VITÓRIA, ES, DOMINGO, 04 DE DEZEMBRO DE 2011 ATRIBUNA
11
Cidades
ANDRESSA CARDOSO/AT
LIMITES PARA JOVENS
FIQUE POR DENTRO
Normas para filhos
devem ser claras
M
esmo com novas configurações familiares e regras
não tradicionais para controlar a prole, os especialistas são
unânimes em afirmar que os limites devem sempre estar muito claros para os filhos.
Para a psicanalista e terapeuta
de família Cássia Rodrigues, a falta
de limites torna os filhos tiranos e
por isso é preciso adotar uma postura de limites com diálogo.
“Reconheço que os pais tiveram
que se flexibilizar ao momento
que estamos vivendo, mas o excesso de limite ainda é melhor que a
falta. Os pais têm que ter a regra
definida. Quando dizem não, devem ser firmes com a decisão. Se
só permitem o filho chegar em casa até a 1 hora e ele chega depois,
não poderá sair de novo”.
O mesmo vale para quando trata-se de sexo. Ela explica que os
adolescentes vivem um período de
eferverscência hormonal e, por isso, o controle deve vir dos pais.
A psicóloga e professora universitária Hildicéia dos Santos Afonso
acredita que as regras só funcionam quando existe uma base familiar efetiva.
“Vivemos em um mundo diferente e existem novas formas de
educar o filho. Sobre o namorado
Dicas de especialistas
> OS PAIS NÃO PODEM SE BASEAR em
regras, cujos valores não são os deles.
> A REGRA não tem que ser imposta. É
preciso discutir e ser dito porque está sendo implementada.
> TODA REGRA PRECISA ser um combinado e não algo de cima para baixo
porque isso não funciona.
> NÃO ADIANTA TENTAR colocar limites nos adolescentes, se não foi feito
um trabalho com eles desde a infância.
> SE O FILHO QUEBRAR AS REGRAS, ele
tem que ser responsabilizado pelos
atos e saber o motivo da penalidade.
> FICAR EM CIMA DO MURO é prejudicial ao funcionamento da família. As
regras tem que ser sempre claras e
bem definidas.
> OS LIMITES COLOCADOS pelos pais
não podem deixar margem de ambiguidade.
> OS RESPONSÁVEIS são as primeiras
referências de autoridade das crianças.
> IMPLEMENTAR REGRAS não é o
mesmo que barganhar com o filho,
senão ele pode passar a fazer coisas
apenas como moeda de troca.
> OS PAIS DEVEM EVITAR uma posição
de autoritarismo, no qual não permitem nada.
> ELES DEVEM se colocar em condições de rever seus posicionamentos.
> CONVERSAR é o mais importante. Os
pais não devem se aproximar dos filhos apenas para punir, castigar ou
proibir algo.
dormir em casa é uma questão de
segurança. Melhor do que deixálos em um lugar público correndo
perigo. Se eles vão ficar em quartos
separados, depende da cultura familiar e de como os pais administram essa questão. Eles precisam
deixar isso claro para os adolescentes”, completou.
A psicóloga e psicoterapeuta de
adolescentes e adultos Cecília Zylberstajn falou que os pais nunca
devem basear as regras em valores
que não são os deles.
Ela afirma que toda regra precisa ser um combinado e não algo
decidido de cima para baixo, já que
não funciona, nem será cumprida.
“A conversa ainda é o mais importante. A família acaba perdendo o diálogo com a correria do dia
a dia e é preciso retomar isso. Do
contrário, os pais só se aproximam
do filho para punir, castigar ou
proibir algo”, acrescentou.
Os adolescentes
pedem limites e
orientação, não apenas
proibir. É importante
ter coerência
“
”
Cecília Zylberstajn, psicóloga
CECÍLIA ZYLBERSTAJN: “A conversa ainda é o mais importante”
ADRIANO PEREIRA JARDIM PSICÓLOGO
OPINIÕES
“Ser pai e mãe é repassar valores”
Diante de uma realidade diferente da qual foram criados, os
pais do mundo moderno estão flexibilizando os limites dados aos filhos.
Para o professor universitário e
doutor em Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade,
Adriano Pereira Jardim, o importante é que eles conversem com os
filhos e que as regras sejam coerentes com o contexto familiar.
A TRIBUNA - Como estabelecer regras para os filhos sobre
sexo e namoro em casa? É certo
deixar a namorada (o) do filho
(a) dormir em casa?
ADRIANO - Não adianta fingir
que não existe a sexualidade do jovem. A primeira coisa é perceber
que tentar barrar isso é empurrar
o comportamento para fora de casa. Ser tratado como algo proibido,
errado e ruim tende a provocar um
comportamento de transgressão.
A segunda tarefa é, a partir da
comunicação, com flexibilidade e
diálogo, colocar valores e padrões
para o jovem. Não significa ditar
regras e ponto final, mas sim deixar claro a regra e estar disposto a
discutir. Ele precisa de parâmetros. Qual é a regra ideal? Depende
da casa, do jovem, do lugar em que
vive. O principal é que a regra seja
confortável para os pais e corresponda a uma realidade deles. Não
dá para dizer que está certo ou errado. Se os pais são mais liberais, as
filhas poderão dormir na casa do
namorado.
Antigamente havia um aspecto
ARQUIVO/AT
ADRIANO PEREIRA JARDIM diz que as regras devem ser cumpridas
repressivo e uma postura hipócrita, mas hoje em dia não tem regra
tão rígida. O papel de pai e mãe é
colocar limites e regras, mas com
flexibilidade.
> Durante as férias, deve-se
deixar os filhos saírem todos os
dias? É preciso impor um horário para chegar em casa?
Hoje em dia, existe um complicador que é a violência. Em algumas cidades, todos os lugares são
considerados perigosos. Isso coloca os pais em uma situação pressionada. Os jovens exigem autonomia. Atualmente, uma criança tem
cartão, computador e por outro lado vive em um mundo violento.
Os pais então ficam em um dilema. O ideal seria ter algum controle da situação, mesmo que não seja
possível evitar todas as situações
como o filho ver alguém com drogas.
É bom verificar com quem está
indo e quando vai voltar. Não tem
como amarrar totalmente a criança em casa e evitar os riscos. Quando existe uma certa confiança no
filho, é possível dar autonomia ao
jovem e gerenciar horários.
Ele pode comunicar onde está
pelo celular e dizer se o pai do colega vai buscar.
Os pais e responsáveis vão dar
mais autonomia, desde que o jovem seja merecedor de crédito. Se
ele pisou na bola, eles devem apertar a corda mais ainda.
> O que não deve ser feito em
relação às regras que os filhos
precisam seguir?
A primeira regra é a comunicação. Se não houver diálogo, nem
adianta estabelecer regras. É importante não tentar forçar uma regra em um contexto pouco comunicativo. É possível ainda procurar
um psicólogo para descobrir como
falar com o filho.
Outra coisa é não tentar fingir
que não existe o mundo lá fora. Ele
mudou, existe a sexualidade e caiu
muito a idade das primeiras relações, geralmente com 12, 13 anos e
com o namorado. Isso acontece e
não adianta dizer que não deveria
ser assim.
É importante reconhecer o contexto que o filho está inserido, se
interessar pelos valores dele e
compreender que o mundo dele é
diferente daquele dos pais.
Não achar que o mundo é como
é, e por isso, deve-se abrir totalmente a ele. Explicar porque na
casa dele pode determinada coisa
e na do outro não pode. Ser pai e
mãe é repassar critérios, limites,
parâmetros e valores. Regra ambígua é a pior coisa que existe porque acaba com os pais como referência. Regras devem ser cumpridas.
Ficar em cima do
muro é prejudicial
à família. As regras
precisam ser claras
sempre e bem
definidas
“
”
Cássia Rodrigues, psicanalista
Quando acontecer
do filho quebrar
as regras, ele tem que
ser responsabilizado por
aquilo e saber por que
foi penalizado
“
”
Hildicéia dos Santos Afonso, psicóloga
Download

Normas para filhos devem ser claras “Ser pai e mãe é repassar