Literatura A Plurissignificação da Linguagem Literária Metáfora (Gilberto Gil) Uma lata existe para conter algo Mas quando o poeta diz: "Lata" Pode estar querendo dizer o incontível Uma meta existe para ser um alvo Mas quando o poeta diz: "Meta" Pode estar querendo dizer o inatingível Por isso, não se meta a exigir do poeta Que determine o conteúdo em sua lata Na lata do poeta tudo-nada cabe Pois ao poeta cabe fazer Com que na lata venha caber O incabível Deixe a meta do poeta, não discuta Deixe a sua meta fora da disputa Meta dentro e fora, lata absoluta Deixe-a simplesmente metáfora. Literatura Metapoema: O poeta defende a independência da O poema responde O poeta fala sobre arte, que pertence às cobranças dos a poesia, a ao mundo daquerem críticos que linguagem a se e imprevisibilidade racionalizar a desvelar. da liberdade. criação poética. Agora, um desafio... Literatura No poema, sobretudo nas duas primeiras estrofes, há palavras que se relacionam por contraste, para definir o tema proposto e comunicar que, na criação poética, a linguagem deve ser: 01) 02) 03) 04) 05) Arbitrária e relativizada Racional e utilitária impessoal e universal hermética e erudita conceitual e objetiva A palavra título está sugerida sonoramente no verso: 01) 02) 03) 04) 05) Deixe a meta do poeta, não discuta. Deixe sua meta fora da disputa. Mas quando o poeta diz meta. Na lata do poeta tudo-nada cabe. Com que na lata venha a caber. Literatura DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO Palavra com significação restrita Palavra com significação ampla Palavra com sentido comum, dicionarizado Palavra capaz de gerar novos significados Palavra empregada de forma utilitária Palavra empregada de forma estética Palavra unissignificativa Palavra plurissignificativa Literatura Plano Denotativo Metal precioso Raridade OURO Riqueza Plano Conotativo Poder Cor amarelada Plano Denotativo Astro com luz própria Guia ESTRELA Plano Conotativo Sorte Talento Pessoa de destaque Literatura Linguagem Literária: Fusão do denotativo e do conotativo Informação Autor Leitor Mensagem Impressão Estética Linguagem Literária: Literatura Fusão do denotativo e do conotativo Se a noite não caísse Que seria dos lampiões? (Oswald de Andrade) Autor Denota Noite = Escuridão Lampião = Luz Artificial Noite = Obscurantismo, Ignorância Lampião = Conhecimento, Cultura É noite. Sinto que é noite Não porque a sombra descesse (bem me importa a face negra) Mas porque dentro de mim, No fundo de mim, o grito Se calou, fez-se desânimo. Sinto que nós somos noite, Que palpitamos no escuro E em noites nos dissolvemos. Sinto que é noite no vento Noite nas águas, na pedra. (C. Drummond de Andrade) Literatura Denota Escuridão, entre o pôr e o nascer do sol. Desânimo NOITE Tristeza Conota Imobilismo Morte Literatura Lição Sobre a Água (Antônio Gedeão) Plano Denotativo: Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor. Funções Reduzida a vapor, sob tensão e a alta temperatura, move os êmbolos das máquinas, que, por isso, Água se denominam máquinas de vapor. Move os êmbolos Dissolve ácidos, bases e sais Pura É um bom dissolvente. Embora com exceções mas de um modo geral, Qualidades dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais. Congela a zero graus centesimais e ferve a 100, quando a pressão normal. Inodora Insípida Incolor Foi nesse líquido que numa noite cálida de Verão, sob um luar gomoso e branco de camélia Plano Conotativo: apareceu a boiar o cadáver de Ofélia com um nenúfar na mão Água: Associa-se à morte e suas tensões refletidas no contraditório. Texto literário e não literário No lombo da jumenta estão empilhados os pertences da família: duas panelas pretas, três pratos, três colheres, três copos, uma moringa e uma esteira. Há ainda um rádio, com defeito, que ora vai no lombo da jumenta, ora na mão de Zenaide ou João Honorato do Nascimento. Isso, mais a roupa do corpo, é tudo que o casal possui. Na semana passada, Zenaide e João Honorato, ambos com 30 anos, mais a filha Cícera, ou "Ciça", de 11 nos, estavam na estrada. Depois de juntar tudo o que tinham, atrelar a jumenta e chamar a cachorra, eles deixaram sua cidade natal de Iguatu, no Ceará, e se puseram a caminho na BR-020, com direção a Canindé, 230 quilômetros ao norte. Ali, se não houver emprego - talvez seja pedir demais - há a presença de um santo considerado forte e generoso, o padroeiro local, São Francisco das Chagas. A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos. (...) Tinham deixado os caminhos, cheios de espinhos e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés. Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. (...) Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. (...) pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos.(...) E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande. Texto 1 Texto 2 Predomínio da sistematização intelectual, da lógica e da racionalidade. Predomínio da liberdade de expressão, da intuição e da sensibilidade. Consiste em registrar uma realidade. Consiste em criar uma nova realidade. A mensagem é objetiva e unívoca. Está condicionada à neutralidade do escritor. A mensagem é subjetiva e plural. Está condicionada pelos sentimentos do escritor. As palavras estão com os seus significados básicos, primários. As palavras estão com os seus significados simbólicos, polivalentes. O autor faz uso da função referencial da linguagem. O autor faz uso da função estética da linguagem Somos Quem Podemos Ser Engenheiros do Hawaii Literatura Um dia me disseram Que as nuvens não eram de algodão Um dia me disseram Que os ventos às vezes eram a direção E tudo ficou tão claro Um intervalo na escuridão Uma estrela de brilho raro Um disparo para um coração A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento Um momento de embriaguez A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento Um momento de embriaguez Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Um dia me disseram Quem eram os donos da situação Sem querer eles me deram As chaves que abrem esta prisão E tudo ficou tão claro O que era raro ficou comum Como um dia depois do outro Como um dia, um dia comum A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento Um momento de embriaguez Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter