Cecília Zylberstajn Psicóloga e Psicodramatista | CRP 06/65279 ÁGUA E ÓLEO: FILHOS E O NAMORO DOS PAIS Cecília Zylberstajn* A separação é uma realidade no mundo de hoje, e namorar uma nova pessoa e eventualmente casar-se com ela é um fato cada vez mais comum em nossa sociedade. Quando os pais se separam, é esperado que, dentro de certo tempo, surja uma nova pessoa. É importante, entretanto, que os pais estabeleçam um critério para as pessoas que irão apresentar aos filhos. Não é aconselhável falar ao filho sobre todas as pessoas que está conhecendo; pode dizer simplesmente que está saindo com amigos, ou conhecendo pessoas novas. Não há motivo de se fazer alarde com a possibilidade de encontrar uma namorada, pois, como foi dito, isto é, em certa medida, esperado. Quando a pessoa certa aparecer, é preciso ter segurança no relacionamento para falar aos filhos que está namorando, principalmente para apresentar-lhes esta nova pessoa. Este tempo também permite que o casal esteja mais à vontade e a relação mais natural, e com isso pode estar mais à vontade com os filhos. Este cuidado é importante porque, com a separação, a criança já viveu muitas perdas. Ter muitas pessoas entrando e saindo da vida do pai ou da mãe pode gerar um sentimento de insegurança e desconfiança geral que é capaz de diminuir as chances de a criança se dar bem com aquela pessoa especial que eventualmente virá. Em geral, crianças menores e adolescentes têm mais facilidade em aceitar e estão mais abertos para uma nova relação dos pais. Crianças de seis anos até o início da adolescência têm mais dificuldade, pois já têm maturidade para entender a perda decorrente do fim da estrutura familiar, e podem ter mais dificuldade de permitir que o pai se relacione com outra pessoa. O primeiro motivo para a não aceitação do namoro dos pais é o ciúme. Este sentimento pode ser definido como o cuidado daquilo que possuo, para evitar sua perda. Com a estrutura familiar rompida em decorrência da separação dos pais, ou a morte de um dos pais, ela já está tendo que lidar com uma perda nada fácil de ser vivida. A criança tem que se acostumar com uma nova rotina de viver sem um dos pais ou de dividir seu tempo entre a casa do pai e a da mãe. De qualquer forma, ela precisa aceitar o fato de que o pai e a mãe não são mais um casal, e não estão mais juntos. Enquanto esta perda não é elaborada, fica difícil para a criança aceitar outra pessoa que, para ela, irá bagunçar ainda mais o seu mundo. Um segundo motivo para a não aceitação pode ser uma decorrência da forma como a separação dos pais se deu. Se existe ainda um conflito entre os pais e estes usam os filhos, manipulando-os, fazendo perguntas excessivas sobre o namoro do ex-cônjuge, falando mal dele, impedido de ver o namorado ou namorada, a criança tende a ver a nova pessoa com desconfiança. Por isso, é importante terminar definitivamente uma relação antes de começar outra. Rua Cardoso de Almeida, 313 cj. 61 - Perdizes, São Paulo/SP CEP 05013-000 (11) 36687476 | [email protected] | http://www.ceciliaz.com.br Cecília Zylberstajn Psicóloga e Psicodramatista | CRP 06/65279 Para que seja mais provável de os filhos aceitarem o namoro dos pais, é importante que o assunto seja tratado com muita naturalidade. Isto significa que não se deve amedrontar a criança, dizendo que ela deve comportar-se desta ou daquela maneira na frente do namorado ou namorada. As crianças tendem a responder aos eventos de acordo com a reação dos pais. Se os pais estão desconfortáveis, as crianças também se sentirão desta forma. Se, por outro lado, os pais estão confortáveis e seguros com os novos relacionamentos, dele e do ex-cônjuge, a tendência é os filhos aceitarem com naturalidade. De qualquer modo, o fato de os filhos não gostarem, não aceitarem ou sentirem ciúmes dos namorados dos pais não é passível de punição, pois se trata de um sentimento. Só podemos punir comportamentos, nunca os sentimentos e as emoções. Temos que garantir aos nossos filhos o direito de expressarem seus sentimentos. O que pode ser passível de punição é algum comportamento hostil que desrespeite o namorado ou a namorada. Neste caso,deve ficar claro para a criança que a punição é específica ao comportamento, e não ao fato de ela estar descontente e não aceitar o namoro. É algo como “tudo bem que você não goste dele/dela, e não está feliz que a gente está namorando. Eu respeito isso. O que não pode é você tratar ele/ela assim”. De qualquer forma, a primeira estratégia deve ser a conversa franca e aberta, com o objetivo de entender o que está deixando o filho desconfortável com o novo relacionamento. Muitas vezes, o filho precisa apenas ser ouvido. Nesta conversa precisa ficar claro que o pai aceita e respeita o desconforto do filho, mas não vai terminar o namoro por conta disto. Se ainda assim persistir a resistência, o melhor a fazer é ignorar. Com o tempo a criança ou adolescente perceberá que esta é uma nova realidade e encontrará meios de lidar com ela. Uma dica: Para diminuir as possíveis tensões e para a criança se sentir menos ameaçada, o primeiro encontro pode ser feito em um local neutro, não na casa da criança, como um restaurante, um parque etc. isto pode gerar um clima mais agradável e descontraído. A criança encontrará a nova pessoa longe do seu “território”, e com isso tende a ficar menos tensa, retraída e na defensiva, e conseqüentemente mais aberta a conhecê-la. *Cecília Zylberstajn é Psicóloga pela PUC-SP e Psicodramatista pela Sociedade de Psicodrama de São Paulo e Pelo Instituto J. L. Moreno. Tem especialização em Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e participou do Seniors Educators Program no Melton Center pela Universidade Hebraica de Jerusalém/Israel. É psicoterapeuta de Adolescentes, Adultos e Grupos Rua Cardoso de Almeida, 313 cj. 61 - Perdizes, São Paulo/SP CEP 05013-000 (11) 36687476 | [email protected] | http://www.ceciliaz.com.br