Boletim Econômico – Edição nº 74 – junho de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira – Assessor econômico O Endividamento das famílias no Brasil 1 Situação atual e números O percentual de famílias com dívidas aumentou em janeiro de 2014 ante ao mês anterior. Na comparação com o mesmo período de 2013, também houve alta. Os indicadores de inadimplência apresentaram queda na comparação mensal, como também em relação a janeiro de 2013. Já o percentual de famílias que relataram não ter condições de pagar suas contas em atraso apresentou estabilidade em relação a dezembro e ligeira queda em relação ao mesmo período de 2013. 2 O percentual de famílias que relataram ter dívidas entre cheque prédatado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro alcançou 63,4% em janeiro de 2014, aumentando em relação aos 62,2% observados em dezembro de 2013, como também em relação aos 60,2% de janeiro de 2013. Apesar da alta do percentual de famílias endividadas, o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso recuou na comparação mensal, passando de 20,8% para 19,5% do total. Também houve queda do percentual de famílias inadimplentes em relação a janeiro de 2013, quando esse indicador alcançava 21,2% do total. O percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes apresentou estabilidade nas comparações mensal e anual, alcançando 6,5% em janeiro de 2014 e ligeira queda em relação aos 6,6% observados em janeiro de 2013. A alta do número de famílias endividadas, na comparação com o mês imediatamente anterior, foi observada em ambos os grupos de renda, tanto na comparação mensal quanto na comparação anual. Para as famílias que ganham até dez salários mínimos, o percentual de famílias com dívidas foi de 64,9% em janeiro de 2014, ante 63,9% em dezembro de 2013 e 61,5% em janeiro de 2013. Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, o percentual de famílias endividadas passou de 53,9%, em dezembro de 2013, para 55,6% em janeiro de 2014. Em janeiro de 2013 o percentual de famílias com dívidas nesse grupo de renda era de 54,2%. A queda do número de famílias com contas ou dívidas em atraso entre os meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014 se deveu ao comportamento observado em ambas as faixas de renda. Na comparação anual, também se observou queda para os dois grupos pesquisados. Na faixa de menor renda, o percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso passou de 22,9%, em dezembro de 2013, para 21,8% em janeiro de 2014. Em janeiro de 2013, 23,3% das famílias nessa faixa de renda haviam declarado ter contas em atraso. Já no grupo com renda superior a dez salários mínimos, o percentual de inadimplentes alcançou 9,5% em janeiro de 2014, ante 11,3% em dezembro de 2013 e 12,0% em janeiro de 2013. 3 A análise por faixa de renda do percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas em atraso mostrou comportamento distinto entre os grupos pesquisados. Na faixa de maior renda, o indicador alcançou 2,2% em janeiro de 2014, ante 2,6% em dezembro de 2013 e 2,5% em janeiro de 2013. Para o grupo com renda até dez salários mínimos, o percentual de famílias sem condições de quitar seus débitos aumentou de 7,6%, em dezembro de 2013, para 7,7% em janeiro de 2014. Em relação a janeiro de 2013, houve redução de 0,1 ponto percentual. A proporção das famílias que se declararam muito endividadas aumentou entre os meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014 – de 11,6% para 12,2% do total de famílias. Também houve alta em relação a janeiro de 2013, quando 12% tinham percepção de endividamento muito elevado. Ainda na comparação entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014, a parcela que declarou estar mais ou menos endividada passou de 20,7% para 24,6%, e a parcela pouco endividada passou de 27,5% para 26,7% do total dos endividados. Entre as famílias com contas ou dívidas em atraso, o tempo médio de atraso foi de 63,3 dias em janeiro de 2014 – abaixo dos 58,0 dias de janeiro de 2013. O tempo médio de comprometimento com dívidas entre as famílias endividadas foi de 6,8 meses, sendo que 4 26,0% estão comprometidas com dívidas até três meses, e 30,4%, por mais de um ano. Ainda entre as famílias endividadas, a parcela média da renda comprometida com dívidas aumentou na comparação anual, passando de 29,4% para 29,8%, e 19,8% delas afirmaram ter mais da metade de sua renda mensal comprometida com pagamento de dívidas. O cartão de crédito foi apontado como um dos principais tipos de dívida por 75,9% das famílias endividadas, seguido por carnês, para 16,0%, e, em terceiro, por financiamento de carro, para 13,4%. Para as famílias com renda até dez salários mínimos, cartão de crédito, por 77,3%, carnês, por 17,0%, e financiamento de carro, por 10,3%, são os principais tipos de dívida apontados. Já para famílias com renda acima de dez salários mínimos, os principais tipos de dívida apontados em janeiro de 2014 foram: cartão de crédito, para 70,5%, financiamento de carro, para 26,9%, e financiamento de casa, para 14,3%. 5 O percentual de famílias que declararam ter dívidas iniciou o ano de 2014 em alta. O nível de endividamento também seguiu apresentando alta na comparação anual. Acompanhando o aumento do número de famílias endividadas e a elevação no comprometimento médio de renda, houve alta na proporção de famílias que se declararam muito endividadas, tanto em relação ao mês anterior como em relação ao mesmo período do ano passado. A elevação do custo do crédito e a redução do ritmo de crescimento dos ganhos reais dos salários têm mantido o nível de endividamento das famílias em patamares elevados. Apesar da alta do endividamento, os indicadores de inadimplência diminuíram em janeiro. O efeito sazonal dos ganhos com o décimo terceiro salário continuou influenciando positivamente esse resultado. Houve, também, melhora na percepção das famílias em relação a sua capacidade de pagar seus débitos em atraso. Na comparação anual, a melhora no perfil de endividamento permitiu que os indicadores de inadimplência recuassem, apesar do maior nível de endividamento. 6 A Pesquisa Nacional Endividamento e Inadimplência Consumidor – PEIC de do A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) é apurada mensalmente pela CNC desde janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com cerca de 18 mil consumidores. Das informações coletadas, são apurados importantes indicadores: percentual de consumidores endividados, percentual de consumidores com contas em atraso, percentual de consumidores que não terão condições de pagar suas dívidas, tempo de endividamento e nível de comprometimento da renda. O aspecto mais importante da pesquisa é que, além de traçar um perfil do endividamento, permite o acompanhamento do nível de comprometimento do consumidor com dívidas e sua percepção em relação a sua capacidade de pagamento. Existem muitos indicadores nacionais de crédito e inadimplência, que, entretanto, dizem pouco sobre o endividamento do consumidor e nada em relação a sua percepção da capacidade de pagamento. Com o aumento da importância do crédito na economia brasileira, sobretudo o crédito ao consumidor, o acompanhamento desses indicadores é fundamental para analisar a capacidade de endividamento e de consumo futuro deste, levando-se em conta o comprometimento de sua renda com dívidas e sua percepção em 7 relação a sua capacidade de pagamento. Assim, a pesquisa representa, também, um importante indicador antecedente do consumo e do crédito. Os principais indicadores da Peic são: – percentual de consumidores que declaram ter dívidas na família nas modalidades: cheque prédatado, cartão de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro; – percentual de consumidores com contas ou dívidas em atraso na família; terá condições de pagar dívidas – percentual de famílias que não terão condições de pagar as contas ou dívidas em atraso no próximo mês e, portanto, permanecerão inadimplentes; – entre muito, mais ou menos e pouco endividados; – entre cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro, financiamento de casa e outras dívidas; – entre até 30 dias, de 30 a 90 dias e mais que 90 dias; e – entre até três meses, de três a seis meses, de seis meses a um ano e maior que um ano. 8