Início Na Alemanha : com o romance As confissões do jovem Werther, de Goethe (1774) Na Inglaterra : com a poesia ultra-romântica, de Lord Byron; com o romance Ivanhoé, de Walter Scott. Na França: com a poesia social, de Victor Hugo. Em Portugal: com Almeida Garret. À frança coube o papel de divulgar o Romantismo aos outros países, inclusive ao Brasil. No Brasil: com a obra “Suspiros Poéticos e Saudades”, (em 1836)de Gonçalves de Magalhães. Contextualização Dois fatos importantes estão por detrás da estética romântica na Europa: A Revolução Francesa (1789) A Revolução Industrial - na Inglaterra (1750) Como consequência dessas duas Revoluções tem-se: várias colônias proclamando independência; destituição do absolutismo monárquico; a burguesia no poder; uma massa de miseráveis; a formação de um novo público leitor – o burguês Carente de cultura e de educação; Embora tivesse dinheiro e poder. Homem inculto, sem tradição; Para esse público era necessário Produzir um novo tipo de arte; Uma arte que estivesse ao alcance dessa classe social em ascensão. Exigia-se, então: uma mudança de cultura; Uma nova visão de mundo; Um novo padrão de beleza. Libertam-se das formas e dos padrões; passam a manifestar a imaginação individual; expressam a sensibilidade e a subjetividade; centram-se no “eu”; demonstram-se insatisfeitos; isolam-se do mundo; fogem do presente; vão buscar o passado idealizado; ou um futuro utópico. Para os românticos, o sentimento, a emoção devem sobrepor-se à razão. O amor, a saudade, a tristeza, a desilusão são marcas nos textos. Qualquer que seja o tema abordado, haverá sempre a força da emoção expressando-se. (Casimiro de Abreu) O poeta romântico procura mostrar o mundo como ele vê e sente. Por isso nos poemas há a expressão do “eu”. É a valorização do homem-indivíduo. Isso contraria a visão clássica de “eu universal”. (Álvares de Azevedo) O poeta romântico é um insatisfeito que busca um mundo imaginário, utópico, livre de imperfeições. Nesse caso, motivado pela fantasia e pela imaginação, o poeta idealiza que é descrita como sendo perfeita, possuindo todas as qualidades físicas e morais. É constante a mulher aparecer, nos textos, como pura, virgem, frágil, delicada; uma espécie de anjo -inatingível. (Álvares de Azevedo) que fica apenas no plano ideal, não se concretizando no plano carnal. Trata-se do amor platônico – forma de amor ideal para os românticos. (Álvares de Azevedo) que se manifesta como um ser perfeito, possuidor de virtudes – é honrado, puro e fiel. Suas qualidades são: lealdade e inteligência. O herói romântico brasileiro intensificou-se na figura do índio. “É para mim uma das coisas mais admiráveis que tenho visto nesta terra o caráter desse índio. Desde o primeiro dia que aqui entrou,salvando minha filha, a sua vida tem sido um só ato de abnegação e heroísmo”. Insatisfeito com a realidade que o cerca, o poeta romântico expressa o desejo de fugir. Assim, ele foge: • para um tempo distante – o passado ou o futuro; • para um espaço que não é o seu – paisagens exóticas, mundo idealizado, irreal; • para a infância – demonstrando saudade ou saudosismo; As crianças Hülsenbeck, Philipp Otto Runge, 1805 • para o interior do próprio eu; • para o sonho ou a loucura; • para o suicídio – desejando morrer ou contemplando a morte ou mesmo entregando-se ao flagelo, à doença. • para uma vida boêmia. Constance Marie Charpentier, Melancolia, 1801 A Louca, Théodore Géricault, 1822-3 Morte de Chatterton, Henry Wallis, 1855-6 Embasada no cristianismo, a vida espiritual é enfocada como ponto de apoio ou válvula de escape diante das frustrações do mundo real. São palavras do poeta Gonçalves de Magalhães: A arte romântica prega a liberdade criadora. Assim, o escritor é livre para dizer aquilo que sente; não estará preso a nenhuma forma de criação: criará com rimas ou sem rimas, com o número de sílabas poéticas que quiser, etc. O poeta deve mesmo misturar os gêneros e usar o recurso literário que lhe convier. Na obra romântica, são freqüentes temas que se voltam para • o satanismo; • as ruínas; • os enigmas; • o cemitério; • o grotesco (o feio ou o medonho) Garota Sentada em Cemitério, Eugéne Delacroix, 1824. Essa pintura retrata um rosto com um misto de medo e espanto. O domínio da emoção é evidente. Nota-se que o cenário é um cemitério; ao fundo avistam-se ciprestes, árvore associada à idéia de morte. O céu está carregado e há nuvens densas no horizonte – o que dá sinais de algo enigmático, sombrio. Além de o rosto parecer tomado por forte tensão, as roupas e o cabelo estão em desarmonia; um dos braços pende e o outro está flexionado. Tudo contribui para a Estética Romântica. O Pesadelo, Heinrich Füssli, 1781 Esta imagem sugere o macabro, o satânico, o horrendo, o grotesco. E também o desespero. Enquadrando-se no ultra-romantismo, esta imagem talvez represente um pouco daquilo que Álvares de Azevedo expressou em sua prosa “Noite na Taverna”. Além disso, há um poema desse mesmo autor que retrata essa mesma temática. No período romântico, o Brasil vive um momento bastante importante, tanto do ponto de vista cultural como político. Culturalmente: 1. Criação do teatro nacional; 2. Criação do romance iniciando-se pelo folhetim; 3. Fundação das Faculdades de Direito em São Paulo e no Rio de Janeiro; 4. Criação do Instituto Histórico e Geográfico; 5. instalação de bibliotecas; 6. formação de um razoável público leitor; 7. início das atividades editoriais; 8. imprensa periódica passa a funcionar; 9. publicação da obra “Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em terras brasileiras. Politicamente 1. Chegada de D. João VI e da Família Real (em 1808); 2. Abertura dos portos às nações amigas; 3. Proclamação da República (em 1822); 4. Abdicação de D. Pedro I e, 10 anos depois, assume o poder como D. Pedro II; 5. Eclosão de várias revoltas populares pelo país. De acordo com a temática central de suas obras e conforme a visão de mundo que expressam, os poetas românticos brasileiros são divididos em três “gerações”. São elas: A paisagem nacional teve destaque; as belezas do Brasil foram cantadas nos poemas e nos romances da época: cantou-se a mata, o céu... (Gonçalves Dias) O índio foi visto, na época, como legítimo representante do homem brasileiro. Mas esse índio foi retratado com características européias: valente, forte, guerreiro, honrado e, em algumas obras, com uma certa beleza e perfeição. Na imagem nota-se a indígena com feições européias. Ou seja, apesar de habitar na floresta e de respeitar certos ritos indígenas, o índio era retratado apresentando a ética do branco civilizado cristão europeu. Moema, Victor Meirelles, 1866. Nessa imagem enfatiza-se a figura indígena com traços europeus e também a temática da morte, tão forte no Romantismo. Moema é uma das personagens do poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão. Este poema – que pertence ao Arcadismo – traz traços do Romantismo. A índia Moema, que se apaixona por Diogo Alves Correia – o Caramuru (náufrago português que passa a viver entre a população indígena), tem de disputar esse amor com Paraguaçu – outra índia da tribo. Quando o Caramuru parte para sua terra natal, na companhia de Paraguaçu, Moema se joga no mar, tentando alcançar a caravela, e morre afogada. Gonçalves Dias Obras 1843 Canção do exílio 1846 Primeiros cantos 1846 Meditação 1848 Segundos Cantos 1848 As sextilhas de Frei Antão 1846 Seus Olhos 1857 Os timbiras 1851 I-Juca-Pirama 1858 Dicionário da Língua Tupi Nascido no Maranhão, em 1823. Era mestiço. Estudou Direito em Coimbra, lugar que escolheu para um exílio espontâneo. Morreu num naufrágio quando voltava de uma viagem. Sua obra é conhecida como um projeto da cultura brasileira. Em seus versos enfatiza •o amor à pátria brasileira; •as tradições, a valentia e honra dos índios; •o amor lírico impulsivo, a saudade, a tristeza, a solidão, a religiosidade. (Gonçalves Dias) (Gonçalves Dias) Nasceu no Rio de Janeiro, em 1811. Formou-se em medicina. Participou da vida política brasileira. Gonçalves de magalhães Obras 1836 Suspiros poéticos e saudades; 1856 Confederação dos Tamoios É conhecido pela obra “Suspiros poéticos e saudades” com a qual inaugura o Romantismo no Brasil. Essa obra tem mais valor histórico que literário. O Ultra-Romantismo brasileiro caracterizou-se pelo gosto de paisagens tumulares, o gosto pelo mórbido, o pessimismo desesperado e a entrega à boemia. Os poetas dessa geração, em maioria, morreram jovem, deixando-se contrair pela doença do século – a tuberculose. Eles se sentiam como não talhados para o mundo terreno ou para a sociedade em que viviam. Daí a opção pelo escapismo ou pelo auto-aniquilamento. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1839. Teve uma vida agitada e cheia de fantasias. Foi influenciado pelo mal do século, morreu jovem – 21anos. Casimiro de Abreu Obra (principal) 1859 Primaveras Seus temas preferidos são: o amor e a saudade, sobretudo da infância. Por ter vivido um tempo em longe da pátria e dos amigos, escreveu poemas saudosistas. É conhecido como “o poeta da saudade. Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! (…) Casimiro de Abreu Fagundes Varela Obras 1861 Noturnos; 1863 O estandarte auriverde; 1864 Vozes da América; 1869 Cantos meridionais; 1878 Cantos religiosos. Nasceu no Rio de Janeiro, em1841. Teve uma vida pessoal tumultuada. A boemia o atraui. Na vida familiar teve grandes perdas: primeiramente morreu seu filho aos três meses de idade; depois foi a esposa. Do segundo casamento, perdeu outro filho. Tudo isso o levou a retratar, nos poemas, temas como: tédio, angústia, desesperança, morbidez, sombras … Também cantou a temática religiosa. É famoso seu poema elegíaco “Cântico do calvário”, em homenagem ao primeiro filho falecido. Faleceu, vítima de problema cerebral, aos 33anos. À memória do meu filho, morto a 11 de dezembro de 1863 Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, a inspiração, a pátria, O porvir de teu pai! – Ah! No entanto, Pomba, - varou-te a flecha do destino! Astro, - engoliu-te o temporal do norte! Teto, - caíste! – crença – já não vives! Correi, correi, oh! lágrimas saudosas, Legado acerbo da ventura extinta, Dúbios archotes que a tremer clareiam A lousa fria de um sonhar que é morto! São mortos para mim da noite os fachos, Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas, E à vossa luz caminharei nos ermos! Estrelas do sofrer, gotas de mágoa, Brando orvalho do céu! – Sede bendits! Oh! Filho de minha’alma! Última rosa Que neste solo ingrato vicejava! Minha esperança amargamente doce! Fagundes Varela Álvares de Azevedo Obras 1853 Lira dos vinte anos(poesia); 1866 Conde Lopo; 1855 Noite na taverna (conto); 1855 Macário (drama). Nascido em Sào Paulo (1831), onde cursou Direito. Este é o mais importante dos poetas ultra-românticos. Influenciado por Byron, é visto como o poeta que cultua o amor e a morte. Alguns críticos acreditam que ele, de tão solitário, tenha morrido virgem. Sua obra oscila entre o sentimental e o mórbido; tem uma face sofrida e outra irônica chegando ao sarcasmo. Nada publicou em vida. Morreu aos 21 anos (1852). (Álvares de Azevedo) Álvares de Azevedo •Nos poemas ora se demonstra sentimental, adolescente, ingênuo. Ficam marcantes: o sonho, o devaneio, as imagens de virgens pálidas e flutuantes entre nuvens, estrelas e luares. Revela-se um jovem extremamente sensível, com uma percepção dolorosamente delirante; ora é irônico, sádico, cruel. •Na prosa e no teatro Em Noite na taverna e na peça Macário, o poeta retrata um mundo decadente, perverso, povoado por viciados, bêbados, prostitutas, andarilhos solitários sem vínculos e sem destino. O nome provém de condor, ave que voa à grande altitude. Simboliza a liberdade. Os poetas dessa geração manifestaram-se inconformados e lutaram em defesa dos oprimidos e escravizados. A poesia desse período ficou conhecida como poesia social. Isso porque os temas defendiam os ideais do abolicionismo e da República. Os poetas foram bastante influenciados por Victor Hugo, poeta francês, também preocupado com as causas sociais. Nasceu na Bahia, em 1847. Cursou Direito. Aderiu publicamente à luta abolicionista, publicando o poema “A canção do africano”. Costumava dizer “meus versos foram feitos para serem gritados em praças públicas”. Ficou conhecido como o “poeta dos escravos” ou “poeta da praça”. Dizia: “A praça é do povo como o céu é do condor”. Castro Alves Obras Ficou claro que Castro Alves teve consciência dos problemas humanos e que buscou fórmulas para solucioná-los. 1870 Espumas Flutuantes 1876 A Cachoeira de Paulo Afonso 1868 Os Escravos (Navio Negreiro; Vozes d’África) 1921 Poesias completas Também cantou o amor, os ideais, a morte e a mulher. Contudo, retratou uma mulher real, sensual, amante – personificada em Eugênia da Câmara – a atriz portuguesa por quem se apaixonou. Teatro 1875 Gonzaga ou a Revolução de Minas Faleceu em 1871, vítima da tuberculose. (…) Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é mentira…Se é verdade Tanto horror perante os céus? … Ó mar! por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! (…) São os filhos do deserto Onde a terra esposa a luz, Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus… São os guerreiros ousados, Que com os tigre mosqueados Combatem na solidão… Ontem simples, fortes,bravos… Hoje míseros escravos Sem ar, sem luz, sem razão… São mulheres desgraçadas, Como Agar o foi também, Que sedentas, alquebradas, De longe … bem longe vêm Trazendo com tíbios passos Filhos e algemas nos braços, N’alma lágrimas e fel. Como Agar sofrendo tanto Que nem o leite do pranto Têm que dar para Ismael… (…) Depois o areal extenso … Depois o oceano de pó … Depois … no horizonte imenso Desertos … desertos só … E a fonte, o cansaço, a sede … Ai! Quanto infeliz que cede E cai p’ra não mais s’erguer! … Vaga um lugar na cadeia, Mas o chacal sobre a areia Acha um corpo que roer. (…) (Castro Alves) Como o gênio da noite, que desata O véu de rendas sobre a espada nua, Ela solta os cabelos … Bate a lua Nas alvas dobras de um lençol de prata O seio virginal, que a mão recata, Embalde o prende a mão…cresce, flutua... Sonha a moça ao relento … Além na rua Preludia um violão na serenata! … … Furtivos passos morrem no lajedo … Resvala a escada do balcão discreta … Matam lábios os beijos em segredo … Afoga-me os suspiros, Marieta! Ó surpresa! ó palor! ó pranto! ó medo! Ai! Noites de Romeu e Julieta! … (Castro Alves) A busca da identidade nacional foi uma das preocupações mais marcantes no Romantismo brasileiro.Por ter acontecido no período pós-independência, o movimento trabalhou para estabelecer aquilo que era próprio à nação brasileira. Assim, na prosa romântica exaltam-se: o pitoresco, a riqueza e a diversidade de nossas paisagens; o tipo humano nativo – o índio; A prosa romântica iniciou-se na forma de folhetins publicados semanalmente nos jornais da época. A partir daí passou à forma de romance – narrativa longa, em prosa, marcada pelo desenvolvimento de vários conflitos, que ocorrem em torno de um conflito nuclear. A prosa romântica enquadra-se em quatro categorias: Prosa social-urbana: tem como cenário a cidade e focaliza, em geral, o cotidiano burguês. Prosa histórica: retrata o passado histórico brasileiro. Prosa regionalista: focaliza usos, costumes e paisagens típicos de determinadas regiões de nosso país. Em alguns casos o autor registra as peculiaridades dos falares regionais. Prosa indianista: apresenta o indígena como protagonista e, nesse caso, como na poesia idianista, o nativo aparece com traços fortes –éticos e morais –do cavaleiro medieval europeu. Diz-se que o primeiro romance brasileiro é O Filho do Pescador, de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, publicado em 1843. Porém, como não teve popularidade, costuma-se atribuir ao romance “A moreninha” (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, o título romance brasileiro. de primeiro Dentre os prosadores românticos brasileiros, destacam-se: Joaquim Manuel de Macedo •A moreninha; •O moço loiro Manuel Antônio de Almeida •Memórias de um sargento de milícias Visconde de Taunay •Inocência Bernardo Guimarães •O seminarista José de Alencar •Lucíola •O guarani •Senhora •Iracema •Diva •Cinco minutos •A viuvinha •Ubirajara •Sonhos d’ouro •A Guerra dos Mascates •Til •O tronco do Ipê •O gaúcho •O sertanejo