_>>> Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 26/9/2011 (20:5) - Página 10- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto F10 | Valor | Segunda-feira, 26 de setembro de 2011 Especial | Mineração CAROL CARQUEJEIRO/ VALOR Trabalho Saúde e proteção são objeto de programas especiais Tolerância zero com o desrespeito à segurança Walter De Simoni, da Anglo: “Não admitimos que haja qualquer tipo de acidente. Queremos que o trabalhador venha para o trabalho e volte seguro para casa” Gleise de Castro Para o Valor, de São Paulo A mina de níquel Barro Alto, em Goiás, da Anglo American, ficou em primeiro lugar no ranking de segurança do anuário “As 200 Maiores Minas Brasileiras”, de 2010, da revista “Minérios & Minerales”. Foram 60 minas classificadas pelo número total de homens-horas trabalhadas sem acidentes com afastamento do trabalho. A Bocaina, em Minas Gerais, da CSN, conquistou o segundo lugar e o terceiro posto ficou com as três minas do complexo da Mineração Rio do Norte, no Pará. Os resultados alcançados pelas primeiras colocadas são fruto da adoção de programas de segurança abrangentes e de longo prazo. A edição deste ano vai circular em novembro. “Para nós, o principal valor é a segurança. Não admitimos que haja qualquer tipo de acidente. Queremos que o trabalhador ve- nha para o trabalho e volte seguro para casa”, diz Walter De Simoni, presidente da unidade níquel da Anglo American. O programa da empresa parte de três princípios básicos: zero lesão, baseado na crença de que doenças ocupacionais podem ser evitadas; padrões bem simples, para serem entendidos pelo chão de fábrica, e não negociáveis; e não repetição de problemas. Se eles se repetirem, a empresa considera sua obrigação descobrir a causa e discutir exaustivamente com os funcionários para que não ocorram de novo. “Não negociamos nenhuma regra. Elas tem de ser obedecidas”, diz De Simoni. Outra medida é não aceitar uma produção que não seja segura. Ou seja, fazer algo urgente a qualquer custo para não comprometer a produção está descartado. É preferível ter uma produção menor, porém mais segura, argumenta o executivo. A política mais recente adotada pela empresa é o gerenciamento de risco. O objetivo é aumentar a percepção dele por parte dos funcionários. “Acontece de a pessoa se acostumar com a atividade e acabar não percebendo o risco”, explica De Simoni. Por isso, todos os dias, antes do início de qualquer atividade, os trabalhadores avaliam os riscos, com acompanhamento da supervisão. Se houver perigo, ele é encaminhado para o grupo de trabalho da área, antes de começar o dia de atividade. Em agosto deste ano, a metodologia de gerenciamento de risco da companhia foi premiada em três categorias do Prêmio Proteção Brasil 2011, da revista Proteção. A operação de Barro Alto, que teve início em agosto do ano passado, é integrada com metalurgia, atividade que apresenta o mesmo grau de risco da mineração, nível 4, o mais elevado na Classificação Nacional de Atividades Econômicas. A implantação do projeto não teve nenhum acidente com afastamento. A obra chegou a atingir 7,5 mil empregados. Foram mais de 26 mil trabalhadores que passaram pelo projeto e alcançaram mais de 37 milhões de homens-hora trabalhadas sem acidentes com afastamento. Hoje, trabalham na mina e na metalurgia 780 funcionários. Nos cinco primeiros anos, a produção vai atingir o ponto máximo, de 41 mil toneladas de níquel contido em ferro-níquel por ano. Nos 30 anos seguintes, a produção média será de 36 mil toneladas anuais. A Mineração Rio do Norte, com as minas de bauxita Aviso, Almeidas e Saracá, do complexo Porto Trombetas, no Pará, atribui o resultado alcançado no ranking das minas mais seguras a melhorias em seu sistema de gestão integrado de saúde, segurança e meio ambiente e à introdução de novas ferramentas de segurança. Entre elas, a manutenção da certificação pelas normas OHSAS- 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) e ISO14001, referente a riscos ambientais, e consolidação do programa Medicina do Sono e Fadiga. Criado em 2008, esse programa tem o objetivo de monitorar e intervir na fadiga e cansaço da rotina de trabalho do empregado e avaliar como ele está dormindo, para que tenha um sono reparador e de qualidade. Poucas horas e má qualidade de sono aumentam a possibilidade de erros e são reconhecidamente fator de aumento do risco e da gravidade de acidentes. No ambiente de trabalho, o funcionário é incentivado a se manter acordado nos intervalos das atividades, com a quantidade de luz necessária para isso e alimentação adequada a seu trabalho e a seu horário de atividade, tanto na empresa como em casa. São 1.200 empregados diretos em toda a empresa e 2.500 terceirizados. A empresa também mantém uma vila residencial no complexo, instalado no meio da floresta, com toda a infraestrutura necessária aos funcionários e suas famílias. Em 2010, sua produção atingiu 17 milhões de toneladas de bauxita, um aumento de 9% em relação a 2009. Em 2010, a empresa registrou nove acidentes com afastamento e 13 sem afastamento. Mas, para José Haroldo Chaves Paula, gerente do departamento de segurança no trabalho da Mineração Rio do Norte, o dado mais importante é a taxa de frequência de acidentes, que considera o número de acidentes ou acidentados, com ou sem lesão, por milhão de horas-homem de exposição ao risco em determinado período. No ano passado, ela foi de 3,11, baixa para padrões mundiais e que foi reduzida em 2011: até agosto, o acumulado foi de 1,23, o melhor indicador da empresa em 32 anos de operação. O último dos seis acidentes deste ano ocorreu em abril. Melhorias com a vigilância do governo e dos sindicatos De São Paulo A atividade de mineração é uma das mais arriscadas do mundo. Envolve explosões, grandes maquinários, presença de gases tóxicos e inflamáveis e é executada embaixo da terra. Para evitar acidentes e episódios dramáticos como o do Chile no ano passado, a mineração é normatizada e requer atenção redobrada em todos os países. Enquanto a Organização Internacional do Trabalho (OIT) se dedica ao aperfeiçoamento das normas de segurança, a fiscalização do cumprimento dessas normas é prioridade da área governamental que cuida do trabalho. No Brasil, Ministério do Trabalho e Ministério da Previdência acompanham e fiscalizam a atividade. . No acompanhamento feito pela Previdência de doenças de trabalhadores, a indústria de mineração fica um pouco acima da média em relação a segurança e saúde dos funcionários. Por meio de um sistema de aumento e diminuição das alíquotas do imposto Risco Ambiental do Trabalho (RAT), que todas as empresas tem de pagar, calculado sobre a folha de salários, a Previdência premia ou pune as empresas, conforme apresentem níveis de adoecimento no trabalho acima ou abaixo da média de seu setor. As variações são de 1% a 3%. As informações referentes a cada empresa são sigilosos por lei tanto para a Previdência como para a Receita Federal. Mas os dados por setor podem ser divulgados. “A situação um pouco melhor do que a média significa que há constante pressão sindical, constante vigilância do Ministério do Trabalho e que o setor de mineração tende a observar estritamente as normas regulamentadoras”, diz Remígio Todeschini, diretor do departamento de políticas de saúde e segurança ocupacional do Ministério da Previdência. Essas normas seguem o padrão internacional das convenções e recomendações da OIT sobre o assunto. São três normas. A NR-21 trata do trabalho de mineração a céu aberto, dos cuidados constantes com explosões a dinamite, atividade com grandes tratores e equipamentos, entre outros. Já a NR-22 é a principal norma. Estabelece regras para a mineração em geral, como cuidados sobre circulação e trans- ALINE MASSUCA/VALOR porte de pessoas, transporte de materiais extraídos debaixo da terra, além de cuidados com cabos, polias e outros equipamentos, escoramento e revestimento das minas para evitar acidentes com deslizamentos. Determina que as instalações elétricas sejam à prova de explosão, que haja ventilação nas minas, proteção contra incêndio ou explosões acidentais, sistema de drenagem para a água da chuva, saídas alternativas de emergência e treinamento dos trabalhadores. A NR-33 é complementar e trata de trabalho confinado. Juarez Silva Ferreira, membro do grupo estratégico de segurança e saúde no trabalho do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e gerente de segurança da Vale, reconhece que a mineração registra e blocos desestabilizados pela detonação. Hoje, a maior parte do trabalho nessas minas foi mecanizado. “Isso não quer dizer que não ocorram mais acidentes. Eles ocorrem, mas em escala menor. As empresas adotam uma gestão sistêmica de segurança e saúde em substituição a reações pontuais.” Para estimular as pequenas e médias mineradoras a adotar uma política mais abrangente de segurança, o Ibram criou o programa Mineração. O objetivo é padronizar os programas de gestão de segurança em todo o país. Saúde e segurança devem se tornar valores fundamentais para a prosperidade de uma mineradora que pretenda operar com princípios e normas de responsabilidade social e preceitos de sustentabilidade. (G.C.) Mineradoras atuam no exterior e diversificam produtos e receitas Roberto Rockmann Para o Valor, de São Paulo Murilo Ferreira, da Vale: reservas na Guiné consolidam posição como maior fornecedora mundial de minério de ferro muitas ocorrências no mundo, mas diz que houve evolução significativa. No Brasil, segundo ele, houve mudanças na última década. As grandes empresas, até por força de sua internacionalização, aumentaram investimentos em segurança. “Prioridade tem início, meio e fim. Valor é para a vida toda, com investimentos constantes.” Ele faz uma ressalva: é preciso separar mineradoras de mineração. Isso quer dizer que o setor convive com grandes empresas, que adotam projetos de segurança, e também com muitos garimpos e pedreiras, com sistemas precários e que podem acabar puxando para baixo a média do setor. Entre os avanços, ele cita a evolução das minas subterrâneas, que causavam mortes por queda de rochas Mineradoras brasileiras têm investido também em projetos no exterior, uma forma de ampliar o portfólio de produtos e diversificar a origem de sua matéria-prima. Maior produtora de minério de ferro do mundo, a Vale é o maior exemplo dessa estratégia. No segundo semestre de 2006, a empresa anunciou a maior aquisição de uma companhia brasileira no exterior, ao fechar a compra da canadense Inco em uma transação que, segundo estimativas de analistas, movimentou mais de US$ 10 bilhões. Com a aquisição, a Vale, hoje sob o comando de Murilo Ferreira, se tornou a segunda maior mineradora do mundo e diversificou sua receita, com o níquel ganhando mais espaço em seu balanço. Em 2010, um novo passo no exterior, ao investir em concessões de minério de ferro na Guiné, na África, na província mineral de Simandou, que assim como Carajás (PA) também possui reservas com alta qualidade e alto teor de ferro. Esse tipo de metal, além de ter um custo operacional mais baixo, é negociado com um prêmio no mercado. Para a Vale, as reservas na Guiné consolidam sua posição como maior fornecedora mundial de minério de ferro com alto teor no médio e longo prazos. A empresa irá investir em tecnologias inovadoras na África, que deverá ser o maior projeto de minério de ferro integrado com infraestrutura desenvolvido naquele continente. O projeto, no qual se irá utilizar muito da tecnologia desenvolvida no Brasil e que será replicada nos trópicos africanos, inclui a melhoria da ferrovia Trans-Guinea. Os investimentos da Vale no exterior contemplam ainda o segmento de fertilizantes, no qual a empresa ambiciona se tornar uma das líderes mundiais em nutrientes como fosfato e potássio – duas matérias-primas em que o Brasil, um grande produtor agrícola, é um dos maiores importadores do mundo. Um grande projeto analisado é Rio Colorado, na Argentina, mais especificamente na província de Mendoza. O projeto engloba o desenvolvimento de uma mina com capacidade nominal de 2,4 milhões de toneladas de potássio, com potencial de expansão para 4,3 milhões de toneladas anuais. A MMX, braço de mineração do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, além de desenvolver projetos nas regiões Sudeste e CentroOeste do Brasil, gerencia um investimento no Chile, com direitos pa- ra extração de ferro na região do deserto de Atacama. No país sulamericano, a MMX tem avançado com a campanha de sondagem para avaliação dos recursos minerais existentes nas áreas adquiridas e nas opções de compra. Nos últimos dois anos, foram realizados 50.970 metros de sondagem, e, de acordo com os estudos da própria companhia, estima-se um potencial de minério de ferro de cerca de 460 milhões de toneladas, segundo documento divulgado em agosto pela empresa. Em relação ao relatório divulgado em março, houve crescimento de 59% do volume total de recursos. Por conta do alto preço de energia, principal custo de produção, produtores de alumínio têm mirado o exterior, analisando investimentos em outros países da América Latina, como o Paraguai, onde o preço da energia chega a ser 60% mais baixo que o brasileiro, segundo analistas. Desde 1985, o país não assiste à construção de uma fábrica de alumínio primário. O problema está no preço da energia, principal custo, para converter alumina (produto obtido do minério de bauxita) em alumínio. Sem estímulo para converter a alumina em alumínio, o Brasil pode se converter apenas em grande exportador de produto básico.