Ponto Final É fundamental repensar a avicultura brasileira A José Flávio Neves Mohallem é engenheiro civil. Atua na avicultura desde 1992, quando ingressou na Granja Planalto. Atualmente é Presidente dessa mesma empresa e Diretor Presidente da Associação dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco) 82 Produção Animal | Avicultura 15 Ponto_Final_ed54.indd 82 Claro, se houve vendidos, houve compradores. Que deveriam estar em boa situação econômica. No entanto, ao se analisar as transações ocorridas percebe-se que os beneficiários foram, ou compradores externos, ou empresas de outro segmento trazendo dinheiro do BNDES, ou Fundos de Pensão gerando “funding” para a operação, ou operações de arrendamento, parcerias - modelos que não incluem aporte financeiro para aquisição. A conclusão é a de que nossa avicultura cresceu, evoluiu em tecnologia, em gestão, mas repassou todos estes ganhos para o consumidor ou para outros segmentos da cadeia. Não só isso, porém. Passamos a enfrentar sério problema de perda de competitividade a partir das mudanças ocorridas na área de energia, em especial a adoção do programa americano de etanol de milho. Isso gerou forte elevação nos patamares das “commodities” agrícolas, situação ainda mais agravada pela recente crise financeira. A grande consequência interna foi a mudança do mercado brasileiro de milho, que passou a exportar de forma mais intensa e estruturada, além de internacionalizar seus preços. Mas, para nós, o efeito tem sido um custo de produção maior até que o dos Estados Unidos. Como alimentar a população? Como manter o crescimento das exportações? O milho é apenas um dos exemplos da mudança na nossa planilha de custos. Pois há outros fatores contribuindo para o agravamento da situação. Por exemplo, além do “custo Brasil”, uma logística pior e mais cara que só faz agravar o balanço final. Isso para não falar da valorização da nossa moeda, que inibe as exportações e torna o mercado interno mais rentável – o que não representa solução, pois esse mercado é limitado, sem capacidade de absorver maiores volumes, mesmo com redução de preços. Repensar a avicultura brasileira é fundamental para que o setor não seja induzido a um caminho de degradação, concentração e internacionalização. Sem a devida análise dos problemas estruturais que enfrentamos, corremos o risco de perder tudo o que construímos nos últimos anos com muito afinco e dedicação. força do “agribusiness” brasileiro sempre me entusiasmou. No início dos anos 90, quando tive oportunidade de me envolver diretamente com o setor, muito se falava sobre o potencial brasileiro, em especial o das proteínas vegetais e animais. Participei de inúmeros estudos e apresentações onde se demonstravam as vantagens competitivas do Brasil nestas proteínas. Tínhamos, nas proteínas animais, o menor custo de produção; e em ambas, a maior capacidade de crescimento – possibilidade suportada por novas fronteiras agrícolas, disponibilidade de água, duas safras/ano, perspectiva de correção do atraso tecnológico, etc. Enfim, estávamos aptos a responder de pronto a uma forte demanda mundial por alimentos. Apontávamos, naquela época, as principais barreiras a serem superadas. Entre elas o chamado “Custo Brasil”, composto por diversos itens, como falta de infraestrutura de transportes e armazenagem, elevada carga tributária, elevado custo de capital, baixa oferta de crédito, complexidade das legislações, corrupção, etc. O decorrer do tempo só veio confirmar a consistência dessas análises. A agricultura brasileira se transformou, dando um salto tecnológico fantástico. Hoje está profissionalizada e emprega alta tecnologia e modernos modelos de gestão. Sabe planejar, controlar, gerenciar riscos. Ao elo seguinte, o das proteínas animais, também foi impresso um ritmo fortíssimo de crescimento e desenvolvimento. Falando em carne de frango, nos tornamos o maior exportador mundial e transformamos o mercado interno, que passou a consumir mais de 45 kg per capita, fazendo do alimento a proteína animal mais consumida pela população brasileira. Porém, paralelamente a toda essa evolução, novos questionamentos e ponderações surgem para a avicultura brasileira. Houve evolução, mas as empresas não ganharam em rentabilidade. Pelo contrário, se avaliarmos o número de empresas vendidas/absorvidas em função de perdas econômicas, fica claro que o setor não evoluiu economicamente. Q q @alltech 04/10/2011 10:49:45