Perspectivas com relação a Reforma Tributária no Brasil: Implicações para o Financiamento dos Municípios José Roberto R. Afonso Seminário Internacional sobre Tributação Imobiliária ESAF, Lincoln, IPT – 21/11/07, Salvador 1 Por que veículos pagam mais impostos que imóveis no Brasil? Impostos Comparados: IPVA x IPTU - % do PIB 0,52 0,47 IPVA IPTU 2 Diagnóstico tributário: distorções sérias Sistema tributário só é (extremamente) eficiente para arrecadar e cada vez mais, com uma carga tributária global e indireta crescente As distorções econômicas são antiguas e permanentes: onera investimentos produtivos e (indiretamente) exportações; sobrecarrega a folha salarial; provoca cumulatividade e gera uma profunda regressividade A questão federativa cada vez está mais desbalanceada: a guerra fiscal do ICMS/ISS distorce a concorrência econômica; a divisão vertical de receita tem sido lenta e continuamente alterada, com recentralização da arrecadação e maiores danos para estados; a distribuição horizontal de receita não segue qualquer padrão de necessidade ou equalização - governos semelhantes dispõe de orçamentos díspares Sistema que tributa até o crescimento! 3 Razão Tributos/PIB Crescente Carga Tributária - 1995/2007 36,56% 35,50% 34,95% 2007¹ 2006 2005 33,69% 32,82% 33,37% 32,33% 31,15% 2004 2003 2002 2001 2000 29,00% 1999 1998 1997 1996 1995 27,67% 27,41% 26,85% 26,93% ¹Estimativa com base na projeção de Amir Khair. 4 A Composição da Carga Tributária: 2006 Carga Tributária Total em 2006 = 35,5% do PIB Com. Exterior 1,2% Demais 14,4% Valor Adicionado Patrimônio 3,5% Bens e Renda 18,0% Serviços 43,7% (IPI + ICMS) 23,3% ISS 2,0% (PIS + Cofins + CPMF + IOF) Folha Salarial 19,1% 18,3% 5 Tributação muito regressiva Fonte: Zockun et alli, 2007, FIPE Disponível em: http://www.fipe.org.br/web/publicacoes/discussao/textos/texto_03_2007.pdf 6 Divisão federativa da receita tributária: municipalização no longo prazo Conceito Carga Central Estadual Local Total % PIB Composição - % do Total ARRECADAÇÃO DIRETA 1960 17,41 64,0 31,3 4,7 100,0 1980 24,52 74,7 21,6 3,7 100,0 1988 22,43 71,7 25,6 2,7 100,0 2006 35,50 68,3 26,0 5,7 100,0 RECEITA DISPONÍVEL 1960 17,41 59,5 34,1 6,4 100,0 1980 24,52 68,2 23,3 8,6 100,0 1988 22,43 60,1 26,6 13,3 100,0 2006 35,50 57,2 25,4 17,4 100,0 7 Divisão federativa da receita tributária: recentralização pós-CPMF/DRU EVOLUÇÃO DA RECEITA TRIBUTÁRIA POR NÍVEL DE GOVERNO (conceito contas nacionais) Conceito Carga % PIB RECEITA DISPONÍVEL 1988 22,43 1991 25,24 2006 35,50 Federal Estadual Local Composição - % do Total 60,1 54,7 57,2 26,6 29,6 25,4 13,3 15,7 17,4 Total 100,0 100,0 100,0 2006/88 13,07 -2,9 -1,2 4,1 - 2006/91 10,26 2,5 -4,2 1,7 - Conceito disponível = arrecadação própria mais/menos transferências constitucionais 8 Carga Tributária Municipal no Pós-Constituinte: participação na carga nacional Aumento da participação municipal na CTG – da ordem de 3%. Particiação Municipal na Carga Tributária Global (Administração Direta) 6% 5% 4% 3% 20 06 20 04 20 02 20 00 19 98 19 96 19 94 19 92 19 90 19 88 2% 9 Carga Tributária Municipal no Pós-Constituinte: participação do ISS e IPTU na carga local Particiação do ISS e do IPTU na Carga Tributária Municipal ISS/ Carga Municipal 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 55% 50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% IPTU / Carga Municipal 10 Carga Tributária Municipal no Pós-Constituinte: evolução do ISS 0,80% 2,10% 0,70% 1,90% 1,70% 1,50% 0,50% 1,30% 0,40% 1,10% 0,30% 0,90% 0,20% 0,70% 0,10% 0,50% 19 70 19 72 19 74 19 76 19 78 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 % do PIB 0,60% % da Carga Tributária Global Arrecadação do ISS em % do PIB e % da C arga Tributária Global 1970/2006 Anos % do PIB % da Carga Tributária Global 11 Contribuições federais avançaram sobre base do ISS ISS/(Cofins + PIS + CSLL) 24,4% 11,8% 1988 2000 12,0% Participação da Base do ISS na Arrecadação de Alguns Impostos Federais - 2006 2006 22% 26% C o fins +P IS / P A S EP IR P J+C S LL Atividades Taxadas pelo ISS 35% IR T rabalho 26% T o ta l Atividades não Taxadas pelo ISS 12 Reforma Tributária: Por que tantos fracassos? Estratégia das discussões e projetos de reforma tributária desde anos 90: focalização - maior ênfase no ICMS estadual; ajustes graduais e longo; evita debate federativo Fracasso e frustrações: projetos reduzidos e aprovados só o que aumenta a carga tributária Nova proposta do Ministério da Fazenda amplia enfoque: IVA para fusão de impostos indiretos FPE/FPM com base abrangente 13 Reforma Tributária: oportunidade ímpar DEBATE NACIONAL – cada vez se discute mais tamanho e qualidade do gasto, pré-condição para revisão da carga TRANSPARÊNCIA – crescente demanda social por explicitar contas públicas; mudança radical quando explícito o tamanho dos tributos em cada compra (já em contas de luz e telefone) GESTÃO DAS RECEITAS avança mais que arcabouço legal: cobrança generalizada e crescente em governos menores contribuições federais com base legal e de informação em âmbito nacional e bases mais amplas que ICMS projeto do SuperSimples induz criação do cadastro único e integração dos sistemas de informação e até fiscalização e-fisco - modernização em avançado estágio internacional; próxima geração – nota eletrônica 14 Reforma no Senado: proposta de processo em 3 etapas 1a etapa (preliminar): aperfeiçoa 2a etapa (básica): redesenha altera e aperfeiçoa sistema vigente, dentro da atual estrutura institucional, mas com medidas consistentes com uma mudança geral define um novo sistema tributário, a partir de ampla revisão da Constituição e legislação complementar 3a etapa (conclusiva): implanta transição e implantação gradual dos novos instrumentos, com eventuais medidas compensatórias 15 Pauta Preparatória Esfera administrativa: Conselho Tributário Nacional (coordenar/harmoniz ar) NF eletrônica Esfera legislativa: (universalizar) Cadastro Único (PJ, PF e imóveis) Consolidação das Leis (decretos) CPMF e DRU (se possível, coerente com reforma) Transparência (explicitar indiretos com preços) Custo Brasil (desoneração exportações e investimentos) Código Tributário Nacional (consolidar leis complementares) 16 Reforma legislativa profunda Emenda à Constituição: Consolida toda matéria tributária num único capítulo inclusive contribuições e outras formas compulsórias Enxuga ao máximo o texto constitucional disposições transitórias até CTN ou assegura longo prazo fortacele e unifica lei complementar: só CTN, até transferências Impostos e taxas: 3 esferas converter todas contribuições em impostos/taxas arrecadação global baliza repartição intergovernamental Código Tributário Nacional (CTN): debate simultâneo à PEC da minuta de Código 17 Redução de Tributos 9Imposto Amplo sobre Renda (IR): Federal: fusão IR, CSLL, PIN/PROTERRA, loterias Imposto mínimo via transação financeira ou ativo Estadual: adicional IRPF: só fixa alíquota e não legisla 9Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) Federativo: fusão IPI, COFINS, PIS, CIDE, FUST, FISTEL + + ICMS + ISS + ? Sal.Educação/SistemaS + ? CPMF Impostos sobre Propriedade Municipal: fusão ITR+IPTU e ITCMD+ITBI 18 Alternativas para tributação do patrimônio Tendências internacionais: voltar a explorar mais competências menos limitadas pela globalização Tributação da terra: inevitável fundir ITR ao IPTU (nenhum convênio após EC/2003) ou mesmo estadualizar imposto (cruzar com ICMS) Tributação do patrimônio: aplicada em alguns países ricos e emergentes, geralmente como IRPJ mínimo Tributação da movimentação financeira: inevitável redução de alíquota e, se mantido, como imposto mínimo/fiscalizatório 19 Algumas questões chaves: patrimônio Municipalização dos impostos patrimoniais: IHD > ITBI: dúvida apenas na tributação de herança em bens móveis – lei arbitrar local da cobrança ITR > IPTU: prever transferência do cadastro federal Cadastro único de imóveis: implantação gradual e integração com declaração de bens do IR Eficiência: premiar município que melhor explora potencial tributária via critérios do novo fundo de equalização (relação entre IPTU x IPVA) 20 Alternativas para Tributação Indireta substituir tributos indiretos por IVA nacional; desoneração completa de exportações, bens de capital e uso e consumo; mínimo de regimes especiais (micro) partilhado pela União, Estados e talvez municípios; vários modelos, mas o compartilhamento de alíquotas permite conciliar harmonização com relativa autonomia e responsabilidade: duas alíquotas, uma estadual e outra federal; município poderia taxar varejo (ou cobrar um IVV); parcela estadual não atravessa fronteiras estaduais, mas a federal sim; jogo débito e crédito transporta receita; alíquotas nacionais, com banda estadual 21 Algumas questões chaves: IVA Compartilhamento duplo (ou mesmo tríplice): legislação nacional e única = CTN (lei complementar) alíquotas iguais por bem em todo território; pares de alíquota federal e estadual; 3 a 6 categorias diferenciadas, por essencialidade Autonomia federativa: concentrada no processo de definição do tamanho da arrecadação própria alíquota local fixada sem iniciativa ou veto federal informações compartilhadas mas fiscalização própria faculdade para estado aplicar banda sobre o conjunto de alíquotas estaduais (elevar ou reduzir todas juntas) 22 IVA com ISS argumentação pró-fusão Resolveria os problemas associados ao ISS Permitiria que o IVA-E tivesse uma base completamente harmonizada com o IVA-F (legislação uniforme) Possibilidade de alcançar uma base pouco explorada pelos municípios Perda de parte da competência tributária dos municípios (mais relevante para os médios e grandes) Exigiria critérios de recomposição das receitas municipais 23 Estrutura do ISS conforme demanda por serviços – Capitais, 2006 Arrecadação do ISS Desagregada por Componente de Demanda 2006 66% 60% 53%53% 47%47% 40% 37% 40% 34% 33% 24% 8% Consumo Intermediário Cons. Final Famílias São Paulo 9% 5% FBKF Rio de Janeiro 6% 1% 1% 1% 1% Exportações Porto Alegre Demanda Final Belo Horizonte 24 IVA sem ISS argumentação pró-imposto competência do ISS preservada reformar ISS e vetar compensação via transferências autonomia local e crescente produtividade; fusão rejeitada na Constituinte; baixa cumulatividade (comparado CPMF); serviços já incluídos na base COFINS, sobretaxados por ela e CSLL e sem demanda do ICMS; sem espaço largo para re-carga modernizar imposto – isentar serviços para exportações (portos) ou investimentos (montagem industrial, P&D); permitir dedução de serviços já tributados (construção) consenso - rejeitar reforma que substitua ISS por mais transferências 25 IVA - alternativas para substituir arrecadação ISS IVVC (só combustíveis) IVV (vendas à varejo) compartilhar também cobrança do IVA Dual SuperSimples (microempresas) IVV mais energia/comunicações residenciais, e serviços típicos de consumo final ou selecionados IVA (alíquota própria ou adicional) como imposto estadual dos EUA ICL (consumo local) Constituição 1988 e suprimido 1993 (PEC IPMF) assumir cobrança, fiscalização e manter receita plena Impostos Patrimoniais transferir competências do ITR, ITCMD e/ou IPVA 26 Algumas questões chaves: Repartição de Receitas Nova sistemática de transferência entre governos: base: toda arrecadação tributária, excluída apenas contribuição previdenciária (como DRU); nenhuma transferência de tributo específico; nova sistemática: apenas dois fundos… equalização: receita federal para estados e municípios partilha: receita estadual para dividir parte da receita critérios de rateio definidos nacionalmente: CTN fundo equalizador pondera receita potencial (e pune ineficientes) e pode ser variável fecho regional 27 Algumas questões transitórias Receita disponível estadual e municipal: certo que pedirão garantias de que não sofreram perdas com mudanças na tributação e nas transferências governo federal: também é certo que arcará com custo Seguro-Receita da Lei Kandir: retomar e repensar formulação e experiência IVA Desonerado e no Destino: ainda sem cálculo efetivo das perdas esperadas com devolução de saldos credores e da mudança para destino rolagem da dívida: deduções no pagamento mensal pode ser alternativa para compensação Guerra Fiscal: defesa da manutenção dos benefícios concedidos exigirá limites temporal e abrangência e definição de fundo e financiador (demais Estados x União) 28 Processo proposto de reforma Reforma é um processo: não se esgota em uma emenda constitucional Não aumente a carga, nem mude a divisão federativa da receita mas também não se limite ao ajuste fiscal e apenas da União Objetivo da reforma é remover obstáculos que impedem uma retomada sustentada e vigorosa do crescimento econômico É preciso apreciar medidas eficazes para aperfeiçoar a forma de se cobrar impostos e preparar terreno para uma mudança estrutural, a ser discutida e definida já, ainda que para vigorar no médio e longo prazo 29 Reforma versus Novo Sistema Não precisamos de uma reforma, mas sim de uma revolução. Adotar um novo sistema tributário, simples e eficiente, eliminando tributos, consolidando contribuições com impostos, criando um cadastro único 30 José Roberto Afonso [email protected] www.joserobertoafonso.ecn.br Beatriz Meirelles e Kleber Castro auxiliaram na elaboração da apresentação. Opiniões de exclusiva responsabilidade do autor e não das instituições a que está vinculado. 31