O CUMPRIMENTO DE CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA PERSPECTIVA DA TERRITORIALIZAÇÃO E INTERSETORIALIDADE: UMA ANÁLISE DA GESTÃO PÚBLICA DE PARANAVAÍ, PR. Keila Pinna Valensuela1 RESUMO: O objeto de pesquisa em questão refere-se ao cumprimento das condicionalidades do Programa Bolsa Família no município de Paranavaí, estado do Paraná, considerando a abordagem do território e da intersetorialidade entre as políticas públicas envolvidas. Diante do exposto, partimos do seguinte problema: como o município de Paranavaí tem se organizado territorialmente para ofertar serviços em rede na Assistência Social, Saúde e Educação que facilitem o cumprimento das condicionalidades para as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família? Este projeto de pesquisa foi apresentado ao Colegiado de Serviço Social da UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná / Campus de Paranavaí, como um dos requisitos para a obtenção do Tempo Integral de Dedicação Exclusiva – TIDE. PALAVRAS-CHAVE: Programa Bolsa Família; Condicionalidades; Território; Intersetorialidade. INTRODUÇÃO Quando nos referimos a programas de transferência de renda muitos são os desafios apresentados pela realidade brasileira. São inúmeros os limites, seja de cunho estrutural, seja conjuntural, mas o debate central fica por conta das condicionalidades. As condicionalidades, segundo Senna et al (2007), aponta algumas controvérsias. Por um lado, reconhece-se que as mesmas têm potencial de pressionar a demanda sobre os serviços de educação e saúde, o que de certa forma, pode representar uma oportunidade ímpar para ampliar o acesso de um contingente importante da população aos circuitos de serviços sociais. Por outro lado, entretanto, não há definições de estratégias de implementação. Para se definir tais estratégias e ressignificar a questão das condicionalidades, é preciso, dentre outras coisas, fomentar a discussão sobre o entendimento do território por parte da gestão destas políticas públicas, a partir da “lógica da proximidade do cidadão” (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2012, p. 73). Ou seja, as ações, seja na Assistência 1 Assistente Social. CRESS 5556. Mestra em Serviço Social e Política Social pela UEL - Universidade Estadual de Londrina. Docente da UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná / Campus de Paranavaí. Email: [email protected] 1 Social, Saúde ou Educação, devem ser planejadas territorialmente, tendo em vista a superação de ações fragmentadas, o alcance da universalidade de cobertura, a possibilidade de planejar, monitorar e avaliar a rede de serviços. Neste sentido, a motivação para realizar esta pesquisa é a gestão de políticas públicas envolvidas. Como neste contexto a territorialização e a intersetorialidade se configuram como eixos estruturantes da Política Nacional da Assistência Social no âmbito do SUAS, o entendimento do território e a conexão entre as políticas sociais tornam-se imprescindível para a gestão pública. Associamos a esta preocupação os desafios dos programas de transferência de renda, sobretudo o Programa Bolsa Família, pensando nas condicionalidades e os limites impostos ao cumprimento das mesmas a partir da lógica territorial concebida pelas políticas sociais envolvidas - Assistência Social, Saúde e Educação – na perspectiva intersetorial. OBJETIVO GERAL: Analisar o cumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Família a partir da lógica territorial e da intersetorialidade entre Assistência Social, Saúde e Educação em Paranavaí/PR. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Caracterizar os serviços municipais nas áreas de Assistência Social, Saúde e Educação na perspectiva da intersetorialidade.; Comparar a gestão municipal das políticas públicas de Assistência Social, Saúde e Educação quanto ao reconhecimento da dimensão territorial na estruturação de ações direcionadas às famílias beneficiárias do PBF; Identificar a concepção de território para as políticas públicas de Assistência Social, Saúde e Educação, apontando as devidas semelhanças e distinções; Levantar os limites e possibilidades dos territórios vulneráveis de Paranavaí/PR no que tange ao cumprimento das condicionalidades das famílias beneficiárias do PBF. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: No que se refere a metodologia a ser adotada, a pesquisa será qualitativa. Contará com apoio de duas discentes do Curso de Serviço Social da UNESPAR, Campus de Paranavaí. De início, realizar-se-à a pesquisa bibliográfica referente a temática e, concomitantemente, a pesquisa documental das instâncias gestoras 2 municipais e federais acerca do PBF. Posteriormente, far-se-à pesquisa de campo através da realização de entrevistas semiestruturadas com gestores municipais das políticas públicas em questão, bem como dos operacionadores do Cadastro Único e, por fim, das famílias beneficiárias do PBF sobre a temática proposta nesta pesquisa que serão escolhidas aleatoriamente, a partir da definição de universo e amostra. Em seguida, utilizar-se-à técnicas de análise estatística, documental e de conteúdo no processo de tratamento dos dados a partir das diversas fontes da pesquisa. Diante do exposto, buscar-se-á, por meio da pesquisa combinar a singularidade do município estudado com as tendências históricas, na perspectiva da universalidade, reconstruindo as particularidades do objeto de análise com o real. RESULTADOS Para Lavinas (2004) apud Senna et al (2007), a principal polêmica em torno da condicionalidades do PBF aparece, por um lado, ao ser exigido o cumprimento de obrigatoriedades como condição para o exercício de um direito social, os próprios princípios de cidadania podem estar ameaçados. Mesmo significando “um alargamento expressivo na proteção social brasileira” (JACCOUD, 2008, p. 260) a política de transferência de renda, nos moldes do Programa Bolsa Família não se caracteriza um direito social no campo da seguridade social. Nesta perspectiva mistificada do “direito condicionado” de acesso a renda, temos que ter a preocupação de não recaímos no erro da responsabilização do indivíduo ao identificar o cumprimento das condicionalidades uma “obrigação” exclusiva do próprio beneficiário. Destaca-se, então, o complexo esforço de todos os sujeitos envolvidos, de forma a incorporar diferentes esferas de governo e da sociedade civil não só no cumprimento das condicionalidades, mas, sobretudo, no combate da pobreza e da desigualdade social no país. Sabemos que, neste contexto, a sobrecarga recaí quase que exclusivamente ao município, o elo sabidamente mais frágil da escala federativa. Partindo do pressuposto que os municípios brasileiros, para operacionalizarem o PBF com qualidade, necessitam desenvolver sua capacidade financeira, humana e gerencial a fim de ofertar os serviços relativos às condicionalidades, não se pode deixar de levantar a hipótese das famílias beneficiárias serem 3 punidas em razão da incapacidade dos próprios municípios, conforme destaca Senna et al (2007). Não se pode negar que o Brasil tem apresentado muitas fragilidades na oferta dos serviços de Assistência Social, Saúde e Educação, comprometendo o processo de implementação das condicionalidades do PBF. Neste contexto, a gestão municipal das condicionalidades configura a questão central desta discussão, considerando a lógica da intersetorialidade e da territorialização, para não cair no erro de transferir a responsabilidade às famílias beneficiadas. CONCLUSÕES A trajetória sócio-histórica dos programas de transferência condicionado de renda na América Latina, dentre eles o Brasil, é recente. Todavia, ações desta natureza, como o Programa Bolsa Família (PBF) é hoje um dos mais importantes nesta área e a meta do Governo Federal é contemplar cerca de 16 milhões de brasileiros, conforme dados do MDS (2014). Na perspectiva do governo federal, hoje o acompanhamento das condicionalidades do PBF nos municípios é uma das ações que mais requer atenção compartilhada dos sujeitos envolvidos na execução e na gestão da Política de Assistência Social nas três instâncias, bem como em outras áreas, na perspectiva da intersetorialidade. A intersetorialidade é um desafio considerando a história da Assistência Social marcada pela intervenção fragmentada do Estado na área social. Para tanto, o Estado passa a exigir ações pactuadas, o desenvolvimento de capacidades institucionais e o estabelecimento de diálogo políticos entre os diferentes setores responsáveis pela implantação e implementação das políticas sociais. Partindo desse pressuposto, torna-se necessário ainda a incorporação da abordagem territorial que implica no tratamento de espaço urbano como base para organização dos serviços de maneira mais próxima das necessidades dos usuários das políticas públicas. Reconhecemos a pluralidade no que tange as abordagens da territorialização o que consequentemente implica na organização das ações, serviços, programas e projetos nestas áreas. 4 Em síntese, destaca-se a importância da Assistência Social, Saúde e Educação dialogarem sobre território, superando distorções, preenchendo lacunas e aproximando conceitos, pensando na organização dos serviços que venham fortalecer a rede de atendimento às famílias contempladas pelo Programa Bolsa Família, proporcionando condições necessárias para que as mesmas possam cumprir as condicionalidades impostas pelo Governo Federal. Na perspectiva da totalidade, é preciso promover a conexão entre intersetorialidade e territorialidade, ambos eixos estruturantes do SUAS, para redimensionar as intervenções específicas, ampliando o padrão de qualidade e a efetividade das ações desenvolvidas pelas políticas públicas em questão. REFERÊNCIAS COUTO, Berenice Rojas; YAZBEK, Maria Carmelita; RAICHELIS, Raquel. A Política Nacional de Assistência Social e o Suas: apresentando e problematizando fundamentos e conceitos. In: COUTO, Berenice Rojas et al (Orgs.). O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: uma realidade em movimento. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2012. p. 54-87. JACCOUD, Luciana. Entre a pobreza e a cidadania: a política pública de assistência social no pós1988. In: 20 anos da Constituição Cidadã: avaliação e desafios da seguridade social. Brasília-DF: ANFIP, 2008. p. 255-265. MDS. Ministério de Desenvolvimento Social <www.mds.gov.br>. Acesso em: 13 mar. 2014. e Combate à Fome. Disponível em: SENNA, Mônica de Castro Maia et al. Programa Bolsa Família: nova institucionalidade no campo da política social brasileira? In: Revista Katálysys. v. 10. n. 1. Florianópolis: UFSC, jan/jun 2007. p. 8694. 5