúbicos. O pico foi 2008, com 5,2 milhões m³. A crise financeira internacional reduziu a demanda internacional em 2009 e 2010, com tendência de queda para 2011. 57 Tabela 22 - Participação (%) do Açúcar e do Álcool no total das exportações do Brasil US$ 1.000 FOB Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Brasil Valor US$ 47.746.728 47.746.728 52.994.341 51.139.862 48.012.790 55.118.920 58.286.593 60.438.653 73.203.222 96.677.497 118.529.184 137.807.470 160.649.073 197.942.443 152.994.742 201.915.285 94.614.434 Açúcar Valor US$ 2.493.078 1.608.746 1.772.454 1.943.434 1.919.693 1.199.111 2.277.510 2.093.636 2.140.002 2.640.227 3.918.828 6.185.120 5.100.437 5.482.965 8.377.818 12.761.683 4.190.034 Participação (%) 5,22 3,37 3,34 3,80 4,00 2,18 3,91 3,46 2,92 2,73 3,31 4,49 3,17 2,77 5,48 6,32 4,43 Álcool Valor US$ 106.919 95.420 54.129 35.520 65.849 34.786 92.146 169.153 157.962 497.740 765.529 1.604.730 1.477.646 2.390.110 1.338.152 1.014.261 271.526 Participação (%) 0,22 0,20 0,10 0,07 0,14 0,06 0,16 0,28 0,22 0,51 0,65 1,16 0,92 1,21 0,87 0,50 0,29 Fonte: Elaboração da autora. MDIC/SECEX/Aliceweb * maio No que se refere aos países de destino, o Brasil exporta açúcar para cerca de 85 países e álcool para cerca de 40 países. Em 2010, os dez principais importadores de açúcar foram: Rússia, Índia, Irã, China, Argélia, Indonésia, Egito, Arábia Saudita, Venezuela, Blangadesh; e do álcool, foram a Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão, Holanda, Reino Unido, Jamaica, Nigéria, Suíça, Índia, Porto Rico e México. As exportações de Pernambuco são altamente concentradas no açúcar. Observa-se na Tabela 23, que o percentual de concentração que vinha arrefecendo a partir de 1999, voltou a crescer a partir de 2008. O álcool, comparativamente ao açúcar, tem uma pequena participação na pauta de exportação do Estado e pouca diversificação de mercado importador. De 2003 para 2004, a participação do álcool duplicou de 1,21% para 2,48%, e mantevese em torno de 2% até 2009, tendo uma brusca queda em 2010. Até maio de 2011, não houve exportação de álcool. No que se refere ao destino das exportações, Pernambuco exporta açúcar para vários países. Em 2010, os dez maiores importadores foram: Rússia, Portugal, Estados Unidos, Espanha, Venezuela, Canadá, Georgia, Coreia do Sul, 58 Bulgária, República Dominicana. Os Países de destino das exportações de álcool de Pernambuco são 2009 - Holanda, Suíça, Estados Unidos, Angola, Gana e Trinidad e Tobago (2010 – Estados Unidos). Tabela 23 - Participação (%) do Açúcar e do Álcool nas Exportações de Pernambuco 1995 a 2011 US$ 1.000 FOB Ano Valor US$ 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* 574.321 341.005 372.580 362.257 265.888 284.248 335.462 319.996 411.137 517.549 786.051 781.046 870.557 937.633 823.972 1.112.498 422.590 Açúcar Valor US$ 309.240 169.655 201.147 192.425 103.714 73.700 133.181 109.123 100.707 154.159 191.780 199.195 204.171 274.918 320.265 498.138 227.731 Participação (%) 53,84 49,75 53,99 53,12 39,01 25,93 39,7 34,1 24,49 29,79 24,4 25,5 23,45 29,32 38,87 44,78 53,89 Álcool Valor US$ 12.397 26.020 4.534 2.728 3.142 3.589 2.905 1.705 4.991 12.857 21.961 38.986 23.680 18.972 18.660 2.784 0 Participação (%) 2,16 7,63 1,22 0,75 1,18 1,26 0,87 0,53 1,21 2,48 2,79 4,99 2,72 2,02 2,26 0,25 0 Fonte: Elaboração da autora. MDIC/SECEX/Aliceweb *maio 59 CAPÍTULO 3 - O MERCADO DE TRABALHO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO A busca de alternativas enérgicas ao petróleo, especialmente após a assinatura do Protocolo de Quioto27, colocou a cultura da cana-de-açúcar mais uma vez em grande evidência na economia brasileira. Entretanto, o trabalho assalariado temporário na cultura da cana-de-açúcar tem sido objeto de estudo há décadas entre os estudiosos brasileiros. O trabalho no cultivo da cana-de-açúcar esteve presente entre os autores clássicos que analisavam a gênese do proletariado rural brasileiro e sua organização sindical, assim como nos estudos mais recentes que tratam das jornadas excessivas de trabalho. Gráfico 7 – Saldo do emprego da Agropecuária (%) 15 10 5 20 10 20 09 20 08 20 07 20 06 20 05 20 04 20 03 20 02 20 01 20 00 19 99 0 -5 -10 Brasil Nordeste Pernambuco -15 28 Fonte: Elaboração da autora. CAGED /MTE, 2011 Nota: O saldo do emprego é o resultado das subtração das admissões menos as demissões. 27 Constitui-se no protocolo de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das investigações científicas, como causa antropogênicas do aquecimento global. Discutido e negociado em Quioto no Japão em 1997, foi aberto para assinaturas em 11 de Dezembro de 1997 e ratificado em 15 de março de 1999. Sendo que para este entrar em vigor precisou que 55% dos países, que juntos, produzem 55% das emissões, o ratificassem, assim entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois que a Rússia o ratificou em Novembro de 2004. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_de_Quioto. Acesso em: 05/06/2011. 28 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED foi criado pelo Governo Federal, através da Lei nº 4.923/65, que instituiu o registro permanente de admissões e dispensa de empregados, sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. Este Cadastro Geral serve como base para a elaboração de estudos, pesquisas, projetos e programas ligados ao mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que subsidia a tomada de decisões para ações governamentais. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/caged/. Acesso em: 10/05/2011. 60 O saldo de emprego da Agropecuária brasileira retratado na CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego mostra a evolução das ocupações nesta atividade e as diferenças ocorridas nas esferas federal, regional e estadual. Nas três esferas tiveram basicamente as mesmas repercussões, em função do momento que a economia brasileira viveu. O baixo índice no ano de 1999 foi reflexo da crise monetária vivida pelo país. Melo (2010) menciona o plano que levou o nome do então Presidente da República, Plano Collor, em março de 1990, que decretou o bloqueio das cadernetas de poupança e contas correntes, congelou preços e salários e foi tida como a maior intervenção no domínio econômico de que se teve notícia na história do país; a moeda nacional, então, mudou de nome – voltou a se chamar “Cruzado” (Cz$). Essa atitude foi entendida como um confisco, e em 1992 a inflação acumulada foi de 1.158%. Muito se fala sobre as condições de trabalho do setor sucroalcooleiro. Este setor envolve trabalhadores de atividades distintas como o cultivo da matériaprima das demais atividades incluídas, a cana-de-açúcar para a indústria do açúcar (refinado e bruto) e do álcool. Em geral destaca-se a forte presença dos trabalhadores temporários, a baixa remuneração, a baixa qualificação dos trabalhadores, o privilégio a trabalhadores jovens que possuem maior força e maior capacidade de trabalho, entre outros aspectos. Na década de 1970, havia competição pela mão-de-obra na safra, o que fazia com que os custos aumentassem muito e para garantir o fluxo de trabalhadores, as usinas buscavam essa força de trabalho de outras regiões. Conforme Goza et al. hoje a contratação de migrantes é regida pela Instrução Normativa número 65, de 19 de julho de 2006, que fala sobre os procedimentos para a fiscalização do trabalho rural. A terceirização das relações de trabalho por meio da utilização de aliciadores é responsável por alguns dos graves problemas do setor. Muitas vezes este tipo de relação de trabalho não permite que haja o correto cumprimento das leis de fiscalização quanto às condições de transporte, alimentação, segurança e trabalho dos cortadores de cana. A figura dos aliciadores de mão-de-obra tem sido fortemente reduzida nos últimos tempos. As usinas têm deixado de utilizar este tipo de serviço; a fiscalização e os diversos problemas ocasionados têm feito com que as usinas modifiquem esta cultura 61 Foi intenso o movimento de transformação nas relações de trabalho no setor e a usina, no intuito de reduzir seus custos e aumentar a produtividade, aumentou seus investimentos na mecanização (LIBONI, 2009). No Brasil o emprego vem sofrendo uma série de transformações a partir dos anos 90, em função da abertura comercial, do processo de privatização e da estabilização econômica baseada inicialmente em uma estratégia de valorização cambial (TONEDO; LIBONI, 2008). Em relação às características do emprego no Setor Sucroalcooleiro brasileiro, um importante fator a ser considerado é a remuneração dos trabalhadores. O primeiro fator é a diferença da remuneração do trabalhador no cultivo da cana-de-açúcar em relação à média salarial do trabalhador brasileiro e em relação às médias salariais das demais atividades do setor sucroalcooleiro. O trabalhador que tem maior rendimento é aquele envolvido na fabricação do álcool, ele chega a receber (2009), de acordo com a RAIS, R$ 1.292,36. Um trabalhador da fabricação do açúcar refinado tem um rendimento médio bem inferior ao rendimento do trabalhador da fabricação do açúcar em bruto, com renda média de R$ 875,55 e R$ 1.124,20, respectivamente. Observa-se também que a remuneração média do trabalhador na fabricação de açúcar refinado é maior na Região Sudeste, assim como a remuneração média do trabalhador na fabricação do açúcar em bruto. As remunerações médias são, respectivamente, R$ 1.579,88 e R$ 1.488,27, acima das médias nacionais (Tabela 24). Tabela 24 – Remuneração média do Setor Sucroalcooleiro por Região Regiões Cultivo de Cana (n° de trab.) Renda (R$) N NE SE S CO Total 597 41.196 111.605 16.888 21.020 191.306 1.530,59 636,51 1.171,03 810,44 1.163,65 1.024,40 Fabric. de açúcar em bruto (n° de Trab.) 86 148.700 129.198 23.636 12.815 314.435 Renda (R$) Fabric. de Açúcar Refinado (n° de Trab.) Renda (R$) Fabric. de Álcool (n° de Trab.) Renda (R$) Total 830,29 796,21 1.488,27 1.031,87 1.431,90 1.124,20 38 9.764 1.679 67 39 11.587 851,67 750,97 1.579,88 1.501,53 691,25 875,55 1.911 22.317 46.265 14.934 26.456 111.883 1.205,22 804,22 1.518,11 930,51 1.519,92 1.292,36 2.632 221.977 288.747 55.525 60.330 629.211 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2009 Considerando as atividades relacionadas ao setor industrial (Tabela 5), pode-se comparar à remuneração recebida nas usinas de açúcar e álcool com a média da indústria e frente aos setores mais relacionados, como o da fabricação de 62 alimentos e bebidas e indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos, as remunerações do setor sucroalcooleiro ainda são maiores. Como é de se esperar, as remunerações na região Sudeste são maiores. Tabela 25 – Remuneração média de algumas atividades da Indústria, por Região – 2009 REGIÕES Indústria têxtil Remuneração média (R$) *Remuneração Corrigida pelo INPC IBGE Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico Remuneração média (R$) *Remuneração Corrigida pelo INPC IBGE N NE SE S CO Total 6.778 165.468 476.651 281.437 36.430 966.764 624,36 640,20 882,55 881,83 662,19 738,23 689,49 706,98 974,61 973,82 731,27 815,23 71.575 370.807 785.600 428.453 200.987 1.857.422 883,00 805,76 1.251,76 1.005,28 1.070,41 1.003,24 975,11 889,81 1.382,34 1.110,15 1.182,06 1.107,89 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2009 Verificou-se redução de 23% do número de empregados entre 1995 e 2005 (Tabela 5), no setor de cana, a despeito do crescimento do rendimento médio da produção, que cresceu 18,4%% (1995 a 2009) e passou de 66,6 ton/ha, em 1995, para 78,8 ton/ha em 2009 (Tabela 8); do total de 519.917 empregados, 27,1% são informais; o nível de educação dos empregados do setor de cana-de-açúcar tem evoluído positivamente, mas ainda é baixo: em 2005, 70% tinham até 4 anos de estudo e existia uma parte significativa de analfabetos (29%) (PNAD). Segundo a RAIS, em 2009 os maiores salários médios mensais foram pagos pela indústria do álcool (R$ 1.292,36), seguido pela indústria do açúcar em bruto (R$ 1.124,20) (MORAES, 2007b). Existe uma grande diferença entre as remunerações regionais, que são significativamente maiores na região Sudeste. Enquanto um trabalhador do cultivo da cana recebe, em média no Brasil, R$ 1.024,40, um trabalhador na mesma atividade no Nordeste, tem uma remuneração de R$ 636,51. Com relação à remuneração do mesmo trabalhador no Sudeste, ela é quase o dobro, chega a R$ 1.171,03. Um trabalhador do cultivo da cana na região Centro-Oeste ainda tem remuneração maior do que o mesmo trabalhador no Nordeste (R$ 1.163,65). A remuneração do trabalhador da cana na região Norte, que é de R$ 1.530,59, não reflete uma realidade porque a quantidade de mão-de-obra empregada nela é muito pequena, portanto, eleva a remuneração média do trabalhador individualmente, já 63 que para o cálculo da remuneração média na RAIS, é feita a divisão da renda total da atividade pelo número de trabalhadores. Tabela 26 - Rendimento médio da produção (ton/ha) Brasil e Região Geográfica Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Ano 1995 66.614 51.296 48.662 73.685 74.417 70.295 1997 68.883 53.076 51.172 74.935 75.005 73.662 1999 68.148 48.688 49.583 73.608 74.082 71.554 2001 69.443 58.411 54.938 73.444 75.349 73.009 2003 73.731 60.926 58.525 77.768 79.745 75.910 2005 72.854 61.425 53.975 79.637 68.833 69.976 2007 77.632 61.540 57.888 82.432 81.103 77.257 2009 78.860 67.673 58.266 81.719 85.940 83.195 Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE, 2009 Em 2009 as atividades que mais absorveram a mão-de-obra do Setor Sucroalcooleiro, foram em primeiro lugar a fabricação do açúcar em bruto, com 50% do total de trabalhadores no setor (314.435 trabalhadores), em segundo o cultivo da cana-de-açúcar, com 191.306 (30,4%) trabalhadores e em terceiro os trabalhadores na fabricação do álcool, perfazendo um percentual de 17,8% dos trabalhadores (111.883) do setor. As categorias chamadas usinas de açúcar, refino e moagem de açúcar e produção de álcool passaram, a partir de 2006, a ser chamadas de acordo com a classificação feita pela CONCLA (Comissão Nacional de Classificações)29 CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) 2.0, de fabricação de açúcar em bruto, fabricação de açúcar refinado e fabricação de álcool, respectivamente. Comparativamente, em 1995, o número de empregados que trabalhavam no cultivo da cana-de-açúcar era maior, essa quantidade participava com 35,4% do número total de trabalhadores do setor. Verifica-se também um aumento grande na participação dos trabalhadores da fabricação do álcool, que passa de 11%, em 1995, para 17,8%, em 2009. O cultivo de cana-de-açúcar emprega um número maior de pessoas na Região Sudeste. São 111.605 trabalhadores com uma participação 29 O processo de padronização dos códigos de atividades econômicas, em nível nacional, avançou efetivamente, somente a partir de 1993, com as discussões para a definição de uma classificação nacional padronizada. Esse trabalho, sob a coordenação do IBGE, envolveu os principais órgãos federais responsáveis pelos registros administrativos e resultou na elaboração e publicação da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE e na criação da Comissão Nacional de Classificação CONCLA. Acesso em 07.06.2011: http://www.ibge.gov.br/concla/cronologia/ante_cnaef.php. 64 percentual de 17,7% do total de trabalhadores no setor sucroalcooleiro (Tabela 9). A atividade que absorve uma maior quantidade de mão-de-obra na Região Nordeste, é a fabricação de açúcar em bruto, com um total de 148.700 trabalhadores, 23,6% do total do setor, que é de 629.211 trabalhadores. Portanto percebe-se que as regiões que mais empregam os trabalhadores do setor escopo da pesquisa, são as Regiões Nordeste e Sudeste. Mais recentemente, o aumento no número de trabalhadores ligados à transformação da cana-de-açúcar denota uma migração dos trabalhadores do cultivo da cana para a atividade industrial, este fenômeno é sensivelmente percebido ainda mais nas Regiões Nordeste e Sudeste, locais onde o setor sucroalcooleiro é mais dinâmico e desenvolvido. Tabela 27 – Número de trabalhadores no setor sucroalcooleiro por Regiões brasileiras e por atividade Ano 1995 2009 Regiões Cultivo de cana-de-açúcar Usinas de açúcar Refino e moagem de açúcar Produçao de álcool Total Regiões Cultivo de cana-de-açúcar Fabricação de açúcar em bruto Fabricação de açúcar refinado Fabricação de álcool Total NORTE 186 0 133 10 329 NORTE 597 86 38 1.911 2.632 NORDESTE 53.215 124.475 2.594 16.533 196.817 NORDESTE 41.196 148.700 9.764 22.317 221.977 SUDESTE 86.886 72.148 5.114 14.044 178.192 SUDESTE 111.605 129.198 1.679 46.265 288.747 SUL 4.046 13.554 1.031 7.137 25.768 SUL 16.888 23.636 67 14.934 55.525 CENTRO-OESTE 2.469 3.760 4 8.131 14.364 CENTRO-OESTE 21.020 12.815 39 26.456 60.330 Total 146.911 213.937 8.876 45.855 415.579 Total 191.306 314.435 11.587 111.883 629.211 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/TEM, 2009 65 Tabela 28 – Número de Trabalhadores do Setor Sucroalcooleiro no Brasil Ano Cultivo de cana-deaçúcar Fabricação de açúcar em bruto Fabricação de açúcar refinado Fabricação de álcool Total 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 146.911 113.512 144.829 159.228 4.246 21.671 144.944 133.289 147.343 149.793 155.043 184.911 181.847 188.036 191.306 213.937 159.913 168.112 138.011 272 35.861 151.968 172.180 188.259 226.005 228.930 258.753 295.188 296.708 314.435 8.876 5.175 6.099 4.623 45 57 1.853 1.844 1.822 1.846 971 5.297 4.828 8.418 11.587 45.855 18.536 53.687 37.517 213 1.556 35.559 45.947 43.442 57.168 60.180 80.290 90.331 107.300 111.883 415.579 297.136 372.727 339.379 4.776 59.145 334.324 353.260 380.866 434.812 445.124 529.251 572.194 600.462 629.211 Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2009 A queda verificada na quantidade de mão-de-obra também integrada ao setor sucroalcooleiro, em 1999, é trazida por Nazaré (2005), quando traça um breve histórico que antecede esse momento. “Entre os anos de 1979 e 1994, a economia brasileira esteve marcada por forte processo inflacionário e fracassados planos de estabilização de preços, com o Plano Real, já mencionado, em 1994. O governo então utilizou uma importante ferramenta de combate à taxa de inflação: a implantação e manutenção da política de câmbio fixo, a “âncora cambial”, a inflação crônica foi finalmente vencida. No entanto, os custos de implementação e manutenção do plano são discutíveis, em face das elevadas taxas de desemprego e do forte crescimento da dívida pública experimentados na época.” Ao longo da década de 1990, cinco graves crises tiveram de ser enfrentadas por diversos países com características econômicas e culturais diferentes. O Brasil se mostrou vulnerável a ataques especulativos contra a moeda, sofrendo choques provenientes de crises cambiais ocorridas no México (1994), no Sudeste Asiático (1997) e na Rússia (1999). Os ataques especulativos atingiram negativamente as reservas internacionais do país. A autoridade monetária, na tentativa de evitar a fuga de capitais e a desvalorização abrupta da taxa de câmbio, 66 elevou as taxas de juros sobremaneira30, até que não fosse mais possível manter a paridade cambial, resultando na forte desvalorização ocorrida em Janeiro de 1999. Neste mesmo período, observaram-se aumentos da taxa de desemprego, principalmente em meses posteriores às crises cambiais. O emprego em todas as atividades no setor sucroalcoleiro, em 1999, chega a quase 0 (zero) em termos de número de trabalhadores devido a forte crise cambial. A partir deste ano, percebe-se forte recuperação principalmente no que tange as atividades das usinas de açúcar em bruto quando o governo começa a investir no setor em função do aumento de demanda pelo etanol (Gráfico 5). Gráfico 8 – Evolução Sucroalcooleiro brasileiro do número de trabalhadores do Setor Quantidade Trabalhadores 700.000 600.000 500.000 Cultivo de cana-de-açúcar Usinas de açúcar 400.000 Refino e moagem de açúcar Produçao de álcool 300.000 Total 200.000 100.000 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0 Ano Fonte: Elaboração da autora. RAIS/MTE, 2009 Pelo número de pessoas que emprega (5,4% da população ocupada), é natural que o desempenho do setor agroindustrial canavieiro afete diretamente uma série de outros setores, principalmente o comércio, na medida em que representa o grande gerador de renda de uma parcela significativa da força de trabalho em Pernambuco: a mão-de-obra que trabalha no cultivo da cana-de-açúcar e na fabricação de açúcar e álcool, representam, na agropecuária e na indústria 30 E para defesa desta, a elevação da taxa de juros, que tem efeitos diretos sobre a taxa de desemprego. Esta é a relação existente entre a taxa de desemprego e os fatos mencionados por Nazaré (2005). 67 pernambucana, 46,7% e 27,1%, respectivamente, ou seja, de um total de 51.284 pessoas que trabalham na agropecuária pernambucana, 23.969 estão ocupadas no cultivo da cana; e de um total de 217.222 da indústria de transformação de Pernambuco, 58.975 estão na fabricação do açúcar em bruto, fabricação do açúcar refinado e fabricação do álcool. A queda de produção na safra de 1999, ocasionada pela acentuada crise financeira que afetou o setor, e a grande seca que atingiu o Nordeste e também a Mata Pernambucana, pode também ter provocado o fechamento de usinas, que foram vendidas a grupos de outras áreas ou transferidas para o Sudeste, sobretudo para Minas Gerais e para o Centro-Oeste (ANDRADE, 2001). Gráfico 9 – Produção de cana-de-açúcar em Pernambuco – 1995 a 2009 20 09 20 08 20 07 20 06 20 05 20 04 20 03 20 02 20 01 20 00 19 99 19 98 19 97 19 96 19 95 Quantidade (ton) 10 15 20 25 5. .0 .0 .0 .0 00 00 00 00 00 0. .0 .0 .0 .0 00 00 0 0 0 0 0 0 0 0 Produção de Cana-de-açúcar - PE Ano Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE 2009 68 Tabela 29 - Trabalhadores dos Setores por Mesorregião pernambucana – 2010 Sertão São Francisco Agreste Mata Região Metropolitana do Recife Total 792 148 275 223 893 2.331 6.583 3.963 34.411 63.527 108.738 217.222 184 286 339 401 15.688 16.898 Construção Civil 12.328 6.061 4.950 2.681 96.888 122.908 Comércio 14.607 16.585 44.582 21.728 167.180 264.682 Serviços 9.413 13.595 37.102 12.268 392.989 465.367 Administração Pública 33.180 18.533 72.257 46.428 225.536 395.934 736 12.546 9.202 19.589 9.211 51.284 77.823 71.717 203.118 166.845 1.017.123 1.536.626 Mesorregiões e Setores Extrativa mineral Indústria de Transformação Serviços Industriais de Utilidade Pública Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca Total Fonte: Elaboração da autora. (RAIS/MTE 2010) Tabela 30 - Trabalhadores do setor sucroalcooleiro da Zona da Mata Pernambucana 1995/2010 Ano Cultivo de cana-deaçúcar Usinas de açúcar Refino e moagem de açúcar Produçao de álcool Total 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 20.680 20.947 18.352 18.211 14.477 15.879 15.190 19.932 27.820 26.877 20.542 24.889 19.789 14.989 13.763 14.936 50.805 38.012 33.855 28.690 25.429 29.494 31.142 29.081 26.525 29.280 37.005 30.356 39.710 40.700 40.347 40.920 0 2 0 0 0 0 0 0 0 1 0 3.773 3.251 3.496 5.545 781 1.838 5.501 3.228 3.084 1.598 1.482 1.414 972 1.444 3.622 612 4.739 4.955 4.904 4.561 7.343 73.323 64.462 55.435 49.985 41.504 46.855 47.746 49.985 55.789 59.780 58.159 63.757 67.705 64.089 64.216 63.980 Fonte: Elaboração da autora (RAIS/TEM 2010) A maior parte da mão-de-obra do setor sucroalcooleiro está empregada na Zona da Mata Pernambucana, esta participação chega a 77,1% do pessoal ocupado, 38,3% do total de pessoas ocupadas em todos os setores na Zona da Mata (RAIS/MTE, 2010). 69 Com quase a totalidade da colheita de cana concentrada na Zona da Mata pernambucana, não é de se estranhar que a atividade canavieira seja responsável, nesta mesorregião, pela quase totalidade dos postos de trabalho disponíveis. “Em época de safra, a mesma chega a empregar cerca de 6% da mão-de-obra do Estado (BARROS, 1996)31. Assim, além de representar um dos mais importantes setores de produção do Estado, o setor canavieiro pernambucano também desempenha um instrumento fundamental para a geração de postos de trabalho” (MOURA; MÉLO; MEDEIROS, 2004). Gráfico 10 – Participação (%) da área colhida de cana nas mesorregiões pernambucanas – 2009 Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE 2009 Tabela 31 – Participação (%) da área colhida de cana nas mesorregiões pernambucana Mesorregião Geográfica Sertão São Francisco Agreste Zona da Mata RMR Total Área colhida (ha) 1.171 87 8.040 293.754 49.224 352.276 Participação (%) 0,3% 0,0% 2,3% 83,4% 14,0% Fonte: Elaboração da autora. PAM/IBGE 2009 31 Apud Barros (1996). 70 CAPÍTULO 4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Quando se estuda desenvolvimento local/regional, sustentabilidade, pobreza, condições de vida, bem-estar, entre outros temas sobre condição de vida em si, é indispensável pelo menos uma breve análise sobre a influência da criação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH foi fundamental para a construção de um novo olhar sobre o caráter multidimensional das medidas de desenvolvimento, apesar de sua reconhecida imperfeição. É feito também o uso do Indicador relacionado ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, apesar de ter uma utilização limitada. “Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o IDH surgiu para contrastar as visões mais restritas de desenvolvimento, sedimentadas na medida clássica do PIB per capita. Este indicador, amplamente utilizado a partir dos anos 50, apresenta uma série de limitações por enfatizar apenas os aspectos econômicos do desenvolvimento: não considera a distribuição de renda, e portanto, as desigualdades existentes internamente aos países; é unidimensional, não captando outros aspectos importantes do desenvolvimento, como os relacionados à educação, saúde, meio ambiente, entre outros; tende a ser fortemente afetado pela variação cambial das moedas nacionais” (BALSADI, 2006). Os debates acerca do desenvolvimento econômico, acirrados durante a década de 50, e nos anos subsequentes, indicam que essa questão liga-se à própria evolução cultural das nações e aos anseios de progresso e de melhoria das condições de vida de cada população. Não se deve confundir desenvolvimento com crescimento econômico e com o aumento da renda (seja nacional ou per capita). De fato é difícil afirmar que uma determinada situação descrita por um certo conjunto de indicadores é preferível a uma outra apenas porque a primeira implica um rendimento per capita mais elevado. No entanto, afirmam Gomes, Mangabeira e Mello (2008, apud KAGEYAMA & REHDER, 1993, p. 2) que não se deve negligenciar esses indicadores, e ainda “é necessário levar em conta também fatores não traduzíveis em variáveis econômicas, alguns de avaliação até bastante subjetiva.” De acordo com esses mesmos autores, há na literatura dois enfoques principais para avaliar o bem estar rural: i) o primeiro considera somente o critério econômico (geralmente, renda); ii) a segunda vertente engloba outros aspectos além 71 do econômico: aqueles relativos às condições de habitação, educação, saúde, trabalho etc. Nesta ordem de idéias, uma possível explicação é o fato de o rendimento nacional, o PIB, por exemplo, ser um indicador muito conveniente nas políticas públicas, é comum o uso deste tipo de indicador agregado especialmente porque, em geral, se refere mais ao passado. Dispõe-se deste indicador para se medir variáveis passíveis de quantificação e cujas alterações podem ser analisadas em termos de variações do produto setorial, da distribuição funcional do rendimento ou das categorias da despesa nacional, tornando também viável a construção de modelos matemáticos. A construção de um índice relacionado às condições é o segundo enfoque; foram consideradas algumas características relacionadas às condições de habitação, saúde, trabalho e infra-estrutura. Alguns destes têm relação direta com a renda (renda média familiar). Entretanto, Gomes, Mello, Mangabeira (2008, apud SOUSA et al., 2005) diferenciam das abordagens normalmente utilizadas. O critério econômico não é indicado no modelo elaborado por eles para medir qualidade de vida. No estudo indicado, os questionários aplicados para o grupo de produtores rurais do município de Machadinho d’Oeste (Rondônia-Brasil), apenas os produtores que se mantiveram no local por período de quatro anos (1989, 1996, 1999, 2002) foram considerados nas amostras da pesquisas de campo. A proposta dos autores avaliou o nível de bem estar dos produtores. Pode-se acreditar, enganadamente, que o aumento do PIB, se for suficientemente rápido, levará, mais cedo ou mais tarde, à solução dos problemas sociais e políticos. Mas, diante da experiência de algumas décadas, esta crença parece bastante utópica e talvez até ingênua. “Várias crises sociais e políticas têm surgido, qualquer que seja a fase de desenvolvimento do país. Além disso, pode-se constatar que tais crises afligem tanto países em que o aumento do rendimento per capita tem sido rápido, como países em que tal não se tem verificado. Pode-se dizer por fim que o crescimento econômico pode falhar na resolução das dificuldades e dos problemas sociais e políticos de uma nação; e algumas formas de crescimento podem mesmo estar na origem dessas dificuldades” (SEERS, 1979). Ainda segundo Seers (1979) em qualquer fase de desenvolvimento de um país existe algum tipo de crise, seja ela social ou política. Essas crises independem 72 da velocidade de crescimento per capita. Resumidamente, pode-se afirmar que a origem dessas dificuldades apresentadas é decorrente do processo de crescimento que uma nação apresente em sua história. Ribeiro (2004) entende que “a sociedade atual encontra-se em pleno processo de globalização e integração sócio-econômica, o que significa uma grande teia mundial formada a cada instante pela circulação do capital financeiro. O meio ambiente como fonte natural de recursos, tende a sofrer grandes impactos em decorrência da ação humana, movida pelo capital financeiro. O modelo de desenvolvimento insustentável está sob embate. Desenvolvimento sustentável tem sido reconhecido como a grande meta para a sociedade humana e as políticas públicas, o que, na verdade, torna-se hoje um novo paradigma para o desenvolvimento”. Ele compara o mundo e a sociedade com uma grande teia formada pelo capital financeiro que circula num processo contínuo chamando globalização e integração socioeconômico. Com isso o meio ambiente acaba por sentir o maior impacto pela ação humana que, notadamente não praticam em sua maioria, um desenvolvimento econômico sustentável, hoje reconhecido como meta principal para a sociedade e suas políticas públicas. Não se deve afirmar, portanto, que uma sociedade está no caminho do desenvolvimento sustentável. Faz-se necessária a elaboração de apropriados indicadores para que implementem-se processos de desenvolvimento em bases sustentáveis. Os dados e as informações são essenciais e altamente relevantes para se alcançar este contexto (RIBEIRO, 2004). Existem diversos índices que medem o desenvolvimento, Balsadi se propôs a mostrar isso e então construiu, com base em indicadores diversos já existentes, um novo indicador análogo ao IDH. Em nossa pesquisa, propusemo-nos a aplicar o ICV criado por Balsadi para a agricultura brasileira, no setor sucroalcooleiro do Estado de Pernambuco. Em Balsadi vimos que, na literatura especializada, é comum se observar as referências ao PIB per capita como um índice de primeira geração na medida do desenvolvimento. Idealizado para romper com os limites deste indicador, o IDH é classificado como um índice de segunda geração na mensuração do desenvolvimento. No entanto, como são amplamente conhecidas as próprias limitações do IDH, várias instituições têm trabalhado no sentido de dar um passo 73 adiante em relação aos importantes avanços obtidos com o mesmo, propondo e construindo os chamados índices de terceira geração. Como exemplos deste esforço podem ser citados, entre outros, o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), ambos desenvolvidos pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) para o Estado de São Paulo. A necessidade de aprimoramentos no IDH e a busca por níveis mais desagregados ainda fizeram com que pesquisadores e instituições de pesquisa propusessem novos índices para avaliar, por exemplo, o grau de desenvolvimento em setores censitários, em assentamentos de reforma agrária e no interior das famílias (e dos domicílios). Os indicadores reúnem um grande número de informações sobre a sociedade, de forma condensada. No entanto, a própria sociedade não se vale efetivamente desses instrumentos para a análise de suas políticas. Dessa forma, os indicadores, formulados de acordo com as melhores técnicas estatísticas, deixam, muitas vezes, de exercer sua mais importante função, que é a de permitir o acompanhamento dos resultados das ações do Poder Público. “Desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam”... "Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão" (AMARTYA SEN32, 1998). 32 Amartya Sen foi laureado com o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel de 1998, pelos seus contributos para a teoria da decisão social, e do "welfare state". Nascido em 1933, em Santiniketan, Amartya Sen já lecionou na Delhi School of Economics, London School of Economics, Oxford e Harvard. Reitor de Cambridge. É também um dos fundadores do Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU). Sua maior contribuição é mostrar que o desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, como também segurança, liberdade, habitação e cultura. Foi, em 1993, juntamente com Mahbub ul Haq, o criador do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que vem sendo usado desde aquele ano pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no seu relatório anual. 74 Preocupados em mensurar o bem-estar rural nos diferentes estados do Brasil nos anos 80, alguns autores propuseram o Índice de Bem-Estar Social Rural (Ibes), com nítida influência do IDH. Ele também foi construído a partir de quatro dimensões, por meio de índices parciais de educação, renda, condições de trabalho e condições do domicílio. A partir da PNAD, o número de indicadores simples subiu bastante, passando a ser utilizados doze. Ainda entre os índices da chamada terceira geração, que foram criados para aprimorar e ampliar os horizontes de análise iniciados com o IDH, merece menção o IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social), da Fundação Seade. Ele foi encomendado pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, no âmbito do Fórum São Paulo Século XXI, e deveria ser uma ferramenta de acompanhamento contínuo do grau de desenvolvimento dos municípios paulistas. Garcia (2003) apresentou o Índice de Iniquidade Social (Iniq), com base em dois conceitos principais, iniquidade social e patamar mínimo de existência digna (Pmed). Ele propôs a criação desse índice para mensurar este fenômeno nos estados e nas Grandes Regiões brasileiras, segundo as situações urbana e rural. De acordo com o mesmo: “iniquidade social é a situação de uma sociedade particular, caracterizada por distribuição extremamente desigual da renda e do patrimônio (material e não material), em que uma minoria populacional detém a maior parte destes e uma grande parte da população não alcança um patamar mínimo de existência com dignidade, quando isto seria possível com uma distribuição mais equitativa do patrimônio e da renda”. Seguindo a mesma linha de raciocínio na construção de índices para análise municipais, Lemos e Nunes (2005) construíram o Índice de Exclusão Social (IES) para todos os municípios brasileiros, com o objetivo de identificar os padrões de pobreza, que, no entendimento geral, é como uma análise de exclusão social para os 5.506 municípios dos 26 estados brasileiros e para os 19 distritos do Distrito Federal. Foram utilizados para este Índice, cinco indicadores: i) percentagem da população, do município (ou distrito) que sobrevive em domicílios particulares e está privada de água tratada; ii) percentagem da população do município ou distrito privada de saneamento; iii) percentagem da população do município ou distrito privada do serviço de coleta de lixo; iv) percentagem da população maior de 10 anos com, no máximo, um ano de escolaridade; e v) percentagem da população que 75 sobrevive em domicílios particulares cuja renda pessoal diária é de, no máximo, um dólar por dia. O que ficou evidenciado na pesquisa foi que, no Nordeste, concentram-se os maiores contingentes. Balsadi e Gomes (2007) construíram o Índice de Desenvolvimento Humano nos Imóveis (IDHI). Este Índice é parecido com o IDH, são três dimensões e quatro indicadores; para medir a longevidade, utilizou-se a esperança de vida ao nascer; para medir o nível de educação, foram utilizados o número médio de anos de estudo e a taxa de analfabetismo; e a renda, trabalhou-se com a renda familiar per capita média. No mesmo artigo, os autores acima sugerem também o Índice de Condições de Vida (ICVI) dos imóveis, construído a partir de seis dimensões: as três do IDHI acrescidas de infância, habitação e lazer e informação. E o número de indicadores foi bastante ampliado, sendo utilizados 20 no total. No índice de longevidade, foi acrescido o indicador de taxa de mortalidade infantil. Em educação, mais três indicadores foram utilizados: i) porcentagem da população com menos de quatro anos de estudo; ii) porcentagem da população com menos de oito anos de estudo; iii) e porcentagem da população com mais de onze anos de estudo. São diversos índices utilizados para se avaliar condição de vida, como já foi mencionado, são os índices de terceira geração, criados para mensurar situações diversas. Cita-se mais alguns apenas, por não ser objeto principal do estudo. Todos foram abordados por Balsadi (2006): Índice de Capital Social, Índice Ambiental, Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ)33 etc. Pode-se notar, várias semelhanças entre os indicadores citados, e algumas diferenças também; no entanto Balsadi (2006) aborda a influência do IDH em quase todos os indicadores existentes. Ele menciona também a mesma noção de desenvolvimento que os norteia, buscando dimensões que vão além da abordagem econômica, simplesmente; procura utilizar não só apenas as linhas de pobreza, mas também a busca de melhores subsídios para a sua formulação e análise. Isto leva um melhor monitoramento e avaliação das políticas públicas, principalmente as políticas sociais. 33 O Índice de Vulnerabilidade Juvenil foi concebido em 2002 como sinalizados dos espaços territoriais da cidade de São Paulo a serem priorizados na implementação de atividades culturais no âmbito do projeto Fábrica de Cultura da Secretaria Estadual de Cultura. Foi financiado pelo BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. 76 Grossi (2008) menciona, utilizando dados do Censo Demográfico 2000, a existência de mais de 400 mil trabalhadores ocupados nas atividades do setor sucroalcooleiro, com 19 mil destes, migrado há menos de cinco anos. De acordo com o autor, São Paulo é o principal destino desses migrantes, e o Estado da Bahia foi o maior fornecedor. Trata-se do princípio de que no processo de desenvolvimento econômico, nas relações de agricultura com o restante da economia, a população encontra-se concentrada no meio rural e que o setor primário é o que gera a maior parte da riqueza nacional. No entanto, à medida que a economia se desenvolve, as atividades e as populações vão se transferindo para a economia urbana. Como mostram os dados da RAIS (2009), a migração dos trabalhadores do cultivo da cana para a fabricação do açúcar bruto. Verifica-se que estas fábricas de açúcar estão localizadas nas Regiões Metropolitanas, próximas aos portos. Nesse processo, ocorre aumento da produtividade, aumento do nível de renda e, por conseqüência, tendência ao desequilíbrio externo (SOUZA, 1999). Em países, regiões e ou estados com forte base agrícola, alterações no desempenho deste setor, exercem um papel importante para o desenvolvimento e um efeito de encadeamento no restante da economia. Num país como o Brasil, estimular esse desenvolvimento á ainda mais importante, sobretudo nas áreas mais distantes dos centros industriais. Mesmo em regiões mais desenvolvidas, a agricultura é considerada um setor estratégico em função de sua interdependência inter-setorial e a produção de alimentos para o consumo dos trabalhadores. Redistribuir terras e assentar colonos para elevar a oferta de alimentos e matérias primas não são mecanismos suficientes para reduzir a pobreza no campo. Necessita-se de medidas complementares como crédito, extensão rural e investimentos em infraestrutura. A elevação da produtividade da agricultura reduz também a pobreza, pela elevação dos salários nominais e reais, melhorando a distribuição de renda em toda economia (SOUZA, 1999). O fenômeno migratório das famílias rurais para o meio urbano, não ocorreu apenas no Brasil, e sim em toda a América Latina e Caribe, um efeito que durou 30 anos, entre as décadas de 50 e 80, quando a sociedade, predominantemente rural, transformou-se numa sociedade urbana (OLIVER, 1994). 77 Em torno do processo de industrialização, verificou-se um grande período de crescimento sustentável, com importantes mudanças da estrutura social e visível melhora dos indicadores das condições de vida. O declínio da atividade agrícola foi bastante acelerado, no período mencionado acima, com exceção dos países centroamericanos, onde o processo de industrialização teve menor avanço. Esse processo de industrialização promoveu desenvolvimento, mas também aguçou problemas estruturais pré-existentes no meio rural. Entre as razões que influenciaram esse fenômeno estão: a) o viés industrial e urbano da política macroeconômica, principalmente nos aspectos monetários, fiscais, preços e tarifas; b) a grande e crescente concentração dos gastos e inversões públicas nas áreas urbanas e na infraestrutura de suporte às atividades industriais; c) o caráter compensatório e as direções assumidas pela política agrícola. O tema desenvolvimento econômico obteve destaque somente no século XX, mas a preocupação com o crescimento econômico e militar do soberano é muito mais antiga. Raramente havia preocupação com a melhoria das condições de vida da população. A abordagem do desenvolvimento como problema ficou mais enfatizada a partir das flutuações econômicas do século XIX e com a concentração da renda e da riqueza exacerbada pelo surgimento de poucos países industrializados, que tornou mais evidente a disparidade entre nações ricas e pobres. Com a onda de inovações a economia dos países cresce e expande-se o nível de renda e de emprego, aumentando o bem estar da população. Em outros países, por outro lado, o nível de atividade é reduzido e as empresas despedem trabalhadores, repercutindo nos diversos setores e a crise se generaliza, primeiro em recessão e depois em depressão (SOUZA, 1999). A questão do desenvolvimento econômico também ficou mais evidente no final dos anos de 1930, com a aplicação da Contabilidade Nacional, nascida da teoria keynesiana34. Com ela passou-se a comparar a renda per capita dos 34 É durante a Segunda Guerra Mundial que o sistema de contas da contabilidade nacional começa a adquirir a sua forma atual. Em 1941, a pedido do Parlamento do Reino Unido, uma equipa chefiada por John Maynard Keynes elaborou uma série de quadros que ilustram os recursos produzidos e sua utilização enquanto consumo, despesas, doações e investimentos. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Contabilidade_nacional > Acesso em: 10/07/2011. 78 diferentes países a e classificá-los em ricos e pobres, dependendo do valor dessa renda. Verificou-se então que, mesmo essas teorias sendo passível de críticas, o principal entrave ao desenvolvimento era de natureza política, onde se deixava aos países pobres uma posição subalterna no contexto da divisão internacional do trabalho, ou seja, esses países deveriam continuar produzindo matérias-primas estratégicas a baixo custo para fins militares e alimentos baratos para alimentar trabalhadores dos países centrais, sem deprimir sua taxa de lucros. Os economistas da corrente mais tradicional dos anos 1940 e 1950 então reagiram e identificaram a escassez de capital como a causa fundamental do subdesenvolvimento (SOUZA, 1999). A presente proposta de estudo baseia-se, dentre as duas correntes de economistas que tratam sobre o desenvolvimento econômico, na segunda corrente voltada para uma realidade empírica, onde o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente para tal. 79 CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA Foram extraídas da PNAD as “famílias extensas”, denominação usada por Balsadi (2006), ou seja, famílias que agregam, além da família nuclear, os parentes e os agregados que vive no mesmo domicílio particular permanente. Trata-se, portanto, de uma unidade de consumo e renda das pessoas que vivem sob um mesmo teto e que partilham entre si um fundo comum de recursos monetários e não monetários assim como Balsadi usou para construir o ICV da agricultura brasileira. O diferencial em relação ao método que o Balsadi usou, foi critério de seleção adotado pelas limitações de dados encontradas para este setor no estado. A prioridade à atividade do chefe da família foi dada às famílias com mais de uma pessoa trabalhando em uma das três atividades que compõem o setor sucroalcooleiro, cultivo da cana, fabricação de açúcar e fabricação de álcool. Nas filtragens realizadas, apareceram, em um mesmo domicílio (família), mais de uma pessoa trabalhando em uma das três atividades acima citadas. Esse critério foi utilizado no presente estudo para se evitar uma dupla contagem. Para efeito de cálculo da renda familiar foram excluídos os pensionistas, aqueles que pagam pensão ao responsável pelo domicílio, e os empregados domésticos e seus parentes. Se duas pessoas do mesmo domicílio trabalham em atividades diferentes, por exemplo, uma no cultivo da cana e outra na fabricação do álcool, foi usada a ocupação do chefe da família para classificar a família. Foram mencionados dois termos, domicílio e famílias, mas ambos estão se referindo à família extensa e têm o mesmo significado para a análise. Se por ventura a pessoa entrevistada trabalhe na atividade do cultivo da cana, independente de ser empregado, empregador, ou outro, seu domicílio foi classificado como domicílio no cultivo da cana; portanto, em nenhum momento foi dividida informação sobre situação, se é empregado ou empregador. Na ocupação, já estão sendo consideradas todas essas categorias, empregador, empregado, conta própria e outros. Se todas as divisões realizadas por Balsadi fossem feitas no trabalho em questão, a amostra seria muito pequena para o cálculo do índice e inviabilizaria o estudo. Os cálculos dos índices foram feitos para os três sub-setores, para as três atividades que compõem o setor sucroalcooleiro, o cultivo da cana-de-açúcar, a 80 fabricação do açúcar e do álcool, separadamente. Como estão sendo estudadas apenas famílias do Estado de Pernambuco, outras divisões não foram possíveis devido ao reduzido número de famílias em algumas categorias. Não foi possível também fazer a divisão para o cálculo dos índices, entre famílias agrícolas versus pluriativas, porque não há famílias agrícolas nos setores de açúcar e álcool. Foram consideradas famílias agrícolas aquelas em que todos os membros exerceram atividades na agricultura como ocupação principal, na semana de referência; e pluriativas, aquelas em que pelo menos um membro exerceu uma ocupação agrícola e outro, uma não agrícola. Já para as famílias do setor de cana, há tanto agrícolas quanto pluriativas, mas decidimos não dividi-las, para que fosse possível se fazer outra divisão mais interessante para a análise. Para as famílias do sub-setor fabricação de açúcar da área rural só há famílias pluriativas e não foi feito divisão entre temporário e permanente, a amostra era muito pequena e inviabilizou o cálculo dos Índices, parciais e ICV. Só há famílias para os grupos permanentes e temporários na atividade do cultivo da cana, nos dois outros sub-setores há muito pouco entrevistados. Como os trabalhadores temporários da atividade do cultivo da cana-de-açúcar enfrentam condições muito diferentes dos demais, optamos por fazer tal divisão. Mas se a divisão entre agrícolas e pluriativas fosse feita, ficariam poucas famílias na categoria temporário/pluriativa. Em relação às famílias da atividade fabricação de álcool, não foi possível fazer a separação rural/urbano, já que a grande maioria das famílias se encontra na área urbana. O ICV foi calculado para as famílias dos empregados permanentes e temporários – segundo o local de residência: rural e urbano no estado de Pernambuco, cujos chefes de família trabalham no cultivo da cana, na fabricação do açúcar e na fabricação do álcool. A metodologia defendida como adequada para a materialização do conceito de indicadores de desenvolvimento é a quantitativa. O resultado foi a produção de um conjunto de indicadores capazes de mensurar o atual estágio de desenvolvimento do setor sucroalcooleiro, caracterizando a distância que talvez o separe de sua sustentabilidade. 81 O objetivo principal deste trabalho está centrado na importância das condições de vida das famílias que tenham trabalhadores do setor sucroalcooleiro de Pernambuco, através da construção do ICV para esses domicílios. Esse mesmo método também foi usado no estudo Índice Multicritério de bem estar Social Rural em um Município da Região Amazônica, por Gomes, Mello e Mangabeira (2008). O conceito de desenvolvimento de uma região, para os autores, não considerou somente aspectos relativos ao crescimento econômico e ao aumento da renda, seja nacional ou per capita. Os autores levaram em conta também fatores não traduzíveis em variáveis econômicas, alguns de avaliação bastante subjetiva, como citado em Kageyama e Rehder (1993). O ICV dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro pernambucano será construído a partir dos mesmos 17 indicadores selecionados, de forma a captar-se quatro dimensões de grande relevância no cotidiano das famílias. Os dados foram obtidos da PNAD 2009 e as dimensões estudadas foram as mesmas usadas por Balsadi. i) características do domicílio: para análise foram selecionados os seguintes indicadores: - porcentagem (%) de domicílios, cujo material de construção é alvenaria (Mat); - porcentagem (%) de domicílios, cujo material que predomina na cobertura é telha ou laje de concreto (Telha); - porcentagem (%) de domicílios com banheiro ou sanitário (Ban); - porcentagem (%) de domicílios próprios (Prop). ii) o acesso aos serviços públicos: - porcentagem (%) de domicílios com água canalizada (Aguac); - porcentagem (%) de domicílios com coleta de lixo (Colix); - porcentagem (%) de domicílios com energia elétrica (Enel); - porcentagem (%) de domicílios com rede coletora de esgoto (Colesg) iii) acesso aos bens duráveis: - porcentagem (%) de domicílios com telefone fixo ou celular (Tel); - porcentagem (%) de domicílios com fogão de duas ou mais bocas (Fog); 82 - porcentagem (%) de domicílios com filtro de água (Fil); - porcentagem (%) de domicílios com rádio (Rad); - porcentagem (%) de domicílios com televisão em cores (TV); - porcentagem (%) de domicílios com geladeira (Gel); - porcentagem (%) de domicílios com freezer (Fre); e - porcentagem (%) de domicílios com máquina de lavar roupa (Maq). iv) para análise da renda média familiar foi selecionado o próprio indicador renda média familiar. A renda média foi padronizada pelo método dos valores máximos e mínimos que segue: P = [(VM – RM1) / (RM2 – RM1)] x 100 (1) Onde: P = Padronização VM = Valor médio RM1 = Renda mínima RM2 = Renda máxima No cálculo do Índice Parcial de Renda (INDRENDA), foram tomadas as rendas mínimas, máximas e média de cada domicílio. Foi considerada renda média de cada domicílio, a soma de todas as rendas dos integrantes que trabalham (o chefe de família, mais as pessoas que auferem renda), dividido pelo número de pessoas desse domicílio. Para o Índice Parcial de Domicílio (INDDOM) foi feita a ordem decrescente de importância com suas ponderações, ou seja, com os mesmos pesos usados por Balsadi em sua metodologia: domicílio próprio (Prop), existência de banheiro ou sanitário (Ban), material de construção de alvenaria (Mat) e material de cobertura predominante de telha ou laje de concreto (Telha). A posse do imóvel elimina os gastos das famílias dos empregados um item de elevado custo, o aluguel; a existência de banheiro ou sanitário no domicílio é um bom indicador das condições de pobreza, saúde e higiene às quais as famílias estão submetidas; e por fim, a existência de domicílios construídos e cobertos com 83 material permanente e durável (alvenaria, telha e laje), apesar de menos relevante que os demais (pois há ótimas instalações de madeira, por exemplo), também é condição de melhoria na vida das pessoas. INDDOM = 0,34 Prop + 0,28 Ban + 0,22 Mat + 0,16 Telha (2) Onde: INDDOM = Índice parcial de domicílio Prop = domicílio próprio Ban = domicílio com banheiro ou sanitário Mat = domicílio cujo material de construção é de alvenaria Telha = domicílio cujo material predominante na cobertura é de telha ou laje de concreto O Índice Parcial de Acesso aos Serviços (INDSERV) foi feito em ordem decrescente de atratividade, de pesos: energia elétrica (Enel), água canalizada (Aguac), coleta de esgoto (Colesg) e coleta de lixo (Colix). O acesso à energia elétrica (Enel) permite o acesso a novos instrumentos de trabalho, a novos tipos de bens duráveis etc., que influenciam muito a qualidade de vida; o acesso à água canalizada (Aguac) pode melhorar bastante as condições de saúde e alimentação das pessoas, que também são influenciadas pela existência de coletas de esgoto (Clesg) e de lixo (Colix). O fato de receberem menor peso é porque mesmo sem a coleta, o esgoto pode ser escoado por fossas sépticas e o lixo pode ser queimado, embora a qualidade dessas práticas seja, obviamente, inferior. Todos os Índices Parciais, com exceção do Índice Parcial de Renda (INDRENDA) foram feitos a partir dos julgamentos de valor da matriz de preferências, foram indicados pelo MacBeth. INDSERV = 0,34 Enel + 0,28 Aguac + 0,21 Colesg + 0,17 Colix (3) Onde: INDSERV = Índice parcial de acesso aos serviços Enel = acesso à energia elétrica Aguac = acesso à água canalizada 84 Colesg = acesso à coleta de esgoto Colix = acesso à coleta de lixo No Índice Parcial de Bens Duráveis (INDBENS) foi feita também a ordem decrescente de importância: telefone (Tel), televisão em cores (TV), geladeira (Gel), fogão (Fog), rádio (Rad), filtro (Fil), máquina de lavar roupa (Maq) e freezer (Fre). Essa seqüência tomou por base o acesso à informação, à alimentação e ao lazer como prioritários, seguidos de alguns bens mais diferenciados, mas não tão essenciais. INDBENS = 0,17 Tel + 0,16 TV + 0,16 Gel + 0,15 Fog + 0,11 Rad + 0,10 Fil + 0,08 Maq + 0,07 Fre (4) Onde: INDBENS = Índice parcial de bens duráveis Tel = Telefone TV = Televisão em cores Gel = Geladeira Fog = Fogão Rad = Rádio Fil = Filtro Maq = Máquina de lavar roupas Fre = Freezer Para análise da renda familiar foi selecionado o indicador relacionado à renda média familiar. O Índice Parcial de Renda (INDRENDA) foi padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos. Foi o único índice que não precisou de ponderação, tendo usado apenas o método estatístico mencionado acima. INDRENDA = [(VM – RM1) / (RM2 – RM1)] x 100 (5) Onde: INDRENDA = Índice parcial de renda 85 VM = Valor médio RM1 = Renda mínima RM2 = Renda máxima Por fim, o Índice de Condição de Vida (ICV), foi construído pela ponderação dos Índices Parciais. A ordem também foi decrescente de atratividade para os quatro critérios: índice de renda (INDRENDA), índice de domicílios (INDDOM), índice de acesso aos serviços (INDSERV) e índice de bens duráveis (INDBENS). As ponderações feitas por Balsadi foram justificadas, primeiramente, pelo fato de as famílias viverem numa economia monetária, na qual a renda é essencial para a compra de bens e serviços no mercado; segundo, pelas condições de habitação e o acesso aos serviços básicos e, por fim, pelos serviços sociais básicos, considerados fundamentais, e pelos bens duráveis que, numa sociedade de consumo, também cumprem seu papel na qualidade de vida das famílias dos empregados. Todos os Índices Parciais, com exceção do Índice Parcial de Renda (INDRENDA), foram propostos por Balsadi (2006) a partir dos julgamentos de valor da matriz de preferências. Ele usou o método MacBeth, que pede, primeiramente, uma hierarquização por ordem decrescente de atratividade dos indicadores simples e dos índices parciais utilizados. Os pesos obtidos com o auxílio do Macbeth priorizam certas condições sociais mais relevantes para a qualidade do emprego e para as condições de vida das famílias dos empregados. ICV = 0,33 INDRENDA + 0,27 INDDOM + 0,23 INDSERV + 0,17 INDBENS (6) Onde: ICV: Índice de Condições de Vida INDRENDA = Índice parcial de renda INDDOM = Índice parcial de domicílio INDSERV = Índice parcial de acesso aos serviços INDBENS = Índice parcial de bens duráveis 86 Estes índices foram utilizados com a finalidade de analisar a evolução das condições de vida dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro pernambucano, assim como o aumento na relevância do setor, no período analisado. Foram feitas algumas análises dessa evolução ao longo dos 15 anos, dos dados extraídos das PNADs de 1995 a 2009. Vale salientar que não foi feita PNAD em 2000. Todos os Índices, tanto parciais como o próprio ICV, variam de 0 a 100. A situação ideal, de melhor condição de vida, é quando o resultado do Índice aproxima-se de 100; portanto, a conclusão que se chega é que a melhor situação = 100 e a pior situação = 0. 0 < ÍNDICE ≤ 100 Tabela 32 - Número de observações da PNAD para as famílias na atividade da cana Número de casos nas amostras da PNAD para as famílias na atividade da cana Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Rural Permanente Temporário 54 7 55 10 57 16 54 4 44 14 85 28 87 26 96 38 102 40 82 48 87 32 61 36 90 45 65 72 Urbano Permanente Temporário 40 12 42 26 46 25 31 11 23 3 39 19 29 16 48 31 39 42 50 44 55 32 54 26 48 38 12 15 Total 113 133 144 100 84 171 158 213 223 224 206 177 221 164 Fonte: Elaboração do autor a partir dos microdados da PNAD 87 Tabela 33 - Número de observações da PNAD para as famílias nas atividades do açúcar e do álcool Número de casos nas amostras da PNAD para as famílias na atividade do açúcar e álcool Ano Rural Urbano Total Ácool 1995 11 89 100 44 1996 7 114 121 38 1997 7 100 107 33 1998 5 101 106 47 1999 6 102 108 49 2001 14 116 130 66 2002 8 23 31 54 2003 12 19 31 66 2004 8 26 34 67 2005 18 30 48 66 2006 11 30 41 62 2007 16 41 57 46 2008 11 27 38 28 2009 14 18 32 49 Fonte: Elaboração da autora a partir dos microdados da PNAD 5.1 – Limite e Limitações Como a PNAD não tem um foco nos setores produtivos especificamente, sua maior preocupação é representar a população brasileira. Há poucas famílias no cultivo da cana na amostra, apesar desta atividade empregar um número maior de pessoas. Quando é feita a separação entre domicílios rurais/urbanos, e domicílios com empregos permanente ou temporário, surgem anos com um número muito reduzido de observações, ou seja, com uma amostra muito pequena, podendo não estar representando a realidade do estado de Pernambuco. Então as poucas famílias entrevistas estão representando a atividade analisada e, por conseguinte, envolvendo também o setor sucroalcooleiro, que é o escopo deste estudo. Talvez a análise ficasse mais robusta com menos desagregações, e analisando toda a Região Nordeste, e não só o Estado de Pernambuco. Estudo este que pode ser deixado aqui como sugestão para novas pesquisas e análises. Quando se lança um olhar para a PNAD é mais simples analisar as reais condições de vida de setores ou sub-setores do país como um todo. A análise se torna mais embasada e confiável quando se observa de uma forma macro, onde haja uma 88 amostra grande que retrate uma real situação. Então o problema real é de pesquisa, da forma como a PNAD é feita, os resultados finais vão depender muito de quem foi entrevistado, de como foi feita esta entrevista, da quantidade de pessoas entrevistadas, das pessoas encontradas para a aplicação do questionário etc. O campo de estudo centrado nesta investigação é descobrir as reais condições de vida do trabalhador do setor sucroalcooleiro; no estado, em alguns anos analisados surgem as dificuldades com relação ao número da amostra de algumas atividades envolvidas no setor. Há anos em que os cálculos dos Índices Parciais e dos ICVs são feitos com um número muito pequeno de pessoas (entrevistados). Por outro lado, existem anos nos quais esse número é bem maior, a renda é muito variável, o que interfere muito nos resultados finais. Em estudos mais setorizados e em determinadas regiões do país, as amostras podem variar, para menos ou para mais, em até dez, cinquenta, cem vezes ou mais a quantidade de observações, em determinados anos. Outro problema encontrado para algumas atividades, as mesmas famílias e ou pessoas, nunca serão as mesmas, isto é, podem não ser entrevistadas em anos seguintes; portanto, a composição da amostra é diferente uma da outra, a cada ano. Podem surgir, em determinado ano da pesquisa, um número pequeno de observações como também um número muito grande, assim como pode também não surgir nenhum entrevistado, ou seja, amostra igual a zero. O exemplo disto foi para o INDSERV (1995), no corte feito para os domicílios no cultivo da cana, no meio rural, em empregos temporário e permanente, no quesito coleta de esgoto (Colesg). Na observação feita, não surgiu nenhuma família entrevistada, nesse ano, que possuísse coleta de esgoto (Colesg) em seus domicílios. Os dados coletados lançaram luz à construção dos índices e demonstram as condições gerais de vida das famílias do setor sucroalcooleiro e principalmente no cultivo da cana, focando na questão de moradia e renda, mas não demonstram as condições de saúde e educação das pessoas envolvidas na atividade como um todo. Outras variáveis possíveis de serem analisadas, possivelmente demonstrariam o real desenvolvimento humano. A renda é o indicador no qual há mais falhas porque dos três sub-setores analisados na pesquisa em questão, pertencentes ao setor sucroalcooleiro, a atividade do cultivo da cana, por exemplo, é onde há um nível de escolaridade muito 89 baixo, em comparação às outras atividades, em que há salários de engenheiros e outros técnicos de grau de escolaridade maior, na fabricação do açúcar e do álcool. Olhando para os Índices Parciais, a análise já pode ser tida como mais confiável, pois retrata a realidade dessas famílias, que vivem nas áreas urbanas e rurais, elas respondem bem às perguntas e os questionamentos e podem representar uma realidade. Mas olhando o ICV, que é a soma dos Índices Parciais, fica mais difícil analisar, o que abre precedentes para novos estudos futuros, dos Índices Parciais individualmente, por exemplo. 90 CAPÍTULO 6 - ANÁLISE DOS DADOS Seguindo a linha de raciocínio de Toneto e Liboni (2008), para se analisar as condições de vida do setor sucroalcooleiro, pode-se começar pela sua dimensão e evolução no período recente em termos de emprego. Existem duas fontes de dados para esta análise: a RAIS (Relação Anual de Informações sociais), que corresponde a um registro administrativo preenchido por todas as unidades empregadoras, e a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar). A RAIS possui a vantagem de fornecer informações sobre o emprego (trabalhadores) para praticamente todos os estabelecimentos, possibilitando verificar o padrão de remuneração, a qualificação da mão de obra, o porte dos estabelecimentos, a idade, entre outras variáveis, além de disponibilizar dados para todos os municípios. O inconveniente da RAIS é resumir-se ao emprego formal. Para incluir os trabalhadores informalmente inseridos no setor em análise, utilizamos a PNAD/2009, que nos forneceu informações sobre domicílios. Neste caso pudemos identificar um conjunto de variáveis: o sub-setor em que essa família trabalha, condições de moradia, bens de consumo adquiridos, serviços públicos recebidos, renda desses domicílios, se o regime de trabalho é permanente ou temporário, e se essas famílias estão localizadas nas áreas urbanas ou rurais. A partir dessas fontes de dados podemos verificar alguns aspectos relacionados às condições de trabalho e renda no setor sucroalcooleiro de Pernambuco. Na pesquisa realizada por Balsadi, para toda a agricultura brasileira, os resultados constatados mostraram que houve avanços em, praticamente, todos os tipos de famílias agrícolas e pluriativas, em todas as regiões. Um dado importante é que houve sensíveis reduções nas diferenças de ICV entre as famílias pluriativas e as agrícolas, especialmente nos índices parciais ligados às condições do domicílio e ao acesso aos serviços públicos. Os maiores ICVs foram registrados, no geral, para as famílias urbanas, pluriativas e de empregados permanentes. Em oposição, os ICVs mais baixos eram os das famílias rurais, agrícolas e de empregados temporários. 91 6.1 – Análise dos indicadores dos domicílios no cultivo da cana-de-açúcar A análise dos dados da PNAD revela diferenças em relação aos trabalhadores que vivem no meio rural e urbano nesta atividade. Percebem-se algumas diferenças quando analisados os três ou quatro primeiros anos para os trabalhadores em regime de trabalho temporário e/ou permanente do meio rural, localização da qual vamos tratar em primeira instância. 6.1.1 - Famílias rurais do cultivo da cana (trabalho permanente e temporário) No Índice Parcial de Domicílios (INDDOM), existe uma maior quantidade de trabalhadores do emprego temporário com domicílios próprios, aproximadamente 53,6% no período analisado, contra 33,3% dos ocupados no emprego permanente. Isto pode denotar, para esse trabalhador temporário, a existência de uma segunda atividade para os chefes de famílias ou para os demais membros do mesmo domicílio, resultando em uma renda maior para a família. No meio rural, nas famílias agrícolas, Balsadi encontrou progressos relativos na agricultura brasileira. Há diferenças entre os empregados temporários e permanentes; no entanto, apesar dos importantes avanços, suas condições de vida continuam relativamente distantes das verificadas para as famílias urbanas, especialmente daquelas dos empregados permanentes. No índice parcial de condições do domicílio (INDDOM), os principais avanços ocorreram nos indicadores de material de construção e na existência de banheiro (Ban), embora os demais também tivessem registrado crescimento. Em 2004, último ano analisado por Balsadi, 71,3% dos domicílios era de alvenaria (Mat) e 93,4% tinham banheiro (Ban). No mesmo ano de 2004, na pesquisa feita para os domicílios em Pernambuco, 92,3% das famílias em área urbana e em empregos permanentes no cultivo da cana tinham material em alvenaria (Mat) em suas casas, e quase 95% possuíam banheiro (Ban). Apesar da melhoria nas condições dos domicílios das famílias dos empregados permanentes rurais, proporcionada sobretudo pela maior presença de domicílios com banheiro e pelo crescimento dos domicílios construídos com 92 alvenaria e pelos domicílios próprios, em 2008, apenas 37,8% dos domicílios pertenciam às famílias dos empregados permanentes. O curioso acontece em relação às famílias do cultivo da cana em áreas rurais, em emprego temporário, em Pernambuco. Os percentuais de domicílios próprios para as famílias em emprego temporário são maiores do que para as famílias em regime de trabalho permanente. Gráfico 11 – Evolução dos itens do INDDOM 120,0 100,0 (%) 80,0 Mat Tem p Telha Tem 60,0 Mat Perm 40,0 Telha Perm 20,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Com relação ao Índice Parcial de Serviços (INDSERV) percebe-se maior variação no fornecimento. Existe uma maior quantidade de domicílios, isto é, um maior percentual de famílias servidas por energia elétrica (Enel) para as famílias em empregos temporários, conforme o gráfico abaixo. A coleta de esgoto e em segundo lugar a coleta de lixo, são as condições mais precárias nessa área rural, para as famílias de trabalho temporário. Para os trabalhadores do trabalho permanente a situação não muda muito, ou seja, o serviço de coleta de esgoto (Colesg), para as famílias rurais em emprego permanente e temporário é igual, ou seja, extremamente precário. Em 1995, nenhuma família rural entrevistada detinha esse serviço em seus domicílios. 93 Em se tratando do acesso aos serviços sociais básicos, o serviço de energia elétrica foi quase universalizado. Em 2004, 96,5% dos domicílios agrícolas brasileiros possuíam esse serviço. Os principais avanços foram verificados na ampliação dos serviços de água canalizada (Aguac) e coleta de lixo (Colix). Apesar dos cortes serem diferentes, os índices da área de cana em Pernambuco, coincidem com os do Brasil. Gráfico 12 – Evolução (%) da quantidade de famílias no trabalho temporário de posse dos serviços públicos 120,0 INDSERV (%) 100,0 80,0 Aguac Colix 60,0 Enel Colesg 40,0 20,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Gráfico 13 – Evolução (%) da quantidade de famílias no trabalho permanente de posse dos serviços públicos 120,00 80,00 Aguac Colix 60,00 Enel Colesg 40,00 20,00 0,00 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 INDSERV (%) 100,00 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 94 De acordo com o Gráfico 13 abaixo, existe um fato curioso, ao longo do período analisado, houve o aumento gradativo dos domicílios com TV e geladeira (TV e Gel), tanto para o pessoal ocupado em regime de trabalho temporário como para as famílias do trabalho permanente. Houve uma pequena quantidade de registros, ou mesmo registro igual a zero. De acordo com os microdados da PNAD de 2009, quase 100% dessas famílias já possuíam TV e, aproximadamente entre 70% e 80%, tinham geladeira (Gel) em suas residências. Os pesos dos itens TV e geladeira (Gel), nas ponderações feitas na metodologia, são significativos, ambos de 16% na formulação do INDBENS. Gráfico 14 – Evolução das famílias rurais no cultivo da cana com TV e Geladeira (Temporário e Permanente) 100,00 90,00 80,00 70,00 (%) 60,00 TV Perm Gel Perm TV Temp Gel Temp 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 20 09 20 08 20 07 20 06 20 05 20 04 20 03 20 02 20 01 19 99 19 98 19 97 19 96 19 95 0,00 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Os domicílios com fogões (Fog) e rádios (Rad) também contribuem bastante para a elevação do Índice Parcial de Bens, o INDBENS, para as famílias dos trabalhadores permanentes. Os pesos desses itens são, respectivamente, de 15% e 11%. Das famílias entrevistadas em trabalhos permanentes, em 1995, 87% possuía fogão; em 2009, este percentual aumenta para quase 91%. Verifica-se dado inverso, mas não muito ruim, para as famílias em empregos temporários, cujos 95 percentuais de domicílios com fogão foram de 100%, em 1995, e quase 92%, no último ano da PNAD. O rádio também é um item que tem uma boa participação no INDBENS, 75,7%35, em média, das famílias em empregos permanentes possuem rádio, contra 64% das famílias em empregos temporários (Tabela 50). Tabela 34 – Índice Parcial de Bens (INDBENS) Bens Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Média Família Rural Permanente 1995 2009 0,00 58,46 87,04 90,77 18,52 15,38 72,22 83,08 7,41 90,77 11,11 81,54 0,00 1,54 0,00 0,00 25,81 61,91 39,3 Temporário 1995 2009 0,00 51,39 100,00 91,67 42,86 23,61 57,14 73,61 0,00 81,94 0,00 70,83 0,00 1,39 0,00 0,00 25,57 57,49 33,4 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 No tocante ao acesso aos bens duráveis, Balsadi menciona que o principal destaque foi para o grande aumento das famílias com telefone (Tel), televisão à cores (TV) e geladeira (Gel). Em 2004, 24,2%, 73,4% e 75,5%, dos domicílios tinham acesso a estes bens, respectivamente. Ele afirma que o acesso aos bens duráveis certamente tem relação com o aumento real dos rendimentos. O INDRENDA tem um forte componente, as famílias temporárias possuem renda variável maior, por exercerem outros trabalhos que aumenta a renda familiar. Em alguns anos o INDRENDA chega a ser bem maior para as famílias com trabalhos temporários. 35 As médias são feitas baseadas em 14 anos do período analisado, porque leva-se em consideração que no ano de 2000 não houve PNAD. 96 Gráfico 15 – INDRENDA das famílias rurais em trabalho permanente e temporário 45,0 40,0 INDRENDA 35,0 30,0 25,0 Permanente 20,0 15,0 Temporário 10,0 5,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Tabela 35 - Resultado dos Índices Parciais e do ICV – 2009 Índices Parciais Permanente Temporário INDDOM INDSERV INDBENS INDRENDA ICV 75,29 < 52,92 < 61,91 > 24,18 < 51,01 77,11 > 60,35 > 57,49 < 24,76 > 52,64 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Conforme a tabela acima, o Índice de Condições de Vida (ICV) das famílias rurais em regime de trabalho temporário é maior em função de alguns índices parciais que o compõem. 6.1.2 - Famílias urbanas do cultivo da cana (trabalho permanente e temporário) Em se tratando das famílias no cultivo da cana, nas áreas urbanas, ocorrem melhorias gerais nos quatro índices parciais quando se trata do regime permanente de trabalho em 2009. O ICV para as famílias rurais que era de 51,01 passa agora para 61,85. O que contribuiu muito para essa diferença foram praticamente todos os índices parciais, que melhoraram para estas famílias agora analisadas, conforme a tabela abaixo. 97 Para o INDDOM, as melhorias são mais visivelmente percebidas nos percentuais de domicílios com banheiros, nas áreas rurais este percentual é de 73,8%, para os domicílios do meio urbano, ele sobe para 100% de famílias com banheiro (Ban). Houve neste caso uma melhoria de 35,4%. O item que muito contribuiu para o aumento do INDDOM nestas áreas foram a quantidade de famílias com habitações próprias, o percentual cresceu de 53,8% das famílias nas áreas rurais para 75% nas áreas urbanas. Tabela 36 – Índices do trabalho permanente Rural e Urbano Trabalho Permanente Índices Parciais e ICV 2009 INDDOM INDSERV INDBENS INDRENDA ICV Rural Urbano 75,3 52,9 61,9 24,2 51,0 91,5 79,4 71,7 20,3 61,9 Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD, 2009 No INDSERV, o valor para as famílias urbanas é bem maior e o que contribui muito para essa diferença de Índices, são os serviços de água canalizada (Aguac) e coleta de lixo (Colix). Nas áreas rurais, os percentuais são respectivamente de 49,2% e 16,9%, para as famílias em trabalhos permanentes. Para estes mesmos domicílios em áreas urbanas, os mesmos percentuais passam para 91,6% e 75%. O ICV é de 79,4 para as famílias urbanas e de 59,9 para as famílias rurais (2009). Os dados demonstrados sugerem uma situação precária de saneamento básico no meio rural para os trabalhadores no cultivo da cana. Os itens analisados para que essas famílias tenham atendidos os seus direitos básicos, por parte das entidades governamentais, deixam a desejar e estão distante das condições observadas nos meios urbanos. As políticas governamentais estaduais de melhorias deixam de atuar neste sentido, agravando ainda mais as condições de vida dessas famílias. Políticas públicas no sentido de minimizar essa situação ruim, poderiam ser aplicadas, neste caso de baixos indicadores de condições de vida. 98 Gráfico 16 – Evolução dos Índices Parciais de Serviços Públicos – Rural e Urbano 90,0 Urbano 80,0 INDSERV 70,0 60,0 Rural 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 09 20 08 20 07 20 06 20 05 20 04 20 03 20 02 20 01 20 99 19 98 19 97 19 96 19 19 95 0,0 Ano Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD, 2009 Quando se fala do INDBENS, a situação também não é diferente, o ICV das famílias em áreas urbanas também é bem melhor. Nas áreas urbanas as famílias chegam a ter ICV de 71,6 enquanto nas áreas rurais o ICV é de 51. As melhorias são na quantidade de famílias urbanas com uma quantidade de itens de consumo maior, como fogão, rádio, TV e geladeira. Nestas famílias urbanas entrevistadas, chega a ser de 100% o percentual, ou seja, todos os domicílios entrevistados possuem os itens de consumo mencionados. O fato curioso, que piora as condições das famílias rurais, em detrimento das urbanas, é a diferença no número de domicílios com freezer e máquina de lavar, 16,6% das famílias urbanas possuem freezer, contra 1,5% das famílias rurais, é uma diferença muito grande. Nenhuma família rural entrevistada no trabalho permanente possui máquina de lavar, ou seja, percentual zero, enquanto 8,3% das famílias urbanas entrevistadas possuem esse item. Vale ressaltar que, quanto maiores os percentuais de domicílios com materiais de construção nas residências, itens de serviços, bens e renda, maiores os Índices Parciais e, portanto, maiores os Índices de Condições de Vida (ICVs). 99 Tabela 37 – Melhoria do INDBENS das Famílias Urbanas Bens Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Família Urbana Permanente 1995 0,0 95,0 25,0 75,0 10,0 17,5 2,5 2,5 29,8 2009 50,0 100,0 33,3 100,0 100,0 100,0 16,7 8,3 71,7 Temporário 1995 0,0 75,0 33,3 58,3 8,3 8,3 0,0 0,0 23,7 2009 33,3 93,3 20,0 100,0 93,3 100,0 0,0 0,0 63,6 Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD, 2009 O INDRENDA para os domicílios das áreas urbana e rural, das famílias no trabalho permanente são similares, respectivamente 20,3 e 24,1. No meio rural, em alguns anos essas rendas foram melhores nas áreas rurais para os empregados temporários, que possuem outras atividades nos períodos de entre safra, eles conseguem manter a sua renda, resultante dessas atividades extras. O Gráfico 16 mostra essa evolução de 1995 a 2009. Os anos de 1996, 1997, 2001, 2003 e 2007, foram os momentos de maiores diferenças de INDRENDA para ambas as famílias, urbana e rural. Este efeito deve-se às crises vividas pelo país, crise monetária, que afeta os trabalhadores assalariados e também setores em regiões e estados, mudança de governo e também devido a limitações da pesquisa, que serão mencionados mais à frente. 100 Gráfico 17 – Evolução do INDRENDA para as Famílias Urbanas e Rurais do Trabalho Permanente 35 30 INDRENDA 25 20 URBANO RURAL 15 10 5 08 07 06 05 04 09 20 20 20 20 20 20 02 01 03 20 20 98 99 20 19 19 96 97 19 19 19 95 0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Para as famílias urbanas e rurais do trabalho temporário as diferenças não foram acentuadas, os ICVs não foram diferentes, relativamente. Pode-se perceber que o ICV da área urbana manteve uma constância ao longo dos 15 anos, para as famílias urbanas, em média 54,1. Para o ICV das famílias em domicílios rurais, ele começa baixo e vai crescendo ao longo do tempo, passa de 35,5, em 1995, para 52,6, em 2009. O INDDOM é semelhante para os dois tipos de domicílio, urbanos e rurais com regime de trabalho temporário, 78,1% e 77,1%, respectivamente. A diferença está na quantidade de domicílios com banheiro (Ban) na área rural, bem menor do que nos domicílios urbanos, enquanto todos os domicílios destas famílias possuem banheiros, ou seja, percentual de 100%, apenas 73,6% dos domicílios rurais possuem este item de domicílio. Em se tratando do INDSERV, a situação para os temporários urbanos é um pouco melhor no que concerne à coleta de esgoto (Colesg). Só a partir de 2005, alguns domicílios vieram apresentar estes serviços em seus domicílios como resultado de algumas políticas públicas. Verificou-se um aumento maior de domicílios urbanos com este tipo de serviço (Colesg) no ano de 2008, quando 31,6% das famílias possuíam esse tipo de serviço. Em 2009 o número de domicílio com a 101 coleta de esgoto diminuiu drasticamente, para estes mesmos domicílios ou outros domicílios entrevistados, 6,7%. A pesquisa para os domicílios rurais, em 2009, apesar de ter apresentado famílias entrevistadas que não possuíam esse serviço durante os primeiros anos, teve um percentual maior em relação às famílias urbanas, isto é, 11,1% dos domicílios rurais pesquisados, tinha a coleta de esgoto (Colesg) nesse ano. O percentual de domicílios das áreas urbanas, do trabalho temporário, com coleta de lixo (Colix), é um pouco maior em relação às famílias rurais, o que era de se esperar. Em 2009 foi de 46,7% para os trabalhadores no cultivo da cana temporário urbano, e de 31,9%, para os mesmo trabalhadores da área rural. Um fato marcante para o INDBENS é que nos seis primeiros anos da série histórica analisada, nenhuma família das áreas rurais possuía telefone em seus domicílios. Só a partir de 2002, algumas famílias vieram apresentar esse item. E depois deste ano, os percentuais crescem muito a cada ano, tanto que, ao término de 2009, esse percentual chega a 51,4% de domicílios com telefones (Tel). O fato é semelhante para as famílias urbanas, com a diferença de que estas famílias só começam a apresentar o item telefone a partir de 2003, sete anos depois do início da análise, e então com percentuais mais baixos em relação ao percentual das famílias rurais, ou seja, em 2009 o percentual de domicílios urbanos, em emprego temporário, com telefone (Tel) é bem menor do que o percentual dos domicílios rurais com esse item, 51,4% para os domicílios rurais e 33,3% para os domicílios urbanos. Graças às privatizações36 das teles, aumentou significativamente o acesso a telefones. Hoje esses aparelhos estão à disposição de todos, quando antes existia um custo muito alto de se obter esse serviço, tendo que ser, inclusive, declarado no imposto de renda. 36 Em 29 de julho de 1998, era privatizado o Sistema Telebrás. Essa venda trouxe grandes vantagens ao consumidor, tais como o aumento do número de telefones, maior acesso da população às linhas, bem como a competição e a redução de tarifas de longa distância. Segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a linha telefônica foi o produto que ficou mais barato desde o início do Plano Real, com uma queda de 98% no preço. A consequente inclusão social se verifica nas casas das famílias de classe D das regiões Norte e Nordeste, as mais pobres do país: em 1998, apenas 6% das famílias tinham um telefone fixo em sua residência, e após 5 anos as linhas já estão presentes em 63% das casas, segundo a Anatel. Acesso: http://www.fipe.org.br/web/index.asp. 102 Gráfico 18 – Evolução da quantidade de domicílios com telefone - emprego temporário urbano e rural 60,0 INDBENS (Tel) 50,0 40,0 Urbano 30,0 Rural 20,0 10,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Apesar dos INDRENDA das famílias das áreas urbana e rural, no trabalho temporário, serem quase iguais, eles oscilam ao longo dos 15 anos (Gráfico 18), isto reflete os períodos de safras e entre safras da cana. Os Índices Parciais de Renda (INDRENDA) das duas famílias são de 26 para as famílias urbanas, e de 24,8 para as famílias rurais. Gráfico 19 – Evolução do INDRENDA das famílias urbanas e rurais do trabalho temporário 50,0 45,0 40,0 30,0 Urbano 25,0 Rural 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 INDRENDA 35,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. Dados da PNAD, 2009 103 6.2 – Análise dos domicílios na fabricação do açúcar (áreas rurais e urbanas) Para esta atividade, fabricação de açúcar, sub-setor do setor sucroalcooleiro, foram entrevistados pelo IBGE muito poucas famílias nas áreas rurais. Esse número varia entre 5 e 18 entrevistados/famílias, por ano, por exemplo. A grande maioria tem seus domicílios em áreas urbanas, como veremos mais adiante. Na metodologia, comentada em capítulo anterior, não foi feita a separação entre as categorias do regime de trabalho permanente e temporário para esta atividade. Não seria possível, por exemplo, analisar separadamente os domicílios da atividade fabricação de açúcar em áreas rurais, com emprego temporário ou permanente. O motivo é que a mostra de domicílios rurais para essa atividade é muito pequena, nos anos quando houve uma maior quantidade de domicílios entrevistados, esse número chegou a 18 domicílios apenas, contra 116 no meio urbano. As famílias dessa atividade são as pluriativas, as agrícolas estão no cultivo da cana, não existindo, portanto, famílias agrícolas trabalhando na fabricação do açúcar ou do álcool. A grande diferença, e razão esta que interfere nos ICVs das famílias das áreas urbanas e rurais, é o INDRENDA. Ele é bem maior para as famílias das áreas urbanas que, pelo maior grau de escolaridade, nesta atividade, possuem, portanto, renda média familiar maior. O Índice Parcial de Renda é de 49,3 para as famílias das áreas urbanas e de 26 para as famílias das áreas rurais, em 2009. As famílias das áreas urbanas entrevistadas declararam todas possuírem, em suas casas, material em alvenaria, cobertura em telha e banheiros, em 2009. Essa melhor condição de vida, das famílias empregadas na fabricação do açúcar, é explicada pelo melhor desempenho desse produto na economia pernambucana, e mais especificamente nas exportações. Em 1995 o açúcar representava 53,84% de toda a exportação do estado. Esta participação teve algumas variações ao longo dos anos, mas até maio de 2011, já representa 53,9% de tudo que Pernambuco exporta. 104 Tabela 38 - Participação (%) das Exportações do Açúcar e do Álcool sobre as exportações totais de Pernambuco US$ 1.000 FOB Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Exportações Totais (US$) 574.321 341.005 372.580 362.257 265.888 284.248 335.462 319.996 411.137 517.549 786.051 781.046 870.557 937.633 823.972 1.112.498 422.590 Participação do Açúcar (%) Participação do Álcool (%) 53,84 49,75 53,99 53,12 39,01 25,93 39,7 34,1 24,49 29,79 24,4 25,5 23,45 29,32 38,87 44,78 53,89 2,16 7,63 1,22 0,75 1,18 1,26 0,87 0,53 1,21 2,48 2,79 4,99 2,72 2,02 2,26 0,25 0 Fonte: Elaboração da autora. MDIC/SECEX/Aliceweb *maio A tabela 38 acima mostra quão importante é a atividade da fabricação do açúcar para a economia pernambucana, o quanto ele representa nas exportações totais do estado. Por outro lado, na contra mão do bom desempenho econômico desse produto, as condições de melhorias devem ser mais impactantes para os produtores e exportadores do que para as famílias que nessa atividade trabalham. Menos famílias urbanas declararam possuir domicílio próprio, em relação às famílias das áreas rurais, em 2009, apesar da amostra deste meio ser relativamente muito pequena. Enquanto 57,1% das famílias rurais possuem domicílio próprio, apenas 44,4% das famílias urbanas declaram ter domicílio próprio. Analisando a evolução dos indicadores, entre 1995 e 2009, as famílias das áreas rurais tiveram uma grande variação em todos os índices. As famílias entrevistadas não são as mesmas e novas amostras de pessoas podem ser colhidas na pesquisa, a cada ano. Como a maior parte dessas famílias está nas áreas urbanas, é mais significativo analisar as declarações observadas para as famílias das áreas urbanas (Tabela 39). 105 Tabela 39 – Famílias rurais e urbanas do açúcar Amostra - Famílias entrevistadas Ano Urbano Rural 1995 89 11 1996 114 7 1997 100 7 1998 101 5 1999 102 6 2001 116 14 2002 23 8 2003 19 12 2004 26 8 2005 30 18 2006 30 11 2007 41 16 2008 27 11 2009 18 14 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Gráfico 20 - INDDOM: Evolução das Famílias com domicílio próprio 100,0 90,0 INDDOM (Prop) 80,0 Urbano 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 Rural 20,0 10,0 0,0 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Como a maior quantidade das usinas se encontra, ainda, em áreas rurais, é natural que as famílias dessas áreas rurais só venham conseguindo obter os serviços públicos aos poucos, ao longo dos anos. Isso é mais visivelmente percebido para a Água canalizada (Aguac), coleta de lixo (Colix) e coleta de esgoto (Colesg). É o que mostra o gráfico a seguir. 106 Gráfico 21 – Evolução das Condições dos Serviços Públicos para as Famílias Rurais 120,0 100,0 INDSERV 80,0 Aguac 60,0 Colix Colesg 40,0 20,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Os Índices de Condições de Vida (ICV) tanto para os domicílios da área rural quanto para os domicílios da área urbana são bons. Eles apresentaram números para as famílias das áreas urbanas e rurais de 68,3 e 62,9, respectivamente. Ambos os ICVs evoluíram ao longo dos 15 anos analisados, o que mostra que as condições de vida dessas famílias, que trabalham na fabricação do açúcar, estão acompanhando o constante avanço do setor: demanda elevada por açúcar no mercado interno e externo, avanço das exportações de açúcar. Os Índices Parciais de Bens não são baixos para ambas as famílias, tanto rurais quanto urbanas. Com as exportações em alta, os portos enviando mercadorias a todo o momento, aos principais países importadores, como mostra a sub-sessão sobre Exportações, o Brasil e também Pernambuco vem crescendo elevando os seus ganhos com essa atividade. Deixando de lado um pouco as famílias das áreas rurais, que têm uma amostra muito pequena, como mostra a Tabela 38, as famílias das áreas urbanas estão adquirindo bens de consumo com o passar do tempo. A exceção do bem de consumo telefone, que só começa a mostrar registros a partir de 2001, e de freezer, que tem um percentual de 5,5% em 2009, todos os outros bens considerados na análise, são declarados pelas famílias. 107 6.3 – Análise dos domicílios na fabricação do álcool O ICV das famílias que trabalham com o álcool não é dos maiores, todavia não é dos piores entre os indicadores até então analisados. Ele retrata a realidade de uma atividade que aqui no estado ainda não é tão dinâmica. Nem todas as usinas existentes no estado de Pernambuco, estão ativas. Hoje existem 22 usinas que estão em processo produtivo no estado, e de acordo com o Sindaçúcar, nesta safra de 2010/2011, 19 usinas moeram cana para a fabricação apenas de açúcar. Consoante esta mesma fonte, apenas duas usinas, que são destilarias autônomas, a Cachool e a Una Álcool, produziram, ambos os produtos, o açúcar e o álcool. Seus rendimentos foram, respectivamente: i) 76,87 litros de álcool/tonelada de cana e 113,22 km de açúcar/tonelada de cana moída; ii) 74,76 litros de álcool/tonelada de cana e 110,11 km de açúcar/tonelada de cana. As demais usinas moeram cana apenas para a fabricação de açúcar. De acordo com a Silveira e Sicsú (2008), as usinas em Pernambuco esmagam cana-de-açúcar para a produção de açúcar, tendo o mel como subproduto. Este mel é utilizado no processo de destilação para a obtenção do álcool, nas destilarias anexas. É denominada destilaria anexa aquela que produz álcool a partir do mel final da usina de açúcar, e a ela está acoplada. Já as destilarias processam a cana-de-açúcar para obtenção de álcool. Os percentuais que compõem cada Índice Parcial, no geral, foram bons para essas famílias na atividade do álcool. O INDDOM teve uma média geral, para os 14 anos analisados, de 89,6, ou seja, essas famílias tiveram boas condições de moradia, no período analisado. O mesmo resultado para o INDSERV, com quase 100% de todos os domicílios entrevistados servidos por energia elétrica (Enel). O INDBENS teve apenas algumas curiosidades, a grande maioria das famílias não possuía, em seus domicílios, os bens de consumo freezer e máquinas de lavar roupa. Das três atividades analisadas, do setor sucroalcooleiro, a atividade, ou podemos dizer, sub-atividade, que possuiu menor INDRENDA em 2009, foi o do álcool. Todos os demais indicadores dessa atividade foram bons à exceção do INDRENDA. 108 6.4 - Análise dos domicílios do setor sucroalcooleiro A Lei n° 4.870, de 01 de dezembro de 1965, dispõe sobre a produção açucareira, a receita do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (I.A.A.) e sua aplicação. No Artigo 35 dessa lei, ficam os produtores de cana, açúcar e álcool obrigados a aplicar, em benefício dos trabalhadores industriais e agrícolas das usinas, destilarias e fornecedores, em serviços de assistência médica, hospitalar, farmacêutica e social, a importância correspondente no mínimo, às seguintes percentagens: i) de 1% (um por cento) sobre preço oficial de saco de açúcar de 60 (sessenta) quilos, de qualquer tipo; ii) de 1% (um por cento) sobre preço oficial da tonelada de cana entregue, a qualquer título, às usinas, destilarias, anexas ou autônomas, pelos fornecedores ou lavradores da referida matéria; iii) de 1% (um por cento) sobre preço oficial do litro de álcool, de qualquer tipo, produzido nas destilarias. Na lei os recursos previstos neste artigo serão aplicados diretamente pelas usinas, destilarias e fornecedores de cana, individualmente ou através das respectivas associações de classe, mediante plano de sua iniciativa. Esses projetos eram submetido à aprovação e fiscalização do I.A.A., hoje eles são implementados pelas usinas no estado. Os indicadores gerais do setor como um todo ressalta a importância de se entender que são três atividades distintas que o compõe: i) o cultivo da cana-deaçúcar como a atividade agrícola, no qual a escolaridade, as condições de trabalho e as rendas auferidas, caracterizam a atividade como primária; ii) a fabricação do açúcar como atividade industrial, cujo trabalho, mais bem remunerado, melhora as condições de vida das famílias dessa atividade e é, no estado de Pernambuco, o principal produto da pauta de exportação; iii) e a fabricação do álcool, ainda incipiente no estado, mas que começa a despontar como produto que atende tanto o mercado nacional como internacional. Cabe destacar que, Scopinho (2004) menciona que as relações estabelecidas entre as empresas, o Estado e os trabalhadores organizados, em se tratando da implementação de práticas de controle social das relações e condições de trabalho no setor sucroalcooleiro, há um distanciamento entre o que preconizam as políticas, a legislação e a realidade concreta. As inovações tecnológicas e 109 organizacionais, nas empresas, desempregam e intensificam o ritmo do trabalho, não significando melhorias reais para os trabalhadores. Os Índices Parciais desse setor estão mesclados, incluídos nele os índices das três atividades, mas analisando o setor em conjunto, os Índices não são lá muito altos e refletem a realidade das famílias que o formam. O INDDOM dessas famílias é o Índice Parcial mais alto, dentre eles, e a variável que puxa o índice para esse patamar é o elevado percentual de domicílios com telha em sua estrutura, que é de quase 100%. O INDDOM dessas famílias chega a 80,5. Os maiores percentuais para o setor, que formam o INDSERV, são para as famílias com energia elétrica (Enel), no período analisado, chega a ser de quase 95%, ou seja, 95% das famílias entrevistas, em média, declarou receberem, em seus domicílios, serviços de energia elétrica. O melhor percentual foi para o último ano da PNAD, 2009, quando foram entrevistadas 245 famílias no setor; o percentual atendido por este serviço foi de 99,6%. A coleta de esgoto (Colesg) foi o serviço que compõe o INDSERV menos declarado pelas famílias entrevistadas do setor, no período analisado. As famílias da atividade do cultivo da cana, no regime de trabalho temporário, no meio rural, foram as que tiveram um percentual menor (Tabela 38). Os percentuais de famílias com água canalizada (Aguac) e coleta de lixo (Colix), são em média, respectivamente 59,3% e 45,8% (Tabela 44). O INDBENS é relativamente baixo em comparação às atividades isoladas e fica num valor mediano, em comparação às demais atividades, conforme a tabela gráfico abaixo. 110 Tabela 40 – INDBENS e Índice Parcial do Setor Sucroalcooleiro Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Cana Rural Perm 25,8 27,3 27,9 30,3 35,7 32,5 37,7 37,0 37,2 41,6 46,5 52,4 55,9 61,9 Temp 25,6 29,4 24,9 17,8 25,5 25,8 22,7 28,1 39,5 29,8 39,9 48,1 53,5 57,5 Cana Urbano Perm 29,8 33,4 42,4 38,2 40,7 46,6 45,6 51,2 49,2 50,6 60,6 62,2 71,8 71,7 Temp 23,7 30,7 25,6 27,3 50,7 33,9 33,0 40,8 38,1 43,0 47,2 52,7 58,3 63,6 Açúcar Urbano 50,3 53,5 58,5 55,0 57,5 63,1 67,7 67,4 65,5 69,3 73,2 65,3 76,3 76,8 Rural 34,6 50,1 42,6 54,6 53,3 54,5 55,3 59,6 61,9 56,0 61,1 61,9 75,3 73,7 Álcool Sucroalcooleiro 54,4 60,2 58,5 60,1 61,0 73,1 65,0 67,1 66,8 69,8 75,9 75,4 81,4 80,5 40,1 43,6 44,6 46,8 50,6 51,4 46,2 47,6 48,0 50,1 57,4 60,0 63,6 66,7 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 O Gráfico 21 demonstra que a média dos Índices Parciais de Bens (INDBENS), dos anos analisados neste trabalho, ou seja, dos 14 anos em estudo, para todo o setor, está coerente com o INDBENS do setor sucroalcooleiro em 2009. Isso ratifica a exatidão dos dados, quando observados e analisados individualmente, e demonstra, já que esses índices são crescentes, que as famílias que trabalham nesse setor, estão conseguindo adquirir mais bens de consumo, com o passar do tempo. “A agroindústria canavieira emprega um milhão de pessoas no corte da cana-de-açúcar, sendo que 80% do que é colhido é cortado à mão. Isso gera um enorme desgaste físico ao trabalhador, ocasionando graves doenças; sem contar as condições precárias de trabalho, alojamento, meios de transportes, alimentação insuficiente, entre tantos outros problemas” (FERRARI, 2010). Os Índices Parciais de Bens de todas as atividades (INDBENS), separadamente, (Gráfico 21) apresentam muitas variações ao longo do período analisado. Todas as atividades apresentam crescimento dos seus índices, no entanto, os de maiores resultados, são os índices dos domicílios que trabalham na fabricação do álcool e na fabricação do açúcar, das áreas urbana e rural. Estes são os maiores Índices de Bens, do setor sucroalcooleiro, no Estado de Pernambuco. 111 Gráfico 22 – Evolução do INDBENS dos domicílios das sub-atividades do setor e do setor sucroalcooleiro 90,0 80,0 70,0 Cana Rural Permanente INDBENS 60,0 Cana Rural Temporário Cana Urbano Permanente 50,0 Cana Urbano Temporário Açúcar Urbano 40,0 Açúcar Rural 30,0 Álcool Setor Sucroalcooleiro 20,0 10,0 20 09 20 08 20 07 20 06 20 05 20 04 20 03 20 02 20 01 19 99 19 98 19 97 19 96 19 95 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 O INDRENDA do setor é baixo, em função das remunerações da atividade agrícola das famílias do cultivo da cana-de-açúcar, estas são as menores remunerações registradas, de acordo com os microdados da PNAD. Estas observações mostram que as remunerações mínimas e máximas variam muito; na atividade agrícola, que compõe o setor, são muito baixas, em função da baixa qualificação da mão-de-obra; nas atividades industriais da fabricação do açúcar e do álcool, elas são altas, porque estão incluídos, nestes trabalhos, altos salários, equivalentes aos dos engenheiros e demais profissionais de nível superior. Tabela 112 41 – Remunerações mínima e máxima do setor37 Remuneração Remuneração Mínima (R$) Máxima (R$) 1995 13,85 1.959,00 1996 14,00 2.695,00 13,33 1.700,00 1997 1998 17,14 7.600,00 1999 15,00 2.318,00 2001 9,78 6.666,67 2002 2,86 3.500,00 7,50 5.000,00 2003 2004 15,88 10.000,00 2005 16,67 8.333,33 2006* 25,00 22.666,67 21,00 10.000,00 2007 24,00 8.450,00 2008 2009 52,40 7.000,00 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Ano O ICV do setor como um todo também não chega a ser dos melhores, comparado aos das atividades, separadamente. Em 1995 ele era de 42 e cresce apenas 18, 6%, em 15 anos, chegando a 49,8, em 2009. Ele mantém uma média de 45 ao longo dos anos analisados. Gráfico 23 - Evolução dos ICVs dos Sub-setores e Setor Sucroalcooleiro 70,0 60,0 50,0 ICV Cana ICV 40,0 ICV do Açúcar ICV Álcool 30,0 ICV Sucroalcooleiro 20,0 10,0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 0,0 Ano Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 37 Essa renda exagerada de 2006 é de uma família da área urbana, sub-setor do álcool, onde o chefe (homem) ganha R$ 60.000,00. Somando a renda da esposa, que é de R$ 8.000,00 e dividido por três pessoas (um filho) dá uma renda per capita de R$ 22.666. Excluindo essa família, a renda máxima é de R$ 2.500,00. 113 Como já mencionado, o ICV do setor sucroalcooleiro foi elaborado a partir dos cálculos dos Índices Parciais e suas ponderações para todos os domicílios entrevistados das três sub-atividades. Apesar do INDRENDA ter o maior peso para a formulação do ICV, 33%, ele foi pouco representativo para o setor como um todo tanto porque surgiram registros de baixas rendas na sub-atividade da cana, quanto de altas rendas na sub-atividade do álcool. Os domicílios cujo chefe de família esteve envolvido na sub-atividade canavieira, possuíam baixas remunerações com relação aos sub-setores industriais, que possuíam as maiores remunerações pela melhor qualificação de sua mão-de-obra. Em comparação aos resultados obtidos por Balsadi (2006), ao longo do período de seu estudo 1992-2004, alguns indicadores do presente trabalho chamaram a atenção quanto à melhoria dos resultados verificados tanto nos índices parciais quanto no próprio ICV. Esses resultados foram: i) a existência de banheiro ou sanitário (Ban), no índice parcial de condições do domicílio (INDDOM); ii) a ampliação dos serviços de água canalizada (Aguac) e de energia elétrica (Enel), no índice parcial de acesso aos serviços sociais (INDSERV); iii) a participação das famílias que possuíam telefone (Tel), TV à cores (TV), geladeira (Gel) e freezer (Fre), em algumas regiões rurais, no índice parcial de acesso aos bens de consumo durável (INBENS); iv) e o ganho real observado no rendimento médio familiar (INDRENDA) de quase todos os tipos de família analisado nas diversas regiões brasileiras. Balsadi estudou a agricultura brasileira e seus principais resultados para as famílias dos empregados agrícolas mostraram que todos os tipos de famílias tiveram uma evolução bem favorável do seu ICV; o local de moradia teve mais relevância nas condições de vida do que o regime de trabalho dos empregados, pois os residentes urbanos tiveram os maiores ICVs (obviamente, para uma mesma situação de residência, as famílias dos empregados permanentes tinham melhores condições de vida do que as famílias dos empregados temporários). Para as famílias de áreas urbanas e rurais, as principais diferenças no ICV foram proporcionadas pelo rendimento médio familiar e pelo acesso aos serviços sociais básicos, mais favoráveis aos residentes urbanos. Os indicadores que apresentaram desempenhos bem favoráveis para todos os tipos de famílias, com as já esperadas diferenças de magnitude, foram os de material de construção do domicílio (Mat), de existência de 114 banheiro no domicílio (Ban), de acesso ao serviço de água canalizada (Aguac), de acesso ao serviço de energia elétrica (Enel), de acesso ao telefone (Tel) e de posse dos bens duráveis que tiveram boom de consumo, no caso a TV à cores (TV) e a geladeira (Gel). Ou seja, existiram dois extremos, as situações de residência urbana, de pluriatividade e de empregado permanente conferem às famílias melhores condições de vida em relação às demais; e na outra extremidade, aparecem as famílias rurais, agrícolas e de empregados temporários, com as piores condições de vida. (pág. 174 tese Balsadi). Na atividade sucroalcooleira pernambucana, o acesso ao serviço de energia elétrica (Enel) não foi grande problema, tanto para os domicílios em trabalho temporário quanto para os domicílios em trabalho permanente. A exclusão elétrica foi mais identificada no meio rural, com uma maior quantidade de famílias ainda sem esse serviço. Os resultados obtidos do trabalho do Balsadi (2006) para a agricultura brasileira reforçam que há, de fato, segmentos sociais e regiões mais fragilizados e ainda pouco beneficiados dos benefícios advindos do crescimento econômico. A existência do emprego precário e das condições de vida mais desfavoráveis seria representado pela família agrícola de empregado temporário dedicada às culturas tradicionais nas áreas rurais da região Nordeste, contrapondo ao da família urbana pluriativa de empregado permanente dedicada às commodities nas regiões do Centro-Sul, cujos indicadores são muito superiores, evidenciando a polarização no mercado de trabalho assalariado agrícola. Balsadi (2006) encontrou na região Nordeste do Brasil, os menores ICVs, principalmente para as famílias residentes em áreas rurais. Apesar de muitos progressos também terem sido verificados, muitos dos indicadores da região estavam abaixo da média nacional, com acentuado destaque para o rendimento médio familiar. Ele destaca alguns resultados pontuais para as famílias agrícolas nas áreas urbanas dos empregados permanentes em relação aos empregados temporários. Para as famílias de empregados permanentes houve progresso relativo do ICV: i) no índice parcial de domicílio o principal avanço foi em relação ao material de construção e existência de banheiro nos domicílios; iii) no índice parcial de serviços houve melhoria em todos os indicadores, principalmente em relação à água 115 canalizada, coleta de lixo e energia elétrica; iv) com um ganho real de 35,0% no rendimento médio familiar, houve aumento das famílias com telefone, fogão, filtro de água, rádio, televisão à cores e geladeira; v) importante aumento do ICV também para as famílias agrícolas dos empregados temporários urbanos. Para as famílias dos empregados temporários, com exceção do rendimento médio familiar, que sofreu redução de 5,1% em seu valor real, os demais índices parciais registraram comportamentos bastante favoráveis e foi semelhante ao que aconteceu com as famílias dos empregados permanentes. Tabela 42 – Resultados de Balsadi – Ranking dos melhores ICVs Ranking Categorias de Famílias Agrícolas e Pluriativas Região 1995 2004 Sul 101 100 Centro-Oeste 101 98 Sudeste 90 96 Brasil 90 95 Sudeste 85 94 Sul 72 93 1 2 3 Empregado Permanente 4 5 6 Pluriativa Empregado Temporário Urbano ICV 7 Empregado Permanente Nordeste 84 87 8 Empregado Temporário Brasil 74 85 9 Empregado Permanente 73 79 10 Empregado Temporário 72 78 Agrícola Sudeste Tabela 43 – Resultados de Balsadi – Ranking dos piores ICVs Ranking 1 Categorias de Famílias Agrícolas e Pluriativas Empregado Temporário Agrícola 4 Empregado Permanente Rural 5 6 7 Empregado Temporário 8 Empregado Permanente 9 Empregado Temporário 10 Empregado Permanente Pluriativa Urbano Agrícola Rural Pluriativa ICV 1995 2004 32 42 35 42 Centro-Oeste 41 47 Brasil 38 48 Nordeste 38 49 Sul 43 50 Norte 48 53 Brasil 43 54 47 54 44 56 Nordeste 2 3 Região Nordeste Fonte: Elaboração da autora. Balsadi, 2006 116 Tabela 44 – Comparação: ICV Pernambuco / ICV Nordeste Ano 1995 1998 2001 2004 ICV - Pernambuco ICV - Nordeste (Balsadi) Rural Urbano Rural Urbano Temporário Permanente Temporário Permanente Temporário Permanente Temporário Permanente 35,5 30,6 54,4 50,5 26,5 28,2 47 48,2 34,7 28,7 50,6 44,4 29,3 28,1 40,6 51 36,6 34,1 46,8 46,6 28,6 31,2 42,5 50,1 40 31,5 54,6 51,7 33,4 33,8 48 57,2 Fonte: Elaboração da autora. Balsadi, 2006 117 Tabela 45 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais dos Empregados Permanentes do Cultivo da Cana Índices Parciais e ICV Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV Famílias no Cultivo da Cana - Rural - Permanente 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 94,4 98,1 40,7 18,5 54,2 13,0 5,6 64,8 0,0 26,6 0,0 87,0 18,5 72,2 7,4 11,1 0,0 0,0 25,8 16,5 16,5 30,6 83,6 100,0 58,2 20,0 57,5 5,5 1,8 60,0 0,0 22,2 0,0 83,6 20,0 76,4 9,1 18,2 0,0 0,0 27,3 33,2 33,2 36,2 89,5 100,0 42,1 19,3 54,0 8,8 1,8 61,4 0,0 23,6 0,0 89,5 15,8 78,9 10,5 15,8 0,0 0,0 27,9 21,9 21,9 32,0 92,6 100,0 51,9 25,9 59,7 13,0 0,0 70,4 0,0 27,6 0,0 88,9 20,4 63,0 20,4 29,6 0,0 0,0 30,3 3,3 3,3 28,7 93,2 100,0 29,5 15,9 50,2 13,6 0,0 79,5 0,0 30,9 0,0 93,2 22,7 90,9 27,3 31,8 0,0 0,0 35,7 30,3 30,3 36,7 87,1 98,8 34,1 22,4 52,1 16,5 2,4 81,2 0,0 32,6 1,2 85,9 11,8 70,6 32,9 31,8 2,4 0,0 32,5 21,2 21,2 34,1 92,0 100,0 51,7 33,3 62,0 20,7 6,9 88,5 2,3 37,5 10,3 80,5 10,3 77,0 42,5 47,1 0,0 0,0 37,7 20,7 20,7 38,6 84,4 100,0 46,9 35,4 59,7 20,8 3,1 91,7 0,0 37,5 10,4 77,1 12,5 74,0 38,5 50,0 1,0 1,0 37,0 16,3 16,3 36,4 85,3 100,0 39,2 37,3 58,4 19,6 7,8 90,2 2,9 38,1 12,7 75,5 17,6 67,6 46,1 44,1 1,0 0,0 37,2 1,9 1,9 31,5 84,1 100,0 54,9 48,8 66,5 34,1 7,3 96,3 1,2 43,8 23,2 86,6 8,5 74,4 48,8 48,8 0,0 0,0 41,6 22,0 22,0 42,4 81,6 98,9 52,9 50,6 65,8 35,6 9,2 95,4 4,6 44,9 32,2 73,6 12,6 69,0 73,6 56,3 3,4 1,1 46,5 7,8 7,8 38,6 88,5 98,4 55,7 47,5 67,0 26,2 6,6 96,7 1,6 41,7 36,1 90,2 13,1 83,6 70,5 67,2 1,6 1,6 52,4 21,7 21,7 43,7 93,3 100,0 53,3 37,8 64,3 30,0 8,9 97,8 2,2 43,6 43,3 94,4 16,7 78,9 76,7 73,3 0,0 0,0 55,9 19,4 19,4 43,3 92,3 100,0 73,8 53,8 75,3 49,2 16,9 100,0 10,8 52,9 58,5 90,8 15,4 83,1 90,8 81,5 1,5 0,0 61,9 24,2 24,2 51,0 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 118 Tabela 46 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais dos Empregados Temporários do Cultivo da Cana Índices Parciais e ICV Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV Famílias no Cultivo da Cana Rural Temporário 1995 1996 1997 1998 1999 85,7 100,0 28,6 42,9 57,4 0,0 0,0 57,1 0,0 19,4 0,0 100,0 42,9 57,1 0,0 0,0 0,0 0,0 25,6 34,0 34,0 35,5 80,0 100,0 10,0 50,0 53,4 10,0 10,0 80,0 0,0 31,7 0,0 90,0 50,0 70,0 10,0 10,0 0,0 0,0 29,4 37,3 37,3 39,0 93,8 93,8 31,3 43,8 59,3 0,0 0,0 43,8 0,0 14,9 0,0 87,5 18,8 81,3 6,3 0,0 0,0 0,0 24,9 37,8 37,8 36,1 75,0 100,0 25,0 25,0 48,0 0,0 0,0 75,0 0,0 25,5 0,0 100,0 0,0 25,0 0,0 0,0 0,0 0,0 17,8 38,9 38,9 34,7 57,1 100,0 28,6 64,3 58,4 0,0 0,0 71,4 0,0 24,3 0,0 78,6 28,6 57,1 14,3 14,3 0,0 0,0 25,5 37,6 37,6 38,1 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 78,6 76,9 78,9 82,5 75,0 87,5 86,1 100,0 100,0 97,4 97,5 97,9 96,9 100,0 25,0 19,2 44,7 32,5 41,7 40,6 50,0 60,7 50,0 47,4 65,0 54,2 71,9 47,2 60,9 55,3 61,6 65,0 62,3 70,6 65,0 17,9 7,7 15,8 20,0 16,7 21,9 33,3 7,1 3,8 18,4 7,5 6,3 0,0 8,3 82,1 88,5 92,1 92,5 93,8 93,8 100,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 2,8 34,1 32,9 38,9 38,3 38,0 38,0 45,3 0,0 7,7 10,5 2,5 8,3 15,6 25,0 78,6 65,4 65,8 87,5 72,9 81,3 97,2 10,7 7,7 15,8 15,0 6,3 3,1 5,6 50,0 42,3 65,8 80,0 60,4 84,4 75,0 14,3 23,1 18,4 52,5 29,2 62,5 80,6 32,1 15,4 28,9 45,0 33,3 34,4 47,2 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 25,8 22,7 28,1 39,5 29,8 39,9 48,1 24,0 26,2 29,5 21,0 23,1 40,5 35,7 24,0 26,2 29,5 21,0 23,1 40,5 35,7 36,6 35,0 40,1 40,0 38,3 47,9 47,9 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 82,2 97,8 66,7 66,7 75,1 31,1 4,4 100,0 0,0 43,5 35,6 88,9 15,6 73,3 77,8 75,6 0,0 0,0 53,5 25,4 25,4 47,8 87,5 100,0 73,6 62,5 77,1 68,1 31,9 98,6 11,1 60,3 51,4 91,7 23,6 73,6 81,9 70,8 1,4 0,0 57,5 24,8 24,8 52,6 119 2006 Tabela 47 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas dos Empregados Permanentes do Cultivo da Cana Índices Parciais e ICV Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV Famílias no Cultivo da Cana Urbano Permanente 1995 1996 1997 1998 1999 95,0 100,0 90,0 72,5 86,8 65,0 60,0 97,5 10,0 63,7 0,0 95,0 25,0 75,0 10,0 17,5 2,5 2,5 29,8 22,5 22,5 50,5 69,0 100,0 92,9 83,3 85,5 52,4 28,6 95,2 11,9 54,4 0,0 83,3 31,0 92,9 23,8 23,8 0,0 0,0 33,4 11,6 11,6 45,1 97,8 100,0 82,6 56,5 79,9 69,6 50,0 100,0 10,9 64,3 0,0 95,7 30,4 80,4 47,8 50,0 4,3 2,2 42,4 12,5 12,5 47,7 87,1 100,0 83,9 61,3 79,5 67,7 61,3 96,8 16,1 65,7 0,0 83,9 29,0 71,0 38,7 48,4 9,7 3,2 38,2 4,0 4,0 44,4 95,7 100,0 82,6 69,6 83,8 78,3 60,9 100,0 8,7 68,1 0,0 95,7 26,1 95,7 47,8 34,8 0,0 0,0 40,7 29,3 29,3 54,9 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 92,3 86,2 83,3 92,3 98,0 87,3 100,0 100,0 100,0 97,9 100,0 100,0 98,2 100,0 82,1 86,2 89,6 94,9 96,0 90,9 100,0 82,1 89,7 91,7 89,7 88,0 87,3 72,2 87,2 89,6 90,3 93,4 94,4 90,0 90,6 48,7 48,3 75,0 69,2 72,0 80,0 79,6 61,5 65,5 58,3 69,2 78,0 70,9 72,2 97,4 100,0 97,9 100,0 100,0 100,0 100,0 12,8 10,3 10,4 10,3 12,0 20,0 37,0 59,9 60,8 66,4 67,3 69,9 72,7 76,4 5,1 3,4 16,7 12,8 24,0 52,7 50,0 94,9 96,6 85,4 92,3 92,0 98,2 100,0 33,3 27,6 35,4 28,2 12,0 23,6 18,5 84,6 79,3 83,3 89,7 80,0 83,6 87,0 48,7 62,1 72,9 64,1 74,0 83,6 88,9 66,7 55,2 68,8 61,5 66,0 70,9 79,6 2,6 3,4 2,1 2,6 4,0 7,3 1,9 2,6 0,0 0,0 2,6 0,0 1,8 1,9 46,6 45,6 51,2 49,2 50,6 60,6 62,2 4,0 13,2 7,0 8,1 16,3 8,1 3,4 4,0 13,2 7,0 8,1 16,3 8,1 3,4 46,6 50,3 50,7 51,7 55,5 54,0 53,7 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 120 2008 2009 95,8 100,0 87,5 85,4 90,6 81,3 75,0 100,0 20,8 73,9 68,8 95,8 41,7 95,8 97,9 95,8 0,0 0,0 71,8 24,4 24,4 61,7 100,0 100,0 100,0 75,0 91,5 91,7 75,0 100,0 33,3 79,4 50,0 100,0 33,3 100,0 100,0 100,0 16,7 8,3 71,7 20,3 20,3 61,9 Tabela 48 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas dos Empregados Temporários do Cultivo da Cana Famílias no Cultivo da Cana Urbano Temporário Índices Parciais e ICV 1995 1996 1997 1998 1999 Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV 91,7 100,0 91,7 83,3 90,2 41,7 33,3 91,7 0,0 48,5 0,0 75,0 33,3 58,3 8,3 8,3 0,0 0,0 23,7 45,2 45,2 54,4 80,8 100,0 65,4 69,2 75,6 65,4 38,5 96,2 3,8 58,3 0,0 96,2 15,4 61,5 19,2 30,8 0,0 0,0 30,7 38,8 38,8 51,9 80,0 96,0 64,0 44,0 65,8 36,0 28,0 92,0 8,0 47,8 0,0 80,0 8,0 52,0 24,0 20,0 0,0 0,0 25,6 28,8 28,8 42,6 90,9 100,0 90,9 72,7 86,2 63,6 54,5 100,0 0,0 61,1 0,0 90,9 18,2 54,5 9,1 27,3 0,0 0,0 27,3 26,3 26,3 50,6 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 66,7 66,7 100,0 0,0 64,0 0,0 100,0 33,3 100,0 100,0 33,3 0,0 0,0 50,7 45,0 45,0 65,2 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 68,4 62,5 87,1 78,6 88,6 78,1 92,3 100,0 93,8 96,8 100,0 100,0 100,0 100,0 47,4 56,3 83,9 85,7 90,9 87,5 84,6 89,5 75,0 77,4 81,0 86,4 84,4 61,5 74,7 70,0 84,5 84,8 90,3 86,4 80,9 68,4 43,8 77,4 64,3 70,5 75,0 46,2 47,4 37,5 58,1 71,4 77,3 65,6 69,2 100,0 100,0 96,8 100,0 100,0 100,0 96,2 5,3 0,0 16,1 11,9 9,1 21,9 11,5 62,3 52,6 67,8 66,6 68,8 70,8 59,8 0,0 0,0 12,9 9,5 22,7 28,1 30,8 89,5 81,3 83,9 76,2 88,6 81,3 92,3 21,1 18,8 25,8 23,8 11,4 12,5 19,2 78,9 81,3 67,7 76,2 68,2 81,3 80,8 36,8 37,5 41,9 42,9 52,3 65,6 92,3 21,1 25,0 58,1 45,2 52,3 59,4 50,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,5 0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 2,4 2,3 0,0 0,0 33,9 33,0 40,8 38,1 43,0 47,2 52,7 19,8 26,6 34,1 29,9 35,6 29,3 32,9 19,8 26,6 34,1 29,9 35,6 29,3 32,9 46,8 45,4 56,6 54,6 59,3 57,3 55,4 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 86,8 100,0 94,7 78,9 88,5 76,3 86,8 100,0 31,6 76,8 47,4 92,1 28,9 78,9 89,5 65,8 0,0 0,0 58,3 34,1 34,1 62,7 93,3 100,0 100,0 40,0 78,1 66,7 46,7 100,0 6,7 62,0 33,3 93,3 20,0 100,0 93,3 100,0 0,0 0,0 63,6 26,0 26,0 54,8 121 2006 Tabela 49 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Urbanas na Fabricação de Açúcar Famílias na Fabricação do Açúcar Urbano Índices Parciais e ICV 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV 91,0 100,0 93,3 67,4 85,1 70,8 59,6 97,8 22,5 67,9 0,0 94,4 50,6 89,9 52,8 71,9 6,7 10,1 50,3 7,6 7,6 49,7 93,0 98,2 93,0 68,4 85,5 81,6 63,2 99,1 27,2 73,0 0,0 98,2 54,4 88,6 64,0 75,4 9,6 7,9 53,5 5,9 5,9 50,9 95,0 100,0 95,0 81,0 91,0 91,0 70,0 99,0 26,0 76,5 0,0 99,0 52,0 92,0 83,0 86,0 7,0 10,0 58,5 8,0 8,0 54,8 98,0 100,0 95,0 71,3 88,4 88,1 77,2 100,0 41,6 80,5 0,0 97,0 41,6 94,1 74,3 78,2 5,9 13,9 55,0 12,2 12,2 55,8 100,0 98,0 99,0 75,5 91,1 89,2 82,4 100,0 25,5 78,3 0,0 100,0 49,0 91,2 80,4 78,4 9,8 18,6 57,5 9,1 9,1 55,4 95,7 100,0 95,7 74,1 89,1 84,5 76,7 100,0 25,0 75,9 36,2 98,3 35,3 88,8 85,3 81,9 11,2 17,2 63,1 9,7 9,7 55,5 95,7 100,0 100,0 78,3 91,7 91,3 69,6 100,0 39,1 79,6 43,5 100,0 26,1 91,3 100,0 95,7 8,7 8,7 67,7 17,5 17,5 60,3 100,0 100,0 100,0 84,2 94,6 84,2 73,7 100,0 26,3 75,6 36,8 100,0 36,8 89,5 100,0 89,5 21,1 10,5 67,4 14,3 14,3 59,1 100,0 100,0 100,0 76,9 92,2 88,5 80,8 100,0 23,1 77,3 26,9 100,0 38,5 92,3 92,3 96,2 7,7 15,4 65,5 9,3 9,3 56,9 96,7 100,0 100,0 83,3 93,6 86,7 80,0 100,0 23,3 76,8 70,0 93,3 36,7 93,3 83,3 86,7 13,3 16,7 69,3 11,4 11,4 58,5 100,0 100,0 100,0 90,0 96,6 93,3 83,3 100,0 40,0 82,7 80,0 96,7 33,3 86,7 96,7 93,3 6,7 16,7 73,2 3,8 3,8 58,8 82,9 95,1 90,2 61,0 79,5 85,4 73,2 100,0 34,1 77,5 75,6 95,1 17,1 80,5 87,8 80,5 7,3 2,4 65,3 5,3 5,3 52,2 100,0 100,0 96,3 70,4 88,9 85,2 85,2 100,0 14,8 75,4 96,3 96,3 33,3 85,2 96,3 92,6 14,8 18,5 76,3 5,9 5,9 56,2 100,0 100,0 100,0 44,4 81,1 94,4 61,1 100,0 16,7 74,3 100,0 100,0 22,2 88,9 100,0 94,4 5,6 16,7 76,8 49,4 49,4 68,3 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 122 Tabela 50 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias Rurais na Fabricação de Açúcar Índices Parciais e ICV Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV Famílias na Fabricação do Açúcar Rural 1995 1996 1997 1998 1999 100,0 100,0 54,5 63,6 74,9 27,3 9,1 72,7 0,0 33,9 0,0 81,8 36,4 90,9 18,2 36,4 0,0 0,0 34,6 37,9 37,9 46,4 100,0 100,0 100,0 85,7 95,1 57,1 28,6 100,0 0,0 54,9 0,0 100,0 28,6 85,7 57,1 85,7 0,0 0,0 50,1 50,8 50,8 63,6 100,0 100,0 85,7 57,1 81,4 28,6 42,9 100,0 0,0 49,3 0,0 85,7 42,9 85,7 57,1 42,9 0,0 0,0 42,6 51,3 51,3 57,5 100,0 100,0 60,0 20,0 61,6 40,0 20,0 100,0 0,0 48,6 0,0 80,0 60,0 100,0 80,0 80,0 0,0 0,0 54,6 39,7 39,7 50,2 100,0 100,0 50,0 83,3 80,3 33,3 16,7 100,0 0,0 46,2 0,0 100,0 33,3 100,0 83,3 66,7 0,0 0,0 53,3 26,7 26,7 50,2 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 92,9 87,5 100,0 100,0 100,0 81,8 93,8 100,0 100,0 91,7 100,0 100,0 100,0 100,0 64,3 75,0 100,0 87,5 72,2 63,6 75,0 57,1 37,5 8,3 75,0 33,3 9,1 37,5 73,9 69,0 67,5 88,0 69,6 54,9 70,4 64,3 37,5 83,3 50,0 55,6 36,4 75,0 35,7 25,0 0,0 37,5 33,3 27,3 56,3 92,9 100,0 100,0 100,0 83,3 100,0 100,0 14,3 0,0 0,0 12,5 5,6 9,1 6,3 58,6 48,8 57,3 57,0 50,7 50,7 65,9 28,6 12,5 50,0 62,5 55,6 72,7 50,0 92,9 87,5 100,0 100,0 94,4 90,9 93,8 28,6 25,0 0,0 12,5 22,2 9,1 37,5 85,7 87,5 91,7 100,0 88,9 72,7 87,5 64,3 75,0 66,7 75,0 66,7 81,8 81,3 78,6 87,5 91,7 75,0 50,0 81,8 75,0 0,0 12,5 0,0 0,0 5,6 0,0 6,3 7,1 12,5 8,3 0,0 16,7 0,0 6,3 54,5 55,3 59,6 61,9 56,0 61,1 61,9 50,5 20,5 10,2 71,7 31,4 31,7 22,8 50,5 20,5 10,2 71,7 31,4 31,7 22,8 59,4 46,0 44,9 71,1 50,3 47,3 52,2 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 100,0 100,0 90,9 27,3 72,7 81,8 27,3 100,0 9,1 63,5 90,9 100,0 45,5 81,8 100,0 90,9 0,0 9,1 75,3 35,8 35,8 58,8 100,0 92,9 100,0 57,1 84,3 100,0 85,7 100,0 28,6 82,6 85,7 100,0 42,9 71,4 100,0 92,9 0,0 14,3 73,7 26,0 26,0 62,9 123 2006 Tabela 51 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias na Fabricação do Álcool Índices Parciais e ICV Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV Famílias na Fabricação do Álcool 1995 1996 1997 1998 1999 97,7 100,0 88,6 70,5 86,3 70,5 50,0 97,7 13,6 64,3 0,0 100,0 63,6 97,7 52,3 77,3 9,1 11,4 54,4 8,2 8,2 50,0 94,7 94,7 100,0 68,4 87,3 94,7 71,1 100,0 28,9 78,7 0,0 92,1 63,2 89,5 84,2 94,7 7,9 13,2 60,2 9,5 9,5 55,0 100,0 97,0 100,0 75,8 91,3 93,9 75,8 100,0 57,6 85,3 0,0 100,0 48,5 87,9 84,8 84,8 9,1 15,2 58,5 19,7 19,7 60,7 97,9 100,0 100,0 80,9 93,0 89,4 70,2 100,0 29,8 77,2 0,0 100,0 36,2 97,9 95,7 83,0 12,8 14,9 60,1 14,0 14,0 57,7 98,0 98,0 95,9 81,6 91,8 89,8 77,6 100,0 40,8 80,9 0,0 100,0 44,9 95,9 87,8 87,8 20,4 18,4 61,0 25,1 25,1 62,1 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 98,5 100,0 97,0 98,5 95,5 98,4 100,0 100,0 100,0 98,5 100,0 100,0 98,4 100,0 98,5 92,6 95,5 92,5 90,9 96,8 95,7 72,7 81,5 71,2 74,6 72,7 79,0 65,2 90,0 91,6 88,0 89,0 87,2 91,4 87,0 93,9 77,8 84,8 85,1 86,4 91,9 93,5 78,8 74,1 59,1 62,7 75,8 82,3 89,1 100,0 98,1 97,0 98,5 98,5 100,0 100,0 28,8 40,7 33,3 25,4 42,4 45,2 41,3 79,7 76,3 73,8 73,3 79,5 83,2 84,0 54,5 48,1 48,5 55,2 74,2 85,5 73,9 100,0 96,3 95,5 100,0 98,5 96,8 100,0 40,9 37,0 34,8 29,9 25,8 38,7 37,0 100,0 85,2 92,4 92,5 86,4 87,1 97,8 92,4 83,3 84,8 82,1 89,4 98,4 93,5 97,0 79,6 87,9 79,1 83,3 91,9 95,7 9,1 16,7 16,7 16,4 13,6 12,9 15,2 34,8 25,9 25,8 28,4 21,2 25,8 26,1 73,1 65,0 67,1 66,8 69,8 75,9 75,4 8,8 10,9 7,6 14,7 5,8 3,4 12,7 8,8 10,9 7,6 14,7 5,8 3,4 12,7 58,0 56,9 54,6 57,1 55,6 57,8 59,8 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 100,0 100,0 96,4 78,6 91,7 96,4 78,6 100,0 46,4 84,1 92,9 100,0 46,4 89,3 100,0 96,4 17,9 42,9 81,4 18,5 18,5 64,0 100,0 100,0 98,0 69,4 89,0 95,9 79,6 100,0 40,8 83,0 95,9 100,0 46,9 91,8 95,9 98,0 6,1 36,7 80,5 11,0 11,0 60,4 124 2006 Tabela 52 – Índice de Condições de Vida (ICV) das Famílias no Setor Sucroalcooleiro Famílias do Setor Sucroalcooleiro Índices Parciais e ICV 1995 1996 1997 1998 1999 Mat Telha Ban Prop INDDOM Aguac Colix Enel Colesg INDSERV Tel Fog Fil Rad TV Gel Fre Maq INDBENS Renfamp (1) INDRENDA ICV 93,8 99,6 77,4 58,4 78,1 52,5 41,6 88,3 11,7 54,3 0,0 92,6 40,5 82,9 31,5 45,1 4,3 5,8 40,1 5,1 5,1 42,1 86,6 98,6 82,2 61,3 78,7 60,3 42,8 90,4 16,4 58,3 0,0 92,1 41,4 83,9 44,5 53,8 4,8 4,8 43,6 4,4 4,4 43,5 93,7 98,9 76,4 58,1 77,6 59,9 45,4 88,0 18,3 58,3 0,0 94,0 34,9 82,7 52,8 54,2 4,2 5,6 44,6 5,8 5,8 43,9 94,9 100,0 83,4 60,5 80,8 66,4 54,2 92,9 24,1 64,4 0,0 93,7 33,2 82,6 58,5 61,7 5,9 8,7 46,8 2,4 2,4 45,4 95,4 98,8 78,8 65,1 81,0 67,6 57,7 94,6 19,9 65,1 0,0 97,1 39,4 90,9 65,6 63,1 8,3 11,6 50,6 6,3 6,3 47,5 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 91,0 89,7 88,1 89,2 89,6 88,0 92,1 99,7 99,6 98,4 99,7 99,7 98,7 98,9 71,4 67,1 72,6 68,2 75,7 75,7 78,9 61,9 59,7 59,4 64,5 67,2 70,9 57,9 77,0 74,7 75,6 76,6 79,7 80,5 77,9 59,9 44,0 54,2 51,2 58,0 63,1 61,8 49,9 37,0 35,2 41,4 47,9 47,6 51,4 93,7 94,2 95,2 95,7 97,0 98,1 98,9 15,3 14,8 11,9 11,1 14,2 20,4 21,1 60,3 53,8 56,0 56,2 60,4 63,4 64,1 23,2 20,2 22,9 22,2 37,0 50,5 49,6 93,2 86,4 83,9 86,7 89,1 87,1 95,7 27,8 20,6 23,5 23,5 15,7 20,7 19,6 82,6 77,4 79,4 80,9 77,2 79,9 85,0 61,9 58,0 56,5 60,5 62,1 80,9 84,3 64,3 56,4 63,2 58,6 59,8 68,6 72,5 6,0 5,3 5,5 4,6 5,6 5,5 4,6 12,5 7,0 6,8 7,7 6,8 7,4 5,7 51,4 46,2 47,6 48,0 50,1 57,4 60,0 2,7 4,6 4,1 2,1 2,6 1,4 3,1 2,7 4,6 4,1 2,1 2,6 1,4 3,1 44,3 41,9 42,7 42,5 44,8 46,5 47,0 Fonte: Elaboração da autora. PNAD, 2009 Nota (1): Rendimento familiar médio mensal padronizado pelo método dos valores máximos e mínimos 92,7 99,7 76,3 62,4 78,9 58,5 44,3 99,3 14,6 60,7 58,5 94,4 27,9 82,6 87,1 81,2 3,1 6,3 63,6 3,1 3,1 47,1 93,9 99,6 84,9 59,2 80,5 73,5 45,7 99,6 19,2 66,2 66,5 94,7 27,3 83,7 91,0 85,3 3,3 9,8 66,7 4,6 4,6 49,8 125 2006 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÃO E SUGESTÕES O aumento da produtividade no campo e na indústria tende a ser uma das poucas saídas viáveis para a sustentação do setor, já que as perspectivas de ampliação das áreas plantadas são muito limitadas. Os aumentos de produtividade, entretanto, têm uma relação direta com a adoção de novas tecnologias e, conseqüentemente, com a realização de investimentos. As informações obtidas, quer seja por meio da análise dos microdados da PNAD, da RAIS ou de qualquer outro dado das entidades ligadas ao setor, permitem concluir que nem todas as atividades podem ter um desenvolvimento por igual. Nem todas as empresas do setor puderam recorrer à modernização (SILVEIRA; SICSÚ, 2008). Jansen e Mafra (2008) mencionam que a fragilidade acentuada nas últimas décadas, do setor sucro-alcooleiro da Zona da Mata de Pernambuco, somente tem ganho evidência em momentos (cíclicos) de aguda inadimplência financeira. Geralmente, a reação dos trabalhadores rurais, em demonstrações públicas, contra a demissão em massa e a falta de pagamento de débitos trabalhistas, é o primeiro sinal visível ao grande público, desses momentos caracterizados como crises. A partir da safra 1990/1991, o Nordeste perdeu a exclusividade do mercado externo (exclusividade que camuflava a ineficiência para competir), no momento em que a demanda e os preços internacionais de açúcar se elevaram substancialmente - principalmente pela queda da participação de Cuba e o aumento de consumo da China. O estado de São Paulo, que até então contentava-se em abastecer o mercado interno, entra agressivamente no mercado internacional (baixando os preços, inclusive), saindo de 84 mil toneladas exportadas em 1990 para 1,6 milhões de toneladas em 1991 e, com a frustração da safra de Pernambuco em 94/95, alcança 2,5 milhões de toneladas de açúcar exportadas. Novas dificuldades surgem com a crise canavieira pernambucana na década de 1990, que agrega novas dificuldades e alcança maior dimensão. A crise deixa de ser temporal e aponta para um horizonte do fim de um modelo de exploração monocultural (JANSEN; MAFRA, 2007). Entre os usineiros e os fornecedores há uma certa perplexidade com a insensibilidade do governo federal. Eles acreditam que o governo federal possa, com a sua influência, conseguir saídas para a crise através de políticas governamentais compensatórias e de proteção ao 126 setor. No entanto, empresários mais modernos, principalmente os dirigentes de sindicatos e associações, possuem as respostas certas a essa crise e buscam alternativas que se adaptem aos "novos tempos". Balsadi (2006, apud SCHNEIDER, 2005, p. 18) enfatiza a relevância da pluriatividade para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Ele diz que ela “poderia ser o elo de ligação entre as políticas agrícolas (crédito, assistência técnica, sanitárias e de abastecimento) e as políticas de desenvolvimento rural, como: i) a agregação de valor via agroindustrialização, beneficiando e transformando a produção agrícola; ii) a geração de empregos não agrícolas; iii) a habitação rural; iv) o turismo rural, o artesanato; v) a preservação ambiental etc. Essa pluriatividade, como complemento à atividade já existente, poderia contribuir para se desconstruir a filosofia dualista e ideológica entre o agrícola e o rural e a agricultura familiar e o agronegócio, entre a produção para o mercado e para o auto-provimento dos agricultores, entre outros. Necessidade de diminuição da emissão de gases de efeito estufa, com a elevação da produção de biocombustíveis, o efeito da expansão da cana-de-açúcar em São Paulo e em todo o Centro-Sul, com a expansão também do emprego no setor revertendo a situação de queda e estagnação constatada entre 1995 e 2003, indicam uma aceleração da mecanização da colheita de cana-de-açúcar que, mesmo com a continuidade da expansão de sua produção e área cultivada, tende a resultar na diminuição do número de canavieiros empregados. A razão mais aparente da intensificação dessa mecanização é a necessidade de diminuição rápida das queimadas dos canaviais para que se reforce a imagem positiva do etanol em termos ambientais. Pode também estar diminuindo o número de trabalhadores disponíveis, em face ao aquecimento da economia e à geração de emprego em outros ramos econômicos. Mesmo que se espere que os trabalhadores dispensados pela cana-deaçúcar sejam absorvidos em outras atividades, seria recomendável a implantação de algumas ações públicas de caráter setorial, voltadas para o atendimento específico dos canavieiros. Entre elas, podemos incluir programas de requalificação profissional, dada a baixa especialização dessa categoria profissional. Também seria recomendável o fortalecimento das ações sociais e de apoio à agricultura familiar nas regiões de origem dos migrantes sazonais que se dirigem ao corte de cana-de-açúcar em decorrência da insuficiência de renda obtidas nessas regiões. A 127 proibição imediata da queimada da cana-de-açúcar em áreas a serem colhidas mecanicamente, além de benefícios ambientais, serviria para desativar colhedoras obsoletas e amenizar o desemprego que deverá ocorrer entre os canavieiros. Baccarin, Alves e Gomes (2008) concluem que não é aceitável que sob a ótica dos trabalhadores e da sociedade, continue havendo diversos casos de exaustão até a morte de trabalhadores. Esses fatos ocorrem em função do sistema de pagamento ao trabalhador por produção e a baixa remuneração que ofertada pelo corte da cana. “Ao contrário do que ocorre, poderia se efetivar um reajuste considerável no preço pago por tonelada cortada, bem como permitir que os canavieiros e seus representantes tenham maior controle sobre sua produção diária. Com isso, seria possível que se obtivesse o mesmo salário real com menor esforço físico, fato importante para a preservação da saúde e da capacidade de trabalho dos canavieiros” (BACCARIN,; ALVES; GOMES, 2008). Com a decisão dos empresários canavieiros de São Paulo e, talvez do Centro-Sul, de acelerarem a mecanização da colheita de cana-de-açúcar, a prática da queimada vai diminuir mais celeremente, o que não deixa de ser positivo em termos ambientais. Entretanto, ainda perdura importante passivo ambiental nas áreas canavieiras, especialmente no estado de São Paulo, com a manutenção de áreas de reserva florestal bem abaixo do que determina a Lei do Código Florestal. Sabe-se que também existe matriz energética relativamente pouco poluente, mas os desmatamentos e queimadas realizadas para o preparo e aproveitamento do solo, torna viável economicamente uma atividade mas totalmente devastadora para as questões ambientais. Estes procedimentos fazem com que o Brasil contribua negativa e expressivamente para a elevação da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. Os autores abaixo citados fazem uma discussão sobre a expansão da lavoura canavieira. Eles questionam se essa expansão, direta ou indireta, não “provocaria um aumento do desmatamento nas grandes reservas florestais, como a Amazônia e o Pantanal, bem como naquelas reservas que por lei devem existir nos imóveis rurais” (BACCARIN; GEBARA, 2008). Outro fato a ser debatido são os danos provocados pela prática da queimada da palha de cana-de-açúcar, que é realizada entre 70% e 80% da área dos canaviais, visando facilitar sua colheita, mas que provoca sérios danos ao meio 128 ambiente e à saúde humana, principalmente dos trabalhadores rurais (BACCARIN; GEBARA, 2008). Esses dois pontos, desmatamento e queimada, não envolvem apenas questões ambientais. Em outro viés, Baccarin (2009) argumenta que o aumento de seu controle pode resultar em menor expansão da área canavieira, ferindo interesses econômicos. Isso ocasionaria, consequentemente, um aumento do desemprego, especialmente dos trabalhadores dedicados ao corte da cana, com grandes repercussões sociais; no entanto, o diálogo para se chegar a um consenso sobre essas questões, pode levar a uma ampliação da discussão, para que sejam apontadas melhores alternativas, tanto para proteger o meio ambiente, como para evitar o desemprego rural e consequências sociais mais acentuadas. Segundo o Relatório Matriz Energética Nacional 203038 do Ministério de Minas e Energias “As diretrizes políticas de governo para os combustíveis oriundos da cana de açúcar deveriam dar prioridade ao encorajamento dessas pesquisas e explorar as perspectivas para se gerar energia elétrica excedente nas plantas de co-geração localizadas nas usinas sucroalcooleiras, além de procurar manter a vantagem competitiva do Brasil neste setor”. Por fim, no Estado de São Paulo está sendo desenvolvido um processo de hidrólise39 para produzir etanol do bagaço de cana que irá permitir um aumento de aproximadamente 30% da produção de álcool, utilizando 50% de folhas e pontas de cana. Com isto, não há a necessidade de aumento de área plantada e, por conseguinte, desmatamento, queima dos solos e produção de CO2. Os sub-produtos da cana e do álcool tais como o bagaço, as folhas e pontas da cana e o vinhoto, representam um excelente caminho para melhorar o desempenho das usinas sucroalcooleiras (BRESSAN, 2010). Quando se fala da PNAD é bem mais difícil se fazer uma análise comparativa para um setor específico e ainda mais em relação a alguma Unidade da Federação em especial. Analisando os dados para todo o território nacional, é possível se conseguir uma amostra mais confiável, em virtude do seu tamanho 38 www.mme.gov.br. Acesso em: 24/05/2011. Desdobramento da molécula de certos corpos orgânicos em presença de um excesso de água. www.dicio.com.br. Acesso em 24/05/2011. 39 129 também do grande número de dados, que possibilita a geração de informações, tanto quantitativas como qualitativas. Um estudo mais aprofundado, utilizando-se a renda dessas famílias pode ser feito, se em paralelo forem usadas outras fontes de dados. Muita contribuição para o setor sucroalcooleiro poderia surgir com novas buscas aos dados da PNAD, rico acervo do IBGE. Se os dados de renda das famílias observadas forem melhor explorados, esmiuçados e melhor analisados, individualmente e detalhadamente, ano a ano, muita informação do setor poderá ser obtida. Esta é uma proposta de estudo e excelente tema para futuros trabalhados e pesquisas. Vale um melhor diagnóstico desses domicílios, podendo ser investigados não só a renda dessas famílias, mas também o acesso das mesmas à saúde e à educação, ao longo do tempo. 130 Tabela 53 – Índices de Condições de Vida (ICV) de todas as atividades e Setor Sucroalcooleiro ICV'S DO SETOR SUCROALCOOLEIRO Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Cana/Rural/ Cana/Rural/T Permanente emp 30,6 36,2 32,0 28,7 36,7 34,1 38,6 36,4 31,5 42,4 38,6 43,7 43,3 51,0 35,5 39,0 36,1 34,7 38,1 36,6 35,0 40,1 40,0 38,3 47,9 47,9 47,8 52,6 Cana/Urb/Per Cana/Urb/Temp Açúcar/Rural Açúcar/Urb Álcool Setor Sucroalcooleiro 50,5 45,1 47,7 44,4 54,9 46,6 50,3 50,7 51,7 55,5 54,0 53,7 61,7 61,9 54,4 51,9 42,6 50,6 65,2 46,8 45,4 56,6 54,6 59,3 57,3 55,4 62,7 54,8 46,4 63,6 57,5 50,2 50,2 59,4 46,0 44,9 71,1 50,3 47,3 52,2 58,8 62,9 49,7 50,9 54,8 55,8 55,4 55,5 60,3 59,1 56,9 58,5 58,8 52,2 56,2 68,3 50,0 55,0 60,7 57,7 62,1 58,0 56,9 54,6 57,1 55,6 57,8 59,8 64,0 60,4 42,1 43,5 43,9 45,4 47,5 44,3 41,9 42,7 42,5 44,8 46,5 47,0 47,1 49,8 Fonte: Elaboração da autora. 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