FENÔMENOS PSICOLÓGICOS NO CONTEXTO DA SALA DE AULA: a influência da mediação do professor para o desenvolvimento cognitivo. C- Educação Infantil e Contemporaneidade. Ana Josefina Tellechea1 Resumo Constam neste artigo reflexões teórico-conceituais a respeito das práticas educativas que tem se resumido ao alcance de resultados previamente definidos, desconsiderando o sujeito aprendente como um ser social inserido em uma conjuntura permeada por fenômenos culturais e psicológicos, sendo estes elementos preponderantes no processo de ensino e aprendizagem. O objetivo é levantar reflexões e debates a cerca do desenvolvimento cognitivo e discorrer a respeito da necessidade de significação dos conteúdos, que é de fundamental importância para que o professor busque compreender as relações sociais como imprescindíveis ao processo de interiorização cultural. Os aspectos abordados demonstram que ser professor de ensino fundamental não pode e não deve se resumir ao simples ato de planejar e aplicar. É mister que o mesmo ultrapasse os limites do operacional e reconstrua suas práticas tomando como base a importância do processo de interiorização e reconstrução pessoal dos alunos e dele mesmo. Palavras-chave: Educação. Psicologia. Mediação. Desenvolvimento. 1. Introdução Partindo da premissa de que um fenômeno psicológico é o processo resultante da interiorização dos fenômenos culturais (situações), no qual dá-se significado a determinado pensamento, influenciando diretamente no comportamento, ou seja, na exteriorização dos sentimentos, podemos concluir que tais fenômenos permeiam o contexto escolar de forma acentuada, principalmente no que se refere à educação infantil, uma vez que as crianças estão em um processo contínuo de transformação e desenvolvimento cognitivo. Para tanto, o professor de ensino fundamental deve buscar compreender os fundamentos da psicologia da educação que dão suporte à prática educativa de modo a não focar exclusivamente nos resultados, e sim no processo de aprendizagem como um todo, buscando refletir suas práticas de forma a reconstruir conceitos de ensino e aprendizagem, compreendendo-se como mediador ao mesmo tempo em que aprende. 1 Pedagoga/Universidade do Estado da Bahia - UNEB – Mestranda em Educação / Universidad del Salvador – USAL Email: [email protected] 2. Psicologia e educação caminham juntas A educação é um processo central de humanização, no qual a escola é “laboratório” para estudar a dimensão cultural humana do desenvolvimento (Vygotsky, 1996), sendo então a psicologia um instrumento de melhoria da condição humana por meio do aperfeiçoamento da educação. Segundo Cubero e Luque (2004), a escola é uma instituição cultural, na qual produzem-se aprendizagens. desta forma, o fenômeno psicológico é intrínseco às relações mantidas dentro do ambiente escolar. Desta forma, a análise do comportamento, realizada pelo professor de ensino fundamental, através das expressões psicológicas superiores é imprescindível no processo de ensino aprendizagem. Compreendendo os fenômenos psicológicos como decorrentes do processo de socialização do indivíduo, neste caso o aluno, a sala de aula é um meio propício às trocas culturais, que levarão o aprendente a internalizar, analisar e construir formas de pensar e de se comportar, onde ao mesmo tempo, estará sendo sujeito de sua aprendizagem desenvolvendo, pouco a pouco, a sua capacidade cognitiva. 3. O conceito de zona de desenvolvimento proximal de vygotsky e sua relação com o fenômeno psicológico no processo de ensino e aprendizagem Para explicar o “espaço” existente entre a capacidade cognitiva e o nível de desenvolvimento que o indivíduo já alcançou, Vygotsky traz o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Para Wertsch (1985), a ZDP é determinada pelo nível de desenvolvimento e pelas formas de ensino, ou seja, o fator determinante da ZDP tem origem tanto na etapa em que se encontra a cognição do aluno, quanto na forma como os conteúdos serão trabalhados, desde os recursos às metodologias utilizadas pelo mesmo. A maneira como o professor enxerga o contexto da sua sala de aula é imprescindível para que possa desenvolver um trabalho comprometido com as fases do desenvolvimento, de forma a transformar os conteúdos em desafios a serem ultrapassados por seus alunos. Para tanto, deve enxergar a aprendizagem como processo não estático, e que abrirá canais de evolução futuros. Para Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo dar-se-á pelo encorajamento dos processos de aprendizagem, uma vez que o aluno percebe que tal atividade o desafia, ele busca meios de driblar as dificuldades, o que faz com que crie uma certa autonomia, segundo ele, a aprendizagem escolar não necessariamente acompanhará o desenvolvimento cognitivo “como uma sombra segue o objeto que a projeta.” O professor deve observar que cada aluno tem um ritmo diferenciado de evolução, o que não o impede de apresentar a eles atividades que estão pouco acima do seu nível, uma vez que através destas atividades e da forma como relaciona-se com o professor e seus colegas a evolução ocorrerá de forma contínua, o que o levará ao amadurecimento, tanto comportamental, quanto de compreensão dos conteúdos trabalhados. 4. A influência da prática docente nas relações sociais e na interiorização das mesmas para a “reconstrução” pessoal. A participação do sujeito aprendente das atividades culturais permite que o mesmo interiorize os instrumentos necessários para atuar e pensar. Ou seja, a aprendizagem se dá através da relação estabelecida com as mais diferentes formas de pensar e agir, que resultarão em um novo ser, reconstruído a partir da pluralidade com a qual convive, todos os dias, na sala de aula. Segundo Newman, Griffin e Cole (1989) A interação da criança com todos é importante, não somente com os mais “especializados”. O professor deve orientar as trocas, interferindo quando julgar necessário. Segundo Rogoff (1990), a assistência direta recebida do professor resulta no amadurecimento da participação social da criança, sendo assim, cabe ao professor orientar o aluno na sua interação com o meio. Ele deve ter a capacidade de perceber quando o aluno apresenta uma expressão psicológica que o ajudará a se desenvolver ou que o impedirá de ir em frente. Para Bruner (1976) A sala de aula é uma comunidade, na qual o professor “orquestra” as atividades. Ele nos traz dois tipos de processos na participação guiada. Na primeira, ele diz que o adulto é o construtor de “pontes” para níveis mais complexos, através das atividades guiadas. Já no segundo, à medida que a criança passa a dominar atividades mais complexas, o controle é transferido à criança. Podemos analisar que neste processo de construção do conhecimento, o professor ao mesmo tempo em que busca promover o desenvolvimento a partir das atividades desenvolvidas, projeta em suas ações a interiorização dos fenômenos culturais do seu cotidiano. 5. Conclusão É de fundamental importância que o professor saiba identificar se o desenvolvimento cognitivo está ocorrendo, se o contexto da sala de aula é propício para tal desenvolvimento e qual o resultado da interiorização dos elementos culturais apresentados aos alunos, através da forma como os mesmos irão expressar a sua maturidade e consequente controle de suas atitudes perante as atividades que lhes são apresentadas. Compreendendo as ações educativas como centrais para o desenvolvimento cognitivo e para os processos de interiorização dos aspectos culturais humanos, podemos concluir que a mediação do professor é condição que virá a definir como o sujeito aprendente exteriorizará os fenômenos psicológicos, diante das situações cotidianas escolares ou não, uma vez que o mesmo é um dos agentes de tal desenvolvimento, em conjunto com o contexto e os demais indivíduos com quem se relaciona. Referências BRUNER, Jerome. (1976). Uma Nova Teoria de Aprendizagem. Rio De Janeiro: Bloch Editores S.A CUBERO, Rosario e LUQUE, Alfonso. Desenvolvimento, educação e educação escolar: a teoria sociocultural do desenvolvimento e da aprendizagem. In: COLL, César; MARCHESI, Álvaro e PALACIOS, Jesús (org.) Desenvolvimento psicológico e educação.2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. pp. 94-106. ROGOFF, K. Equilibrium Political Budget Cycles. American Economic Review, v. 80. p. 2136, 1990. WERTSCH, J. V.; DEL RÍO, P.; ALVAREZ, A. Estudos socioculturais da mente. Porto Alegre: Artmed, 1998. VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R. Estudos sobre a história do comportamento: o macaco, o primitivo e a criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.