Formação Continuada de Professores: Reflexões e Perspectivas Profª Drª Adelma Barros-Mendes. Universidade Federal do Amapá Objetivos Intentamos nesta fala tratar de alguns temas que se realacionam: o professor e sua formação, os alunos, os saberes, e a Universidade em meio a tudo isso. Caminhos... Procuramos encaminhar a reflexão a partir de algumas questões que temos nos feito a partir da vivência com professores em formação continuada.Tais questões, ao se apresentarem, se abrem para outras, na medida em que naturalmente se imbricam: Por que os alunos estão saindo das escolas cada vez menos proficientes, sobretudo em leitura, escrita e cálculo matemático (SAEB/MEC, 2005/2006)? 2. Por que isso se repete já que: Há a formação de professores em pré-serviço responsabilidade das universidades e faculdades brasileiras; Há ainda uma política de formação de professores em serviço desde a década 70 (Collares, Moysés e Geraldi, 2003), reorganizada e institucionalizada (SEF/MEC,1999) nos últimos anos, além de um grande crescimento de pesquisas que tratam da formação de professores (cf.INEP, 2002)? 1. Os baixos níveis dos alunos da educação básica inquietam pais, desafiam educadores e pesquisadores porque não é recente, já passa mais de uma centena de anos.... Já em 1867 lacunas na educação eram verificadas, conforme Souza apud Batista (2000): Se a instrução primária fixada na Lei já era incompleta, muito mais incompleta é a que efetivamente se presta nas Escolas. A maior parte dos professores limita-se a ensinar muito imperfeitamente a ler e escrever, dão sobre o cálculo algumas regras puramente empíricas e, como os bons métodos de ensino são geralmente desconhecidos entre nós, gastam 4, 5 e mais anos a incutir no espírito de seus alunos essa instrução, mesmo imperfeita e incompleta como é [...] Depois de longos anos de estudos, sai um menino de nossas escolas sabendo apenas desenhar muito mal o seu nome e lendo com tanta dificuldade que evitará sempre, com o maior cuidado, um exercício que, em vez de prazer, só lhe traz fadiga e mortificação. (SOUZA, 1867 apud BATISTA, 2000). Na mesma direção.... Nos últimos anos cada vez mais a escola brasileira da educação básica e conseqüentemente os professores são colocados em “xeque”. A mídia impressa e televisiva tem atestado que no Brasil “a escola não tem conseguido abarcar o mínimo do que espera a sociedade: os jovens estão saindo da educação básica sem saber ler e escrever”. (cf.Veja. 2007). Nas avaliações nacionais e internacionais, a exemplo do Saeb, Pisa, Provinha Brasil, os índices são tão baixos, a serem considerados por alguns estudiosos inaceitáveis? Onde está o descompasso? Na formação inicial dos professores produzida nas Universidades? Seria incapacidade profissional dos educadores ? E a formação em serviço (continuada/permanente) qual tem sido seu papel nessa questão? Então...., se há ‘qualificação’, produção de pesquisas/ reflexões sobre a unidade em questão, onde está o problema? E o mais desafiador: onde está a solução? Sem a pretensão de respondê-las, encaminharemos para uma discussão conjunta, para que busquemos indícios (Ginsburg). Iniciando a reflexão na buscas de pistas OS SABERES E CURRICULOS NA FORMAÇÃO INCIAL Pouco se relacionam com o ensinar a ensinar, o foco é quase exclusivo nas teorias e filosofias pedagógicas, mesmo com os estágios e práticas de ensino... Ficam muitas lacunas no processo mesmo da didatização de saberes; de sua ressignificação para as mútiplas realidades que o professor irá se deparar. Os saberes na formação Continuada ... Geralmente não são considerados os conhecimentos prévios dos professores Os saberes não são recortados para que sejam pertinentes a uma dada realidade e grupo de professor; Não se considera que as mudanças sociais e históricas provocam alterações constantes nesses saberes e nas realidades. As condições sócio-históricas em que são realizadas as formações em serviço e as condições oferecidas aos professores para fazê-las: Tempo para a dedicação (sobra tempo para estudos?) O momento em que é oferecido ( finais de semana e férias) Jornada de trabalho dos profesores (quase sempre dupla) Nessa direção os trabalhos de formação contínua têm se processado muito mais por um caráter de descontinuidade; Marcados por interrupções constantes de projetos e suspensão de atividades em nome do calendário escolar e, mais recentemente, em nome dos 200 dias letivos. Exemplo. FC Laranjal do Jari –AP (com três interrupções) Outro exemplo foi a formação continuada de professores em serviço com formação em curso Normal de Ensino Médio. As turmas de Licenciatura por uma série de fatores ficaram em torno de 6 anos na Universidade para finalizar . Mas será que é uma realidade local? A formação ocorria nas férias (janeiro e julho), com carga horária diária de dez horas/ aula, de segunda a sábado. As disciplinas eram organizadas em torno 60 a 90 horas cada, portanto o tempo para leituras complementares e discussões era reduzido. As leituras possíveis se resumiam aos textos-base e as discussões se efetivavam apenas em torno dos mesmos. O tempo de uma semana para tratar de todos os objetos de ensino da língua (leitura, escrita, conhecimentos gramaticais e propor como didatizá-los) se tornava exíguo o que impossibilitava o desenvolvimento de uma formação aos professores na direção do desenvolvimento de uma autonomia.(Notas de Campo-2006) Um trabalho de formação em serviço em que não se consideram os professores profissionais como quaisquer outros com direitos trabalhistas; com garantia de gozo de férias ou de domingo de descanso que lhes são necessários, torna-se inegavelmente lacunar e pouco contribui para alterações na qualidade do ensino. Sabemos que tais questões extrapolam a área da educação, pois se apresentam muito mais ligadas a ordem administrativa, mas não é possível continuar a se fazer pseudo formação de professor em serviço em nome das “dificuldades” de diversas ordens (cf.BarrosMendes-2008). Significa que há uma grande necessidade de alterar as concepções e os modos de se fazer formação de professor em serviço, já que até então pouco se tem conseguido resultados. Dois fatores que, em nossa interpretação, são indícios fortes responsáveis pelas lacunas nos cursos de formação de professor em serviço, refletindo negativamente nos resultados dos alunos: um diz respeito a participação ativa dos professores na eleição/recorte dos conteúdos/saberes pertinentes a sua formação (considerando seus saberes prévios inclusive) e outro que se refere às condições em que são propostas e realizadas tais formações (em especial o momento-tempo para dedicar-se). No que tange às condições dadas ao professor em serviço talvez seja produtivo que as formações em serviço sejam feitas aproveitando-se de uma parcela da carga horária que os professores têm para planejamento. Assim, a título de exemplo, no estado Amapá, em que os professores que atuam no ensino Fundamental ocupam uma carga horária de serviço de 40 horas semanais, restariam para o professor das séries iniciais, 20 horas e, para o professor de 5ª. a 8ª, 15 horas semanais para dedicar-se à formações. Poder-se-á traçar o tempo da formação organizando o trabalho quinzenalmente. Com isso, a problemática que envolve os saberes/conteúdos a serem selecionados pode ser minimizada pela possibilidade de (re) organização, avaliação durante todo o processo do curso. Esse modo, também evitaria as “formações relâmpagos”, em que o professor faz as “famosas oficinas” em que se repassam “técnicas” e “dicas” ou “modelos” a serem seguidos ou em que ele participa de algumas palestras promovidas pelas Secretarias de Educação, no início de cada ano e, com isso, diz-se que os cursos de qualificação/ formação foram realizados. Positivamente há uma busca de re-configurar as práticas de formação, incluindo a organização de instituições formadoras e definição dos conteúdos, e principalmente, a definição de metodologias claras de formação dos professores no Brasil. Nessa direção a Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação estabeleceu as Referências para a Formação de Professores que recomendam que os professore reconstruam suas práticas e, para isso, é preciso “construir pontes” entre a realidade de seu trabalho e o que se tem como meta ( SEF, 1999: 16). REDE DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM SERVIÇO Com o objetivo de tornar isso possível uma formação continuada cada vez mais próxima da realidade dos educadores brasileiros, o Ministério da Educação criou, há quatro anos, criou a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica. Composta por Centros de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação de diversas universidades, a Rede mostrou ser um importante espaço para trocas e parcerias entre profissionais da educação de todo o país. ). A exemplo, entre outros, o Centro de Alfabetização e Leitura da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Minas Gerais, foi credenciado pelo Ministério da Educação para compor a Rede de Formação Continuada. Rede de Formação Continuada As áreas de pesquisa aplicada a serem apoiadas são: 1. Alfabetização e Linguagem ( 6 centros) ; 2. Educação Matemática e Científica (5 centros); 3. Ensino de Ciências Humanas e Sociais (3 centros); 4. Artes e Educação Física ( 3 centros); 5. Gestão e Avaliação da Educação (3 centros). A UNIFAP passa a compor a Rede de Formação Continuada desde novembro de 2005 com o termo de Cooperação Técnica com a UFMG, ligando-se ao Centro de Alfabetização e Leitura e Escrita/CEALE da Faculdade de Educação. OUTROS PROGRAMAS EM QUE A UNIFAP ESTÁ PRESENTE O Pró-Letramento é um programa de formação continuada destinado a professores e especialistas do ensino fundamental, que visa à melhoria da qualidade do ensino da leitura e escrita e da matemática nas séries iniciais. O Programa é promovido pelo Ministério da Educação, em pareceria com as universidades que integram a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica e com a adesão das secretárias de educação municipal e estadual. A proposta do Pró-Letramento é partir das práticas anteriores de formação dos professores e de suas experiências como educadores para identificar os desafios que enfrentam no ensino da língua escrita e da matemática. Após essa avaliação, o objetivo é expandir seus referenciais teóricos e culturais com materiais e encontros de formação e, assim, ajudá-los a encontrar respostas para suas questões e a ampliar sua autonomia no trabalho cotidiano. Dentre outras temáticas, estão sendo discutidas a prática em sala de aula, a criação de espaços contínuos de formação e estudo no interior das escolas e a continuidade das ações aprendidas. OUTRO PROGRAMA DE FC EM QUE UNIFAP ATUA PAR – Plano de Ações Articuladas /Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica. Tem como objetivo Promover a Formação Continuada de Professores do Ensino Fundamental da Rede Pública Dados da Formação continuada Prefeitura de Laranjal do Jarí - 130 professores Pró-letamento – Com o sistema de multiplicadores – formamos 50 tutores representantes de 16 municípios do estado 1.350.00 atingidos em 2008. Projeto Par – 250 professores inscritos que iniciaram a formação em 27 de março. Com perspeciva de formar mais 297 em outubro Como se vê, a formação de professores vem assumindo posição de destaque nas discussões relativas às políticas públicas. Na LDBEN 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), no título “Dos profissionais da educação”, podemos observar pelo menos três artigos destinados a fundamentar a formação inicial e continuados de professores, os artigos 61, 63 e 67. Tal preocupação é tão pertinente que os Programas de Formação de Professores em serviço foram concebidos como mecanismo fundamental para promover mudanças efetivas na qualificação permanente dos profissionais do ensino (Freitas, 2005). Para não finalizar... Entendemos que o professor em serviço precisará sim, como qualquer outro profissional, buscar sua qualificação permanente, mas de um modo que venha favorecer-lhe condições para construir, participar, refletir sobre o cotidiano de sua sala de aula para assim poder transformá-la ou redimensioná-la, enfim ressignificá-la por um olhar de professor-pesquisador. Talvez com um olhar mais aguçado, mais atento e investigativo e, portanto, mais seguro, venha a reconhecer-se como produtor autônomo de conhecimentos que verdadeiramente é. Para tanto, a formação continuada precisa ser tomada como um processo constante e não pontual, estando sempre interligada com as atividades e as práticas profissionais que estão sendo desenvolvidas dentro da escola. Essa formação deve ser voltada para o coletivo ou pelo menos deveria ser encarada sob esse prisma..... Sim, pensemos agora em nosso papel como universidade.... Será que podemos ter uma orientação segura quanto ao desenvolvimento das atividades de formação continuada de professores quando temos, ainda, dificuldades para precisar a concepção de formação inicial de professores que se abraça no interior dessa universidade? Que argumentos estamos oferecendo à sociedade, que reclama por respostas e que alternativas estamos construindo? È do nosso interesse apresenta-las? (Freitas 2004) MUITO OBRIGADA!