O que você deve saber sobre MODERNISMO (2a FASE): PROSA Influenciados pelo Realismo do século XIX e pelo regionalismo romântico, os romancistas de 1930 investigaram as relações sociais, denunciando a fome, a seca, a miséria, a ignorância e a opressão, sobretudo do homem nordestino. Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Erico Verissimo, entre outros, são os autores do chamado Neorrealismo ou Regionalismo modernista. Contexto histórico Crise de 1929 Deposição de Washington Luís, em 1930, e Getúlio Vargas sobe à presidência. Avanço dos regimes fascista e nazista Revolução Constitucionalista, em 1932 Proibição da ANL em 1935 Prisão de Prestes e de outros líderes da oposição Fechamento do Congresso Nacional, em 1937 Segunda Guerra Mundial (1939-1945) MODERNISMO (2a FASE): PROSA Graciliano Ramos (1892-1953) Mais importante prosador da geração de 1930 Dedicou-se à literatura, à política e ao jornalismo. Seu estilo caracteriza-se pela síntese, economia no uso de advérbios e adjetivos, seleção precisa dos substantivos e ausência de sentimentalismo. Publicou: • Caetés (1933), em que relata o amor entre o narrador João Valério e Luísa, em Palmeira dos Índios. • São Bernardo (1934), cujo protagonista e narrador, homem bruto de origem humilde, ascende socialmente e a qualquer custo. • Angústia (1937), em que explora a vida do narrador-personagem Luís da Silva, um funcionário público frustrado. MODERNISMO (2a FASE): PROSA Graciliano Ramos (1892-1953) Em 1938, publicou Vidas secas, seu único romance narrado em terceira pessoa. ARQUIVO/AE que narram, respectivamente, o duro universo infantil do autor e o período em que passou na prisão. Graciliano Ramos, em 1948 MODERNISMO (2a FASE): PROSA Capa da primeira edição de Vidas secas, 1938 BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO Infância (1945) e Memórias do cárcere (1953) são autobiográficos Rachel de Queiroz (1910-2003) Nascida em Fortaleza, migrou para o Rio de Janeiro devido à grande seca em 1915. Esse episódio serviu de inspiração para O quinze (1930). Militante do Partido Comunista, foi perseguida pela ditadura do Seu estilo é marcado pelo intenso uso do discurso direto e análise psicológica das personagens. Destacam-se seus romances João Miguel (1932), Caminho de pedras (1937), As três Marias (1939), Dôra, Doralina (1975) e Memorial de Maria Moura (1992). Rachel de Queiroz toma posse na Academia Brasileira de Letras, em 1977. MODERNISMO (2a FASE): PROSA JOSÉ VIDAL/AGÊNCIA O GLOBO Estado Novo, ficando presa por três meses. Jorge Amado (1912-2001) Nascido em Itabuna, Bahia, estreou na literatura com o romance Cacau (1933) e tornou-se um dos autores mais populares do Brasil. Novo e de participar da ANL. Em 1945 foi eleito deputado federal por São Paulo. Jorge Amado e sua mulher, a escritora Zélia Gattai, em sua casa em Salvador (BA), em 1984 MODERNISMO (2a FASE): PROSA AGLIBERTO LIMA/AE Entre 1936 e 1937, ficou preso, acusado de se opor ao Estado Jorge Amado (1912-2001) Alfredo Bosi divide a obra do autor em: “Romance proletário”: Cacau (1933) e Suor (1934) “Depoimentos líricos e sentimentais”: Jubiabá (1935), Mar Morto (1936) e Capitães da areia (1937) Engajamento político e “pregação partidária”: O cavaleiro da esperança (1942) e O mundo da paz (1951) Romances focados nas lutas entre coronéis e exportadores: Terras do sem fim (1943) e São Jorge dos Ilhéus (1944) Crônicas de costumes: Gabriela, cravo e canela (1958), Dona Flor e seus dois maridos (1967), entre outros MODERNISMO (2a FASE): PROSA LEONID STREALIAEV/EDITORA ABRIL Erico Verissimo (1905-1975) Seus romances iniciais Clarissa (1933), Olhai os lírios do campo (1938) e Saga (1940) retratam a vida urbana de Porto Alegre e centram-se no cotidiano da cidade e em valores morais. A trilogia O tempo e o vento (publicada entre 1949 e 1961) retrata a formação do Rio Grande do Sul. Em suas últimas obras, O prisioneiro (1967), O senhor embaixador (1965) e Incidente em Antares (1971), abordou temas políticos. Erico Verissimo em sua biblioteca, em 1974 MODERNISMO (2a FASE): PROSA José Lins do Rego (1901-1957) ACERVO UH/FOLHA IMAGEM Criança, vivia no engenho de açúcar do avô materno, o que inspirou a produção de várias de suas obras classificadas pelo próprio autor em três ciclos: Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934), Usina (1936) e Fogo morto (1943) Ciclo do cangaço, misticismo e seca: Pedra bonita (1938) e Cangaceiros (1953) Ciclo das obras independentes: O José Lins do Rego, em 1953 MODERNISMO (2a FASE): PROSA moleque Ricardo (1934), Pureza (1937), Riacho doce (1939) EXERCÍCIOS ESSENCIAIS 3 (UFPR) Sobre o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, é correto afirmar: a) Obra relevante na ficção modernista da década de 1930, esse romance enfoca as adversidades de Paulo Honório, um empreendedor culto e dinâmico, na luta por modernizar uma propriedade rural decadente, levando bem-estar e progresso à sua comunidade. b) Embora se trate de um romance de memórias, o livro não é narrado pelo próprio protagonista; adota-se, isso sim, um foco narrativo de terceira pessoa, procedimento igualmente utilizado no caso do romance Memórias de um sargento de milícias. c) As tensões entre Paulo Honório e Madalena, sua esposa, as crescentes suspeitas quanto à traição conjugal, bem como a morte prematura do filho do casal, permitem que se leia o romance de Graciliano Ramos como uma paródia da obra D. Casmurro, de Machado de Assis. d) O interesse pelas diferentes paisagens interioranas do Brasil, manifestado também em São Bernardo, constitui-se em inovação do Movimento Modernista, já que nossa literatura se havia concentrado fundamentalmente na ficção urbana ao longo do século XIX, como bem demonstram as obras de José de Alencar. MODERNISMO (2a FASE): PROSA — NO VESTIBULAR EXERCÍCIOS ESSENCIAIS 3 e) Apesar de iniciar-se como uma narrativa menos problematizada dos fatos da vida do narrador, o livro ganha complexidade diante dos impasses de Paulo Honório em realizar tal projeto, o que coloca em relevo a tensa e irresolvida relação entre ele e sua esposa. RESPOSTA: E MODERNISMO (2a FASE): PROSA — NO VESTIBULAR EXERCÍCIOS ESSENCIAIS 9 (ITA-SP) Os romances de Machado de Assis e os de Graciliano Ramos são exemplos bem acabados da forte presença do realismo na literatura brasileira. Entretanto, há diferenças bem marcantes entre a ficção realista do século XIX e a ficção de cunho realista da geração de 30. Algumas delas são: I. As obras realistas do século XIX (em particular os romances de Machado de Assis) retratam a burguesia rica, enquanto os romances de Graciliano Ramos retratam apenas os retirantes vítimas da seca. II. No século XIX, o realismo tem preferência pela temática do adultério feminino e do triângulo amoroso, tema este que não é central nas obras da geração de 30, que se preocupa mais com a desigualdade social. III. Os romances machadianos são urbanos; as obras de Graciliano Ramos retratam, em geral, os ambientes rurais do Nordeste. IV. No realismo do século XIX, as personagens, em geral, são mesquinhas, vis e medíocres. Já na ficção realista dos anos 30, as personagens são, sobretudo, produtos de um meio social adverso e injusto. Está(ão) correta(s) a) apenas I, II e III. b) apenas I, II e IV. c) apenas II, III e IV. d) apenas III e IV. e) todas. RESPOSTA: C MODERNISMO (2a FASE): PROSA — NO VESTIBULAR EXERCÍCIOS ESSENCIAIS 12 (UFRB-BA) Fabiano estava silencioso, olhando as imagens e as velas acesas, constrangido na roupa nova, o pescoço esticado, pisando em brasas. A multidão apertava-o mais que a roupa, embaraçava-o. De perneiras, gibão e guarda-peito, andava metido numa caixa, como tatu, mas saltava no lombo de um bicho e voava na catinga. Agora não podia virar-se: mãos e braços roçavam-lhe o corpo. (...) Evidentemente as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano sentia-se rodeado de inimigos, temia envolver-se em questões e acabar mal a noite. Soprava e esforçava-se inutilmente por abanar-se com o chapéu. Difícil mover-se, estava amarrado. Lentamente conseguiu abrir caminho no povaréu, esgueirou-se até junto da pia de água benta, onde se deteve, receoso de perder de vista a mulher e os filhos (...) Distinguiu o cocó de sinha Vitória, que se escondia atrás de uma coluna. Provavelmente os meninos estavam com ela. A igreja cada vez mais se enchia. Para avistar a cabeça da mulher, Fabiano precisava estirar-se, voltar o rosto. E o colarinho furava-lhe o pescoço. As botinas e o colarinho eram indispensáveis. Não poderia assistir à novena calçando alpercatas, a camisa de algodão aberta, mostrando o peito cabeludo. Seria desrespeito. Como tinha religião, entrava na igreja uma vez por ano. E sempre vira, desde que se entendera, roupas de festa assim: calça, paletó engomados, botina de elástico, chapéu de baeta, colarinho e gravata. Não se arriscaria a prejudicar a tradição, embora sofresse com ela. Supunha cumprir um dever, tentava aprumar-se. Mas a disposição esmorecia: o espinhaço vergava, naturalmente, os braços mexiam-se desengonçados. Comparando-se aos tipos da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior. Por isso desconfiava que os outros mangavam dele. Fazia-se carrancudo e evitava conversas. Só lhe falavam com o fim de tirar-lhe qualquer coisa. (...) RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins, 1973. p. 75-76. MODERNISMO (2a FASE): PROSA — NO VESTIBULAR EXERCÍCIOS ESSENCIAIS 12 A análise do fragmento permite afirmar: (01) Fabiano busca, na cidade, a comunhão com o mundo urbano, a plenitude da vida, confiada aos desígnios da divindade. (02) A personagem é flagrada num momento de luta contra as adversidades naturais do contexto geográfico. (04) Há, no texto, recursos narrativos e descritivos, ressaltando-se, inclusive, a voz interior da personagem Fabiano. (08) A personagem move-se no espaço urbano, ao qual se integra e se vincula por meio de sua religiosidade fanática. (16) A voz narradora expõe fatos exteriores da personagem Fabiano, destacando o contraste que o individualiza no meio social em que se encontra. (32) O narrador percebe mudanças qualitativas no destino das personagens. (64) Fabiano demonstra ter consciência da injustiça daqueles que detêm o poder. RESPOSTA: Soma: 04 +16 = 20 MODERNISMO (2a FASE): PROSA — NO VESTIBULAR EXERCÍCIOS ESSENCIAIS 13 (UFPE, adaptado) O romance nordestino de 1930 é um dos desdobramentos das ideias regionalistas firmadas em meados da década de 1920, no Recife, por Gilberto Freyre e toda uma geração de intelectuais. Se 1922 se caracteriza por privilegiar, num primeiro momento, o estético, os regionalistas perseguem a história e, por desdobramento, os conceitos de tradição e região como bases da renovação cultural. Sobre o romance de 1930, classifique as afirmações abaixo como verdadeiras ou falsas. a) ( V ) Os romancistas de 1930 não perseguem as inovações de linguagem que foram promovidas por Mário de Andrade em Macunaíma e por Oswald de Andrade em Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar. b) ( V ) O romance de 1930 retoma uma concepção “tradicional” de narrar: começo, meio e fim, valendo-se de muitas das técnicas narrativas do romance oitocentista. c) ( F ) A obra de Graciliano Ramos se caracteriza pela precisão das palavras, ausência de ornatos e por ter como objeto exclusivamente o sertão nordestino. d) ( V ) A obra de Jorge Amado retrata vários aspectos da vida social e política do país: a região do cacau na Bahia, a repressão do Estado Novo e a vida urbana da cidade de Salvador, com seus pescadores, meninos de rua e pais de santo. e) ( V ) A obra de Rachel de Queiroz percorre tanto o romance quanto o teatro e a crônica. Em todos esses gêneros, encontramos a forte presença das raízes nordestinas e uma clara denúncia das injustiças sociais. MODERNISMO (2a FASE): PROSA — NO VESTIBULAR